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REFORMA DO ENSINO MÉDIO: Análise da Lei nº13.415/2017
Jessyka A. MarquesAssessora Pedagógica SAE
A década de 1990 foi marcada por grande discussão internacional sobre a educação,
na qual a Educação Básica foi eleita como pauta principal em importantes conferências. O
grande marco foi a Conferência Mundial sobre Educação para Todos ocorrida em 1990 na
cidade de Jomtien, Tailândia. Como resultado, foram elaborados a Declaração Mundial sobre
Educação para Todos: satisfação das necessidades básicas de aprendizagem. O conteúdo foi
assinado por 155 países, incluindo o Brasil, com o comprometimento de assegurar a educação
básica de qualidades às crianças, jovens e adultos. (SHIROMA; MORAES; EVANGELISTA, 2002).
Outro documento importante que influenciou as reformas educativas durante a
década de 1990, inclusive a renovação de programas educacionais em diversos países, foi o
relatório Educação um tesouro a descobrir: Relatório para a UNESCO da Comissão
Internacional sobre Educação para o século XXI. Este foi elaborado por uma comissão de 14
membros de várias regiões cujo presidente foi o Professor Jacques Lucien Jean Delors,
economista e político francês, que estudou Economia na Sorbonne. Seu texto foi citado pelo
ministro da Educação, na época, Paulo Renato Souza (PSDB), como fundamental para as
reformas educacionais que deveriam ser realizadas sob a óptica da globalização.
De acordo com Olinda Evangelista (2012, p. 53), os documentos de políticas públicas
“[...] expressam não apenas diretrizes para educação, mas articulam interesses, projetam
políticas e produzem intervenções sociais.” Por esse motivo, a análise desse tipo de
documento requer uma atenção especial, uma vez que, na década de 1990, influenciaram
fortemente as reformas educacionais brasileiras.
Recentemente, as mudanças ocorridas no Ensino Médio têm muitos elementos
advindos de tais documentos influenciadores das políticas públicas educacionais brasileiras.
Sua base se dá pela BNCC e traz a proposta da educação como mecanismo de inclusão social e
desenvolvimento do país, além de destacar o aumento decisivo da capacidade do jovem estar
no mercado formal de trabalho, da inclusão e da diminuição da violência. A atual política
neoliberal do Ensino Médio busca elementos nos projetos educacionais da década de 1990
influenciada principalmente pela UNESCO, gerando uma redescoberta da educação como fator
fundamental para o desenvolvimento econômico e social dos países periféricos, a construção
da paz mundial e diminuição da pobreza, sendo que o papel da educação, nesse processo
estaria, principalmente, fundamentado na formação para o trabalho remunerado (NORMA;
KOEPSEL; CHILANTE, 2010).
Em fevereiro de 2017, foi sancionada a lei 13.415 advinda da medida provisória
746/2016, na qual nota-se uma definição de sociedade aberta como aquela que permite aos
indivíduos construírem suas potencialidades pessoais. Esse ponto fica claro no texto de
conversão da medida provisória em lei. Veja abaixo:
Em suma, a mudança no ensino médio precisa começar o mais rápido possível, pois é a partir dela que esboçaremos novos padrões para a plena realização dos potenciais de nossa juventude, fenômeno essencial para o desenvolvimento sustentável do País. (BRASIL, 2016, p.9 – grifo nosso).
A grande evasão escolar e o baixo rendimento dos estudantes constroem uma imagem
de que o Ensino Médio precisa urgentemente de reforma para que o desenvolvimento do país
ocorra, pois essa etapa da educação básica estaria impossibilitando a realização das
potencialidades pessoais. Veja abaixo:
Primeiramente, é preciso registrar que nos sentimos honrados por receber a incumbência da relatoria, que vem ao encontro da nossa história pessoal no campo da educação e do nosso compromisso com o desenvolvimento do país, que exige substanciais mudanças no campo educacional. Essas mudanças, por sua vez, são ainda mais relevantes e urgentes no ensino médio, última etapa da educação básica (BRASIL, 2016, p.8 – grifo nosso).
Associada à mudança da estrutura do Ensino Médio, há a necessidade de fixação de
uma nova base curricular (BNCC) desse segmento, cujo alinhamento pedagógico é mais
austero e maleável. Veja abaixo:
Assim, substitui-se o cardápio único, composto por 13 disciplinas engessadas, por uma BNCC enxuta e dinâmica, a ser estabelecida pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), e por cinco itinerários formativos. Pensamos que, ao adotar a possibilidade dessas trilhas de aprendizagem no ensino médio sem abrir mão de uma dimensão comum, contribuir-se-á significativamente para que as escolas se oxigenem e se articulem ao universo de saberes necessários para o exercício da cidadania e a preparação para o mundo do trabalho (BRASIL, 2016, p.11 – grifo nosso).
Para que a mudança no Ensino Médio possa ocorrer, primeiramente, a Medida
Provisória n.º 746 de 2016 precisou passar pela conversão e se tornar lei. A conversão ocorreu
e, em 16 de fevereiro de 2017, é sancionada a lei n. º13.415. Esta lei altera a lei n.º 9.394/96,
que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, a lei n. º11.494/2007, que
regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização
dos Profissionais da Educação (FUNDEB), a Consolidação das leis do Trabalho (CLT). Além disso,
revoga a lei n.º 11.161/2005 e institui a Política de Fomento à Implementação de Escolas de
Ensino Médio em Tempo integral (EMTI).
O primeiro artigo da referida lei altera o artigo 24 da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB).
Art. 1º O art. 24 da Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996 , passa a vigorar com as seguintes alterações:
“Art. 24. ...........................................................
I – a carga horária mínima anual será de oitocentas horas para o ensino fundamental e para o ensino médio, distribuídas por um mínimo de duzentos dias de efetivo trabalho escolar, excluído o tempo reservado aos exames finais, quando houver;
§ 1 A carga horária mínima anual de que trata o inciso I do caput deverá ser ampliada de forma progressiva, no ensino médio, para mil e quatrocentas horas, devendo os sistemas de ensino oferecer, no prazo máximo de cinco anos, pelo menos mil horas anuais de carga horária, a partir de 2 de março de 2017. (grifo nosso).
A carga horária mínima anual foi alterada para mil e quatrocentas horas, de forma
progressiva. Porém, dentro dos cinco anos subsequentes, a carga horária válida é de pelo
menos mil horas anuais. Percebam que não houve alteração na quantidade de dias letivos que
permanece duzentos dias, mas a carga horária passa de oitocentas horas anuais para, pelo
menos, mil horas anuais até o ano de 2022.
Ao analisarmos juntamente com o artigo 3º da referida lei que altera o artigo 35-A,
mais especificamente, no caso, o §5º, percebemos que há uma limitação de mil e oitocentas
horas totais durante os três anos do Ensino Médio relacionada ao cumprimento da Base
Nacional do segmento em questão. Até 2017, a carga horária de cumprimento da Base
Nacional era de 600h anuais somando um total de 1800 horas. Isso caracteriza que a carga
horária destinada ao cumprimento da Base Nacional não foi alterada.
Art. 3o A Lei n o 9.394, de 20 de dezembro de 1996 , passa a vigorar acrescida do seguinte art. 35-A:
“Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular definirá direitos e objetivos de aprendizagem do ensino médio, conforme diretrizes do Conselho Nacional de Educação, nas seguintes áreas do conhecimento:
§ 5o A carga horária destinada ao cumprimento da Base Nacional Comum Curricular não poderá ser superior a mil e oitocentas horas do total da carga horária do ensino médio, de acordo com a definição dos sistemas de ensino. (grifo nosso.)
Então o que foi alterado? A base comum continua com a sua carga horária inalterada
podendo, agora, ser distribuída de forma diferente pelos três anos do Ensino Médio. A carga
horária da base diversificada sofre mudanças, ou seja, até 2017 tínhamos 600 horas
considerando os três anos do segmento e, a partir de 2017 até 2022, teremos 1200 horas
durante o segmento. Em resumo, a carga horária de base comum será mantida e a carga
horária de base diversificada será dobrada. Portanto, tínhamos 75% da carga horária para base
comum (1800h) e 25% da carga horária para base diversificada (600h), sendo obrigatória 600h
de base comum e 200h de base diversificada por ano. A partir da lei 13.415/2017 teremos 60%
da carga horária para base comum (1800h) e 40% da carga horária para base diversificada
(1200h), distribuídas de acordo com o currículo de cada escola.
O segundo artigo da lei 13.415/2017 altera o artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional. Em seu parágrafo segundo, temos a obrigatoriedade do ensino de Arte na
Educação Básica focando especialmente suas expressões regionais.
Art. 2o O art. 26 da Lei n o 9.394, de 20 de dezembro de 1996 , passa a vigorar com as seguintes alterações:
“Art. 26. ............................................................
§ 2 o O ensino da arte, especialmente em suas expressões regionais, constituirá componente curricular obrigatório da educação básica. (grifo nosso).
Esse ponto, juntamente com Educação Física, Sociologia e Filosofia foram muito
controversos. Devido a pressões de movimentos como o Movimento Nacional em Defesa do
Ensino Médio, a retirada desses componentes não foi sucedida. Como vimos, Arte permanece
como componente curricular obrigatório e os outros componentes passam a ter estudos e
práticas obrigatórios na BNCC.
Art. 3o A Lei n o 9.394, de 20 de dezembro de 1996 , passa a vigorar acrescida do seguinte art. 35-A:
§ 2o A Base Nacional Comum Curricular referente ao ensino médio incluirá obrigatoriamente estudos e práticas de educação física, arte, sociologia e filosofia.
Chamamos a atenção que algumas não permaneceram como componentes
curriculares, restando apenas a obrigatoriedade de estudos e práticas. Além disso, de acordo
com o artigo 3º da lei 13415/2017 que altera o artigo 35-A, temos em seu parágrafo 3º que
apenas o ensino de Língua Portuguesa e Matemática será obrigatório nos três anos do
segmento. Inclusive, Kuenzer (2017) aponta que:
“Só são duas as disciplinas obrigatórias nos três anos do ensino médio: língua portuguesa e matemática; as demais, e entre elas artes, educação física, sociologia e filosofia, devem ser obrigatoriamente incluídas, mas não por todo o percurso, o que pode significar apenas um módulo de curta duração.” (KUENZER, 2017, p. 335).
E nesse mesmo artigo 2º, quando estudado com o artigo 35-A, §4º, LDB, fica claro de
que a oferta da Língua Inglesa será preferencial a qualquer outra língua estrangeira e que a
mesma deverá ser ofertada a partir do sexto ano do Ensino Fundamental.
Art. 2o O art. 26 da Lei n o 9.394, de 20 de dezembro de 1996 , passa a vigorar com as seguintes alterações:
§ 5 o No currículo do ensino fundamental, a partir do sexto ano, será ofertada a língua inglesa. (grifo nosso).
As instituições de ensino poderão ofertar outras línguas estrangeiras de forma optativa
e, de preferência, a Língua Espanhola.
Art. 3o A Lei n o 9.394, de 20 de dezembro de 1996 , passa a vigorar acrescida do seguinte art. 35-A:
“Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular definirá direitos e objetivos de aprendizagem do ensino médio, conforme diretrizes do Conselho Nacional de Educação, nas seguintes áreas do conhecimento:
§ 4o Os currículos do ensino médio incluirão, obrigatoriamente, o estudo da língua inglesa e poderão ofertar outras línguas estrangeiras, em caráter optativo, preferencialmente o espanhol, de acordo com a disponibilidade de oferta, locais e horários definidos pelos sistemas de ensino. (grifo nosso).
Em seu artigo 3º, há a alteração do artigo 35-A, definindo que os direitos e objetivos de
aprendizagem serão ofertados em quatro áreas de conhecimento. A saber, Linguagens e suas
Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias e
Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. Essas áreas de conhecimento foram a base para a
criação dos itinerários formativos.
Art. 4o O art. 36 da Lei n o 9.394, de 20 de dezembro de 1996 , passa a vigorar com as seguintes alterações:
“Art. 36. O currículo do ensino médio será composto pela Base Nacional Comum Curricular e por itinerários formativos, que deverão ser organizados por meio da oferta de diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância para o contexto local e a possibilidade dos sistemas de ensino, a saber:
I - linguagens e suas tecnologias;
II - matemática e suas tecnologias;
III - ciências da natureza e suas tecnologias;
IV - ciências humanas e sociais aplicadas;
V - formação técnica e profissional.
A criação desses itinerários formativos está respaldada na necessidade de se ter a
formação integral do aluno com um trabalho voltado para a construção de projetos de vida e a
formação nos aspectos cognitivos e socioemocionais, como elenca o artigo 3º, §7º, Lei
13.415/2017.
Art. 3o A Lei n o 9.394, de 20 de dezembro de 1996 , passa a vigorar acrescida do seguinte art. 35-A:
“Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular definirá direitos e objetivos de aprendizagem do
§ 7o Os currículos do ensino médio deverão considerar a formação integral do aluno, de maneira a adotar um trabalho voltado para a construção de seu projeto de vida e para sua formação nos aspectos físicos, cognitivos e socioemocionais.
Além de cada área de conhecimento ser representada por um itinerário formativo, há
ainda um quinto itinerário formativo correspondente ao Ensino Técnico.
A instituição de ensino poderá escolher um itinerário formativo para ofertar aos seus
estudantes. Sendo assim, a base diversificada corresponderá ao itinerário formativo ofertado
pela instituição de ensino. Caso a instituição de ensino queira ofertar mais de um itinerário
formativo, ela cairá na hipótese do Art. 36, §3º, LDB que institui o itinerário formativo
integrado.
Art. 4o O art. 36 da Lei n o 9.394, de 20 de dezembro de 1996 , passa a vigorar com as seguintes alterações:
§ 3º A critério dos sistemas de ensino, poderá ser composto itinerário formativo integrado, que se traduz na composição de componentes curriculares da Base Nacional Comum Curricular - BNCC e dos itinerários formativos, considerando os incisos I a V do caput. (grifo nosso).
O itinerário formativo integrado é composto por dois ou mais itinerários formativos
indicados no artigo 4º da lei 13.415/2017. Para tanto, a instituição de ensino deverá oferecer a
parte comum definida pela BNCC e a parte diversificada de cada itinerário formativo escolhido.
Além disso, o estudante concluinte, mediante disponibilidade de vagas na rede, poderá cursar
mais de um itinerário formativo. Isso poderá implicar em matrícula de estudantes em mais de
uma instituição de ensino para que possa cursar a parte diversificada de mais de um itinerário
formativo que não esteja disponível em sua instituição de ensino de origem.
Art. 4o O art. 36 da Lei n o 9.394, de 20 de dezembro de 1996 , passa a vigorar com as seguintes alterações:
§ 5 o Os sistemas de ensino, mediante disponibilidade de vagas na rede, possibilitarão ao aluno concluinte do ensino médio cursar mais um itinerário formativo de que trata o caput.
Outro ponto nevrálgico na reforma, que gerou muita ansiedade, foi a formação técnica
e profissional. Muitas instituições de ensino começaram a entender que seriam obrigadas a
oferecer o Ensino Técnico, o que não é verdade. O próprio artigo 4º da lei 13.415/17 incluiu o
parágrafo 6º que informa claramente que a oferta do Ensino Técnico Profissional fica a critério
dos sistemas de ensino, ou seja, das instituições de ensino de Educação Básica.
Art. 4o O art. 36 da Lei n o 9.394, de 20 de dezembro de 1996 , passa a vigorar com as seguintes alterações:
§ 6 o A critério dos sistemas de ensino, a oferta de formação com ênfase técnica e profissional considerará: (grifo nosso).
Além disso, esse mesmo artigo define que a formação técnica deverá focar a vivência
prática de trabalho ou ambientes de simulação, estabelecendo parcerias. Também traz a
possibilidade de concessão de certificados intermediários, quando o ensino for estruturado em
módulos que possuam terminalidade.
As escolas que desejarem oferecer o curso técnico ou realizar parceria com outras
instituições deverão passar pela aprovação do Conselho Estadual de Educação.
Outra questão de grande discussão foi a inclusão de profissionais com notório saber.
Esses profissionais são para atender a demanda gerada pelos cursos técnicos e profissionais,
mas muitas especulações geraram preocupação entre a comunidade docente. As instituições
de ensino irão reconhecer, com notório saber, esses profissionais que serão atestados por
titulação específica ou prática de ensino em unidades educacionais tanto públicas quanto
privadas.
Art. 6o O art. 61 da Lei n o 9.394, de 20 de dezembro de 1996 , passa a vigorar com as seguintes alterações:
“Art. 61. ...........................................................
IV - profissionais com notório saber reconhecido pelos respectivos sistemas de ensino, para ministrar conteúdos de áreas afins à sua formação ou experiência profissional, atestados por titulação específica ou prática de ensino em unidades educacionais da rede pública ou privada ou das corporações privadas em que tenham atuado, exclusivamente para atender ao inciso V do caput do art. 36; (grifo nosso).
Para todos os outros itinerários formativos há a exigência de licenciatura plena como
formação mínima. Inclusive para o ensino na Educação Infantil e anos iniciais do Ensino
Fundamental essa formação mínima também é requerida. Para os outros profissionais
graduados, apenas com a complementação pedagógica será permitido o exercício do
magistério na Educação Básica.
Art. 7o O art. 62 da Lei n o 9.394, de 20 de dezembro de 1996 , passa a vigorar com as seguintes alterações:
“Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura plena, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nos cinco primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade normal. (grifo nosso).
Toda a formação dos docentes pelas instituições de Ensino Superior deverá ter por
referência a Base Nacional Comum Curricular. Isso indica que os currículos das universidades
brasileiras também passarão por mudanças. Porém, a nova Base do Ensino Médio ainda não
foi disponibilizada e isso implica no cronograma de implementação das alterações que as
instituições de ensino da Educação Básica deverão estabelecer. Apenas após a data da
publicação da nova base, as instituições de ensino deverão se programar para a mudança. Ou
seja, apenas depois da publicação da nova BNCC, as instituições deverão estabelecer um
cronograma de implementação das alterações no primeiro ano subsequente e iniciar o
processo de implementação a partir do segundo ano subsequente de sua homologação. Até
esse momento, as alterações não estão sendo postuladas.
Deste modo, muito ainda há a se discutir sobre o tema, uma vez que a reforma de toda
a educação é almejada devido à precariedade dos sistemas públicos e privados de educação no
Brasil. Pouco tempo para formação continuada e baixos investimentos impõem uma educação
que não se renova e, consequentemente, não se transforma. Apesar de ser uma reforma para
atender aos critérios de atratividade, projetos de vida, gostos e competitividade, seu princípio
básico está consolidado na conservação das recomendações de organizações internacionais da
década de 1990.
No momento atual, para garantir a máquina capitalista e garantir as condições de
lucratividade e acumulação de riquezas, a reforma do Ensino Médio intensifica uma formação
desigual, uma vez que a distribuição do conhecimento continuará desigual. A igualdade
curricular não elimina a desigualdade educacional e o acesso à mesma nas diversas regiões do
país. Escolas mais especializadas não ofertarão acesso a todas as áreas e, por conseguinte,
diminuirão o acesso ao conhecimento. A grande reflexão fica em torno do que não será
ofertado em termos de oportunidade aos estudantes.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Conversão da Medida Provisória nº 746, de 2016. Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017.
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DELORS, J. Educação: um tesouro a descobrir: Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, 2010. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0010/001095/109590por.pdf>. Acesso em: 08 julho. 2018.
EVANGELISTA, Olinda. Apontamentos para o trabalho com documentos de política educacional. In: ARAÚJO, Ronaldo M. L; RODRIGUES, Doriedson S. (Org.). A pesquisa em trabalho, educação e políticas educacionais. Campinas-SP: Alínea, 2012, v. 1, pp. 52-71.
KUENZER A. Z. Trabalho e escola: a flexibilização do ensino médio no contexto do regime de acumulação flexível. Educ. Soc., Campinas, v. 38, n. 139, pp.331-354, abr.-jun., 2017.
NOMA, A.K; KOEPSEL, E.C.N; CHILANTE, E.F.N. Trabalho e educação em documentos de políticas educacionais. Revista HISTDBR online, Campinas, número especial, p. 65-82, ago. 2010.
SHIROMA, Eneida Oto; MORAES, Maria Célia Marcondes; EVANGELISTA, Olinda. Política educacional. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
WCEFA - Conferência Mundial de Educação para Todos. Declaração Mundial sobre Educação para Todos e Plano de Ação para Satisfazer as Necessidades Básicas de Aprendizagem. Jomtien, Tailândia: março de 1990. Disponível em: http://unesdoc.unesco.org/images/0008/000862/086291por.pdf. Acesso em: 17 jul. 2018.Esse parágrafo é uma citação. Será encontrado em vários artigos com grifos parecidos. Mudei o grifo para não ficar idêntico.
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