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Revista CPC, So Paulo, n.13, p. 6-31, nov. 2011/abr. 2012 6
Patrimnio arqueolgico da Serra da Moeda, Minas Gerais: uma unidade
histrico-cultural
Luana Carla Martins Campos*
Resumo
Baseado em resultados das pesquisas do projeto Levantamento e Avaliao do
Potencial Arqueolgico da Serra da Moeda e Entorno, relacionado ao processo de
tombamento estadual deste conjunto urbano e paisagstico, este texto busca
contextualizar, quantificar e qualificar o patrimnio arqueolgico existente no macio
da Serra da Moeda em Minas Gerais. Salienta-se que o ambiente possui vestgios
de ocupao humana pr-histrica e histrica, sendo esta datada a partir de fins do
sculo 17, em funo da explorao das jazidas minerais no contexto do
denominado Ciclo do Ouro. Cumpre-se ressaltar que a colonizao das diferentes
partes da Serra e de seu entorno no se fez de maneira estanque, mas integrada,
de modo que se deve considerar a regio em anlise como uma grande unidade
expressa na conexo entre suas partes. Tal integrao foi produto do processo
histrico-cultural evidenciado por meio do conjunto de seus vestgios arqueolgicos.
Palavras-chave: Patrimnio cultural. Tombamento, Serra da Moeda, MG.
Patrimnio ambiental.
Archaeological heritage of the Serra da Moeda, Minas Gerais: a historical and
cultural unity.
Abstract
Based in gotten results of the research carried through the project Survey and
Evaluation of the Archaeological Potential of the Mountain range of Moeda and
Around, to the process of state legal protection of this urban and natural set, the
work searchs to contextualize, to quantify and to characterize the existing
archaeological heritage in the bulk of the Mountain range in Minas Gerais. Salient
that the environment possesss occupation vestiges prehistoric and historical human
being, being this dated from ends of century 17, in function of the exploration of the
mineral deposits in the context of the called Cycle of the Gold. It is marked to stand
out that the settling of the different parts of the Mountain range and its around did not
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become in way stanches, but integrated, in way that if must consider the region in
analysis as a great express unit in the connection between its parts. Such integration
was product of the evidenced description-cultural process by means of the set of its
archaeological vestiges.
Key-words: Cultural heritage. Legal protection, Serra da Moeda, MG. Cultural
environment.
1. Apresentando a regio e algumas das diretrizes que nortearam a elaborao
do laudo para o tombamento estadual do patrimnio natural e cultural da Serra
da Moeda/MG
O projeto Levantamento e Avaliao do Potencial Arqueolgico da Serra da Moeda
e Entorno integrou o estudo elaborado no ano de 2008 para o processo de
tombamento estadual desta regio de Minas Gerais visando a proteo legal do
patrimnio cultural existente nesta rea. Trata-se de uma cadeia de montanhas
pertencente ao grupo do Complexo da Serra do Espinhao e insere-se no chamado
Quadriltero Ferrfero, rea que se destaca no cenrio geolgico mundial pelas
abundantes riquezas constantes em suas reservas de minrios, a exemplo do ferro,
ouro, alumnio, mangans e topzio.
Do ponto de vista geolgico e geomorfolgico, a Serra da Moeda faz parte da regio
conhecida por Sinclical de Moeda. Trata-se de um conjunto de ambientes montanos
nitidamente distinguvel na paisagem regional formado pela Serra da Moeda,
Serra das Serrinhas, Serra dos Trs Irmos, Serra do Esmeril, dentre outras. No
caso da Serra da Moeda, seu territrio corresponde s formaes geolgicas
chamadas de Moeda e Cau que so conexas s altitudes superiores a 1.400
metros, enquanto cotas inferiores associam-se principalmente Formao
Gandarela. Neste aspecto, tais limites foram utilizados como balizas
individualizao e delimitao da rea da Serra da Moeda em relao ao restante de
sua Sinclical, de modo a tomar a cota de 1.100 metros de altitude como uma
referncia mdia. Historicamente, todavia, a regio conhecida por Serra da Moeda
abrangia um territrio bastante extenso e difuso nas paragens das Minas Gerais
localizada entre as bacias dos rios Paraopeba e das Velhas.
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De modo geral, a Serra da Moeda uma regio que apresenta gradientes
altitudinais acentuados, constantes de reas de cristas, cumes e picos. Em sua
vertente ocidental, atinge o vale do Alto Rio Paraopeba, enquanto sua poro
nordeste compreende o Alto Rio das Velhas, ambos cursos d'gua afluentes da
margem direita do Rio So Francisco. Abrangendo os limites dos biomas da Mata
Atlntica e do Cerrado em uma rea de 240 km, a Serra da Moeda estende-se
pelos territrios de oito municpios mineiros localizados na Regio Metropolitana de
Belo Horizonte, a saber: Belo Vale, Brumadinho, Congonhas, Itabirito, Moeda, Nova
Lima, Ouro Preto e Rio Acima.
Segundo as atuais convenes sobre desenvolvimento sustentvel e meio ambiente,
esta regio constitui um ecossistema frgil, uma vez que fonte de provimento dos
recursos fundamentais vida dos homens, como o caso dos mananciais, minrios,
produtos florestais e agrcolas. Estas foram apenas algumas das questes que
incentivaram e nortearam a elaborao de um dossi de tombamento visando a
salvaguarda do acervo natural e cultural da Serra da Moeda/MG (SOL;
GUIMARES; PAIVA, 2008). Tendo como objetivo principal a preservao da
diversidade do patrimnio da regio, o estudo foi realizado com o patrocnio do
Sindicato da Indstria Mineral do Estado de Minas Gerais (SINDIEXTRA) e da
Federao das Indstrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), ficando a cargo da
empresa BRANDT Meio Ambiente a consolidao do relatrio final. No tocante
arqueologia, esta pesquisa ficou sob a responsabilidade do Prof. Dr. Carlos Magno
Guimares.
Destarte, realizou-se um estudo pormenorizado que envolveu profissionais de
distintas instituies e de diversas reas do conhecimento, tais como bilogos,
gegrafos, engenheiros ambientais, arquitetos, gelogos, historiadores, arquelogos
e turismlogos. As principais diretrizes que nortearam o laudo relacionaram o
patrimnio cultural sob seus diversos ngulos, dentre eles a perspectiva histrica,
arqueolgica, ecolgica, geolgica-geomorfolgica e arquitetnica, urbanstica e
paisagstica, de modo a construir uma narrativa coesa e que demonstrasse a
importncia da regio estudada.
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A princpio, dentre os principais resultados obtidos a partir deste laudo, tem-se o
levantamento e sistematizao de informaes concernentes a variados campos do
saber que, para a regio objeto de anlise, eram at ento praticamente
desconhecidas. Todavia, a escassez de inventrios e de outros estudos mais
sistematizados sobre a Serra da Moeda fortalece a permanncia de inmeras
lacunas sobre a rea o que causa consternao sobre a perda iminente do seu
patrimnio. Por outro lado, tem-se ainda como relevante resultado decorrente deste
laudo, a compreenso da necessidade de estudos pormenorizados e a proteo do
patrimnio da regio.
Esta realidade mostra-se inquietante em um contexto de crescente influncia
econmica por parte das empresas mineradoras e imobilirias. Do ponto de vista da
explorao mineral, a regio , ainda hoje, responsvel por cerca da metade de toda
a produo do Estado de Minas Gerais que, por sua vez, comanda os ndices
nacionais. J no tocante ao setor imobilirio, o clima ameno e a beleza cnica de
ambientes montanos prximos capital mineira tm motivado, h dcadas, a
expanso urbana em direo a estas regies, seja como vilas de casas de campo ou
como condomnios luxuosos.
Faz-se urgente, portanto, aes de acautelamento legal do patrimnio cultural e
ambiental da Serra da Moeda visando a sua salvaguarda. Neste contexto de
embates entre a preservao e/ou progresso, busca-se o equilbrio sensato entre
estes extremos. Ambiciona-se a proteo dos bens patrimoniais com o
aproveitamento sustentvel dos recursos da regio, de forma a promover a
valorizao e o uso adequado do seu patrimnio natural e cultural com respeito s
corretas formas de uso e ocupao do solo.
A gesto da regio da Serra da Moeda constitui um desafio que se apresenta ao
setor governamental que deve buscar alternativas para uma integrao efetiva entre
as polticas ambientais, culturais e poltico-econmicas de sua administrao.
Mesmo constatando que, muitas vezes, a proteo legal no condicionante para a
preservao do acervo natural e cultural do pas, os ecossistemas de montanhas
devem ser tomados como prioridade nas iniciativas de desenvolvimento sustentvel.
Por outro lado, esta tambm uma provocao que se coloca ao setor produtivo
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que precisa fomentar e desenvolver um planejamento estratgico de suas atividades
que assegurem a conservao do acervo da regio, especialmente se o processo de
tombamento da Serra da Moeda for aprovado pela Assembleia Legislativa de Minas
Gerais com sistematizao do dossi a ser realizado pelo Instituto Estadual do
Patrimnio Histrico e Artstico de Minas Gerais (IEPHA/MG).
2. Levantamento do patrimnio arqueolgico da Serra da Moeda/MG: conceitos
e metodologias
Devido s limitaes das dimenses deste artigo, no se faz necessria uma
discusso exaustiva sobre o processo histrico de constituio do conceito de
patrimnio. Importa-se, no entanto, tecer algumas consideraes que sejam capazes
de elucidar certas apreenses sobre o termo, bem como a respeito das definies
contemporneas sobre o patrimnio arqueolgico.
Na concepo do historiador Michel de Certeau, ao contrrio da cidade de Roma,
Nova Iorque nunca aprendeu a arte de envelhecer exibindo todos os seus
passados (DE CERTEAU, 1994, p. 21). Toma-se tal assertiva para enfatizar a
questo de que a valorizao da produo cultural do passado uma percepo
daqueles que compreendem a historicidade das aes e dos valores humanos. Nem
tudo o que atualmente tratado como patrimnio foi sempre assim considerado. As
apreciaes e aes de acautelamento derivadas de sua definio foram
responsveis por ganhos e perdas significativas do acervo cultural da humanidade
ao longo da histria.
Deve-se ter em vista que a experincia da modernidade, momento de intensas e
rpidas transformaes vividas no mundo ocidental especialmente aps a
Revoluo Industrial, mas fundamentalmente durante o sculo 19 e princpios do 20,
foi decisiva para o julgamento daquilo que deveria ser guardado ou do que seria
destrudo. Em suas origens, os bens patrimoniais estiveram associados aos
monumentos que invocavam e perpetuavam uma determinada memria oficial das
grandes naes ou de seus homens excepcionais.
Nesta circunstncia, os Estados Nacionais ficaram a cargo da seleo das principais
referncias que deveriam compor seus acervos. O que se entedia por patrimnio
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estava associado, fundamentalmente, ao que se qualificava como obra de arte, ou
seja, referia-se a um conjunto de bens de natureza imvel e mvel que eram de
interesse pblico por seu singular valor arqueolgico, etnogrfico, bibliogrfico ou
artstico. No caso do Brasil, as efetivas aes destinadas proteo do nosso
acervo foram oficializadas com a fundao do Servio do Patrimnio Histrico e
Artstico Nacional (SPHAN) no ano de 1937. Neste momento, a nfase do conjunto a
ser resguardado recaiu sobre os edifcios e objetos artsticos provenientes,
essencialmente, dos perodos colonial e modernista brasileiro.
Constata-se que esta caracterizao modernista sobre o acervo patrimonial do
Brasil, tributria da noo de obra de arte e, de certa forma, limitada arquitetura e
ao urbanismo, embasou a seleo dos bens a serem protegidos considerando-os
como patrimnio histrico e artstico nacional. Apesar de certas limitaes causadas
pela excluso de diversas outras formas de expresso da cultura brasileira, a
exemplo do patrimnio imaterial, pode-se dizer que o acervo tombado pelo IPHAN
constitui, ainda hoje, um importante conjunto que se manteve ntegro devido s
aes de acautelamento legais impostas a eles.
Todavia, deve ser salientado o fato de que a ampliao do conceito de patrimnio foi
o resultado de um debate que se arrastou por dcadas e motivado por inmeros
fatores, como o processo de industrializao e desenvolvimento das cidades
brasileiras, cujos ncleos urbanos passaram a alterar a sua tipologia e configurao
espacial fundamentalmente a partir dos anos de 1950. A este respeito, Nstor
Canclini sublinha que nos debates sobre a preservao do patrimnio, normalmente
so sempre considerados como os inimigos dos bens culturais os atuais processos
de mudana e desenvolvimento urbano, a mercantilizao, as indstrias culturais e o
turismo. No entanto, o autor avalia ser relevante analisar estas ameaas como
contextos, uma vez que no somente devemos aceit-los por serem as condies
em que hoje os bens histricos existem, mas tambm porque contribuem para
repensar o que devemos entender por patrimnio histrico e por identidade nacional
(CANCLINI, 1994, p. 95).
Na contemporaneidade, estas questes precisam ser problematizadas sob a lgica
da transformao constante dos centros urbanos que passaram a ser analisados
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como ncleos dinmicos. Neste contexto, as cidades no so mais consideradas
como um organismo em evoluo, tampouco so vistas como o resultado de um
acmulo de eventos histricos que determinaram a sua configurao. O fim ltimo
da conservao de seu acervo no so os bens culturais em si, mas os valores
sociais agregados, seus diversos usos e funes sociais partilhados pela sociedade
ao longo dos anos.
As mudanas de concepo sobre o patrimnio tambm so associadas ao
alargamento do conceito de cultura. Fruto de uma discusso fomentada por diversos
campos do saber ao longo de todo o sculo 20, como nos explicita Sandra
Pesavento, a cultura atualmente considerada como um conjunto de significados
partilhados e construdos pelos homens para explicar o mundo, ou uma forma de
expresso e traduo da realidade que se faz de forma simblica. Admite-se,
portanto, que os sentidos conferidos s palavras, s coisas, s aes e aos atores
sociais se apresentam de forma cifrada, de forma que se entende a cultura por uma
acepo mais antropolgica, como o encontro e a reproduo de valores,
identidades, memrias e discursos. Sublinha-se que a cincia histrica bebeu a
gua das fontes de diversas Cincias Sociais durante todo o sculo 20
(PESAVENTO, 2008, p. 15).
Na atualidade, portanto, as interpretaes sobre a cultura extrapolam a perspectiva
nacional devido, em grande medida, ao contexto da globalizao que torna aquelas
referncias desterritorializadas, mltiplas e mais complexas, seguindo os compassos
da economia neoliberal. H um deslocamento da nfase no estudo da cultura
nacional que na modernidade se constituiu como uma das principais fontes de
identidade cultural de modo a passar a focalizar parmetros baseados nas
comunidades locais. Tal dinmica se explica porque a globalizao representa
processos
[ ] atuantes numa escala global, que atravessam fronteiras nacionais, integrando e
conectando comunidades e organizaes em novas combinaes de espao-tempo,
tornando o mundo, em realidade e em experincia, mais interconectado. (HALL, 2006, p.
67).
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Desprovido do sentimento de identificao nacional, o sujeito cosmopolita e
multifacetado na diversidade do mundo globalizado passa a experimentar uma
profunda sensao de perda subjetiva. H uma contradio latente entre a
assimilao do universal atravs do contato com diversas culturas que extrapolam
os limites das comunidades, e a simultnea adeso ao particular em um movimento
pendular e contraditrio entre o universalismo atravs do particularismo e do
particularismo atravs do universalismo.
Nestas circunstncias, as comunidades manifestam-se como agentes decisrios na
definio do que se considera por patrimnio. Novos grupos culturais tornam-se
visveis no cenrio social, buscando afirmar suas identidades e questionando a
posio privilegiada dos grupos hegemnicos. A nao no vista apenas pelo
prisma da homogeneidade, mas pelo seu conjunto de diferenas e multiplicidades
presentes em seu territrio. Estabelece-se, portanto, a valorizao das referncias
culturais locais, de natureza material e imaterial, com o intuito de buscar o
conhecimento de uma histria atenta s diversidades e visando tambm a
constituio de uma cidadania cultural.
O patrimnio, que antes contemplava apenas o acervo histrico e artstico nacional,
ampliou seu espectro para todas as expresses culturais produzidas pelo seu povo.
Arruinou-se a viso clssica de distino entre a cultura dita erudita e a popular,
sendo esta anteriormente avaliada como o reduto do autntico. Retomando Canclini,
este autor esclarece que o patrimnio cultural passa a representar o que um
determinado
[ ] conjunto social considera como cultura prpria, que sustenta sua identidade e o diferencia
de outros grupos no abarca apenas os monumentos histricos, o desenho urbanstico e
outros bens fsicos; a experincia vivida tambm se condensa em linguagens,
conhecimentos, tradies imateriais, modos de usar os bens e os espaos fsicos.
(CANCLINI, 1994, p. 99)
Assim, na medida em que as prprias noes de histria e cultura se modificaram, o
conceito de patrimnio adquiriu outras perspectivas de forma a valorizar todos os
atores da sociedade em seus diversos modos de vida. Estas mudanas de
paradigmas trouxeram consigo, portanto, a discusso sobre como e de que maneira
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o conjunto de referncias que identificam e definem uma comunidade devem ser
salvaguardados. Neste nterim, sublinha-se que as discusses fomentadas sobre
esta temtica constam em variados documentos normativos, a exemplo das Cartas
Patrimoniais e da Constituio Brasileira de 1988 (Cf. Art. 216), que indicam os
caminhos de identificao e preservao do patrimnio.
Atualmente, consideram-se como integrantes do acervo cultural os bens de natureza
tangvel e intangvel, material e imaterial, que no foram produzidos apenas durante
o perodo colonial ou modernista brasileiro. Procura-se no privilegiar os bens
originrios de classes hegemnicas ou subalternas, pois se reconhece que o
patrimnio de uma comunidade nacional ou local se compe por uma cultura
multifacetada e polivalente. Mesmo com suas limitaes derivadas dos processos de
seleo, forma-se um conjunto que procura refletir a realidade hbrida e mltipla dos
diversos grupos existente no Brasil atravs da arquitetura em seus diversos estilos;
das imagens sob variadas tipologias; dos arquivos e demais conjuntos documentais
de distintos momentos de nossa histria; dos inmeros bens naturais que devem ser
preservados, e das mltiplas formas de festejar, os segredos do saber-fazer, os ritos
de uma comunidade.
Neste contexto, o patrimnio arqueolgico
[ ] compreende a poro do patrimnio material para a qual os mtodos da arqueologia
fornecem os conhecimentos primrios. Engloba todos os vestgios da existncia humana e
interessa todos os lugares onde h indcios de atividades humanas, no importando quais
sejam elas; estruturas e vestgios abandonados de todo tipo, na superfcie, no subsolo ou
sob as guas, assim, como o material a eles associados (ICOMOS/ICAHM, 1990, art.1).
O patrimnio arqueolgico constitui-se, portanto, como um testemunho essencial
sobre as atividades humanas do passado e pertence a toda a sociedade. Trata-se
de uma herana comum da humanidade e de seus grupos, e no exclusivamente de
indivduos ou naes. O patrimnio arqueolgico um recurso cultural frgil e no
renovvel, de modo que os planos de ocupao de solo decorrentes de projetos
desenvolvimentistas devem ser regulamentados a fim de se evitar ou, pelo menos,
minimizar a destruio deste patrimnio.
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Sob os domnios da cincia arqueolgica, a produo do conhecimento
amplamente tributria da interveno no stio. Esta prtica abarca uma srie de
mtodos de pesquisa, como a explorao no destrutiva e a escavao integral,
passando ainda pelas sondagens limitadas e os levantamentos por amostragem.
Neste aspecto, algumas consideraes devem ser feitas com relao natureza
metodolgica do projeto Levantamento e Avaliao do Potencial Arqueolgico da
Serra da Moeda e Entorno.
O primeiro ponto relevante trata-se da representatividade dos vestgios
arqueolgicos arrolados no que diz respeito ao Patrimnio Arqueolgico Total
realmente existente na rea em questo. O trabalho de levantamento foi realizado
tendo como parmetros, por um lado, as limitaes do tempo dentro no qual deveria
ser concludo e, por outro, as possibilidades de fontes a serem utilizadas. A grande
extenso da rea trabalhada inevitavelmente acabou impondo critrios seletivos,
que definiram as estratgias do trabalho de campo. A seleo, todavia, foi
fundamentada em critrios cientficos de significncia e representatividade, de modo
a no limitar as escolhas apenas aos monumentos de maior prestgio ou
visualmente mais sedutores.
Como o trabalho a ser realizado visou a identificao da natureza e das dimenses
do patrimnio arqueolgico da Serra da Moeda em Minas Gerais, as atividades
executadas contemplaram o uso de informaes orais, documentais, cartogrficas
(antigas e recentes) e fotogrficas (areas e de satlite). Uma pesquisa sistemtica
em arquivos permitiu o levantamento de uma base documental consistente da qual
participaram cartas de sesmarias, testamentos, inventrios, censos, dentre outros. A
estes tipos de fontes foram incorporadas informaes registradas pelos inmeros
viajantes estrangeiros que circularam pela regio, desde o sculo 17 e ao longo de
todo o sculo 19. Por sua vez, o trabalho de campo teve o objetivo de
localizar/confirmar a existncia de vestgios arqueolgicos, bem como realizar seu
registro atravs de diferentes formas como textos, fotos, localizao por GPS, etc.
Finalmente, a consolidao das informaes permitiu a elaborao de um relatrio
constitudo por um histrico condensado da regio seguido das fichas descritivas
dos stios arqueolgicos levantados. Estas, por sua vez, contemplaram dados
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singulares de cada stio como seu nome; localizao; registro fotogrfico; breve
descrio dos elementos estruturais integrantes; o estado de conservao; o
ambiente de insero e do seu entorno, alm de outras informaes
complementares.
Cumpre-se ressaltar que os resultados obtidos no esgotaram o potencial
arqueolgico da regio abordada, mas foram apenas uma amostra expressiva do
mesmo. O tempo disponvel para a realizao dos diferentes trabalhos no permitiu
que todas as suas possibilidades fossem abarcadas, dadas as dimenses do objeto
de pesquisa. E isto remete necessidade de um trabalho complementar mais amplo
com vistas a um conhecimento mais definitivo sobre o patrimnio arqueolgico da
regio objeto de estudo.
Em que pesem tais consideraes, o levantamento realizado permitiu uma avaliao
bastante objetiva dos vestgios que evidenciam os processos de ocupao da Serra
da Moeda e entorno, desde a pr-histria at o sculo 20. A identidade histrico-
cultural das diferentes populaes que hoje habitam a regio tem, em todos estes
vestgios, uma referncia imediata e fundamental, o que remete necessidade de
seu conhecimento e preservao. Ainda com relao ao Patrimnio Arqueolgico
Total, do ponto de vista histrico, h que se considerar o fato de a regio em anlise
ser uma grande unidade que se expressa na integrao de suas partes. Tal
integrao foi produto do processo histrico-cultural e hoje evidenciada atravs
dos diferentes conjuntos de vestgios arqueolgicos.
A ocupao das distintas partes da Serra da Moeda e entorno no se fez de maneira
estanque, mas integrada. As diversas comunidades, fazendas, unidades de
minerao e ncleos urbanos estavam articuladas atravs de um complexo e
eficiente sistema virio do qual as trilhas e estradas so um consistente indcio. As
variadas atividades econmicas e/ou culturais que articulavam os diferentes
elementos daquela realidade, ao longo da histria, fazem parte tambm da tradio
oral e dos registros documentais. Tais constataes remetem necessidade de que
a regio pesquisada seja vista como uma unidade histrico-cultural e, enquanto tal,
seja considerada.
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3. A Serra da Moeda como uma unidade histrico-cultural: um conjunto
expresso na conexo entre suas partes
De modo geral, o projeto Levantamento e Avaliao do Potencial Arqueolgico da
Serra da Moeda e Entorno objetivou contextualizar, quantificar e qualificar o
patrimnio arqueolgico existente no macio da regio em questo. Foram
identificados, catalogados e descritos um total de 56 stios/conjuntos arqueolgicos,
5 modelos etnogrficos (bens em uso contemporneo) e 10 reas com potencial
arqueolgico (dados obtidos a partir de fontes orais e fotografias areas). (1) Do total
de 71 ocorrncias, apenas 3 (cerca de 4%) so testemunhos de ocupaes pr-
histricas, enquanto 68 (aproximadamente 96%) so remanescentes de
assentamentos histricos (cf. Anexo, ao fim deste texto).
Do ponto de vista da pr-histria da regio, o nmero nfimo de ocorrncias que se
referem a um stio a cu aberto com sepultamento e a dois abrigos com pinturas
rupestres associadas Tradio Planalto, tais dados indica uma ordem de questes.
Dentre elas, constata-se serem at ento parcos e superficiais os levantamentos
arqueolgicos realizados na regio da Serra da Moeda e entorno. Destarte, no
deve ser rejeitado tambm os limites impostos pela escassez de informaes h
muito perdidas pelo processo intenso de ocupao histrica na regio.
De qualquer modo, inexistem dados suficientes para a constatao de que nestas
paragens houve ou no grande incidncia de populaes amerndias. Segundo o
pesquisador Oiliam Jos, antes mesmo da colonizao do Brasil pelos portugueses,
essa regio j era habitada por tribos indgenas de diferentes etnias que pertenciam,
com raras excees, aos grandes grupos G e Tapuia. Citam-se os exemplos dos
Cataguases ou Catagus (regio central, oeste e sul de Minas), Goians (vale do
Rio das Velhas), Guarachus (entre Mariana, Ouro Preto e Piranga) e os Carijs
(Jeceaba e Conselheiro Lafaiete). Muitos topnimos locais se devem a esta
influncia indgena, como o caso do Rio Paraopeba que em tupi-guarani significa
rio de guas rasas (JOS, 1965, p. 11).
No tocante conjuntura histrica da regio, sabe-se que a ocupao e colonizao
europeia deram-se a partir de fins do sculo 17, em funo da explorao das
jazidas minerais no contexto do denominado Ciclo do Ouro. Nesta oportunidade,
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esse mineral atraiu toda sorte de aventureiros, degredados e paulistas que
penetraram nos sertes das Gerais, terras pertencentes Capitania do Rio de
Janeiro, So Paulo e Minas Gerais. Dentre as primeiras bandeiras que colonizaram
a regio, cita-se a expedio liderada pelo sertanista Ferno Dias Paes que no ano
de 1674, saiu de So Paulo rumo s Minas Gerais com o objetivo duplo de encontrar
esmeraldas e de ocupar o territrio por ele percorrido.
Segundo Augusto de Lima Jnior, apesar de outras bandeiras j terem desbravado
as paragens das Minas Gerais, foi a partir da explorao de Ferno Dias que se deu
o efetivo povoamento deste territrio (LIMA JNIOR, 1962, p. 19). Os membros das
caravanas e outros posseiros, povoadores e demais interessados, estabeleceram-se
e construram ranchos e edificaes provisrias que, posteriormente, deram origem
aos primeiros ncleos populacionais com suas igrejas permanentes.
Inicialmente, a descoberta do ouro foi o principal fator para o adensamento
populacional na regio das Minas. Arraiais e ncleos proto-urbanos comeavam a se
delinear seguindo a topografia irregular do terreno e privilegiando os pontos mais
altos da localidade, opo que se deu tanto pelo favorecimento das condies
defensivas quanto em respeito antiga crena catlica que acreditava que um
segundo dilvio poderia atingir a Terra. De modo geral, o patrimnio arqueolgico e
arquitetnico da regio e do entorno da Serra da Moeda reflete a influncia dos
ambientes montanos na implantao e organizao dos espaos construdos.
Destacam-se inmeros povoados e arraiais fundados nas proximidades e arredores
da Serra da Moeda que, com o passar dos anos, acabaram se estabelecendo como
sedes civil e religiosa da regio, a exemplo de Santo Antnio do Rio Acima (Rio
Acima), N. Sra. da Boa Viagem da Itabira do Campo (Itabirito), So Gonalo da
Ponte (Belo Vale), N. Sra. da Conceio de Congonhas do Campo (Congonhas) e N.
Sra. do Pilar (Ouro Preto). Devem ser ainda mencionadas as cinco comunidades
rurais/ncleos urbanos que constaram no levantamento arqueolgico, dentre elas os
modelos etnogrficos de N. Sra. da Piedade do Paraopeba (Brumadinho/MG), N.
Sra. da Boa Morte (Belo Vale/MG) e Marinhos da Serra (Belo Vale/MG), alm dos
extintos conjuntos de Mata da Conceio (Moeda/MG) e Chacrinha dos Pretos (Belo
Vale/MG). Estes dois ltimos apresentam, por exemplo, vestgios formados por
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alicerces de moradias, capelas, muros e arrimos de pedra, valos, barragens, canais,
moinhos e resqucios de lavras. (2)
Consta-se que foi no distrito de Piedade do Paraopeba, um dos primeiros ncleos
urbanos formados no territrio do municpio de Brumadinho/MG, que a bandeira de
Ferno Dias fez o segundo ponto de parada aps sair de So Paulo. Ao lado da
atual capela dedicada a Nossa Senhora da Conceio existe uma placa alusiva a
sua memria que referencia dois episdios: conta tanto sobre a passagem do
sertanista pela regio na oportunidade em que fundou o arraial no ano de 1674,
quanto faz meno sua morte que ocorreu nas paragens do Sumidouro (Pedro
Leopoldo/MG). Em um documento datado do sculo 18, h uma descrio que
informa que o corpo do bandeirante foi transportado por seu filho at So Paulo
onde foi sepultado no mosteiro de So Bento e, nesta viagem de regresso, um dos
pousos teria sido em Santana do Paraopeba.
A fundao, localizao e insero dos povoados e de suas edificaes revelam que
a presena da Serra da Moeda exerceu significativa influncia sobre a
caracterizao e qualificao desses espaos, uma vez que as localidades tiveram
sua implantao influenciada pela conformao do relevo e pelas visadas
proporcionadas pela natureza. As igrejas tm sua locao em pontos mais elevados
e sempre voltados para as serras, abrindo suas portas para a paisagem e
configurando cenrios em que o bem natural qualifica e agrega valor aos aspectos
culturais locais e aos exemplares de seu acervo arquitetnico.
Alm disso, as prospeces arqueolgicas reiteraram e, de certa forma, destacaram
que a regio da Serra da Moeda e de seu entorno, os vales dos rios Paraopeba e
das Velhas, expressam a pujana da economia mineral durante os tempos coloniais.
Neste caso, os ncleos de minerao levantados no projeto totalizam 21 stios
alm de 4 outras reas com potencial arqueolgico cujo universo representa quase
35% de todas as ocorrncias arroladas. Estes conjuntos oferecem a oportunidade
mpar de estudo sobre os mtodos e tcnicas minerrias empregadas durante os
sculos 18 e 19, uma vez que cada processo extrativo utilizado deixou distintos
vestgios.
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A minerao de cascalho, por exemplo, foi utilizada para a extrao do ouro
aluvional nos primeiros anos da explorao das jazidas aurferas nas Minas Gerais,
de modo que tal tcnica est intimamente associada ao emprego de barragens e
canais para o desvio das guas do seu curso original. Aps este procedimento, os
escravos revolviam o leito do rio utilizando almocafres e alavancas para, na
seqncia, os sedimentos com potencial mineral serem apurados nas bateias.
Por outro lado, a minerao de morro explorava as jazidas aurferas presentes nas
formaes rochosas de encostas. Esta exigia tcnicas mais apuradas e, portanto,
maior investimento no processo de extrao mineral, de modo que era praticada
apenas pelos mais ricos mineiros. Esto associadas a este procedimento as catas
de talha a cu aberto, mtodo que consistia em abrir fendas nas rochas, do cume
at sua base, para que ento com o uso de fora humana e/ou hidrulica fossem
extrados os sedimentos. So comumente associados a este procedimento
estruturas como tanques, mundus e canais (GUIMARES; REIS, 2007).
Neste contexto, deve ser mencionado o stio arqueolgico denominado de Forte de
Brumadinho (Brumadinho/MG) como um tpico representante das unidades
mineradoras da primeira metade do sculo 18. Implantado em posio
geograficamente privilegiada, na encosta oeste da Serra da Calada, constitudo
por uma fortificao, uma grande cata a cu aberto, um extenso sistema hidrulico e
uma estrada calada que ligava a rea de lavra, na parte mais baixa, ao topo da
Serra. Admite-se, que o conjunto imediato do Forte define apenas o ncleo central
da atividade minerria, uma vez que em uma perspectiva mais ampla, contemplam-
se outros vrios pontos desta regio serrana como locais onde o ouro setecentista
marcou sua presena.
Outro stio arqueolgico relacionado dinmica da minerao colonial e que merece
meno so as runas de So Caetano da Moeda (Moeda/MG). Trata-se do conjunto
de vestgios da antiga Casa de Moeda Falsa do Paraopeba, tambm conhecida por
Fbrica do Paraopeba, uma fundio clandestina de moedas de ouro localizada nos
contrafortes da at ento chamada Serra do Paraopeba. Tal stio arqueolgico
reflete o contexto do rigor tributrio do setecentos em oposio constituio de
uma cultura da sonegao contra o imposto do quinto, ocasio da introduo de
Revista CPC, So Paulo, n.13, p. 6-31, nov. 2011/abr. 2012 21
normas mais rgidas com a finalidade de aumentar a arrecadao e de tornar mais
efetiva a presena da Coroa na regio.
Indcios documentais confirmam a presena, entre os anos de 1729 e 1732, da Casa
de Moeda Falsa do Paraopeba nos contrafortes da Serra da Moeda
especificamente localizada no povoado de So Caetano da Moeda cuja fortificao
foi responsvel pela origem do atual topnimo da Serra da Moeda. Cabe ressaltar
que a moeda ali produzida foi chamada de falsa pelo fato de que o ouro no era
fundido ou quintado nas Casas de Fundio Reais e, portanto, as barras no
recebiam o selo da Coroa portuguesa que legalizava a sua circulao depois de
cobrado o devido imposto (VEIGA, 1998, p. 753. v. 4).
Desde o incio, o empreendimento liderado por Igncio Jos de Souza Ferreira que
tinha Francisco Borges de Carvalho como scio, exigiu grandes investimentos tanto
em relao infraestrutura quanto na composio da equipe formada por outros
comparsas e numerosa escravatura. As instalaes da Fbrica contavam, alm da
prpria casa de fundio, com casas de vivenda, cozinha, senzala, ferraria,
carvoaria, olaria, engenho de piles, ranchos de vigia, aude, pontes e uma igreja
dedicada a So Caetano. No tocante equipe, o grupo contava com a participao
de aproximadamente duas dezenas de homens livres e um plantel que reunia em
torno de cinquenta escravos.
Dentre os vestgios encontrados pelo levantamento arqueolgico, o local apresenta
uma estrutura fortificada e diversos muros de pedras. A edificao principal, em
partido quadrangular, apresenta vos de seteiras para todos os lados, fato que
indica ser esta construo uma unidade defensiva. No entorno imediato existem
muros de pedras que delimitavam reas para criao de porcos e gado, de modo a
demonstrar que a ocorrncia de ncleos de minerao tambm expressa uma
imbricada conexo com as atividades agropastoris e comerciais.
Assim, no se desconsidera o fato de, apesar da minerao ter sido o que se
convencionou chamar de atividade nuclear, a economia da sociedade mineira
colonial foi pautada pela diversidade na medida em que a prpria minerao exigia o
respaldo da agricultura, da pecuria e de um grande nmero de outras atividades
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que eram sustentadas pela mo-de-obra escrava. Por sua vez, a diversificao
esteve presente no s no plano econmico, mas tambm na estrutura social, uma
vez que diferentes categorias sociais definidas por um amplo leque de qualidades e
condies interagiam e se interpenetravam, dando o tom a um contexto social
extremamente dinmico e permeado de conflitos.
A constituio de unidades voltadas produo alimentar, portanto, no impediu
que muitas lavras se desenvolvessem integradas s fazendas dedicadas ao cultivo
dos gneros necessrios ao provimento das minas e ao consumo interno. A
prospeco arqueolgica levantou, neste caso, 9 vestgios de propriedades rurais,
alm de 6 edificaes caracterizadas como modelos etnogrficos e 1 rea com
potencial arqueolgico, o que contabiliza cerca de 22% do total arrolado. Tais stios
oferecem a possibilidade de um estudo arqueolgico aprofundado sobre o
funcionamento e a vida cotidiana das fazendas na poca colonial e imperial. A
organizao do espao; as tcnicas construtivas e tecnologias empregadas para a
explorao e produo dos meios de subsistncia; alm dos hbitos de consumos
dos diferentes grupos que moravam na fazenda, por exemplo, podem ser temas
analisados a partir da cultura material/vestgios arqueolgicos que se encontram
preservados. A este aspecto deve ser acrescentada a implantao das fazendas e
sua insero na dinmica regional, matrias que tambm podem ser contempladas
pelas pesquisas arqueolgicas, histricas e arquitetnicas.
Neste contexto, deve ser mencionada a Fazenda das Contendas, propriedade
localizada ao sul da freguesia de So Caetano da Moeda nas proximidades do
arraial de N. S. da Boa Morte (Belo Vale/MG). Pesquisas indicam que esta Fazenda
que foi construda a pedido do chamado Doutor das Contendas homem
diplomado em Agricultura na Frana teria abastecido com uma profuso de
mantimentos a Vila Real de Ouro Preto. Seus proprietrios, o Capito Simeo
Ribeiro de Carvalho e sua esposa Joana Tereza de Oliveira, deixaram apenas um
herdeiro que se tornou, em fins do sculo 18, o dono da Fazenda das Contendas.
Este se tratava do Padre Silvrio Ribeiro de Carvalho mais conhecido pela
corruptela de Padre Silvrio do Paraupeba [sic], Silvinho Paraopeba ou ainda Vigrio
do Paraopeba que nasceu em Itabira do Campo (atual municpio de Itabirito) no
ano de 1767 e faleceu em So Caetano da Moeda em maio de 1843. Segundo
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informaes orais, aps a sua morte, a Fazenda das Contendas foi elevada a hasta
pblica, com seus bens revertidos em benefcio de instituies religiosas de caridade
e os escravos alforriados. Tais dados, todavia, no foram comprovados pela
documentao histrica levantada.
O Padre Silvrio Ribeiro de Carvalho foi apresentado pelo historiador Diodo de
Vasconcelos como sendo "fazendeiro e minerador", mas sabe-se que ele tambm se
inseriu no universo religioso e das letras (VASCONCELLOS, 1896, p. 449). No ano
de 1799, quando o Vigrio j detinha sua herana, a Fazenda das Contendas
possua um terreno avaliado em torno de 550 alqueires dedicados produo de
gneros como a farinha de mandioca, o fub de milho, a aguardente, alm da
criao de animais.
Em 1831, a Fazenda das Contendas foi descrita como sendo dedicada cultura da
terra, onde 49 pessoas livres e 80 cativos, fundamentalmente do sexo masculino,
empregavam-se na agricultura, de modo que as mulheres se ocupavam dos servios
da casa como coser, fiar e tecer. Tomando como referncia o distrito ao qual
pertencia So Caetano da Moeda que possua 112 domiclios e 839 habitantes
somente a Fazenda das Contendas formada por 129 moradores detinha 15% da
populao de todo o arraial. Alm disso, merece destaque a grande quantidade de
escravos 80 cativos , ou seja, aproximadamente 19% do conjunto de 426 negros
existentes em So Caetano da Moeda. (3)
Atualmente, restam apenas as runas da sede formada por uma base de pedras que
servia de alicerce da casa assobradada. No primeiro pavimento, possivelmente
existiam dois cmodos utilizados como estribaria e paiol e, no segundo, havia a
habitao propriamente dita. A estrutura de pedras do primeiro pavimento apresenta
um corredor central, ladeado por dois cmodos, que possui dois vos para portas
com ombreiras e vergas feitas com pedra lavrada em cantaria. Os cmodos laterais
apresentam vos para portas com as mesmas caractersticas e cujas janelas,
dispostas no lado posterior, so de pequeno porte, em formato quadrado e
gradeadas com madeira ainda preservada.
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Observa-se que, com o passar dos anos, as vastas extenses das propriedades
rurais do sculo 18 e meados do 19, fragmentavam-se cada vez mais na medida em
que o cabedal das linhagens foi repartido entre seus diversos herdeiros e a mo-de-
obra escrava se tornou mais escassa. Constata-se que a partir das sedes destas
fazendas, instalaram-se no seu entorno outras unidades produtivas de porte menor,
templos religiosos destinados aos cultos comunitrios, pequenos comrcios, etc.
Estes locais acabaram dando origem, paulatinamente, a povoados, arraiais, distritos
e municpios, de modo a tambm incentivar a abertura de caminhos que ligavam
aquelas unidades produtivas aos centros consumidores, a exemplo de Ouro Preto.
Nestas estradas foram instalados retiros com vastos currais, pousos de descanso
para tropeiros e boiadas aps enfrentarem longas jornadas de viagens.
Neste caso, os caminhos e estradas levantadas pelo projeto totalizam 5 stios, alm
de 3 outras reas com potencial arqueolgico, cujo universo representa cerca de
12% de todas as ocorrncias arroladas. Esclarece-se que estas estradas podem ser
classificadas, de modo geral, em dois grupos: aquelas chamadas de carroveis,
dotadas de pedras mais largas que traavam um caminho onde os carros de bois ou
carroas poderiam seguir; e as cavaleiras ou canjicadas, cujos trechos estritos
demarcados por pedras irregulares eram destinados apenas s tropas de animais.
Deve ser sublinhado o fato de que o estudo dos antigos sistemas virios coloca-se
como condio bsica para a compreenso da dinmica das sociedades colonial e
imperial. A Serra da Moeda, por sua proximidade com o sistema denominado
Estrada Real, apresenta um grande conjunto de segmentos de diversos tipos como
trilhas de pedestres, estradas cavaleiras, tropeiras e carroveis, com estruturas
arrimadas, calamentos e galerias pluviais.
Com a crise da extrao mineral a partir de princpios da segunda metade do sculo
18, outras atividades econmicas at ento colocadas em segundo plano passaram
a ocupar espaos cada vez maiores na dinmica colonial. nesse contexto que a
extrao e o processamento do ferro passou a ser uma formidvel fonte de riquezas,
integrando o que foi denominado por alguns autores de proto-industrializao da
Capitania de Minas Gerais.
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Na esteira destas transformaes, em 1811, o Coronel Romualdo Jos Monteiro de
Barros, proprietrio da Fazenda Boa Esperana localizada no povoado de N. S. da
Boa Morte, juntou-se ao grupo de dez scios liderado pelo engenheiro alemo
Wilhelm Ludwig (Baro de Eschwege) para criar a Fbrica de Ferro do Prata
tambm chamada de Fbrica de Ferro de Congonhas do Campo ou Usina Patritica.
Fundada no ano seguinte, a Usina continha oito fornos de fundio, duas fornalhas
para forja, depsitos, cozinha e sistema de abastecimento hidrulico, alm de uma
senzala e casa de administrao.
Vrias destas estruturas em runas, dispersas nas proximidades do Crrego da
Prata, foram identificadas pela prospeco arqueolgica. A implantao da Usina
Patritica foi feita na margem direita do curso dgua, de modo a atender as
necessidades hdricas da Fbrica, a exemplo do uso de um britador e de um malho
hidrulico. Observa-e que as estruturas foram feitas com pedras tipo canga e
paredes revestidas com reboco. Existem algumas plataformas arrimadas para o
nivelamento do terreno e escadas para acesso aos diversos nveis.
Do ponto de vista histrico e arqueolgico, este stio se reveste de enorme
importncia na histria da siderurgia no Brasil dado que foi o primeiro
empreendimento do gnero a funcionar eficazmente em escala industrial para a
produo de ferro em Minas Gerais. Tal relevncia suficiente para justificar o fato
deste stio arqueolgico ter sido protegido pelo IPHAN no ano de 1937, quando do
incio da aplicao da Lei do Tombamento. Alm disto, a Fbrica de Ferro do Prata
tem sua importncia histrica associada figura de Wilhelm Ludwig von Eschwege,
construtor da Fbrica de Ferro do Prata e empreendedor de diversas atividades
ligadas pesquisa e produo mineral na regio do atual Quadriltero Ferrfero.
A produo de minrio de ferro em escala industrial, iniciada com a experincia da
Fbrica de Ferro de Congonhas do Campo, insere-se no contexto que tornou vivel
o desenvolvimento das linhas ferrovirias no Brasil. Tais implementos foram
responsveis, em grande medida, pela transformao radical das formas de se
praticar o comrcio e o transporte nas Minas Gerais que, at aquele momento, eram
feitos em caminhos e estradas de terra em carros de bois e lombos de animais. Com
a propagao das estradas de ferro pelo Brasil a partir de 1869 e, no caso da
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Provncia de Minas Gerais com a fundao da linha Oeste de Minas no ano de 1880,
inmeras localidades voltadas agricultura se desenvolveram em ritmo acelerado, a
exemplo das paragens localizadas no vale do Rio Paraopeba.
O incremento da industrializao do ferro iniciada pela Usina Patritica, que resultou
na implantao do sistema ferrovirio no Brasil, determinou a alterao do papel
predominante que os caminhos da Serra da Moeda possuam at ento, e gerou o
surgimento de estaes ferrovirias e fundao de novas cidades implantadas ao
redor destas paradas. Este foi o caso, por exemplo, da sede do municpio de
Moeda/MG ou da Estao de Arrojado Lisboa.
guisa de concluso cumpre-se ressaltar que o painel histrico e o esboo
arqueolgico apresentados so apenas uma amostragem da imensa riqueza do
processo de ocupao da Serra da Moeda e de seu entorno. Tal opulncia se
expressa de forma inequvoca na imensa quantidade de vestgios arqueolgicos de
diferentes tipos e pocas que se encontram espalhados por toda a regio. A Serra
da Moeda e seu entorno se apresentam como unidade histrico-cultural, ou seja,
um conjunto expresso na conexo entre suas partes por diversas questes
apresentadas ao longo deste texto e observado, ainda, pelo elo estabelecido entre o
passado e o presente que testemunha a continuidade das prticas minerrias, agro-
pastoris e siderrgicas na regio.
Anexo Listagem dos stios levantados durante os trabalhos de prospeco
arqueolgica na regio da Serra da Moeda/MG e entorno
- Stios Arqueolgicos:
. Fazenda Morro Velho e Pedro Paulo (Retiro da Pedras/Brumadinho/MG).
. Ncleo de Minerao do Crrego Morro Velho e Pedro Paulo (Retiro da
Pedras/Brumadinho/MG).
. Abrigo do Retiro das Pedras (Retiro da Pedras/Brumadinho/MG).
. Ncleo de Minerao Retiro das Pedras I (Retiro da
Pedras/Brumadinho/MG).
. Ncleo de Minerao Retiro das Pedras II (Retiro da
Pedras/Brumadinho/MG).
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. Muros do Crrego Bernardino (Retiro da Pedras/Brumadinho/MG).
. Ncleo de Minerao do Crrego Bernardino (Retiro da
Pedras/Brumadinho/MG).
. Ncleo de Minerao do Ribeiro da Catarina (Casa
Branca/Brumadinho/MG).
. Abrigo do Ribeiro da Catarina (Casa Branca/Brumadinho/MG).
. Ncleo de Minerao do Forte de Brumadinho (Casa
Branca/Brumadinho/MG).
. Ncleo de Minerao do Crrego Senzala I (Casa Branca/Brumadinho/MG).
. Ncleo de Minerao do Crrego Senzala II (Casa Branca/Brumadinho/MG).
. Estrada Cavaleira da Serra da Calada (Casa Branca/Brumadinho/MG).
. Ncleo de Minerao do Crrego Fundo/Tutamia I (Casa
Branca/Brumadinho/MG).
. Ncleo de Minerao do Crrego Fundo/Tutamia II (Casa
Branca/Brumadinho/MG).
. Ncleo de Minerao do Crrego Fundo/Tutamia III (Casa
Branca/Brumadinho/MG).
. Ncleo de Minerao Pau Branco (Casa Branca/Brumadinho/MG).
. Ncleo Urbano de Piedade de Paraopeba (Suzana/Brumadinho/MG).
. Estrada Cavaleira Beira Serra (Beira Serra-Suzana/Brumadinho/MG).
. Habitaes Rurais Beira Serra (Beira Serra-Suzana/Brumadinho/MG).
. Igreja Velha de Suzana (Suzana/Brumadinho/MG).
. Ncleo de Minerao gua Limpa I (gua Limpa/Itabirito/MG).
. Ncleo de Minerao gua Limpa II (gua Limpa/Itabirito/MG).
. Ncleo de Minerao gua Limpa III (gua Limpa/Itabirito/MG).
. Fazenda Lagoa das Codornas (Represa das Codornas/Rio Acima/MG).
. Minerao Cata Branca (Cata Branca/Itabirito/MG).
. Fazenda Aredes (Aredes/Itabirito/MG).
. Ncleo de Minerao Aredes (Aredes/Itabirito/MG).
. Muro e Valos da Serra em So Caetano (Trevo na BR-040 que segue para
Moeda/Itabirito/MG).
. Stio Pedra Negra (Itabirito-Moeda/MG).
. Runas da Serra de So Caetano (So Caetano da Moeda/Moeda/MG).
. Estrada Carrovel de So Caetano (So Caetano da Moeda/Moeda/MG).
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. Comunidade Rural da Mata da Conceio (So Caetano da
Moeda/Moeda/MG).
. Runas de So Caetano da Moeda (So Caetano da Moeda/Moeda/MG).
. Fazenda da Cachoeira (Moeda Velha/Moeda/MG).
. Fazenda Contendas (Contendas/Moeda/MG).
. Muro de Pedras do Crrego Pedra Vermelha (Pedra Vermelha/Moeda/MG).
. Habitao Rural da Grota dos Antunes (Grota dos Antunes/Moeda/MG).
. Estrada Cavaleira da Grota dos Antunes (Grota dos Antunes/Moeda/MG).
. Muro de Pedras do Mirante da Serra (BR-040 na Parada Mirante da
Serra/Itabirito/MG).
. Ncleo de Minerao Saboeiro (Saboeiro/Itabirito/MG).
. Ncleo Urbano Marinho da Serra (Marinho da Serra/Moeda/MG).
. Fazenda dos Azevedo (Marinho da Serra/Moeda/MG).
. Fazenda da Barra (Barra do Gentio/Moeda/MG).
. Pouso do Belvedere (Belvedere-Viaduto Vila Rica/Itabirito/MG).
. Usina Patritica (Ferteco/Ouro Preto/MG).
. Fazenda Fortificada da Lagoa Velha (Ouro Preto/MG).
. Galeria de Minerao da Serra dos Mascates (Boa Morte/Belo Vale/MG).
. Estrada Carrovel da Serra dos Mascates (Boa Morte/Belo Vale/MG).
. Muro de Pedras da comunidade de Boa Morte (Ribeiro dos Paiva ou
Pedra/Belo Vale/MG).
. Ncleo Urbano de Boa Morte (Boa Morte/Belo Vale/MG).
. Stio Pr-Histrico da Fazenda dos Paiva (Ribeiro dos Paiva ou Pedra/Belo
Vale/MG).
. Stio Arqueolgico e Comunidade Chacrinha dos Pretos (Chacrinha dos
Pretos/Belo Vale/MG).
. Estao Ferroviria Arrojado Lisboa (Arrojado Lisboa/Belo Vale/MG).
. Fazenda do Baro (Arrojado Lisboa/Belo Vale/MG).
. Habitao Rural no P da Serra do Esmeril (Serra do Esmeril/Belo
Vale/MG).
- Modelos Etnogrficos/Patrimnios Edificados:
. Fazenda Gordura (Piedade do Paraopeba/Brumadinho/MG).
. Fazenda da Grota (Porto Alegre/Moeda/MG).
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. Fazenda Boa Esperana (Boa Morte/Belo Vale/MG).
. Fazenda Santa Ceclia (Chacrinha dos Pretos/Belo Vale/MG).
. Fazenda Crrego da Areia (Arrojado Lisboa/Belo Vale/MG).
. Fazenda Santa Cruz (Arrojado Lisboa/Belo Vale/MG).
- rea com potencial arqueolgico:
. Estrada Cavaleira da Serra de Ouro Fino (Casa Branca/Brumadinho/MG).
. Caminhos na Serra em Suzana (Suzana/Brumadinho/MG).
. Fazenda de Suzana (Suzana/Brumadinho/MG).
. Ncleo de Minerao do Crrego Mina Dgua (Aredes/Itabirito/MG).
. Ncleo de Minerao do Crrego da Lagoa Seca (Aredes/Itabirito/MG).
. Ncleo de Minerao do Crrego Carioca (Crrego do Bao/Itabirito/MG).
. Ncleo de Minerao do Crrego das Serrinhas (Crrego do
Bao/Itabirito/MG).
. Estrada Cavaleira da Serra das Almas (Serra das Almas/Moeda/MG).
. Muro de Pedras da Fazenda da Barra (Moeda/MG).
. Muro de Pedras da Fazenda Santo Antnio (Ribeiro dos Paiva ou
Pedra/Moeda/MG).
Notas
(1) Deve ser sublinhado que durante os trabalhos de prospeco arqueolgica foram identificadas inmeras
fazendas antigas ainda em atividades. Tais edificaes foram registradas como modelos etnogrficos na medida
em que sua anlise pode fornecer informaes importantes para a compreenso dos stios arqueolgicos
remanescentes de antigas fazendas similares. Por outro lado, a condio/contexto de origem destas fazendas
coloca-as na categoria de patrimnio histrico edificado que deve ser objeto de estudo e
preservao/restaurao.
(2) O ncleo de Chacrinha dos Pretos (Belo Vale/MG) um caso exemplar do processo de apropriao
contempornea das runas de um espao arqueolgico. um stio caracterizado pela implantao de uma
comunidade de afro-descendentes em uma rea onde esto os vestgios de uma grande e antiga fazenda,
constante tambm de uma capela e de outras edificaes menores.
(3) Relao dos habitantes do distrito de So Caetano da Moeda, termo da cidade de Ouro Preto. 1831.
Microfilme 01, caixa 01, documento 02. Coleo Mapas de Populao pertencente ao acervo do Arquivo Pblico
Mineiro (APM).
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Crdito
* Licenciada e Mestre em Histria (UFMG), com formao complementar em Antropologia e Arqueologia pela
mesma instituio. Atua no campo da gesto do patrimnio cultural e arqueologia histrica, tendo realizado
diversas consultorias e assessorias tcnicas em ICMS Cultural e Licenciamento Ambiental. Possui experincia
com fontes iconogrficas com destaque em suas pesquisas para a cultura visual, material e histria da fotografia.
Tambm educadora dedicada a trabalhos em educao patrimonial e confeco de materiais didticos.
e-mail: luanacmc1@hotmail.com.
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