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RELATÓRIO TÉCNICO
PONDERAÇÕES TÉCNICAS SOBRE A IMPORTAÇÃO DE
BANANAS DO EQUADOR
PROPONENTE: CONABAN
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS BANANICULTORES
Relatório técnico apresentado
ao Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento –
MAPA, como parte das exigências
do Departamento de Sanidade
Vegetal – DSV/DAS para instruir
o processo de importação de
bananas do Equador de nº
21000.010959/2005-46.
RELATOR: Engº Agrº Wilson da Silva Moraes
Pesquisador da APTA, Pólo Regional do Vale do Ribeira, SP.
Prof. Dr. em Fitopatologia da UNESP, Campus de Registro, SP.
REGISTRO – SÃO PAULO
Fevereiro / 2012
2
ÍNDICE
Pág.
1. Repercussão da importação de bananas do Equador 03
2. Histórico do processo de importação de bananas do Equador 04
3. Legislação das pragas quarentenárias da bananicultura
brasileira 07
4. Aspectos econômicos e sociais da bananicultura brasileira 13
5. Aspectos fitossanitários da bananicultura brasileira 14
5.1 Mal-do-Panamá 15
5.2 Moko-da-Bananeira 17
5.3 Sigatoka-negra e Sigatoka-amarela 19
5.4 Viroses 20
5.5 Nematoses 22
6. Aspectos fitossanitários da bananicultura equatoriana 22
7. Ponderações técnicas sobre a importação de bananas do
Equador 25
7.1 Impacto econômico e social esperado 25
7.2 Precedentes da falha de fiscalização no Equador 30
7.3 Problemas fitossanitários a serem enfrentados pelo Brasil
com a provável importação de bananas do Equador 31
7.3.1 Populações de Mycosphaerella fijiensis resistentes a
fungicidas 31
7.3.2 Eminente entrada do Fusarium oxysporum f.sp.cubense Raça
Tropical 4 no Equador 34
7.3.3 Eminente entrada de estirpes da bactéria Ralstonia
solanacearum raça 2 em áreas livres ou não do Brasil 37
8. Considerações Finais 37
9. Proponentes 41
10. Referências Bibliográficas 42
3
ASSUNTO: PONDERAÇÕES TÉCNICAS SOBRE A IMPORTAÇÃO DE BANANAS DO
EQUADOR
PROPONENTE: CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS BANANICULTORES – CONABAN
1. REPERCUSSÃO DA TENTATIVA DE IMPORTAÇÃO DE BANANAS DO EQUADOR
No dia 14 de Setembro de 2011, diretores e técnicos especialistas
que assessoram a Confederação Nacional dos Bananicultores - CONABAN
reuniram-se com técnicos do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento – MAPA, em Brasília, para conhecerem as reais intenções
do Governo Brasileiro e os procedimentos legais sobre a Análise de
Risco de Pragas da Banana (processo nº 21000.010959/2005-46), que
devem ser levados em consideração para que seja autorizada a
importação de bananas do Equador.
Esta iniciativa partiu da CONABAM ao saber que em 2005, 2009 e,
agora, em 2011, o Equador vem tentando exportar bananas para o mercado
brasileiro e, desta vez, em função da crise no mercado americano e
europeu. As investidas têm sido feitas junto ao MAPA, que já tem uma
minuta de Instrução Normativa (IN) para oficializar a questão.
A última investida do Equador foi noticiada, não pelo MAPA, mas
pelos jornais que circulam no Equador, o que intrigou e mobilizou os
bananicultores brasileiros. Assim, a CONABAN articulou uma primeira
reunião, com o até então Ministro da Agricultura, Dr. Wagner Rossi, e,
depois, com o atual Ministro, Dr. Mendes Ribeiro Filho, e com técnicos
do Departamento Sanidade Vegetal – DSV/MAPA, para discutir o referido
assunto.
A CONABAN mobilizou todas as organizações de bananicultores dos
Estados da São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Paraná, Santa Catarina e
Rio Grande do Sul que acionaram seus respectivos Deputados, Senadores
e Pesquisadores, especializados na cultura da banana, para defenderem
os interesses do setor.
Na ocasião, a CONABAN apresentou sugestões que deveriam ser
consideradas na Instrução Normativa previamente elaborada pelos
técnicos do MAPA, a fim de subsidiar com critérios técnicos que devem
4
ser observados, no que tange as obrigatoriedades do Governo Brasileiro
e Equatoriano.
Ao final da reunião, ficou estabelecido que a interlocução entre
o setor produtivo da banana e o Departamento de Sanidade Vegetal do
MAPA e vice-versa, deverá ser feita, preferencialmente, através da
Confederação Nacional dos Bananicultores – CONABAN, representada no
encontro pelo seu presidente, Dirceu Colares, que também é
representante da ABONORTE na Câmara Setorial da Fruticultura.
No tocante à questão mercadológica, também ficou entendido que o
assunto deve ser tratado através da Câmara Setorial da Fruticultura e
da Comissão Nacional da Fruticultura da CNA, a fim de que seja
alertado sobre os riscos da importação de Bananas do Equador. E,
finalmente, que a assessoria técnica da CONABAN apresente, no prazo de
cinco meses, um texto técnico fundamentado em bases científicas sobre
os impactos reais, econômicos, sócios e ambientais, com a possível
entrada de pragas quarentenárias ausentes no território brasileiro ou
restritas à determinadas regiões do país.
2. HISTÓRICO DO PROCESSO DE IMPORTAÇÃO DE BANANAS DO EQUADOR
Em reunião técnica realizada no dia 13 de setembro de 2011 com
técnicos do Ministério da Agricultura, em Brasília, (DF), o
representante do Departamento de Sanidade Vegetal - DSV/SDA, o Dr.
Jefe Ribeiro, esclareceu à comitiva da CONABAN sobre o histórico do
processo de importação de bananas do Equador para o Brasil e os
procedimentos adotados, até o momento, pelo MAPA:
• 07/10/2005 – A Embaixada do Equador solicitou a ARP para frutos
de banana, apresentando comprovantes de importações ocorridas nos
anos de 1996, 1997 e 1998.
• Setembro de 2005 - O Ministro da Agricultura do Equador solicitou
a liberação das exportações de bananas equatorianas para o
mercado Brasileiro.
• Fevereiro de 2006 - A Embaixada do Equador solicitou resposta do
pedido feito no ano anterior.
5
• Abril de 2006 - Foi feita a ARP para frutos de banana, da qual
originou uma primeira minuta de Instrução Normativa – IN (Figura
1). A mesma foi encaminhada para a Divisão de Prevenção e
Controle de Pragas – DPCP, que fez suas sugestões. A minuta de IN
foi encaminhada para o Equador.
• Agosto de 2006 – O Departamento de Sanidade Vegetal – DSV/SDA
recebeu os comentários do Equador sobre a proposta de IN, a qual
foi analisada pela DARP que não pôde concluir, se as sugestões
foram aceitas ou não, e ficou aguardando o pronunciamento da ONPF
do Equador.
• Janeiro de 2007 – A Embaixada do Equador voltou a cobrar resposta
sobre a regulamentação do Brasil para importar banana
equatoriana.
• Maio de 2007 - Foi realizada uma reunião bilateral com os
presidentes de ambos os países para tratar do comercio bilateral,
que ficou de analisar a possibilidade de ingresso das bananas
Equatorianas no mercado brasileiro.
• Julho de 2007 – A ARP foi revisada e a DPCP foi novamente
consultada. A Embrapa Amazônia Ocidental também foi consultada
sobre algumas pragas.
• Em abril de 2009, a ARP voltou a ser revisada, quando foram
consideradas as atualizações das Instruções Normativas vigentes
para o comércio interno de frutos de banana. Uma nova minuta de
IN foi encaminhada para consulta da ONPF do Equador.
• Em Junho de 2011, retornou a resposta das autoridades
equatorianas, a qual está em análise.
• Em julho do corrente ano, houve manifestação do Governo do Estado
de Minas Gerais, Santa Catarina (pelo Deputado Valdir Colatto) e
da Federação das Associações e Cooperativas de Bananicultores de
Santa Catarina. Houve uma reunião com representantes da Câmara
Setorial e foi agendada outra reunião, para o dia 14 de setembro
de 2011, quando seria discutido o assunto e, posteriormente, no
dia 20 do mesmo mês, houve uma videoconferência com a ONPF do
Equador.
6
• Em 1995 - já houve umas importações de banana do Equador, meio
que por baixo dos panos, pela Delmont em Curitiba. Na época, a
SBF agiu junto ao MAPA e as importações foram proibidas devido à
Sigatoka-negra naquele país.
FIGURA 1. Minuta da primeira proposta de Instrução Normativa elaborada pelo Departamento de Sanidade Vegetal DSV/SDA/MAPA, com base na ARP realizada pela Divisão de Prevenção e Controle de Pragas – DPCP, como parte as exigências do processo de importação de bananas do equador (Fonte: MAPA, 2011).
7
3. LEGISLAÇÃO BRASILEIRA DE PRAGAS QUARENTENÁRIAS DA
BANANICULTURA
O Brasil por ser signatário da Organização Mundial do Comércio
(OMC) e país membro da Convenção Internacional de Proteção de Vegetais
CPIV/FAO, deve seguir as diretrizes internacionais de comércio
estabelecidas entre os países. Desta forma, a importação de vegetais
ou de partes de seus produtos, em nível comercial, passíveis de
abrigar pragas, é realizada sob determinadas condições que levam em
conta a ARP. Dependendo do resultado dessas ARP são necessárias
declarações adicionais no Certificado Fitossanitário (CF), ou mesmo de
procedimento de pré-inspeção, quando técnicos do Ministério da
Agricultura, Pecuária e do Abastecimento (MAPA) e de outras
instituições vão até a origem do produto e executam, ou supervisionam
as ações de mitigação do risco encontrado na ARP (OLIVEIRA & PAULA,
2003).
No Brasil, alguns produtos já foram harmonizados pelo Mercado dos
Países do Cone Sul (MERCOSUL), porém para produtos ainda não
harmonizados e que não têm legislação específica devem ser submetidos
à ARP, segundo prescreve a Portaria MA nº 127, de 15 de abril de 1997,
publicada no Suplemento ao nº 74 do DOU, de 18 de abril de 1997
(OLIVEIRA & PAULA, 2003).
A análise de risco de pragas quarentenárias (ARP) define os
riscos que uma praga exótica pode causar em uma determinada área. Este
risco pode ser determinado qualitativa e quantitativamente, pela
probabilidade (chance) que uma praga (inseto, ácaro, patógeno ou uma
planta invasora) tem de se disseminar ou ser disseminada, com o
auxílio do homem ou através de fenômenos naturais, de uma área onde o
organismo se encontra para outra onde ele não ocorre e que pode,
dependendo das condições ambientais e climáticas, se estabelecerem
(OLIVEIRA et al., 2003).
A ARP, segundo o MAPA (2012), é um instrumento oficialmente
utilizado para salvaguardar o agronegócio nacional das possíveis
introduções de pragas no Brasil que podem causar danos à cadeia
produtiva, nos custos de controle e erradicação das pragas e na
perda do acesso ou manutenção de mercados internacionais. Trata-se de
um procedimento reconhecido pela Organização Mundial do Comércio
8
(OMC), adotado pelos países signatários da Convenção Internacional de
Proteção de Plantas (CIPV). O Brasil como signatário da CIPV adota as
diretrizes e recomendações da Norma Internacional de Medidas
Fitossanitárias – NIMF11 (Análise de Risco para Pragas
Quarentenárias).
A IN 06/2005, em seu Art. 1º, condiciona a importação de espécies
vegetais, suas partes, produtos e subprodutos à publicação dos
requisitos fitossanitários específicos no Diário Oficial da União,
estabelecidos por meio de Análise de Risco de Pragas - ARP, quando: I
- estas nunca tiverem sido importadas pelo Brasil; II - houver novo
uso proposto; III - provier de novo país de origem; IV - somente
tiverem registro de importação em data anterior a 12 de agosto de
1997.
A Análise de Risco de Pragas para Importação de frutos de banana
do Equador proposta pelo MAPA, deve e foi dividida em três etapas:
• 1ª Etapa: Levantamento de Pragas (pragas que ocorrem no país de
origem, sua ocorrência no país de destino e associação com o
produto);
• 2ª Etapa: Caracterização das Pragas Ausentes e do Risco
(Avaliação dos potenciais de Entrada, Estabelecimento, Dispersão
e Impacto Econômico);
• 3ª Etapa: Estabelecimento de Medidas de Mitigação de Risco (As
conclusões da avaliação de risco de pragas são usadas para
decidir se o manejo de risco é necessário e a intensidade das
medidas a serem usadas).
O sistema de mitigação de risco para uma determinada praga é
implantado apenas em áreas onde a praga for detectada. Para isso, os
órgãos oficiais, nacionais e internacionais, impõem, por meio de
legislação específica, a adoção de medidas adequadas de manejo de
risco da praga, desde a implantação da cultura até a comercialização
e, assim, permitir a comercialização de produtos entre as Unidades da
Federação e, ou entre países, com a garantia de um nível apropriado de
segurança fitossanitária (CDA, 2012; MAPA, 2012).
9
Uma praga é toda e qualquer forma de vida vegetal ou animal, ou
qualquer agente patogênico daninho ou potencialmente daninho para os
vegetais ou produtos vegetais. Esta definição se aplica a uma praga
quarentenária, porém restringe-se aos vegetais ou produtos vegetais
que tenha importância potencial para a economia nacional do país
exposto e que ainda não esteja presente nesse país ou, caso já se
encontre nele, não esteja propagada em larga escala e se encontre sob
controle ativo. Existem dois tipos de praga quarentenária: Praga
quarentenária A1 é aquela que ainda não está presente no país; Praga
quarentenária A2 é aquela que já está presente no país, porém não se
encontra amplamente distribuída, ou seja, existem áreas e, ou regiões
geográficas em que a praga não está estabelecida e, além disso,
possuem programas oficiais de controle (OLIVEIRA et al., 2003).
A Divisão de Prevenção e Controle de Pragas – DPCP DSV/DAS/MAPA,
em atendimento a 1ª e 3ª etapa, alertou para os seguintes perigos
identificados: I – insetos: Lecanoideus floccissimus, Aleurocanthus
woglumi Quarentenária (A2) e Opsiphanes tamarindi; II – fungos:
Mycosphaerella fijiensis (Quarentenária A2) e Fusarium camptoceras
(Quarentenária A1); III – Bactéria: Ralstonia solanacearum raça 2
(Quarentenária A2).
De acordo com a minuta de Instrução Normativa proposta pelo MAPA,
as Medidas de Mitigação de Risco para estas pragas podem ser obtidas
com as Declarações Adicionais (DA’s), como segue:
• I – DA 2 – Os frutos de banana foram tratados com (especificar:
produto, dose ou concentração, data de aplicação, temperatura,
tempo de exposição) para o controle dos insetos Lecanoideus
floccissimus, Aleurocanthus woglumi e Opsiphanes tamarindi, sob
supervisão oficial.
• II – DA 1 O envio se encontra livre de Lecanoideus floccissimus,
Aleurocanthus woglumi e Opsiphanes tamarindi.
• III – DA 14 - “Os frutos de banana não apresentam risco
quarentenário com respeito ao fungo Mycosphaerella fijiensis e à
bactéria Ralstonia solanacearum Raça 2, considerando a aplicação
do sistema integrado de medidas para diminuição do risco,
oficialmente supervisionado e acordado com o país importador”.
10
• IV – DA 15 – O envio encontra-se livre de Fusarium camptoceras,
de acordo com o resultado da análise oficial do laboratório N°
(indicar o nº da análise).
• Art. 1º Aprovar os requisitos fitossanitários para a importação
de frutos de banana (Musa acuminata) (Categoria 3, classe 4)
produzidos no Equador.
• Art. 2º Os frutos especificados no art. 1º devem estar em pencas,
acondicionados em caixas de papelão que serão embaladas a vácuo
com filme plástico, e a partida deve estar livre de folhas e
acompanhada de Certificado Fitossanitário - CF, emitido pela
Organização Nacional de Proteção Fitossanitária – ONPF do Equador
com as seguintes Declarações Adicionais - DAs:
• I – DA 2 – Os frutos de banana foram tratados com
(especificar: produto, dose ou concentração, data de
aplicação, temperatura, tempo de exposição) para o controle
dos insetos Lecanoideus floccissimus, Aleurocanthus woglumi
e Opsiphanes tamarindi, sob supervisão oficial.
• II – DA 1 O envio se encontra livre de Lecanoideus
floccissimus, Aleurocanthus woglumi e Opsiphanes tamarindi.
• III – DA 14 - “Os frutos de banana não apresentam risco
quarentenário com respeito ao fungo Mycosphaerella
fijiensis e à bactéria Ralstonia solanacearum Raça 2,
considerando a aplicação do sistema integrado de medidas
para diminuição do risco, oficialmente supervisionado e
acordado com o país importador”.
• IV – DA 15 – O envio encontra-se livre de Fusarium
camptoceras, de acordo com o resultado da análise oficial
do laboratório N° (indicar o nº da análise).
• § 1º - Alternativamente, para quaisquer pragas relacionadas
acima, a ONPF poderá declarar a opção DA7 – Os frutos de banana
foram produzidos em uma área reconhecida pela ONPF do Brasil como
livre de (especificar a(s) praga(s)), de acordo com a NIMF Nº 4
da FAO;
11
• § 2º – Para cumprimento das Declarações Adicionais DA7 e DA14 é
necessário, respectivamente, que a ONPF do Brasil reconheça
oficialmente as áreas livres e o sistema integrado de medidas
para diminuição do risco do país de origem, por meio de
publicação no Diário Oficial da União.
• Art. 3º As partidas especificadas no art. 1º serão inspecionadas
no ponto de ingresso (Inspeção Fitossanitária - IF) e, havendo
motivos que justifique a coleta de amostras, essas serão
coletadas e enviadas para análise fitossanitária em laboratórios
oficiais ou credenciados.
Convém relatar que o Governo Brasileiro, por meio do MAPA,
publicou no Diário Oficial da União do dia 20 de novembro de 2007 a
lista de Pragas de importância Quarentenárias A1 e A2, conforme a
Instrução Normativa Nº 52, além de disponibilizar toda a legislação
fitossanitária relacionada às pragas de importância quarentenárias A2
para a cultura da banana, como segue:
A Instrução Normativa Nº 46, de 27 de dezembro de 2010, do MAPA,
estabeleceu os critérios e procedimentos de prevenção e controle das
pragas Banana Streak Vírus - BSV e Cucumber mosaic vírus - CMV em
mudas de bananeira, visando à certificação fitossanitária com vistas à
sua comercialização. Estes vírus receberam o status de Praga Não
Quarentenária Regulamentada, cuja presença em plantas ou partes
destas, para plantio, influi no seu uso proposto com impactos
econômicos inaceitáveis. As pessoas físicas e jurídicas que exerçam as
atividades de produção, comércio, armazenamento, importação e
exportação de mudas de bananeira (Musa spp.) deverão estar inscritas
no Registro Nacional de Sementes e Muda - RENASEM.
Por exemplo, para que uma praga seja considerada quarentenária A2
para o Brasil, há necessidade de obter esse reconhecimento por parte
dos demais países que, como o Brasil, compõe a região da América do
Sul conhecida como Cone Sul (Argentina Chile, Paraguai e Uruguai), por
meio do seu Comitê de Sanidade Vegetal - COSAVE. Tal procedimento foi
acordado pela Resolução Única da V Reunião do Conselho de Ministros
desse Comitê, em 12 de junho de 1995 e adotado pela Portaria
Ministerial nº 641, de 10 de outubro de 1995, publicada no Diário
Oficial da União.
12
A IN nº 22, SDA/MAPA, de 8 de Setembro de 2010, publicou os
resultados dos Programas Nacionais de Controle de Resíduos e
Contaminantes e apresenta no quadro geral consolidado os resultados do
monitoramento do Plano Nacional de Controle de Resíduos e
Contaminantes em produtos de origem vegetal no ano-safra 2009/2010,
cujo índice de conformidade da banana foi de 100%.
A Instrução Normativa Nº 57, de 12 de dezembro de 2007, do MAPA,
adotou os Requisitos Fitossanitários para Musa spp. segundo o País de
Destino e de Origem, no âmbito do MERCOSUL. Para a Argentina, por
exemplo, o MAPA exige as declarações adicionais para as seguintes
pragas: DA7 - Ralstonia solanacearum Raça 2 e Mycosphaerella fijensis;
DA5 ou DA15 - Fusarium oxysporum f. sp. cubense, Pratylenchus coffeae,
Radopholus similis, Rotylenchulus reniformis; DA7 ou DA14 -
Mycosphaerella figiensis, Ralstonia solanacearun Raça 2; DA1 -
Oopogona sacchari; DA15 - Palleucotthrips musae e DA15 - Oopogona
sacchari.
A Instrução Normativa Nº 17, de 31 de maio de 2005, do MAPA,
aprovou os procedimentos para a caracterização, implantação e
manutenção de área livre da Sigatoka-negra e os procedimentos para
implantação e manutenção do sistema de mitigação de risco para
Sigatoka-negra (Mycosphaerella fijiensis (Morelet) Deighton). Nas
Unidades da Federação onde a praga não foi detectada, deverá ser
comprovada a condição de Área Livre ao Departamento de Sanidade
Vegetal - DSV, desta Secretaria, para reconhecimento oficial, no prazo
de 180 (cento e oitenta) dias, a partir da data de publicação desta
Instrução Normativa.
Em 2005, o MAPA publicou o Alerta Quarentenário 2 para a
Sigatoka-negra, informando a etiologia, sintomatologia, epidemiologia
e as medidas preventivas e curativas de controle da doença. Ressalta
que na América Central, a doença foi identificada por Mulder e Stover,
a partir de Honduras (1972) e, que se disseminou para Belice (1975),
Guatemala (1977), Nicarágua (1979), México (1980), Costa do Pacífico
(1981), Panamá - zona do Atlântico e Pacífico (1981), Colômbia (1986),
Equador (1987) e Peru (1995).
A Instrução Normativa SDA nº 38, de 14 de outubro de 1999,
estabeleceu a lista de Pragas Quarentenárias A1, A2 e as Não
13
Quarentenárias Regulamentadas, que demandam atenção especial de todos
os integrantes do sistema de defesa fitossanitária do País, destacando
as de alto risco potencial para as quais fica estabelecido o Alerta
Máximo. As pragas quarentenárias A1, importantes para a cultura da
banana, cujo alerta é máximo, são Odoiporus longicollis (coleoptera),
Othreis fullonia, Nacoleia octasema e Erionota thrax(lepidoptera),
Pratylenchus vulnus (nematoda), Banana bunch top vírus (vírus) e
Haplobasidion musae (fungo). E as pragas quarentenárias A2, de
importância econômica potencial, já presentes no país, porém não se
encontram amplamente distribuídas e possuem programa oficial de
controle, são Mycosphaerella fijiensis e Ralstonia solanacearum raça
2.
No caso específico da banana, a Secretaria Nacional de Defesa
Agropecuária - SDA do Ministério da Agricultura e do Abastecimento,
pela da Portaria Nº 128 de 18 de julho de 1994, publicada no Diário
Oficial da União de 22 de julho de 1994, proibiu a importação de
mudas, rizomas, pseudocaules, outros materiais de propagação e frutos
de bananeira, para quaisquer fins, produzidos em países onde esteja
presente o fungo M. fijiensis, organismo causador da Sigatoka-negra.
A Portaria nº 84, de 19 de julho de 1993, do MAPA, instituiu o
Programa Nacional de Prevenção e Controle do Moko-da-Bananeira -
PNCMB, no Departamento de Defesa e Inspeção Vegetal, junto à
Coordenação-Geral de Defesa Sanitária Vegetal/ Divisão de Prevenção e
Controle de Doenças e Pragas, visando a prevenção e controle da
bactéria "Pseudomonas solanacearum" Smith, raça 2, agente causal da
doença conhecida como "Moko" ou murcha da bananeira, nos Estados da
Federação com regiões contaminadas.
4. ASPECTOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DA BANANICULTURA BRASILEIRA
A bananeira, Musa spp., é amplamente cultivada no Brasil,
ocupando uma área aproximada de 520 mil hectares e produção de
aproximadamente 6 milhões de toneladas de banana por ano agrícola,
posicionando-o como o segundo maior produtor mundial de bananas
(PEREIRA E GAPAROTTO, 2005).
14
A banana é a segunda fruta mais produzida no Brasil, atrás apenas
da laranja, cuja produção está fortemente associada ao processamento
industrial de suco concentrado para exportação. Responde por 15,1% do
volume de produção nacional. Em relação ao consumo, a banana lidera o
mercado de frutas no Brasil com 30,7% em volumes vendidos, seguidos
pela laranja (18,6%), o abacaxi (8,5%) e o caqui (8,4%) (SILVA, 2011).
A bananeira é produzida de norte a sul do país, comercializada de
forma in natura, quase que na totalidade no mercado interno e
considerada a segunda fruta mais consumida no país. A maioria dos
bananicultores brasileiros é composta por pequenos produtores, que
utilizam a banana como fonte de renda em seu orçamento. Portanto, a
bananicultura é considerada uma das atividades agrícolas de grande
importância para o agronegócio brasileiro, sendo quase toda sua
produção comercializada no mercado interno e exportada apenas 1 %
desta produção.
A bananicultura desempenha papel altamente relevante no
agronegócio brasileiro, além de atuar como elemento de fixação de
populações no meio rural dos inúmeros municípios produtores e produzir
durante todo o ano. Nas regiões tropicais e nas periferias das grandes
cidades, onde predominam populações socioeconomicamente carentes, a
banana deixa de ser fruta, para constituir-se em alimento básico, como
fonte de carboidrato, vitaminas e sais minerais (GASPAROTTO, 2006).
O Vale do Ribeira, por exemplo, possui aproximadamente 1.800.000
ha de extensão territorial, destes 1.700.000 estão com cobertura
vegetal natural. Atualmente, a área ocupada pela bananicultura no Vale
do Ribeira e Litoral Sul, são de 36.099 hectares, sendo 80%
localizados em pequenas propriedades, com média de 10 hectares,
representativos da agricultura familiar (LUPA 2007/2008).
5. ASPECTOS FITOSSANITÁRIOS DA BANANICULTURA BRASILEIRA
Os problemas fitossanitários na cultura da banana têm provocado
danos na produção e prejuízos econômicos aos bananicultores
brasileiros das mais diferentes regiões e pólos de produção, como o
Vale do Ribeira, no litoral Sul do Estado de São Paulo (23
municípios), Norte de Minas Gerais (Janaúba, Jaíba, Pirapora, Montes
15
Claros e Itacarambi), Norte de Santa Catarina (Corupá, Massaranduba,
Jaraguá do Sul, Guaramirim, Praia Grande, Luis Alves e Schroeder), no
Nordeste (Petrolina, Juazeiro, Bom Jesus da Lapa e Formoso) e no
Espírito Santo (MATTHIESEN & BOTEON, 2002).
No Brasil, as bananeiras são alvos constantes dos microorganismos
fitopatogênicos que interferem em diferentes processos fisiológicos
vitais à planta, como a fotossíntese, absorção e transporte de água e
nutrientes e a utilização dos produtos da fotossíntese pelas raízes,
caules, folhas e inflorescências. Dentre as doenças que limitam a
produção das bananeiras destacam-se as manchas foliares, que
comprometem a fotossíntese; as murchas vasculares, que interferem na
absorção e no transporte de água e nutrientes para a parte aérea da
planta; as nematoses e as viroses, que impedem a distribuição dos
produtos da fotossíntese para as demais partes da planta. Além
daquelas que ocorrem em pós-colheita, que consomem as reservas dos
frutos.
Dentre as doenças vasculares destacam-se o Mal-do-Panamá, causada
pelo fungo Fusarium oxysporum fsp. cubense; a Podridão-mole, causada
pelas bactérias Erwinia carotovora subsp. carotovora (Jones) Bergey et
al.; Erwinia carotovora subsp. atroseptica (van Hall) Dye ou Erwinia
chrysanthemi Burkholder, McFadden, & Dimock; e o Moko-da-Bananeira,
causada pela bactéria Ralstonia solanacearum (Pseudomonas solanacearum
(Smith) Smith (raça 2).
5.1. MAL-D0-PANAMÁ
O Mal-do-Panamá é causado por um fungo Fusarium oxysporum f.sp.
cubense (Foc), um habitante do solo com grande capacidade de
sobrevivência na ausência do hospedeiro, ou na forma de estruturas de
resistência, denominadas de clamidósporos, ou na forma saprofítica. A
doença foi constatada no Brasil, desde 1930, na bananeira Maçã, no
município de Piracicaba (SP). Segundo Cordeiro & Kimati (2005), em
apenas quatro anos foram dizimados cerca de um milhão de pés de banana
neste município. A doença se tornou endêmica em todo território
nacional, pois a bananeira Maçã é altamente suscetível ao fungo,
apesar de sua grande aceitação comercial, mas paulatinamente foi
16
substituída pelas variedades do subgrupo Cavendish, como Nanica e
Nanicão, que são altamente resistentes ao patógeno.
Os primeiros relatos de Mal-do-Panamá no mundo ocorreram na
Austrália em 1876 e na Costa Rica e Panamá em 1890, onde a doença
causou devastação em bananeiras do grupo genotípico Gros Michel. A
epidemia se estendeu até 1960, quando foram dizimados mais de 40.000
hectares desta variedade, que foi a principal banana de exportação da
América Central, sendo os bananais comerciais totalmente substituídos
pelas variedades do subgrupo Cavendish. No mundo, a incidência do Mal-
do-Panamá tem sido crescente devido, principalmente, à ineficácia das
medidas de controle e ao surgimento da Raça Tropical 4 do patógeno,
que tem capacidade de afetar as variedades resistentes do subgrupo
Cavendish.
Quatro raças fisiológicas do Foc são conhecidas, sendo a R1, R2 e
R4 importantes para bananeira e a R3 importante apenas para a
helicônia (Tabela 1). Atualmente, a bananeira do grupo Cavendish
também vem sendo afetada pela R1, tanto em regiões tropicais, onde os
solos são ácidos e compactados, quanto em subtropicais, onde o frio,
seca, solos compactados e a acidez predispõem as plantas ao ataque do
patógeno. A ocorrência da Raça tropical 4 iniciou em bananeiras do
subgrupo Cavendish em Taiwan em 1990, Sumatra 1992, estendendo-se pelo
sudeste da Ásia e Austrália. Num período de dez anos, transformou-se
na doença mais temida da bananicultura mundial.
A diferenciação das raças pode ser feita por meio de destas
variedades indicadoras, onde a Gros Michel é indicadora da Raça 1, a
Bluggoe, indicadora da Raça 2 e as variedades do subgrupo Cavendish
indicadoras da Raça 4. Esta diferenciação pode ser mais precisa com a
caracterização dos grupos de compatibilidade vegetativa ou mesmo por
análise do DNA (RAPD/PCR) do fungo. A disseminação do fungo pode
ocorrer via rizoma, raiz e pseudocaule de plantas doentes que liberam
grande quantidade de inoculo na superfície do solo e a transmissão da
doença estaria na dependência do contato de raízes de plantas sadias
com este inoculo. A água de irrigação, de drenagem e de inundação,
animais, homem, equipamentos e material de plantio infectado também
disseminam o patógeno. No Brasil, a disseminação via material de
plantio infectado é muito freqüente, devido à utilização de mudas ou
pedaços de rizomas provenientes de plantios velhos e contaminados.
17
Segundo os técnicos da CIDASC/SC, as opções de manejo do Mal-do-
Panamá Raça 4 são restritas e resumidas a basicamente a duas opções:
1. Cultivo anual com variedades de ciclo curto e renovação completa a
cada colheita; 2. Expurgo do solo ou inundação, ambos tem se mostrado
eficientes por até três anos (MEES, 2010).
TABELA 1. Grupos de bananeiras afetados pelas diferentes Raças de
Fusarium oxysporum f. sp. cubense.
Raça Grupos
R1 Gros Michel (AAA), Maqueño (AAB), Silk (Maçã) (AAB), subgrupo Pome
(Prata) (AAB) e Pisang Awak (ABB).
R2 Blugoe (ABB) Tetraplóides AAAA
R3 Heliconias
R4 Subgrupo Cavendish (AAA), Sucrie (Ouro) (AA), Lacatan e cultivares
suscetíveis às Raças 1 e 2.
Para a CIDASC/SC, enfrentar a Raça Tropicam 4 ou TR4 em área já
infestadas é um desafio muito limitado para a pesquisa, pois deverá
seguir pelo caminho das hibridações, que tem se mostrado ineficazes, e
da transgenia. De qualquer forma, qualquer avanço no uso de organismos
geneticamente modificados terá que enfrentar a resistência dos
consumidores, mesmo que seja para continuar o abastecimento da fruta
mais consumida do planeta. Contudo, as formas de disseminação da TR4
com possibilidades de chegar ao continente americano envolvem os
fenômenos climáticos, como os furacões e tempestades, além da ação do
homem, pelo transporte indiscriminado de material propagativo
contaminado ou até mesmo o bioterrorismo (MEES, 2010).
5.2. MOKO-DA-BANANEIRA
O Moko-da-bananeira, causado pela bactéria Ralstonia
(Pseudomonas) solanacearum, Raça 2, foi constatado oficialmente no
Brasil em 1976, no estado do Amapá. A partir daí, intensificou-se o
levantamento e a erradicação da doença em toda a região Norte do país
até 1987, quando a doença foi constatada e erradicada em Sergipe.
Atualmente, a doença é considerada uma praga quarentenária A2, pois
está restrita a região norte do país, onde a bactéria é letal a toda e
qualquer variedade de bananeira cultivada em condições de várzea, um
18
ambiente altamente favorável à sua sobrevivência e multiplicação.
Segundo Cordeiro & Kmati (2005), existem cinco estirpes desta
Raça 2 que afetam a bananeira, as quais podem ser separadas por
hospedeiros diferenciais, aspecto das colônias em meio de tetrazólio,
hábitat e pela maior ou menor capacidade de ser disseminada por
insetos vetores. Assim, foi caracterizada a Estirpe D (“distortion”),
isolada de Helicônia, que causa distorção foliar e murcha lenta em
bananeiras; a Estirpe B (banana), provavelmente um mutante de D, que
causa murcha rápida em bananeiras; a Estirpe SFR (“small, fluidal,
round”), provavelmente oriunda de Helicônia ou é mutante de B, sendo
facilmente transmitida por insetos em países da América Central; a
Estirpe H (Helicônia) é uma estirpe presente na Costa Rica que afeta
plátanos (AAB), mas sem afetar outras bananas (AAA); e a Estirpe A
(Amazônia), que ocorre apenas nas margens de rios sujeitas a
inundações periódicas (Peru, Colômbia e Venezuela) e pode ser
facilmente transmitida por insetos.
Ralstonia solanacearum Raça 2 é considerada uma praga
quarentenária A2, presente nos estados do Amapá, Amazonas, Pará,
Pernambuco, Rondônia, Roraima e Sergipe, sendo problema apenas para
bananeiras (Musa spp.) e Heliconia spp. Sob condições de terra firme,
na ausência do hospedeiro e durante o período seco a bactéria
sobrevive apenas por dois meses, podendo chegar a quatro meses no
período chuvoso, evidenciando que o teor de umidade do solo é
fundamental para a sobrevivência desta bactéria. O material de plantio
desempenha papel importante na disseminação da murcha bacteriana,
tanto a curtas como a longas distâncias.
Dentro do plantio, a bactéria pode se disseminar de planta a
planta através de contatos inter-radiculares de touceiras doentes com
touceiras sadias. As ferramentas usadas na capina, desbaste, desfolha,
corte do coração e colheita são também de grande eficiência na
disseminação da bactéria. Os insetos visitadores de inflorescências
também se constituem em eficientes vetores, principalmente das
estirpes “SFR” e “A”, que escoam com maior facilidade de cicatrizes de
brácteas florais ou de outros ferimentos em qualquer parte da planta
onde a bactéria esteja presente (CORDEIRO & KIMATI, 2005).
A bactéria apresenta uma vasta gama de hospedeiros alternativos
que podem ser fator decisivo na manutenção do patógeno no campo e,
19
conseqüentemente, no estabelecimento de um novo foco da doença. Cerca
de 40 espécies de ervas hospedeiras deste patógeno foram identificadas
em bananais da América Central, embora nem todas sejam hospedeiras de
estirpes que atacam a bananeira. Através de inoculação artificial,
foram encontradas 12 espécies de ervas, na Colômbia, capazes de
conduzir a estirpe B, sem mostrarem sintomas externos. Em Honduras,
foram feitos isolamentos a partir de plantas crescendo no campo e em
inoculações em casa-de-vegetação, concluindo-se 64 espécies testadas,
além de espécies de Musa e Heliconia.
5.3. SIGATOKA NEGRA E AMARELA
As doenças foliares, como a Sigatoka-amarela, causada pelo fungo
Mycosphaerella musicola, e a Sigatoka-negra, causada pelo fungo
Mycosphaerella fijiensis, são as principais doenças foliares que
provocam severas desfolhas nas plantas, especialmente, após a emissão
do cacho. A Sigatoka-amarela é uma doença endêmica que ocorre em todo
o território nacional, porém a Sigatoka-negra é a doença mais
destrutiva da bananeira nas regiões de ocorrência, devido à maior
agressividade de seu agente etiológico e a alta gama de cultivares de
bananeiras suscetíveis, suplantando rapidamente a Sigatoka-amarela.
As perdas devido a estas doenças podem atingir 50 e 100% da
produção das bananas, respectivamente (PEREIRA & GASPAROTTO, 2005). A
doença começa nas folhas mais novas da planta e evolui para as mais
velhas, provocando sintomas típicos como estrias marrons e manchas
negras necróticas que reduzem os tecidos fotossintetizantes e,
conseqüentemente, os rendimentos brutos.
A Sigatoka-negra foi descrita pela primeira vez em 1963, nas
Ilhas Fiji, no Pacífico Sul; em 1972 em Honduras, na América Central;
em 1981 na Colômbia; em 1991, na Venezuela; em 1994 no Peru; e em 1997
na Bolívia. No Brasil foi primeiramente detectada em fevereiro de
1998, nos municípios de Tabatinga e Benjamim Constant, no Estado do
Amazonas, região fronteiriça do Brasil com a Colômbia e o Peru.
Atualmente a doença ocorre em todos os estados da região Norte e da
região Sul, e em parte da região Sudeste (São Paulo e Minas Gerais) e
da região Centro-oeste (Mato Grosso e Mato Grosso do Sul), exceto nos
20
estados do Rio de Janeiro e Espírito Santos e nos estados da região
Nordeste.
No estado de São Paulo, a doença chegou aos bananais comerciais
do Vale do Ribeira em junho de 2004 e, em 2005, já ocorreu o primeiro
registro da presença exclusiva da doença em bananais do Vale do
Ribeira, conforme levantamentos realizados por Moraes et al. (2005b).
Nesta região, o controle químico da Sigatoka-amarela, era realizado
com seis aplicações anuais de fungicidas, enquanto que para a
Sigatoka-negra atualmente são necessárias dez aplicações, levando a um
aumento de 66% no custo de proteção dos bananais.
5.4. VIROSES
Importantes viroses podem acometer a saúde da bananeira como
àquelas causadas pelo Vírus das Estrias da Bananeira (BSV), Vírus do
Mosaico das Cucurbitáceas (CMV), Vírus do Topo em Leque da Bananeira
(BBTV) e o Vírus o mosaico das Brácteas da Bananeira (BBrMV).
O CMV conhecido como a clorose infecciosa foi descrito pela
primeira vez na Austrália por MAGEE em 1930. Depois, nas Filipinas,
Índia, Porto Rico, Colômbia e Estados Unidos (PALUKAITIS et al.,
1992). Nos frutos, o vírus causa um intumescimento, provocando um
sintoma conhecido como ‘marca de dedos’, redução do tamanho e ainda
ocorrência de estrias amareladas ou necrose interna dos frutos
(CORDEIRO & MATOS, 2003). O vírus pode ser transmitido mecanicamente e
por uma ampla gama de afídeos vetores, dentre eles Aphis gossypii, de
modo não persistente, mas não pode ser transmitido pelo pulgão da
bananeira, Pentalonia nigronervosa.
O BSV conhecido como estrias-da-bananeira foi relatado pela
primeira vez, na Costa do Marfim e já está presente em bananais da
Ásia, Austrália e América Latina. No Brasil quatro estirpes de BSV
foram relatadas, infectando principalmente a variedade Mysore (AAB)
(CORDEIRO & MATOS, 2003). O vírus não se transmite mecanicamente,
portanto, não se transmite pelas ferramentas empregadas nos tratos
culturais, mas é transmitido de forma semi-persistente pela cochonilha
dos citros Planococcus citri, por semente e material propagativo
infectado, não sendo filtrado pela cultura de ápices meristemáticos,
21
uma vez que o DNA do vírus pode ser incorporado ao genoma da planta
(COLARICCIO, 2005).
A equipe da pesquisadora Adoralata Coraliccio, do Instituto
Biológico de São Paulo, realizaram a indexação sorológica de mudas de
banana ‘Williams’ obtidas por cultivo de meristemas, provenientes da
Costa Rica, submetidas à quarentena pelo MAPA, e revelou a presença do
CMV e BSV, isoladamente ou em associação, em todos os lotes avaliados.
Embora o número de plantas infectadas tenha sido da ordem de 1% e os
vírus já ocorriam no Brasil, cumpre ressaltar a importância da
utilização de material propagativo sadio para prevenir a introdução e
a disseminação nas regiões produtoras (COLARICCIO, 2005).
Análises de risco fitossanitário realizadas no passado, pelo
MAPA, em Israel e Honduras, já permitiram e propiciaram a introdução
no país do BSV circulante, em mudas micropropagadas de bananas
Cavendish, com prejuízos incalculáveis aos nossos produtores. Por esta
razão, o cuidado deve ser redobrado.
Dentre os vírus exóticos para a bananeira no Brasil, tem-se o
Banana bunchy top virus (BBTV), responsável pela principal virose que
ocorre em vários países da Ásia, África, Oceania e Havaí, pois uma vez
estabelecida, a praga é extremamente difícil de ser erradicada ou
controlada. O vírus foi registrado pela primeira vez em plantações de
banana em Fiji em 1889, mas provavelmente a praga já estava presente
desde 1879 (BATISTA et al. 2002). É uma praga quarentenária A1 para o
Brasil (MAPA, Instrução Normativa SDA N° 38 de 14 de outubro 1999).
Na Austrália, a disseminação do BBTV foi muito rápida, com
incidência de 5 a 90% em alguns distritos, resultando num decréscimo
de 90% da área total de produção (MAGEE, 1927). O vírus ocorre na
África, Ásia e no sul do Pacífico, sendo a bananeira seu principal
hospedeiro, sendo todas as espécies suscetíveis. Há evidências de que
a Canna indica, Hedychium coronarium, Heliconia spp. e Colocasia
esculenta também hospedem o BBTV (MEISSNER FILHO & BRIOSO, 2000). O
vírus é normalmente introduzido na área de plantio por meio de mudas
contaminadas, uma vez que a cultura de ápice caulinar não filtra estes
vírus, sendo assim introduzidos em novos plantios. O vírus é
transmitido de forma persistente pelo afídeo Pentalonia nigronervosa.
O BBrMV conhecido como mosaico-das-brácteas foi relatado nas
22
Filipinas causando perdas de até 40% na produção. O vírus é
transmitido de forma não-persistente por afídeos, Aphys gossypii e
Pentalonia nigronervosa e por material de propagação vegetativa. Tem
como hospedeiros as plantas da família Musácea e está presente em
vários países da Ásia e África, causando severos danos à bananicultura
(MARINHO & BATISTA, 2005). O controle passa pela adoção de medidas
quarentenárias para evitar a introdução da doença.
Apesar do BBrMV não ocorrer no Brasil e não está regulamentado
como praga quarentenária, no Estado do Rio Grande do Norte, foi
registrada sua presença em mudas de bananeira ‘Williams’, micro-
propagadas por cultura de meristemas, provenientes da Costa Rica. A
identificação feita pelo quarentenário da EMBRAPA possibilitou a
interdição do lote, uma vez que todas as mudas de bananeira do lote
foram incineradas, evitando assim a introdução dessa nova praga no
Brasil (MARINHO & BATISTA, 2005).
Para evitar a introdução de vírus exóticos no Brasil, todo
germoplasma vegetal de bananeiras deve ser submetido aos procedimentos
de indexação de vírus, que envolvem um grande número de testes
sorológicos, principalmente o uso de kits desenvolvidos para o
diagnóstico da maior parte do vírus descritos até o momento em Musa
spp.(COLARICCIO, 2005).
5.5. NEMATOSES
Dentre os nematóides que podem causar danos nas raízes da
bananeira, destacam os gêneros Radophulus, Pratylenchus,
Helicotylenchus e Meloydogine, que comprometem a absorção e
distribuição de água e nutrientes, além de abrirem portas de entrada
para fungos e bactérias habitantes do solo, como Fusaruim, Erwinia e
Ralstonia (KIMATI et al., 2005).
6. ASPECTOS FITOSSANITÁRIOS DA BANANICULTURA EQUATORIANA
As pragas que incidem na cultura da banana no Equador atacam as
folhas, frutas e as raízes. Dentre as pragas foliares destacam-se a
Ceramidia viridis, Opsiphanes tamarindis, Sibine apicalis e Oiketicus
23
kirbyi. As pragas de frutos são os trips Chaetanaphothrips orchidii,
Franquiniella parvula; o coleóptero Colapsis submetálica, a cochonilha
Pseudococus elisae, ácaro Tetranchus spp. e a fumagina Pentalonia
nigronervosa. Espécies do gênero Colaspis (hyperchlora, gemellata,
ostmarki, submetalica, blakeae, hipochlora), algumas delas são
endêmicas nas regiões bananeiras do Equador. As pragas de raízes são
os nematóides Radopholus similis, Meloidogyne sp., Pratylenchus,
Rotylenchus e Helicotylenchus multicinctus (HOLGUIN, 2006).
O Mal-do-Panamá é a doença mais devastadora que afeta a produção
de banana comercial na América Central e no Caribe. Para González
(1987), esta doença só pode ser controlada por quarentena ou exclusão,
pois não há nenhum método econômico que reduza a população do fungo
Fusarium oxysporum f.sp. cubense (Foc). Como conseqüência, no Equador,
a variedade Gros Michel foi substituída pela variedade Cavendish em
plantações comerciais, graças a Raça 1, porém, a raça 4, ainda não foi
oficialmente relatado no Equador.
Atualmente, outra Raça do Foc, chamada subtropical Raça 4, está
destruindo as plantações de banana Cavendish em países subtropicais
como África do Sul, Taiwan e parte da Austrália. Novos stranis deste
fungo, conhecido como Raça 4 Tropical, iniciaram ataques em Cavendish
e outras cultivares plantados na década de 90 na Malásia e Indonésia.
Existem sérios riscos que ele pode estar atacando plantações de
Cavendish na América Tropical, África e Caribe (JONES, 2009, citado
por ROBINSON & SAÚCO, 2010).
Com isso, a continua dependência do comercio mundial de
cultivares de banana Cavendish, torna-se um risco potencialmente
perigoso. Todas as cultivares do subgrupo Cavendish (AAA), muitas
cultivares ABB e aquelas dos subgrupos AA, AB, AAA, AAB são
suscetíveis a TR4 (PLOETZ, 2008, citado por Robinson & Saúco, 2010).
Não existem métodos de controle químico ou cultural viáveis
economicamente para essa doença no campo. Medidas quarentenárias,
fumigação e cultura de tecidos podem ser aplicadas, mas a re-infecção
pode ocorrer a partir da água de irrigação ou de solo infestado.
O Moko-da-Bananeira é uma doença vascular sistêmica que afeta os
vasos condutores de seiva e atinge os frutos da bananeira. A doença é
considerada o maior problema para os bananicultores da região de Lion
24
e Chinandega. Em adição a Sigatoka-negra e Mal-do-Panamá, outras
doenças como o Moko-da-Bananeira, Banana Bunchy Top e Estrias da
Bananeira continuem uma serie ameaça à produção mundial de banana,
cuja situação ainda não mudou nestes últimos 20 anos.
Por efeito das correntes de ar que vem desde a Ásia até o
continente americano, a Sigatoka-negra chegou a Honduras em 1972. Por
efeitos do furacão Fiji, em 1973, a doença se expandiu para todo o
país e substitui a Sigatoka-amarela. Em 1981 chegou à América do Sul,
pelo norte da Colômbia e, seis anos depois, foi constatada no Equador
em 1987. A doença é causada pelo fungo Mycosphaerella fijensis Morelet
var. difformis que provoca severas desfolhas na planta. As plantas
devem ter de 7 a 8 folhas funcionais na floração para se evitar perdas
na qualidade da fruta (GONZÁLEZ, 1987). Todas as variedades comerciais
de plátano e banana de exportação são suscetíveis a Sigatoka-negra. O
controle químico da Sigatoka-negra em plantações de banana tropical
para exportação tem sido extremamente caro e a pressão social e
ambiental por padrões de qualidade alimentar e ambiental tem aumentado
as restrições pelos governantes e consumidores.
O controle da doença é tradicionalmente realizado com aplicações
de fungicidas, porém tem-se reportado vários casos de populações do
fungo resistentes aos fungicidas registrados para a cultura, sendo
atualmente necessárias 28 a 32 aplicações anuais de fungicidas para o
controle da doença. Todos os princípios ativos dos fungicidas
protetores e sistêmicos registrados para a cultura da banana no
Equador, também são registrados no Brasil, exceto os orgânicos, como o
fungicida orgânico, Citrex e Metal Tiosulfato N (HOUGUIN, 2006).
Nos bananais equatorianos são necessárias aplicações periódicas
de produtos químicas para o controle de lagartas desfolhadoras,
utilização de sacos plásticos impregnados com inseticidas para inibir
o ataque de insetos nos cachos de banana, sem mencionar as incontáveis
aplicações de nematicidas. O Jornal “EL Universo” publicou que em 2006
que a Rússia restringiu a entrada da banana equatoriana por apresentar
resíduos de clorpirifós. Ao contrario do que ocorre no Brasil, as
informações oficiais sobre os agro-químicos proibidos no Equador, as
pragas presentes, sistemas de mitigação de risco, programas de
controle fitossanitário e de controle de pesticidas utilizados,
contaminações por agrotóxicos não estão oficialmente disponíveis.
25
7. PONDERAÇÕES TÉCNICAS SOBRE A IMPORTAÇÃO DE BANANAS DO
EQUADOR
A seguir serão apresentados alguns argumentos técnicos para
subsidiar a Análise de Risco de Pragas e os requisitos fitossanitários
para a importação de frutos de bananas produzidas no Equador. Esta
argumentação terá como base a minuta da proposta de Instrução
Normativa elaborada pela Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA) do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), em atenção
ao processo nº 21000.010959/2005-46:
7.1. IMPACTO ECONÔMICO E SOCIAL
Para quarentena vegetal dos órgãos nacionais e internacionais são
categorizados dois tipos de danos: o potencial e o real. Numa visão
preditiva, o dano potencial pode ser estimado pelo impacto econômico
esperado com a provável entrada de determinada praga no país, o qual é
definido pela equação IEE = PxE; onde P, é a probabilidade da praga
tornar-se estabelecida no país, estando em função do volume de
importação do material vetor da praga (podendo ser a própria planta),
do grau de associação da praga com o material vegetal e da facilidade
de adaptação da praga no país.
O E é o impacto econômico do caso a praga realmente se estabeleça
no país, estando em função do valor econômico do produto importado, da
gama de pragas e da gama de hospedeiros, além dos custos adicionais de
controle. Já o dano real incide diretamente na quantidade e qualidade
do produto e na capacidade futura de produção (materiais de
propagação), além provocar efeitos econômicos e sociais indiretos,
como o endividamento e abandono da atividade (descrença), afetando a
cadeia de custódia constituída pelo produtor, consumidor, Estado, e
pelo ambiente (FITO I, 2005).
O Brasil é o segundo produtor mundial de banana com 520 mil
hectares de área plantada, o que não justifica de maneira alguma a
necessidade da importação desta fruta. A bananicultura esta espalhada
por quase todos os Estados do país, sendo desenvolvida,
principalmente, nas pequenas propriedades, ou seja, é um dos
principais produtos da agricultura familiar nacional.
26
A produção de banana no Brasil está concentrada nos Estados de
São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Paraná e Santa Catarina. Na grande
maioria das propriedades dedicadas à bananicultura emprega-se a mão-
de-obra familiar. Propriedades estas que participam dos programas de
Fortalecimento da Agricultura Familiar para investimentos, custeios e
aquisição de máquinas. Além disso, por se tratar de uma cultura
distribuída nas diferentes regiões brasileiras, cada uma com
características climáticas diferenciadas, a banana brasileira é a
fruta cultivada com o menor emprego de agrotóxicos.
Segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego a bananicultura
gera aproximadamente 500 mil empregos diretos, sendo proporcionalmente
uma das culturas que mais empregam, pois quase não utiliza a
mecanização nos tratos culturais. Já indiretamente gera
aproximadamente 2 milhões de empregos. Em algumas regiões do país é a
única atividade econômica que move mercado, principalmente os novos
projetos de assentamentos rurais no Nordeste.
O mercado mundial de banana está em meio a uma crise e as
relações comerciais entre produtores (América latina) e consumidores
(EUA e Europa) estão abalados pela desvalorização do dólar, excesso de
oferta de bananas, competição com outras frutas, consumidores cada vez
mais exigente, altos custos de produção, e pragas representando
ameaças à produção mundial. Para os empresários equatorianos da
banana, o país deve priorizar um acordo comercial com a União
Européia, porém, este não será o único caminho. Negociações já foram
iniciadas com o México e a República Dominicana, mas as tratativas se
estenderão à Venezuela, Panamá, Rússia, Suíça, Coréia do Sul, Índia,
Brasil, China e Oriente Médio.
A atividade desenvolvida no Equador é explorada por um pool de
empresas multinacionais que dominam o mercado mundial no comércio de
bananas e exploram os trabalhadores rurais neste país e na América
Central, em virtude da grave crise européia e americana, tiveram uma
sensível redução nos volumes exportados para estes países. A União
Européia (UE), como forma de proteger a produção das ex-colônias taxa
a importação de banana em 177 euros à tonelada, inclusive para o
Brasil.
27
A CONABAN alerta o Ministério da Agricultura Pecuária e
Abastecimento para que fique atento sobre quem comanda esta cultura no
Equador. As empresas BANESA E DELMONTE monopolizam a produção e o
comércio daquele país. Em virtude da grave crise européia e americana,
não consegue exportar para estas regiões. Em face da alta tecnologia
aplicada pelas grandes empresas no Equador, fruto do grande
investimento dos governos americanos e europeus, num passado recente,
o bananicultor do nosso País não consegue competir com estas grandes
empresas, pois naquele país, há incentivos, não há carga tributária e
no nosso Brasil os custos são altos e aqui não há investimento dos
governos para desenvolver este setor agrícola, bem como há grande
risco de pragas existentes naquele país que por aqui ainda não existe.
Em 2011, notícias veiculadas no jornal Diario Libre, em Quito, no
Equador, informaram que o Ministério da Agricultura distribuiu 41 mil
litros de fungicida aos bananicultores para o controle químico da
Sigatoka-negra, os quais foram doados pelo Organismo Internacional
Regional de Sanidade Agropecuária (OIRSA) e aplicados em 64 mil
hectares de banana e plátanos. Em 2010, entregaram 26,3 mil litros de
fungicidas e 350 tanques de óleo vegetal, para cobrir uma área de 1
milhão e 52 mil hectares cultivados de plátanos.
O Brasil já sofreu grande prejuízo com a perda do mercado
Argentino, Chileno e Uruguaio, anteriormente abastecido com bananas
brasileiras, após a entrada da fruta equatoriana nestes mercados.
Segundo a CONABAN, permitir a importação de bananas do Equador é
contribuir para exterminar a bananicultura nacional, aumentando mais
ainda o último êxodo rural, inflando as cidades, sem nenhuma infra-
estrutura para absorvê-los e incluí-los no mercado, pois é desleal a
concorrência com estes países neste setor. Assim ocorrendo será
necessário aumentar o bolsa família e outras programas sociais para
atender mais de 2 milhões de trabalhadores ligados a bananicultura no
país.
Seria uma réplica da catástrofe social ocorrida em Guadalupe. A
partir de 1993, a criação de uma Organização Comum do Mercado Europeu
da Banana (OCMB), no âmbito da União Européia, encerrou um sistema de
preferência nacional que tinha permitido aos guadalupenhos despejar,
durante trinta anos, a totalidade de sua produção de banana em solo
28
francês. De um dia para o outro, eles se viram concorrendo diretamente
com as poderosas multinacionais norte-americanas (CHIQUITA, DOLE E DEL
MONTE). Estes gigantes do agronegócio possuíam locais próprios de
amadurecimento e já dominavam as centrais de compra européias, o que
lhes permitiam controlar o conjunto da cadeia. Ao contratar desde
1993, a compra de dois milhões de toneladas das famosas “bananas
dólar”, que estas transnacionais comercializam, a União Européia
assinou a sentença de morte de centenas de plantações antilhesas. Com
custos de mão de obra de dez a vinte vezes inferiores aos das
Antilhas, o Equador, não teve dificuldade em conseguir um lugar nos
balcões dos supermercados do Velho Continente (ARCHYMEDE, 2008).
O cultivo de banana no Equador tem causado muita preocupação aos
consumidores da fruta em todo o mundo. A Dole, maior Companhia de
Bananicultura do Mundo, foi uma das multinacionais que utilizou
pesticidas tóxicos que causaram e causam até hoje danos a centenas de
empregados e suas famílias na América Central. Essa Companhia utilizou
um pesticida conhecido como DBPC, que destrói um parasita da banana
que se aloja nas suas raízes. Em 23 de Agosto de 2011 assinou o acordo
que garante a indenização de 3.153 ex-trabalhadores devido a este
problema.
Um estudo publicado em Setembro de 2006 pelas ONGs Acción
Ecologia e FEDESCO, as mulheres de Las Ramas afirmam que, nos últimos
seis anos, de um total de 616 mulheres grávidas, ocorreram 72 abortos
espontâneos. Dos recém-nascidos, 14 apresentaram deformidades
congênitas. Ainda que não existam provas científicas definitivas de um
vínculo com os pesticidas, as provas circunstanciais são muito fortes.
De um total de quinze amostras de água potável e de solos, onze
amostras apresentaram contaminação com pesticidas, principalmente
inseticidas chlorpyriphos (inseticida que impregna os sacos plásticos
utilizados para envolver os cachos de banana) e endosulfan, e o
fungicida Captan. Estes pesticidas não são utilizados nos bananais
brasileiros.
Segundo a Human Rights Watch (2002), tem-se uma situação gritante
no Equador, que é o maior exportador de bananas do Mundo e que tem uma
particularidade no Setor: mais de 90% da produção ficam a cargo de
contratos terceirizados e não das multinacionais. Isso se deve à
repartição das terras do Equador na segunda metade do século XX,
29
através de uma Reforma Agrária. Mas, mesmo assim a maioria dos
produtores dessa cultura mantém-se atrelada a contratos de
fornecimento de bananas para as grandes multinacionais do setor, que
se encontram lá para comprar a produção, transportar e revender nos
mercados americanos e europeus.
Segundo um estudo realizado por Pierre Santos Vilela, assessor
técnico da FAEMG, a recente promessa da diplomacia brasileira em
reabrir o mercado para a banana equatoriana, fechado desde o início
dos anos 90 por questões sanitárias, preocupa sobremaneira os
produtores nacionais. Sabidamente, a cadeia produtiva da banana no
Equador, cuja produção é totalmente voltada para exportação, é
controlada por multinacionais norte-americanas, que têm pesada
estrutura para distribuir em todo o mundo as frutas que produzem não
só no Equador, mas também em outros países da América Latina. A
presença dessas gigantes multinacionais na coordenação da cadeia
produtiva local restringe significativamente a participação dos
produtores na cadeia de valor da banana.
Ainda, segundo Vilela, se o intuito da diplomacia brasileira,
como anunciado à imprensa equatoriana, é reequilibrar a balança
comercial entre os dois países, atualmente bastante favorável a nós, a
liberação das exportações para o Brasil de banana e outros produtos,
sob o controle das poderosas multinacionais norte-americanas, que
ficam com parte considerável do valor final do produto, torna-se
apenas um jogo de números de comércio, que não gera muitos benefícios
aos produtores equatorianos, mas que certamente acarretará graves
prejuízos aos produtores brasileiros.
Enfim, a CONABAM questiona a Análise de Risco de Pragas realizada
pelo MAPA, pois considera importante que sejam levantados alguns
pontos nesta avaliação. Numa analise de risco pelo menos três pontos
devem ser claramente respondido ou avaliado, quais sejam: 1- Porque a
ARP está sendo feita?; 2- Qual é a abrangência da análise de risco?;
3- A avaliação do risco da praga está devidamente embasada na ciência,
no conhecimento técnico e no julgamento (arte)?. Deve ser considerada
e descrita a probabilidade da introdução e disseminação da praga e a
magnitude das conseqüências econômicas potenciais associadas a ela,
como por exemplo: Os hospedeiros potenciais, o escape da detecção, a
sobrevivência no trânsito, o clima favorável ao desenvolvimento da
30
praga, a gama de hospedeiras susceptível, a reprodução e disseminação
de cada praga, os danos diretos e indiretos, a conseqüência,
biológica, econômica, política, social e estética potenciais associada
a um possível evento adverso ocasionado pela praga.
Uma vez definida a abrangência da análise, é necessário
ainda: 1- Identificar e descrever os perigos; 2- Estimar a
probabilidade de ocorrência de cada um dos perigos; 3- Estimar as
conseqüências do perigo; 4- Identificar as incertezas; 5- Gerenciar os
riscos; 6- A tomada de decisão e o plano de contingência. Alem disso,
é fundamental saber ainda: Qual informação está disponível? Qual a
quantidade e a qualidade da informação? Qual a probabilidade? Qual a
magnitude das conseqüências (se nada for feito)?
7.2. PRECEDENTES DA FALHA DE FISCALIZAÇÃO NO EQUADOR
Em Janeiro de 2002, um precedente do risco de importação de
bananas do Equador pôde ser evidenciado com devolução de 100 toneladas
de bananas provenientes do daqueles pais para o mercado Argentino,
colocando na mira os deficientes controles do programa de sanidade da
banana - SANIBANANO, que está sujeito ao Serviço Equatoriano de
Sanidade Agropecuária (SESA). Com esta devolução, já se contabilizaram
três casos em que o Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agro -
alimentar da Argentina (SENASA) rejeita a banana equatoriana, devido à
presença de Aspidiotus destructor, um inseto que consta no rol de
praga quarentenária da banana e que a SESA monitora desde 1983.
Segundo o Chefe da SESA à época, Marcos Tapia, sempre há uma
margem de erro nos controles, pois não se pode inspecionar toda a
carga de banana. Para isso, são supervisionados apenas uns 2% em cada
exportação. Portanto, os parâmetros de inspeção realizados no programa
SANIBANANO representam apenas a percentagem mínima, já que o máximo
deve atingir 5%.
31
7.3. PROBLEMAS FITOSSANITÁRIOS A SEREM ENFRENTADOS PELO
BRASIL COM A PROVÁVEL IMPORTAÇÃO DE BANANAS DO EQUEDOR
7.3.1. POPULAÇÕES DE Mycosphaerella fijiensis RESISTENTES A
FUNGICIDAS
Atualmente, o controle químico da Sigatoka-negra na América
Latina e Central tem sido realizado, por exemplo, com 52, 32 e 10
aplicações anuais de fungicidas na Costa Rica, Equador e Brasil,
respectivamente. Isto se deve ao tempo de convivência dos
bananicultores destes paises com a doença, cujo inoculo aumenta
gradativamente a cada ano, e à pressão de seleção exercida pelos
fungicidas sistêmicos aplicados para o controle da doença.
A resistência de fungos a fungicidas é definida como um fenômeno
observado em determinados fungos, normalmente suscetíveis a certa
concentração do fungicida, que se manifesta por uma redução da
sensibilidade, com a conseqüente perda de eficácia dos mesmos em
controlar as cepas resistentes do fungo. Os fungicidas do grupo
químico dos benzimidazóis, por exemplo, apresentam alto risco de
selecionar cepas resistentes aos seus princípios ativos. Da mesma
forma em que tem se observada a perda de sensibilidades de alguns
fungicidas do grupo químico dos triazóis, como é o caso do
propiconazole no México e na América Central. Existe também uma
correlação positiva entre os fungicidas que inibem a síntese de
ergosterol, indicando que cepas do fungo resistentes aos triazóis
podem também ser a pirimidinas e imidazóis (MARÌN et al., 2003;
OROZCO-SANTOS, 1998).
O numero de fungicidas sistêmicos utilizados no controle da
Sigatoka-negra é muito reduzido no mercado, por isso é de suma
importância o uso racional para estender a vida útil dos mesmos,
mantendo a eficiência adequada de controle do fungo com numero
reduzido de aplicações anuais (MARÌN et al., 2003; OROZCO-SANTOS,
1998).
A indústria de agro-químicos organizou em 1981 uma grande
campanha internacional para combater o problema de resistência,
criando o FRAC – Comitê de Ação contra a Resistência a Fungicidas,
estabelecendo estratégia para uso de fungicida mono-sítio, como os
32
benzimidazóis, triazóis e estrobilurinas. O FRAC é composto por
especialistas de diversas empresas fabricantes e não fabricantes de
fungicidas e tem em sua estrutura um Grupo de Trabalho da Banana que
fornece orientações sobre a gestão da resistência de fungicidas para
prolongar a eficácia dos produtos (MORAES & FERRARI, 2007).
Em 2006, o FRAC divulgou um estudo da sensibilidade de populações
do fungo Mycosphaerella fijiensis aos principais grupos químicos de
fungicidas na América Central e Filipinas, demonstrando a baixa
sensibilidade aos benzimidazóis, em todos os países da América
central, e média sensibilidade nas Filipinas. Para os triazóis, a
sensibilidade foi considerada baixa na Costa Rica e no Panamá; média
na Colômbia e na Guatemala; e alta no Equador, Honduras e nas
Filipinas. Já para os fungicidas do grupo químico das estrobilurinas,
nenhuma resistência foi detectada na Equador e Honduras, porém uma
baixa sensibilidade foi constatada na Costa Rica, Colômbia e no
Panamá. Atualmente, existem evidencias da perda de sensibilidade a
alguns fungicidas do grupo químico dos triazóis (propiconazol) no
México e América Central, assim como existem problemas de resistência
cruzada entre os fungicidas do grupo químico dos benzimidazóis (MORAES
& FERRARI, 2007).
A Figura 2 ilustra uma situação real a mudança de estratégia após
a detecção de resistência e a necessidade de adoção constante dos
produtos protetores (contato). Depois que a resistência é induzida ou
criada em uma propriedade, o vento se encarrega em distribuir esporos
pela região, depois pelo país, e assim por diante (MEES, 2010).
33
FIGURA 2: História do uso de fungicidas para o controle de Sigatoka-
negra em bananal comercial representativo em Camarões (Luc de Lapeyre
de Bellaire).
Em recente análise da sensibilidade a fungicida de populações
Mycosphaerella fijiensis na América Latina, Guzman et al., citados por
Robinson & Saúco (2006), ressaltam a importância do manejo responsável
da resistência a fungicidas, como sendo essencial para a produção
econômica sustentável de banana. Os dados apontam para a elevada
freqüência de populações resistentes aos fungicidas inibidores de
quinonas (estrobilurinas) na Costa Rica, Panamá e Colômbia. Populações
de Mycosphaerella fijiensis do Equador e Colômbia são mais sensíveis
aos fungicidas inibidores da biossíntese de ergosterol (triazóis) do
que aqueles da América Central. Isto serve de alerta para a adoção de
uma efetiva estratégia anti-resistência para manter o desempenho dos
fungicidas, incluindo práticas de manejo que reduzam o nível de
inoculo e a proliferação de isolados com reduzida sensibilidade.
Como se isso não fosse o suficiente, um estudo desenvolvido por
Hanada et al. (2002) determinou o período de sobrevivência de conídios
de Mycosphaerella fijiensis sobre diversos materiais como: madeira,
plástico, tecido de algodão, papelão, pneu, ferro (carcaça de
automóvel), folhas e frutos de bananeira (Musa sp.), materiais
34
possíveis de transportar e disseminar o patógeno a longas distâncias.
Os conídios de M. fijiensis permaneceram viáveis até a última
avaliação (60 dias), em folhas de bananeira e tecido de algodão; até
30 dias, em papelão, madeira, plástico e em pneus; até 18, dias em
frutos; e até dez dias em ferro.
Além destes problemas eminentes para a bananicultura brasileira,
acrescentam-se a utilização de princípios ativos na bananicultura do
Equador que ainda não foram registrados para a cultura da banana e
para a Sigatoka-negra ou Sigatoka-amarela no Brasil, como as Aminas
(Ex. tridemorfe) e Guanidinas (Ex. Dodex).
No Brasil ainda ocorre à presença da Sigatoka-amarela que não é
tão severa quanto a Sigatoka-negra (MORAES et al., 2005b). Porém, no
Equador, devido ao intenso ataque da Sigatoka-negra, a Sigatoka-
amarela não é mais encontrada (HOLGUIN, 2006). Portanto, os produtos
comerciais utilizados para controle da Sigatoka no Brasil estão
especificados com registro para Sigatoka-negra e, ou para Sigatoka-
amarela. Já foi evidenciada resistência da Sigatoka-negra a alguns
princípios ativos, no Equador (FRAC, 2010). Assim, além do risco da
disseminação do fungo causador da Sigatoka-negra em todo o território
nacional, ainda poderão ser “importadas” cepas de Sigatoka-negra com
resistência a fungicidas. É um alto risco fitossanitário para os
bananais brasileiros a importação da banana equatoriana.
A IN nº 22, SDAS/MAPA, de 8 de Setembro de 2010, publicou os
resultados dos Programas Nacionais de Controle de Resíduos e
Contaminantes e apresentou no quadro geral consolidado os resultados
do monitoramento do plano nacional de controle de resíduos e
contaminantes em produtos de origem vegetal no ano-safra 2009/2010,
que o índice de conformidade da banana foi 100%.
7.3.2. EMINENTE ENTRADA DO Fusarium oxysporum f.sp.cubense
RAÇA TROPICAL 4 NO EQUADOR
No Foro Internacional de Banana organizado pela Associação de
Exportadores de Banana do Equador (AEBE), em abril de 2010, a murcha
de Fusarium ou Mal-do-Panamá, causado pelo fungo Fusarium oxysporum
35
f.sp. cubense Raça Tropical 4 foi o principal tema abordado. Dentre os
assuntos apresentados citam-se: 1. “Avanços nas pesquisas com Fusarium
oxysporum f.sp. cubense Raça Tropical 4 e suas oportunidades”; 2.
“Avanços nas pesquisas sobre a Raça Tropical 4 e estratégias de manejo
na Ásia e Pacífico”; 3. “Iniciativa de prevenção da entrada da Raça
Tropica 4 na América Latina e Caribe (ALC) e seu potencial impacto na
industria bananeira”; 4. “Síntese das resoluções do Congresso Mundial
de Fusarium que ocorreu na China em 2009 e implementação do Plano de
Ação para o manejo da doença”; 5. “Estudos das populações de Fusarium
oxysporum f.sp.cubense en ALC e necessidade do envolvimento de jovens
pesquisadores”; 6. “Diagnóstico molecular específico para a
identificação da Raça Tropical 4 de Fusarium oxysporum
f.sp.cubense”: 7. Estado atual e perspectivas futuras.
Em 2011, o Serviço Nacional de Sanidade, Inocuidade e Qualidade
Agro-alimentar (SENASICA) do México organizou o Encontro Internacional
de Pragas Quarentenárias de Plátano e Palmáceas com a finalidade de
fortalecer as atividades de vigilância fitossanitária para
salvaguardar a produção de plátano, bananas e palmáceas do país, com a
participação de técnicos e especialistas de Cuba, Espanha, México,
Belize, Honduras, Guatemala, República Dominicana, El Salvador,
Nicarágua e Panamá. Pela primeira vez, um encontro de nível
continental discutiu a necessidade de capacitação de pessoal de
laboratório para o diagnóstico fitossanitário e a identificação
molecular do Mal-do-Panamá (Fusarium oxysporum f. sp. cubense Raça 4),
praga de importância quarentenária para o México e Continente
Americano.
O Foro reuniu especialistas do assunto no mundo e serviu para
alertar a indústria bananeira sobre a ameaça crescente da entrada do
Foc Tropical Raça 4 nas plantações de banana na América Latina. Isso
constitui uma ameaça as bananeiras do subgrupo Cavendish, cujo
genótipo tem se mostrado altamente suscetível a raça do fungo, que
está presente nas zonas tropicais do sul da Ásia.
No Panamá, a indústria de plátano de Davao se ressente com o Mal-
do-Panamá. Mais de 250 hectares de bananeiras morreram devido à doença
que se propaga pelas plantações na região de Dubao, Ilha de Mindanao.
É considerada a pior enfermidade conhecida pela rapidez com que mata
as plantas. O fungo Fusarium oxysporum que infecta a maioria das
36
plantações foram identificadas como uma variedade da Raça Tropical 4.
Segundo o presidente da Associação dos Exportadores e Cultivadores de
Plátanos das Filipinas (PBGEA), a doença destruirá a indústria e a
economia de Mindanao, que o principal produtor de plátanos do país,
com 250 mil hectares.
Uma das grandes lições que deixaram as amargas experiências é que
todo o cuidado é sempre insuficiente e dever basear-se em medidas de
biosegurança, a fim de evitar a entrada da Raça 4 do patógeno em áreas
livres da praga. Uma das medidas mais eficiente é evitar a importação
de material vegetativo que pode estar contaminado e servir de vetor da
raça 4 do fungo, já que a Raça 1 e 2 já esta presente na América e não
existe medidas de controle químico, apesar dos produtores adotarem
práticas culturais para evitar sua incidência.
O Brasil tem a bananicultura como um dos pilares de sua economia
e deve programar campanhas de prevenção para evitar a entrada da Raça
4 em território brasileiro. O Governo brasileiro deve, por de medidas
de segurança, se antecipar e evitar a entrada de material vegetativo
ou propagativo ou mesmo de qualquer parte da planta de bananeira
provenientes de países suspeitos ou vulneráveis a ocorrência do
patógeno.
Contudo, algumas medidas fitossanitárias foram adotadas pelo
Governo Brasileiro para salvaguardar as áreas livres de determinadas
pragas consideradas de importância quarentenária. Dentre estas medidas
estão o Sistema de Mitigação de Risco da Sigatoka-negra
(Mycosphaerella fijiensis Morelet) (CDA, 2007), a manutenção do status
de área livre de moko da bananeira (Ralstonia solanacearum raça 2), as
restrições para a exportação para a Argentina em função da traça da
bananeiras (Opogona sacchari) e Tripes (Palleucothrips musae), além do
risco eminente da chegada ao nosso continente do Mal-do-Panamá raça
Tropical 4 de Fusarium oxysporum f.sp. cubense.
37
7.3.3. EMINENTE ENTRADA DE ESTIRPES DA BACTÉRIA Ralstonia
solanacearum Raça 2 EM ÁREAS LIVRES OU NÃO
A mesma proibição ocorre com relação à banana, devido à bactéria
causadora do Moko-da-bananeira, que está presente apenas nos Estados
da Região Norte do País. Também foi proibido o comercio e o transporte
de bananas provenientes dos estados brasileiros, onde há ocorrência de
Sigatoka-negra, para os Estados onde não há a ocorrência da praga,
como o Rio de Janeiro, Espírito Santo e demais Estado do Nordeste,
onde a praga não existe, exceto se adotarem o Sistema de Mitigação de
Risco. Entretanto, estas pragas já existem no Equador e qualquer
tentativa de importação de bananas para o Brasil, deve considerar que
a distribuição ocorrerá de forma generalizada para todos os grandes
centros comerciais das principais capitais brasileiras.
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A CONABAN apresenta o presente Relatório Técnico, fundamentado em
bases científicas, contendo as ponderações técnicas que devem ser
consideradas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e do
Abastecimento – MAPA / Secretaria de Defesa Agropecuária – SDA,
durante a Análise de Risco de Pragas da Bananicultura Brasileira, que
podem subsidiar e, ou impedir a importação de bananas do Equador:
1) Considerando que, apesar dos técnicos do Departamento de
Sanidade Vegetal (DSV) da Secretaria de Defesa Agropecuária
(SDA)/MAPA terem adotado todos os procedimentos legais
exigidos para a elaboração da Análise de Risco de Pragas
(ARP) e, posteriormente, da Instrução Normativa, alguns
aspectos passaram desapercebidos e serão abaixo
considerados;
2) Considerando o impacto econômico e social esperado com a
redução da produção e da geração de empregos, já que 520 mil
hectares, geram 500 mil empregos diretos e 2 milhões de
empregos indiretos;
3) Considerando que 99% da produção brasileira de banana são
comercializados no mercado interno;
38
4) Considerando que a bananicultura brasileira é desenvolvida,
principalmente, nas pequenas propriedades, ou seja, é um dos
principais produtos da agricultura familiar nacional;
5) Considerando que o Brasil já sofreu grande prejuízo com a
perda do mercado Argentino, Chileno e Uruguaio, após a
entrada da fruta equatoriana nestes mercados;
6) Considerando que a atividade desenvolvida no Equador é
explorada por um pool de empresas multinacionais que dominam
o mercado mundial no comércio de bananas e exploram os
trabalhadores rurais neste país e na América Central;
7) Considerando que os bananicultores equatorianos aplicam
altas tecnologias adotadas pelas grandes empresas, fruto de
grandes investimentos dos governos americanos e europeus;
8) Considerando que no Equador, existem incentivos e não há
carga tributária, enquanto no Brasil, os custos são altos e
não há subsídios dos governos para desenvolver este setor;
9) Considerando os antecedentes de fragilidade apresentados
pelo Ministério da Agricultura do Equador, com a falha de
fiscalização, inclusive com reincidência, durante exportação
de bananas para a Argentina;
10) Considerando a seriedade da legislação brasileira em vigor
para salvaguardar a bananicultura nacional das Pragas
Quarentenárias A1 e A2 e das Pragas Não-Quarentenárias
Regulamentadas;
11) Considerando os problemas fitossanitários a serem
enfrentados pelo Brasil com relação à introdução e
proliferação de populações do fungo Mycosphaerella fijiensis
resistentes ou com baixa sensibilidade aos fungicidas em
áreas livres ou não;
12) Considerando que os conídios de M. fijiensis permaneceram
viáveis até 30 dias em papelão, madeira, material plástico e
pneu e até 18 dias em frutos de banana;
13) Considerando os problemas fitossanitários a serem
enfrentados pelo Brasil com relação à introdução e
39
proliferação do Fusarium oxysporum f.sp.cubense Raça
Tropical 4 no país;
14) Considerando os problemas fitossanitários a serem
enfrentados pelo Brasil com relação à introdução de
diferentes estirpes da bactéria Raltonia solanacearum Raça
2, em áreas livres ou não;
15) Considerando os problemas fitossanitários a serem
enfrentados pelo Brasil com relação à introdução e
proliferação de diferentes estirpes dos vírus BSV e CMV, em
áreas livres ou não, ou do BBTV e BBMV no país;
16) Considerando os problemas fitossanitários a serem
enfrentados pelo Brasil com relação à introdução e
proliferação do coleóptero Odoiporus longicollis, dos
lepidópteros Othreis fullonia, Nacoleia octasema e Erionota
thrax, do nematóide Pratylenchus vulnus, do Banana bunch top
vírus e do fungo Haplobasidion musae;
17) Considerando o elevado grau de associação das Pragas
Quarentenárias A1 (BBTV e BBrMV), A2 (Ralstonia solanacearum
e M. fijiensis) e Pragas Não-Quarentenárias Regulamentadas
(CMV e BSV) aos frutos de banana;
18) Considerando os problemas a serem enfrentados pelo Brasil
com relação à introdução de produtos de qualidade alimentar
duvidosa, tratados com produtos químicos não registrados
para a cultura e pragas no Brasil, tanto em pré, como em
pós-colheita;
19) Considerando a falta de transparência do Governo
Equatoriano com relação à legislação fitossanitária da
bananicultura;
Enfim, a CONABAN manifesta-se contrária a importação de banana
proveniente do Equador, por considerar também que o Brasil, sendo o
segundo maior produtor mundial de banana, não necessita da importação
desta fruta, que é comercialmente produzida nas mais diferentes
regiões do país, como o Vale do Ribeira, Norte de Minas Gerais, Norte
de Santa Catarina e no Nordeste brasileiro.
40
A importação da banana equatoriana causará uma grande catástrofe
social às regiões produtoras da fruta in natura mais produzida no
Brasil, a banana. Serão mais de 520.000 hectares de banana e
aproximadamente 7 milhões de toneladas perdidos (EPAGRI/CEPA, 2011),
o que representa uma perda de um volume financeiro de aproximadamente
2 bilhões de reais, se considerarmos um preço médio de R$ 0,30 por Kg,
ou seja R$ 6,00 por caixa de 20 kg e mais de 500.000 postos de
trabalho perdidos.
A CONABAN acredita que o mercado mundial de banana está em meio a
uma crise e as relações comerciais entre produtores (América latina) e
consumidores (EUA e Europa) estão abalados pela desvalorização do
dólar, excesso de oferta de bananas, competição com outras frutas,
consumidores cada vez mais exigente, altos custos de produção e pragas
representando ameaça à produção mundial. O Equador é o maior
exportador de banana do mundo. Segundo o BananLink (2011), apenas
cinco empresas multinacionais (Dole, Del Monte, Chiquita, Fyffes e
Noboa) controlam 80% do comércio internacional de banana,
monopolizando a produção e o comércio daquele país. Liberar o mercado
brasileiro irá beneficiar, exclusivamente, as trades norte-americanas
e os varejistas brasileiros.
O Brasil tem investido em tecnologias já praticadas pelos países
exportadores como Equador, Costa Rica e Colômbia, na busca do aumento
crescente de exportação de bananas. O aumento gradativo na qualidade
da fruta brasileira permite uma intensificação da exportação para
mercados com grande contingente demandante, como o norte-americano e o
europeu. Esforços coordenados ao longo da cadeia produtiva (na forma
de programas como a Produção Integrada de Frutas) propiciam a oferta
de produtos mais adequados aos padrões exigidos pelos mercados
internacionais (FERNANDES, 2004).
A CONABAM alerta também para outro problema legal que se
aproxima: a publicação da Portaria 29/2012, que está em consulta
pública até meados de abril. Esta portaria irá ENCARECER e
INVIABILIZAR a produção legal de mudas de bananeira pelos próximos 30
meses. Além de aumentar o custo de produção, prejudicar a
competitividade da fruta brasileira no Mercosul, na Europa e no
MERCADO INTERNO.
41
Diante do exposto, a CONABAN ratifica que permitir a importação
de bananas do Equador é contribuir para exterminar a bananicultura
nacional, pois, existem sérios riscos da importação de pragas de
importância quarentenária (M. fijiensis, R. solanacearum, BSV, CMV
BBTV, BBrMV, etc.) e de isolados do fungo M. fijiensis, altamente
resistentes aos fungicidas aplicados no controle da Sigatoka-negra ou
mesmo com baixa sensibilidade, os quais estão fortemente vinculados e
podem ser veiculados pelos frutos assintomáticos, além da concorrência
desleal entre estes países neste setor.
9. PROPONENTES
__________________________________________________
CONABAN - CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS BANANICULTORES
Presidente: Dirceu Colares Moreira
ENTIDADES REPRESENTANTES DA BANANICULTURA CNPJ
Associação dos Bananicultores de Corupá - ASBANCO - Santa Catarina 00.848.506/0001-55 Associação dos Produtores Rurais de Garuva - APRGARUVA - Santa Catarina 08.345.653/0001-14 Associação dos Bananicultores do Município de Schoeder - ABS - Santa Catarina 01.735.160/0001-41 Associação de Bananicultores de Jaraguá do Sul - ABAJAS - Santa Catarina 95.950.507/0001-12 Associação dos Bananicultores do Município de Luis Alves - ABLA - Santa Catarina 79.375.168/0001-31 Associação Frutas Oeste - Bahia 12.655.603/0001-00 Associação dos Produtores de Banana de Massaranduba - APROBAM - Santa Catarina 05.273.318/0001-60 Associação dos Bananicultores de Guaramirim - ABG - Santa Catarina 06.963.836/0001-78 Federação das Associações e Cooperativas dos Produtores de Bananas do Estado de Santa 07.614.919/0001-14
42
Catarina - FEBANANA
Cooperativa dos Produtores de Fruta de Bom Jesus da Lapa- Coofrulapa -Bahia
07.177.198/0001-22 Associação dos Bananicultores de São João do Itaperiu- ASBASJI - Santa Catarina 73.895.302/0001-49 Associação dos Bananicultores do Vale do Ribeira - ABAVAR - São Paulo 02.405.027/0001-90 Associação Central dos Fruticultores do Norte de Minas- ABANORTE- Minas Gerais 25.211.905/0001-31
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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“Bunchy Top” da Bananeira “Banana Bunchy Top Nanavirus”. Brasília
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10/06/2010.
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Sistema de mitigação de risco para a Sigatoka-negra na cultura da
banana. Disponível em:
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20/13/2012.
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