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37º Encontro Anual da ANPOCS
ST39 “Neodesenvolvimentismo” e conflitos ambientais urbanos e rurais: disputas
por espaço e recursos entre classes e grupos sociais
NEODESENVOLVIMENTISMO E CONFLITOS RELACIONADOS AO TERRITÓRIO
NA RESEX DE TAUÁ-MIRIM, SÃO LUÍS – MA
Elena Steinhorst Damasceno (UFMA)
Horácio Antunes de Sant’Ana Júnior (UFMA)
1
NEODESENVOLVIMENTISMO E CONFLITOS RELACIONADOS AO TERRITÓRIO
NA RESEX DE TAUÁ-MIRIM, SÃO LUÍS - MA
Elena Steinhorst Damasceno1
Horácio Antunes de Sant’Ana Júnior2
Resumo: o lócus empírico do trabalho encontra-se na Zona Rural de São Luís do Maranhão e parte do confronto de lógicas diferenciadas de ocupação, controle e uso de territórios, o que se configura em disputas em torno da criação da Reserva Extrativista de Tauá-Mirim. Planejadores estatais e organizações empresariais protagonizam a defesa da “vocação industrial” dos territórios em questão e lideranças de moradores de povoados rurais afirmam suas características de preservação ambiental relacionadas com modos de vida tradicionais como argumentos para criação da Reserva Extrativista. As disputas em andamento podem ser analisadas como expressão local do modelo de desenvolvimento realizado pelo Estado brasileiro e que tem sido denominado de neodesenvolvimentismo. Esse modelo tem provocado choques com as políticas ambientais nacionais. Não é um fenômeno exclusivamente brasileiro, porém, analisaremos sua especificidade no Brasil e como este fenômeno tem se processado historicamente e atingido o território maranhense e provocado conflitos territoriais e ambientais, com base no estudo de caso sobre conflitos ambientais em torno da disputa territorial acerca da constituição da referida RESEX.
INTRODUÇÃO
No município de São Luís-Maranhão, localizado na Ilha do Maranhão e nas
margens da Baía de São Marcos, encontra-se o Complexo Portuário de São Luís,
com significativa capacidade de carga e em acelerada expansão. O complexo
portuário é formado pelo Porto do Itaqui, administrado pela estatal Empresa
Maranhense de Administração Portuária (EMAP); o Porto da Ponta da Madeira, de
1 Bióloga, Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Saúde e Ambiente (PPGSA), Doutoranda do
Programa de Pós-graduação em Políticas Públicas (PGPP) e pesquisadora do Grupo de Estudos Modernidade, Desenvolvimento e Meio Ambiente (GEDMMA), da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). E-mail: elenasteinhorst@hotmail.com 2 Doutor em Ciências Humanas (Sociologia) pelo Programa de Pós-graduação em Sociologia e
Antropologia (PPGSA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professor Adjunto IV do Departamento de Sociologia e Antropologia (DESOC) e dos Programas de Pós-graduação em Ciências Sociais (PPGCSoc) e Políticas Públicas (PGPP), coordenador do Grupo de Estudos Modernidade, Desenvolvimento e Meio Ambiente (GEDMMA), da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Bolsista de Produtividade do CNPq – Nível 2. E-mail: horacioantunes@uol.com.br
2
propriedade da Vale3 e em processo de construção de um novo píer que aumentará
significativamente sua capacidade de carga; o Porto da Alumar, de propriedade do
Consórcio Alumínio do Maranhão (Alumar), que é uma subsidiária da multinacional
do alumínio Alcoa e possui uma das maiores plantas industriais de produção de
alumina e alumínio do mundo localizada em São Luís. Além desses grandes portos,
encontra-se em fase de licenciamento ambiental a construção de um novo porto a
ser controlado pela Suzano Celulose, uma das principais responsáveis pela
expansão do plantio de eucalipto e da indústria de pasta de celulose no Maranhão
e que busca no porto a criação de infraestrutura necessária para expansão de suas
atividades econômicas na Amazônia oriental e Nordeste ocidental do país. Graças
à profundidade das águas da Baía de São Marcos, esses portos permitem que
atraquem navios gigantescos, entre os maiores que navegam pelos oceanos,
implicando em também gigantesca capacidade de carga. Isso faz com que
componha os planejamentos governamentais e empresarias a permanente
expansão da infraestrutura já existente e construção de novos portos, implicando
na ocupação de novas áreas de praia e de ampliação de áreas chamadas de
retroporto, para estocagem de matérias primas e demais mercadorias a serem
transacionadas nos portos.
Combinado a esse complexo portuário, há um conjunto de grandes rodovias
que tiveram forte expansão a partir dos anos 1960, mas que tiveram como marco
da expansão rodoviária para a Amazônia oriental a construção da Rodovia Belém-
Brasília, iniciada ainda no governo Juscelino Kubsticheck (1955-1960). A Rodovia
Belém-Brasília pode ser considerada a precursora dos grandes eixos rodoviários
planejados pelos governos ditatoriais (1964-1985) através dos Planos de
3 A Vale é uma das maiores mineradoras do mundo e atua na prospecção e pesquisa mineral,
mineração, operações industriais e logística, com destaque para a logística de transporte naval e ferroviário. Criada como empresa estatal, em 1942, pelo, então, Presidente da República Getúlio Vargas, com o nome de Companhia Vale do Rio Doce, foi privatizada em 1997 e, desde 2007, assumiu o nome de Vale. Atua em vários estados brasileiros e diversos países do mundo. Na Amazônia oriental, sua atuação iniciou-se no final dos anos 1970, com o Projeto Ferro Carajás, que visava garantir as condições para garantir a exploração das gigantescas minas de minério de ferro descobertas na Serra de Carajás no sudeste do Pará. Atualmente, denomina o conjunto de intervenções nessa região de Sistema Norte (RIBEIRO JÚNIOR, 2011).
3
Integração Nacional (PIN) e que passaram a ser um dos principais instrumentos de
incorporação da Amazônia brasileira à dinâmica capitalista nacional (IANNI, 1979;
SANT’ANA JÚNIOR, 2004). Um dos desdobramentos desse grande eixo rodoviário
foi a BR 135, que liga a Ilha do Maranhão ao complexo rodoviário que hoje corta
todo o país.
Tendo como objetivo primeiro e principal a integração dos portos de São
Luís (em especial o Porto da Ponta da Madeira) e as grandes minas de ferro no
sudeste do Pará, em 1985 entrou em funcionamento a Estrada de Ferro Carajás.
Com mais de 800 Km, essa Estrada corta municípios do Pará e do Maranhão e se
constitui em um vetor fundamental de estímulo à ampliação de atividades
capitalistas de produção vinculadas ou não à mineração do ferro. Assim, além do
minério de ferro, a Estrada transporta produtos siderúrgicos, outros minérios,
produtos relacionados ao agronegócio etc. Atualmente, a atividade de mineração
da Vale no sudeste do Pará encontra-se em plena expansão. Com a abertura da
mina S11D, com potencial de 90 milhões de toneladas ao ano, estima-se que a
produção anual de minério de ferro do Sistema Norte possa dobrar até 2022. Essa
expansão implica, também, na duplicação da Estrada de Ferro Carajás, para
garantir as condições de transporte das extraordinárias quantidades do minério a
serem produzidas. Juntamente com a duplicação, ocorre a articulação dessa
estrada à Ferrovia Norte-Sul, que pretende ligar o centro-oeste brasileiro ao norte
do país. Nas proximidades do Complexo Portuário, localizam-se os terminais de
carga e de passageiros da Estrada Ferro.
Segundo a Lei de Zoneamento, Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo de
São Luís (Lei Municipal nº 3.253, de 29 de dezembro 1992, modificada pela Lei
Municipal nº 4.548, de 09 de dezembro de 2005), nas proximidades do Complexo
Portuário e dos terminais da Estrada de Ferro Carajás, localiza-se a Zona Rural II
(CARVALHO, 2009). Para melhor compreender o contexto geográfico da área em
estudo, é necessário lembrar que o município de São Luís, capital do Maranhão, é
um dos quatro municípios existentes na Ilha do Maranhão, uma grande ilha no
norte do estado. Os municípios da Ilha, nos últimos 40 anos, vêm passando por
4
processos cada vez mais intensos de expansão urbana, mas mantêm ainda
extensas áreas ocupadas por povoados rurais, com economia camponesa cujas
principais atividades produtivas estão relacionadas, principalmente, à agricultura
familiar, à pesca artesanal e ao extrativismo vegetal.
A existência de portos, estradas de rodagem e ferrovia e dos projetos e
ações com vistas à ampliação dessa rede infraestrutural tem sido acionada por
planejadores governamentais e organizações empresariais como um dos principais
argumentos para produzir a imagem de uma “vocação industrial” para a Zona Rural
II do município de São Luís. Essa imagem é associada à perspectiva de sua
importância para impulsionar o “desenvolvimento” do Maranhão, o que a destinaria,
então, a passar por fortes mudanças nas suas formas de apropriação e uso. Assim,
desde a década de 1970, sucessivos governos estaduais e municipais buscam criar
instrumentos legais que alterem seu status de zona rural, convertendo-a em zona
industrial4.
Um das iniciativas foi, inicialmente, a criação pelo governo estadual de áreas
industriais, posteriormente convertidas no Distrito Industrial de São Luís (DISAL).
Segundo Carvalho (2009, p. 45-46):
O DISAL teve seu primeiro traçado baseado no Decreto Estadual nº 3.589, de 28 de novembro de 1974, que delimitava a área industrial do Itaqui-Bacanga. Posteriormente, o Decreto Estadual nº 3.840, de 22 de abril de 1977, determina como industrial a área do Tibiri-Pedrinhas. A obrigatória adequação do DISAL à legislação ambiental, com as áreas Itaqui-Bacanga e Tibiri-Pedrinhas unificadas em um só Distrito, resultou na formulação do Decreto Estadual nº 7.632, de 23 de maio de 1980, que declarava que o Distrito Industrial de São Luís obtinha uma área de 19.946,2316 ha.
A criação do DISAL pelo governo estadual, no entanto,
contemporaneamente não garante as condições legais para a ocupação industrial
da área, pois, segundo o Estatuto das Cidades, é o município que deve
regulamentar a ocupação do solo em sua área de abrangência e a Lei de
Zoneamento, Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo de São Luís estabelece boa
4 Considere-se que, principalmente, a partir de 2001, com a entrada em vigor do Estatuto da Cidade
(Lei Federal nº 10.257/2001), a legislação brasileira constituiu instrumentos mais vigorosos de controle da apropriação e uso do solo, o que impede o uso de áreas estabelecidas nas legislações municipais como zonas rurais para fins industriais. Para esse tipo de destinação, é necessário que a legislação municipal preveja a existência de zonas industriais.
5
parte da área existente nas proximidades do complexo portuário e integrante do
DISAL como sendo zona rural. Assim, estamos diante de um imbróglio jurídico que
impede a efetiva instalação do DISAL e, consequentemente, de parte das indústrias
e obras de infraestrutura para ele prevista.
Visando superar as dificuldades legais de destinação da área para ocupação
industrial, uma das ações do executivo municipal foi, em 2005, encaminhar um
projeto de lei para a Câmara Municipal que convertia de 2.471,71 hectares de zona
rural para zona industrial. Esse projeto de lei estava associado à consolidação do
DISAL e à criação de um polo siderúrgico, com três grandes usinas de produção de
placas de aço e duas usinas de produção ferro gusa5. Sua instalação implicaria no
deslocamento compulsório de 12 povoados rurais, com cerca de 14.400 pessoas. O
referido projeto de lei provocou forte polêmica no município. Após gestões dos
Ministérios Públicos Estadual e Federal, foram convocadas 13 audiências públicas,
que foram marcadas por acalorados debates e fortes disputas. Ao final do processo
e em função de alterações impostas ao texto original do projeto de lei, apenas
1.068 hectares do total pleiteado foram convertidos em zona industrial, o que se
constituiu em um dos fatores determinantes para a não instalação do polo
siderúrgico6 e para a manutenção da divergência jurídica entre a legislação
estadual que institui o DISAL e legislação municipal que regula o uso e ocupação
do solo.
Parte significativa da Zona Rural II de São Luís é caracterizada pela
presença de um ambiente natural com bons níveis de preservação e por relações
entre comunidades tradicionais locais e os ecossistemas locais, com destaque para
o manguezal, no contexto do uso de um território constituído há mais de um século.
Contrapondo-se à recorrente leitura da área como um vazio demográfico e cultural
(MENDONÇA, 2006), moradores dos povoados rurais, organizados em
associações e uniões de moradores, se contrapõem à leitura dominante nos
5 O ferro gusa é o produto da primeira e mais poluente etapa para a conversão do minério de ferro
em aço. 6 Uma descrição mais detalhada de todo o processo pode ser obtida em Sant’Ana Júnior et al.
(2009).
6
planejamentos governamentais e empresariais da área como tendo uma “vocação
industrial” e ressaltam seu potencial para a conservação ambiental e dos modos de
vida tradicionalmente construídos.
Diante de recorrentes ameaças de deslocamentos compulsórios7 e da
instabilidade jurídica gerada pelas ações governamentais, associações e uniões de
moradores de doze povoados localizados na Zona Rural de São Luís acionam o
estado de preservação ambiental de seus territórios e o modo de vida neles
constituídos como instrumento para demandar a criação da Reserva Extrativista
(RESEX) de Tauá-Mirim8, que se constituiria numa possibilidade de garantia do
direito de permanência em sua localidade de moradia e de controle do território
ancestralmente ocupado.
A RESEX de Tauá-Mirim
O ambiente natural da Reserva Extrativista (RESEX) de Tauá-Mirim e,
principalmente, as relações entre as populações tradicionais locais e o ecossistema
manguezal, no contexto do uso do território onde alguns povoados estão instalados
há mais de um século (representadas pela atividade pesqueira, extrativista e
agricultura familiar), são importantíssimas e emblemáticas para o município de São
Luís. Num quadro de fortes disputas entre projetos industriais e modos de vida
tradicionais, a possibilidade de que seus moradores possam permanecer
7 Segundo Almeida (1996, p. 30) deslocamento compulsório pode ser definido como “o conjunto de
realidades factuais em que pessoas, grupos domésticos, segmentos sociais e/ou etnias são obrigados a deixar suas moradias habituais, seus lugares históricos de ocupação imemorial ou datada, mediante constrangimentos, inclusive físicos, sem qualquer opção de se contrapor e reverter os efeitos de tal decisão, ditada por interesses circunstancialmente mais poderosos”. 8 Reserva Extrativista (Resex) é uma das modalidades de unidades de conservação previstas no
Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC). O SNUC foi instituído pela Lei Federal nº 9.985/2000 e prevê dois tipos de unidades de conservação: 1) de proteção integral e 2) de uso sustentável. As Unidades de Uso Sustentável têm como objetivo “compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais” e são composta por sete categorias: Área de Proteção Ambiental; Área de Relevante Interesse Ecológico; Floresta Nacional; Reserva Extrativista; Reserva de Fauna; Reserva de Desenvolvimento Sustentável e Reserva Particular do Patrimônio Natural. As Unidades de Proteção Integral têm por objetivo básico “preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais” e são compostas pelas seguintes categorias: Estação Ecológica, Reserva Biológica, Parque Nacional, Monumento Natural e Refúgio de Vida Silvestre (BRASIL, 2000. Grifo nosso).
7
desfrutando do direito controlar e usar seu território seria um indicativo para uma
sociedade com maior equidade social e ambiental.
Porém, o que se observa é um território em disputa, sobre o qual pesam os
discursos acerca de sua “vocação”9, o que pode ser depreendido de documentos
oficiais e entrevistas: para a liderança dos grupos sociais residentes na área (além
de outros seguimentos diversos) esta possui “vocação rural e pesqueira”, o que
seria um argumento para legitimar a criação da Reserva Extrativista; e para
representantes do governo estadual e grupos empresariais esta área possui
“vocação industrial”, justificando a mudança da forma atual de ocupação, o que tem
resultado em ameaças de deslocamento compulsório dos povoados ali existentes e
outros conflitos relativos ao território.
A área proposta para a Reserva abrangia, inicialmente, os povoados de
Cajueiro, Limoeiro, Porto Grande, Rio dos Cachorros, Taim, parte da Vila
Maranhão, a Ilha de Tauá-Mirim, na qual são localizados os povoados Amapá,
Embaubal, Jacamim, Portinho e Tauá-Mirim, e um amplo espelho d’água na Baia
de São Marcos, totalizando 16.663,55 hectares e perímetro de 71,21 km. A partir de
maio de 2012, após uma missão de técnicos do Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade, órgão federal encarregado da criação e gestão de
unidades de conservação, o perímetro da RESEX foi alterado. Em função da
constatação de áreas significativamente degradadas e atendendo a demandas do
Ministério das Minas e Energia e da Agência Nacional de Transportes Aquaviários
(ANTAQ) para exclusão, respectivamente, de trechos de mineração de areia e
pedra e de destinação à construção do porto da Suzano Celulose, o povoado do
Cajueiro e parte da Vila Maranhão foram excluídos do perímetro da Reserva, sendo
acrescidas outras áreas de manguezais conservados, mantendo-se um tamanho de
área semelhante ao inicial.
9 Entendemos por “vocação” uma construção social, no sentido aplicado por Bourdieu (2010), ou
seja, não é fruto de condições características naturais ou históricas, mas uma “invenção” de uso para uma palavra que não se aplicaria ao conceito de região, assim como a ideia de Amazônia, como unidade homogênea, seria uma “invenção”, segundo Sant’Ana Júnior (2004).
8
Segundo o laudo socioambiental elaborado para o processo de criação da
RESEX (IBAMA, 2007), esse é um local com forte presença de manguezais, além
de várzeas e nascentes, sendo local de reprodução de várias espécies marinhas,
dentre elas o Peixe-Boi (Trichechus manatus) e o Mero (Epinephelus itajara), que
estão ameaçados de extinção. São encontrados, também, o macaco-cuxiú
(Chiropotes satanas), o guariba (Alouatta alouatta) e o tamanduaí (Cyclopes
didactylus), todos ameaçados de extinção.
Estas são algumas das especificidades acionadas pelos dirigentes de
associações de moradores dos povoados na região em questão como argumentos
que justifiquem sua afirmação como um possível público-alvo para a implantação
da RESEX enquanto elemento de política ambiental: os moradores apresentam
modo de vida peculiar (cultura, sociabilidade e trabalho) relativamente adaptados
às condições ecológicas, predominando agricultura, pesca e criação de pequenos
animais; as atividades produtivas são realizadas segundo um calendário sazonal
anual, conforme os recursos explorados, normalmente sob o regime familiar de
organização do trabalho; há uma vasta extensão de manguezais relativamente
conservados e a convivência produtiva com os mesmos não provoca impactos
relevantes (SANT’ANA JÚNIOR et al., 2007).
Em um desses povoados, existem lideranças que foram influenciadas
diretamente por movimentos socioambientais por meio de entidades como o Fórum
Carajás e o Movimento Nacional dos Pescadores (MONAPE), entre outras, que
instigaram a busca por alternativas para minimizar os danos provocados pela
atividade industrial na região, o que interferiu diretamente no rumo tomado pela
proposta da RESEX e na constituição de um grupo de trabalho autodenominado
GT RESEX de Tauá-Mirim10. Por outro lado, um dos principais motivos que as
lideranças dos povoados que pleiteiam a criação da RESEX de Tauá-Mirim, alegam
para resistirem à instalação de novos projetos industriais e de infraestrutura na
10
O GT RESEX de Tauá-Mirim se reúne esporadicamente e conta com a participação de lideranças locais, advogados, membros de organizações e movimentos sociais, como o Fórum Carajás, grupo de pesquisa (GEDMMA), servidores ligados aos órgãos ambientais, e produz reivindicações junto ao Ministério Público Federal, com o objetivo de planejar ações estratégicas e de mobilização para a concretização da RESEX de Tauá-Mirim.
9
região – e igualmente resistirem aos consequentes deslocamentos compulsórios, já
que são terras secularmente ocupadas por populações tradicionais – é a
constatação da desestruturação comunitária e familiar que um deslocamento
territorial desse tipo provoca.
Essa constatação advém da experiência de seus vizinhos, que foram
deslocados na década de 1980 para a instalação do Complexo Portuário de São
Luís, da Alumar e da Companhia Vale do Rio Doce. Caso haja novos
deslocamentos, as populações desalojadas, provavelmente, terão dificuldades em
encontrar novas ocupações e terminarão por compor o quadro de marginalização
nos bairros da periferia do centro urbano de São Luís, o que se constituiria em
injustiça ambiental (SANT’ANA JÚNIOR; STEINHORST DAMASCENO, 2010). A
percepção de que não há consenso nem unanimidade entre as pessoas que serão
beneficiadas diretamente pela unidade de conservação, sobre a decisão acerca da
sua criação, nos permite verificar que um fator determinante neste caso, pode ser a
imposição de um discurso neodesenvolvimentista que atrela o tradicional e o rural
ao sentido de atrasado; e o industrial, tecnológico e urbano ao sentido de moderno,
este último possuindo valor positivo.
Assim, o que se observa é um território em disputa, no qual os discursos
acerca da “vocação industrial” do referido território são confrontados por interesses
de manutenção de uma forma específica de controle e uso territorial, gerando, de
um lado, a demanda pela criação da unidade de conservação e, de outro, entraves
institucionais e políticos à sua efetivação.
O Neodesenvolvimentismo e o Ambiental
Primeiramente, há que se pensar sob uma perspectiva crítica a destruição
do meio ambiente, seja pela retirada de vegetação nativa bem como pelas
externalidades ambientais negativas11, termo que incorpora os diversos tipos de
11
O conceito de externalidade ambiental negativa, oriundo da economia, se refere aos custos da
degradação ambiental que não estão inseridos no custo total do produto manufaturado, porém são repassados para a sociedade ou voltam para o meio ambiente. Pode ser simplesmente denominado
10
poluição oriundos da indústria da transformação (fábricas), prospecção mineral
(mineradoras e petrolíferas), além dos danos ambientais e sociais causados pela
agropecuária extensiva e monoculturas, de modo geral.
Não se pode negar que a crise capitalista atual tenha um forte componente
ambiental envolvido (LOWY, 2005; MÈZÀROS, 2001), o que pode ser constatado
desde a primeira crise mundial do petróleo, quando os recursos naturais deixam de
ser percebidos como bens gratuitos e abundantes para serem vistos como bens
escassos, de acordo com a análise da ecologia política (GORZ, 1978).
O conceito de Justiça Ambiental12 (ACSERALD, 2004; ACSELRAD, MELLO,
BEZERRA, 2009) vem demonstrando o caráter étnico, racial e de classes da
questão ambiental. Os problemas sociais gerados pela intensificação das
atividades industriais, das obras de infraestrutura, atividades florestais, mineração,
monoculturas e de produção de commodities, em geral, envolvem grupos sociais,
geralmente menos favorecidos política e economicamente, atingidos pelos efeitos
negativos dessas atividades.
Outra importante reflexão no contexto da criação de unidades de
conservação é acerca da incorporação de uma identidade funcional e estratégica
no caso das chamadas “populações tradicionais” (ALMEIDA, 2009), que se
destacam no estudo de caso da RESEX de Tauá-Mirim. É relevante ainda pensar a
aproximação entre o debate sobre reforma agrária e o problema ambiental, não
apenas considerando o território em si como objeto em disputa, mas a opressão
gerada pelas externalidades ambientais oriundas dos processos industriais, que
obrigam os grupos sociais residentes em determinadas áreas a se deslocarem ou
se submeterem a possíveis problemas de saúde, tornando ambos os grupos sociais
potencialmente desterritorializados.
de “externalidades”, na linguagem da economia ecológica (MARTÍNEZ ALIER, 2009). Ou seja, em uma economia capitalista, os lucros são privatizados e os custos socializados. 12
“Por justiça ambiental designamos o conjunto de princípios e práticas que asseguram que nenhum grupo social, seja ele étnico, racial ou de classe, suporte uma parcela desproporcional das consequências ambientais negativas de operações econômicas, de decisões de políticas e de programas federais, estaduais, locais, assim como da ausência ou omissão de tais políticas (...)” Extrato da Declaração de fundação da Rede Brasileira de Justiça Ambiental, contracapa (ACSELRAD, MELLO, BEZERRA, 2009).
11
A utilização da estratégia de solicitar a criação de unidades de conservação
de uso sustentável como alternativa ao modelo de reforma agrária, ou como uma
política de manutenção dos territórios ameaçados, tem sido observada. A primeira
unidade de conservação do tipo Reserva Extrativista surgiu de uma luta sindical, na
qual foi mesclada a questão do trabalho, do meio ambiente e do direito a terra. A
luta dos seringueiros pela criação das primeiras Reservas Extrativistas no Acre
demonstra que a disputa pelo território também move as contendas ambientais, ou
vice-versa (SANT’ANA JÚNIOR, 2004; LÖWY, 2005; ALMEIDA, 2009).
O desenvolvimento que tem sido implementado nas regiões norte e nordeste
é baseado em moldes ambiental e socialmente predatórios, o que torna os conflitos
inevitáveis. Além do mais, como analisa Gustavo Esteva (2000, p. 81), o conceito
de desenvolvimento oferece ao homem moderno “uma expectativa ilusória implícita
nas conotações de desenvolvimento e sua rede semântica: crescimento, evolução,
maturação, modernização”. E acerca da esperança de dias melhores: “...uma
imagem de um futuro que é simplesmente a continuação do
passado...desenvolvimento, um mito conservador, se não reacionário” (Id Ibid).
Além do campo discursivo, também são revelados dados que demonstram o
lado mais perverso do chamado “desenvolvimento”. Segundo o relatório anual da
Anistia Internacional (2012, p.109), após quase um século de desenvolvimento
capitalista, no Brasil:
Apesar de avanços importantes em termos de políticas de segurança pública, os agentes de aplicação da lei continuaram a usar a força de modo excessivo e a praticar torturas e execuções extrajudiciais. Grupos de extermínio e milícias continuam a causar preocupação. Superlotação extrema, condições degradantes, tortura e outros maus-tratos foram registrados nos sistemas penitenciários adulto e juvenil, assim como em carceragens das delegacias de polícia. Nas áreas rurais, conflitos por terras resultaram no assassinato de diversos ativistas rurais e ambientais. Pistoleiros contratados por proprietários de terras continuaram a atacar comunidades indígenas e quilombolas com impunidade. Milhares de pessoas foram despejadas à força para dar lugar à instalação de grandes obras de infraestrutura (grifos nossos).
Portanto, o processo de disputa que ocorre em torno da RESEX de Tauá-
Mirim pode ser pensado como uma importante expressão local das características
e consequências do modelo de desenvolvimento em curso no Brasil, cujas
tentativas de compreensão de variadas matizes têm sido denominadas de
12
neodesenvolvimentismo. Com vistas ao entendimento desse modelo mais geral, é
necessário o resgate das políticas brasileiras que deram origem ao que chamamos,
hoje, de neodesenvolvimentismo e quais suas características que levam a fortes
questionamentos de grupos de interesse à legislação e às políticas ambientais, o
que podemos caracterizar como uma crise nas políticas ambientais.
No contexto do Programa Grande Carajás13, os empreendimentos de
infraestrutura criados durante o processo histórico de desenvolvimento regional
(grandes ferrovias, estradas, portos e hidrovias) e, portanto, já disponíveis no
presente, fazem com que se legitime o discurso da vocação industrial, no contexto
das políticas neodesenvolvimentistas, percebido nos meandros da política
ambiental conforme tem sido apresentado no presente estudo de caso.
Segundo Montenegro (2010, p. 3) o neodesenvolvimentismo, “com seus
programas de aceleração do crescimento”, sua aposta em uma “reprimarização das
exportações”, sua “ênfase nas parcerias público-privadas” e sua opção pelo
“fortalecimento de empresas nacionais para concorrer no mercado internacional”,
continua com o mesmo processo de mercantilização exaustiva dos recursos e
mantendo o foco na economia rural de exportação. Como consequência, essas
duas orientações articuladas provocam a sobrexploração das áreas já ocupadas e
das novas fronteiras abertas, “o que gera forte impacto nos grupos sociais que
foram se acomodando nas bordas dos territórios da reprodução intensa do capital:
em geral, esses povos e comunidades tradicionais” (MONTENEGRO, 2010, p. 3).
Katz (2007) caracteriza o neodesenvolvimentismo, analisando o caso
argentino, como um “padrão de acumulação que combina ênfase industrialista na
13
O Programa Grande Carajás (PGC), é um projeto de desenvolvimento regional baseado, principalmente, na exploração mineral. Iniciado na década de 1980 ocupa uma área de cerca de 900 mil km², que corresponde a um décimo do território brasileiro, em região cortada pelos rios Xingu, Tocantins e Araguaia. Abrange terras do sudeste do Pará, norte de Tocantins e sudoeste do Maranhão. O Projeto foi criado durante o governo Figueiredo e administrado pela empresa estatal brasileira Companhia Vale do Rio Doce, quando Eliezer Batista era seu presidente. Para a consolidação desse ambicioso projeto foram construídas importantes obras de infraestrutura, que incluem a Usina hidrelétrica de Tucuruí, a Estrada de Ferro Carajás e o Porto de Ponta da Madeira, localizado no Complexo Portuário do Itaqui, em São Luís. Apesar de oficialmente extinto em 1992, suas conseqüências continuam presentes na Amazônia oriental, alterando paisagens e comprometendo gravemente modos de vida locais.
13
substituição de importações”, “associação estreita com o capital estrangeiro”,
“regime agroexportador e centralidade da atividade agrária” e o “caráter de
regressão social do neoliberalismo”. Em oposição, mas em coerência com sua
formação desenvolvimentista e estruturalista, Bresser Pereira (2003) caracteriza
esse novo padrão de acumulação em seus trabalhos como uma oportunidade que
o Brasil teria de alcançar os países desenvolvidos através de:
...uma teoria econômica e uma proposta de política econômica voltada para o desenvolvimento econômico. Uma proposta que não sofra dos vícios da frouxidão fiscal (populismo fiscal) e da frouxidão cambial (populismo cambial), mas que afirme a necessidade de uma intervenção firme do Estado para sanar parcialmente as falhas do mercado. Uma proposta que esteja comprometida com o equilíbrio fiscal e o fortalecimento do Estado, inclusive porque só Estados fortes podem garantir mercados fortes. Uma proposta que esteja voltada para os interesses dos mais pobres e para o interesse nacional.
Veiga (2006) faz uma crítica a todos os termos cunhados após o surgimento
do conceito de desenvolvimento, como o “desenvolvimento humano” e
“desenvolvimento sustentável”, isso sem mencionar o debate com os adeptos do
“pós-desenvolvimento”. Para este último, Veiga (2006) imagina alguma
possibilidade concreta apenas com a superação do capitalismo. Usando as
palavras de Celso Furtado, Veiga (2006) diz que esse “novo-desenvolvimentismo”
ou “neodesenvolvimentismo” é apenas mais um dos frequentes deslizamentos para
o reducionismo econômico; assim como o próprio “desenvolvimento sustentável”,
estas são apenas bruscas inovações retóricas, ou o mesmo desenvolvimento,
como quer que este seja qualificado.
O Contexto Brasileiro
Até a década de 1930, com poucas e localizadas exceções (a indústria têxtil
no Maranhão, que teve seu auge no final do século XIX, é um exemplo) o Brasil
tinha sua economia baseada prioritariamente no modelo agroexportador e na
produção de bens de consumo duráveis. Com a crise internacional de 1929, que
leva a quebra da bolsa de Nova Iorque, e com a crise de superprodução cafeeira
no Brasil, houve necessidade de mudanças estruturais para tornar o país “mais
ajustado às novas condições econômicas e sociais”, através de políticas de
estímulos para o deslocamento do eixo produtivo da agricultura (rural) para a
14
indústria (urbano), com vistas à modernização da economia brasileira. A partir
desta década, com o aparecimento, ainda incipiente, do industrialismo e, com ele, a
progressiva urbanização, aos poucos os problemas ambientais tornaram-se
perceptíveis.
O desenvolvimentismo como ideologia econômica e política, iniciado no
Brasil na chamada “Era Vargas”, tem continuidade no governo de Juscelino
Kubitschek e se consolida durante a ditadura militar. Após alguns anos de intervalo,
dominados pelo projeto neoliberal, temos retomadas do projeto desenvolvimentista
nos governos Lula e Dilma, configurando o que pode ser denominado de
neodesenvolvimentismo.
É importante destacar os planejamentos que atingiram a região nordeste e
norte do Brasil, e para os interesses desse trabalho a região amazônica, desde
esse período, pois isso nos dá o entendimento sobre o direcionamento estratégico
que é observado atualmente na região do estudo de caso. A concretização dos
planos de desenvolvimento regionais traz à tona a disputa por territórios que são
significados de modo particular pelos diferenciados sujeitos individuais e coletivos,
gerando conflitos em que se confrontam diferentes lógicas de uso e apropriação
dos territórios, o que coloca em xeque a eficácia dessas políticas, especialmente,
nas dimensões social e ambiental.
A primeira fase de governo de Getúlio Vargas se deu entre os anos 1930 e
194514. Sua longa permanência no poder tornou-o uma das personalidades mais
marcantes da vida política nacional no século XX, e permitiu que se falasse em
uma "Era Vargas". Desde que assumiu o governo provisório da República com a
vitória da chamada Revolução de 1930, Vargas passou a representar um divisor de
águas entre as forças políticas do país. É dito que em seus governos o Estado
cresceu em tamanho e em poder e se tornou o principal responsável pelo processo
de modernização do Brasil (D’ARAUJO, 1999).
14
Vargas foi presidente em dois períodos. Na primeira fase, Vargas foi chefe de três governos, de 1930 a 1934, governo provisório; de 1934 a 1937, governo constitucional; e de 1937 a 1945, Estado Novo. No segundo período, Vargas retorna ao governo em 1951, eleito por voto direto, porém, após grave crise política, suicida-se em 24 de agosto de 1954.
15
A Era Vargas destacou-se por um forte intervencionismo do Estado na
economia e um forte caráter nacionalista. Nela são implementadas grandes obras
de infraestrutura apresentadas como essenciais para o desenvolvimento econômico
do país, há o investimento em siderurgia e são criados órgãos de planejamento,
inexistentes até então, além de empresas estatais importantes como a Petrobrás e
a Eletrobrás (D’ARAUJO, 1999). Baseava-se na concepção de que o
desenvolvimento se faria com base na articulação de um tripé: empresa pública,
empresa privada nacional e capital internacional (BASTOS, 2006). Percebe-se
nestas bases políticas algumas das características que acompanharão as políticas
econômicas brasileiras até os dias de hoje.
Bastos (2006) destaca um crescente “distributivismo trabalhista” no governo
Vargas, que é marcado por algumas conquistas sociais, como os direitos
trabalhistas. Para o autor, estes são os principais objetivos da política varguista
(BASTOS, 2006 p. 241):
O que apresenta maior continuidade é a adesão ao ideário do nacional-desenvolvimentismo, ou seja, a vinculação do interesse nacional com o desenvolvimento, ativado pela vontade política concentrada no Estado, de novas atividades econômicas, particularmente industriais, associadas à diversificação do mercado interno, superando: (i) a especialização primário-exportadora; e (ii) a valorização ufanista das riquezas naturais, associada à ideologia da vocação natural (passiva) do Brasil para exploração primária de suas riquezas (grifo nosso).
Segundo Senra (2009), o processo econômico mundial se inclina
atualmente, por um lado, a promover a homogeneização dos territórios e, por outro,
a reforçar as desigualdades sociais e econômicas, expressas em múltiplas escalas
espaciais, e tal fato vem sendo percebido no processo de constituição do território
brasileiro. Segundo o autor, a fim de intervir nesse processo, desde o pós‐guerra,
em 1945, o Governo Federal do Brasil adotou uma série de políticas públicas
visando o desenvolvimento regional.
A continuidade das políticas desenvolvimentistas se dá no governo de
Juscelino Kubitschek (1956 – 1961), um governo com características democráticas
que teve como lema de sua campanha “cinquenta anos em cinco”. Seu Plano
Nacional de Desenvolvimento, conhecido como Plano de Metas (31 metas)
privilegiavam os setores de energia, transporte, alimentação, indústria de base e
16
educação. Este plano foi fomentado com financiamento externo para grandes
empreendimentos de infraestrutura, como hidrelétricas e estradas, na tentativa de
atrair o capital estrangeiro para investimentos no setor industrial, como exemplo o
polo automobilístico e de eletrodomésticos instalados no ABC paulista. Na sua
gestão, é criada a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE),
com objetivo de promover a interiorização econômica, territorial e demográfica do
país, além da construção de uma nova capital no Centro-Oeste, Brasília, deixando
como herança o desequilíbrio nas contas públicas e alta taxa de inflação.
Segundo Sant’Ana Júnior (2004, p. 110), as políticas de desenvolvimento
implementadas durante a ditadura militar, após o golpe de 1964, foram elaboradas
a partir de um “discurso justificador claramente modernizante”, fazendo parte
destas as “ofensivas modernizadoras vindas de cima”, caracterizadas por um forte
controle do Estado sobre a economia. Especificamente em relação à região
amazônica, os governos militares deflagraram uma série de iniciativas que
apresentavam como principal objetivo a “integração subalterna da região ao
desenvolvimento econômico do país”, no qual a Amazônia deveria suprir de matéria
prima os novos centros urbanos, sendo a hidrelétrica de Tucuruí e a rodovia
Transamazônica exemplos contundentes de grandes obras de desenvolvimento
implementadas à época (SANT’ANA JÚNIOR, 2004). A partir dessa lógica a
Amazônia foi considerada um grande “vazio demográfico” a ser ocupado,
incorporando o modo de produção da sociedade dominante e aniquilando outros
modos de relação com a natureza e outras culturas.
É importante destacar os planejamentos desse período que atingiram a
região nordeste e norte, principalmente a região amazônica, pois este resgate
histórico auxiliará no entendimento sobre o direcionamento estratégico que é
observado atualmente na região do estudo de caso. Alguns desses planejamentos
foram a “Operação Amazônia”, no governo Castelo Branco; os PINs (Programas de
17
Integração Nacional), no governo Médici e o Projeto Grande Carajás, no governo
Figueiredo15.
Com a crise econômica dos anos 1980, houve uma diminuição da
capacidade de investimento do Estado brasileiro nessas políticas de
desenvolvimento regionais, que foram retomadas com a volta da estabilidade
econômica, ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso, mas melhor
evidenciadas nos governos Lula da Silva e Dilma Rousseff, sendo o PAC um
exemplo dessas políticas16. Portanto, fica evidenciada a proporcionalidade inversa
entre a capacidade de investimento do Estado brasileiro e a subalternidade das
políticas ambientais17.
Segundo informações oficiais18, no contexto do chamado
neodesenvolvimentismo:
o Programa de Aceleração do Crescimento – PAC, criado em 2007, no segundo mandato do presidente Lula (2007-2010), promoveu a retomada do planejamento e execução de grandes obras de infraestrutura social, urbana, logística e energética do país, contribuindo para o seu desenvolvimento acelerado e sustentável. Pensado como um plano estratégico de resgate do planejamento e de retomada dos investimentos em setores estruturantes do país, o PAC contribuiu de maneira decisiva para o aumento da oferta de empregos e na geração de renda, e elevou o investimento público e privado em obras fundamentais. Nos seus primeiros quatro anos, o PAC ajudou a dobrar os investimentos públicos brasileiros (de 1,62% do PIB em 2006 para 3,27% em 2010)(...).
Segundo o discurso do governo, a política do PAC ajudou o Brasil a
enfrentar a grave crise financeira mundial entre 2008 e 2009, garantindo emprego e
15
Por meio destes planos foram criados órgãos governamentais e foram obtidos financiamentos por
meio de instituições financeiras internacionais. 16
O Programa de Aceleração do Crescimento, mais conhecido como PAC, foi lançado em 28 de janeiro de 2007 no governo do presidente Lula, com continuidade no Governo Dilma. É um programa do governo federal brasileiro que engloba um conjunto de políticas econômicas, planejadas e que tem como objetivo acelerar o crescimento econômico do Brasil, prevendo investimentos infraestrutura, em áreas como saneamento, habitação, transporte, energia e recursos hídricos, geração de emprego e renda, etc. 17
A capacidade de investimento do Estado brasileiro em projetos de desenvolvimento é percebida como tendo uma forte relação com o sucesso das políticas ambientais, ou seja, quanto maior a capacidade de investimento do Estado, mais subalternas e menos efetivas são as políticas ambientais. Isso é percebido pela constatação de forte pressão dos governos para os licenciamentos ambientais de grandes obras de infraestrutura e a diminuição da quantidade de Unidades de Conservação criadas no mesmo período. 18
Dados retirados do sítio da internet: http://dados.gov.br/dataset/obras-do-pac-programa-de-aceleracao-do-crescimento.
18
renda aos brasileiros19, o que por sua vez garantiu a continuidade do consumo de
bens e serviços, mantendo ativa a economia e aliviando os efeitos da crise sobre as
empresas nacionais. Percebe-se claramente a intenção da manutenção de uma
sociedade de consumo de forma imediatista às custas de empreendimentos que
resultam em graves danos ambientais e sociais, como é observado nas grandes
obras do PAC.
É chamado de PAC 2 o programa que dá continuidade ao anterior, no
governo de Dilma Rousseff. Dentre as dez maiores obras do PAC20, em termos de
investimento, encontra-se 10º lugar, o trecho sul da Ferrovia Norte-Sul; 9º lugar a
conversão da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (REPAR-PR); em 8º lugar a
Usina Termelétrica Nuclear de Angra 3 (RJ); em 7º lugar a Usina Hidrelétrica de
Jirau (RO); em 6º lugar Campo de Papa Terra módulos I e II (Petrobrás-RJ); em 5º
lugar a Usina Hidrelétrica de Santo Antônio (RO); em 4º lugar o Complexo
Petroquímico do Rio de Janeiro (COMPERJ); em 3º lugar a Usina Hidrelétrica de
Belo Monte (PA); em 2º lugar a Refinaria Abreu e Lima (Petrobrás-PE); e em
primeiro lugar a Refinaria Premium I21 (Petrobrás), no Maranhão.
O conjunto de grandes obras de infraestrutura, consequência histórica das
políticas e planos de desenvolvimento mencionados anteriormente, tem atraído
para o Estado do Maranhão, atualmente, um grande número de empreendimentos
novos devido à dinâmica local, facilitada pela logística do escoamento da produção,
fato que gera, diretamente ou indiretamente, inúmeros conflitos ambientais na
região. Podemos citar como exemplo de vantagem estratégica local o Complexo
Portuário de São Luís, que tem no Porto do Itaqui (o segundo maior porto do
mundo em profundidade) a principal porta de escoamento da produção mineral e
industrial da região.
19
Existem controvérsias sobre a geração de emprego e renda por esta política, já que a maioria dos empregos são temporários e confrontam a mão de obra pouco qualificada dos trabalhadores locais, em algumas regiões do país, com a importação de mão de obra qualificada dos grandes centros. 20
Dados oficiais do sítio eletrônico: http://www.pac.gov.br/i/b8 21
As obras da Refinaria Premium I, no município de Bacabeira – MA, já foram iniciadas, mas encontram-se suspensas pela Petrobrás, até o ano de 2017.
19
Justifica-se o estudo retrospectivo dos planos de desenvolvimento regional,
pois as abordagens das políticas brasileiras têm tido um forte caráter territorial
(CARVALHO, 2009), regional e local (SENRA, 2009), seguindo um padrão
internacional verificado no processo de globalização, “este marcado pela
internacionalização dos mercados”, “financeirização dos ganhos de capital” e
“flexibilização da produção”, possuindo uma forte tendência a promover uma
“relativa homogeneização cultural” e a reforçar as desigualdades sociais e
econômicas (OLIVEIRA, 2004). Em oposição, Senra (2009) afirma que com a
preocupação em minimizar as desigualdades regionais advindas do referido
processo o Brasil (os governos brasileiros) lança mão de políticas de
desenvolvimento associadas ao território de modo a intervir e reverter tais
tendências a este tipo de desigualdade, especialmente após os anos 2000, quando
houve a retomada de uma série de medidas e adoção de novos instrumentos para
“tentar diminuir as elevadas desigualdades entre regiões e intraregiões, em
diferentes escalas territoriais, em ambientes urbanos e rurais, nas dimensões
econômica, social e ambiental”22.
O aspecto territorial é importante de ser considerado, como destacado
anteriormente, porque nele residem as raízes dos conflitos ambientais atuais. A
concretização dos planos de desenvolvimento regionais traz à tona a disputa por
territórios que são significados de modo particular pelos diferentes atores (sujeitos),
gerando conflitos como consequência de diferentes lógicas de uso e apropriação
desses territórios, o que coloca em xeque a eficácia dessas políticas,
especialmente nas dimensões social e ambiental. Segundo Sant’Ana Júnior et. al.
(2009):
No Maranhão, conflitos socioambientais se configuram desde o início dos anos 1980 e continuam a surgir novos, ainda que as características impactantes do modelo de desenvolvimento dominante pareçam, mesmo que discursivamente amenizadas, através da incorporação de noções como desenvolvimento sustentável, sustentabilidade,
22
É necessário destacar que estas características territorial, regional e local dizem respeito a uma preocupação com a regionalização presente em políticas federais, ou seja, no sentido de cima para baixo, por isso, ao contrário do que o termo possa dar a entender, essas políticas não emergem da região, mas são impostas e ocultam interesses capitalistas que não perpassam a diminuição das desigualdades, a não ser por mera retórica.
20
responsabilidade social e ambiental. Os efeitos desse modelo continuam nefastos devido à lógica de ocupação espacial e de produção que o sustenta.
O conflito local
Deve ser lembrada a condição sine qua non para criação e implementação
desta uma Reserva Extrativista, na qual a demanda surge, espontaneamente, das
comunidades e é verificada pelos órgãos ambientais competentes. Legitimada a
demanda e finalizado o processo legal, que inclui laudos socioeconômicos e
biológicos, além de audiências públicas, a unidade de conservação deve ser criada
por decreto presidencial (BRASIL, 2000). A pretensa RESEX de Tauá-Mirim passou
por este processo com parecer satisfatório em todos os quesitos, tendo seu
processo iniciado em 2003 no IBAMA e o laudo favorável à criação finalizado em
2007 (IBAMA, 2007). Porém, em consulta ao governo estadual23, a criação da
RESEX tem sido impedida por ir de encontro aos seus interesses, que para efeitos
desta análise consideramos neodesenvolvimentistas. Neste caso específico, o
governo estadual teria um planejamento estratégico24 para a região considerada
como possuidora de vocação industrial.
É importante destacar que diversas modificações têm sido realizadas, desde
os anos de 1970, no sentido de definir os limites territoriais em São Luís, estado do
Maranhão, amparadas por diversos instrumentos legais nas esferas federal,
estadual e municipal. Tal fato tem gerado inúmeros problemas, considerando o
caráter conflitivo usual das dinâmicas urbanas, industriais e agrárias, o que é
agravado por um claro interesse em adequar o Plano Diretor da cidade de acordo
com os interesses industriais25, determinando principalmente a conversão de
23
As consultas aos governos estaduais não fazem parte dos trâmites oficiais, mas diz respeito a um acordo político entre as esferas governamentais, prática que teve início no governo do Presidente Lula. 24
Em documento (Ofício nº 061/2011 – GG) assinado por Roseana Sarney, no dia 31 de março de 2011, e destinado a Ministra do Estado do Meio Ambiente, Izabella Mônica Vieira Teixeira, é solicitado que não fosse tomada nenhuma decisão acerca da referida Unidade de Conservação até que os projetos industriais fossem analisados, para que “a necessária conservação da biodiversidade e do modo de vida das populações tradicionais não prejudique o desenvolvimento econômico do Estado do Maranhão” (SBRANA, 2012). 25
O então prefeito de São Luís (MA), Tadeu Palácio, justificou, em 2004, o projeto de reformulação da Lei Zoneamento, Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo Urbano do Município de São Luís – MA
21
grandes áreas da zona rural em zonas industriais para serem incorporadas ao
Distrito Industrial de São Luís (DISAL26).
O entendimento desta contenda indica um tipo de ordenamento territorial
autoritário e desconsidera a heterogeneidade dos modos de vida dos grupos
sociais envolvidos, o que contradiz os princípios do Estatuto da Cidade (BRASIL,
2001) que tem como umas das prerrogativas a participação popular no
estabelecimento do Plano Diretor.
Considerando, por um lado, os riscos decorrentes da proximidade do DISAL
de áreas de preservação permanente (APPs) e da zona urbana, além deste ser
alocado em ambiente insular de grande sensibilidade ambiental, entre outros
problemas relacionados à externalidades do processo produtivo, e de outro lado o
fato da área em questão possuir inúmeros atributos ambientais importantes que
justificariam criação de uma unidade de conservação (SANT’ANA JÚNIOR;
STEINHORST DAMASCENO, 2010), estas são características que intensificam o
conflito no caso da RESEX de Tauá-Mirim.
Em relação à pressão social acerca da criação da referida RESEX,
recentemente foi divulgada nota pela imprensa local27 sobre o apoio de
pesquisadores brasileiros e estrangeiros que à criação da Reserva Extrativista de
Tauá-Mirim:
Professores e pesquisadores reunidos na I Jornada Internacional de Ciências Sociais e II Reunião da Rede Brasil–Estados Unidos, sob o tema “Ambiente, Sociedade e Governança”, que aconteceu entre os dias 26 e 29 de junho de 2013, na Cidade Universitária da UFMA, em São Luís, visitaram, na manhã do dia 27 de junho, a área onde várias comunidades tradicionais da Ilha do Maranhão (São Luís) pleiteiam, há vários anos, a criação da Reserva Extrativista do Tauá-Mirim. Os pesquisadores, vindos de várias partes do Brasil, Estados Unidos e da Europa, expressaram seu apoio à criação da Reserva Extrativista de Tauá-Mirim, no município de São Luís. Fizeram parte da visita pesquisadores da Universidade Federal do Maranhão; da Universidade do Colorado, Boulder (EUA); da Universidade de São Paulo, da Universidade Federal do
(1992), afirmando que a área em questão teria uma “vocação natural nitidamente industrial” (SANT’ANA JÚNIOR; SILVA, 2010). 26
O último decreto que determina a inclusão de áreas ao DISAL é o Decreto Estadual nº 20.727 de 23 de agosto de 2004. Uma descrição detalhada sobre as alterações no zoneamento urbano de São Luís pode ser encontrada em Carvalho (2009). 27
Informe à imprensa, divulgado em São Luís, no Jornal Pequeno online:
http://jornalpequeno.com.br/edicao/2013/07/03/pesquisadores-visitam-zona-rural-de-sao-luis-e-apoiam-criacao-de-reserva-extrativista/
22
Pará, da Universidade Estadual de Santa Cruz, Bahia; da Universidade de Wisconsin, Madison-EUA; Universidade de Indiana, Bloomington-EUA; Universidade de Kansas-EUA; Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia; da Universidade Paris 13-França. (...) Após a visita, o grupo aprovou uma moção de apoio à criação de reserva, dirigida à Ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira; à Governadora do Estado do Maranhão, Roseana Sarney Murad; ao Prefeito de São Luís, Edvaldo Holanda Júnior; à Assembleia Legislativa do Estado do Maranhão e à Câmara Municipal, reivindicando empenho para efetiva criação da Resex de Tauá-Mirim. Eles justificam o apoio devido à urgente necessidade da conservação ambiental e dos modos e meios de vida dos grupos sociais que tradicionalmente vivem na região, garantindo sua sustentabilidade. Segundo os pesquisadores, a criação da Reserva deve ser um tema tratado com prioridade na agenda pública, pois, segundo afirmam, ela é vital para qualidade de vida não apenas das populações diretamente envolvidas (os moradores da área de criação da reserva), mas para a de toda a população da Ilha do Maranhão e seus quatro municípios.
Coincidência ou não, pouco tempo após o envio da monção de apoio, é
divulgada nota28 informando que foram levantadas no ICMBio as demandas de
criação e ampliação de unidades de conservação de uso sustentável que tramitam
no instituto e que a RESEX de Tauá-Mirim estaria entre as unidades prioritárias em
uma lista de oito consideradas estratégicas e, portanto, teriam seus processos
acelerados. Porém, mesmo dez anos após iniciado o processo da RESEX de Tauá-
Mirim, a questão ainda está em aberto e o conflito em torno do uso desse território
não está definido.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O que se pretende demonstrar é que não apenas a política do Plano de
Aceleração do Crescimento (PAC), iniciada no último governo Lula e continuada no
governo Dilma, dando seguimento às políticas desenvolvimentistas da “Era
Vargas”, mas uma série de planos regionais historicamente sequenciados gerou
resultados concretos que acabam por entrar em conflito com as políticas ambientais
atuais e interferem diretamente no sugestionamento de “vocação” das áreas,
determinando, de modo geral, o conflito pela disputa do território, como pode ser
exemplificado pelo estudo de caso da RESEX de Tauá-Mirim.
28
Notícia divulgada no sítio eletrônico do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
(ICMBio) em 06/08/2013: http://www.icmbio.gov.br/portal/comunicacao/noticias/4-destaques/4195-icmbio-vai-acelerar-criacao-e-ampliacao-de-8-uc.html
23
Este trabalho buscou apontar os meandros da política de criação de uma
RESEX no contexto da atual política econômica e sua ideologia
neodesenvolvimentista e pretendeu destacar o aumento das desigualdades sociais
e agravamento da atual crise (política) ambiental com a manutenção de tais
práticas.
É importante ressaltar que a expressão do movimento social contemporâneo
e sua tentativa de deslegitimação pelo discurso do neodesenvolvimentismo têm
interferido no processo de criação da RESEX de Tauá-Mirim. Paralelamente,
percebe-se a subalternização das políticas ambientais perante a estabilização da
economia e retomada dos investimentos em infraestrutura nos últimos anos.
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