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As três maçãzinhas

de oiro

Eram uma vez três irmãos. O mais pequenino tinha os olhos azuis, o cabelo loiro e as faces rosadas como cerejas. Era assim muito bonito. E quanto a bom coração nem se fala. Certa vez, dera a sua merenda a um pobrezinho; e outra encontrando um cãozinho que tinha a perna

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partida, tomara-o ao colo e transportara-o para casa, onde cuidara dele até que sarasse. Em

contrapartida, os dois manos eram feios e invejosos.

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Ora uma manhã, indo o mais pequenino dos irmãos para a serra com as suas cabrinhas, pois era pastor, viu num quintal, à beira do caminho, uma macieira carregada de belas maçãs. E disse-se:

- Ah, quem me dera trincar aquelas maçãs! São, na verdade de fazer crescer água na boca...

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Mas, muito embora no quintal não se visse ninguém, o menino seguiu em frente, Visto o

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seu bom coração não lhe permitir que as roubasse. Chegando à serra, puseram-se as cabrinhas a pastar. E o menino, enquanto as guardava, mais uma vez desabafou, porém agora em voz alta: - Ah, quem me dera trincar aquelas maçãs! São na verdade de fazer crescer água na boca...

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Palavras não eram ditas, surgiu junto de si uma fada com três maçãs numa das mãos , que, estendendo-lhas, lhe falou assim:

- Não tenhas pena, meu lindo menino, das maçãs do caminho, porque não só é muito feio roubar como também porque eu dou-te estas, que valem muito mais, pois são de oiro e livram o dono da

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morte. Por isso, não as dês a ninguém... a não ser aos teus paizinhos. E continua a portar-te bem, que Nosso Senhor sempre te ajudará...

Por artes de berliques e berloques, sumiu-se a fada, deixando o rapazito muito satisfeito com a prenda. Mas veio a tardinha, e o menino tomou o

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caminho de casa, mais as suas cabrinhas. E, andando um largo pedaço do caminho, apareceram-lhe os dois manos, que, ao verem as maçãzinhas de oiro, logo as cobiçaram de lhas pediram. Ele negou-se, porém, a dar-lhas. Então os irmãos bateram-lhe tanto com um pau, que ele caiu por terra como morto. Posto isto, tentaram abrir-

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lhe as mãos, para lhe tirar as maçãzinhas.

Mas qual quê?! Quanto

mais as mãos dele apertavam as maçãs. E, vendo que eram inúteis

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todas as suas tentativas, abriram uma cova e enterraram-no.

Pensaram os pais do menino que tinham sido os lobos da serra os causadores do seu desaparecimento e, por isso, julgando-o na barriga dos mesmos, choraram grossas lágrimas, pois eram muito seus amigos. Mas, na cova daquele, não tardou que crescesse uma cana.

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E um pastor cortou-a e fez dela uma flauta.

A levá-la porém aos lábios, e

ela, em vez de tocar a dizer:

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Toca, toca, ó pastor, Os meus irmãos me mataram, Por três maçãzinhas de oiro, E ao cabo não as levaram.

Perante tamanha maravilha, o pastor, encontrando daí a pouco um carvoeiro, propôs-lhe :

- Amigo, toca nesta flauta, que ouvirás coisa de espantar!

O carvoeiro assim fez, e logo a flauta:

Toca, toca, ó carvoeiro, Os meus irmãos me mataram,

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Por três maçãzinhas de oiro, E ao cabo não as levaram. Passou a flauta de mão em

mão, repetindo-se sempre, com pequenas variações, os dizeres, até que foi ter às dos pais do menino. E, levando-a estes aos beiços, a mesma também afirmou:

Toca, toca, ó meu pai, Toca, toca ó minha mão, Os meus irmãos me mataram, Por três maçãzinhas de oiro, E ao cabo não as levaram.

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Largaram os pais a flauta e logo perguntaram ao pastor onde a cortara. E este, sem se fazer rogado, depressa os conduziu ao local.

Aí, cavando, encontraram o menino, que imediatamente abriu os olhinhos e se ergueu, a oferecer-lhes as maçãzinhas, com as seguintes palavras:

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- Tomai-as que estais velhos e, com tal remédio, não há mal que vos pegue.

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E os pais guardando as maçãzinhas, gozaram de boa saúde durante muitos e muitos anos. Até que, cansados te tanto viver, as devolveram ao filho e foram descansar dos seus trabalhos no regaço de Nosso Senhor. E àquele sucedeu o mesmo, quando, por sua vez, a entregou a seu filho.

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E os dois irmão malvados? Oh, a esses roeu-lhes a inveja e a vergonha o coração...

- E depois? “Morreram as vacas Ficaram os bois”.

Fim