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A CENA COSPLAY EM GOIÂNIA: UMA ABORDAGEM CULTURAL.
YHANKA LOUZA1
RESUMO
O presente artigo é o recorte de um trabalho já elaborado sobre o grupo cultural do cosplay, desta forma se pretende brevemente investigar e contextualizar a cultura Cosplay na cidade de Goiânia, almejando compreender como a mesma se espacializa e habita esta localidade, percebendo que a capital goiana não está distante dos processos culturais de outras metrópoles. Bem como as possibilidades e facilidades que uma cidade considerada metrópole pode trazer para que esse grupo cultural habite seus espaços. Será verificado como tal cena iniciou e se difundiu, como seus adeptos consomem as memórias das narrativas que despertaram o interesse pelo cosplay, como é ser cosplayer nesta capital, o impacto que uma cena cultural como esta trás para a cidade, e como é capaz de transformar a paisagem de locais por onde passam.. Se trata de uma pesquisa que envolve trabalho de campo em eventos de cultura pop japonesa, e entrevista, no intuito de conhecer mais de perto tal realidade, a identidade destes sujeitos, e da cena cosplay na capital.
Palavras-chave: Cosplay. Goiânia. Cultura. Identidade. Paisagem.
ABSTRACT
This article is part of an already elaborated work on the cosplay cultural group, with the purpose of investigating and contextualizing Cosplay culture in the city of Goiânia, as a way to understand how this group is spatialized and inhabits this locality, to demonstrate that this city is not far from the cultural processes of other metropolis and to point out the possibilities and facilities that a city considered metropolis can bring so that this cultural group inhabits its spaces. In this work will be verified how such a scene began and spread, how its fans consume the memories of the narratives that aroused the interest for the cosplay, how it is to be cosplayer in this capital, the impact that a cultural scene like this brings back to the city and its capacity to transform the landscape of places they go through. This study is a research that involves field work in Japanese pop culture events, and interview, in order to know
more deeply the reality, the identity of these subjects, and the cosplay scene in the capital.
Key-words: Cosplay. Goiânia. Culture. Identity. Landscape.
1 Acadêmica do programa de pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Goiás. E-mail
de contato: yylouza.geo@gmail.com
1- Introdução
Com o propósito em se pesquisar grupos de pessoas em que suas vestimentas
estão intrinsecamente ligadas à formação de suas identidades e no modo de viver, foi
selecionado o grupo cultural dos cosplayers, na cidade de Goiânia, para que seja
possível apreendermos como estes se espacializam na metrópole em questão,
através de suas práticas e vivências.
Os cosplayers, nada mais são do que os sujeitos da Cena Cosplay em estudo.
Cosplay, cos = costume, palavra esta originária da língua inglesa, que traz a ideia de
traje, play = brincar, também uma palavra da língua inglesa e que seu significado está
ligado à diversão. Levando em conta esta breve explicação em relação a etimologia
da palavra “Cosplay”, podemos compreender que estar na Cena Cosplay significa
brincar de se vestir e interpretar personagens das mais diversas narrativas.
Assim como diferentes grupos culturais existentes na cidade de Goiânia, o grupo
dos cosplayers agregam na construção e diversidade da cena cultural goiana,
trazendo certa teatralidade aos espaços habitados pelos mesmos. Espaços estes
como, escolas, faculdades, parques, creches, asilos, hospitais, shoppings, que se
tornam palco das atuações dos cosplayers e trazem entretenimento para a população.
A Cena Cosplay é conhecida como uma prática jovem num contexto geral,
podendo ainda assim contar com participantes de diversas idades. Por se tratar de
um grupo com fortes ligações à cultura pop, buscou-se analisar as contribuições e
influencias que este grupo cultural trás para a metrópole goiana, considerando que
esta por muitas vezes ainda é conhecida como uma capital sertaneja. Seria então esta
cena um exemplo de ruptura da ideia homogeneizada de uma Goiânia sertaneja?
Através de levantamento bibliográfico, entrevistas com os cosplayers e
trabalhos de campo em eventos de animê2, objetivando conhecer de forma mais
2 Evento que reúne fãs e pessoas interessadas em animes, mangás, games, cosplay e tudo que
envolve cultura pop-japonesa.
aprofundada a realidade dos mesmos, foi apreendido como estes pertencem à cena
goiana do cosplay, constroem identidades, se sociabilizam, transformam a paisagem
e executam sua própria cena cultural.
Utilizou-se como referência principal a obra “Cena Cosplay. Comunicação,
consumo, memória nas culturas juvenis.”, organizado pela autora Mônica Rebecca
Ferrari Nunes3 que em conjunto com mais sete autores aborda a cena cosplay nos
estados da região sudeste do país.
2- Discussão
2.1- O limiar do Cosplay e seu pouso na cena cultural goiana.
Acredita-se que a inspiração inicial para o ato de vestir-se e interpretar
personagens fictícios surgiu através dos filmes de ficção científica. Páginas na web
vinculadas ao movimento cosplay brasileiro, relacionam o emergir do cosplay com
as convenções de ficção científica estadunidenses, em especial a 1ª World
Science Fiction Convention, que ocorreu na cidade de Nova York, no ano de 1939.
Um casal de jovens, Forrest J. Ackerman e Myrtle R., surgiram caracterizados
nesta convenção com vestimentas que faziam referência ao filme Things To Come,
despertando o interesse em outras pessoas de também se caracterizarem como
personagens de ficção científica nos anos conseguintes da convenção. Este tipo
de caracterização não seriam ainda o que hoje se conhece por Cosplay, tendo em
vista que as características das roupas eram pouco fieis à originalidade do
personagem.4
Não se pode dizer um momento exato em que tal atividade teve seu início. “A
historiografia do cosplay ainda não está completamente traçada e a cronologia de
certos fatos decisivos para a expansão desta prática não é unanime entre os
pesquisadores de cultura pop japonesa.” (NUNES, 2015, p.30).
3 Doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, com formação complementar na École des Hautes Études en Sciences Sociales, EHESS, Paris, França, e também na Université Paris VIII, Saint-Denis, França. 4 https://cosmonerd.com.br/outros/colunas/mundo-cosplay/origem-do-cosplay/. Último acesso em 2 de
Junho de 2019.
Figura 1 – “Primeiro Cosplay da história. Forrest J. Ackerman e Myrtle R. Douglas, durante a
WorldCon de 1939.” 1939. Disponível em < http://sintoniageek.com.br/historia-do-
cosplay/>. Acesso em 2 de Junho de 2019.
A prática de se vestir e representar personagens fictícios não se deu somente
por uma configuração norte-americana, podendo ser considerada como uma fusão
entre os Estados Unidos da América e Japão. Um jornalista japonês, Nobuyuki
Takahashi, compareceu em 1984 à WorldCon na cidade de Los Angeles, onde pôde
conhecer os masquarades. Ao ficar encantado com o que presenciou no evento,
publicou numerosas matérias sobre o concurso que havia descoberto em diferentes
revistas de ficção científica do seu país. Takahashi então nomeou tal ação como kosu-
pure, que traduzindo significa cosplay. (NUNES, 2015, p. 32).
Ainda que seja uma associação entre os EUA e o Japão, a cena cosplay não
se prende somente à estes países, podendo ser percebida a existência de
personagens de diversas nacionalidades, tendo como exemplo, Harry Potter,
personagem fictício da série de sete romances de alta fantasia, nominada Harry
Potter, da autora britânica J. K. Rowling.5 Uma personagem que também não faz parte
destes dois países e que foi mapeada durante um dos trabalhos de campo na cidade
5 Escritora, roteirista e produtora cinematográfica britânica, notória por escrever a série de livros Harry
Potter.
de Goiânia, é Miranda Lawson, personagem fictícia da série de games canadense,
conhecida como Mass Effect.6
Figura 2 – Vitor em seu cosplay de Harry Potter, personagem da série de alta fantasia Harry
Potter. Animash Christmas, GO, 2017. Foto de Yhanka Louza.
Figura 3 – Helena em seu cosplay de Miranda Lawson, personagem do game Mass
Effect. Sesc Geek, GO, 2017. Foto de Yhanka Louza.
A partir do crescimento editorial de mangás7, e do audiovisual dos animês8, em
meados de 1990, que a cena cosplay passa a se idealizar no Brasil. Foi na Convenção
Brasileira de Desenhistas de Mangá e Ilustrações (MangáCon), realizada na cidade
de São Paulo, em que foi considerada a primeira aparição no país de jovens como
6 https://en.wikipedia.org/wiki/Miranda_Lawson. Último acesso em 2 de Junho de 2019. 7 História em quadrinhos no estilo japonês. 8 Animação produzida por estúdios japoneses.
cosplayers, ocorrendo exibições de animês e comércio de mangás.9 (FLYNN, 1989,
p. 53)
Ao ser contextualizada a trajetória e chegada da Cena Cosplay no Brasil,
emerge a dúvida, como a metrópole goiana acolheu tal cultura? Sendo Goiânia uma
cidade que transita entre o urbano e o rural, entre o “novo” e o “velho”. Da mesma
maneira que outras grandes cidades, Goiânia detém culturas e grupos, podendo estes
serem tradicionais da região goiana, bem como não necessariamente goianos, mas
que foram guiados por meio da imigração, internet, mídia e diferentes meios de
comunicação. Sendo assim, o cosplay também aterrissou na capital goiana, porém
com um maior tardar, se comparada com a cidade de São Paulo.
Não há um período específico para definição da chegada da Cena Cosplay em
Goiânia, mas levando em conta a chegada em São Paulo em 1990, e o depoimento
da cosplayer entrevistada, Thaiza Montine, considera-se que ocorreu logo após a
cena se disseminar em São Paulo. “O movimento cosplay chegou em Goiânia por
volta dos anos 90, sendo um momento que ainda se existia grande preconceito com
tal atividade.”10
Na metrópole goiana acontecem diversos eventos voltados para a cultura pop
japonesa, viabilizados por grupos de amigos que compartilham do interesse no
universo de animês e mangás. Um destes eventos, possivelmente o mais conhecido
na cidade, é o AnimeHai, que teve sua primeira edição em 2007, no Colégio Lyceu de
Goiânia, atraindo um público de mais de três mil pessoas. Após alguns anos sem
realizar outras edições, o evento voltou em 2017, com uma edição especial de 10
anos.11
Há também outros eventos que atendem a comunidade cosplay, como o Anime
Gyn Festival, Sesc Geek, entre outros, que ocorrem durante todo o ano, porém sem
9 Disponível em https://www.cosplaybr.com.br/page/index.php/o-que-e-cosplay. Último acesso em
Março de 2018 10 Entrevista realizada por e-mail com a Cosplayer Thaiza Montine, em 6 de abril de 2018. 11 Disponível em http://animehai.com.br/historico/. Último acesso em abril de 2018.
datas fixas. O que se pode notar é que não existe um único evento para os cosplayers,
mas eventos que reúnem diversas extensões do mundo geek12, otaku13 e cosplay.
2.2- As potencialidades da metrópole para a cena e construção da identidade
cosplay.
A Cena Cosplay está inserida em um cenário jovem e compõe a paisagem de
diversas grandes metrópoles, através dos seus eventos e encontros, onde cosplayers
se vestem e realizam performances respectivas a personagens de livros, HQ’S,
mangás, filmes, desenhos, animês, séries e games. Por se tratar de uma prática que
advém de grandes centros urbanos, o que a metrópole goiana detém para que tal
prática tenha se espacializado e adaptado à cidade?
Analisando a noção do que pode ser uma metrópole, Willi Bolle14 alicerçado
nos estudos de Walter Benjamim, traz seu conceito de metrópole por meio da cidade
de Paris, retratada por ele como a “capital do século XIX”.
Paris como lugar das primeiras exposições universais, “capital do luxo e da moda”, centro de planejamento da industrialização da Terra, palco da Exposição Universal de 1867, com “o desabrochar mais radioso” da cultura capitalista – eis alguns dos atributos que, além de fazer resplandecer sua imagem sobre o século XIX, sugerem também a dominação do globo. (BOLLE, 1994, p. 29).
É perceptível a visão eurocentrista de Benjamim, sendo assim, como seria
possível relacionarmos sua concepção de metrópole com grandes cidades que vieram
a surgir posteriormente nos chamados países de “terceiro mundo”, levando em conta
as diferenças históricas e geográficas do contexto europeu e da América do Sul?
É que determinadas estruturas de nossas grandes cidades foram antecipadas, de modo visionário, pelas “radiografias” da Modernidade, de autoria de Benjamin. O primeiro de seus quadros urbanos, o ensaio
12 Pessoas fãs de tecnologia, eletrônica, jogos, história em quadrinhos, livros, filmes e séries. 13 Fãs de animês ou mangás. 14 Stefan Wilhelm Bolle é professor titular de Literatura na Universidade de São Paulo (Área de
Alemão/ Departamento de Letras Modernas/ Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas).
“Nápoles”, escrito em 1924 juntamente com Asja Lacis, aponta significativamente em direção ao Sul. (BOLLE, 1994, p.33)
Tratando-se do Brasil, temos São Paulo como exemplo de primeira metrópole
de Terceiro Mundo em nosso país. “Devido suas vantagens geográficas, à sua
infraestrutura e à imigração, a cidade se tornou o centro industrial e comercial do
país, e mais: seu principal foco de inovação cultural e artística.” (BOLLE, 1994, p.
33). É relevante que contextualizemos a expressão “terceiro mundo”, levando em
conta que esta já foi revista dentro da Geografia e está em decadência desde a
Guerra Fria, sendo esse tipo de rotulação considerada ultrapassada.
A partir das características atribuídas às cidades consideradas metrópoles
como, redes de indústrias, comércios, arte, cultura, é possível percebermos
semelhanças com Goiânia, que também possui estas características, e é uma capital
considerada como metrópole em nosso país. Desta forma, podemos compreender
como a cultura cosplay e seus sujeitos alcançaram espaço na capital goiana.
A cena cosplay está relacionada ao consumo de narrativas, sendo estas um
exemplo de ferramenta que permitem despertar o imaginário dos cosplayers, e que
inspiram na escolha do personagem que irão interpretar. Outros tipos de consumo
além das narrativas foram mapeados durante a pesquisa, como o gasto com
acessórios, indumentária, participação em eventos, objetos colecionáveis. Modos de
consumir que se apresentam entre o consumo material e midiático. Estes são
elementos que fazem da cena cosplay uma cultura que muitas vezes consegue se
desenvolver com maior facilidade em grandes cidades que oferecem estes itens de
consumo.
As conexões consumo-memória ajudam a responder sobre como os cosplayers habitam e consomem as memórias das narrativas que impulsionaram o desejo por determinado cosplay, e também tornam possível o entendimento sobre as vinculações entre o cosplayer e entre os membros deste coletivo. (NUNES, 2015, p.29)
Figura 4 – À esquerda comércio de personagens em miniatura de narrativas de consumo no evento Geek Sesc e à esquerda comércio de acessórios no evento Animash Christmas. GO, 2017. Foto de Yhanka Louza
Cidades classificadas como metrópoles tornam-se um local que propiciam
maiores opções para a cena cosplay e seus sujeitos. Como por exemplo possuindo
variedades de espaços onde podem ser realizados eventos e encontros do grupo
cultural. Thaiza Montine ao ser entrevistada para a pesquisa foi questionada sobre os
locais onde são realizados os eventos e se existem eventos em locais públicos.
“Normalmente os organizadores alugam escolas ou faculdades, esses são os mais
comuns. Quando o evento envolve filantropia, costuma ser em locais públicos:
parques (Vaca Brava, Flamboyant), praças, hospitais, asilos, orfanatos”15, explica a
cosplayer. Trazendo uma maior explicação do porquê da escolha de certos locais, o
cosplayer Mikael Alves durante entrevista, diz: “os eventos geralmente são em
colégios, pois dá para utilizar a sala de aula como uma sala temática geek, como uma
sala de games, sala kpop16, sala cosplay, sala Harry Potter. Já teve sim eventos em
local público. Seria mais em parques, Vaca Brava e Flamboyant, porém é um evento
mais para conversar com amigos.”
15 Entrevista realizada por e-mail com a Cosplayer Thaiza Montine, em 6 de abril de 2018. 16 Gênero musical que se originou na Coreia do Sul, caracterizado por grande uso de elementos
visuais.
Figura 5 - Grupo de cosplayers em uma atividade de filantropia no HUGOL (Hospital de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira). GO, 2017. Disponível em <https://www.instagram.com/p/Bj0Pnt1gtjg/?taken-by=thaizamontinecosplayer>. Acesso em 16 de junho de 2018.
A Cena Cosplay possui uma própria identidade, isto quer dizer que é constituída
por um grupo de indivíduos que compartilham das mesmas preferências e do
interesse em consumir narrativas, para a partir delas performarem algum personagem.
Indivíduos que possuem uma identidade em comum, por pertencerem à cultura pop
japonesa, à cultura do cosplay, participando de eventos e se inserindo em grupos de
cosplayers.
São as narrativas que possuem uma forte relação com a identidade, pois não
apenas produzem conteúdo cultural e entretenimento, mas também contribuem no
papel de constituição de uma imagem e identidade dos cosplayers.
De acordo com Stuart Hall, o conceito de identidade já sofreu algumas
mudanças ao longo do tempo e vem sendo fragmentado no mundo moderno,
entendendo que tal fragmentação acaba por provocar novas identidades, causando
também a fragmentação do indivíduo moderno.
É a partir da maneira como os cosplayers habitam a cena, os símbolos e
sentidos que os mesmos constroem sua identidade cosplay. Hall17 em seu livro
intitulado “A identidade cultural na pós-modernidade”, traz três concepções do
conceito de identidade, a do sujeito do iluminismo, sujeito sociológico e sujeito pós-
17 Sociólogo jamaicano e importante teórico cultural, que viveu e atuou no Reino Unido a partir de
1951.
moderno, sendo a identidade do sujeito sociológico a que melhor relaciona-se com a
composição da identidade cosplay.
De acordo com essa visão, que se tornou a concepção sociológica clássica da questão, a identidade é formada na “interação” entre o eu e a sociedade. O sujeito ainda tem um núcleo ou essência interior que é o “eu real”, mas este é formado e modificado num diálogo contínuo com os mundos culturais “exteriores” e as identidades que esses mundos oferecem. (HALL, 1992, p. 11).
A “interação” apresentada por Hall entre o eu e a sociedade, a conversa com
os mundos chamados por ele de “exteriores” e as identidades que esses mundos
oferecem pode ser observada na identidade cosplay.
O cosplay é um texto cultural imprevisível, em um certo grau, com função de memória, capaz de criar em seu entorno uma cena e, por sua vez, provocar os mais diversos modos de sociabilidade e suas implicações subjetivas, identitárias, estéticas e políticas. (NUNES, 2015, p.24).
Consolidando um diálogo com o mundo cultural do cosplay e se sociabilizando
o cosplayer cria sua identidade e motivações para pertencer à cena. Se projetando
nessa identidade cultural, bem como absorvendo dela significados e valores.
2.3 - Alteração da paisagem através da prática Cosplay
Ao circular pela cidade os cosplayers com suas vestimentas e performances
acabam transformando a paisagem dos locais por onde se deslocam, podendo dar à
estes, uma nova significância. Conforme Nunes (2015, p.44), “Os fluxos de cosplayers
e cosplays imputam à cidade certa teatralidade pública, marcada pela performance e
pela ocupação de formas estéticas em locais impensados.”
Desta forma a cena cosplay possui uma paisagem própria, uma paisagem
cultural que pode ser analisada pelo viés da geografia cultural.
Em relação ao conceito de paisagem por meio desta perspectiva, a paisagem
vai além da visão e da percepção, mas também sendo possível compreender a
importância do sujeito inserido nela e como a produzem.
[...] ela existe em primeiro lugar, em sua relação com um sujeito coletivo: a sociedade que a produziu, que a reproduz e a transforma em função de certa lógica. A paisagem é uma marca, pois expressa uma civilização, mas é também uma matriz, porque participa dos esquemas de percepção, de concepção e de ação – ou seja, da cultura – que canalizam, em certo sentido, a relação de uma sociedade com o espaço e com a natureza e, portanto, a paisagem de seu ecúmeno. (BERQUE, 1984, p. 239)
Durante entrevista, a cosplayer Nannahara18 foi questionada em relação a
como ela acredita que as pessoas que estão de fora da cena, a veem, ao circular pela
cidade vestida de algum personagem. “As pessoas olham com surpresa, mas eu
adoro. Me divirto quando entro em algum lugar e as pessoas veem algo que elas não
esperavam ali, naquele momento.” Através desta declaração temos um exemplo
perceptível de como a presença do indivíduo cosplayer em locais diferentes dos
habituais, como eventos, por exemplo, pode trazer uma mudança na paisagem, e
suscitar olhares curiosos.
Figura 6 - Grupo de cosplayers no shopping Bougainville, GO, 2018. Disponível em
<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10211170405796083&set=picfp.1235
791117.10209372979341545&type=3&theater>. Acesso em 13 jun. 2018.
3- Conclusão
18 Entrevista realizada com a cosplayer Nannahara Bessa, em 15 de fevereiro de 2018.
Neste breve trabalho em relação à cultura cosplay na cidade de Goiânia foi
possível apurar como a cena e seus sujeitos a habitam e espacializam, realizando
eventos, consumindo narrativas e materialidades, transformando paisagens.
Compreender o início desta cultura também foi fundamental para a atividade laboral
desta produção, sendo a partir disso possível interpretar a importância das identidades
formadas ao se inserirem nesse meio.
Por tanto buscou-se mostrar a importância deste grupo cultural que é o
Cosplay, e como suas práticas impactam a cultura na metrópole goiana, tornado
significativa sua existência e formas de habitar e transformar o espaço em paisagem
cultural.
4- Referências bibliográficas
BERQUE, Augustin. Paisagem-Marca, Paisagem-Matriz: Elementos da
Problemática para uma Geografia Cultural. In: CORRÊA, L. R. & ROSENDAHL,
Z.(Org.). Paisagem, Tempo e Cultura. Rio de Janeiro, EdUERJ, 1998, p.84-91
BOLLE, Willi. Fisiognomia da metrópole moderna: representação da história em
Walter Benjamin. 1ª ed. São Paulo: Ed Usp, 1994.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 12ª ed. Rio de Janeiro: Ed Lamparina, 2014.
NUNES, Mônica Rebecca Ferrari. et al. Cena Cosplay: Comunicação, consumo,
memória nas culturas juvenis. 1 ed. Porto Alegre: Sulina, 2015.
SIGNIFICADOS. Significado de cosplay. https://www.significados.com.br/cosplay/,
acesso em 10 março de 2018.
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