A Derrota Da Beleza e Do Amor

Preview:

DESCRIPTION

Beleza Amor Derrota.

Citation preview

A derrota da Beleza e do Amor: Händel e Berlioz

Schopenhauer: “música é um exercício oculto de metafísica no qual a mente não sabe

que está filosofando”. MVR, III, 347.

Handel

Tempo e desengano x beleza e prazer

O argumento : a personagem Beleza (Beauty/Bellezza) começa jurando fidelidade ao

Prazer (Pleasure/Piacere) ; em troca, este a conservará eternamente. Após uma

discussão, a Beleza se volta ao Tempo (Time/Tempo) e à Verdade (Truth/Disinganno).

Ao final, a Beleza abandona o Prazer para seguir a Verdade.

Primeiro ato.

Aberto com o coro: “o tempo é supremo, tempo é todo-poderoso! Os mais sábios dos

mortais irão adorá-lo”. Após, diálogo entre Beauty e Pleasure: Diante de um espelho, a

Beleza faz seu próprio elogio e demonstra medo do tempo, quer manter-se para sempre,

“stop Old Time in his career”. Ela tem medo de se desintegrar, de perder seu esplendor.

O Prazer então lhe conforta: Fear not! I, Pleasure, swear, that these charms you still

shall wear ever blooming, ever fair. A soprano diz: o sofrimento escurece qualquer

traço, e o prazer tudo ilumina, ao que, após, com o coro: Come! Come! Live with

Pleasure, taste in Youth life’s only joy. Old Age knows no leisure, but dull wint’ry

thoughts t’employ.

O Tempo e a Verdade lhe dizem: Turn, look on me! Behold old Time. TRUTH And see

Cousel, the son of Truth TIME who soon will show, how frail a flower Beauty is:

TRUTH the blossom of a day, that springs and dies. A beleza, sorridente, doce e

sedutora, tomba, morre e não retorna. A juventude, agora florescente, não encantará

mais.

É dado então o desafio: PLEASURE Our different pow’rs we’ll try, And see who now

shall gain the victory – Pleasure, BEAUTY or Beauty, – ZEIT Time, TRUTH or Truth!

Segue-se mais algumas provocações. O prazer diz: He best, he only life employs, who

will not think how fast it flies, ao que o tempo responde: Like the shadow, life is ever

flying, seeming still fixt; so swift the delusion. Man heeds not Time, on hope still

relying; soon the bell strikes: and all is confusion.

Ato II : Prazer : Here Pleasure keeps her splendid court, where all her devoties resort;

and, at her nod, advance the costly feast, the carol, and the dance; Minstrels, and music,

poetry, and play; and balls by night, and manly sports by day. (Florish of Horns) (...)

Dryads, Sylvans, with fair Flora, come, adorn this joyful place! Come, fair Iris, and

Aurora, this our festival to grace.

A beleza parece zombar do tempo: Come, oh Time, and thy broad wings displaying,

strong essaying, sweep away, without delay, the joyous pleasures of this sweet abode.

Lo! he sleepeth, his strength no more prevailing, his po’r availing, to destroy life’s

sovereign good.

A beleza parece obcecada pelo prazer, ao que o tempo e a verdade buscam adverti-la:

TRUTH Too long deluded you have been by Pleasure’s false and flatt’ring scene:

(Tempo) Behold her faithful mirror too, presenting all things to your view by just

reflection, be they false or true. O prazer busca cegá-la: Lovely Beauty, close those

eyes; charming Beauty, oh, look not there! In that view all Pleasure dies, in reflections’s

sure despair.

No ato III, a Beleza se deixa levar pelo tempo e pela verdade : Oh mighty Truth! thy

pow’r I see: all tah was fair, seems now deformity. This day my pride shall from its

height descend; this day my reign of vanity shall end. accompagnato Adieu, vain world!

in search of greater good, I’ll pass my days in sacred solitude; ‘tis fit the slave of vanity

should dwell in some sequester’d penitential cell.

Hector Berlioz, "Sinfonia Fantástica: Episódios da vida de um Artista, em cinco partes",

5º mov., "Sonho de uma noite de sabá". Sem a mesma moralização.

A Sinfonia Fantástica narra a história de um jovem que se envenena com ópio por causa

de um amor sem esperanças. Ela narra, na verdade, os delírios causados pela droga:

cada um dos cinco movimentos corresponde a uma alucinação.

No quinto delírio, o Artista presencia seu próprio funeral. Como consta do roteiro que

Berlioz escreveu para a sinfonia: "ele se vê em um sabá das bruxas, no meio de uma

reunião horrível de tons, feiticeiros e monstros de todos os tipos que se reúnem para o

funeral. Estranhos sons, gemidos, gargalhadas; gritos distantes que parecem ser

respondidos por mais gritos".

A chave desse movimento é perceber como a melodia suave e agradável que abre a

sinfonia e se repete ao longo dela, e que representa o amor inatingível do Artista, vai se

transformando, ao longo do movimento, primeiro em um tema pesado, fúnebre (o Dies

Irae), depois em outro, grotesco e acelerado (a dança das bruxas), para finalmente se

perder por completo na reunião do pesado e do acelerado, do fúnebre e do grotesco.

Recommended