View
1.154
Download
7
Category
Preview:
Citation preview
MAYARA ROBERTA DA SILVA ARAUJO
Trabalho apresentado para avaliação da disciplina
História Contemporânea, ministrada pelo Prof. Msc.
Aldo Sampaio, no semestre 2/2012, na Faculdade
Integrada Brasil Amazônia – FIBRA.
Belém – Pará
2012
Resenha: HOBSBAWM, Eric. A Era do Capital: 1848-1875. Tradução de
Luciano Costa Neto. Rio de Janeiro, Paz e Terra. 3 ed. 1982. Capítulos: 1, 4, 5 e 14.
A Era do Capital se inicia com a "Primavera dos Povos" povoada pelas
barricadas de 1848, quando efetivamente começou a se estruturar a vida política
contemporânea. Os que fizeram as revoluções eram inquestionavelmente
trabalhadores pobres e foram eles também que morreram nas barricadas. O grande
corpo de radicais da baixa classe média, artesãos descontentes, pequenos
proprietários, agricultores, tinham como porta-vozes e líderes os intelectuais -
especialmente jovens e marginalizados. Porem dizer que foi “a revolução dos
intelectuais” é errôneo. O Manifesto Comunista de Marx e Engels, distribuído em
diversos idiomas pelo continente e que disseminaram aos trabalhadores de diversas
regiões – França, Confederação Alemã, Império Austríaco, Hungria, Itália – a
consciência de si enquanto classe no panorama político global.
Essas revoluções de 1848 na Europa ocorreram em regiões diferentes e com
povos diferentes, porém tinham muito em comum, foram financiadas pela fome,
ocorreram quase simultaneamente e portanto seus destinos estavam cruzados de
alguma forma. Foram vitoriosas, mas derrotadas rapidamente, em sua maioria
totalmente, reduzidos a sua impotência. Seus governos entraram em colapso e
recuaram sem resistência.
Com exceção da França - que teria mais dois anos e meio- em 1849 todos os
antigos comandos foram restaurados no poder e com mais força que antes - como
foi o caso do Império dos Habsburgos – e os revolucionários foram exilados, com
eles a esperança de mudanças institucionais e sonhos políticos e sociais da
primavera de 1848. Porem uma mudança fora irreversível e muito importante: a
abolição da escravatura no Império dos Habsburgos.
Um proletariado embrionário começava a se autonomizar, a deixar a indefinida
categoria de plebe, para dar início à classe operária, a partir das melhores páginas
da história do humanismo e da luta pela justiça social. Ao lado dela surgiram as
primeiras modalidades das organizações sindicais, dos partidos, das ideologias,
como expressões da consciência organizada das classes sociais. As contradições
que marcaram o período deram origem à modernidade do século XX.
Restaurados os regimes conservadores, estavam preparados para fazer
concessões ao liberalismo econômico, desde que isso não significasse um recuo
político. Os moderados liberais fizeram então duas importantes descobertas na
Europa ocidental: que revoluções eram perigosas e que algumas de suas mais
substanciais exigências poderiam vir a ser atingidas sem elas.
“As revoluções de 1848 deixaram claro que a classe média, liberalismo, democracia política, nacionalismo e mesmo as classes trabalhadoras eram, daquele momento em diante, presenças permanentes no panorama político. A derrota das revoluções poderia temporariamente tirá-los do cenário, mas quando reapareciam, determinavam as ações mesmo daqueles estadistas que tinham menos simpatias por eles.” (HOBSBAWM, 1977. Pag 46)
Liberalismo e democracia radical ou pelo menos o desejo por direito a e
representação não podiam ser separados, na Alemanha ou Itália, no Império dos
Habsburgos ou mesmo no Império Otomano e no Império Russo, das ambições por
autonomia nacional, independência ou unificação. O que poderia produzir conflitos
internacionais.
O capitulo “Conflitos e Guerra” remete a um período conturbado politicamente,
onde houveram guerras e instabilidade. Em 1860 a política era a seguinte: os
dirigentes não podiam controlar a situação de mudança política e econômica mas
sabiam que precisavam se adaptar à ela. Havia a necessidade de determinar
concessões às novas forças sem ameaçar o sistema social. E por vezes tinham a
opção de poder tomar ambas as decisões. Destaque para os chefes de estado
desse período que conseguiram combinar controle político com diplomacia e
controle da máquina do governo, como o conservador Otto Von Bismarck na Prússia
e o moderado Camilo Cavour em Piedmont. Esses dois políticos eram
profundamente anti-revolucionários e tiveram o cuidado de separar unidade nacional
de influência popular.
No tempo das revoluções, mas precisamente depois da derrota de Napoleão,
os governantes das grandes potências temiam e por isso preferiam evitar os
conflitos entre si, já que a experiência havia mostrado que grandes guerras e
revoluções caminham juntas. Porém isso não impediu a guerra da Criméia (1854-56)
que foi uma carnificina internacional envolvendo a Rússia de um lado e do outro
Inglaterra, França e Turquia. Fora a Criméia, a Europa passou por mais quatro
guerras relativamente breves e pouco custosas, mas ainda assim importantes,
durante um período de 12 anos: França, Savóia e Itália contra a Áustria (1858-59);
Prússia e Áustria contra a Dinamarca (1864); Prússia e Itália contra a Áustria (1866);
Prússia e os estados germânicos contra a França (1871). Com isso o mapa político
do resto da Europa viria a ser transformado. Com exceção da Inglaterra , todas as
grandes “potências” europeias – em alguns casos até territorialmente - foram
modificadas entre 1856 e 1871, e um novo grande estado tinha sido fundado: a
Itália.
Na década de 1860 as fundações da nova estrutura de poder foram
estabelecidas, incluído o medo de uma guerra geral. A política internacional tornou-
se política mundial com o surgimento de duas potências não-européias: Estados
Unidos e Japão.
“A Construção das Nações” traça o processo de criação das nações-estados
na Europa. O conceito “nação” não veio do fato da organização em estados
territoriais do tipo do século XIX. É necessária a separação entre “nações” e
“nacionalismo”.
“Certamente os ingleses sabiam o que era ser inglês, os franceses, alemães ou russos certamente não tinham dúvidas do que fosse sua identidade coletiva. Na era da construção de nações, acreditava-se que isso implicava a transformação desejada, lógica e necessária de “nações” em estado-nações soberanos, com um território coerente, definido pela área ocupada pelos membros da “nação”, que por sua vez era definida por sua história, cultura comum, composição ética e, com crescente importância, a língua.” (HOBSBAWM, 1977. Pag 103)
A identidade era o critério histórico de “nacionalidade”. Mas o argumento
ideológico para o nacionalismo era bem diferente e muito mais radical, democrático
e revolucionário: nenhum povo deveria ser explorado por outro. Além disso os
estado-nação era entendido como “progressista” precisando ser territorialmente
grande por questões econômicas, tecnológicas, militar e de organização. O
argumento ao qual nações-estados se identificavam com o progresso era negar o
caráter de “nações reais” aos povos pequenos e atrasados. Portanto algumas
nações estavam destinadas pela história a prevalecer a serem vitoriosas na luta pela
existência: e outras não.
A fase de nacionalismo de massa, que vinha normalmente sob influência de
organizações da camada média de nacionalistas leberais-democratas estava de
alguma forma relacionada com desenvolvimento econômico e político. O
proletariado, como a burguesia, existia apenas conceitualmente. Segundo
Hobsbawm (1977), na medida em que “estado” e “nação” coincidiam na ideologia
daqueles que estabeleciam instituições e dominavam a sociedade civil, política em
termos de estado implicava em política em termos de nação.
Logo o “estado” seria materialização de “nação”. Essa “nação” não seria algo
espontâneo, mas um “produto”. E como tal os estados europeus se valeram da
educação como instrumento para reforçar a ideia de “nação”. Essa construção
através da educação estava refletida na criação de novas universidades e melhorias
na educação primária e secundária. O objetivo era impor valores da sociedade -
moral e patriotismo – e uma “língua nacional”, pois escolas e instituições ao imporem
uma língua de instrução, impunham também um cultura, uma nacionalidade.
“O nacionalismo, portanto, parecia manejável na estrutura do liberalismo burguês e compatível com ele. Um mundo de nações viria a ser, acreditava-se, um mundo liberal, e um mundo liberal seria feito de nações. O futuro viria a mostrar que a relação entre os dois não era tão simples assim.” (HOBSBAWM, 1977. Pag 116)
Em, “As Forças da Democracia” o autor discute que tão importante como o
nacionalismo era a participação do homem comum nas ações do estado, entendida
como “democracia”. Os países desenvolvidos e industrializados logo perceberam
que mais cedo ou mais tarde teriam de abrir espaço para as forças populares. O
liberalismo que formava a ideologia básica do mundo burguês não tinha defesa
teórica contra tal contingência. Na França, onde três revoluções já haviam
começado, a exclusão das massas da política era utópica, restava então as “dirigir”
da forma mais adequada. Napoleão III foi o primeiro dirigente de um grande país –
com exceção dos Estados Unidos – a chegar ao poder através de sufrágio
(masculino) universal.
Os avanços em direção a governos representativos levantavam dois problemas
em política: os das “classes” e “massas”. Ou seja, os pertencentes as classes altas e
médias seriam as “classes” e os pobres as “massas”, com objetivos e interesses
certamente diferentes. O que era novo em política de “classes” durante esse período
era sobretudo a emergência da burguesia liberal como uma força no contexto de
uma política mais ou menos constitucionalista, com o declínio do absolutismo.
A maior parte do movimento trabalhista na Europa surgiu durante o período da
Internacional – fundada em Londres e encabeçada por Karl Marx. O movimento
trabalhista se identificou politicamente sob influência dos socialistas ao marxismo.
Hobsbawm aborda a influência da “Ciência, Religião, Ideologia”, onde uma
sociedade acreditou que o crescimento econômico repousava na competição da livre
iniciativa privada no sucesso de comprar tudo no mercado mais barato, inclusive
mão - de -obra barata e vender tudo no mais caro. Essa sociedade que começa
surgir e de maciço avanço da economia do capitalismo industrial da escola mundial,
da ordem social que o representa nas ideias e credos que pareciam legitimá-lo e
ratificá-lo, na razão, ciência, progresso e liberalismo.
Augusto Comte filósofo francês fundador da sociologia e do positivismo,
nega que a explicação dos fenômenos naturais, assim como sociais, provenha de
um só principio, passa a abandonar as causas dos fenômenos “Deus ou natureza”.
A “filosofia positiva” de Augusto era a imutabilidade das leis da natureza e a
impossibilidade de qualquer conhecimento infinito ou absoluto. A teoria darwinista da
evolução impressionava não porque o conceito de evolução fosse novo, mas porque
fornecia, pela primeira vez, um modelo de explanação satisfatório para a origem das
espécies, e o fez em termos que eram inteiramente conhecidos até para não-
cientistas, já que refletiam os conceitos mais familiares da economia liberal, a
competição. A antropologia física automaticamente levava ao conceito raça, já que
as diferenças entre povos brancos, amarelos ou pretos, negros eram inegáveis. O
darwinismo social e a antropologia ou biologia racista pertenciam a ciência da suas
próprias políticas.
O único pensador do período que desenvolveu uma teoria compreensível da
estrutura e mudança social que ainda impõe respeito foi o revolucionário Karl Marx.
Ele resistiu à tendência, que em outros lugares cresceu com força sempre maior, de
separar a analise econômica de seus contextos históricos.
Através da linha de pensamento de Hobsbawm podemos concluir que o
capitalismo se consolidou e a ciência positiva teve um progresso muito rápido. O
indivíduo com fé tinha dúvidas, especialmente se fosse um intelectual. A religião
estava sem dúvida em declínio, não meramente entre intelectuais, mas nas grandes
cidades, onde a provisão para adoração religiosa estava, assim como a
sanitarização, bem aquém da população, e onde a pressão comunitária para a
prática religiosa e a moralidade era pouco sentida. Foi um grande avanço para esta
sociedade que estava surgindo.
“Ciência “positiva”, operando com fatos objetivos e precisos, ligados rigidamente por causa e efeito, e produzindo “leis” uniformes e invariantes além de qualquer possível modificação, era a chave-mestra do universo, e o século XIX a possuía.” (HOBSBAWM, 1977. Pag 278)
Coube às descobertas tecnológicas a responsabilidade pelo acentuado
aumento do volume e valor das trocas internacionais no período, uma vez que
tenham sido de suma importância para o progresso no tempo das viagens longas de
pessoas e mercadorias, a contar da estrutura férrea financiada na Europa e nos
EUA pelo capital privado e na qual operavam as máquinas a vapor. Tão importante
foi a descoberta do telégrafo, que possibilitou o extraordinário aumento da
velocidade das comunicações mundiais, além das descobertas química e elétrica.
Em suma, o mundo todo passava a fazer parte desse novo sistema, o
capitalista, marcado por acentuado liberalismo econômico do capital privado e da
livre iniciativa, e por forte espírito nacionalista e concorrencial entre as nações, o que
levou à ocorrência de guerras civis que deixaram milhares de mortos e também ao
surgimento dos estado-nações.
É a história do triunfo global do capitalismo e de uma sociedade que acreditava
encontrar o sucesso na livre iniciativa privada e na criação de um mundo de
distribuição plena do material, da moral e do conhecimento. Surgia assim a
sociedade de massas, impulsionada pela noção de "progresso". Como resultado,
obteve-se de um lado o avanço maciço da economia do capitalismo industrial, da
razão, da ciência e do progresso; de outro, operações militares cuja superioridade
organizacional e tecnológica não tinham precedentes na História. As contradições
que marcaram o período deram origem à modernidade do século XX. “A Era do
Capital 1848 - 1875” possibilita uma análise comparativa entre o liberalismo do
passado e o neoliberalismo do presente.
Recommended