View
0
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
A Fenomenologia do Espírito de Hegel e
O Capital de Marx: Curso Introdutório - II
São Paulo - Novembro de 2016.
Professor Dr. Jadir Antunes.
O MOVIMENTO DIALÉTICO DA CONSCIÊNCIA EM O CAPITAL DE MARX
1. IDENTIDAD, 2. DIFERENÇA, 3. OPOSIÇÃO,
4. NEGAÇÃO E 5. NEGAÇÃO DA NEGAÇÃO
O Livro Primeiro de O Capital está dedicado à análise das
contradições do processo de produção da mais-valia e possui 25 capítulos
distribuídos em 7 seções. A primeira seção compreende os capítulos I a III e
estuda as determinações contraditórias do dinheiro e da mercadoria na esfera
da circulação simples. As seções II a VI compreendem os capítulos IV a XX e
estudam as contradições contidas no processo de produção da mais-valia. A
seção VII estuda a repetição do processo de produção e a conversão da mais-
valia em capital, isto é, estuda as contradições contidas na esfera da
reprodução do capital.
Para uma compreensão fenomenológica do Livro Primeiro de O
Capital organizaremos a exposição segundo a seguinte metodologia.
1) Identidade: momento da unidade e da identidade abstratas
entre trabalhador e capitalista. Seção I do Livro Primeiro de O
Capital.
2) Diferença: momento da diferença e da desigualdade reais
entre trabalhador e capitalista. Seção II do Livro Primeiro de
O Capital.
3) Oposição: momento da oposição e da luta sindical entre
trabalhador e capitalista. Momento das diferenças não
essenciais [quantitativas] da realidade e da necessidade de
sua superação. Seções III a VI do Livro Primeiro de O
Capital.
4) Negação: momento da negação e da luta revolucionária
entre trabalhador e capitalista. As diferenças não essenciais
[quantitativas] são superadas e parte-se, então, para a
aniquilação da diferença essencial [qualitativa] da realidade,
onde o sistema é parcialmente tomado pelos trabalhadores.
Seção VII do Livro Primeiro de O Capital.
5) Negação da Negação: momento da negação da negação e
da tomada revolucionária do poder. A diferença essencial é
finalmente aniquilada e o sistema é, então, totalmente
tomado pelos trabalhadores. Seção VII – Capítulo XXIV: A
Acumulação Originária - Livro Primeiro de O Capital.
1. IDENTIDADE
1) O momento abstrato/tético/positivo: o processo de circulação da mercadoria
e do dinheiro (o princípio está ainda pressuposto/velado e o capital parece
surgir dele mesmo).
a) O duplo caráter da mercadoria: M-D-M.
a.1) A contradição aparente: valor de uso e valor de troca.
a.2) A contradição verdadeira e interna: valor de uso e valor.
a.3) A contradição interna exteriorizada: mercadoria e dinheiro.
b) O duplo caráter do trabalho: trabalho concreto e trabalho abstrato.
c) A substância e medida do valor.
Seção I: análise e crítica da circulação simples de mercadorias = M - D - M
(Mercadoria – Dinheiro – Mercadoria).
Representa o começo puramente formal, abstrato e positivo da
exposição. Os operários aparecem como indivíduos livres e dispersos pelo
mercado. M (uma mercadoria qualquer) se converte em D (dinheiro) que será
reconvertido noutra mercadoria (M) qualquer. O dinheiro não aparece ainda
como dinheiro, mas, como moeda e meio de circulação. O dinheiro, por isso,
não aparece ainda como o fim do processo de troca. O fim da troca aparece,
ilusoriamente, como M, como a satisfação de uma necessidade humana
qualquer. O processo capitalista de troca, antes de aparecer como dúplice e
contraditório, aparece como uno e indivisível e a crise aparece em sua forma
meramente formal e potencial.
Começamos aqui pela instância mais imediata, abstrata, aparente,
fantasiosa e ilusória da realidade capitalista. Começamos aqui por um aparente
intercâmbio de equivalentes onde a relação entre capital e trabalho não
aparece como tal, mas como uma relação entre dois vendedores individuais de
mercadorias. O trabalhador não aparece ainda como tal, mas, sim, como
vendedor de uma mercadoria indeterminada. O patrão, do mesmo modo, não
aparece como tal, mas sim, como certo comprador de mercadorias em geral. A
única relação econômica que surge neste momento é uma relação de
comércio, onde, de um lado, se apresenta certo vendedor indeterminado e de
outro, certo comprador, do mesmo modo indeterminado. Um surge como
proprietário de produtos e o outro surge como proprietário de dinheiro.
Esta instância inicial é a mais abstrata, e por isso a mais pobre de
conteúdo, porque toda a transação entre comprador e vendedor é analisada
num grau puramente formal, num grau bastante purificado de conteúdo. Isto é:
toda a transação econômica desta instância é analisada abstraindo-se de
qualquer conteúdo e num nível puramente formal e indeterminado. Por isso,
Marx expressa esta relação comercial com a fórmula da circulação simples de
mercadorias: M-D-M. Nesta fórmula o dinheiro não circula como capital, mas,
sim, como moeda, isto é, como meio de circulação. O fim do processo é a
satisfação de uma necessidade ainda não satisfeita e não a valorização sem
fim do valor.
Como todo conteúdo da transação foi abstraído da exposição,
mercadoria e dinheiro não aparecem como capitais, mas aparecem sim, como
mercadoria e dinheiro mesmo. Do mesmo modo, vendedor e comprador não
aparecem frente a frente como trabalhador e patrão, mas aparecem sim, como
vendedor e comprador mesmo, sem determinação alguma. A dificuldade para
se compreender esta Seção I, reside exatamente no caráter abstrato da
exposição que recém inicia. As contradições que surgem neste nível surgem
como resultados do caráter contraditório de certas categorias inteiramente
abstratas. É o caso, por exemplo, da contradição que surge quando a
mercadoria, a forma determinada, particular e rígida da riqueza social, deseja
ser trocada pelo dinheiro, a forma universal, indeterminada e fluída da riqueza
social. Surge assim uma contradição entre a forma particular, rígida e
determinada da riqueza social com sua forma universal, fluída e indeterminada.
Neste nível do processo surge a primeira e mais abstrata forma de
consciência, a consciência fundada no ideal da igualdade, da liberdade, da
autonomia e dos direitos humanos. Trabalhador e capitalista não aparecem
ainda como tais e intercambiando entre si, mas, sim na figura abstrata e
indeterminada de cidadãos livres e iguais entre si. Como cidadãos do mercado,
os indivíduos aparecem trocando apenas coisas externas, bens patrimoniais
naturalmente alienáveis. A vontade, enquanto tal, por não ser um bem
patrimonial não pode ser, ainda, portanto, alienada. Neste nível predomina a
moralidade burguesa, a moralidade do mercado, onde cada indivíduo é visto
como uma mônada autossuficiente, autoindependente, autoconsciente e,
portanto, autônomo em relação a outros indivíduos. Este nível corresponde ao
momento da realidade em que cada indivíduo parece existir em-si, por-si e
para-si-mesmo. Como cada indivíduo é igual a todos os demais indivíduos, a
consciência que surge neste momento é o da independência e da autonomia
moral do indivíduo. Neste nível domina, portanto, o princípio da individualidade
abstrata, do egoísmo, da vaidade, do solipsismo, do hedonismo, do utilitarismo
e da falsa consciência do eu individual.
No nível das trocas, os indivíduos apropriam-se dos bens externos e
patrimoniais de cada um, da coisa de cada, e somente desta coisa, de maneira
moral e consentida. Cada um dos intercambiantes parece entregar, livremente
e consentidamente, sem coação e sem a força e a violência da necessidade,
um bem patrimonial que lhe pertence por direito, um bem produzido pelo
trabalho de suas próprias mãos, em troca de um bem igualmente consentido e
produzido pelas próprias mãos do outro. Para além das aparências, porém,
Marx mostra que como os produtos são trocados entre si dentro de uma divisão
social do trabalho bastante desenvolvida, como dentro desta divisão o produto
é trocado como mercadoria, como mercadorias iguais não são, absolutamente,
cambiáveis entre si, como somente produtos diferentes podem ser cambiados
entre si, o surgimento da diferença e da troca entre estes diferentes torna-se
uma necessidade inevitável para cada indivíduo.
O princípio da absoluta igualdade e da autonomia moral de cada
indivíduo diante de todos os demais indivíduos se esfacela e se destrói, então,
pela violência da necessidade do próprio produto ser trocado pelo produto do
alheio. O intercâmbio, aparentemente fundado na absoluta igualdade de todos
entre todos, exige agora, portanto, que o diferente apareça e execute a
operação de troca. Sem este diferente, sem a existência da diferença na
realidade, a operação de troca torna-se impossível para nossos cidadãos do
mercado. A igualdade abstrata da coisa e de todos entre todos, pressupõe,
assim, contraditoriamente, a existência da diferença real entre as coisas
trocadas e os portadores vivos destas coisas.
As coisas trocadas devem, portanto, ser qualitativamente diferentes
entre si. Não se trocam coisas qualitativamente iguais, mas, sim, coisas
desiguais. Não se trocam camas por camas, mas camas por sapatos, por
vestimentas, por seu desigual. A diferença natural entre as coisas e seus
portadores deve, portanto, existir e servir como fundamento e pressuposto para
a troca no mercado. As coisas, porém, para serem trocadas, precisam ainda
ser trocadas numa relação justa e honesta, precisam ser trocadas dentro de
uma proporção quantitativa equivalente. As coisas precisam, portanto, ser
trocadas dentro de uma relação quantitativa justa e igual. Trocam-se, assim,
coisas diferentes por quantidades iguais. Por fundar-se no princípio da
igualdade quantitativa entre as coisas, a troca não aparece, ainda, como troca
capitalista de mercadorias, mas como a troca enquanto tal, sem determinação,
sem diferença e sem negatividade alguma. A troca, com todos os seus agentes
e determinações, aparece, então, sem qualquer ambiguidade, sem qualquer
potência negativa e aniquiladora que a desfaça totalmente.
A troca aparece, assim, nesta ausência de negatividade e ambiguidade,
em sua total pureza e identidade e, assim, em seu total mascaramento
ideológico. Sendo a troca fundada, então, em sua versão mascarada e
ideológica, no princípio da troca de equivalentes, torna-se impossível existir, e
se explicar racionalmente, a valorização do valor e a meta capitalista da troca
que têm, como seu mais íntimo princípio, a troca entre coisas desiguais e em
proporções também desiguais, a troca de mais-por-menos e menos-por-mais.
Para se explicar racionalmente este processo, precisamos, ainda, então,
abandonar o domínio do mascaramento e viajar para um novo domínio da
realidade, contido ainda no interior do próprio domínio das trocas: o mercado
de compra e venda da força de trabalho. Contudo, analisamos um pouco mais
o domínio do mascaramento ideológico das trocas e suas determinações
essenciais.
O mundo ideológico da mercadoria pressupõe dois agentes abstratos
livres e autônomos na sua vontade, comprador e vendedor, e dois bens
externos desiguais, dois bens patrimoniais alienáveis, duas coisas externas
que são trocadas entre si numa proporção equivalente. A troca aparece, assim,
determinada por dois princípios fundamentais: o da equivalência e o da
reciprocidade. Pelo princípio da reciprocidade, aquele que entrega uma coisa
recebe em contrapartida outra de igual qualidade. Pelo princípio da
equivalência, as coisas trocadas possuem valores proporcionalmente iguais. A
troca de mercadorias pressupõe, portanto, uma relação econômica moralizada
entre os agentes, pois ambos compartilham seus próprios bens entre si em
proporcionalidades iguais e em vista da satisfaçam de suas necessidades da
vida sem dolo, má-fé, logro, furto, roubo, expropriação, violência e
desigualdade entre os agentes.
A troca, nesta sua manifestação ideológica da primeira seção de O
Capital, respeita integralmente, portanto, todos os princípios jurídicos e morais
do mundo moderno, tais como a autonomia da vontade, a igualdade, a
liberdade e a dignidade da pessoa humana. Uma vez realizada a troca das
coisas entre si, ambos os agentes permanecem conservados e integrais na sua
vontade, na sua autonomia, na sua igualdade, na sua liberdade e na sua
dignidade, pois as únicas coisas entregues e alienadas foram as coisas
fabricadas por seu próprio trabalho. Os chamados bens indisponíveis, tais
como a dignidade, a liberdade e a autonomia da vontade permaneceram em
seu estado de indisponibilidade e inalienabilidade. Também permaneceram
indisponíveis e inalienáveis a vida, o corpo, e partes deste corpo, dos agentes
da troca. O homem, ambos os homens do processo de troca, deste modo,
permanece sendo visto, tratado e conservado como uma finalidade-em-si-
mesma.
Apesar de o egoísmo e o interesse próprio serem os únicos elos de
ligação entre os agentes da troca, a troca foi feita em vista das necessidades
de consumo de ambos os agentes tendo sido preservada, ainda, a
personalidade humana de ambos. Ambos os agentes permanecem como
legítimos proprietários de sua própria personalidade humana, que continua
existindo no seu ser-aí-essencial, inviolável, inalienável, irrenunciável,
intransmissível, inapropriável, indisponível, não objetivada e, assim, não
coisificada.
Por estar fundada na autonomia da vontade de ambos os agentes, a
troca parece estar situada fora de qualquer determinação que esteja para além
desta autonomia, fora de qualquer relação causal e necessária. Porém, a coisa
trocada não tem qualquer valor-de-uso para o agente titular da coisa. Para seu
titular, a coisa só tem valor na medida em que possua, ao mesmo tempo, valor-
de-troca e que possa, assim, ser trocada por outra coisa ou, especialmente, por
outra coisa sumamente boa para ele: o dinheiro.
Caso um dos agentes da relação de troca for um capitalista, a troca não
poderá ser realizada em vista da obtenção de uma coisa útil para o uso e
satisfação humanas, mas, sim, em vista da obtenção de dinheiro e,
fundamentalmente, de mais dinheiro. Para que o processo de troca possa ser
um processo vantajoso para o capitalista ele precisará ser, impreterivelmente,
então, um processo desigual, um processo de troca de mais-por-menos ou de
menos-por-mais. Como ao empresário capitalista não interessa o processo
tautológico da troca, o processo fundado sobre o princípio da equivalência,
será necessário então, para compreendermos racionalmente o processo social
e efetivo das trocas, incluir nele os princípios da diferença e da desigualdade
quantitativas. O ingresso da figura do capitalista no processo de troca
desfigura, então, toda a beleza e a moralidade do processo de troca fundado
sobre os princípios da troca simples. Com o ingresso da figura do capitalista,
ingressa junto, assim, o princípio do mais e da diferença no processo de troca.
Com a entrada do capitalista no processo de troca, ingressa junto com ele,
ainda, sua própria diferença essencial, o trabalhador como produtor e vendedor
de força de trabalho.
Como podemos ver, o processo de troca guarda em seu próprio interior
um conjunto de forças e potências negativas que o impulsionam, necessária e
logicamente, violentamente, para fora-de-si-mesmo, para o além de um novo e
mais fundamental mercado: o mercado de força de trabalho. Para que o
empresário capitalista possa transformar dinheiro em mais dinheiro, será
necessário, então abandonarmos as determinações abstratas e as fantasias
ideológicas da troca mercantil simples e analisarmos em detalhes as
determinações deste novo mundo: o da compra e venda de corpos e mentes
humanas para o trabalho. Neste novo mundo, tudo o que era inalienável,
essencial e sagrado será, então, profanado e convertido em coisa para a troca:
especialmente o corpo e o espírito humano em suas formas vivas e atuantes.
2. DIFERENÇA
Seção II: análise e crítica das contradições da fórmula geral do capital = D - M -
D’ (Dinheiro – Mercadoria – maisDinheiro). O processo contraditório começa a
ser desvelado e o capital começa a surgir do trabalho.
a) A fórmula geral do capital e suas contradições: D-M-D’.
b) Compra e venda da força de trabalho: FT-D-M.
Instância ainda mercantil, porém, bem mais determinada que a anterior.
Aqui a troca já aparece como troca entre duas figuras bem determinadas. De
um lado aparece o proprietário do dinheiro não mais como simples comprador
de mercadorias em geral, mas, sim, como determinada figura que tem como
meta valorizar o dinheiro, isto é, surge aqui o capitalista. Como estamos ainda
na esfera da circulação mercantil e supomos sempre que as mercadorias são
compradas e vendidas pelo seu valor, como supomos sempre que a troca de
equivalente é inviolável para todos os personagens de nossa história, então, a
fórmula do capital aparece nesta forma insossa: D-M-D’. Dada a
impossibilidade da troca de não-equivalentes, a fórmula geral do capital expõe
suas inevitáveis contradições.
De outro lado aparece o trabalhador não mais como vendedor de
mercadorias em geral, como anteriormente, mas, sim, como vendedor de uma
mercadoria bem determinada: sua própria força de trabalho. Por isso a fórmula
anterior, e abstrata, da circulação simples (M-D-M) se converte nesta fórmula
mais determinada: Ft-D-M. Aqui, o vendedor já aparece como livre vendedor de
sua própria força de trabalho, como trabalhador separado da propriedade dos
meios objetivos de realização do trabalho e de si mesmo como trabalhador,
como vendedor que não possui nenhuma outra mercadoria para vender senão
a si mesmo. Nesta altura da exposição, a abstração do momento inicial foi
parcialmente superada e a relação de troca ganhou um primeiro conteúdo
determinado.
O mercado não é mais o mercado de mercadorias em geral, mas, sim, o
mercado de força de trabalho. A troca entre capital e trabalho, contudo,
continua sendo apresentada como uma troca entre equivalentes. O
trabalhador, porém, enganado pelo caráter mercantil da relação, acredita que
vendeu trabalho ao patrão e não sua força de trabalho. A relação entre capital
e trabalho, apesar de não aparecer mais como inicialmente aparecia, como
uma relação entre vendedor e comprador simplesmente, ainda continua
aparecendo como uma relação entre proprietários livres e iguais.
Como a relação de troca entre capital e trabalho esconde a diferença
importante entre trabalho e força de trabalho, o trabalhador não percebe ainda
a diferença de classe que há entre ele e o patrão. Como não houve coação
direta do patrão sobre o trabalhador, como o trabalhador é proprietário de sua
própria força de trabalho e como esta força foi posta e vendida no mercado
pelo próprio trabalhador, a transação continua aparecendo, enganosamente,
como uma transação entre homens livres e iguais entre si, como no começo da
exposição.
Neste nível, portanto, a sociedade capitalista e suas contradições
fundamentais permanecem ainda veladas pelo véu da troca de equivalentes.
As classes sociais aparecem mistificadas na forma de indivíduos livres, iguais e
proprietários, um do trabalho e outro do dinheiro. As contradições de classe
ainda estão ocultas pela forma monetária da transação, o que aparece neste
nível é uma relação harmoniosa entre os indivíduos, de um lado está o patrão e
de outro o trabalhador, ambos reciprocamente dependentes.
Neste nível se forma a base para todas as concepções fantasiosas e
democráticas sobre a sociedade burguesa e para a falsa consciência do
trabalhador, que permanece se concebendo tão livre e igual quanto seu patrão.
Neste nível, por isso, se forma a base para a charlatanice dos direitos
inalienáveis do homem e para os discursos de salão da social-democracia, seja
petista ou não.
Este nível deve ser considerado como uma transição entre o nível
anterior abstrato, o nível da circulação simples, e o nível seguinte mais
determinado, o da produção da mais-valia.
Nesta seção surgem as primeiras contradições da fórmula geral do
capital na esfera da circulação e a crítica à noção dos economistas de que a
mais-valia surge desta esfera. O dinheiro nesta seção surge como dinheiro
exatamente e não mais como moeda e meio de circulação como aparecia na
seção anterior. O dinheiro surge agora como valor que deve se valorizar na
circulação e como o fim do processo de troca. O problema aqui é explicar como
o dinheiro, seguindo a lei do valor e da equivalência entre as mercadorias,
segundo a lei de comprar e vender pelo valor, pode se valorizar no processo. O
problema é explicar como o dinheiro (D), ao se converter em M (uma massa de
valor igual a D), sai ao final do processo de troca quantitativamente maior do
que entrou no começo sem violar as leis da troca de mercadorias.
Ainda no interior desta segunda seção surge a resposta ao problema da
valorização do valor com o surgimento de uma mercadoria determinada, a
força de trabalho, e um vendedor, também determinado, o trabalhador, que
ainda não apareciam na seção anterior, que na verdade apareciam misturados
sem se diferenciar com uma miríade de outros vendedores. A fórmula FT - D -
M (Força de Trabalho – Dinheiro – Mercadoria) surge como a mediação
dialética entre o começo abstrato e indeterminado e a esfera da produção que
virá logo mais à frente. O mercado, por isso, está agora mais determinado que
no começo, pois agora estamos no mercado de força de trabalho. Aqui é o
momento da venda da força de trabalho (FT) pelo operário ao capitalista. É o
momento da conversão da força de trabalho em D (dinheiro) e, mais tarde, em
meios de subsistência (M) do trabalhador. D só pode se converter em D’ caso
entrar em relação com um vendedor de uma mercadoria determinada, a força
de trabalho (FT) do trabalhador, com uma mercadoria que possui a
peculiaridade de gerar uma soma de valor acima de seu próprio valor.
Na seção anterior predominava o princípio da troca entre coisas, e
somente entre coisas, entre bens patrimoniais alienáveis. Agora, contudo, não
se trocam mais coisas externas e alienáveis, agora são trocados homens, vida,
esforço, vontade e capacidades humanas por dinheiro. Na seção anterior, o
dinheiro comprava apenas coisas e produtos fabricados pelas mãos e cérebros
humanos. O princípio jurídico e moral daquele mundo impedia e condenava
totalmente qualquer troca que ultrapassasse a coisidade das coisas. Aquele
princípio moral, abstrato, impedia totalmente que o dinheiro pudesse comprar,
além das coisas fabricadas, também a vida, a vontade, o esforço, a
capacidade, o cérebro e as mãos do fabricante. Agora, então, longe daquele
princípio moral abstrato, compram-se homens por dinheiro e os pagam em
salários.
Agora, então, surge uma diferença essencial, social, real e efetiva, entre
os agentes do mercado. Um deles aparece agora não mais na figura de
simples comprador de uma coisa qualquer e indeterminada, mas, sim, na figura
de patrão e comprador da força de trabalho do trabalhador. O outro aparece
agora também não mais na figura de um simples vendedor de uma coisa
qualquer e indeterminada, o outro aparece agora na figura do trabalhador que
vende a si próprio em troca de dinheiro. Agora, então, são postas frente a
frente duas figuras reais do processo de troca real fundado na divisão social do
trabalho e na propriedade individual e privada dos meios de produção. Agora,
então, temos duas figuras reais de um processo social real, e não mais duas
figuras irreais de um processo social irreal, como na seção anterior.
Para que o contrato de trabalho entre capitalista e trabalhador possa ser
realizado, será necessário o preenchimento das seguintes condições reais:
Primeira:
1) Existência de relações de dependência meramente
econômicas e mercantis; ausência de relações de dependência
pessoal;
2) Que a mercadoria força de trabalho seja vendida no mercado
por seu próprio possuidor; pela pessoa da qual ela é a força de
trabalho;
3) Seu possuidor deve dispor dela como livre proprietário de sua
pessoa;
4) Que comprador e vendedor apareçam no mercado como
pessoas juridicamente iguais, um como possuidor de dinheiro e
o outro como possuidor de sua própria pessoa;
5) Que o proprietário da força de trabalho só a venda
provisoriamente, por determinado tempo e nunca em bloco;
nunca sua própria pessoa por inteira; nunca a si mesmo como
mercadoria mas somente sua faculdade de trabalhar;
6) O proprietário da força de trabalho renuncia apenas ao uso
desta força por ele mesmo, alienando apenas esta força ao
comprador e não a si próprio como pessoa, que permanece
livre e proprietário de si próprio;
7) O comprador compra a faculdade da pessoa para o trabalho e
não a própria pessoa.
Segunda:
1) Que o possuidor da força de trabalho venda apenas sua
capacidade para o trabalho como mercadoria e não
mercadorias em que seu trabalho encontre-se realizado;
2) Que o possuidor venda sua corporalidade viva para o trabalho
e não os produtos criados por este trabalho; que venda sua
capacidade para o trabalho e não o trabalho criado por esta
capacidade;
3) Que o possuidor desta força de trabalho apareça como pessoa
duplamente livre: primeiro como pessoa que pertence a si
própria, que tem a si mesmo como sua propriedade e,
segundo, como pessoa não proprietária de todas as demais
coisas necessárias ao exercício de suas capacidades para o
trabalho.
A existência desta força de trabalho supõe, por isso, a decadência de
todos os modos de produção em que o produtor apareça colado aos meios de
produção e subsistência, que ele apareça solto e solteiro no mercado de
trabalho e alienado de todas as condições objetivas para o trabalho. O
pressuposto e ponto de partida do capital aparece, ao mesmo tempo, como
resultado de um desenvolvimento histórico anterior, como produto de muitas
revoluções econômicas, decadência de toda uma série de formações sociais
mais antigas e de uma história mundial do gênero humano. Como resultado
deste processo, o trabalhador aparece então no mundo do mercado alienado
das 1) terras de cultivo; 2) matéria prima e fontes de energia naturais; 3) meios
e instrumentos de produção; 4) meios de transporte; 5) meios de subsistência;
6) dinheiro. Separado da propriedade destes meios, o trabalhador será, então,
obrigado pela força impiedosa da necessidade, a oferecer sua força de trabalho
como mercadoria em troca de dinheiro.
Apesar do caráter evidentemente desumano deste momento, o
intercâmbio e a circulação simples de mercadorias, dentro dos quais aparece o
intercâmbio entre trabalhador e capitalista, continuarão aparecendo,
ideologicamente, como o paraíso dos direitos naturais do homem, como o
paraíso moderno da liberdade, da propriedade, da igualdade e de Bentham, diz
ironicamente Marx em O Capital.
Liberdade: os indivíduos ainda aparecem ilusoriamente como
reciprocamente livres e independentes onde ambos se apropriam da riqueza do
outro mediante o livre consentimento de sua vontade; ambos contratam como
pessoas livres juridicamente iguais; não há comércio de corpos e pessoas mas
apenas de faculdades humanas renováveis e utilizadas por um tempo acertado
previamente entre os contratantes; não há ofensa à dignidade da pessoa
humana já que apenas as faculdades humanas são alienadas e não os
homens, a sua vontade e a sua pessoa natural.
Propriedade: os indivíduos aparecem como verdadeiros proprietários
dos bens ofertados para troca; cada um vende apenas o que é seu por um
direito natural; o capitalista aparece como proprietário de dinheiro e
mercadorias e o trabalhador como proprietário de sua própria pessoa.
Igualdade: ambos aparecem como igualmente proprietários de
mercadorias e trocam equivalente por equivalente; ninguém se apropria de
coisa alheia sem devolver algo em troca e de valor equivalente; o trabalhador
recebe do capitalista um salário equivalente ao valor de sua força de trabalho;
aparente ausência de troca de não equivalentes, de mais-por-menos ou
menos-por-mais.
Bentham: cada um dos contratantes cuida apenas de si próprio; o único
poder que os reúne e os leva a se relacionar na troca é o proveito próprio, a
vantagem particular, o interesse privado; mediante a realização de ambos os
interesses particulares alcança-se o bem comum e o interesse geral.
Encerrado o processo de troca entre capital e trabalho, assinado o
contrato de trabalho, acertados o salário e a duração da jornada de trabalho,
seu começo, suas pausas e seu término, a exposição prossegue, então, para a
análise do processo de produção realizado no interior da fábrica, onde, ali,
novas determinações aparecerão para deitar por terra as abstratas e
ideológicas determinações deste momento que ainda permanecem e se
conservam.
O drama do trabalhador aqui neste momento consiste no fato de que a
mercadoria vendida, a força de trabalho, ainda que seja uma coisa alienável,
temporariamente alienável, não é uma coisa separável da corporalidade viva
do vendedor, obrigando-o, o trabalhador, a seguir junto dela para o lugar, para
a fábrica, onde, como instrumento vivo de trabalho, será consumida e devorada
pelo comprador – o empresário capitalista.
3. OPOSIÇÃO
. Seções III a VI: análise e crítica das relações de produção na fábrica
capitalista = D - M [FT + MP] ... P... M’ - D’ (Dinheiro – Mercadoria [Força de
Trabalho e Meios de Produção]... Processo de Produção ... mais-Mercadoria –
mais-Dinheiro, onde ... significam as pausas do processo de troca).
c) O duplo caráter do processo de produção: D-M (ft + mp)...P...M’-D’.
c.1) O momento positivo, abstrato e idealizado: o processo de
trabalho concreto.
c.2) O momento negativo e determinado: o processo de valorização
do valor.
Saímos agora da esfera enganosa e iluminada da circulação simples e
entramos na esfera fundamental e enegrecida da produção. Entramos agora,
então, num nível menos imediato, mais determinado e concreto de exposição
que os níveis anteriores. Primeiro momento negativo e superior da exposição,
pois supõe a negação do nível anterior da circulação simples como nível real e
verdadeiro em si mesmo. Este nível supõe já a crítica e superação dialética do
nível anterior. Superação que simultaneamente nega e conserva as
determinações do nível anterior. Aqui, no interior da fábrica (o contrato de
trabalho já foi assinado e foi acertado o salário e a jornada de trabalho) o
trabalhador se converte de vendedor de força de trabalho em operário e o
capitalista, do mesmo modo, se converte de comprador em patrão. O
trabalhador, assim como a exposição, não pode passar a este nível mais
fundamental sem antes passar pelo nível da esfera das trocas, por isso este
nível é uma superação dialética da esfera anterior porque não apenas supera
este nível mais imediato e abstrato, mas, ainda, o conserva como momento
seu.
As contradições da esfera anterior não apenas são negadas, mas são,
ainda, e sobretudo, conservadas no interior deste novo nível. As contradições
que encontramos até aqui nunca serão verdadeiramente resolvidas até o final
da exposição, elas serão sempre apenas duplicadas e lançadas a um nível
mais fundamental e explosivo de existência. Todas as contradições que
encontramos até aqui, como entre valor de uso e valor, mercadoria e dinheiro,
trabalho concreto e trabalho abstrato, preço da força de trabalho e trabalho vão
continuamente se desdobrando em novas formas de existência. As
contradições não desaparecem ou são resolvidas, elas apenas se desdobram
em novas formas mais determinadas e explosivas. Nesta esfera, portanto,
surgem novas formas da contradição mais básica encontrada no início da
exposição, a contradição entre valor de uso e valor. Deste modo, assim como a
fórmula inicial da circulação simples (M-D-M) se desdobrara, e se invertera, na
fórmula geral do capital (D-M-D’), esta, por sua vez, se converte noutra forma
mais determinada e complexa: D-M (ft + mp)...P...M’-D’.
Segundo momento crítico e negativo da exposição e a primeira negação
determinada do começo. A valorização do valor é exposta na esfera da
produção capitalista. Os operários surgem como uma categoria determinada da
sociedade, reunidos pelo capital em torno de uma grande fábrica e lutando por
reivindicações positivas e de caráter sindical. Dinheiro (D) se converte em
certas mercadorias determinadas (força de trabalho e meios de produção). ...
P... indica a paralisia transitória do processo de valorização do valor na esfera
da produção. O valor ressurge valorizado ao final do processo de produção
com M’. O valor, porém, ressurge valorizado numa forma determinada e rígida
da produção social, ressurge sob a forma de M’ com valor superior ao valor
adiantado inicialmente. D’ representa a transmutação do valor de sua forma
determinada e particular para a forma indeterminada e universal da riqueza.
Com D’ o dinheiro retorna ao seu ponto de partida mais elevado
quantitativamente. O fim do processo, valorizar o valor, foi atingido. D se
converteu em capital e em D’, isto é, o dinheiro se converteu em mais-dinheiro
mediante extração de mais-trabalho do operário. A sede insaciável do
capitalista por mais-dinheiro surge conduzindo a relação entre patrões e
trabalhadores a um divórcio cada vez mais inevitável e necessário. A aparente
relação de troca de equivalentes entre capital e trabalho da primeira e da
segunda seção é negada pelo surgimento da mais-valia. O trabalhador
descobre que a troca entre ele e o patrão é uma troca desigual e sem
equivalência alguma para ele. O trabalhador descobre que a mais-valia
apropriada pelo patrão não possui nenhuma relação de equivalência com o
salário recebido. A relação de troca entre capital e trabalho se mostra, então,
como uma relação assimétrica, desigual e não equivalente. Ou seja: a
equivalência da troca é negada pelo surgimento da mais-valia.
Aqui surge a mais-valia e a contradição entre trabalho pago e não-pago,
entre trabalho necessário e trabalho excedente, entre jornada que o
trabalhador realiza para si mesmo e jornada que realiza gratuitamente para o
patrão. Aqui surgem então, a mais-valia, a exploração e a contradição entre
trabalhador e patrão como uma contradição entre classes sociais, entre quem
trabalha e quem se apropria do trabalho. A aparente harmonia e dependência
recíproca entre trabalhador e patrão posta no começo da exposição começa a
ser desmascarada. A face sorridente e satisfeita do trabalhador no ato da
assinatura do contrato de trabalho, face que começa a desaparecer logo que é
levado ao brete da produção, desaparece para dar lugar à dor torturante do
trabalho alienado. O sorridente capitalista converte-se num vampiro que
engorda quanto mais sangue e energia sugar do trabalhador.
A consciência de classe do trabalhador sofre sua primeira e importante
modificação: as ilusões de liberdade, igualdade e fraternidade dão lugar ao
despotismo de fábrica. O trabalhador percebe que não possui nenhum controle
sobre sua atividade e que o ritmo da máquina e da produção é dado pelo
patrão. Longas, estafantes e penosas jornadas diárias de trabalho, emprego
massivo de mulheres e crianças ocupa o lugar fantástico e luminoso do
mercado. O trabalhador entrega seu tempo de vida, sua subjetividade, suas
faculdades físicas e intelectuais a serviço da valorização incessante do valor, a
serviço da insaciável voracidade do ser-capital por sangue e energia humanos.
A exposição, apesar deste avanço, continua abstrata, pois o trabalhador
não é ainda apresentado como classe, mas como indivíduo, ou um grupo
deles, que se relaciona com um patrão determinado. A totalidade das classes
e da luta entre elas permanece ainda pressuposta. A luta de classes que surge
nesta altura da exposição é ainda uma luta positiva, afirmativa e conservadora.
O trabalhador, ou um grupo numeroso deles, se põe em luta contra o patrão
reivindicando a aplicação das leis gerais da produção de mercadorias na
relação entre ambos. Dado o caráter vivo da mercadoria que o trabalhador
vende ao patrão, a reivindicação gira aqui em torno da duração do tempo de
consumo normal desta força de trabalho. Isto é, a reivindicação gira aqui em
torno da regulamentação do tempo diário em que a força de trabalho pode ser
posta em atividade pelo capitalista. O resultado desta luta se consolida na
regulamentação da jornada diária de trabalho dentro de certos limites mais
racionais.
Como o trabalhador não vende trabalho, mas força de trabalho, e a
vende como mercadoria, o trabalhador reivindica aqui de seu patrão que sua
força de trabalho seja comprada pelo seu valor, como ocorre com todas as
mercadorias de propriedade do patrão. O trabalhador, ao reivindicar um salário
que corresponda ao valor de sua força de trabalho, não faz mais que reivindicar
que seu patrão aplique na relação entre ambos a lei da troca de equivalentes.
As lutas que surgem neste nível, por salário equivalente ao valor da força de
trabalho e jornada diária regulamentada de trabalho, são ainda lutas positivas e
conservadoras, pois não fazem mais que afirmar a lei geral da produção de
mercadorias: de comprar e vender pelo valor. Até aqui, portanto, a lei da troca
de equivalentes aparece como uma verdade na relação econômica entre
capital e trabalho e que a injustiça da relação aparece apenas quando a
equivalência é violada pelo patrão. Veremos em seguida que na verdade não
há troca de equivalentes entre capital e trabalho, veremos que na verdade não
existe nem mesmo troca entre ambos, que a troca entre ambos é uma mera
aparência, que o que existe entre capital e trabalho é uma pilhagem
permanente e uma circulação de produtos sem troca. E onde não há troca não
faz sentido pensar a equivalência dela.
A partir destas passagens, podemos perceber quão distantes estamos
de nosso ponto de partida inicial, onde as relações de troca apareciam em sua
forma mística e ideologizada na forma de trocas mercantis simples,
transparentes e racionais. Ao contrário daquela aparente ausência das classes,
da diferença e da luta entre elas, nesta nossa terceira divisão surgem então,
em toda a sua negatividade e radicalidade, a luta aberta entre capital e
trabalho, especialmente em torno da determinação do salário e da duração da
jornada de trabalho.
O que é, porém, uma jornada normal de trabalho? Para o capitalista,
uma jornada normal é uma jornada de 24hs de trabalho. Nesta concepção, o
trabalhador é visto como mero meio de produção, devendo existir apenas para
o trabalho. Nesta concepção, não existe tempo livre dedicado ao
desenvolvimento do trabalhador como membro da sociedade, da cultura e da
espécie humana. Nesta concepção predominam o roubo capitalista do tempo
livre do trabalhador e o atropelamento dos limites morais e físicos da jornada
de trabalho. Surgem, assim, o desgaste abusivo da força de trabalho e o
encurtamento do tempo de vida útil e natural do trabalhador. Surge, assim, a
necessidade de se acrescentar ao salário do trabalhador os custos de
depreciação com este desgaste abusivo da vida do trabalhador individual. Para
não pagar estes gastos o capitalista aparece interessado na formação de uma
superpopulação operária disponível a viver uma vida ilimitada de trabalho.
Toda jornada de trabalho deve se desenvolver dentro de limites naturais
e morais suportáveis. Porém, tais limites não aparecem diante da voracidade e
da sede insaciável do capitalista como limites absolutamente intransponíveis.
Sua ampliação pressupõe, portanto, a violação e a revolução destes limites por
uma vontade insaciável contrária à vontade do trabalhador. Estes limites serão
violados seja racionalmente, aumentando-se a eficiência do trabalho produtor
dos meios de subsistência, físicos e sociais, do trabalhador, seja
irracionalmente, roubando-se parte do tempo livre destinado à recreação do
espírito ou do tempo dedicado ao repouso do corpo do trabalhador, ou
roubando do trabalhador a parte do tempo que pertence ao consumo dos bens
culturais da sociedade, empurrando-o, assim, para o nível da mera
subsistência e animalidade. Com este segundo método, surge o
desenvolvimento deteriorado e atrofiado do trabalhador física e socialmente e o
trabalhador passa a viver abaixo dos limites físicos e morais necessários e
adequados a todo homem livre e racional.
O que é e como se determina, portanto, a duração de uma jornada diária
de trabalho? Sem dúvida, dura menos que um dia de vida natural. Quanto
menos, porém? O capital tem sua própria visão sobre este menos. Para ele, a
jornada total de trabalho deve estar sempre próxima, se não igual, à duração
do dia natural de 24 horas. Para ele, o tempo total de vida do trabalhador deve
ser igual ao tempo total dedicado ao trabalho. Como diz Marx nesta seção
sobre a formação da jornada de trabalho:
“Como capitalista ele é apenas capital personificado. Sua alma é
a alma do capital. O capital tem um único impulso vital, o impulso
de valorizar-se, de criar mais-valia, de absorver com sua parte
constante, os meios de produção, a maior massa possível de
mais-trabalho. O capital é trabalho morto, que apenas se reanima,
à maneira dos vampiros, chupando trabalho vivo e que vive tanto
mais quanto mais trabalho vivo chupa. O tempo durante o qual o
trabalhador trabalha é o tempo durante o qual o capitalista
consome a força de trabalho que comprou. Se o trabalhador
consome seu tempo disponível para si, então rouba ao capitalista.
O capitalista apoia-se pois sobre a lei do intercâmbio de
mercadorias. Ele, como todo comprador, procura tirar o maior
proveito do valor de uso de sua mercadoria” (pp. 179-180). [p. 347
AC]
As palavras vigorosas de Marx deixam claro, como dissemos, quão
distante estamos de todos aqueles princípios morais abstratos da primeira
seção de O Capital, o quão distante estamos daquele falatório vazio dos
direitos humanos, da dignidade da pessoa humana, da autonomia da vontade,
do homem como um fim em si mesmo, da liberdade, da igualdade e da justiça
entre os homens. O capitalista aqui, nosso personagem real e efetivo do
mundo das trocas, aparece descrito em toda a sua vivacidade dramático-
poética. O capitalista, como todo comprador, deseja tomar para si todos os
poderes úteis da mercadoria que comprou. Como legítimo detentor do valor-de-
uso da mercadoria comprada, ele deseja desfrutar de todos os seus poderes,
de todas as suas capacidades úteis e produtivas. Apoiado sobre a lei de
intercâmbio de mercadorias, lei que agora o favorece, o capitalista deseja se
apossar da alma, da vontade, do corpo e do tempo de vida do trabalhador
totalmente para si. A abstrata liberdade e autonomia da vontade de nosso
ponto de partida converte-se, agora, em dominação e escravidão reais e
efetivas de uma vontade sobre a outra. A abstrata igualdade entre os homens
converte-se agora em desigualdade e exploração. O paraíso dos direitos do
homem converte-se em paraíso dos direitos do capitalista.
De repente, porém, levanta-se a voz, não mais a do próprio Marx,
redator de O Capital, nem muito menos a do capitalista, mas a do próprio
trabalhador que como diz Marx, até aqui estava emudecida pelo estrondo do
processo de produção:
“A mercadoria que te vendi distingue-se da multidão das outras
mercadorias pelo fato de que seu consumo cria valor e valor
maior do que ela mesma custa. Essa foi a razão por que a
compraste. O que do teu lado aparece como valorização do
capital é da minha parte dispêndio excedente de força de
trabalho. Tu e eu só conhecemos, no mercado, uma lei, a do
intercâmbio de mercadorias. E o consumo da mercadoria não
pertence ao vendedor que a aliena, mas ao comprador que a
adquire. A ti pertence, portanto, o uso de minha força de trabalho
diária. Mas por meio de seu preço diário de venda tenho de
reproduzi-la diariamente para poder vendê-la de novo. Sem
considerar o desgaste natural pela idade etc., preciso ser capaz
amanhã de trabalhar com o mesmo nível normal de força, saúde e
disposição que hoje. Tu me predicas constantemente o evangelho
da “parcimônia” e da abstinência”. Pois bem! Quero gerir meu
único patrimônio, a força de trabalho, como um administrador
racional, parcimonioso, abstendo-me de qualquer desperdício tolo
da mesma. Eu quero diariamente fazer fluir, converter em
movimento, em trabalho, somente tanto dela quanto seja
compatível com a sua duração normal e seu desenvolvimento
sadio. Mediante prolongamento desmesurado da jornada de
trabalho, podes em 1 dia fazer fluir um quantum de minha força de
trabalho que é maior do que o que posso repor em 3 dias. O que
tu assim ganhas em trabalho, eu perco em substância de
trabalho. A utilização de minha força de trabalho e a espoliação
dela são duas coisas totalmente diferentes”. [pp. 347-348 Abril
Cultural]
Diante dos poderes opressores e despóticos do capitalista levanta-se
agora, então, a voz firme e decidida do trabalhador que, ainda no nível da
consciência sindical, opõe-se não ao emprego capitalista de suas capacidades
de trabalho enquanto tais, mas, sim e somente, por enquanto, ao emprego
desrespeitoso, desmedido e irracional destas forças.
Do caráter especial da mercadoria vendida, do desejo do
vendedor de ver sua mercadoria sendo usada e empregada de
modo racional e comedido, e do direito legítimo do comprador de
usar, usufruir e abusar livremente desta força, surge um conflito
violento que tende a aniquilar a relação entre ambos os agentes.
Da natureza do próprio intercâmbio de mercadorias não resulta,
porém, diz Marx, nenhum limite à jornada de trabalho, portanto,
nenhuma limitação ao mais-trabalho. Ocorre aqui, portanto, uma
antinomia, direito contra direito, ambos apoiados na lei de
intercâmbio de mercadorias. E entre direitos iguais decide a força,
[diz Marx]. (p. 181).
Como podemos perceber, o trabalhador, neste nível do processo de
produção, concorda com a legitimidade da relação capitalista de trabalho e
aceita ser usado e usufruído pelo patrão, o trabalhador não aceita apenas ser
abusado por ele. Abusar é fazer uso da coisa além de suas medidas e funções
naturais. Abusar é usar a coisa de modo irracional. É contra este emprego
abusivo, e não contra o emprego enquanto tal da força de trabalho pelo
capitalista, que nosso trabalhador se opõe aqui neste nível da exposição. A
consciência que aqui se manifesta é a consciência sindical do trabalhador, que
ainda aceita a relação capitalista de trabalho, que ainda não a concebe como
injusta em si mesma, que ainda a compreende como injusta somente em seu
excesso e abuso irracional, que ainda a compreende como injusta somente em
seu modo de ser e não ainda em sua essência, que ainda luta, ingenuamente,
para corrigir o defeito desta injustiça a adequá-la aos princípios e limites da
natureza e da razão.
A partir deste ponto, Marx passa a descrever o processo de lutas
travadas pela classe trabalhadora inglesa pelo direito a uma regulamentação
da jornada de trabalho diário e o surgimento das Leis Fabris. Tais leis, diz,
Marx, não abolem nem eliminam a perversidade da vontade do capitalista pela
alma e pela vida do trabalhador, estas leis apenas põem um freio legal, um
freio positivo e externo, a esta disposição insana do capitalista, um freio jurídico
posto, ironicamente, pelo Estado que os próprios patrões dominam e
controlam.
Marx explica que o capital não inventou o mais trabalho. O capital
inventou a prática da elevação desmedida e irracional do mais-trabalho. Tal
prática não tem sua origem numa propensão natural do homem para a
desmedida, mas, sim, no caráter e na alma da própria produção capitalista.
Nas sociedades pré-capitalistas há um limite natural e moral para esta
desmedida. Exceto em ramos da produção voltados diretamente para o valor
de troca do produto, como nas minas de ouro e prata da antiguidade, e
naquelas partes do mundo ainda atrasadas mas submetidas ao mercado
mundial capitalista, como na escravidão americana, nos principados do
Danúbio e nas províncias romenas da Valáquia e da Moldávia.
A partir do nascimento da grande indústria na última terça parte do
século XVIII surge um assalto desmedido e violento como uma avalanche
sobre a jornada diária de 12hs. Nasce, assim, a partir do nascimento da
mecânica, a possibilidade técnica de se estender a jornada de trabalho noite
adentro. Com a ciência mecânica e a Revolução Industrial do século XVIII,
“toda barreira interposta pela moral e pela natureza, pela idade ou pelo sexo,
pelo dia e pela noite foi destruída” diz Marx.(211). Surgem, assim, uma
revolução e uma adulteração jurídica dos conceitos de dia e noite.
Na Inglaterra, a partir da edição da Lei Fabril de 1833, a jornada de
trabalho cai para 15hs. Com a Lei Fabril de 8 de junho de 1848 ela cai para
11hs. Com a Lei Fabril de 1º de maio de 1848 chega-se à limitação definitiva
de 10hs. Surge, assim, diz Marx, um renascimento físico e moral dos
trabalhadores fabris. Na França, a Revolução de Fevereiro (1848) decreta a
legalização da jornada de 12hs. Nos EUA surge a agitação da jornada de 8hs
após a guerra civil e o fim da escravidão nos estados do sul.
Com estas vitórias, surge uma nova classe trabalhadora, mais vigorosa,
mais esclarecida e mais consciente de seus poderes políticos e
revolucionários. Do ponto de vista fenomenológico, o ponto de vista que por ora
nos interessa, surge um trabalhador diferente, diz Marx:
“É preciso reconhecer que nosso trabalhador sai do processo de
produção diferente do que nele entrou. No mercado ele, como
possuidor da mercadoria “força de trabalho”, se defrontou com
outros possuidores de mercadorias, possuidor de mercadoria
diante de possuidores de mercadorias. O contrato pelo qual ele
vendeu sua força de trabalho ao capitalista comprovou, por assim
dizer, preto no branco, que ele dispõe livremente de si mesmo.
Depois de concluído o negócio, descobre-se que ele não era
“nenhum agente livre”, de que o tempo de que dispõe para vender
sua força de trabalho é o tempo em que é forçado a vendê-la, de
que, em verdade, seu explorador não o deixa, “enquanto houver
ainda um músculo, um tendão, uma gota de sangue para
explorar”. Como “proteção” contra a serpente de seus martírios,
os trabalhadores têm de reunir suas cabeças e como classe
conquistar uma lei estatal, uma barreira social intransponível, que
os impeça a si mesmos de venderem a si e à sua descendência,
por meio de contrato voluntário com o capital, à noite e à
escravidão! No lugar do pomposo catálogo dos “direitos
inalienáveis do homem” entra a modesta Magna Charta de uma
jornada de trabalho legalmente limitada que “finalmente esclarece
quando termina o tempo que o trabalhador vende e quando
começa o tempo que a ele mesmo pertence”. (pp. 228/229).
Neste nível, como podemos perceber, passamos da gritaria pomposa da
dignidade da pessoa humana e dos direitos humanos, da reivindicação dos
chamados direitos civis e humanos, dos direitos pela igualdade entre os
homens, passamos do Direito Civil para o Direito Trabalhista e a Magna Carta
que regulamenta juridicamente a duração da jornada de trabalho do
trabalhador. Neste nível passamos, ainda, da liberdade e autonomia da
vontade individuais da pessoa humana, dou eu individual, para um eu coletivo,
o eu da classe trabalhadora, o eu das muitas cabeças individuais agora
reunidas em torno de uma luta contra o mesmo opressor, de uma mesma meta
e de um mesmo modo de ser, de um modo de ser coletivo e não mais
atomizado e fragmentado como no mercado geral de mercadorias.
A conquista de uma jornada regulamentada de trabalho, porém, sua
fixação entre oito e dez horas diárias, é uma vitória de Pirro. Quantum mutatus
ab illo! Que grande mudança! Diz Marx citando a Eneida de Virgílio [Livro
Segundo. Verso 274]. Todas estas lutas, todas estas energias gastas, todas
estas vidas que se perderam nestes combates, conseguiram somente aplicar
um regime de trabalho da época das corporações de ofício e da Idade Média já
destruída pela modernidade, diz Marx.
4. NEGAÇÃO
Seção VII: análise e crítica do processo global do capital = D - M [FT +
MP] ... P ... M’ - D’ – D - M [FT + MP] ... P ... M’ - D’ – D - M [FT + MP] ... P ...
M’ - D’. O dinheiro se reproduz incessantemente retornando sempre ao seu
ponto de partida elevado quantitativamente. D se converte em D’ mediante
extração de mais-valia do operário, D’, por sua vez, retorna à circulação e se
converte novamente em D que se converte, por sua vez, numa massa
acrescida de M [FT + MP] que ao ser posta em atividade no interior da fábrica
(... P ...) se converte numa massa maior de mercadorias (M’), que, posta para
circular no mercado, se converte novamente em D’, que reinicia novamente
todo o processo numa escala mais elevada que no começo e assim sempre de
novo como num círculo vicioso.
Repetição sem fim de todo o processo anterior e unidade sintética de
todos os momentos da circulação com o da produção e reprodução do capital.
A exposição cai numa repetição circular e sem fim, por isso, surge a
necessidade de se marchar para além dela e de transpor a esfera insossa da
reprodução social buscando a gênese histórica e o princípio original do capital
e do capitalismo.
O momento sintético e a negação da negação: o processo de
acumulação do capital (o processo contraditório está completamente
desvelado, o princípio pressuposto está finalmente posto e o capital é então
negado pela sua própria negação).
a) A reprodução do capital social.
a.1) Negação do salário como adiantamento do capitalista.
a.2) Negação do capital acumulado como conservação do capital
original.
a.3) Negação da lei da troca de equivalentes e sua conversão em
troca sem equivalência alguma para o trabalhador.
a.4) Negação do capital acumulado como criação do capitalista.
a.5) Negação do consumo do trabalhador como consumo individual.
a.6) Negação do trabalho assalariado como trabalho livre.
a.7) A reprodução do capital como reprodução do capitalista
enquanto capitalista e do trabalhador enquanto trabalhador.
Neste nível de exposição avançamos para além de toda referência
sensível às classes e às contradições entre elas. Começamos nossa exposição
pela esfera da circulação simples de mercadorias, avançamos até a esfera da
compra e venda da força de trabalho e a encerramos com a análise da esfera
da produção da mais-valia. Agora, teremos quer recomeçar novamente a partir
de nosso ponto inicial, a esfera da circulação simples de mercadorias, e repetir
novamente todo o processo. Teremos que repetir novamente todo o processo
anterior. Teremos que avançar, portanto, para a esfera da reprodução do
capital, para a esfera da repetição contínua dos momentos anteriores, já que o
capital tem como fim a valorização incessante e sem fim do valor. Tomamos
como suposto, portanto, que M’, a mercadoria grávida de mais-valia, foi
realizada normalmente no mercado. A realização do valor e suas contradições
serão analisadas por Marx apenas no Livro Segundo.
O processo recomeça e se encerra, portanto, sempre no mesmo ponto
dos momentos anteriores. D-M (FT + MP)...P...M’-D’-D-M (FT + MP) ...P... M’-
D’-D-M (FT + MP)...P...M’-D’ e assim infinitamente (até a crise, onde o
processo se interrompe). Este nível da reprodução social do capital é uma
mera repetição dos níveis anteriores. Contudo, esta simples repetição produz
alterações notáveis na exposição e no processo de desvelamento das
fantasmagorias da sociedade capitalista. Neste nível são definitivamente
superadas as hipóteses burguesas, provisoriamente aceitas como verdades
por Marx, sobre a troca de equivalentes entre capital e trabalho, do salário
como desembolso próprio (como adiantamento) do patrão ao operário, do
salário como custo de produção, das leis de apropriação baseadas na
produção de mercadorias e sua transmutação em leis de expropriação
capitalista. Neste nível Marx demonstra a falsidade completa da troca de
equivalentes entre capital e trabalho, demonstra que o capital sobrevive
mediante aplicação desenfreada e sem limites da lei do valor. Demonstra que
esta mesma lei quando levada ao seu desenvolvimento extremo se converte
em troca sem equivalência para o trabalhador, ou melhor, se converte na
ausência de troca, se converte em mera circulação de produtos sem troca, e
sem equivalência, portanto, pois o trabalhador recebe do patrão na forma de
salário uma riqueza que ele mesmo produziu no processo anterior.
Neste nível, nesta mera repetição do processo anterior, Marx demonstra
que no segundo período de produção (seja dia, semana ou mês), o patrão
paga o operário, na forma de salário, com a riqueza que o próprio operário
produziu no período anterior. Demonstra também que os novos operários
adicionais contratados pelo capitalista no processo de expansão do capital são
pagos com mais-valia produzida pelos primeiros operários do momento anterior
e nunca pelo capital do próprio capitalista, como prega a ideologia burguesa.
Marx demonstra, ainda, mediante mera repetição do processo global, que após
certo número de anos todo o capital original foi consumido pelo capitalista e
sua família na forma de renda do capitalista e que todo o capital ainda existente
é mais-valia acumulada no processo, é trabalho excedente do trabalhador que
se converteu em capital. Marx demonstra neste nível que todas as noções de
equivalência entre capital e trabalho são puras ilusões, puras aparências, puras
fantasmagorias surgidas da circunstância de que a relação monetária entre
capital e trabalho esconde a fundamental diferença entre trabalho e força de
trabalho.
A crise aparece em suas formas mais concretas e explosivas que nas
seções anteriores, aparecendo claramente como uma crise nas relações de
produção entre as classes e num divórcio impossível de ser evitado. Se as
seções anteriores haviam negado o princípio de equivalência na troca entre
capital e trabalho, agora é negada a própria troca entre capital e trabalho. Ao
comprar trabalho com mais-valia o capitalista compra na verdade trabalho com
trabalho, negando, portanto, que o trabalho seja comprado com capital e que
haja reciprocidade e equivalência nas trocas entre ele e o trabalhador. As leis
da troca de mercadorias baseadas na equivalência entre elas transformam-se,
desta maneira, em leis da apropriação capitalista sem troca. A riqueza
acumulada pelo capitalista aparece, portanto, como expropriação, saque,
pilhagem e roubo sobre o trabalhador. A crise se mostra, desta maneira, como
crise social, como crise que emana das relações sociais antagônicas entre
capital e trabalho.
Marx revela com sua dialética impiedosa que liberdade, igualdade,
fraternidade e propriedade no polo do trabalhador são puras ilusões
provocadas pela forma salário da remuneração do trabalhador, revela que a
reprodução do capital reproduz necessariamente, não de forma casual,
portanto, o trabalhador como trabalhador e o patrão como patrão, mais rico e
poderoso a cada repetição do processo. A exposição ganha neste nível uma
determinação importante que ainda não surgira nos momentos anteriores.
Enquanto nos níveis anteriores estavam contrapostos frente a frente um
capitalista individual e determinado e um operário individual, e do mesmo modo
determinado (base das ilusões de escolha livre do operário), agora estão
contrapostas frente a frente a totalidade das classes, a totalidade da sociedade.
Postas as classes em sua totalidade, dissolve-se então a falsa concepção que
o trabalhador tinha sobre sua liberdade de escolha e de movimentos. Caso
nenhum capitalista particular comprar sua força de trabalho, então o
trabalhador será desterrado para o charco do desemprego, da superpopulação
excedente e do exército industrial de reserva e separado, portanto, dos meios
de subsistência que lhe garantem a vida.
Neste nível quase todas as hipóteses vazias da economia burguesa
foram varridas pela dialética impiedosa de Marx, quase todas as falsas
explicações da apologética burguesa foram destruídas pela dialética da
exposição. A força do negativo e do pensamento dialético mostram aqui todo o
seu vigor crítico e destrutivo. A exposição, contudo, permanece ainda abstrata,
ela parece girar em círculos sem sair para fora dela mesma. Dinheiro se
converte em mercadorias e daí em mais dinheiro, que por sua vez se converte
em mais mercadorias e em mais dinheiro ainda e assim incessantemente. Falta
ainda destruir uma última, e sagrada, concepção da economia burguesa, falta
ainda demonstrar a origem do primeiro capital, e do primeiro capitalista, que
funda e impulsiona todo o processo, falta ainda explicar a origem do capital. A
apologética burguesa procura explicar que este primeiro capital surge com a
emergência de um novo tipo de homem em fins da Idade Média, extremamente
parcimonioso e frugal, empreendedor e perseverante que, a partir de sua
própria genialidade, a partir de seu próprio trabalho individual, fundou e
impulsionou todos os progressos do capitalismo.
5. NEGAÇÃO DA NEGAÇÃO
b) A assim chamada acumulação originária de capital:
b.1) a gênese violenta do capital e do capitalista.
b.2) A tendência histórica da produção capitalista:
1) momento positivo: a expropriação violenta do produtor direto
e independente pelo capital enquanto tal.
2) momento negativo: a expropriação violenta do pequeno
capital pelo grande.
3) momento da negação da negação: a revolução socialista e a
expropriação violenta do capital enquanto tal pelo
proletariado.
c) Um novo princípio é posto a partir da revolução socialista. A
humanidade finalmente sai da sua pré-história e avança em direção
ao futuro reconciliada consigo mesma e com a Natureza. É o fim da
propriedade privada e da irracionalidade do capital. É o começo da
planificação econômica pelos produtores diretos agora livremente
associados.
Para fugir da viciosa exposição circular dos capítulos anteriores é
necessário sair fora dela e recuar às origens históricas do capitalismo,
mostrando que todo o processo de valorização do valor se apoia na mais
bárbara violência dos homens sobre os próprios homens. É o momento de
revelar o princípio fundador do capital e das tendências gerais da sociedade
capitalista. É o momento da negação da negação. Os operários se elevam
acima de sua mera condição fabril e produtiva tornando-se uma classe social
mundialmente revolucionária. A luta de classes se eleva acima das lutas
meramente sindicais e positivas das seções anteriores transformando-se em
luta revolucionária e em torno do poder político da sociedade. Nesta seção, a
crise é finalmente resolvida e abolida pela tomada do poder pelo proletariado e
pela instauração de uma economia socialista planificada. Da aparente unidade
e ausência de crise entre as classes na primeira seção de O Capital, na última
seção chega-se, finalmente, à crise absoluta da sociedade capitalista e à luta
de classes com toda a sua força e atualidade.
Neste nível de exposição Marx atinge o ápice do processo dialético de
desvelamento das contradições da sociedade burguesa. Agora é revelado o
princípio histórico que funda o capital, o capitalista e sua sociedade: a violência
aberta e bárbara da luta de classes. Agora a apologética burguesa sofre seu
último golpe: a origem violenta da propriedade privada é desvelada. Por
acumulação originária Marx entende o processo de separação violento do
trabalhador de seus meios de produção fundamentais (da terra, dos
instrumentos de trabalho e dos meios de subsistência) e sua transformação em
força de trabalho livre, em trabalhador assalariado. Esta acumulação originária
forma a pré-história do capital e nela desempenha papel central a mais pura e
indisfarçada violência direta sobre a classe trabalhadora em formação e sobre
os povos retardatários da história.
Ao desvelar a gênese histórica e o princípio fundante do capital, a
violência aberta da luta de classes, Marx pode entender as tendências futuras
do capital. Ao compreender a gênese do passado pode desvendar o sentido
das tendências futuras. A tendência histórica da acumulação capitalista pode,
assim, ser compreendida em seus três momentos fundamentais:
1) Momento afirmativo/positivo do capital: é o momento da expropriação
dos produtores diretos (servos de gleba, camponeses, colonos livres,
mestres e artesãos corporativos de fins da Idade Média européia) e sua
conversão em trabalhadores assalariados. Expropriação da propriedade
privada baseada no trabalho e sua conversão em propriedade capitalista
pelos capitalistas ingleses dos séculos XIV-XVII. Transformação do
trabalho individual e disperso pelo campo e em pequenas oficinas
urbanas em trabalho social nas grandes manufaturas urbanas. Fim do
isolamento dos trabalhadores e sua reunião em grandes centros
industriais urbanos.
2) Momento negativo do capital: expropriação da pequena propriedade
capitalista pelo grande capital, ruína do pequeno capital pela
concorrência no interior da própria sociedade capitalista já desenvolvida.
Formação dos grandes monopólios internacionais, controle consciente
das forças da natureza e sua aplicação na produção. Formação de uma
economia verdadeiramente mundial baseada na interdependência entre
as nações e superação do isolamento entre os homens em todas as
nações. Formação de uma única nação capitalista mundial. Formação
de uma vasta classe operária mundial reunida em torno das grandes
fábricas multinacionais e grandes centros urbanos industriais.
Superação da propriedade privada por meio do sistema de ações,
superação da necessidade histórica do capitalista individual frente ao
processo de produção e sua substituição por gerentes executivos
assalariados. Negação da propriedade privada à maioria da
humanidade. Sobrevivência da propriedade privada sob forma antitética,
como Sociedade Anônima. O capital gesta, no interior de si mesmo, uma
forma de produção social que contradiz seu princípio privado. Gesta,
ainda, seus futuros coveiros reunidos em torno da grande indústria e
responsáveis pela negação deste segundo momento.
3) Momento da negação da negação: é o momento da expropriação dos
expropriadores pela massa dos trabalhadores, é o momento da
expropriação da minoria reduzidíssima da população que ainda
permanece proprietária, como sócia acionista, pela maioria da
população. É o momento da revolução operária e a formação de um
novo modo de produção, é o momento da economia planificada, da
ditadura revolucionária do proletariado e o começo da verdadeira história
humana. A violência usada pelo capital se volta contra ele para fundar
uma nova história, sem capital, sem propriedade privada, sem classes e
sem exploração de classes. Com a revolução operária as contradições
da sociedade capitalista são finalmente abolidas e resolvidas. Surgem
novas contradições, mas não de caráter capitalista. Com a negação da
negação se dissolve e se encerra não apenas o processo de exposição
das contradições do capital, mas se encerra, ao mesmo tempo, a
história da própria sociedade capitalista. A partir daí um novo princípio é
posto e com ele se desenvolve uma nova história.
RESUMINDO OS PASSOS DA EXPOSIÇÃO
1) M – D – M: começo puramente formal e abstrato da exposição. Momento
positivo da exposição. Os operários aparecem como indivíduos livres e
dispersos pelo mercado. M (uma mercadoria qualquer) se converte em D
(dinheiro) que será reconvertido noutra mercadoria (M) qualquer. O dinheiro
não aparece ainda como dinheiro, mas como moeda, como meio de circulação.
O dinheiro não aparece ainda como o fim do processo de troca. O fim da troca
aparece, ilusoriamente, como M, como a satisfação de uma necessidade
humana qualquer. Consciência de classe alienada: esfera jurídica dos Direitos
Humanos.
2) D – M – D’: surgem as primeiras contradições da fórmula geral do capital na
esfera da circulação (crítica à noção de que a mv surge desta esfera). O
dinheiro surge como dinheiro exatamente, como valor que deve se valorizar na
circulação. O dinheiro aparece agora como o fim do processo. O problema aqui
é explicar como o dinheiro pode, seguindo a lei do valor (comprar e vender pelo
valor) se valorizar no processo. O problema é explicar como o dinheiro (D), ao
se converter em M (uma massa de valor igual a D), sai ao fim do processo
maior do que entrou no começo sem violar as leis da troca de mercadorias.
3) FT – D – M: mediação dialética entre o começo abstrato e indeterminado e a
esfera da produção (o mercado está mais determinado, é mercado de força de
trabalho). Momento da venda da força de trabalho (FT) pelo operário ao
capitalista, momento da conversão da força de trabalho em D (dinheiro) e, mais
tarde, em meios de subsistência (M) do trabalhador. D só pode se converter em
D’ caso entrar em relação com uma mercadoria determinada, a força de
trabalho (FT) do trabalhador, com uma mercadoria que possui a peculiaridade
de gerar uma soma de valor acima de seu próprio valor. Momento da
consciência sindical do trabalhador e da criação do Direito Trabalhista.
4) D – M (FT + MP) ... P ... M’ – D’: negação determinada do começo. A
valorização do valor é exposta na esfera da produção capitalista. Momento
negativo da exposição. Os operários surgem como um categoria determinada
da sociedade, estão reunidos pelo capital em torno de uma grande fábrica,
também determinada, e lutam por reivindicações ainda positivas e de caráter
sindical. Dinheiro (D) se converte em certas mercadorias determinadas (força
de trabalho e meios de produção). ...P... indica a paralisia transitória do
processo de valorização do valor na esfera da produção. O valor ressurge
valorizado ao final do processo de produção com M’. O valor, porém, ressurge
valorizado numa forma determinada e rígida da produção social, ressurge sob
a forma de M’ com valor superior ao valor adiantado inicialmente. D’
representa a transmutação do valor de sua forma rígida e determinada para a
forma líquida, fluente, indeterminada e universal da riqueza. Com D’ o dinheiro
retorna ao seu ponto de partida mais elevado quantitativamente. O fim do
processo, valorizar o valor, foi atingido. D se converteu em D’, isto é, dinheiro
se converteu em mais-dinheiro, mediante extração de mais-trabalho do
operário. Momento da consciência de classe combativa do proletariado.
Surgimento das greves e ocupações de fábricas.
5) D – M (FT + MP) ... P ... M’ – D’ – D – M (FT + MP) ... P ... M’ – D’ – D – M
(FT + MP) ... P ... M’ – D’: unidade sintética dos dois momentos anteriores (da
circulação e da produção). A exposição cai numa repetição circular sem fim,
surge a necessidade de ir além dela, de transpor a esfera insossa da
reprodução social e buscar a gênese e princípio do capital. O dinheiro se
reproduz incessantemente, retornando sempre ao seu ponto de partida elevado
quantitativamente. D se converte em D’ mediante extração de mais-valia do
operário, D’, por sua vez, retorna à circulação e se converte novamente em D
que se converte, por sua vez, numa massa acrescida de M (ft + mp) que ao
ser posta em atividade no interior da fábrica (...P...) se converte numa massa
maior de mercadorias (M’), que, posta para circular no mercado, se converte
novamente em D’, que reinicia novamente todo o processo numa escala mais
elevada que no começo e assim sempre de novo como num círculo vicioso.
6) Acumulação originária: exposição do princípio fundador do capital e das
tendências gerais da sociedade capitalista. É o momento da negação da
negação. Os operários se elevam à condição de classe social, estão
internacionalmente ligados pela grande indústria multinacional e lutam pela
revolução internacional. Para fugir da exposição circular é necessário sair fora
dela e recuar às origens históricas do capitalismo e mostrar que todo o
processo de valorização do valor se apóia na mais bárbara violência do homem
sobre o próprio homem. Momento da consciência revolucionária do
proletariado, da dualidade de poderes e da revolução socialista.
A exposição (pôr para fora o que está apenas pressuposto, não posto,
implícito, escondido e velado), avança, assim, negativa e gradualmente, do
começo abstrato e indeterminado, da imediatez abstrata do mercado, a níveis
cada vez mais profundos, complexos e determinados da realidade. A exposição
avança cada vez mais dialeticamente do começo para o fim, mas para um fim
que é na verdade princípio determinado, fundamento e gênese de tudo e segue
em direção ao futuro socialista, à negação da negação, em escala mundial e
verdadeiramente universal. Assim, no método de exposição dialético, avançar é
um retroceder ao princípio que funda e rege todo o processo, avançar a
exposição é expor, por meio de uma série complexa de mediações, o princípio
que está pressuposto e ainda velado, avançar é conduzir o leitor
pedagogicamente do começo indeterminado e abstrato aos níveis mais
profundos e verdadeiros da realidade, avançar a exposição é avançar o leitor
de O Capital da passividade e alienação do mercado em direção à atividade
prática revolucionária.
O princípio, ponto de chegada da análise, contudo, é ponto de chegada
apenas na aparência. Na verdade ele está posto, desde o começo da
exposição, como pressuposto velado que rege todo o processo. O princípio é
ponto de chegada na exposição apenas para aqueles que realizam pela
primeira vez a leitura de O Capital. Para Marx, seu autor, e para a vanguarda
conhecedora do processo, ele está desde o começo como pressuposto, como
aquilo que ainda deve ser exposto, isto é, como aquilo que ainda dever ser
posto explicitamente, como a meta a ser desvelada lenta e gradualmente ao
longo do processo de exposição.
Assim, o recém-iniciado na leitura de O Capital começa sua leitura sem
pressuposto, isto é, sem conhecer o princípio e o fim almejado pela exposição,
e o fim almejado pela exposição é converter o leitor comum, passivo e alienado
na esfera do mercado, em um ativista revolucionário. Para Marx e para a
vanguarda, o princípio e o fim, contudo, são conhecidos desde o começo da
exposição, o princípio e o fim estão postos desde o começo como meta a ser
alcançada. A meta da leitura dialética de O Capita deve ser, por isso, encurtar
a distância que existe entre a vanguarda teórica e conhecedora do processo e
os novos militantes do movimento socialista que ainda se encontram confusos
pela leitura sociológica de O Capital e militando a esmo sem logos e sem
qualquer arkhé.
Uma vez conhecido o princípio, torna-se possível a superação dialética e
revolucionária do capital desde o começo da exposição, desde a dispersão dos
operários na instância imediata do mercado até a revolução socialista.
Conhecido o princípio e posto ele, como pressuposto, desde o começo da
exposição torna-se possível à vanguarda revolucionária conduzir o proletariado
em luta, dialeticamente, como faz Marx com seus leitores, desde a instância
alienante e fetichizada do mercado até a revolução socialista e a negação da
negação.
Para isso será necessário, porém, uma vanguarda conhecedora do
processo que tenha o princípio (meta) como pressuposto, que tenha um
programa transitório, um programa-ponte. Para isto será necessário um
programa-ponte, um programa que ligue dialeticamente, por meio de uma série
complexa de mediações, a consciência falsa e enganosa dos trabalhadores
com a consciência revolucionária da vanguarda, que ligue a condição e a
consciência dadas e objetivas dos trabalhadores com a necessidade histórica
de superação da sociedade capitalista pela luta de classes.
Ao longo da exposição Marx vai lentamente expondo, portanto, não
apenas a natureza contraditória da realidade capitalista, mas vai expondo,
ainda, como as contradições do sistema são insolúveis no interior das relações
capitalistas de produção. Ao longo da exposição Marx demonstra, científica e
dialeticamente, que a solução definitiva e total para a crise do sistema
capitalista só pode ser alcançada com a revolução operária e a planificação
socialista da produção.
APARENTE ESQUEMA EXPOSITIVO DE O CAPITAL
Ponto de partida aparente Mediações Ponto de chegada
M-D-M. A mercadoria aparece
como um universal abstrato,
aparente ausência das classes e
da luta de classes, aparente
ausência de pressuposto. As
classes aparecem mistificadas
sob a forma de indivíduos livres.
D-M-D’; Ft-D-M; D-M
(ft+mp)...P...M’-D’;
repetição insossa do
processo. O
pressuposto é lenta e
gradualmente
desvelado. A classe
trabalhadora se eleva a
um grau superior, mas
aparece ainda como
determinada categoria
que luta por direitos
positivos e de caráter
sindical.
Acumulação originária: a
violência da luta de classes é
posta como pressuposto. A
classe trabalhadora é elevada à
condição de universal concreto.
Descrição das tendências gerais
do capitalismo. A revolução
operária surge como negação da
negação do processo total.
VERDADEIRO ESQUEMA EXPOSITIVO DE O CAPITAL
Ponto de partida de Marx
e da vanguarda
Ponto de partida
do leitor alienado
Mediações Ponto de chegada nosso e
do leitor
O princípio está
pressuposto para Marx e
a vanguarda desde o
começo. As classes, a
luta de classes e a
revolução estão
pressupostas desde o
começo da exposição.
Aparente
ausência de
classes, de luta
de classes e de
revolução. As
classes, a luta
entre elas e a
revolução estão,
contudo,
pressupostas na
exposição e para
a vanguarda.
Idem esquema
anterior.
Idem esquema anterior. A
consciência alienada do
leitor se eleva junto à
consciência revolucionária
de Marx e da vanguarda e
é possível reiniciar
novamente o processo em
um novo patamar dialético.
O princípio, agora
conhecido, é posto
dialeticamente no começo
como pressuposto e torna-
se possível desenvolver
uma luta consciente contra
a sociedade capitalista.
Recommended