A Linguagem Literaria

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A LINGUAGEM LITERRIA Domcio Proena Filho (excertos)

UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO - UCBCENTRO DE EDUCAO DISTNCIA CEAD

CURSO DE LETRAS

TEORIA DA LITERATURA I

PROF. WALLACE MARRIEL

FILHO, Domcio Proena. A Linguagem Literria. So Paulo: tica, 1986. Srie Princpios. (p. 5-10 e 36-44)

A LINGUAGEM LITERRIA

(p. 5-10)

1. Introduo

Texto literrio, texto no-literrio

Imaginemos que, na comunicao cotidiana, algum nos diga a seguinte frase:

- Uma flor nasceu no cho da minha rua!

Conforme as circunstncias em que dita, isto , de acordo com a situao de fala, entendemos que se refere a algo que realmente ocorreu, corresponde a um fato anterior ao seu enunciado e de fcil comprovao. Mesmo diante de sua transcrio escrita, o que nela se comunica basicamente permanece.

Num ou noutro caso, para trazer essa informao, o nosso interlocutor selecionou uma srie de palavras do idioma que nos comum e, de acordo com as regras que presidem o seu funcionamento e que todos conhecemos, as disps numa seqncia. A seleo feita e a sucesso estabelecida conferem frase uma significao que pode ser submetida prova da verdade em relao realidade imediata. Como fcil concluir, isso que acontece ao nos comunicarmos no dia-a-dia do nosso convvio social.

Retomemos a nossa frase inicial, agora ligeiramente modificada e combinada com outros elementos:

Uma flor nasceu na rua!

Passem de longe, bondes, nibus, rios de ao do trfego.

Uma flor ainda desbotada

ilude a polcia, rompe o asfalto.

Faam completo silncio, paralisem os negcios,

Garanto que uma flor nasceu.

Sua cor no se percebe.

Suas ptalas no se abrem.

Seu nome no est nos livros.

feia. Mas realmente uma flor.

Percebemos, desde logo, que estamos diante de uma utilizao especial da lngua que falamos. O ritmo que caracteriza o texto, a natureza do que se comunica e, ao chegar at ns por escrito, a distribuio das palavras no espao do papel, justificam essa concluso. A nossa frase-exemplo depende tambm, como ato lingstico que , da gesticulao e da entoao que a acompanharem ao ser enunciada; por fora, entretanto, de sua situao nesse conjunto e da associao com as demais afirmaes que a ela se vinculam, abre-se para um sentido mltiplo, ganha marcas de ambigidade: no contexto do fragmento transcrito e da totalidade do poema de que faz parte A flor e a nusea, de Carlos Drummond de Andrade podemos entender essa flor como esperana de mudana, por exemplo. Mas esse sentido que o texto a ela confere no reproduz nenhuma realidade imediata; nasce to-somente do prprio texto. A flor dessa rua deixa de ser um elemento vegetal para alar-se condio de smbolo, ganha uma significao que vai alm do real concreto e que passa a existir em funo do conjunto em que a palavra se encontra. claro que os versos remetem a uma realidade dos homens e do mundo, mas muito mais profunda do que a realidade imediatamente perceptvel e traduzida no discurso comum das pessoas. o que acontece com essa modalidade de linguagem, a linguagem da literatura, tanto na prosa, como nas manifestaes em verso.

Na prosa, por exemplo, podemos encontrar a palavra flor em outro contexto lingstico e com outro sentido, que lhe conferido exatamente por essa nova circunstncia: trata-se do romance Memrias Pstumas de Brs Cubas, onde o termo parece numa afirmao vinculada a um famoso personagem criado pelo escritor: Uma flor, o Quincas Borba.

A est um contedo inteiramente distinto do que se configura no poema drummondiano e que s pode ser percebido plenamente, na fora de sua causticante ironia, quando a frase considerada na totalidade do romance de que faz parte. possvel perceber a estreita relao entre a dimenso lingstica e a dimenso literria que envolve a significao das palavras quando estas integram o sistema semitico que o texto literrio.

Os trs exemplos que acabamos de examinar permitem algumas concluses:

A fala ou discurso , no uso cotidiano, um instrumento da informao e da ao e no exige, no mais das vezes, atitude interpretativa. A significao das palavras, nesse caso, tem por base o jogo de relaes configuradoras do idioma que falamos.

A fala comum se caracteriza pela transparncia. O mesmo no acontece com o discurso literrio. Este se encontra a servio da criao artstica. O texto da literatura um objeto de linguagem ao qual se associa uma representao de realidades fsicas, sociais e emocionais mediatizadas pelas palavras da lngua na configurao de um objeto esttico. O texto repercute em ns na medida em que revele emoes profundas, coincidentes com as que em ns se abriguem como seres sociais. O artista da palavra, copartcipe da nossa humanidade, incorpora elementos dessa dimenso que nos so culturalmente comuns. Nosso entendimento do que nele se comunica passa a ser proporcional ao nosso repertrio cultural, enquanto receptores e usurios de um saber comum.

O discurso literrio traz, em certa medida, a marca da opacidade: abre-se a um tipo especfico de descodificao ligado capacidade e ao universo cultural do receptor.

J se percebe o alto ndice de multissignificao dessa modalidade de linguagem que, de antemo, quando com ela travamos contato, sabemos ser especial e distinta da modalidade prpria do uso cotidiano. Quem se aproxima do texto literrio sabe a priori que est diante de manifestao da literatura.

Literatura: conceitos

A literatura , tradicionalmente, uma arte verbal. A persena do advrbio se justifica diante das inmeras propostas de vanguarda que, sobretudo a partir dos anos 60, buscaram espaos extraverbais para concretiz-la. No Brasil, o Movimento da poesia concreta e o Movimento do poema-processo so dois exemplos fortes dessas atitudes.

Por outro lado, tomo o termo, em sentido restrito, a partir de uma perspectiva esttica, isto , como o equivalente criao esttica, sem entrar no mrito da controvrsia que ainda hoje o acompanha.

Vale recordar que o conceito de literatura no matria pacfica entre os estudiosos que a ela se dedicam. Mesmo neste ltimo sentido, tem vivido variaes significativas ao longo da histria. Foge ao propsito deste volume restrear tais perspectivas; indicam-se, entretanto, na bibliografia do final do volume, algumas obras que podem ser esclarecedoras a propsito do assunto.

Essa posio no impede, porm, que sejam assinaladas duas concepes que a tm identificado com maior relevo no mbito da cultura ocidental:

H os que entendem que a obra literria envolve uma representao e uma viso do mundo, alm de uma tomada de posio diante dele. Tal posicionamento centraliza, assim, suas atenes no criador de literatura e na imitao da natureza, compreendida como cpia ou reproduo. A linguagem vista como mero veculo dessa comunicao, e, como assinala Marucie-Jean Lefebve, a beleza da obra resulta, ento, de um lado, da originalidade da viso, e, de outro, da adequao de sua linguagem s coisas expressas. a chamada concepo clssica da literatura.

No sculo XIX, os romnticos acrescentam algo a esse conceito: luz da ideologia que os norteia, entendem que ao artista cabe a viso das coisas como ainda no foram vistas e como so profunda e autenticamente em si mesmas.

A segunda metade da mesma centria assiste a uma mudana significativa: o ncleo da conceituao se desloca para o como a literatura se realiza. Sua especificidade, segundo essa nova viso, nasce do uso da linguagem que nela se configura.

consenso, na atualidade, que os aspectos estticos da obra literria podem ser alcanados atravs do texto e que todos eles tm uma base lingstica (sinttica, semntica ou estrutural).

A questo fundamental, e que continua desafiando os especialistas, a caracterizao da natureza das propriedades estticas do texto literrio e quais as ligaes entre ambos.

Este livro no tem a menor pretenso nem a veleidade de responder a essa indagao. Acredito, porm, que, se no podemos, at o momento, caracterizar plenamente a especificidade da literatura, temos possibilidade, graas ao desenvolvimento dos estudos e das pesquisas na rea, de indicar traos peculiares e identificadores do discurso literrio enquanto tal.

(p. 36-44)

5. Caractersticas do discurso literrio

Literatura e especificidade

Se a literatura uma arte, nessa condio ela um meio de comunicao de tipo especial e envolve uma linguagem tambm especial. Esta ltima, como j foi visto, apia-se numa lngua e se configura em textos em que se caracteriza uma determinada modalidade de discurso.

O cdigo em que se pauta o discurso literrio guarda ntima relao com o cdigo do discurso comum, mas apresenta, em relao a este, diferenas singularizadoras.

Diante do mistrio do fenmeno literrio, o grande desafio dos estudiosos e pesquisadores tem sido caracterizar plenamente essa especificidade.

Identificar, entretanto, certos traos peculiares do discurso literrio tem sido possvel: o que ainda no se conseguiu definir, mesmo luz desses traos, o ndice da chamada literariedade, busca mobilizadora sobretudo da crtica formalista e estruturalista.

A prposito, estudiosos como Greimas, por exemplo, vinculam a interpretao dessa literariedade a uma conotao scio-cultural e sua conseqente variao no tempo e no espao humanos.

Essa relatividade e essas limitaes no impedem que assinalemos uma srie de caracteres distintivos do discurso literrio em relao ao discurso comum. Vamos a eles.

Complexidade

O discurso da literatura se caracteriza por sua complexidade. No discurso no-literrio, h um relacionamento imediato com o referente; caracteriza-se, na maioria dos casos, a significao singular dos signos, marcados pela transparncia, como vimos na frase-exemplo Uma flor nasceu no cho da minha rua. J o que depreendemos do texto literrio ultrapassa, como j foi assinalado, os limites da simples reproduo. A natureza das informaes que, por seu intermdio, so transmitidas, vai alm do nvel meramente semntico para se converter em algo tal, que sua comunicao se torna impossvel atravs das estruturas elementares do discurso cotidiano.

No dispositivo verbal configurador da obra de arte literria, revelam-se realidades que, mesmo vinculadas a elementos de natureza individual ou de poca, atingem espaos de universalidade. Por seu intermdio se busca aceder plenitude do real.

Em certo sentido, a linguagem literria produz; a no-literria reproduz.

O texto literrio , ao mesmo tempo, um objeto lingstico e um objeto esttico.

Nessa situao, configura-se um sistema de signos secundrio em relao lngua de que se vale, esta funcionando, no caso, como o sistema 1. Entenda-se o adjetivo secundrio vinculado sobretudo natureza complexa que est sendo assinalada e no somente ao fato de que o sistema 1 uma lngua natural.

A obra de arte literria, valho-me ainda uma vez de Lefebve, sempre a interseco de dois movimentos de sentidos opostos que se envolvem, por um lado, um dobrar-se da literatura sobre si mesma num puro objeto de linguagem e, por outro lado, um abrir-se ao mundo interrogado na sua realidade e na sua presena essencial [...] movimentos contraditrios e entretanto solidrios, plos ao mesmo tempo complementares e antagonistas, criadores de um campo dinmico que s ele permite compreender os diversos aspectos do fenmeno literrio.

Multissignificao

Ao caracterizar-se no texto literrio um uso especfico e complexo da lngua, os signos lingsticos, as frases, as seqncias assumem significado variado e mltiplo. Assim, afastam-se, por exemplo, da monossignificao tpica do discurso cientfico, para s citar um caso.

nesse sentido que alguns estudiosos situam o distanciamento que a linguagem literria assume em relao ao que chamam grau zero da escritura.

Entenda-se, a princpio, grau zero como o discurso preocupado sobretudo com a plena clareza da comunicao nele veiculada e com a obedincia s normas usuais da lngua. (Para uma viso mais minuciosa do conceito, pode-se ver o livro de Roland Barthes, Novos ensaios crticos seguidos de o grau zero da escritura, edio da Cultrix de 1974.)

A literatura, na verdade, cria significantes e funda significados. Apresenta seus prprios meios de expresso, ainda que se valendo da lngua, ponto de partida. Superposto ao da lngua, o cdigo literrio, em certa medida, caracteriza alteraes e mesmo oposies em relao quele. um desvio mais ou menos acentuado em relao ao uso lingstico comum. Em termos literrios, por exemplo, assegurada a coerncia do conjunto em que inserssemos a afirmao, teriam sentido frases como a flor de nossa rua comeu todos os medos ou a flor expulsou todos os monstros e, fora desse mbito sinttico-vocabular, lembro versos como Um supremssimo cansao/ssimo, ssimo/cansao de Fernando Pessoa, onde, como se v, se fere, em nome da expressividade potica, a norma morfolgica do idioma no seu uso cotidiano.

E mais: para a plurissignificao do texto contribuem, como acentua Paul Ricoeur, fatores de ordem sincrnica e de ordem diacrnica. Vale dizer, os primeiros se vinculam carga significativa ligada s relaes entre as palavras no conjunto do texto de que fazem parte; j o plano da diacronia envolve tudo o que de significao e evocao o tempo agregou aos vocbulos, no decurso de sua histria, includas nessa totalidade as dimenses resultantes do uso das palavras na tradio literria.

Num ou noutro caso, a plurissignificao pode associar-se ao mbito scio-cultural, como quer, por exemplo, Della Volpe, ou a espaos miticos e arquetpicos, como pretende Northrop Frye; situo-me, no caso, entre os que acreditam que tais dimenses no se excluem, antes se complementam.

A multissignificao , pois, uma das marcas fundamentais do texto literrio como tal. o trao que permite, entre outras, as mltiplas leituras existentes da obra de Joo Cabral de Melo Neto, de Carlos Drummond de Andrade, de Guimares Rosa; que possibilita a Roland Barthes a sua apreciao da obra de Racine e que nos autoriza ler, em Iracema, de Jos de Alencar, uma sntese simblica do processo civilizatrio da Amrica, entre outras interpretaes. A permanncia de determinadas obras se prende ao seu alto ndice de polissemia, que as abre s mais variadas incurses e possibilita a sua atemporalidade.

Predomnio da conotao

A linguagem literria eminentemente conotativa. O texto literrio resulta de uma criao, feita de palavras. do arranjo especial das palavras nessa modalidade de discurso que emerge o sentido mltiplo que a caracteriza.

Os signos verbais, no texto de literatura, por fora do processo criador a que so submetidos, luz da arte do escritor, revelam-se carregados de traos significativos que a eles se agregam a partir do processo scio-cultural complexo a que a lngua se veicula. O texto literrio pode abrigar a presena de elementos identificadores de um real concreto, quase sempre garantidor de verossimilhana, como costuma tambm, nessa mesma dimenso, apresentar uma imagem desse real ligada estreitamente a outros elementos que fazem o texto. Essa presena, que pode trair uma dimenso denotativa, no , entretanto, seu trao dominante. Este reside na conotao, conceito fundamental para os estudos de literatura e de tal maneira que especialistas como Andr Martinet, Georges Mounin e, entre ns, Jos Guilherme Merquior chegam a admitir que nas conotaes reside o segredo do valor potico de um texto.

Liberdade na criao

As manifestaes literrias podem envolver adeso, transformao ou ruptura em relao tradio lingstica, tradio retrico-estilstica, tradio tcnico-literria ou tradio temtico-literria s quais necessariamente est vinculado o trabalho do escritor. A literatura se abre, ento, plenamente, criatividade do artista. Em seu percurso, ela consiste na constante inveno de novos meios de expresso ou numa nova utilizao dos recursos vigentes em determinadas pocas. Mesmo nos momentos em que a obedincia a determinados princpios pareceu regular os procedimentos literrios, a literatura, por sua prpria natureza, levou abertura de caminhos renovadores.

No existe uma gramtica normativa para o texto literrio. Seu nico espao de criao o da liberdade.

Se a norma, em alguns instantes, regulou a arte, o engenho foi sempre alm, com maior ou menor evidncia. E os movimentos de vanguarda, a constante exigncia e busca do novo continuam sendo suas marcas mais patentes, num curso que segue paralelo dinmica do processo cultural em que se integra. Nesse processo, ora o acompanha, ora se antecipa, transformadora, porta-voz do devir. Veja-se o Ulisses, de Joyce, por exemplo. O artista da palavra tem uma sensibilidade mais apurada do que a do comum das gentes, e essa acuidade mobiliza-lhe a criao progressora.

Na maioria dos casos, a prpria obra que traz em si suas prprias regras. A obra de arte literria se faz, fazendo-se.

Observe-se que as normas reguladoras do texto no-literrio, aquelas que se impem ao indivduo por corresponderem quilo que habitualmente se diz, precisam ser obedecidas, sob pena de srios rudos na comunicao e, em certas circunstncias, at de total obliterao do que se pretende comunicar. No texto literrio a criao esttica autoriza qualquer transgresso nesse sentido. E em termos de histria literria, mltiplos e vrios tm sido os percursos nessa direo, seja em termos individuais, seja ao nvel de poca.

nfase no significante

Enquanto o texto no-literrio confere destaque ao significado, ou seja, ao plano de contedo, o texto literrio tem o seu sentido apoiado no significado e no significante, com especial relevo concedido a este ltimo. A questo, entretanto, no pacfica. Sobretudo quando pensamos que, ao situar significante e significado no mbito da semitica, estes ganham dimenses que, embora relacionadas com a viso da lingstica, adquirem matizes diferentes e contribuem efetivamente para o sentido do texto, principalmente em termos da informao esttica que nele se configura. Num poema como o Soneto de separao, de Vincius de Morais, por exemplo, os fonemas bilabiais de certos vocbulos parecem contribuir para o sentido dominante no texto, centrado na separao entre dois seres:

Soneto de separao

De repente do riso fez-se o pranto

Silencioso e branco como a bruma

E das bocas unidas fez-se a espuma

E das mos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento

Que dos olhos desfez a ltima chama

E da paixo fez-se o pressentimento

E do momento imvel fez-se o drama.

De repente, no mais que de repente

Fez-se de triste o que se fez amante

E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo prximo o distante

Fez-se da vida uma aventura errante

De repente, no mais que de repente.

Textos h em que o significante sobressai de maneira ainda mais marcante, como neste poema concreto de Ronaldo Azeredo:

V V V V V V V V V V

V V V V V V V V V E

V V V V V V V V E L

V V V V V V V E L O

V V V V V V E L O C

V V V V V E L O C I

V V V V E L O C I D

V V V E L O C I D A

V V E L O C I D A D

V E L O C I D A D E

A questo facilmente compreensvel: basta substituir os vocbulos de um texto por sinnimos, para aquilatar a relevncia do significante. Pensemos na fala famosa do Hamlet, de Shakespeare:

To be or not to be: that is the question

(Ser ou no ser: eis a questo)

Veja-se o efeito de substituies:

Am I or am I not: that is the question

(Sou ou no sou: eis a questo)

ou

To be or not to be: that is what worries me

(Ser ou no ser: isso que me preocupa)

Evidentemente, perde-se muito do efeito esttico com as expresses substitutas, levando-se em conta, obviamente, o contexto em que as palavras do teatrlogo se inserem.

No Soneto de separao, de Vincius de Morais, bastante trocar algumas palavras para verificar a fora do significante, colocando, por exemplo, repentinamente em lugar de de repente; juntas, onde est unidas; ou tranqilidade, onde se encontra calma.

Variabilidade

O texto literrio se vincula, como foi assinalado, a um universo scio-cultural e a dimenses ideolgicas; sua natureza envolve mutaes no tempo e no espao; ele tem uma lngua como ponto de partida e de chegada; as lnguas acompanham as mudanas culturais; mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, mudam as pessoas, os povos, a linguagem; a literatura, manifestao cultural, acompanha as mudanas da cultura de que parte integrante e altamente representativa. A literatura traz a marca de uma variabilidade especfica, seja a nvel de discursos individuais, seja a nvel de representatividade cultural. E no nos esquea de que, na base da literatura, est a permanente inveno.

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