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MARTA MORAIS ARAJO
A MSICA ERUDITA NO
CENTRO CULTURAL DE BELM
PERSPECTIVA GERAL DE VINTE ANOS DE
PROGRAMAO (1993 -2013) E ANLISE APROFUNDADA
DE UM MANDATO (2006 2011)
Orientadores: Professora Doutora Maria Teresa Mendes Flores
Dr. Miguel Honrado
Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias
Escola de Comunicao, Artes e Tecnologias de Informao
Lisboa
2016
MARTA MORAIS ARAJO
A MSICA ERUDITA NO
CENTRO CULTURAL DE BELM
PERSPECTIVA GERAL DE VINTE ANOS DE
PROGRAMAO (1993 -2013) E ANLISE
APROFUNDADA DE UM MANDATO (2006 2011)
Dissertao defendida em provas pblicas na
Universidade Lusfona de Humanidades e
Tecnologias no dia 07/09/2016, perante o
jri, nomeado pelo Despacho de Nomeao
n 222/2016 de 18 de Abril, com a seguinte
composio:
Presidente: Professor Doutor Victor Manuel
Esteves Flores
Arguente: Professora Doutora Cludia Maria
Guerra Madeira
Orientadora: Professora Doutora Maria
Teresa Mendes Flores
Este trabalho no adopta o Acordo
Ortogrfico de 1990.
Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias
Escola de Comunicao, Artes e Tecnologias de Informao
Lisboa
2016
A arte diz o indizvel, exprime o
inexprimvel, traduz o intraduzvel.
Leonardo da Vinci
No existe meio mais seguro
para fugir do mundo do que a arte, e
no h forma mais segura de se unir a
ele do que a arte.
Johann Wolfgang von Goethe
Aos meus Filhos, Vicente e Joana,
por serem absolutamente maravilhosos:
fonte permanente de afecto e de inspirao;
minha Me, pedra basilar desde sempre;
ao Marcos, companheiro de projectos e de
afectos
Marta Morais Arajo A Msica Erudita no Centro Cultural de Belm
Perspectiva Geral de Vinte Anos de Programao (1993 -2013)
e Anlise Aprofundada de um Mandato (2006 2011)
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Agradecimentos
Agradeo aos meus orientadores, Professora Doutora Teresa Mendes Flores e Dr.
Miguel Honrado, por terem acreditado desde o incio na ideia desta investigao, bem como
no decorrer de todo este processo, fornecendo preciosas indicaes aliadas a um entusiasmo e
encorajamento que so essenciais a este empreendimento. Ao Professor Doutor Victor Flores,
coordenador deste Mestrado e ao Professor Doutor Lus Cludio Ribeiro, por terem feito, logo
na fase inicial, sugestes decisivas para a prossecuo desta investigao. No posso deixar de
agradecer Odete Soares e Olga Germano, por terem dado o correcto acompanhamento ao
nvel dos Servios Acadmicos.
Um agradecimento muito especial Sofia Mntua, Coordenadora do Departamento
de Comunicao do CCB, sem a qual no teria sido possvel avanar com esta investigao.
Agradeo toda a sua disponibilidade, empenho e entusiasmo. Este agradecimento extensvel
equipa do CCB: Paula Cardoso, Sofia Cardim, Madalena Frade e Isabel Roquette que
sempre me acolheram com simpatia no CCB.
A todos os meus entrevistados pela vivacidade e entusiasmo com que prestaram os
seus preciosos depoimentos: Maria Jos Stock, Manuel Falco, Miguel Lobo Antunes,
Antnio Mega Ferreira, Francisco Sassetti, Andr Cunha Leal, Antnio Pinho Vargas, Lusa
Taveira, Miguel Leal Coelho, Rui Vieira Nery.
s minhas amigas do Mestrado, Margarida Branco, Sandra Lusa Martins e Rita
Matias, pela troca de ideias, pelo apoio mtuo e pelo esprito de solidariedade. Margarida
Branco, pelo seu inestimvel apoio nesta fase final da dissertao. Vera Baeta e ao Daniel
Branco. Ao Dr. Miguel Correia.
minha querida famlia, um agradecimento muito especial: aos meus filhos Vicente
e Joana Arajo Magalhes pela pacincia, compreenso e amor; minha me, Helena
Guimares Morais, por todo o apoio que vem desde h muito tempo; ao Marcos Magalhes,
pela sua dedicao e pelo seu apoio; ao meu pai, Manuel Augusto Arajo, ao meu irmo,
Filipe Arajo, pelo seu apoio, extensvel minha cunhada Julia Kavka e s minhas sobrinhas
Filomena e Helena Arajo.
s minhas amigas, pelas suas palavras encorajadoras e portadoras de boa energia:
Cludia Melo, Cludia Teixeira, Raquel Soares, Raquel Cravino e Susana Baeta.
Ao Neil Young e ao seu lbum Harvest Moon, ao som do qual fui acompanhada
durante as longas horas dedicadas dissertao.
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Abreviaturas ALC Andr Cunha Leal
AMF Antnio Mega Ferreira
APV Antnio Pinho Vargas
CA - Conselho de Administrao
CCB - Centro Cultural de Belm
CEE - Comunidade Econmica Europeia
CNB - Companhia Nacional de Bailado
CPA - Centro de Peagogia e Animao
DCRP - Direco de Comunicao e Relaes Pblicas
FAMC-CB - Fundao de Arte Moderna e Contempornea - Coleco Berardo
FCCB - Fundao Centro Cultural de Belm
FEDER - Espao Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional
FFC - Fundo de Fomento Cultural
FS Francisco Sassetti
GA - Grande Auditrio
GIECCCB - Gabinete de Instalao dos Equipamentos Culturais do Centro Cultural
de Belm
IPPAR - Instituto Portugus do Patrimnio Arquitectnico
IPPC - Instituto Portugus do Patrimnio Cultural
LT Lusa Taveira
MC - Ministrio da Cultura
MF Manuel Falco
MJS Maria Jos Stock
MLA Miguel Lobo Antunes
MLC Miguel Leal Coelho
MNE - Ministrio dos Negcios Estrangeiros
MOP - Ministrio das Obras Pblicas
OAC - Observatrio das Actividades Culturais
OE - Oramento de Estado
OML - Orquestra Metropolitana de Lisboa
OSP - Orquestra Sinfnica Portuguesa
PA - Pequeno Auditrio
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PDM - Plano Director Municipal
PIDDAC - Programa de Investimento e Desepesas de Desenvolvimento
PS - Partido Socialista
PSD - Partido Social Democrata
QCA - Quadro Comunitrio de Apoio
RDP - Radio Difuso Portuguesa
RTP Radio Televiso Portuguesa
RVN Rui Vieira Nery
SE - Sala de Ensaio
SEC - Secretaria de Estado da Cultura
TNSC - Teatro Nacional So Carlos
UE - Unio Europeia
UNESCO - United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization
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Resumo
Pode-se afirmar que o Centro Cultural de Belm, que comemorou 20 anos de
actividade em 2013, tem vindo a consolidar-se como um dos principais plos culturais de
Lisboa e do pas. A evoluo desta instituio veio a revelar-se um importante factor no
desenvolvimento, em Portugal, de novas polticas de Gesto Cultural e que, portanto, merece
ser constituda como objecto de estudo.
Esta dissertao prope-se investigar a sua Programao, nomeadamente na rea da
Msica Erudita e analisar a interaco entre o enquadramento poltico-econmico deste centro
polivalente, por um lado, e programadores/gestores culturais, msicos e pblico, por outro.
Recorrendo a um conjunto alargado de fontes das quais se destacam entrevistas a
10 dos principais gestores/programadores culturais do CCB e uma base de dados dos
espectculos de msica entre 2006 e 2011 - obtm-se uma imagem de uma instituio
marcada por determinadas contingncias estruturais (arquitectura/localizao, financiamento,
misso) e polticas mas que, por fora das circunstncias e da aco dos programadores, foi
terreno privilegiado do desenvolvimento, na rea da Msica Erudita, dos msicos nacionais e
suas estruturas graas a novas estratgias de apresentao e fruio e, tambm, de novas
formas de interaco entre a instituio e os prprios artistas.
PALAVRAS-CHAVE: Programao e Gesto Cultural Msica Erudita Centro
Cultural de Belm Polticas Culturais
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Abstract
The Cultural Centre of Belm, that celebrated its 20th anniversary in 2013, is one of
Portugal's and Lisbon's main cultural references. The evolution of this institution was an
important factor in the development of new cultural management policies in Portugal and,
therefore, deserves to be considered as a study field.
The present dissertation aims to investigate its performative arts events, namely on
the area of Classical Music, and analyse the interaction between this arts centre political and
economical framework, on one side, and audiences, musicians and cultural managers, on the
other.
Gathering on a wide array of sources- specially on interviews of 10 CCB top cultural
managers and a database of music shows presented between 2006 and 2011- this study puts
forward a portrait of an institution with certain political and structural contingencies
(architectural/location, funding, mission) that, due to circumstances and its cultural managers
intentional action, managed to play an important role in the development of portuguese
classical musicians and their structures. This was done thanks to the use on new presentation
and fruition strategies and to new ways of interaction between the institution and the artists.
KEYWORDS: Curating and Arts Management - Classical Music ; Cultural Centre
of Belm - Cultural Policies;
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ndice
Agradecimentos ..................................................................................................................................................... 7
Abreviaturas .......................................................................................................................................................... 9
Resumo ................................................................................................................................................................. 11
Abstract ................................................................................................................................................................ 13
ndice .................................................................................................................................................................... 15
Introduo ............................................................................................................................................................ 18
1.1. Tema e Objecto de Estudo ......................................................................................................................... 18
1.2. Breve Justificao do Objecto no Estado da Arte da Investigao na rea ............................................... 20
1.3. Objectivos do Estudo ................................................................................................................................. 25
1.3.1. Questes.............................................................................................................................................. 26
1.4. Metodologia ............................................................................................................................................... 27
1.5. Plano da Dissertao .................................................................................................................................. 30
Captulo I: Reflexo Crtica do Objecto. Enquadramento Global do CCB ................................................... 35
I.1 CCB e sua Contextualizao ........................................................................................................................ 35
I.2. Pequeno Historial e Enquadramento Legal do CCB ................................................................................... 38
1.3. Estatutos do CCB - Decretos-Lei ............................................................................................................... 40
I.3.1. Um Olhar Sobre o Primeiro Decreto-Lei 361/91 ................................................................................ 43
I.3.2. Um Olhar Sobre o Segundo Decreto-Lei 391/99 ................................................................................ 49
1.4 Cronologia 20 Anos CCB: Definio e Caracterizao dos Vrios Perodos de Programao, Governo e
Orgos Directivos ............................................................................................................................................. 53
Captulo II: Conceito do Programador. Para uma Compreenso desta Profisso. Os Principais Rostos
do CCB. ................................................................................................................................................................ 57
II.1. Conceito de Programador .......................................................................................................................... 57
II.2. Breve Relao dos Intervenientes .............................................................................................................. 70
II.3. Perfil dos Programadores .......................................................................................................................... 72
II.3.1.Maria Jos Stock ................................................................................................................................. 72
II.3.2. Rui Vieira Nery .................................................................................................................................. 73
II.3.3. Manuel Falco .................................................................................................................................... 75
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II.3.4. Miguel Leal Coelho ........................................................................................................................... 77
II.3.5. Miguel Lobo Antunes ........................................................................................................................ 80
II.3.6. Antnio Pinho Vargas ........................................................................................................................ 82
II.3.7. Filipe Mesquita de Oliveira ................................................................................................................ 90
II.3.8. Francisco Motta Veiga ....................................................................................................................... 91
II.3.8. Miguel Vaz ......................................................................................................................................... 91
II.3.9. Augusta Moura Guedes ...................................................................................................................... 92
II.3.10. Antnio Mega Ferreira ..................................................................................................................... 93
II.3.11. Francisco Sassetti ............................................................................................................................. 97
II.3.12. Lusa Taveira.................................................................................................................................... 98
II.3.13. Vasco Navarro da Graa Moura ..................................................................................................... 101
II.3.14. Andr Cunha Leal .......................................................................................................................... 102
Captulo III: Estudo dos Vrios Perodos atravs da Voz dos Programadores e dos Documentos do CCB
Definio e Caracterizao Crtica dos Vrios Perodos de Programao ................................................... 105
III.1. Perodo de Arranque (1993 a 1995) - Maria Jos Stock ........................................................................ 105
III.1.1.Caracterizao do Perodo com Base nas e Entrevistas (Maria Jos Stock, Rui Vieira Nery, Manuel
Falco e Miguel Leal Coelho) .................................................................................................................... 105
Adenda: ....................................................................................................................................................... 152
III.1.2. Um Olhar Sobre os Relatrios de Actividades e Programas de Actividades .................................. 153
III.2.3.Grfico-Resumo (Tipo de Espectculo e Tipo de Produo) ........................................................... 177
III.2. Perodo de Estratgia e Consolidao (1996 a 2000) - Miguel Lobo Antunes ....................................... 179
III.2.1. Caracterizao do Perodo com Base nas Entrevistas (Miguel Lobo Antunes, Antnio Pinho
Vargas) ....................................................................................................................................................... 179
III.2.2. Um Olhar Sobre os Relatrios de Actividades ............................................................................... 214
III.2.3. Grfico-Resumo (Tipo de Espectculo e Tipo de Produo) .......................................................... 251
III.3. Perodo de Instabilidade Governamental (2001 a 2005) Francisco Motta Veiga/ Miguel Vaz/ Augusta
Moura Guedes. ................................................................................................................................................ 254
III.3.1. Um Olhar Sobre os Relatrios de Actividades e Recortes de Imprensa ......................................... 256
III.3.2. Grfico-Resumo (Tipo de Espectculo e Tipo de Produo) .......................................................... 278
III.4. Perodo Casa de Msicas e de Maturao (2006 a 2011) Antnio Mega Ferreira .......................... 281
III.4.1. Caracterizao do Perodo com Base nas Entrevistas (Antnio Mega Ferreira, Lusa Taveira,
Francisco Sassetti e Miguel Leal Coelho) .................................................................................................. 281
III.4.2. Um Olhar Sobre os Relatrios de Actividades ............................................................................... 335
III.4.3. Grfico-Resumo (Tipo de Espectculo e Tipo de Produo) .......................................................... 394
III.5. Perodo Valorizao do Patrimnio Nacional (2012 a 2014) Vasco Graa Moura ............................. 398
III.5.1. Caracterizao do Perodo com Base nas Entrevistas (Andr Cunha Leal) e Recortes de Imprensa
.................................................................................................................................................................... 398
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III.5.2. Um Olhar Sobre os Relatrios de Actividades ............................................................................... 405
III.5.3. Grfico-Resumo (Tipo de Espectculo e Tipo de Produo) .......................................................... 436
III.6. Grfico 20 Anos Msica Geral............................................................................................................ 438
Captulo IV: Anlise Aprofundada de um Perodo em Programao Musical entre 2006 e 2011 (Mega
Ferreira) Atravs de uma Base de Dados. ....................................................................................................... 440
4.1. Descrio e Discusso dos Campos da Base de Dados ............................................................................ 440
4.2.Questes a Responder. Grficos/Tabelas. Respostas/Concluses ............................................................. 445
Concluso ........................................................................................................................................................... 483
Posfcio ............................................................................................................................................................... 495
Bibliografia ........................................................................................................................................................ 502
Anexos ..................................................................................................................................................................... i
Anexo 1: Centro Cultural de Belm Vista Area ............................................................................................. ii
Anexo 2: Centro Cultural de Belm Planta (Mdulos 1, 2 e 3)....................................................................... iii
Anexo 3 Centro Cultural de Belm Planta (Mdulos 1, 2 e 3) ..................................................................... iv
Anexo 4 Decreto Lei 361/91 ......................................................................................................................... v
Anexo 5 Decreto Lei 391/99 ........................................................................................................................ xi
Anexo 6 Capa de Programa de Actividade 2007 Dezembro/2008 Janeiro e Fevereiro................................ xvii
Anexo 7 Capa de Programa de Actividade Setembro/Dezembro 2011 ....................................................... xviii
Anexo 8 Capa de Programa de Actividade 2008 Maro/Maio ...................................................................... xix
Anexo 9 Capa de Dossier da Temporada 2008/2009 ..................................................................................... xx
Anexo 10 Capa de Dossier da Temporada 2009/2010 .................................................................................. xxi
Anexo 11 Capa de Relatrio de Actividade e Contas .................................................................................. xxii
Anexo 12 Planta Mdulo 1 Centro de Reunies ...................................................................................... xxiii
Anexo 13 Planta Mdulo 2 Centro de Espectculos (Pequeno Auditrio e Grande Auditrio) ............... xxiv
Anexo 14 Planta Mdulo 3 . Centro de Exposies ..................................................................................... xxv
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Introduo
1.1. Tema e Objecto de Estudo
A presente dissertao debrua-se sob uma instituio central na vida cultural
portuguesa dos ltimos anos, o Centro Cultural de Belm (CCB), e prope-se investigar
alguns aspectos especficos da sua programao, nomeadamente na rea da Msica Erudita1
contribuindo para o desenvolvimento do conhecimento e reflexo na rea da programao e
gesto cultural.
Pode-se afirmar que o CCB, que comemorou 20 anos de actividade cultural em 2013,
tem vindo a consolidar-se de forma inequvoca como um dos principais plos culturais da
cidade de Lisboa e do pas. A gnese e desenvolvimento desta instituio veio a revelar-se um
importante factor no desenvolvimento, em Portugal, de novas polticas estatais no que toca
concepo e gesto de equipamentos culturais. A concentrao num mesmo local de oferta
polivalente de espectculos de vrios tipos, de exposies, de restaurantes e lojas, e de
espaos que so utilizados para congressos e actividades comerciais, so caractersticas do
CCB que, poca, apareceram como extremamente inovadoras. Neste espao de dimenses
considerveis - que rapidamente se integrou num territrio de grande simbolismo na capital -
tm-se desenvolvido grande quantidade de actividades e respondido a desafios prticos de
gesto em que se envolveram mltiplos intervenientes. Trata-se, portanto, de um laboratrio
1 Msica Erudita ou Msica Clssica uma etiqueta bastante utilizada no mercado discogrfico e do espectculo,
apesar do termo poder suscitar algum questionamento no mbito da musicologia. A definio e classificao dos
vrios gneros musicais uma problemtica complexa e sempre em aberto na discusso de vrios autores. No
entanto, para o tipo de estudo que se est a realizar no necessrio questionar os rtulos, mas sim trabalhar com
base naqueles que so apresentados pela instituio CCB.
A Msica Erudita designa assim msica transmitida por meio de partituras, maioritariamente, composta por
compositores e interpretada por msicos, cantores e instrumentistas formados em escolas de msica. Podem-se
interpretar peas de toda a histria da msica ocidental, que abarca, desde os primeiros vestgios de notao
musical (antiga Grcia, se quisermos ser precisos, mas habitualmente a partir do sc. IX d.c.) at aos nossos dias.
Inclui portanto: canto gregoriano, primeiras polifonias, Ars Nova, msica renascentista, pera desde o seu
nascimento, no incio do sc. XVII, at aos nossos dias, msica barroca, msica clssica, msica romntica,
moderna e contempornea. Este tipo de msica costuma-se dividir em msica com instrumento solista, msica
de cmara (desde duos a octetos) e msica orquestral, onde participam as orquestras que so instituies
tradicionalmente presentes no mundo dito ocidental.
Este gnero de msica pressupe, por parte dos executantes, uma formao especializada muito intensa de
longos anos e, por parte do pblico, de alguma educao do gosto que possibilitem a fruio esttica das obras
interpretadas.
Ao contrrio da msica pop que constitui uma indstria comercial de grandes dimenses e em que uma parte
importante da legitimao se quantifica pelas vendas de discos ou pela adeso de pblicos muito alargados, na
Msica Erudita, tm estado em jogo, historicamente, outras formas de valorizao e de legitimao.
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permanente de investigao prtica em questes de programao e gesto cultural que merece
ser constitudo objecto de estudo por parte da investigao acadmica.
Apesar da polivalncia desta instituio, importante registar o peso considervel
que sempre tiveram as artes performativas (teatro, msica e dana) na programao oferecida
com um particular nfase na msica que reconhecido de forma geral. Alm da programao
musical produzida pelo prprio CCB, cedo se implementaram outros regimes de produo
(co-produo, produo exterior) que possibilitaram diversificar o leque de espectculos
oferecidos. Em todo o caso, a Msica Erudita teve, desde o incio, uma presena continuada
na programao. esse, ento, o mbito do presente estudo a Msica Erudita - assim
delimitando um campo de investigao passvel de ser aprofundado.
, tambm, um tema que me caro devido minha formao e percurso profissional
na rea da Msica Erudita. Se o interesse pessoal, como estudante de msica e arquitectura,
me levou a contactar com as actividades do CCB ainda antes da sua abertura ao pblico em
1993, tambm, mais tarde, j como msica profissional e gestora de um agrupamento (Os
Msicos do Tejo) fui chamada a participar de forma activa nas suas actividades culturais em
vrios espectculos musicais (concertos e peras).
Em suma, o presente estudo visa aprofundar uma linha de investigao no campo da
programao de espectculos e actividades no domnio da, denominada, Msica Erudita no
espao temporal que decorre entre a abertura ao pblico em 1993 e o ano de 2013, data do seu
vigsimo aniversrio.
Trata-se de uma escolha conscientemente limitada a uma rea artstica, uma vez que
o estudo vai incidir sobre um perodo extenso de duas dcadas. Acredito tambm que o estudo
da programao musical pode vir a ser esclarecedor das complexas dinmicas implcitas na
programao artstica desta instituio.
Este estudo de caso visa analisar o papel dos vrios programadores envolvidos na
programao musical do CCB e as suas condicionantes contextuais. proposto caracterizar os
programadores e as programaes na rea da Msica Erudita no CCB e investigar as vrias
condicionantes que determinaram o seu trabalho (alteraes governamentais, polticas
culturais, condicionantes financeiras, alteraes nos estatutos das fundaes, entre outras).
Contribuir para a identificao das tendncias da programao na rea da msica no CCB e
compreender os contextos condicionantes da programao e do seu enquadramento nas
polticas culturais pode servir como barmetro bastante fiel de questes maiores aplicveis a
outros contextos dentro da poltica cultural em Portugal e ao trabalho do programador.
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A programao cultural como actividade profissional que se integra no mundo da
cultura algo recente e que, sob a designao de programador cultural, s aparece em
Portugal nos anos 90. Nesse perodo inicial assiste-se ao crescimento da actividade na
programao cultural e simultaneamente ao desenvolvimento do CCB e de outras instituies
culturais igualmente financiadas pelo Estado (a Orquestra Sinfnica Portuguesa, a Orquestra
Metropolitana de Lisboa) e ou por privados (Culturgest).
O desenvolvimento destas actividades de programao cultural tem continuado at
aos nossos dias. Este desenvolvimento tem sido objecto de alguma reflexo a nvel
acadmico, no entanto praticamente nada ainda foi publicado especificamente sobre o CCB.
O CCB, projectado pelo consrcio de arquitectos Vittorio Gregotti e Manuel
Salgado/RISCO, foi idealizado no final dos anos 80 e construdo nos anos 90, na zona
emblemtica de Belm (associada aos Descobrimentos e localizao da efmera Exposio
Universal Portuguesa em 1940). Abriu as portas ao pblico em 1993, aps um ano de
acolhimento da Presidncia Portuguesa da CEE em 1992, para cumprir o seu propsito inicial
de se impor como um forte plo dinamizador de actividades culturais e de lazer.
A escolha do CCB como objecto de estudo particularmente relevante, uma vez que
uma instituio cultural criada de raiz com o objectivo de dotar o pas e sua capital de um
novo equipamento cultural que potencie e difunda a criao artstica. Trata-se, portanto, de
um marco de grande repercusso na cultura portuguesa, do final do Sculo XX. Pretende-se
que o estudo subjacente a esta dissertao possa ser til, tanto num contexto acadmico como
num contexto prtico da gesto de instituies culturais.
Dentro do mbito alargado de actividades do CCB (Centro de Exposies, Centro de
Espectculos e Centro de Reunies), este estudo incide sobre um campo artstico delimitado, a
Msica Erudita. O perodo temporal em estudo, vinte anos, extenso e este o
enquadramento geral, mas pretende-se, no seu interior, iluminar um espao onde seja
possvel, e oportuno, desenvolver uma anlise mais fina e pormenorizada.
seguro afirmar que o estudo da programao musical do CCB pode vir a ser
esclarecedor das complexas dinmicas implcitas na programao artstica desta instituio.
1.2. Breve Justificao do Objecto no Estado da Arte da
Investigao na rea
O aparecimento do conceito de programao cultural coincide com o
desenvolvimento das polticas culturais organizadas pelos estados democrticos sob a gide
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dos vrios ministrios da cultura e integrado nas vrias instituies do estado. Trata-se de um
movimento global que define muito da nossa sociedade actual no campo da arte.
No mbito portugus pode-se dizer que s a partir dos anos 90 ocorre uma
institucionalizao/legitimao do conceito de programador, uma temtica que Cludia
Madeira analisa em Os Novos Notveis: Os Programadores Culturais. A autora analisa o
papel dos programadores culturais na configurao do contexto cultural portugus actual,
tendo por base a seguinte definio de programador: intermedirio que faz a articulao entre
o campo da produo e da recepo cultural, cruzando para o efeito as diferentes esferas
sociais (cultura, econmica e poltica) e que tem como funo seleccionar sobre o conjunto da
oferta os espectculos a apresentar no contexto da organizao de divulgao cultural que se
inscreve (Madeira, 2002, p. 1). Madeira refere ainda que O programador cultural aparece
como um agente novo, emergente de vrios percursos profissionais e a questo da
programao transversal a todas as vertentes artsticas (Madeira, 2002, p. 2). Esta obra
um contributo para o presente estudo porque estabelece os conceitos bsicos da problemtica
da programao cultural e fornece dados genricos sobre a sua implantao em Portugal. O
estudo da programao que faz mais focado na rea do teatro. De uma forma geral, aborda
vrias instituies: CCB, Culturgest, Encontros ACARTE, entre outros Festivais. Uma
investigao de referncia no presente caso em que se tenta, no entanto, atingir um outro grau
de pormenor pela delimitao a uma s instituio e a uma s rea.
No livro de Antnio Pinho Vargas Msica e Poder, para uma sociologia da ausncia
da msica portuguesa no contexto europeu, encontra-se, no captulo XII, uma reflexo sobre
os novos intermedirios culturais e as novas instituies, onde o autor aborda temticas
directamente relacionadas com a programao cultural e seu desenvolvimento em Portugal.
Ainda no mesmo captulo, no tem intitulado As novas instituies e suas consequncias,
feita uma anlise sobre a programao artstica, em particular sobre a msica contempornea
portuguesa, em algumas instituies portuguesas como o CCB, a Culturgest, a Gulbenkian e
Casa da Msica. Esta anlise programao musical no CCB de grande contedo pelo facto
de o autor ter estado muito ligado ao CCB, quer como compositor inserido na programao do
CCB, quer como consultor na rea da msica desta mesma instituio. Todo este captulo
um contributo incontornvel para a presente dissertao: alm da qualidade da reflexo sobre
a programao musical, esta refere-se a contextos onde se incluem o CCB.
Antnio Pinto Ribeiro apresenta em Questes Permanentes, um conjunto de
ensaios de entre os quais se destacam Programar em nome de qu? Ainda do Humano?!,
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onde questiona as possibilidades e as escolhas de um programador e Teatro & Arenas onde
reflecte sobre os antagonismos culturais em Portugal, sobre a formao de um programador e
sobre os pressupostos inerentes a esta actividade como sejam as ideologias, estticas,
distribuio e regimes de circulao. Todas as temticas abordadas por Antnio Pinto Ribeiro,
ainda que de forma emprica, so bastante relevantes para o tema e objecto de estudo.
Na recolha Quatro ensaios boca de cena, para uma poltica teatral e da
programao de Fernando Mora Ramos, Amrico Rodrigues, Jos Lus Ferreira e Manuel
Portela com prefcio de Jos Gil, analisada a situao do teatro em Portugal, so abordadas
as questes relativas programao e polticas culturais, no mbito do teatro. Este livro, ainda
que no aborde o campo especfico da programao musical um importante documento na
medida em que as reflexes feitas enquadram-se nas problemticas gerais deste tema. No
entanto, as opinies veiculadas tm um fundamento de carcter mais emprico do que
cientfico.
No artigo de Claudino Ferreira, Intermediao Cultural e Grandes Eventos, Notas
para um Programa de Investigao Sobre a Difuso das Culturas Urbanas deparamo-nos com
uma reflexo pertinente sobre o tema do programador utilizando uma terminologia que alarga
o mbito da sua actividade: o termo de Intermedirio Cultural.
Ainda sobre programao, mas escrito no mbito do marketing das artes, o livro
Marketing das Artes em Directo de Rita Curvelo, rene uma srie de entrevistas a alguns
dos mais significativos programadores culturais, que nos permitem saber na primeira pessoa
como foram escolhidas e fundamentadas as suas programaes. Salientam-se as entrevistas
feitas a dois dos protagonistas da programao musical no CCB, Antnio Mega Ferreira e
Miguel Lobo Antunes, respectivamente presidente/programador e vogal da
administrao/director Artstico (e tambm a Giacomo Scalisi, da rea da programao de
teatro e de novo circo no CCB). Encontram-se a depoimentos directamente relacionados com
a presente investigao. Atravs deste testemunhos a autora enfatiza a necessidade de
dilogo para que a cultura seja vista por todos como uma mais-valia (Curvelo, 2009, p. 43).
No estudo de Ana Duarte, A satisfao do consumidor nas instituies culturais - O
caso do Centro Cultural de Belm a autora faz uma anlise da percepo do consumidor do
CCB e o seu grau de satisfao nesta instituio cultural. Apesar dos contedos incidirem
sobre a prtica cultural no CCB e sobre os perfis scio-demogrficos do consumidor, no
abordam directamente a questo da programao. Este documento d especial enfoque ao tipo
de espectculos visionados no CCB e seu grau de afluncia e satisfao por parte do pblico.
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O tipo de espectculos interessa presente investigao, mas a rea dos pblicos no ser
aqui analisada.
O livro Centro Cultural de Belm: o stio, a obra de Antnio Luiz Gomes fixa a
histria do local onde se situa o CCB e toda a sua simbologia pela ligao ao perodo
histrico dos Descobrimentos. uma perspectiva excessivamente laudatria, reflexo do
esprito comemorativo que presidiu sua edio aquando a abertura do CCB para a
presidncia da Unio europeia, e que no se enquadra no meu trabalho.
Sobre o funcionamento geral das instituies culturais destacam-se os trabalhos de
Ana Arajo, Centros Culturais Portugueses - Espaos vivos da cultura europeia? e de Maria
Joo Centeno, As organizaes culturais e o espao pblico - A experincia da rede nacional
de teatros e cineteatros.
Ana Arajo faz uma anlise dos centros culturais portugueses (pequenos, mdios e
grandes), incluindo o CCB, e uma pesquisa desenvolvida no sentido de proceder ao
levantamento dos indicadores de caracterizao dos centros culturais portugueses, na vida
cultural portuguesa e nas relaes com parceiros internacionais. (Arajo,1999, p. 39). feita
uma anlise da programao de forma genrica, focando a dimenso financeira dos Centros
Culturais Portugueses e a questo das redes culturais entendida como plataformas de troca de
prticas culturais e artsticas na Europa. Toda a reflexo que faz sobre os programadores e a
crtica falta de planeamento de produo e organizao de repertrios e criaes, a
necessidade de investimento de qualidade na programao e na sua divulgao nacional e
internacional, afigura-se como uma mais-valia para a presente investigao, apesar de referir
muito vagamente a programao no CCB.
Maria Joo Centeno, na sua pesquisa exaustiva, d enfoque relao que se
estabelece entre as organizaes culturais e os seus pblicos, mais especificamente entre a
rede nacional de teatros e cine-teatros e sua interaco na esfera pblica. Apesar deste tema
no estar directamente relacionado com os centros culturais e com a programao, o facto de
ser analisada a questo da organizao e funcionamento das organizaes culturais e da
presena de um programador para desempenhar funes nas mesmas, o seu contributo
inquestionvel para o presente estudo pois fornece pistas muito vlidas ao nvel da sociologia
da cultura, programao e organizao institucional.
Relativamente aos conceitos em torno da programao e do programador cultural, a
dissertao de doutoramento de Eliana Lopes, Programao Cultural enquanto Exerccio de
Poder, contm informao muito til sobre esta matria, sobretudo pela transversalidade feita
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entre cultura, arte, poder, poltica e programao. sem dvida um excelente contributo para
a presente dissertao, pelas pontes que estabelece entre o programador cultural e os diversos
conceitos a ele ligados: Os conceitos de Cultura e Poder, na sua longa evoluo, deram
origem ao programador cultural, cuja misso e tarefas foram desenvolvidas em Portugal nas
ltimas dcadas.(Lopes, 2010) Para Eliana Lopes, A programao uma metfora do
poder, cujas relaes de possibilidades vamos explorar no cruzamento com a cultura.(Lopes,
2010)
No que toca ao conhecimento da realidade portuguesa, uma das temticas em
destaque no presente estudo so os temas relacionados com as polticas culturais, o livro As
Polticas Culturais em Portugal, coordenado por Maria de Lourdes Lima dos Santos, um
documento incontornvel que permite realizar o enquadramento poltico-cultural do pas.
O trabalho de Rui Gomes, Vanda Loureno e Teresa Martinho, Entidades Culturais
e Artsticas em Portugal, particularmente relevante uma vez tem como objecto de estudo as
entidades culturais e artsticas em Portugal situadas em cada um dos sectores econmicos.
apresentada uma caracterizao institucional das estruturas e interessa particularmente o
captulo 3 - Terceiro Sector e mais especificamente o item 3.3 - Fundaes, uma vez que o
CCB se insere neste enquadramento jurdico. Nas reflexes finais feita uma anlise sobre a
intermediao cultural e a emergncia desta nova categoria profissional com informao
muito credvel para o presente estudo, uma vez que baseada em dados estatsticos e
analisada cientificamente.
Mundos da Arte de Howard Becker tambm um livro de referncia na sociologia
da cultura, ou como diz o autor, sociologia das profisses aplicada ao domnio das artes
(Becker, 2010, p. 22). A sua contribuio para a teorizao das questes da arte
extremamente fecunda pois trata-se uma investigao sociolgica das profisses implicadas
no campo das artes e uma anlise focada na organizao social daquilo que o autor designa
por mundos da arte, revelando a importncia de todos os domnios e protagonistas que
circundam, integram e apoiam a criao e difuso de obras de arte. Para Becker todas as
actividades relacionadas com a arte so parte integrante dos Mundos da arte. Na ptica de
Becker todas as artes, tal como todas as actividades humanas, envolvem a naturalmente a
cooperao de outrem. A arte, vista como rede de relaes, o resultado das actividades de
todos aqueles cuja cooperao necessria para que a obra exista. O artista, o produtor, o
programador, entre outros, fazem parte do Mundo das artes. O tema deste livro est
directamente relacionado com o tema em estudo. Sendo o CCB um espao do Mundo das
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Artes (Criao/Intermediao/Recepo), este livro afigura-se valioso quando se trata de
pensar o funcionamento duma instituio como o CCB.
1.3. Objectivos do Estudo
Tomando em considerao toda a relevncia de que se reveste a deciso de construir
o CCB, que, nas palavras de Nuno Grande conduziria criao do primeiro grande smbolo
arquitectnico da Democracia portuguesa2, e a posterior repercusso que o desenvolvimento
das suas actividades teve, deve-se concluir que estamos perante um terreno de investigao
extremamente rico e especialmente propcio a mltiplas reflexes. Dada a minha rea de
interesse a Msica Erudita ter uma presena constante e slida na programao do CCB, o
principal objectivo deste estudo conseguir utilizar a riqueza de material que o
funcionamento intensivo de uma instituio desta escala produz para lograr investigar
questes de programao e gesto cultural de forma aprofundada.
A programao da msica insere-se na programao geral do CCB - que inclui
teatro, dana, exposies e outros eventos - no entanto, a profundidade do estudo ficaria
comprometida se se tentasse dar conta de todas estas tendncias programticas.
A escolha intencional e conscientemente limitada a uma rea artstica: trata-se de
um caso de estudo que se pretende possa vir a ser revelador da complexidade de questes
implcitas e explcitas no desenho programtico e no trabalho dos seus programadores.
Apesar da coluna vertebral deste estudo ser a programao da msica, a programao
nas diversas reas performativas ser resumidamente aflorada, quando se fizer a descrio da
programao geral subjacente ao tema e para conhecer as intenes dos outros
programadores. No se pretende estudar as circunstncias da programao musical erudita de
uma forma isolada, como se esse contexto vivesse numa redoma. Pretende-se trazer para a
reflexo questes polticas, sociais e outras que possam interagir no curso dos
acontecimentos.
O funcionamento de uma instituio como o CCB constitui-se como um sistema
complexo que pressupe um conjunto alargado de aces de gesto e organizao divididas
por vrios profissionais com diferentes competncias. Departamentos como sejam o de
2 Texto de Nuno Grande (Arquitecto e Crtico de Arquitectura) a propsito da Exposio CCB Cidade Aberta
(entre 20 de Junho 2014 e 5 Maro de 2015 no Centro de Reunies)
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comunicao, manuteno, educativo, financeiro, entre outros, todos contribuem para a
implementao do CCB no meio cultural portugus.
No caso presente desta dissertao interessa-me estudar, em particular, a questo da
programao artstica. Por programao artstica entendo as escolhas dos espectculos a
apresentar ao pblico feitas por determinados agentes, os programadores, no seio de dadas
instituies culturais.
O programador cultural uma profisso recente que decorre da forma como se tem
organizado a sociedade no que toca s instituies culturais. O seu aparecimento no tecido
social cultural um sintoma de grandes transformaes e tambm um factor com particulares
repercusses no devir da arte e na sua expresso social. Estas evolues recentes que esto a
mudar o panorama artstico e cultural, estas novas formas de intermediao so fenmenos
sociais ainda pouco estudados, sobretudo quando se trata de analisar os seus resultados.
1.3.1. Questes
Resumidamente, pretende-se analisar a programao da Msica Erudita ao longo
destes 20 anos e perceber o papel que os programadores (presidente do CCB, vogal da
administrao com o pelouro da cultura, director do centro de espectculos, assessores para a
programao musical, consultores) desempenharam nesse desenho programtico. No
negligenciando o papel que as polticas culturais tiveram, directa ou indirectamente, nessa
rea. Importa ento decidir, dentro destes dois grandes objectivos iniciais, quais as questes a
levantar.
a) Caracterizar os programadores e as programaes na rea da Msica
Erudita no CCB.
Que ideias nortearam os programadores e quais as estratgias adoptadas?
De que forma os vrios programadores conseguiram imprimir uma marca distintiva
atravs da sua programao?
Qual o papel dos programadores na credibilizao de uma instituio cultural como o
CCB? E simultaneamente analisar como a existncia desta instituio contribuiu para
a legitimao do papel dos programadores.
De que forma que a programao se articula com outras instituies j existentes ou
se diferencia?
De que forma que as decises dos programadores influenciam o desenvolvimento
dos artistas e produtores nacionais no campo da msica?
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Como se caracteriza o percurso dos programadores?
Qual foi a presena da Msica Erudita na programao, ao longo dos 20 anos e nos
vrios mandatos?
b) Traar a influncia das alteraes governamentais e de que modo as
alteraes polticas culturais durante este perodo de tempo, afectaram a programao
musical no CCB.
Qual a influncia das alteraes governamentais e suas polticas culturais na
programao musical do CCB?
De que forma que a programao musical se articula com as variadas condicionantes
no campo do financiamento do CCB?
Como caracterizar a relao institucional entre instncias governamentais e o CCB ?
possvel relacionar os ciclos polticos com os mandatos no CCB e respectiva
programao?
E, numa perspectiva mais abrangente e conclusiva:
Qual a importncia do CCB como instituio cultural no contexto nacional ao longo
dos 20 anos analisados?
Como se poder perspectivar o seu futuro?
1.4. Metodologia
Para responder s questes enunciadas elaborou-se uma metodologia que a seguir se
ir descrever.
Em primeiro lugar, face s mesmas, impuseram-se determinadas perspectivas gerais:
Caracterizar o enquadramento jurdico, poltico e de gesto que relevante para o
contexto em causa.
Caracterizar os programadores atravs da pesquisa dos percursos individuais,
formao acadmica, dos conceitos de programao e das estratgias de programao.
Caracterizar a programao do CCB atravs de um levantamento dos espectculos
programados, da caracterizao desses espectculos (estilo musical, origem dos
compositores, tipo de artista, nacionalidade do artista, grau de reconhecimento dos
artistas, entre outros) e do teor da programao/produo (regime de produo do
prprio CCB, co-produo entre o CCB e outra entidade ou produo exterior ou
regime de aluguer de sala para concertos por parte de um produtor independente).
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Neste sentido, desenhou-se uma metodologia com determinados procedimentos e
seguindo determinadas linhas orientadoras. Uma metodologia com recurso a abordagens
qualitativa e quantitativa.
As fases principais na investigao foram: primeiro, conhecer o funcionamento do
CCB em profundidade no que toca ao seu enquadramento jurdico, ao seu modelo de gesto,
como foi a sua gnese e construo, entre outras informaes de carcter geral e conhecer os
vrios tipos de actividades presentes neste espao polivalente, com especial enfoque nos
espectculos na rea da msica; segundo, registar, de viva voz, a opinio dos principais
intervenientes nas decises de programao de espectculos; terceiro, obter uma imagem
muito precisa da programao no campo restrito da Msica Erudita num determinado perodo.
A investigao da primeira fase fez-se com a anlise de:
Documentos do CCB Programa de Actividades Mensal, Programa de Actividades
Trimestral3, Programas de todos os eventos como Os Dias da Msica, Festa da
Msica, Relatrios de Actividade e Contas4, Dossier de Temporadas de Msica.
5
Documentos diversos: textos nos Programas de Actividades, entrevistas de jornais,
dissertaes, artigos sobre os programadores e programao, recortes de imprensa,
livros.
Documentos oficiais: Dirios da Repblica, Decretos-Lei, Estatutos da Fundao
Descobertas (1991) e posteriormente da Fundao CCB (1999).
A investigao da segunda fase fez-se partir de documentos elaborados
propositadamente para a dissertao. Depois de criado um guio, foi efectuado, entre Julho de
2014 e Dezembro de 2015, um conjunto de entrevistas no directivas ou entrevistas em
profundidade (que somaram um total de aproximadamente 14 horas), aos diversos
intervenientes, de forma directa ou indirecta, na programao na rea musical do CCB e que
elucidaram sobre os critrios e conceitos subjacentes programao por eles desenhada, bem
como a caracterizao do perfil dos prprios programadores (que nem sempre surgem com
esta denominao)
Os entrevistados foram Maria Jos Stock6 ( Directora do Gabinete de Instalao do
Espao CCB (GIECCCB), Directora das Actividades Culturais e Vogal da Administrao
3 Ver Anexo 6,7 e 8 Capa de Programas de Actividades Trimestral
4 Ver Anexo 11 Capa de Relatrio de Actividade e Contas
5 Ver Anexo 9 Capa do Dossier de Temporada
6 Entrevista realizada presencialmente, no dia 28 de Janeiro de 2015
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com os pelouros da cultura, comercial e de marketing), Manuel Falco7 (Director do Centro
de Espectculos), Rui Vieira Nery8 (GIECCCB), Miguel Lobo Antunes
9 (Vogal da
Administrao com pelouro da cultura), Antnio Pinho Vargas10
( Assessor para a
programao musical), Antnio Mega Ferreira11
(Presidente da Fundao CCB), Miguel Leal
Coelho12
(Director do Centro de Espectculos e Vogal da Administrao com o pelouro da
cultura), Lusa Taveira13
(Assessora para a programao de dana e adjunta da programao),
Francisco Sassetti 14
(Assessor para a programao da Msica Erudita) e Andr Cunha Leal15
(Assessor para a programao da Msica Erudita).
Para a investigao da terceira fase, no campo da recolha de dados quantitativos,
optou-se por elaborar uma base de dados dos espectculos musicais realizados no CCB
durante um perodo especfico, entre 2006 e 2011, sob o mandato do Presidente de ento,
Antnio Mega Ferreira, que se considerou ser particularmente representativo da programao
da Msica Erudita. No se pretendeu valorizar ou desvalorizar qualquer um dos outros
perodos. Mas, sendo este tipo de anlise muito detalhada e especfica, no seria exequvel
faz-la, neste contexto da dissertao, para os 20 de anos de programao. Desta forma ser
possvel caracterizar de forma detalhada a programao musical desse perodo, que
corresponde a uma fase estvel e estruturada ao nvel da programao, permitindo uma
anlise consistente sobre o conceito programtico subjacente.
Nessa base de dados fez-se um levantamento de todos os espectculos musicais de
todos os tipos (Jazz e improvisada, Msicas do Mundo e tradicional, Erudita contempornea,
Erudita, Fado e outras) apesar de s nos interessar o campo da Msica Erudita. Isto justifica-
se para que se possa percepcionar a posio da Msica Erudita comparativamente aos outros
tipos de espectculos.
Foram contemplados nesta base de dados, com 1320 entradas, os seguintes campos:
Data, Dia da Semana, Ttulo do Espectculo, Tipo de Espectculo, Nome do Intrprete (1, 2 e
3 ou Direco Musical), Consagrao do Grupo, Consagrao do Solista ou Maestro, Tipo de
7 Entrevista realizada por escrito, no dia 19 de Maio de 2015
8 Entrevista realizada presencialmente, no dia 27 de Maio de 2015
9 Entrevista realizada presencialmente, no dia 10 de Julho de 2014
10 Entrevista realizada presencialmente, no dia 7 de Novembro de 2014
11 Entrevista realizada presencialmente, nos dias 29 de Julho e 5 de Agosto de 2014
12 Entrevista realizada presencialmente, nos dias 26 e 29 de Setembro de 2014
13 Entrevista realizada presencialmente, no dia 19 de Fevereiro de 2015
14 Entrevista realizada por escrito, no dia 16 de Dezembro de 2014
15 Entrevista realizada por escrito, no dia 1 de Dezembro de 2015
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Intrprete, Nacionalidade, Tipo de Formao, Tipo de Instrumento, Msica de Cmara, Forma
Musical, Compositor (1,2,3,4 e 5), Msica Erudita, Evento, Regime de Produo, Outro
Produtor, Sala, Bilhete, Grau de Novidade, Governo, Organismo Cultura, Nome do Secretrio
de Estado da Cultura ou Ministro da Cultura, Presidente do CCB, Administradores, Director
do Centro de Espectculos.
No seguimento, fizeram-se diversos grficos com informao retirada da base de
dados para uma melhor compreenso da programao da Msica Erudita neste perodo
espcio/temporal entre 2006 e 2011.
Alm destas trs traves mestras da investigao, elaboraram-se, paralelamente,
documentos de apoio que ajudam a melhor compreender vrias questes em anlise:
Foi elaborada uma tabela cronlogica com o nome dos polticos, presidentes do CCB,
vogais da administrao com o pelouro da cultura, directores do Centro de
Espectculos e assessores para a programao musical implicados nos 20 anos do
CCB.
Foram feitos grficos sobre as tipologias de espectculos e respectivos regimes de
produo para cada ano, entre 1993 e 2013.
Foi feito um grfico com a evoluo da programao de Msica ao longo dos 20 anos
em estudo.
1.5. Plano da Dissertao
Face recolha massiva de informao e a dimenso, tanto da instituio CCB, como
do prprio objecto de estudo, foi necessrio tomar vrias decises sobre o desenho da
dissertao.
Essas decises foram tomadas tendo em conta certos princpios orientadores:
Dar muita voz aos intervenientes.
Dividir a informao em seces claramente definidas, procurando uma arrumao
sistemtica e dando a possibilidade de uso desta dissertao como obra de consulta.
Recolher, sintetizar e centralizar informao at aqui dispersa em vrias fontes.
Com estes princpios em mente, avanou-se para a seguinte diviso dos captulos:
Captulo I Reflexo crtica do objecto. Enquadramento global do CCB.
O CCB um organismo complexo que cujo funcionamento convm conhecer antes
de embarcar na investigao aprofundada da programao. Nesse sentido, procedeu-se, no
incio deste captulo, tentativa de contextualizao do CCB no que toca sua histria e
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gnese, em que mbito surgiu, tanto a nvel nacional como internacional e outras informaes
que sejam teis, seu enquadramento legal, bem como a caracterizao do seu modelo de
gesto atravs dos respectivos Decretos-Lei.
Pretendeu-se resumir e explanar de forma sucinta e clara, atravs de uma cronologia
que abrange os vinte anos (1993-2013), a caracterizao dos vrios perodos de programao,
governo e rgos directivos. Para melhor visualizar esta cronologia fez-se um grfico.
Captulo II - Perfil dos programadores/responsveis pela programao (com base nas
entrevistas)
No comeo deste captulo fez-se uma reflexo sobre o termo e o papel do
programador em Portugal luz de alguma bibliografia especializada da rea (Madeira,
Ferreira, Pinho Vargas).
Seguidamente e para melhor compreender o discurso que cada um dos intervenientes
entrevistados produz sobre a sua actividade em determinados perodos do CCB, julgou-se
pertinente fazer uma caracterizao geral de cada um destes agentes, mencionando como se
direccionaram para a programao cultural, qual o tipo de formao acadmica que tiveram,
influncias familiares e sociais, entre outras informaes que se consideraram relevantes. Para
esse efeito incluram-se perguntas a esse respeito no guio de entrevistas.
Para uma informao mais completa, tambm se incluram informaes sobre alguns
programadores que no foram entrevistados, mas que so mencionados ao longo da
dissertao.
No s esta informao pode ajudar a compreender o papel e percurso das pessoas
em causa no CCB, como podem ser documentos importantes para melhor conhecer o percurso
que leva certos profissionais para o mbito da gesto e programao cultural em Portugal.
Os intervenientes cujo perfil traado neste captulo so (por ordem de entrada em
funes no CCB) Maria Jos Stock, Rui Vieira Nery, Manuel Falco, Miguel Leal Coelho,
Miguel Lobo Antunes, Antnio Pinho Vargas, Filipe Mesquita de Oliveira, Francisco Motta-
Veiga, Miguel Vaz, Augusta Moura Guedes, Antnio Mega Ferreira, Francisco Sassetti, Lusa
Taveira, Vasco Graa Moura e Andr Cunha Leal. No foi possvel ter acesso s biografias
de Jos Ribeiro da Fonte e de Joo Ludovice e por esse motivo o perfil dos mesmos no surge
neste captulo.
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Captulo III Estudo dos vrios perodos atravs da voz dos programadores e
dos documentos do CCB
As entrevistas feitas aos intervenientes, um dos momentos mais importantes da
investigao conducente a esta dissertao, acabaram por resultar num conjunto de
documentos de grande valor histrico e documental. Na voz expressiva dos intervenientes
sente-se pulsar a vida de uma instituio e as suas repercusses na vida cultural de um pas. A
riqueza destes discursos so fontes histricas privilegiadas e nicas. Tendo em conta que, para
muitos fenmenos culturais e sociais relevantes do passado, o investigador nem sempre
dispe de relatos dos prprios intervenientes, no ser demais relembrar como valioso o
relato contemporneo das prprias pessoas envolvidas.
Nesse sentido, optou-se por fazer citaes longas e com uma interveno judiciosa e
no excessivamente opinativa da presente autora. Ao fluxo discursivo dos intervenientes
acrescentaram-se unicamente perspectivas e informaes que situassem melhor o discurso dos
agentes, sem o cortar e enquadrar excessivamente, deixando essa perspectiva crtica para uma
fase posterior da dissertao (captulo IV e concluso).
Por outro lado tambm se desejou que a voz dos documentos oficiais fosse
ouvida, tendo-se recorrido, para esse efeito, citao e sintetizao a partir dos principais
documentos que ciclicamente eram produzidos pela direco do CCB, a saber, os relatrios de
actividades e contas (publicados anualmente, para uso interno) e os programas de actividades
usados na promoo da programao cultural (publicados trimestralmente em grandes
tiragens).
Daqui decorre que, tendo em conta os princpios referidos, se optou por organizar
este captulo em torno de cinco seces correspondentes a grandes perodos de actividade do
CCB e seus diferentes mandatos de Conselhos de Administrao (apesar de um dos perodos
de maior instabilidade, o que medeia entre 2001 e 2005, se ter optado por aglutinar vrias
constituies do Conselho de Administrao num s perodo).
Cada uma dessas seces correspondente a cada um desses perodos - dividiu-se
em trs sub-seces: uma primeira que toma como principal material de trabalho as
entrevistas feitas aos principais intervenientes do perodo em causa (que falam sobre
estratgias de produo e programao, a escolha das equipas, contexto poltico e financeiro),
uma segunda que recolhe e sintetiza informao (dados quantificados sobre actividade
culturais e comerciais, balano do ano anterior e perspectivas para o ano seguinte) a partir dos
documentos oficiais produzidos nesse mesmo perodo, e uma terceira seco onde se
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sintetiza informao sobre dois importantes factores na programao, tambm, desse perodo,
a saber: a tipologia e tipo de produo de todos os espectculos em causa.
No fim do captulo, com o intuito de apresentar uma imagem clara da evoluo da
presena da Msica ao longo dos primeiros 20 anos da sua actividade, apresenta-se um
quadro-resumo.
Captulo IV Anlise aprofundada do perodo 2006 a 2011 atravs de base de
dados
Para um conhecimento aprofundado da actividade performativa no campo da Msica
Erudita, optou-se nesta investigao pela construo de uma base de dados construda de raiz.
Tambm para poder analisar as questes com outras ferramentas alm do discurso dos
programadores e os documentos oficiais produzidos no CCB.
Com 1320 entradas de todos os espectculos musicais (dos quais, 873 entradas,
correspondem a espectculos de Msica Erudita) concretizados entre 2006 e 2011, e com
diversos campos de preenchimento, esta base de dados permite compreender de uma forma
detalhada diversos factores e caractersticas da programao musical neste perodo especfico.
Depois de, num primeiro momento, se proceder descrio e discusso dos campos
abordam-se seguidamente, vrias questes sobre a programao musical entre 2006 e 2011. A
estas procurar-se- dar resposta atravs da anlise da base de dados, principalmente com a
elaborao de vrios grficos e tabelas que permitem visualizar vrias tendncias e opes de
forma quantificada e objectiva.
Aps anlise aos Grficos e Tabelas, foi possvel retirar, a partir das respostas
conseguidas, as principais concluses que tm de ser articuladas com todo o discurso dos
programadores e informaes veiculadas em documentos oficiais do CCB.
Concluso
Na concluso pretendeu-se trazer resposta s questes levantadas na introduo
apresentando a investigao de forma crtica e original e assim contribuir para a identificao
das tendncias da programao na rea da msica no CCB e compreender os contextos da
programao e do enquadramento das polticas culturais.
Deve-se ressalvar que a presente investigao, ao debruar-se sobre um assunto to
vasto, complexo e recente, pode no cobrir alguns detalhes.que possam ser considerados
importantes.
No entanto, pretendeu-se apresentar uma viso equilibrada e baseada em fontes
fidedignas que cobrisse ao mximo todos os aspectos em causa.
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Posfcio. Balano e perspectivas futuras na voz dos intervenientes
Nesta seco final, registaram-se algumas respostas dadas pelos entrevistados a duas
questes presentes no guio de entrevista: qual o balano feito sobre os 20 anos do CCB de
uma forma geral e como se perspectiva o futuro desta instituio?
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Captulo I: Reflexo Crtica do Objecto. Enquadramento
Global do CCB O tema geral em que se insere este trabalho de vasta dimenso e de particular
importncia nas sociedades democrticas actuais mais desenvolvidas e liga-se s questes da
cultura e ao modo como esta organizada, gerida e dada fruio do pblico por escolhas
polticas conscientes.
A evoluo das sociedades europeias no ps-guerra caracteriza-se por uma
interveno poltica do estado no campo da cultura. Paralelamente aos avanos na proteco
social das populaes, do aumento do nvel educativo, o Estado assume-se como motor da
democratizao do acesso cultura. Esse acesso facilitado pela criao de instituies
pblicas como sejam museus, teatros nacionais, orquestras, companhias de bailado e centros
culturais polivalentes. Tratava-se de trazer os cidados para a proximidade da alta cultura e da
arte numa perspectiva democrtica.
I.1 CCB e sua Contextualizao
Em Portugal, o percurso foi sinuoso e acabou por se chegar a um modelo de
interveno do Estado que, pelo menos no nvel terico, seguia o exemplo do que era comum
na Europa.
Mas de realar que o papel mais importante nessa modernizao comeou por ser
preenchido por uma fundao privada: a Fundao Gulbenkian, que iniciou as suas
actividades no mbito da cultura, ainda durante o Estado Novo.
Entre 1933 at 1974, Portugal dominado pelo regime ditatorial salazarista, o Estado
Novo. A aco cultural deste regime autoritrio baseada na propaganda, onde veiculada a
ideologia do regime, nomeadamente por organismos como a Secretaria Nacional de
Informao.
A partir da revoluo de 25 de Abril de 1974 instaurada a democracia e iniciam-se
mudanas significativas nos sectores poltico, econmico, social e cultural. As preocupaes
com a generalizao da educao, do acesso cultura, comeam a influenciar as polticas
culturais do regime democrtico. No entanto necessrio compreender, que neste estado
transitrio, o atraso em que o pas estava, devido ditadura, colocou a cultura numa posio
menos prioritria face aos problemas sociais, polticos e educativos de urgente resoluo.
A partir de 1976, com o estabelecimento da Secretaria de Estado da Cultura,
comeam a surgir novas medidas legislativas para a cultura. Os programas dos Governos que
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se seguem, reforam a generalizao e descentralizao do acesso cultura, a salvaguarda do
patrimnio e o incremento da participao cultural. O V Governo cria o Ministrio da
Coordenao Cultural e da Cultura da Cincia, onde so explicitados os objectivos e a prpria
orgnica da poltica cultural.
Nos anos 80 a cultura passa a constituir um tema recorrente do discurso poltico.
Com a perspectiva da adeso de Portugal Comunidade Econmica Europeia em 1986 h
uma preocupao com a imagem de Portugal na Europa, com a identidade nacional e a
valorizao da cultura portuguesa.
Em 1983 com o IX Governo do Bloco Central (PS e PSD) criado o Ministrio da
Cultura, mas que sofre de considerveis constrangimentos financeiros.
Em 1986 Portugal entra na Comunidade Econmica Europeia e o financiamento
europeu permite desenvolver as politicas culturais.
Entre 1985 e 1995, Portugal foi governado por um executivo social-democrata, sob a
liderana de Cavaco Silva (Governos X,XI e XII) e a cultura regressa ao estatuto de Secretaria
de Estado. no X Governo que criada a Lei do Mecenato (Decreto-Lei n258/86) que visa
promover o patrocnio particular e empresarial no apoio s arte e criao artstica, tendo
como contrapartidas benefcios fiscais. Contudo a presena mecentica das empresas ou
privados encontra-se mais nos projectos em que o Estado participa maioritariamente.
Com efeito, no final dos anos 80 e incio de 90 so criadas, por iniciativa do Estado,
algumas Fundaes. Ao abrigo da Lei do Mecenato as condies de apoio s entidades
culturais tornam-se mais favorveis para as entidades privadas. A mesma lei prev que os
donativos dados s Fundaes beneficiam automaticamente de abatimentos ao montante do
rendimento colectvel para efeitos de liquidao do imposto desde que o Estado comparticipe
em pelo menos 50% da sua dotao inicial. (Santos, 1998; p.274)
neste contexto que surgem (entre 1989 e 1993) Fundaes como a Fundao de
Serralves, Fundao Arpad-Sznes-Vieira da Silva e a Fundao das Descobertas
(posteriormente, em 1999, denominada Fundao Centro Cultural de Belm), objecto de
estudo da minha investigao.
Em 1994 Lisboa Capital Europeia da Cultura e acolhe e programa diversos eventos
culturais nacionais e internacionais de dimenso bastante considervel, colocando Lisboa no
roteiro cultural europeu e os novos equipamentos culturais, como o CCB e a Culturgest
(ambos criados no mesmo ano), acolhem numerosos eventos desta iniciativa.
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Em 1995 toma posse o Governo socialista de Antnio Guterres e criado o
Ministrio da Cultura, tendo como Ministro da Cultura Manuel Maria Carrilho, cuja premissa
colocar a poltica no corao da cultura e criar novas medidas estratgicas para a cultura
(Arte em rede, IA, DGArtes).
Em 1998 Lisboa novamente palco de mais uma iniciativa de grandes dimenses
culturais, a Expo'98 - Exposio Mundial ou Universal, com vrios eventos paralelos tais
como o Festivais do Mergulho e o Festival dos 100 Dias e onde mais uma vez o CCB se
insere como entidade acolhedora de espectculos.
Todos estes mega-eventos, associados ao crescimento de equipamentos culturais e
criao da chamada rede dos cine-teatros, so acontecimentos que vo criando a necessidade
de novos agentes culturais que sirvam como intermedirios entre a esfera da criao e a esfera
da recepo. Os profissionais que concebem a programao para esses equipamentos podem
ser vistos ento como agentes que vm preencher novas necessidades mas ao mesmo tempo
so os verdadeiros executores da poltica cultural e nesse sentido, as suas escolhas devem ser
confrontadas com os objectivos declarados dessa mesma poltica.
nesta perspectiva que considero da maior relevncia abordar este objecto de
estudo.
A poltica cultural um campo abrangente, de desideratos que, chega, mais cedo ou
mais tarde, a uma determinada realizao. A sua concretizao decorre ento de escolhas e
decises concretas. O primeiro-ministro nomeia um ministro da cultura que por sua vez
nomeia o presidente do CCB que por sua vez escolhe determinados programadores ou
assessores. portanto, depois no estudo do que se oramentou, do que se planeou, e do que se
fez, na prtica, que se pode distinguir uma determinada poltica cultural ou a sua ausncia.
Este funcionamento concreto do CCB serve ento como um barmetro bastante fiel de
questes maiores aplicveis a outros contextos dentro da poltica cultural em Portugal. E, no
caso especial deste estudo, o CCB tambm um exemplo do tabuleiro onde evolui o
programador. Uma profisso recente, j importante em muitos pases, mas que ter as suas
especificidades decorrentes de cada contexto local. Neste particular contexto do CCB, e na
urgncia omnipresente de resolver questes prticas, podemos acompanhar toda uma
evoluo do programador em Portugal.
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I.2. Pequeno Historial e Enquadramento Legal do CCB
Apesar de ser difcil encontrar nos documentos oficiais uma tal informao, so
vrios os testemunhos (Maria Jos Stock e Sofia Mntua16
) que afirmam que Teresa Patrcio
Gouveia e Antnio Lamas (quando estavam na Secretria de Estado da Cultura e no IPPC17
,
respectivamente) tero estado na gnese da ideia do Centro Cultural de Belm. Em 1988
lanado um concurso de ideias para a construo deste equipamento cultural com
caractersticas nicas e que, at ento no existiam em Portugal. Durante o X Governo
Constitucional, cujo Primeiro-Ministro era o social-democrata, Anbal Cavaco Silva,
lanado um concurso de arquitectura para o projecto do CCB.
No texto do arquitecto, Nuno Grande, pode-se ler, relativamente ao lanamento do
concurso para o projecto arquitectnico do futuro CCB que O Estado portugus, atravs da
Secretaria de Estado da Cultura e do Instituto Portugus do Patrimnio Cultural (IPPC),
lanou o Concurso Pblico Internacional para o Centro Cultural de Belm (CCB), a construir
no lado poente da Praa do Imprio, frente ao Tejo, num lugar ciclicamente mitificado na
Histria de Lisboa. Num local que remete zona emblemtica de Belm, associada aos
Descobrimentos e localizao da Exposio do Mundo Portugus realizada em 1940.
Aps a revoluo do 25 de Abril de 1974 e com a perda do mercado colonial,
Portugal mantinha uma grande dependncia externa. nesse contexto que o pas se aproxima
do mercado europeu, fazendo o pedido de adeso em 1977, mas s em 1986 que esse pedido
se concretiza, em simultneo com a Espanha, naquele que foi o terceiro alargamento do grupo
europeu. A CEE faz parte do processo de formao do que hoje a Unio Europeia (UE), que
teve na sua origem, a inteno de fomentar o progresso econmico, a liberdade e uma paz
duradoura entre os estados vizinhos da Europa. Portugal assinou o tratado de adeso
Comunidade Econmica Europeia (CEE), a 12 de Junho de 1985. O primeiro-ministro de
ento, Mrio Soares, liderou a comitiva que formalizou, no Mosteiro dos Jernimos, a entrada
do pas no projecto europeu. Portugal atravessava uma grave crise financeira, acentuada pela
recesso da economia mundial.
Para Nuno Grande, o facto de Portugal ter aderido CCE, foi importante para o
conceito subjacente ao projecto do CCB e afirma que Esse gesto conduziria criao do
primeiro grande smbolo arquitectnico da Democracia portuguesa, fruto de uma estabilidade
16 Coordenadora do Departamento de Comunicao do CCB
17 Instituto Portugus do Patrimnio Cultural (1980-1992)
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poltica e financeira, garantidas, ento, pela recente integrao de Portugal na Comunidade
Europeia (1986). A construo do CCB teve, na verdade, um duplo objectivo: criar a sede da
primeira Presidncia Portuguesa da CEE, em 1992, e, aps esta, oferecer cidade um lugar de
celebrao da cultura portuguesa, numa renovada relao de complementaridade com a
criao artstica internacional.
Uma vez concretizada e aprovada a ideia do projecto para a construo do CCB18
e
respectivos objectivos, lanado um concurso pblico para o projecto arquitectnico do
futuro CCB. As valncias do edifcio eram: primeiro, o acolhimento da Presidncia
Portuguesa da CCE, em 1992 e segundo, a abertura, em 1993, de um equipamento cujo
objectivo seria a promoo da cultura, desenvolvendo a criao e a difuso em todas as suas
especificidades, do teatro dana, da msica clssica ao jazz, da pera ao cinema, tendo
tambm, como actividade complementar, um centro para a realizao de conferncias e
reunies profissionais.
O concurso internacional foi lanado pelo Instituto Portugus do Patrimnio Cultural
(IPPC). Foram recolhidos quase sessenta projectos, dos quais seis foram convidados a
desenvolver o ante-projecto. A proposta seleccionada foi a do consrcio do Arquitecto
Vittorio Gregotti (Itlia) e do Arquitecto Manuel Salgado (Portugal) que previa a construo
de cinco Mdulos: Centro de Reunies (Mdulo 1), Centro de Espectculos (Mdulo 2),
Centro de Exposies (Mdulo 3), Zona Hoteleira e Equipamento Complementar19
.
Este projecto arquitectnico20
constitudo por cinco Mdulos, dos quais s trs esto
construdos, o Centro de Reunies, o Centro de Espectculos e o Centro de Exposies foi
inaugurado em Janeiro de 1992, aquando a Presidncia Portuguesa da CEE.
O Centro de Reunies21
, primeiro mdulo, foi pensado para acolher, de forma
privilegiada, congressos e reunies de qualquer natureza ou dimenso. A estrutura tambm
18 Ver Anexo 1 CCB Vista Area
19 Nuno Grande: Ao concurso annimo, lanado em 1988, compareceram 53 equipas de arquitectos, oriundos
de 10 pases, cujas propostas espelhavam as diferentes tendncias presentes no debate ps-moderno, ento em
curso na cultura arquitectnica europeia e americana. De entre estas, o jri seleccionou 6 finalistas para uma
segunda fase do concurso, j sem anonimato: Vittorio Gregotti/RISCO; Gonalo Byrne; Manuel Tainha; Jean
Tribel; Jean Pistre e, tambm, Renzo Piano (este ltimo acabaria por desistir no decorrer do processo).
Como foi referido, a proposta seleccionada na altura e que constitui e o actual edifcio do Centro Cultural de
Belm decorre do projecto vencedor desenhado pelo conjunto dos arquitectos Vittorio Gregotti e Manuel
Salgado/RISCO. 20
Ver Anexo 2 CCB Planta do CCB (Mdulos, 1, 2 e 3) 21
Ver Anexo 12 Planta do Centro de Reunies
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Escola de Comunicao, Artes e Tecnologias de Informao 40
alberga os servios gerais de funcionamento do CCB e servios comerciais (restaurantes e
lojas).
O Centro de Espectculos22
, segundo mdulo, o epicentro da produo e
apresentao de carcter artstico e cultural do CCB. So trs salas de diferentes dimenses
equipadas para acolher diversos tipos de espectculos, desde o cinema pera, do bailado ao
teatro ou qualquer gnero musical. O Grande Auditrio tem uma capacidade de 1429 lugares,
o Pequeno Auditrio, uma lotao de 348 lugares e a Sala de Ensaio comporta 72 lugares.
ainda nesta estrutura que se encontram as salas de apoio produo e preparao dos
espectculos.
O Centro de Exposies23
, terceiro mdulo, composto por um conjunto qualificado
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