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A questão negra na história e literatura brasileira: Aula 1
Arthur Timótheo da Costa
Contato: lucas.pereira@ifsp.edu.br
Lucas de Almeida Pereira, licenciado em História pela UNESP de Assis
Participação no NUPE e curso de extensão sobre História e Cultura Negra no Brasil e nos EUA
Linhas de pesquisa: Teoria da história (Doutorado) e História da Ciência (Pós-doc)
Discussão de temas ligados à História da África em cursos ministrados na UFABC (Pós-doc)
Concepções de alunos: África como país, África como sinônimo de miséria.
Introdução
Lei 10.639: Breve Histórico das lutas:
Final do século XIX: ativistas abolicionistas cobravam educação estatal para filhos de escravos.
Década de 1930: Frente Negra Unificada
Década de 1980: Centenário da Abolição e desenvolvimento de projetos contra racismo ligados à ONU
Introdução
1995: Benedita da Silva propunha o Projeto de lei 18 de 1995, que regulamentava o ensino de História da África
1999: Projeto de lei de Esther Grossi e Benhur Ferreira
2001: Conferência Mundial Contra o Racismo (África do Sul): Brasil se compromete a instituir a disciplina de “História da África”
2003: Promulgação da Lei 10.639/03
2008: Promulgação da Lei 11.645/08
2012: Promulgação da Lei nº 12.711/12 que institui as cotas sociais e raciais.
História e literatura
História e Literatura são duas artes narrativas. Enquanto narrativas compartilham características como autoria, ideologia, público, etc.
Enquanto autores como Hayden White tornaram a linha entre história e literatura quase imperceptível, Paul Ricoeur tratou de diferenciar literatura (ficcional e não ficcional) da história. Para Ricoeur a história se caracteriza pelo apoio em um método crítico (análise documental) e em uma intenção de retratar a verdade.
Por quê História e Literatura?
Para permitir o contraste entre modelos narrativos. Veremos que em muitos casos ambos são complementares. No caso do século XIX, por exemplo, poucos livros ajudam melhor a situar e compreender a sociedade do que “O cortiço”.
Nossa proposta é entender as diferentes imagens construídas em torno de indivíduos e culturas afro-brasileiros
África - Brasil
Durante todo o período do tráfico de escravos o Brasil recebeu cerca de 4.000.000 (IBGE)* de africanos, a maioria proveniente da região do Congo-Angola (68%) e da Nigéria (18%)
Os primeiros africanos vieram ao país trabalhar na extração de pau-brasil, liderada por Jorge Lopes Bixorda, ainda em 1538.
Em 7,6% dos brasileiros identificaram sua cor ou raça como preta, 43,1% como parda e 47,7% como branca
Mapa
Números da presença africana
No início do século XIX, o Brasil tinha uma população de 3.818.000 pessoas, das quais 1.930.000 eram escravas. Em algumas partes do Brasil, o número de escravos chegou a superar o número de pessoas livres. Em 1872, no município de Campinas, São Paulo, então grande produtor de café, a população escrava era de 13.685 pessoas, enquanto a livre era de 8.281 pessoas. Até meados daquele século, quando foi abolido o tráfico, a maior parte dos escravos era nascida na África. Para se ter uma ideia, os africanos representavam 63 por cento da população escrava de Salvador. No Rio de Janeiro, os nascidos na África constituíam cerca de 70 por cento.
Demografia por cor
Fases da Africanidade brasileira
Preíodo da Escravidão:
Fase inicial: 1450 – 1650
Fase de Consolidação: 1650 – 1850
Declínio e abolição: 1850 – 1889
Período Republicano:
Racismo Científico: 1890 – 1930
Identidade nacional: 1930 – 1960
Movimentos negros: 1960 - Presente
Raça e Etnia
Um aspecto fundamental da escravidão era a posição social inferior atribuída ao escravo e seus descendentes. O sangue português, em um poderoso rio deverá absorver os pequenos afluentes das raças índia e etiópica (VARNHAGEN, p.188-189).
Raça: Conceito biológico
Etnia: conceito sócio-cultural
Tanto raça quanto etnia podem compor sistemas de preconceito.
Proposta do curso
Pensar a identidade nacional brasileira a partir da inserção da cultura negra, por meio da história e literatura.
Não descartar, mas ir além do lugar comum sobre a história e cultura afrobrasileira.
Uso simultâneo de fontes acadêmicas e textos “clássicos” da literatura brasileira.
Zumbi e Ganga Zumba
Machado de Assis e Carolina Maria de Jesus
Cruz e Souza e Luís Gama
Henrique Dias e Nilo Peçanha
Pelé e Paulo César Cajú
Cronograma e textos
05/09 Aula 1: Apresentação do curso e Introdução sobre identidade nacional
12/09 Aula 2: de africanos a escravos - Uma história do negro no Brasil - / Sermão Décimo Quarto – Padre Antônio Vieira
26/09 Aula 3: escravos e libertos - Uma história do negro no Brasil - / Pai Contra Mãe (Machado de Assis)
03/10Aula 4: Abolição e pós abolição - Uma história do negro no Brasil - / O Cortiço (Aluísio de Azevedo)
10/10Aula 5: Teorias raciais do século XIX / O presidente negro (Monteiro Lobato)
Cronograma e textos
17/10 Aula 6: Da raça à cultura / Macunaíma (Mário de Andrade)
24/10 Aula 7: Gilberto Freyre e a questão do Negro em Casa Grande & Senzala
31/10 Aula 8: Abdias do Nascimento e novas perspectivas voltadas à questão Negra/ Quarto de despejo (Carolina Maria de Jesus)
14/11 Aula 9: A repressão e reorganização dos movimentos negros (1960-1980) / Conto dos Cadernos Negros
21/11 Aula 10: Cultura Afro-brasileira - Encerramento de curso / Lima Barreto
Avaliação e certificados
Os certificados serão emitidos
A avaliação consistirá na produção de um material pedagógico inspirado em um tema ou articulando vários temas do curso.
Esse material pode variar desde um plano de aulas, um projeto de pesquisa, produção de material artístico, sequência didática, etc.
A invenção das tradições
Por “tradição inventada” entende-se um conjunto de práticas, normalmente reguladas por regras tácita ou abertamente aceitas; tais práticas, de natureza ritual ou simbólica, visam inculcar certos valores e normas de comportamento através da repetição, o que implica, automaticamente; uma continuidade em relação ao passado (HOBSBAWM; RANGER, 1997)
Exemplo paulistano: A Catedral de São Paulo.
A língua brasileira
O português só tornou-se difundido por todo o país no século XIX. Até então falava-se no Brasil uma série de línguas híbridas, que articulavam elementos indígenas, negros e europeus.
Entre os séculos XVI e XVIII se falava no Brasil a língua geral, uma versão do tupi traduzida e ensinada pelos padres jesuítas
Português oficializado em 1757 (Provisão Real que proibia o Tupi, usado em catequeses).
Após a chegada da corte a língua brasileira se “re-aportuguesa”.
Línguas africanas e português
Os africanos não eram alfabetizados por jesuítas e, em geral, aprendiam a língua com seus patrões. Uma das primeiras divisões estabelecidas entre os escravos eram os que falavam a língua dos patrões (ladinos) e os que não falavam (boçais)
Diferenças em relação ao português de Portugal:
Pronúncia
Lexical
Estrutural: (Estou a fazer/ estou fazendo)
Concordância (principalmente de número)
Termos compartilhados (Brasil, Angola, Moçambique) Estudo de Alkmim e Petter (2008)
Categoria 1: inclui termos que podem ser usados em qualquer interação social (30 vocábulos): abadá, banzo, caçamba, cachaça, cachimbo, caçula, candango, canga, capanga, carimbo, caxumba, cochilar, corcunda, dengo, fubá, gibi, macaco, maconha, macumba, marimbondo, miçanga, molambo, moleque, moringa, quilombo, quitanda, quitute, senzala, tanga, xingar;
Categoria 2: constituída de termos informais, de uso coloquial que,dependendo da situação, são substituídos por outros (9 vocábulos):
bamba, bambambã, banguela, cafuné, catimba/catimbeiro, catinga, mandinga, muamba, muxox; Categoria 3: contém termos marcadamente informais, de uso
restrito (17 vocábulos): angu, babaca, babau, biboca, bunda, cafofo, cafundó, cambada, cucuia, muquifo, muquirana, muvuca, muxiba, quizumba, sacana, ziquizira, zumbi.
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