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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BELO HORIZONTE
DEBORAH PRADO CARVALHO
A RELAÇÃO BRASIL E ARGENTINA:
Desdobramentos do período Pós- Redemocratização, até o século
XXI
Belo Horizonte
2008
3
DEBORAH PRADO CARVALHO
A RELAÇÃO BRASIL E ARGENTINA:
Desdobramentos do período Pós- Redemocratização, até o século
XXI
Monografia apresentada ao Centro Universitário de Belo Horizonte como requisito parcial para a obtenção do título de bacharel em Relações Internacionais. Orientador: Professor Danny Zahreddine
Belo Horizonte
2008
4
DEBORAH PRADO CARVALHO
A RELAÇÃO BRASIL E ARGENTINA:
Desdobramentos do período Pós- Redemocratização, até o século
XXI
Monografia apresentada ao Centro Universitário de Belo Horizonte como requisito parcial para a obtenção do título de bacharel em Relações Internacionais. Orientador: Professor Danny Zahreddine
Monografia defendida e aprovada em:
11 de Dezembro de 2008
Banca examinadora:
_______________________________________________ Prof. Leonardo Ramos, UNI-BH
_______________________________________________ Prof. Cristiano Mendes, UNI-BH
5
Agradeço fortemente ao meu orientador, Professor Danny, por sua
dedicação, capacidade e conhecimento, mas a cima de tudo por me
incentivar e confiar na qualidade do meu trabalho. Agradeço também
a cobrança, e insistência que com certeza foram primordiais para a
conclusão do mesmo.
6
“A vontade é impotente perante o que está para trás dela. Não poder
destruir o tempo, nem a avidez transbordante do tempo, é a angústia
mais solitária da vontade.” (Friedrich Nietzsche)
7
RESUMO
O Brasil e a Argentina são dois países que no decorrer dos seus processos históricos
apresentaram contextos em semelhante quadro temporal. Porém, durante a maior parte
destes processos, o relacionamento mútuo destes países apresenta um cenário em que a
rivalidade supera os momentos de cooperação. Durante o período das ditaduras militares o
relacionamento dos países se tornou mais acirrado de fato. Com o fim destes regimes
autoritários a cooperação se tornou mais importante e freqüente. Pretende-se então
demonstrar a relevância do relacionamento bilateral desde então, através de fatos históricos
e explicá-los sob a lógica da Teoria da Paz Democrática.
Palavras-chave: Democracia. Ditaduras. Relacionamento bilateral. MERCOSUL.
8
ABSTRACT
Brazil and Argentina are two countries that shows in theirs historic process similar contexts
through time. Although, the mutual relationship between them point that competitive sets are
more common than cooperative ones. In fact, this relation during the military dictatorship
governments becomes more agitated. Since the redemocratization the cooperation becomes
more important and frequently. This text will explain this new dynamic of bilateral relationship
among Brazil and Argentina by Peace Democratic Theory.
Key-words: Democracy. Dictatorship. Bilateral Relationship. MERCOSUL.
9
SUMÁRIO INTRODUÇÃO.....................................................................................................................p.10
1. CAPITULO I – O HISTÓRICO DAS RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS:
1.1. O Estado e a Sociedade ..............................................................................................p.13
1.1.1 O Processo Histórico de Construção nacional................................................p.14
1.2 Posicionamentos Diferentes em Momentos Distintos....................................................p.16
1.2.1 A Guerra do Paraguai......................................................................................p.16
1.2.2 A Diplomacia de Barão do Rio Branco............................................................p.19
1.2.3 Vargas e Perón................................................................................................p.21
1.2.4 Juscelino e Frondizi.........................................................................................p.23
1.3 As Ditaduras...................................................................................................................p.26
1.3.1 O aumento das disputas .................................................................................p.28
1.3.2 Questões Energéticas.....................................................................................p.29
1.3.3 O MERCOSUL.................................................................................................p.30
2. CAPÍTULO II – DEMOCRACIA
2.1 Definição .......................................................................................................................p.32
2.2 O Surgimento da Democracia....................................................................................... p.33
2.3 Proposta de Evolução do Sistema Internacional............................................................p.35
2.4 Liberalismo.....................................................................................................................p.36
2.4.1 O Livre-Comércio.............................................................................................p.37
2.4.2 As Instituições..................................................................................................p.38
2.4.3 A Democracia..................................................................................................p.40
2.5 A Democracia e o Sistema Internacional.......................................................................p.41
2.5.1 Teoria da Paz Democrática.............................................................................p.43
3. CAPÍTULO III – BRASIL E ARGENTINA, PAZ DEMOCRÁTICA?
3.1 A Democracia antes da ditadura....................................................................................p.47
3.2 A redemocratização.......................................................................................................p.50
3.3 Século XXI......................................................................................................................p.53
4.CONCLUSÃO....................................................................................................................p.55
5.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................p.59
10
INTRODUÇÃO
O relacionamento Brasil e Argentina se alterou diversas e dramáticas vezes ao longo
do século, passou de uma situação fortemente negativa dos conflitos armados, como no
Prata, onde os interesses se chocaram, à busca de uma aproximação através de processos
de integração. São vários os momentos onde as percepções se tornaram divergentes, mas
pouco a pouco os sinais de entendimento e de cooperação foram superando contendas.
O histórico do relacionamento dos dois países possui muitos momentos relevantes
tanto de instabilidade, quanto de estabilidade, mas somente após a “liberalização” dos
regimes ditatoriais no Brasil e na Argentina que estes países enfatizaram a importância e as
vantagens de trabalharem valorizando o relacionamento bilateral, em cooperação mútua
para alcançar maior poder de barganha, e consequentemente, maiores vantagens para eles
mesmos e colaborando para a imagem da América Latina no Sistema Internacional.
Portanto, delimitei o tema do trabalho como “A relação Brasil e Argentina:
Desdobramentos do período pós- redemocratização, até o século XXI”. O tema é relevante e
congruente com o curso de Relações Internacionais, pois trata o relacionamento político de
dois Estados, e as articulações de seus respectivos Chefes de Estado e de suas
Chancelarias. Além disso, o foco principal do trabalho, que são os efeitos da
redemocratização no relacionamento dos dois países, foi o que impulsionou a configuração
deste relacionamento, entre Brasil e Argentina, na atualidade.
“As historias de Argentina e do Brasil apresentam um ziguezague que seria
impossível perceber com clareza atentando-se apenas para o tempo curto contemporâneo.”
(FAUSTO; DEVOTO, 2004, p. 25). Porem, não há espaço aqui para tratar de análises
profundas de todas as inquietações, enfrentamentos onde se contiveram ou moderaram
conflitos, este tipo de análise caberá aos momentos relevantes e cruciais para o
entendimento do contexto a ser tratado.
Neste contexto entre o Brasil e a Argentina, haviam diferenças e assimetrias que
poderiam ser superadas, por exemplo, a maior estabilidade econômica Argentina frente ao
Brasil, rapidamente superada por este ultimo, e a busca por maior inserção por parte da
Argentina no mundo das grandes potencias, enquanto o Brasil procurava definir mais
especificamente sua própria inserção (posicionamento) neste mundo.
Porem há divergências incrustadas, que são irredutíveis, como o peso demográfico,
territorial e econômico do Brasil, que é maior que do vizinho; a busca de originalidade do
Brasil na sua construção política e social, enquanto que a Argentina pretende-se uma
reprodução de matriz européia regional, com a qual se identifica fortemente. O Brasil tem a
11
tendência de buscar novas fronteiras e novos desafios para o crescimento em seus próprios
espaços externos, enquanto a Argentina sonha com a civilização com a qual se identifica
(FAUSTO; DEVOTO, 2004).
Os momentos recíprocos de instabilidade em ambos os países a partir da década de
1970 até meados de 1980 proporcionaram a reimplantação quase ao mesmo tempo de
regimes democráticos, direcionados à integração e a superação de contendas passadas,
que é o momento histórico crucial abordado no trabalho, de onde se pretende provar o
começo da relevância do relacionamento bilateral e de onde passariam “de rivais a sócios”
(AZAMBUJA, 1994).
Segundo AZAMBUJA, Brasil e Argentina se engajaram em três grandes projetos,
onde os resultados alcançados em uma dimensão teriam efeito catalisador sobre as outras.
Estes são: 1- promoção acelerada da integração bilateral; 2- a identificação de pontos
convergentes em relação aos chamados temas globais e em áreas percebidas como de
importância estratégica por ambos; 3 – a edificação do Mercosul. O relacionamento que
buscaram construir foi pautado pela maior identificação nestas posições comuns.
A partir destas divergências previamente postas e dos possíveis catalisadores do
fortalecimento do relacionamento bilateral, o primeiro capítulo do trabalho “O Histórico das
Relações Diplomáticas”, propõe um contexto histórico que discuta os principais momentos
políticos entre ambos países.
Desde a virada do século até o principal período discutido no trabalho, os papéis
desempenhados pelo Brasil e pela Argentina no mundo e no continente americano
apresentam-se em duas vias.
No cenário internacional como um todo, ambos ocupam posições semelhantes, se
analisado de uma visão mais ampla, pois são dois países periféricos, com pouco poder de
barganha e com poucas possibilidades de atuarem ao lado das grandes potencias mundiais.
Portanto, se focado no continente, apresentam posições divergentes. Enquanto a
Argentina continuou ligada a Inglaterra, nas áreas financeiras e comerciais,e nos laços
culturais ingleses preservados pelos argentinos, o Brasil foi cada vez mais se aproximando
dos Estados Unidos, que desejava expandir sua zona de influência pela América, em busca
de maior presença mundial (AZAMBUJA, 1994).
O segundo capítulo foi delimitado por tratar da parte teórica do trabalho. A partir da
percepção do estreitamento diplomático brasileiro e argentino após a redemocratização de
seus governos, e do estudo de uma possibilidade de uma disputa regional por
desenvolvimento de armas nucleares no período das ditaduras militares, constituí que a
parte teórica do trabalho que caracterizará a Democracia e a Teoria da Paz Democrática.
12
Neste capitulo caberá a apresentação de uma definição mais completa de
democracia, sua importância e seus principais conceitos.
Já a Teoria da Paz Democrática, consiste, em uma definição mais simples, na
afirmação de que as democracias são mais pacíficas entre si. Encaixando-se neste contexto
pois, a partir do retorno dos governos de Brasil e Argentina à democracia, que o
relacionamento de ambos se tornou mais estreito e importante, deixando um longo período
de instabilidade diplomática para trás, e a possibilidade de uma disputa regional também
caracterizada pela construção da tecnologia de armas nucleares.
O Terceiro e último capítulo propõe uma mescla da teoria anteriormente demonstrada
no segundo capítulo com o contexto histórico apresentado no primeiro capítulo com o intuito
de desenvolver uma conclusão efetiva.
Primeiramente caberá uma análise, a luz da Teoria da Paz Democrática, do período
anterior às ditaduras, quando Brasil e Argentina regiam-se de governos democráticos, no
intento de explicar a instabilidade das posições dos países no período.
Logo seguirá a parte que evidenciará a redemocratização, o estreitamento na relação
do Brasil e da Argentina correlacionado à Teoria da Paz Democrática. Considerando o
direcionamento dos governos, e das chancelarias, que a priori parecem ser os percussores
desta aproximação. Levantando também o contexto internacional da época, devido sua
importância e a sua grande influência em função das grandes mudanças estruturais
ocorridas após a Guerra Fria e a Globalização Financeira, conseqüentemente ao
neoliberalismo.
Assim, apresenta-se o corpo estrutural do trabalho, suas divisões e subdivisões. É
importante evidenciar no decorrer da monografia o papel dos EUA, o contexto internacional,
o direcionamento dos governos e das chancelarias e que nem sempre o afastamento ou
estreitamento do relacionamento do Brasil e da Argentina dependem de estabilidade das
políticas internas. Estas variáveis serão melhor discutidas no decorrer do trabalho.
13
1. O HISTÓRICO DAS RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS
1.1 O Estado e a Sociedade
O Brasil e a Argentina dispõem de duas sociedades próximas territorialmente e de
processos em seus contextos históricos que se apresentam no mesmo quadro temporal,
apesar da diferença das dimensões territoriais, que se minimiza ao medir-se o espaço
efetivamente ocupado, as estruturas dos dois Estados e o PIB de suas economias.
No cenário internacional como um todo, ambos ocupam posições semelhantes, se
analisado de uma visão mais ampla, pois são dois paises periféricos, com relativo poder de
barganha e com poucas possibilidades de atuarem ao lado das grandes potências mundiais.
Portanto, se focado no continente, apresentam posições divergentes. Enquanto a Argentina
continuou ligada a Inglaterra, nas áreas financeiras e comerciais, e nos laços culturais
ingleses preservados pelos argentinos, o Brasil foi cada vez mais se aproximando aos
Estados Unidos, que desejava expandir sua zona de influência pela América, em busca de
maior presença mundial.
A partir da admissão das rivalidades e confrontos entre estes países, por parte
principalmente de suas elites, ambos se perceberam como muito diferentes ao longo de
quase toda a história do relacionamento. Como dito anteriormente, este relacionamento
esteve muito mais pautado sobre os centros políticos e econômicos do Ocidente do que
entre si, com exceção dos tempos mais próximos, principalmente após as transições
democráticas, onde o impulso nos campos político, econômico, cultural e acadêmico são
evidentes e ocasionaram em muitos intercâmbios e maior colaboração.
Em ambos os países, o Estado desempenhou o papel central, entretanto é
perceptível sua maior influência no Brasil do que na Argentina. O Estado brasileiro e as elites
que o manejavam em suas sucessivas fases, parecem ter-se adaptado melhor aos desafios
dos tempos modernos. (FAUSTO; DEVOTO, 2004). Enquanto no Brasil o Estado é mais
forte, na Argentina, a sociedade exerce este papel, em função de todos os recentes e
antigos fracassos, uma sociedade mais integrada foi se construindo no decorrer dos
processos históricos. No Brasil há uma efetivação maior de mecanismos sociais autônomos
em relação ao Estado.
14
1.1.1 O Processo Histórico da Construção Nacional
Ambos, Brasil e Argentina, nasceram com territórios enormes, subpovoados e
subocupados. Porém, a área do Brasil era três vezes maior que a da futura Argentina, o que
acabou influenciando a estrutura das colônias e os processos de independência.
O território do Brasil foi resultado do Tratado de Madri de 1750; o da futura Argentina
se configurou da criação do vice-reinado do Prata, em 1778. Entretanto, enquanto o vice
reinado foi criado a partir da reorganização de jurisdições já existentes, criando uma unidade
nova, o Tratado de Madri foi a ampliação do território conhecido como de Portugal, até então
sem dominação e em sua maior parte, pouco povoado, e sem jurisdição efetiva de outra
potência. Sendo então o Brasil continuação do domínio português, enquanto a Argentina era
uma nova nação.
Primeiramente nenhum dos dois países possuía uma noção de “identidade” de
pertencimento. As diferenças nos processos históricos se deram em função principalmente
pelo fato da Argentina ser uma nova nação e da independência da América espanhola ter
sido mais sangrenta e longa, ao contrário do Brasil, que teve um processo mais leve e
ordenado. A monarquia portuguesa deu maior consistência ao sistema social da colônia,
principalmente em função da escravidão, que favorecia as elites econômicas e sociais
(FAUSTO; DEVOTO, 2004).
Segundo FAUSTO e DEVOTO (2004), outra diferença vem do fato da Argentina
possuir apenas uma cidade destaque, Buenos Aires, que era a única com relacionamento
internacional, com comunicação com o exterior. Já o Brasil, no começo do século XIX,
detinha uma rede de cidades um pouco mais ampla e equilibrada do que a Argentina, com
destaque para Salvador e Rio de Janeiro.
Ambos os países eram subpovoados, mas a população brasileira cresceu desde o
inicio do século XIX até sua segunda década mais rapidamente do que a argentina. Os dois
países se abriram a imigração quase que ao mesmo tempo, a partir do momento em que
foram adquirindo maior autonomia em relação às metrópoles européias.
A população escrava no Brasil era muito mais significante que na Argentina.
Enquanto no Brasil o tráfico de escravos cresceu durante a segunda década do século XIX,
na Argentina a escravidão sempre se manteve em posição secundaria, e diminuiu em função
da crise econômica da época.
No Brasil, o sistema escravista ganhou tanta força que se tornou crucial na vida
social das cidades e campos. Os escravos desenvolviam atividades no setor latifundiário,
15
nas tarefas domésticas, e em atividades urbanas. Conclui-se então que este sistema
produziu no país profundas diferenças sociais, afetando os planos políticos e identitários.
Na composição étnica argentina, os indivíduos brancos eram bem mais significativos
na população, não extinguindo a existência de índios, mestiços e negros. Em 1870, com a
imigração em massa européia mais relevante na Argentina tornou ainda mais diferente esta
composição étnica da sociedade (FAUSTO; DEVOTO, 2004).
A inferioridade numérica da população argentina em relação ao Brasil, era um pouco
compensada em função de sua maior inclusão social, em detrimento da população ser
majoritariamente livre, mais mobilizada e com maior grau de envolvimento nas estruturas
estatais e na atividade política.
A partir de 1850, o Estado imperial se expande do centro para a periferia, destacando
Minas Gerais e São Paulo, que cresceram a um ritmo muito rápido em todas as áreas do
governo, consolidando o nascimento do Estado burocrático brasileiro. Entretanto, devido às
dimensões do território, o crescimento do aparelho burocrático era insuficiente. Já na
Argentina, a consolidação do Estado nacional carecia de um aparelho estatal mais forte, com
disposição de um Poder Judiciário nacional e de uma Suprema Corte de Justiça. Na década
de 1870, estas disparidades começaram a diminuir em grande escala (FAUSTO; DEVOTO,
2004).
O Brasil tinha um sistema de transportes relativamente bem menor, devido ao
território mais extenso. A burocracia imperial era mais antiga e portanto mais eficiente na
prática, porém, tinha dificuldades de cobrir todo o território nacional
É perceptível desde o começo deste capítulo que nem sempre a superioridade
dimensional do território brasileiro em relação ao argentino é favorável ao Brasil, devido à
necessidade de maior eficiência no sistema de comunicação, transporte e da dispersão
populacional (FAUSTO; DEVOTO, 2004).
Na economia, ambos os países viviam com constantes déficits e então recorrendo
sempre a empréstimos externos e internos. Como as receitas públicas dependiam dos
preços dos produtos de exportação, e os empréstimos dos fluxos internacionais de capitais e
do risco país, os recursos dos Estados oscilavam muito, comprometendo as políticas
publicas.
No Brasil a principal atividade econômica era a cafeeira, que dependia de maiores
investimentos em transportes para se tornar mais rentável, e também da mão de obra
escrava ou européia subsidiada. Já na Argentina era a pecuária, que carecia de baixo
investimento inicial e de conhecimento do ofício para propensão a maior ascensão
(FAUSTO; DEVOTO, 2004).
16
Uma crise de grandes proporções afetou os países na década de 1870. Na Argentina
o aumento dos gastos públicos e das dívidas internas e externas coincidiu com a queda das
exportações, diminuindo as receitas do governo. Embora a crise mundial tivesse começado
em 1873, esta não afetou o Brasil enquanto os preços internacionais do café estiveram altos.
Quando estes começaram a cair, o Brasil que dependia das receitas do café foi muito
afetado, prejudicando várias instituições financeiras. A situação cafeeira estava na pior fase,
primeiro porque dependia do preço internacional do café, que se mantivera em baixa ate
1885, e em segundo porque a decadência das zonas cafeeiras impedia o aumento da
produção.
A Argentina se recuperou mais rapidamente da crise devido à alta dos preços
internacionais dos produtos agropecuários, do surgimento de nova tecnologia para
exportação de carnes e do retorno ao mercado internacional de capitais. O modelo de
estabilidade da ordem pública e da funcionalidade do Brasil monárquico em relação às
republicas sul-americanas já começara a criar dúvidas, o sistema já não funcionava tão bem.
Com a abolição da escravatura a monarquia perdeu seu apoio, os escravistas já não
tinham porque respaldar o regime. A alternativa à monarquia foi a República, que daria maior
autonomia à província.
Ambos os países finalizaram o século XIX com crises, no Brasil, sobretudo política e
na Argentina, sobretudo econômica. Crises marcadas principalmente pelo Modelo Primário
Exportador, que dependiam da alta dos preços internacionais para a manutenção de suas
economias. No Brasil, a crise cafeeira acabou ocasionando uma crise política, tendo como
alternativa a República.
1.2 Posicionamentos Diferentes em Momentos Distinto s
1.2.1 A Guerra do Paraguai
O Brasil e Argentina, no fim de 1864, em vez de suprirem suas demandas urgentes
da economia ou de tratarem de assuntos importantes para consolidação de autoridade sobre
seu território, decidiram investir grandes quantias em uma contenda numa área marginal,
principalmente para o Brasil. Este esforço gerou um denso endividamento nos dois países e
uma paralisação quase que completa das atividades do Estado nas obras de infra-estrutura
e até nas imprescindíveis tarefas de ocupação e segurança do território. Para o Brasil o
17
prejuízo foi ainda maior, gerando uma aumento de 23% nos gastos militares. (FAUSTO;
DEVOTO,2004).
Foram muitas as razões da guerra. O Paraguai, no isolamento em função da sua
posição geográfica, e em relação a sua debilidade frente dois países mais poderosos,
buscava uma organização que não dependesse de Buenos Aires.
Solano Lopez herdou o trono de seu pai, Carlos Antonio Lopez. A despeito de sua
vontade autocrática, e de suas arbitrariedades, o Paraguai acabou perdendo o seu caráter
de República. Lopez buscava aumentar seu território através do Mato Grosso, seguindo as
províncias do Sul até encontrar o Atlântico (MACEDO, 1963).
A Inglaterra insatisfeita com a postura de Lopez, financiou o Brasil e a Argentina
contra o mesmo, que acabou iniciando uma ação hostil contra seus vizinhos.
O Uruguai se mantinha numa situação instável, dividido entre blancos e colorados. O
governo blanco projetava uma reconstituição do antigo eixo federalista do litoral argentino,
constituindo uma ameaça sobre um Estado frágil e em consolidação. A invasão do Uruguai
por Venâncio Flores, com o apoio do presidente argentino Mittre, acabou derrocando o
governo de Bernardo (blanco). O presidente Mittre tinha receios em relação a um
desequilíbrio de ordem territorial no Uruguai.
No caso do Brasil, os motivos para a guerra foram, sobretudo, geoestratégicos,
ligados a consolidação da fronteira sul. Todavia, o fator imediato envolve a vontade do
governo de Berro de regular a zona de fronteira com o Brasil, pois a consolidação desta
significaria a circulação de bens entre os dois lados, atingia o direito de possuir escravos dos
fazendeiros brasileiros. Isto gerou queixas que chegaram até o governo imperial dominado
por liberais, fortemente sensíveis às demandas do Sul, aumentando o risco de uma
contenda militar no Uruguai. Ao governo blanco restou pedir ajuda externa ao Paraguai, seu
único aliado potencial. A decisão de intervenção do Paraguai remete um erro de cálculo
político e militar, ao esperar que o Brasil e a Argentina, tradicionais rivais, não se aliariam
para atacar o país. Se as tropas paraguaias não tivessem invadido a província argentina de
Corrientes, talvez a mesma permanecesse neutra uma vez que a ameaça uruguaia do
governo blanco já não mais existia (FAUSTO; DEVOTO,2004).
A aliança entre Brasil, Argentina e Uruguai pode ter ocorrido pelo fato dos três países
terem governos autodeterminados como “liberais”, permitindo um discurso de uma guerra
contra o ditador paraguaio. Para o Uruguai a guerra não era importante, nem ao referencial
político nem ao ideológico; envolvido em conflitos internos, quase nem participou do conflito.
Para a Argentina, a impopularidade da guerra manteve seus partidários quase sempre na
defensiva. Já no Brasil o argumento civilizador (em torno de levar a ordem ao Paraguai)
tomou maiores proporções.
18
O fim dos conflitos internos no Brasil e dos Rosas1 na Argentina (a partir da
intervenção brasileira), favoreceram uma política mais ativa na região do Prata. Porém, na
Argentina a eminente eclosão destas tensões internas, após a derrocada de Rosas, impedia
uma política mais intervencionista em relação ao Uruguai e à região Sul do Brasil. Segundo
Fausto e Devoto (2004), no Paraguai, apesar da posição defensiva, pode-se pensar que
Lopez aspirasse objetivos em torno da hegemonia e até da expansão territorial, em direção
ao Litoral Argentino e ao Sul do Brasil.
No Brasil a guerra, de inicio, obteve o entusiasmo da população, que acreditava em
um confronto mais curto. Do contrário, ao longo do mesmo, o alistamento voluntário deu
lugar ao recrutamento forçado. Na Argentina, a guerra foi mais impopular, devido
principalmente a maior proximidade do teatro de operações. É possível que ambos os países
tenham duvidado da capacidade de Lopez, e esperado uma guerra mais curta, o que pode
ter ocasionado na sua impopularidade.
A estratégia de Brasil e Argentina, segundo os autores, era de “investir linearmente
contra o inimigo, facilitando a defesa”. A ineficácia da mesma foi comprovada na Batalha de
Curupaiti2, na tomada de Humaitá3, e em Tuiuti4. Esta posição remetia ao pensamento de
relevância, do Brasil e da Argentina, de sua superioridade militar, que era sobretudo
demográfica e econômica. Entretanto, as ações ofensivas encontravam barreiras em relação
à dificuldade logística e de deslocamento das tropas. A estratégia de Lopez, embora fosse
perdedora, adotava um caminho inesperado pelos opositores, o mais longo em relação a
determinado objetivo e o que poderia efetuar em melhores resultados.
A diplomacia do Barão do Rio Branco deve ser relevada no tratado bilateral firmado
ao fim da guerra, em relação à oposição às pretensões argentinas, porém, apesar de eficaz
foi antiquada ao não alentar-se a fatores como a opinião pública do vencido e aos custos
políticos de toda guerra para os vencedores. Quase toda a América espanhola era favorável
à causa paraguaia e os resultados da guerra implicaram no aumento da apreensão diante de
um possível expansionismo brasileiro. (FAUSTO; DEVOTO, 2004).
“Após o fim da contenda, o Paraguai foi um protetorado brasileiro de fato até 1876, e
a influência política deste predominou até os primeiros anos do século XX” (FAUSTO;
DEVOTO, 2005, p. 121). Desde então a hegemonia política e econômica da Argentina se
1 Juan Manoel Rosas pertencia ao grupo dos federalistas, era autoritário, pragmático e nacionalista, e que buscava um sistema político que não se resumisse a simples pactos entre províncias. A “Era Rosas” iniciada em 1829, significou a consolidação do Estado Nacional, baseado no sistema confederativo. O Governador impulsionou o fim da Guerra do Paraguai. 2 A Batalha do Curupaiti foi travada entre as forças aliadas e paraguaias durante a Guerra da Tríplice Aliança em 22 de setembro de 1866. 3 Passagem de Humaitá: episódio da guerra do Paraguai ocorrido em 1868, em que a esquadra brasileira forçou a travessia da posição fortificada, sob bombardeio inimigo. 4 A Batalha de Tuiuti travou-se a 24 de Maio de 1866 nos pântanos circundantes do lago Tuiuti, em território do Paraguai.
19
instalou em vários momentos, em função de laços históricos, culturais e comerciais, da maior
proximidade entre as respectivas principais províncias, e do menor ressentimento paraguaio
com a Argentina.
Com o fim da guerra, as conseqüências mais evidentes foram a criação de um
Exército regular e mais numeroso na Argentina, e principalmente uma desconfiança entre os
dois países vencedores, que começaram a criar obstáculos aos propósitos do outro em vez
de imporem uma política comum aos vencidos.
A guerra termina, o que parecia melhorar foi afetado em meados 1870 por uma crise
tanto no plano econômico quanto no político, em face do desafio de construir uma infra-
estrutura, barrada pela crise econômica mundial.
1.2.2 A diplomacia de Barão do Rio Branco
Com a Proclamação da República, o Brasil e os EUA, firmaram vários acordos
comerciais, com caráter aduaneiro a diversos produtos, como por exemplo, a farinha. A
Argentina por sua vez fez reclamações, pois enxergava suas exportações prejudicadas em
seu comércio com o Brasil. Todavia o Brasil alegou à Argentina, como forma de justificar os
acordos então firmados, que os EUA eram o principal exportador do principal produto
brasileiro, o café.
Durante o tempo que barão do Rio Branco foi ministro do Exterior do Brasil, (1902-
1912) as relações entre Brasil e Estados Unidos se estreitaram, no contexto diplomático e
comercial.
Os perfis de relacionamento de Brasil e Argentina com os Estados Unidos se
caracterizavam em duas vias. Com o Brasil era amistosa e com a Argentina haviam
bastantes restrições.
A relação Argentina e Brasil deve ser analisada então de acordo com a política norte
americana na América Latina, que acabou influenciando a relações de ambos com os outros
paises do continente. Os EUA adotaram a Doutrina Monroe (1823), que significava “a
América para os americanos”, ou seja, condenando intervenções, principalmente européias
nos países do continente, e o chamando “corolário Roosevelt” – referencia ao Presidente
norte-americano Theodore Roosevelt (1901-1909) – que garantia proteção aos países latino-
americanos contra intervenções extracontinentais, e o seu direito de intervir no continente,
em questões de danos ou incapacidade de ação. Estas foram bem recebidas pelos
20
europeus, pois lhes garantiriam a ordem publica e assiduidade com seus compromissos
(FAUSTO; DEVOTO, 2004).
A política de Barão do Rio Branco foi marcada pelo esforço de uma posição de
supremacia do Brasil na América do Sul, comportamento totalmente denunciado pela
imprensa argentina.
Esta intenção de desenvolver influências em busca de hegemonia na América do Sul
desencadeou na controvérsia fronteiriça na região de Misiones-Palmas, para impedir a
divisão de um pedaço de território considerado brasileiro, no oeste de Santa Catarina, onde
ambos os paises decidiram resolver a discórdia por arbitragem. O arbitro foi o presidente
Cleveland dos Estados Unidos, que decidiu a contenda em favor do Brasil. Lógico que a
inclinação norte-americana pelo Brasil, por motivos de afinidades eram claras.
Em contrapartida, em 1915, por iniciativa do Barão do Rio Branco, firmou-se o
Tratado ABC, entre Argentina, o Brasil e Chile, que visava a aproximação política dos três
paises e onde as partes se comprometiam a submeter a uma comissão de eventuais
controvérsias. O ato foi celebrado na Argentina como fim do isolamento político e superação
das rivalidades entre as três potências regionais. O acordo foi estimulado pelos Estados
Unidos, visto como um reforço do pan-americanismo, porém, não chegou a efetivar-se por
falta de apoio argentino. Mais uma vez evidenciam-se os limites do entendimento entre os
dois países, por motivo da dependência e dos laços do Brasil com os Estados Unidos e da
Argentina com a Grã-Bretanha e outros paises europeus.
As relações comerciais cresceram consideravelmente a partir de 1916-1917. A
Argentina tornou-se mais dependente das importações brasileiras, que aumentaram de 2,5%
para 4,4%, no entanto representam níveis muito inferiores às importações da Inglaterra,
Alemanha, Estados Unidos e outros.
Até então, a Argentina destaca-se pela independência em relação aos Estados
Unidos, enquanto o Brasil buscava cada vez mais esta aproximação, pois envergava este
estreitamento primordial para alcançar sua hegemonia na América do Sul.
Na Primeira Guerra Mundial as participações e as conseqüências para os países nos
contextos internos e externos, aqui não possuem grande relevância. Porém na Segunda
Guerra Mundial, a Argentina interpreta o alinhamento do Brasil ao Eixo como forma de obter
benefícios econômicos e estratégicos dos Estados Unidos: continuava a suspeita de desejo
de atuar como representante dos interesses de Washington na América do Sul. As Forças
Armadas se inquietam com a venda de armas norte-americanas ao Brasil e ao Chile,
alterando o equilíbrio de forças. Abre-se novo período de rivalidade e tensão.
Á partir de 1916 a política argentina tomou novos rumos. O radicalismo tornou-se
presente no pensamento político, como uma forma de confronto. Já no Brasil, começara um
21
desacerto entre Minas Gerais e São Paulo, quando o Presidente Washington Luís (em nome
de São Paulo) indicou outro paulista, Júlio Prestes, para sucedê-lo, marcando o fim do
sistema oligárquico. O Rio Grande do Sul, desde 1910, vinha ganhando maior destaque na
política nacional e aproveitou tal brecha para lançamento da candidatura de Getúlio Vargas,
estimulada pelos políticos mineiros.
Na Argentina, General José Félix Uriburu, General Agustín Justo compuseram um
governo conservador, autoritário e antidemocrático. Nesta época, a Argentina insistiu em
permanecer atrelada a potência mundial do Reino Unido, pois acreditavam que cessados os
efeitos da Grande Depressão, tudo voltaria à normalidade. Apesar da fragilidade política do
país frente ao contexto global, este governo representa um momento importante de
aproximação com o Brasil, em que a relação bilateral se dá paralelamente à crise.
1.2.3 Vargas e Perón
Vargas e Perón foram dois governantes, que quase ao mesmo tempo, tomaram o
poder, respectivamente no Brasil e na Argentina.
As diferenças do golpe argentino de 4 de junho de 1943 com o brasileiro de novembro de 1937 são evidentes. Primeiro porque a consolidação de Vargas antecedeu da Segunda Guerra Mundial; na Argentina, o golpe, finalmente nacionalista, coincidiu com o momento em que os rumos da guerra começavam a favorecer os Aliados. Em segundo lugar, o golpe de Vargas deu lugar a um regime bastante estável, embora curto, enquanto na Argentina a fragmentação e o conflito persistiam dentro do novo governo. (...) Em terceiro lugar, o Estado Novo representava, em relação ao período anterior, uma continuidade de homens, de políticas, enquanto na Argentina ocorreu uma guinada. (...) Cargos ministeriais foram ocupados por militares de ativa; o Exercito estava ele próprio tomando o poder, e não prestando um apoio a ditadura civil, como no caso do Brasil. (FAUSTO; DEVOTO, 2004, p. 275).
Com a criação da sociedade secreta Grupo de Oficiales Reunidos (GOU), na
Argentina, cada vez mais as ações do governo militar eram concebidas pelo Coronel Perón.
Em 1944, Perón que detinha de relevante acúmulo de poder em mãos assumira a Vice-
Presidência, porém a pressão de setores militares e da oposição democrática destituiu
Perón, no inicio de outubro do mesmo ano. Foram oito dias entre sua destituição e sua volta,
Perón criara lealdades entre sindicalistas e trabalhadores que o devolveriam o poder.
Todavia uma negociação afastou-o novamente, mas não seus aliados que estabeleceram a
data das eleições para fevereiro de 1946.
O primeiro governo de Vargas (1930 – 1945) vinha perdendo legitimidade com a
classe media urbana, grande formadora de opnião, e a cúpula militar já não via o Getúlio de
1945 o mesmo de 1937 que apoiaram. Vargas renunciou, e o General Dutra, após eleição,
22
assume a Presidência. Inicia-se um período de conflito social tanto no Brasil quanto na
Argentina, no entanto, o brasileiro comparado ao argentino era mais brando e de menor
mobilização política, enquanto o último era mais exacerbado. Em ambos os casos venceram
as forças políticas que mantinham certa continuidade em relação ao regime precedente.
“Dutra tinha algo de Getulismo sem Getúlio”. (FAUSTO; DEVOTO, 2004, p.288). A vitória
eleitoral apertada de Perón, em 1946, lhe garantiu maior poder no Congresso Nacional.
Em 1950, houve eleições presidenciais no Brasil e, em 1951, na Argentina. No Brasil
a dificuldade de escolher um candidato de consenso para suceder Dutra desencadeou na
candidatura de Getúlio. Na Argentina, o nome de Perón como candidato já era óbvio.
A perspectiva política de ambos o presidentes eram muito diferentes, Perón detinha
de ampla base de apoio, ao contrário de Vargas. Este começou manobrando para o terreno
constitucional, e Perón no intento de “peronizar”, a educação, as Forças Armadas, a Igreja, a
administração publica, e agindo de forma a eliminar os adversários através da distribuição de
armas entre seus partidários. Getúlio era mais conciliador, além do que, a oposição
controlava parte de seus poder político, a maioria dos meios de comunicação, ao contrário
do que ocorria na Argentina. E a estratégia de extermínio não cabia nas ações de Getúlio,
porém estava enfraquecido por tomar uma política muito agressiva (FAUSTO; DEVOTO,
2004).
Como Vargas tinha maior espaço no setor econômico do que no político, privilegiou o
industrialismo desenvolvimentista, deixando em outro plano a questão social. O governante
brasileiro fez do industrialismo econômico um canal de mobilização popular. Já a busca da
hegemonia absoluta do peronismo esbarrava em crescentes dificuldades econômicas, que
forçavam a alteração do rumo da política.
Getúlio era um profissional de carreira política, e Perón um militar. Getúlio buscava a
mediação ao invés da destruição de seus inimigos, e, além disso, seu poder tinha menos
impacto que o de Perón, devido a características pessoais, a menor polarização das massas
no Brasil, e a fragilidade dos partidos e sindicatos. O “peronismo” constituía uma articulação
política muito mais forte, com fortes influências totalitárias, semelhantes ao fascismo; e
buscava partidarizar o Estado, enquanto o “getulismo” tendia a conferir maior autonomia a
este.
Os dois movimentos se influenciaram mutuamente, porém no momento em que
Getúlio e Perón coincidiram na Presidência de seus respectivos países, as relações foram
menos intensas. Para Vargas uma vinculação ao peronismo, odiado pela direita brasileira,
implicaria um custo político muito alto, e isso talvez explique sua hesitação em aderir ao
Pacto de Santiago, reedição do ABC (1951), proposto por Perón. (FAUSTO; DEVOTO,
2004).
23
Para Fausto e Devoto (2004) tudo isto reflete as divergências de política internacional
de Getúlio e de Perón e de seus governos. Durante o Estado Novo, Vargas optara pelo
alinhamento com os EUA, e, a margem de desacordos ou negociações, essa política foi
mantida no pós-guerra, tanto por ele próprio em seu novo governo quanto antes sob o
governo Dutra.
O peronismo atuava em competição, uma relação de tensão com os EUA, pois
seguia uma linha traçada pelos conservadores dos anos 1930. Embora as relações
Argentina e EUA estivessem melhorando na época, o governo peronista mostrava sua
tendência em seguir objetivos incompatíveis. Perón devido a sua formação militar era mais
preocupado com o equilíbrio de poder mundial, e demonstrava, portanto maior interesse em
uma aliança político-econômica com o Brasil do que Vargas com a Argentina. O Brasil
possuía e esperava continuar tendo o apoio dos EUA em equipamento militar, o que acirrava
a concorrência e as tensões com a Argentina. Em 1952 ocorreu a assinatura de um acordo
militar entre estes dois países, acirrando a relação entre o Brasil e a Argentina, que se
refletiu nos foros internacionais onde sustentaram posições antagônicas (FAUSTO;
DEVOTO, 2004).
No âmbito da tentativa de reedição do ABC (1951), em busca do protagonismo na
América Latina, desperta desconfianças no governante brasileiro, que suspeita que o
peronismo, ao se apresentar como promotor da integração visa na verdade o proselitismo e
a expansão regional. Getúlio Vargas é em princípio simpático à iniciativa, mas decide não
aderir ao novo ABC.
As Forças Armadas foram decisivas na queda dos dois regimes. No Brasil, a saída de
Getúlio foi mais negociada do que sangrenta, apesar de seu suicídio. Na Argentina, a
situação foi pior, mais cruel do que negociada. No Brasil devido à menor capacidade de
mobilização popular da sociedade, a maior coesão das Forças Armadas, e também a menor
polarização dentro da sociedade. Na Argentina, pelo contrário, a sociedade estava mais
conflituosa e polarizada pelo peronismo, e as Forças Armadas muito mais fragmentadas.
1.2.4 Juscelino e Frondizi
Os problemas enfrentados pelos governos após a saída de Vargas e Perón não eram
apenas políticos, mas também econômicos. No Brasil, o governo de Café Filho trilhava um
caminho diferente de Vargas, principalmente em seu foco nacionalista e industrialista. Na
24
Argentina, buscavam um plano ortodoxo de estabilização, visando baixar inflação através da
redução da oferta monetária.
O binômio “Energia e Transportes” baseado no desenvolvimento industrial proposto
por Juscelino e Jango venceu as eleições de 1955 no Brasil. Na Argentina, a ordem de
Perón aos seus eleitores, contra a chapa opositora de Frondizi, culminou na vitória deste
ultimo em 1958.
Arturo Frondizi e Juscelino Kubitschek eram duas personalidades muito diferentes.
Frondizi era opositor aos conservadores, aos militares e ao peronismo, e a direita de seu
próprio partido. Mesclava nacionalismo econômico e progressismo, vinha de uma família de
intelectuais de idéias claramente esquerdista, o que não era vantagem em um país onde o
que soasse comunismo era demonizado. Juscelino era uma figura mais neutra, mais prática,
demonstrava grande capacidade de mediação entre as elites políticas, ao contrario de
Frondizi que não tinha experiência de governo, apesar de ser um ótimo orador (FAUSTO;
DEVOTO, 2004).
O discurso desenvolvimentista brasileiro era mais concreto e menos confrontador do
que o Argentino, dadas as ambições intelectuais de Frondizi. O núcleo central do governo JK
era o desenvolvimentismo econômico, que visava uma melhora no nível de renda da
população. Como a situação política e econômica na Argentina era diferente, Frondizi teve
de enfrentar hostilidades de setores militares que se manifestavam contrários a nomeação
de alguns ministros. Sua estratégia era o lançamento acelerado de planos econômicos em
busca de um desenvolvimento industrial integrado, baseado na substituição de importações.
Frondizi manteve ativa diplomacia presidencial com o Brasil. Em 1958 encontra-se
com o Presidente Juscelino Kubitschek. Nesse ano, é criado o Grupo de Cooperação
Industrial Brasil-Argentina, com o objetivo de estimular o intercâmbio de bens
manufaturados. Em 1961, Jânio Quadros e Frondizi realizam o encontro de Uruguaiana,
onde assinam o Convênio de Amizade e Consulta, pelo qual se estabelece sistema bilateral
de troca de informações, na tentativa de sintonização de ambas as políticas externas. É
significativo que esse tratado tenha sido aberto à adesão dos demais países do continente
(FAUSTO; DEVOTO, 2004).
No plano externo, a preponderância do conservadorismo inaugurou historicamente o
alinhamento com os Estados Unidos, porém não foi possível encontrar nos EUA uma
sucessão que se igualasse ao relacionamento do país com Reino Unido no passado. A
Argentina finalmente adere aos acordos de Bretton Woods, em 1956, passando a ter acesso
ao FMI, e substitui a política de acordos comerciais bilaterais pela participação no regime
multilateral de comércio.
25
Do ângulo brasileiro, a aproximação com a Argentina era uma das diretrizes da
Política Externa Independente do período Jânio Quadros – João Goulart. Porém, a
resistência à maior aproximação será argentina, por três motivos: a busca de aprimoramento
das relações com os Estados Unidos; questões estruturais como a precariedade das vias de
comunicação, disparidades econômicas e pequena escala de produção, e sobretudo as
dificuldades políticas internas de Frondizi. Além disto, grupos nacionalistas tradicionais
alertavam contra a “hegemonia” brasileira. O impasse levou ao rompimento do pacto
Frondizi-Perón e à deposição do Presidente pelos militares (FAUSTO; DEVOTO, 2004).
No Brasil, a sucessão de Juscelino foi marcada principalmente de estabilidade
política e regularidade no processo eleitoral, já na Argentina, a deposição de Frondizi
contribuiu para a continuidade das turbulências.
Jânio Quadros assumiu a Presidência no Brasil em 1961, com uma estratégia que
prometia independência das estruturas partidárias, varredura da corrupção e
desmantelamento do “sistema” da era Vargas. Propunha também a reforma agrária e uma
política externa independente que enfatizasse o nacionalismo.
O pequeno período de governo do novo presidente se deu em função da divergência
entre seus objetivos e a sua base política. Como por exemplo, a política externa terceiro-
mundista que era incompatível com os ministros militares, anticomunistas presentes no
governo. O vice-presidente de Jânio, João Goulart assumiu a Presidência e logo reconstituiu
a aliança que era contra as políticas de desenvolvimentismo de Getúlio e Juscelino.
Na Argentina, Guido assumiu o governo em um cenário de debilidades e pressões
dos militares. Este novo governo durou um ano e meio e “marcaria o momento mais caótico
da crise política argentina”. (FAUSTO; DEVOTO – 2004, p. 371).
De 1963 a 1966 Aturo Illia começa a condução da última experiência civil.
Caracterizou-se por um governo fraco, com pouca legitimidade (revelada na sua escassa
votação), vigiado por militares hostis e enfrentando também uma série de demandas sociais
insatisfeitas.
O governo Jango, no Brasil, possuía uma agenda muito complicada, em busca da
estabilização econômica, da reforma agrária, e enfrentando também um crescente
descontentamento social. Nas relações exteriores efetivou-se a Política Externa
Independente, continuado pelo governo de João Goulart. A estratégia de não-alinhamento, e
a posição de neutralidade em relação a Cuba, na defesa do pan-americanismo, fez com que
o ministro da Fazenda, Walter Salles, que mantinha estreitas ligações com os EUA,
caminhasse em direção contraria ao Itamaraty. A polarização no governo tendia a prejudicar
o centro de coalizão. Já em relação ao Cone Sul, Jânio procurou maior aproximação,
26
principalmente com a Argentina, enfatizando instrumentos de cooperação, como o sistema
de consultas recíprocas, inaugurado na gestão de Juscelino.
1.3 As Ditaduras
As experiências democráticas terminavam. O período anterior significou para o Brasil
um desenvolvimento econômico com taxas mais elevadas e mais sustentadas do que as
argentinas, em que o Estado desempenhou um papel relevante, e acabou consolidando-se
como mais moderno e eficaz do que o Estado argentino, que era mais autoritário. O
desenvolvimento econômico na Argentina foi menos intenso. A menor hegemonia do Estado
Argentino acabou não proporcionando a mesma eficácia do desenvolvimentismo brasileiro.
Porém os maiores conflitos na sociedade, em função de desigualdades sociais, geraram
uma sociedade mais inclusiva, com fortes traços de modernidade; como a maior mobilização
social.
Em 31 de março de 1964 se instalou o regime militar no Brasil, praticamente sem
resistências. João Goulart deixou Brasília e a Presidência deveria ser assumida pelo
presidente da Câmara dos Deputados. Porém o poder já não mais estava nas mãos dos
civis e sim dos militares, caracterizando então o golpe militar.
Na Argentina, Illia enfrentava problemas de falta de legitimidade e de consenso a seu
favor, assim como a inadequação entre o sistema político e representação social. O Exército
com grande coesão interna e sobre forte liderança autoritária proporcionou com que o
general Onganía (1966-1970), tomasse o poder. O golpe militar impulsiona o exílio de Perón
e a proscrição do seu partido. Nas décadas seguintes, a polarização peronismo-
antiperonismo será a tônica da dinâmica política.
A ditadura militar argentina pode ser dividida em dois períodos distintos: o governo do
General Juan Carlos Onganía, marcado pelo isolamento regional dando preferência ao
relacionamento com os EUA, caracterizando uma dependência em relação ao mesmo, e o
dos Generais Roberto Levingston (1970-1971) e Alejandro Lanusse (1971-1973), que
buscaram maior autonomia na aproximação com os países latino-americanos e maior
intercâmbio com o Leste Europeu.
Os regimes militares brasileiro e argentino tiveram o foco de sua organização na
burguesia oligopolista e transnacional, com o intuito de regularizar a economia e reimplantar
a ordem. Houve o fechamento dos canais democráticos de acesso ao governo e dos critérios
de representação popular, através da exclusão e opressão destes setores menos favorecido.
27
O regime militar brasileiro alcançou um crescimento econômico acelerado
proveniente desta limitação à democracia representativa. No entanto, este conjunto de
regras repressivas não chegou a constituir um sistema autoritário nem uma reprodução da
ideologia fascista. (FAUSTO; DEVOTO, 2004).
Este atravessou crises menos graves do que o argentino, que passou pela cena da
Guerra das Malvinas. Além disso, no Brasil o período da ditadura seguiu uma seqüência de
vinte anos sem interrupções, ao contrario da Argentina, que em 1958, voltou à democracia,
mas motivada por crises econômicas e políticas garantiu a vitória eleitoral de Perón após
três anos fora do governo.
Mais uma vez Perón é visto como alternativa à estabilização do país. Em 1973, o
General Lanusse é sucedido por Héctor Cámpora que em um mínimo espaço de tempo
renuncia para dar lugar à nova eleição de Perón. No plano externo, o peronismo retoma o
Movimento Não-Alinhado e aprofunda laços com países afro-asiáticos, ao mesmo tempo em
que mantém relações “normais” com os Estados Unidos. Perón deixa de lado a postura de
conflito com o Brasil. Entretanto, sua morte, em 1974, reduz consideravelmente o ímpeto
dessas diretrizes de política externa (FAUSTO; DEVOTO, 2004).
No Brasil, o general Castello Branco, o primeiro governante do regime militar
brasileiro, transferiu seu poder para o general Costa e Silva, que se posicionava em seu
grupo5; este por sua vez, inutilizado por uma doença entregou o poder a uma Junta Militar
em 1967; o general Médici logo assumiu. Erneto Geisel foi seu sucessor, e foi o único que
transferiu a faixa presidencial a uma figura de sua preferência, João Batista Figueiredo.
Outra diferença entre os regimes de ambos os países foi a maior repressão na
Argentina em relação ao Brasil, que é assimilada ao maior engajamento social e a maior
fragilidade institucional do governo argentino.
A divisão interna dos militares entre os integrantes da “linha dura” e os “sorbonnards”
configurou duas linhas na política brasileira. Os “linha dura” demonstravam concepções
ideológicas, e apesar de suas políticas anticomunistas, não se posicionaram muito próximos
no relacionamento com os EUA. Já os “sorbonnards” eram convergentes com a democracia
conservadora e demonstraram grande apoio aos Estados Unidos na Guerra Fria.
5 Os “sorbonnards”, denominação feita em referencia a Sorbonne francesa. Seus integrantes eram ligados a Escola Superior de Guerra (ESG). Dentre seus principais nomes se destacam os generais Golbery do Couto e Silva, Cordeiro de Farias, Ernesto Geisel, Humberto Castello Branco e Jurandir de Bizarria Mamede. Defendiam uma relação mais profunda com o grande capital internacional e a livre iniciativa, e logicamente a existência de um governo forte, e uma política anticomunista. (BARROS, 1994).
28
1.3.1 O Aumento das Disputas
Perón é sucedido por María Estela Martínez de Perón (sua esposa) que se distancia
das bases do peronismo. No plano externo, volta à política de alinhamento com os Estados
Unidos. As relações com o Brasil entram em estagnação. A situação, insustentável tanto na
política quanto na economia, culmina com sua deposição em 1976.
No plano externo, o regime militar sucessor retoma algumas orientações do último
governo de Perón, com uma posição de não-alinhamento, aprofundamento das relações
comerciais com a URSS (com quem a Argentina iniciou importante cooperação nuclear),
aproximação resguardada em relação aos Estados Unidos.
As relações com o Brasil continuam em estagnação. Problemas de interpretação do
Tratado de Paz, Amizade, Comércio e Navegação6 (1856) geram tensões. O impedimento
de passagem no túnel Cuevas-Caracoles, na fronteira com o Chile, de caminhões com
mercadorias brasileiras, provoca retaliação do Brasil, que interdita fronteiras para caminhões
argentinos. Se houve cooperação, ela se deu no âmbito da “Operação Condor” 7.
A Argentina se inquieta com o aumento da industrialização no Brasil impulsionada
pela aceleração do crescimento econômico, fator que aumenta a discrepância de poder
Brasil-Argentina na região da América do Sul. O “milagre brasileiro” entra em contraste com
a instabilidade política e econômica argentina, agravando sentimentos de rivalidade e
desconfiança.
Desde a gestão de Costa e Silva, o Brasil, começou a atuar de forma pragmática no
sistema internacional, de forma a utilizar o setor externo para auxiliar o crescimento
econômico. Esta realização significou o não-alinhamento a nenhum dos pólos da Guerra Fria
e nem a demonstração de opções pelo bilateralismo ou multilateralismo. A posição
pragmática veio sendo estabelecido desde antes da definição da política externa de
“pragmatismo responsável de Geisel. (CERVO; BUENO, 2002).
No geral, a política externa brasileira, entre 1967 e 1979, foi direcionada a três
pontos. O multilateralismo em órgãos regionais visando à cooperação dos Estados Unidos, e
o desenvolvimento regional; ação em torno de iniciativas multilaterais e bilaterais para
alcançar maior integração regional e intrazonal e desenvolvimento da estratégia de
escalonamento da América Latina na inserção mundial. (CERVO; BUENO, 2002).
6 O Tratado de Paz, Amizade, Comércio e Navegação, de 1856, era relativo às questões controvertidas com o Paraguai, especialmente as ligadas à efetiva liberdade de navegação fluvial. 7 A Operação Condor foi uma aliança político-militar entre os vários regimes militares da América do Sul — Brasil, Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai — criada com o objetivo de coordenar a repressão a opositores dessas ditaduras instalados nos seis países do Cone Sul.
29
Esta busca por maior inserção da América Latina no cenário internacional não
significa que as relações com a Argentina foram linearmente amistosas. Durantes as
ditaduras militares, as relações entre o Brasil e a Argentina foram contraditórias. Ao mesmo
tempo em que promoveram a perseguição aos opositores do regime com o “Plano Condor”,
tiveram vários momentos de discórdia. Um exemplo disto foi que com a derrota dos
“sorbonnards”, após a escolha do general Costa e Silva para a Presidência, se alteraram as
linhas da política externa de ambos os países, caracterizando uma retomada ao
nacionalismo, provocando maiores atritos no relacionamento dos dois países.
1.3.2 Questões Energéticas
No Brasil o aumento da industrialização gerou o aumento da demanda energética, o
que impulsionou um acordo bilateral com o Paraguai. Em 1966, os países firmaram a “Ata
das Cataratas” 8, sobre a utilização do potencial hidrelétrico da região de Itaipu.
A Argentina percebeu o acordo como uma ameaça que forçava a presença brasileira
no Cone-Sul, e como uma diminuição de sua influencia sobre o Paraguai. Este fato
representou um dos principais focos de desentendimento no relacionamento dos dois
países.
Desde 1967, começaram as negociações em torno do Tratado da Bacia do Prata,
firmado em 23 de abril de 1969, entre Argentina, Paraguai, Uruguai e Brasil, com o objetivo
de desenvolver harmoniosamente a integração física da Bacia do Prata e de suas áreas
conjugadas. Mas somente em 1979 a contenda foi realmente sanada, com a assinatura do
Acordo Tripartite de Cooperação Técnico-Operativa sobre Corpus-Itaipú9, entre a Argentina,
o Brasil e o Paraguai.
O governo Geisel demonstrava interesse pelo setor de ciência e tecnologia, o que
desencadeou na questão de desenvolvimento de tecnologia nuclear. Isto serviria como
instrumento para a mudança do status internacional do país através de um desenvolvimento
interno menos dependente. A política nuclear ganhou escopo quando foi justificada como
demanda econômica de um país em desenvolvimento, e como demanda política com a
diminuição da dependência externa e como estratégia ao ser compreendida como chave
para a mudança do status internacional do Brasil.
8 Em junho de 1966, foi assinada a Ata das Cataratas. Nela foram estabelecidas as premissas para a construção de uma futura represa em condomínio, entre Brasil e Paraguai. Representou o início de um acordo que fez nascer Itaipu. 9 Em 1979, Argentina, Brasil e Paraguai assinaram o Acordo Tripartite de Cooperação Técnico-Operativa sobre Corpus-Itaipú, que encerrou a disputa pelo uso hidrelétrico dos rios do Cone Sul.
30
A partir de então, a Argentina buscou também o desenvolvimento de tecnologia
nuclear, claramente relacionado à defesa em relação ao Brasil e aos problemas fronteiriços
com o Chile. É perceptível então que a política nuclear significava consolidação de poder e
aumento da segurança.
Mesmo após diminuição da influência dos nacionalistas, a autonomia tecnológica
continuou a ser crucial para catalisação das mudanças sociais e econômicas, e para a
manutenção da competitividade das economias e aumentar o peso específico dos dois
países nos cenários regional e internacional.
Em Maio de 1980, em acordo entre Brasil e Argentina põe fim ao interesse
estratégico de desenvolvimento e aplicação de tecnologia nuclear, e ao medo recíproco de
que o vizinho viesse a se transformar em uma potência neste quesito.
Com a eliminação destas controvérsias foi perceptível a maior disponibilidade de
aproximação entre os países, o que possibilitou o Governo Figueiredo a desenvolver bases
que proporcionassem um incremento progressivo nas políticas externas dos mesmos, e a
superação de problemas históricos, por parte dos governos e da população civil, para gerar
efeitos positivos tanto na política quanto na economia regional.
Para a América Latina o processo bilateral de integração de quase duas décadas,
entre os dois países foi fundamental. Os dois Estados efetivaram uma estratégia militar
compartilhada, sobreviveram aos regimes militares rompendo com as rivalidades, apesar
das potencialidades diferenciadas, de culturas específicas, das formas de organização
política instáveis, e sobretudo dos problemas financeiros acentuados.
1.3.3 O MERCOSUL
A aproximação do Brasil e da Argentina foi coincidente com o fim das tensões da
Guerra Fria e foi quando em fins de 1985, o Presidente do Brasil, José Sarney, e o
Presidente da Argentina, Raúl Alfonsín, assinaram a Declaração de Iguaçu, sobre integração
econômica e política do Cone-Sul, e a Declaração Conjunta sobre Política Nuclear, que
significou renovação no relacionamento entre os dois países.
A reaproximação foi também favorecida pelo processo de redemocratização, além do
exposto acima sobre nova configuração do mundo pós - Guerra Fria . A união dos países
deixou, desde então, de se dar por ideologias políticas. As tentativas de se formar novos
espaços comuns ultrapassaram as fronteiras nacionais, o que deu maior importância ao
31
relacionamento bilateral entre o Brasil e a Argentina, resultando na constituição do
MERCOSUL.
Em junho de 1986 os presidentes Sarney e Alfonsín firmaram a Ata para Integração
Brasil-Argentina10. A partir de então os entendimentos avançaram até a concretização do
Tratado de Assunção, em 1991, que estabeleceu o Mercado Comum do Sul, com a adesão
do Paraguai e do Uruguai.
Segundo (FAUSTO; DEVOTO, 2004) é possível estabelecer três períodos na
vigência do Mercosul: o “período de transição” (1991-1994), que buscou demarcar uma zona
de livre comercio11 entre os países membros e uma união aduaneira12 para a importação de
bens de outros países, este período foi motivado economicamente pela liquidez dos
mercados financeiros, incentivando o entendimento entre os parceiros do Mercado Comum;
a “era dos mercados” (1995-1998), caracterizado pelo aumento da apreciação da moeda
brasileira, pelos acúmulos positivos na economia argentina e pelo aumento da
interdependência econômica; e o “tempos de turbulência” (1998 até os dias atuais),
caracterizado pela reversão da interdependência econômica em função da diminuição do
nível de integração, que a partir de 2000 começou a se expandir novamente.
A ascensão ao poder de Luiz Inácio Lula da Silva e de Nestor Kirchner significou um
incentivo aos esforços de uma reformulação no MERCOSUL.
A combinação de elementos políticos como o liberalismo, desenvolvimentismo, busca
de autonomia regional e mundial e da adoção de uma lógica de poder compartilhado, são
muito relevantes na construção de estabilidade no relacionamento Brasil-Argentina.
A partir da redemocratização, a integração entre o Brasil e a Argentina é vista como
um novo caminho para inserção internacional dos dois países. O momento trazia consigo
maior permeabilidade no sistema político de cada país, e diminuía portanto todas as
desconfianças e principalmente reduzia o sentimento argentino de que o Brasil tinha
pretensões hegemônicas no continente.
10 Ata para a Integração Brasil-Argentina" criou o Programa de Integração e Cooperação Econômica (PICE). A Ata serviu como base para o Tratado de Assunção que buscava, gradualismo, simetria e equilíbrio dinâmico à integração regional. 11 É um grupo de dois ou mais territórios aduaneiros entre os quais se eliminam taxas e impostos e as demais regulamentações comerciais restritivas. (MORAIS; BEVANI, 2005). 12 União Aduaneira uniformiza as tarifas para o ingresso de produtos quanto os processos e documentos exigidos através de uma tarifa externa comum (TEC) como conseqüência de uma política comercial comum. (MORAIS; BEVANI, 2005).
32
2. DEMOCRACIA
2.1 Definição
A Democracia é discutida há cerca de 2.500 anos, tempo razoável para que se tenha
um consenso de idéias aceitável por todos. Porém, durante todo este tempo que tem sido
debatida não foi determinada algumas questões fundamentais sobre democracia (DAHL,
2001).
Democracia tem significados diferentes, em lugares e entre povos diferentes, talvez
por apresentar este histórico tão longo. Até algumas décadas atrás era difícil de encontrar
um sistema democrático, este era mais presente em discussões teóricas do que praticados
pelos povos. E mesmo nos raros lugares onde os encontrava, a metade dos adultos e as
mulheres, não tinham autorização para participar da vida política.
Por estes motivos, seria mais correto defini-la como paralela ou contraposta à
autocracia13, sendo então um “conjunto de regras (primarias ou fundamentais) que
estabelecem quem está autorizado a tomar as decisões coletivas e com quais
procedimentos.” (BOBBIO, 2004, p. 30).
À medida que um grupo social vai evoluindo, nasce com esta evolução a
necessidade de tomar decisões vinculatórias para todos os seus membros, com objetivo de
manter a sobrevivência do mesmo. Estas decisões são tomadas por indivíduos do grupo,
afinal não é possível que todos as delimitem. Por isto, para que uma decisão tomada por um
indivíduo, ou um grupo de pessoas, possa ser aceita como legítima pelo todo, é preciso que
sejam baseadas em regras e procedimentos que determinem quais são os indivíduos a
tomarem estas decisões vinculatórias a todos os membros do grupo. O regime democrático
caracteriza-se por atribuir poder a um número de membros do grupo para que estes possam
tomar decisões coletivas.
A condição fundamental da democracia é a regra da maioria, as decisões são
vinculatórias e devem ser aprovadas pelo menos pela maioria dos cidadãos que têm direito
de tomar as decisões. É primordial também que os capazes de eleger tenham alternativas
reais e também condições de poder escolher entre uma e outra. Por isso estes devem ter
direitos de liberdade de opinião, de expressão, de reunião, de associação, e etc. Direitos que
13 Neste regime “o poder ao soberano é instituído sem limites, ou quando muito, só com autolimites, e as decisões coletivamente vinculatórias são tomadas por um grupo restrito de poder, ou mesmo por uma só pessoa, sem a participação e sem o consenso dos destinatários das decisões.” (BOBBIO, 2004, p. 197).
33
originaram o Estado liberal, que reconhece os direitos constitucionais, invioláveis do
indivíduo, e que propiciam o desenvolvimento do sistema. (BOBBIO,2004).
“O Estado liberal, é pressuposto não só histórico, mas jurídico do Estado
democrático.” (BOBBIO,2004, p. 32). São necessárias certas liberdades para que o poder
democrático seja exercido corretamente, da mesma forma que se precisa do poder
democrático para garantir e manter as liberdades fundamentais. É incomum que um Estado
não-democrático garanta as liberdades fundamentais, e que um Estado não-liberal assegure
o funcionamento de uma democracia.
2.2 O Surgimento da Democracia
Como dito anteriormente, a democracia é discutida há 2.500 anos, desde a Grécia e
Roma antiga, porém logo entraram em declínio e queda. Mas aos poucos foi se expandindo
e progredindo até os dias de hoje e alcançou boa parte do Globo.
Segundo (DAHL, 2001), seria um equivoco pensar que a democracia foi inventada
somente de uma vez por todas. A expansão da democracia pode ter ocorrido em função da
difusão de práticas e idéias democráticas, todavia, parece que esta foi inventada mais de
uma vez em mais de um local, que foi reinventada de forma autônoma quando existiram
condições favoráveis. Por exemplo, em um grupo tribal, quando a união chega a um ponto
em que se determina “nós” e “eles” (outro grupo), quando não dependiam do exterior, e
quando membros da tribo podiam dirigi-la sem a interferência de alguém exterior a mesma, e
quando os membros mais idosos se consideravam iguais aos outros, é possível, segundo
(DAHL, 2001) que se emergissem tendências democráticas. “Um impulso para a
participação democrática desenvolve-se a partir do que poderíamos chamar de lógica da
igualdade.” (DAHL, 2001, p. 20).
Durante todo o tempo em que os seres humanos viveram neste cotidiano de pequeno
grupo, com esta lógica de igualdade, pode ter sido a forma primitiva de democracia a mais
natural. Porém quando passaram a se estabelecer em comunidades fixas, passaram a
receber estímulos e interferência do exterior, as identidades dos grupos deixaram de ser tão
firmes, e a lógica de igualdade foi se enfraquecendo, os governos populares
desapareceram, e foram substituídos por monarquias, despotismo, e oligarquias. E, em torno
de 500 a. C. estas condições favoráveis parecem ter ressurgido em vários lugares
diferentes, e as oportunidades de participar em decisões de grupos retornaram. Desta vez, a
democracia demonstrava-se mais avançada.
34
A cidade-estado grega, Atenas, foi o exemplo mais evidente de democracia na
Grécia. Os atenienses adotaram um governo popular que durou dois séculos
aproximadamente, até ser conquistada pela Macedônia. Foram os gregos que fundaram o
termo democratia: demos, o povo, e kratos, governar. Demos referia-se a todo o povo
ateniense, podendo significar gente comum. Demokratia era utilizada por aristocratas para
designar, ou melhor, demonstrar desprezo às pessoas comuns que haviam tirado o controle
do governo das mãos dos mesmos.
Em Roma, o sistema chamava-se república: res, significa em latim coisa ou negócios,
e publicus, ou seja “coisa pública” ou “negócio do povo”. Primeiramente somente os patrícios
e aristocratas tinham direito de participar da vida pública, com o tempo a plebe adquiriu o
direito. Porém, o direito permitia somente aos homens a participação, assim como em todas
as democracias que apareceram depois, até o século XX14.
Na Grécia e em Roma, os governos eram locais, não possuíam um governo nacional
eficiente. Não havia um sistema combinado com um parlamento eleito pelo povo. Estas
instituições políticas surgiram depois ao norte da Europa (Inglaterra, Escandinávia, Suíça e
Países Baixos). Embora tivessem padrões distintos entre as regiões, os homens livres e
nobres começaram a participar das assembléias locais, estimuladas pela lógica de
igualdade. Numa área muito grande, o consenso demandava representação, garantida pelas
eleições em diversos níveis, local, nacional e talvez, provinciano (DAHL, 2001).
Estas idéias e práticas proporcionaram o surgimento da democracia. Porém os
governos sujeitos à vontade do povo eram bastante ilusórios. Havia imensa desigualdade,
divergências entre deveres, direitos e influências. As assembléias e parlamentos não
possuíam o mínimo padrão democrático, davam privilégios ao alto clero e a aristocracia,
além disso, mais da metade da população adulta estava excluída da vida política. O avanço
desta prática dependia de condições favoráveis que ainda não existiam, somente poucos
acreditavam na democracia, o privilégio continuaria a existir com os governos não-
democráticos.
Durante a segunda metade do século XX as principais alternativas à democracia
entraram em queda e desapareceram. No início do século, as monarquias, oligarquias e
aristocracias perderam sua legitimidade perante a humanidade com o início da instauração
do sufrágio limitado. Os principais regimes antidemocráticos, nazismo, fascismo e
comunismo, desapareceram inteiramente15. As ditaduras militares perderam credibilidade
14 A diferença entre república ou democracia, reflete a diferença entre o grego e o latim, não havia diferenças entre os dois tipos de governo popular. (DAHL, 2001) 15 O nazismo e o fascismo teoricamente acabaram com o fim da Segunda Guerra Mundial, apesar de existirem ainda alguns grupos ao redor do mundo que pregam os ideais destas alternativas políticas. Já o comunismo entrou em colapso juntamente com o fim das URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas).
35
com suas falhas, e onde sobreviveram, na maioria das vezes admitiram uma fachada
pseudodemocrática, como por exemplo, em Cuba, Bolívia e Colômbia. Porém, isso não quer
dizer que a democracia conquistou todo o mundo, existem movimentos antidemocráticos por
todas as partes, muitas vezes ligados a fundamentalismo religioso, nacionalismo
exacerbado, (DAHL, 2001) e às questões identitárias, como em alguns países da África.
À medida que o tempo foi passando, novas experiências foram propostas, muitas
vezes não tiveram êxito, mas as pessoas começaram a acreditar mais no propósito
democrático, principalmente após a consolidação dos Estados Unidos como um governo
democrático16 e também com a sua política de democratização por todo o mundo. A
democratização alcançou seu ápice no governo de Clinton, na década de 1990. Ganhou
importância devido à crença de que os Estados democráticos são menos propensos a
guerra.
2.3 Proposta de evolução do Sistema Internacional
O estado de natureza17 desapareceu a partir do momento em que surgiu o pacto de
não agressão, em que é ilegítimo o uso da força nas relações entre indivíduos e grupos. A
partir deste momento é inaugurado o nascimento da sociedade civil, o uso da força deixa de
ser o único meio para resolução dos conflitos, em que os sujeitos vão se desdobrar para
resolvê-los mediante negociação. Essa mudança não significa que os estados não entram
mais em conflito, mas sim uma mudança na forma de resolvê-los (BOBBIO, 2004).
A proibição do uso da força deve se estender aos conflitos secundários e também
aos primários, e para evitar que a força dispensada para resolução dos conflitos secundários
seja utilizada para resolução do conflito primário, surge um Terceiro ator (individual ou
coletivo) para intervenção, como a figura de um arbitro ou juiz, para garantir a validade e a
eficácia do processo. Portanto esta figura não é sempre presente e muito menos tão
significante quanto ao pacto de não agressão. (BOBBIO, 2004).
No estado de natureza também pode haver a presença do Terceiro, porém um
Terceiro aliado, que inclina em direção a uma das partes, ou o Terceiro neutro, que não
toma parte de nenhum lado e se mantém fora do conflito. Só neste estágio, a partir do pacto
de não agressão, que surge a figura do Terceiro ativo, que intervém diretamente na
16 A proclamação dos Estados Unidos como independente e a eleição em 1789 do primeiro presidente americano, George Washington, serviu como influência à Revolução Francesa de 1789, e consequentemente ao fim do absolutismo, e também a Inconfidência Mineira, a independência da América Espanhola. 17 O estado de natureza aqui referido é o de Hobbes, em que há a guerra de todos contra todos.
36
resolução do conflito. Este pode atuar como Mediador, onde põe as duas partes em relação,
mas não se substitui a elas na busca da solução; como Árbitro, em que as partes submetem
a ele a decisão; ou como Juiz, que é autorizado por uma instancia superior para intervir e
resolver o conflito. (BOBBIO, 2004).
Neste momento em que aparece a figura do juiz já não se configura mais o mesmo
estágio, seria um estado pacífico. Afinal as partes se submetem a um poder comum para
determinação de quem tem a razão e quem está errado. O estado em que se configurou a
sociedade civil através do pacto de não agressão é intermediário ao estado de natureza e ao
estado pacífico. Porém a atuação do juiz pode se dar de duas formas, o juiz que não possui
o poder coercitivo de fazer com que a decisão seja cumprida, como acontece hoje no direito
internacional, ou o juiz que detém este poder. Este é exatamente onde o estágio pacífico
está configurado. (BOBBIO, 2004).
2.4 Liberalismo
Segundo a visão liberal das relações internacionais, o Estado é um mal necessário e
uma ameaça potencial. Ele é necessário para proteção dos indivíduos contra ameaças
externas de grupos ou indivíduos. Internamente, existe o risco do exercício do poder tirânico,
que atinge as liberdades individuais; e externamente, os Estados estão na busca constante
pelo poder, e conseqüentemente promovendo a paz e as guerras. (NOGUEIRA; MESSARI,
2005).
Há um problema justamente nesta questão contraditória, entre a proteção dos
indivíduos contra inimigos externos e as suas conseqüências nocivas a liberdades
individuais de cada um, advinda da promoção dos conflitos armados. A partir disto, os
liberais concluíram que o sistema internacional é uma ameaça permanente á liberdade no
interior dos Estados. Por isto existe a política externa de promoção da paz mundial como
tarefa primordial dos liberais, comprometida com o bem-estar de seus cidadãos.
Para os liberais, assim como para os realistas, o Sistema Internacional não é
constituído de um governo ou de alguma instituição supranacional, que possa controlá-lo
totalmente. É um sistema anárquico, já que não há uma legislação legitimada por todo o
globo, ou um governo que o abranja. Este ambiente é então pleno de discórdias entre
interesses divergentes. Porém há uma característica que diferencia a visão realista da
liberal. Os liberais acreditam que esta situação de discórdias não é imutável, acreditam que
37
o sistema internacional pode se tornar em uma ordem mais cooperativa e harmoniosa18.
Para configuração desta ordem, os liberais discorrem sobre três principais pontos, as
instituições, o livre-comércio e a democracia. (NOGUEIRA; MESSARI, 2005).
2.4.1 O Livre-Comércio
Uma das mais antigas idéias da tradição liberal é a de que o livre-comércio contribui
para a promoção da paz. Montesquieu (1689-1755) afirmava que a “paz é o efeito natural do
comércio” (1979), já que constitui uma relação de dependência mútua e interesses comuns
entre as nações, de forma que a expansão do comércio se tornaria o principal padrão de
relacionamento entre os países, substituindo a guerra.
Os pensadores liberais, percebendo a incompatibilidade entre o comércio e a guerra,
afirmavam que os conflitos armados prejudicavam muito a atividade econômica, fazendo
com que o comércio internacional não se expandisse o quanto era capaz de fato. Para eles,
o comércio é necessário e vantajoso para promoção de maior bem estar das nações, já que
complementa economias com recursos e mão-de-obra de diferentes lugares. É também
indispensável para o desenvolvimento econômico, ou seja, para prosperidade das
sociedades modernas. (NOGUEIRA; MESSARI, 2005).
Para os liberais, as guerras favoreciam grupos econômicos privilegiados,
contrariando os interesses gerais da sociedade, de forma que uma sociedade acostumada
com os confortos da vida não arriscaria seu bem estar em função de uma aventura armada;
por isso os liberais se tornaram críticos ao mercantilismo, que visava proteger o mercado
nacional e que, portanto não proporcionava o bem-estar promovido pelo livre-comércio. O
intercambio comercial funcionaria então como civilizador nas relações internacionais,
estabelecendo canais de comunicação, tolerância entre culturas diferentes, e aumentado as
áreas de interesses comuns. Desta maneira, à medida que aumentasse a interdependência
entre os Estados, a reciprocidade seria cada vez mais comum como base do relacionamento
entre os Estados. (NOGUEIRA; MESSARI, 2005).
18 Esta concepção foi considerada pelo realistas como idealista e utópica. Porém independente da possibilidade de concretização desta, se trata de uma visão com conclusões racionais, baseadas em como funcionam e como deveria se organizar as sociedades modernas de modo a ampliar o bem-estar e a liberdade dos indivíduos.
38
2.4.2 As instituições
Apesar da maior preocupação por parte de estudiosos, políticos e diplomatas, com as
instituições internacionais após a primeira metade do século XX, a tradição liberal já possui
este ponto em sua agenda desde pelo menos, o século XVIII. Como cosmopolitismo19, de
autores como Vattel, Montesquieu e Kant, que se baseava na concepção iluminista de que
os indivíduos são iguais em sua capacidade de descobrir e buscar seus interesses e o bem
comum, portanto são racionais. Desta forma, todo individuo tinham obrigações e interesses
perante seu próprio Estado, mas também em relação ao resto da humanidade.
Na Europa do século XVII e XVIII a prática habitual era a guerra, e por isso, nesta
época os principais pensadores de relações internacionais eram juristas. Foi a época em que
surgiram tratados fundamentais sobre o Direito das Nações, em que se buscavam
estabelecer bases jurídicas e morais para o relacionamento entre os Estados soberanos, e
entre os indivíduos parte de uma mesma humanidade universal. Buscavam também
restringir a guerra além de argumentos que defendessem a cooperação entre Estados para
o bem comum de uma sociedade internacional em formação.
Hugo Grotius (1583-1654), jurista holandês que escreveu Sobre o direito da guerra e
da paz, exerceu forte influência sobre as relações internacionais. Ele afirmava que todo
Estado estava sujeito ao Direito Natural, sobre o qual se sustentava o Direito das Nações.
Segundo ele, o Direito Natural caracterizavam os princípios morais gerais acessíveis a todo
ser humano por meio do senso comum e da razão. Todas as pessoas são portadoras deste
direito natural, que garantem a vida, a propriedade e o direito a autodefesa, porém depende
da vontade do Estado de estabelecer as regras de convivência com base no consenso. A
obra de Grotius é um exemplo de como os pensadores de sua época tentaram ambientar a
idéia de sociedade humana universal regida pelo Direito Natural com a idéia de uma
sociedade de Estados ordenada pelo Direito das Nações. (NOGUEIRA; MESSARI, 2005).
Desta forma também pensou o jurista suíço Emmerich de Vattel (1714-1767). Ele
acreditava que os homens fazem parte de uma comunidade universal, com obrigações para
com os outros apesar de viverem em Estados diferentes. Ele pensava ser possível certa
justiça na sociedade internacional, pois afirmava que os Estados deviam agir no ambiente
internacional, como os indivíduos na sociedade civil, assistindo outros Estados em situações
de necessidade. O autor acreditava na ação conjunta dos Estados na busca do bem comum.
19 O termo se originou na Grécia Antiga, entre filósofos que não aceitavam a distinção entre gregos e bárbaros, e afirmavam ser membros de uma única humanidade, sendo cidadãos do mundo. Na filosofia política o termo refere-se a idéia de que a humanidade faz parte de uma comunidade moral que supera o valor das comunidades nacionais. (NOGUEIRA; MESSARI, 2005).
39
Como, por exemplo, a Europa, que agia coletivamente para evitar a opressão de um Estado
mais forte sobre os mais fracos. Ele não acreditava ser possível estabelecimento de uma
autoridade comum entre Estados, ele defendia a balança de poder como mecanismo mais
adequado. (NOGUEIRA; MESSARI, 2005).
Para os principais teóricos liberais a formação de um governo mundial não seria
melhor solução para resolução de conflitos, pois a junção dos Estados nacionais em um
único Estado mundial poderia produzir uma estrutura impossível de se administrar com
eficácia e seria um perigo para formação de um governo tirano. Esta situação poderia
ocasionar uma ordem de guerra civil permanente. Os liberais acreditam nas boas
instituições para garantir a liberdade e o bem estar da sociedade.
A idéia de Federação Pacífica de repúblicas de Kant tinha como base uma
associação de Estados organizados a partir de princípios constitucionais representativos de
cidadania. A intenção era atingir o estado pacífico, que seria um dever moral dos indivíduos
ao buscar o bem comum. Porém Kant sabia que a guerra era inerente ao sistema
internacional, mesmo assim acreditava que seria possível a renúncia dos Estados ao uso da
força pelo menos em circunstâncias que não fossem extremas.
O pensamento kantiano influenciou fortemente as Relações Internacionais. As bases
que fundamentaram a Liga das Nações sofreram forte influencia de sua concepção de
sistema internacional pacífico. A visão liberal amadureceu inserida em um contexto histórico
em que era crescente as instancias coletivas de negociação e de deliberação no plano
internacional, como o Concerto Europeu, que reunia as cinco potências européias na
tentativa de resolver contendas de forma diplomática. (NOGUEIRA; MESSARI, 2005).
A Liga das Nações foi criada em 29 de abril de 1919, na Conferencia de Paz de
Paris, como uma organização internacional de caráter permanente, com objetivo de garantir
a segurança coletiva e individual dos Estados, promover a cooperação econômica, social e
humanitária e supervisionar a execução do Tratado de Versalhes. Foi a primeira instituição
com objetivo de manter a paz através de mecanismos jurídicos institucionalizados na
Convenção. O presidente norte-americano Wilson, um dos idealizadores do projeto da Liga
acreditava que nações livres e democráticas teriam de submeter suas políticas externas ao
aval da opinião pública, que, portanto, rejeitaria a guerra. A Liga tinha como primordial tornar
transparentes as práticas diplomáticas e expor os eventos belicosos ao tribunal da opinião
pública. Este projeto foi então considerado super idealista e utópico, com a emergência da
Segunda Guerra Mundial, trinta anos após a Conferência. Porém a Liga deve ser vista como
um passo importante na consolidação da idéia das organizações internacionais como
indispensáveis às relações internacionais contemporâneas, prova disto foram os esforços
40
em recriar a organização em novos moldes após a Segunda Guerra Mundial. (NOGUEIRA;
MESSARI, 2005).
2.4.3 A Democracia
Esta é outra idéia forte do liberalismo em torno da possibilidade do sistema
internacional tornar-se mais pacífico. Isto explica o porquê da teoria liberal neste trabalho em
que o papel da democracia segue nesta relação existente entre democracia e paz.
Resumidamente, como dito antes, a idéia básica é que Estados democráticos tendem a
manter relações pacíficas entre si, e à medida que o número de países governados de
maneira democrática aumenta delimitaria consequentemente uma zona estável de paz e
prosperidade. A base desta idéia esta na obra de Kant, quando se refere ao conceito de
Federação pacífica em que Estados são regidos pela forma de governo republicana, que,
portanto inclui os princípios da democracia moderna de proteção ao direito dos individuais, o
estado de direito, a legitimidade do governo com base no consenso e na representação,
transparência e publicidade das decisões do Estado.
Segundo Kant, a origem das guerras vinha dos Estados dinásticos absolutistas, em
que o monarca não devia satisfação a seus súditos de suas decisões de política externa.
Este geralmente não se preocupava com o bem-estar do próprio Estado e da população em
geral, por isso quase sempre confundiam seus interesses pessoais e feudais. A
concentração do poder estava nas mãos de um grupo bastante restrito de pessoas que
manipulavam a satisfação de seus interesses. Para Kant, quando há a representação dos
interesses coletivos, como nas repúblicas, as decisões em torno de conflitos e guerras são
muito mais difíceis, desta forma, estes tendem a ser muito mais prudentes e comprometidos
com o interesse da sociedade em geral. (NOGUEIRA; MESSARI, 2005).
Neste contexto, Kant afirma que as repúblicas seriam mais pacíficas devido à
natureza de suas instituições e a observância do estado de direito. Ele não parte do princípio
de que os indivíduos se convertam à paz em função de algum processo educativo, cultural
ou espiritual. Desta mesma maneira, o respeito a um regime jurídico constitucional estimula
a “fé” no direito internacional como mecanismo de resolução de conflitos. Assim as
sociedades democráticas buscariam resolver suas contendas com base no direito
internacional de forma pacífica, pois reconheceriam nas outras o mesmo compromisso com
as regras e instituições que reduzem a possibilidade de conflitos armados. E mais, a
semelhança entre as instituições políticas democráticas favoreceriam o intercâmbio
41
econômico, político e cultural, criando laços de amizade que limitariam as causas dos
conflitos.
Nesta conjuntura é que a importância da opinião pública aparece na teria liberal de
forma determinante na definição de uma política externa racional e moderada. Como os
governos propostos são representativos, o envolvimento de um país desta natureza em um
conflito externo passaria pelo aval da opinião pública. Assim, diferentes opiniões seriam
ouvidas em debate público e o resultado seria transparente para todos. Para os liberais a
opinião pública é fundamental para a convergência da política de um Estado em pacífica.
Esta premissa é baseada na tradição da razão, na capacidade dos seres humanos de
decidirem racionalmente sobre o que é melhor pra a sociedade em geral. Assim torna lógico
que os indivíduos vão agir baseados no auto-interesse para proteger sua vida, liberdade e
bem bem-estar material, e que opinião pública será a expressão do interesse coletivo, que
para os liberais é a soma da felicidade e da satisfação dos seres humanos. Este interesse é
na maioria das vezes contrário a guerra, pois coloca em risco tudo o que as pessoas mais
valorizam na vida. Este é o argumento central da relação entre democracia e paz.
(NOGUEIRA; MESSARI, 2005).
No ambiente internacional a opinião pública também atua como repressora de
conflitos, devido a maior clareza e transparência nos processos de decisão dos Estados que
diminui a desconfiança de seus vizinhos, ao contrário da prática de diplomacia secreta, que
aumenta a insegurança ao esconder as reais intenções dos Estados. Os liberais também
acreditam que à medida que os povos passam a se manifestarem mais sobre a conduta
internacional de seus governantes, será formada uma opinião pública mundial favorável à
resolução pacífica de conflitos.
2.5 A Democracia e o Sistema Internacional
Com o fim da Guerra Fria, o comunismo definitivamente abriu as portas para a
expansão do capitalismo. A configuração do mundo não mais como bipolar serviu como
catalisador para a expansão do liberalismo político e econômico, e, portanto, espalhando os
ideais democráticos por todo o mundo, principalmente na América Latina, que sofria forte
influência de governos antidemocráticos.
Após toda a discussão de configuração das fases e do desenvolvimento da
democracia ressalta-se que: 1) no sistema internacional, as alianças só ocorreram entre
números restritos de Estados, baseados sempre em uma união limitada no tempo e nos
42
objetivos. Mesmo os mais antigos projetos de paz perpétua propunham alianças
hipoteticamente duradouras, entre Estados que se consideravam com os mesmos
interesses. No século XX, a Liga das Nações como princípio, e a Organização das Nações
Unidas, não só como principio, mas também de fato, constituíram o pacto de não agressão
recíproca, que inclui ou pretende incluir todos os membros do sistema internacional; 2) e
durante séculos a figura do Terceiro mais comum foi a do arbitro ou mediador, a figura
institucionalizada do juiz só apareceu ao final da Primeira Guerra Mundial, e voltou ao fim da
Segunda, com a Corte Internacional de Justiça, mesmo assim, se trata de um juiz que não
detém o poder coercitivo exclusivo; 3) nos séculos passados, principalmente no período de
expansão colonial, a formação do estado intermediário, que caracteriza o surgimento da
sociedade civil, não se deu só por acordo ou formação de confederações ou estados
federais (que requerem pactos de tipo democrático), mas também por meio da imposição de
um Estado ou de um grupo dos mesmos, mediante a uma força de poder autocrático.
Com a constituição da Liga das Nações e da Organização das Nações Unidas, é que
se experimentou, no cenário internacional, uma terceira via à anarquia ou à autocracia. Em
que há a submissão de vários estados a um poder comum a quem se atribua a exclusividade
de poder coercitivo. (BOBBIO, 2004).
A ONU tem uma inspiração democrática, no tocante às garantias ao direito do
homem, e a criação de uma instituição característica de uma sociedade democrática: a
Assembléia Geral, em que todos os representantes estão dispostos em pé de paridade e
que decide por maioria. É inspiração por que: 1) a garantia dos direitos do homem se detém
em alguns Estados singulares em razão do princípio da não intervenção;2) e ao lado da
Assembléia que baseia-se na igualdade política e pelo princípio da maioria, há o Conselho
de Segurança, em que os cinco membros permanentes têm o direito a veto sobre assuntos
não procedimentais. 3) E além do mais, no sistema internacional, a democracia se paralisou,
e atingiu o plano societário e não ao político, em que não só a sociedade, mas os Estados
são democráticos.
Apesar de o cenário internacional ter começado a se democratizar, mesmo com
dificuldade após a Primeira Guerra Mundial e retomou alguns passos após a Segunda
Guerra Mundial, o número de estados que não se enquadram como democráticos é que
atrapalham a estabilidade e neutralidade no Sistema Internacional, mas em contrapartida a
quantidade de estados democráticos veio aumentando desde o fim da Guerra Fria.
Principalmente porque os estados democráticos a partir de então estavam mais dispostos a
fazerem alianças defensivas entre si do que os estados não-democráticos, ao contrário de
antes da Primeira Guerra Mundial em que estes (democráticos) não se aliavam nem entre si
(BOBBIO, 2004).
43
A passagem do estado de natureza, em que há o medo recíproco, para o estado civil,
é a passagem para um equilíbrio instável. Esta situação caracteriza o ambiente internacional
atual, em que o medo entre apenas dois estados, se estes são os que detêm a maior força e
são irredutíveis ao poder de um Terceiro, acaba dominando o sistema como um todo, (como
ocorreu na época da Guerra Fria), e favorecendo no interior do sistema de cada um,
relações despóticas. Isto acaba travando o processo de democratização, entendido como a
via para sair da anarquia sem cair no despotismo, ou inversamente, para desmembrar um
sistema despótico sem cair na anarquia.
O sistema relativamente novo, das Nações Unidas, é legítimo ao representar a maior
parte dos membros da sociedade internacional, porém tem baixa efetividade. Já o velho
sistema, continua ser efetivo, mesmo que perdeu toda sua legitimidade (BOBBIO, 2004).
2.5.1 Teoria da Paz Democrática
A Teoria da Paz Democrática surge no contexto do trabalho como alternativa para
explicar o relacionamento do Brasil e da Argentina quando ambos se redemocratizaram,
afinal neste momento enfatizaram o desenvolvimento de um relacionamento bilateral mais
forte, visando maior aproximação.
O debate sobre paz democrática se tornou um dos mais importantes da tradição
liberal devido a três principais fatos: a releitura da obra de Kant por parte de alguns
estudiosos de relações internacionais; o amadurecimento de estudos sobre o fenômeno
guerra; e o fim da Guerra Fria que elevou a relação entre os Estados Unidos e a URSS à
partir de meados da década de 1980.
Michael Doyle foi um dos acadêmicos liberais que inaugurou a redescoberta de Kant,
em 1983. Ele releu o Tratado de Paz Perpétua e o relacionou com a conjuntura internacional
da década de 1980.
Para Kant, a simultaneidade da existência de repúblicas, sua consolidação em uma confederação mundial e o dever de hospitalidade perante o estrangeiro seriam as condições para o ser humano, por meio do uso da racionalidade, estabelecer as condições básicas para a paz. (NOGUEIRA; MESSARI, 2005, p.100).
Esta paz seria dividida entre os Estados-membros da confederação inicialmente, e a
relação com os Estados não-membros seria de constante agressão. Porém, com o tempo,
esta confederação tenderia a se expandir e abarcar maior número de membros até se tornar
uma confederação mundial. E neste momento a humanidade alcançaria a paz perpétua.
44
Doyle usa em sua obra o termo democracia pois segundo ele, Kant usava o termo
república para um sistema de governo em que o povo escolhia seu governante, e este
detinha então o privilégio da soberania. Segundo o autor, atualmente, várias repúblicas
foram constituídas por golpe de estado, ao mesmo tempo em que há monarquias que
expressam a vontade popular, a partir disto, ele defende a herança kantiana de que a
democracias não são mais pacíficas do que os demais regimes, e sim são mais pacíficas
entre si.
Seguindo nesta lógica, Doyle em sua obra afirma que existem estatísticas históricas
de cunho behaviorista de que há uma paz separada entre as democracias. Foi possível
então comprovar a partir destas a tese de Kant. Os quatro países que mais tinham se
envolvido em guerras, três eram democracias (França, Reino Unido e Estados Unidos). Ou
seja, as democracias não são mais pacíficas do que os demais regimes. E ao mesmo tempo
não havia nenhum registro de guerras entre duas democracias.
Com o fim da Guerra Fria, os Estados Unidos adotaram uma política que visa a
expansão da democracia ao redor do mundo com intuito de alcançar uma paz duradoura. O
presidente Wilson já havia defendido uma política externa nestes moldes, e o presidente
Clinton retornou com a mesma, porém de uma forma mais atual e tirando-o somente do foco
acadêmico para o foco da imprensa.
As formas como o debate é discutido geralmente aborda a própria natureza da
democracia e dos regimes, seu funcionamento e utiliza o fato da paz ser restrita as
democracias como argumentação. A cultura democrática de negociação e do compromisso,
assim como a necessidade de se fazer concessões e a aceitação à derrotas como parte do
processo político, leva este tipo de Estado a lidar da mesma forma com os que têm regimes
parecidos. “A não existência destes mecanismos de resolução de diferenças internas em
outros países explica, por sua vez, o estado de beligerância entre democracias e não-
democracias na política internacional.” (NOGUEIRA; MESSARI, 2005, p. 101).
Esta teoria é utilizada nas Relações Internacionais para responder a uma pergunta
intrigante: “porque os Estados guerreiam”? E nas alegações dos mesmos sobre o assunto.
Segundo (GARTZKE, 2000) a Paz Democrática é explicada pelas bases dos governos
democráticos, que encorajam menos às disputas, levando os países a se tornarem menos
dispostos a lutar do que os outros com outras formas de políticas não democráticas.
O conflito é inerente ao ambiente internacional anárquico, mas as bases
democráticas têm força suficiente, na maioria das vezes, para constranger intenções
militares (ONEAL; RUSSETT, 1999).
No cenário internacional, as democracias têm mais motivos latentes para entrar em
conflito do que os outros países com outros regimes, se feita uma análise de porque os
45
estados guerreiam. Mas entre si, as democracias têm menos desacordos, e, portanto,
menos conflitos entre países democráticos.
As democracias não precisam ser constrangidas em seus comportamentos por
instituições ou normas para entrar em conflito. A explicação para preferências similares e
para a compatibilidade entre normas e instituições, é porque têm interesses similares que as
constrangem a agir agressivamente no ambiente internacional. (GARTZKE, 2000).
Segundo Schweller (1992) não é que os estados democráticos nunca iniciam uma
guerra, mas a inibição vem da expectativa pública dos custos da mesma. Porém este
modelo depende também dos recursos e dos estados envolvidos.
Em conflitos contra estados fracos logicamente que a opinião pública não vai agir
mais pacificamente que estados não democráticos. Estas situações são mais comuns, pois
não envolvem medo e transferência de poder, e há a vantagem de democratizar o outro.
Já estados democráticos não guerreiam com outros estados democráticos, há uma
acomodação dos mesmos, devido principalmente a opinião pública que abre uma divisão de
poder interna20 que inibe ações preventivas. Em governos democráticos, os valores morais
da sociedade são mais importantes do que em governos autocráticos, E estas questões são
fortemente atingidas em um conflito, já que envolvem mortes, torturas, e perdas de pessoal
etc.
Os tomadores de decisão de potências em declínio são “proibidos” de agir
preventivamente contra outro Estado, não sendo possível destruir o outro antes que ele o
faça, muito devido à hipótese de que estados democráticos não iniciam uma guerra
preventiva contra estados não-democráticos, e muito menos contra estados também
democráticos. Em contrapartida, estes criam uma aliança defensiva, fazendo um balance
para diminuir o poder do adversário. O interessante é que quando as elites destes estados
(democráticos) percebem atitude ofensiva de estados não democráticos, tomam ações
preventivas. (SCHWELLER, 1992).
É perceptível então que a Paz Democrática sugere na maioria das vezes, a “Segunda
Imagem” (Política Doméstica) como primordial para explicar a incidência de guerras e
disputas no ambiente internacional. (SCHWELLER, 1992).
Segundo BUENO DE MESQUITA et al, (1999) as democracias só entram em guerra
quando sabem que têm maior probabilidade de vencer o adversário, do contrário preferem
negociar. E quando estão em confronto, as democracias são muito mais dispostas a usar
recursos extras do que os governos autocráticos, isso porque a medida que um lado vai
ganhando, consequentemente vai ganhando projeção política, e o objetivo dos líderes
20 A sociedade é dividida quase sempre entre as pessoas comuns, que na maioria das vezes não preferem a guerra e sim a negociação, e entre militares, por exemplo, e pessoas ligadas a Defesa e a Inteligência Nacional, que na maioria das vezes preferem o conflito.
46
democráticos é exatamente manter seus empregos, e portanto alocam recursos nas políticas
públicas para ganharem suporte.
Geralmente os líderes democratas trançam objetivos não atrativos para o outro para
que este não vá lutar por algo não muito interessante. Por isso, estes líderes, são também
mais seletivos ao traçar seus objetivos. Assim, líderes autocratas precisam de uma pequena
vantagem para guerrear contra outro país não democrático, mas precisam de uma maior
vantagem para se encorajar a lutar com Estados democráticos, justamente pelo fato destes
estarem mais dispostos a alocarem recursos extras no conflito.
Os democratas preferem mais usar seus recursos e vencer do que guardá-los, e
perder o conflito. Porém entrar em conflito com outras democracias já é mais pesado. Nestes
casos os objetivos traçados são ainda menos atrativos para não encorajar a outra parte. É
perceptível que este modelo baseia-se no auto-interesse dos líderes que querem se manter
no poder e buscam arranjos institucionais alternativos. É bastante diferente da linha até
então explicada, porém não deixa a base da teoria que diz que normalmente democracias
não guerreiam entre si.
47
3.0 BRASIL E ARGENTINA, PAZ DEMOCRÁTICA?
3.1 A Democracia antes das ditaduras
O histórico do relacionamento Brasil e Argentina apresenta vários momentos que
devem ser relevados, (como visto no Primeiro Capítulo deste trabalho) momentos estes que
podem ser abordados de várias formas.
Também como já foi exposto, o momento crucial do trabalho é desde o fim das
ditaduras militares em ambos os países, em que passaram de uma situação de rivalidade a
maior aproximação, quando perceberam a importância de um relacionamento bilateral mais
amistoso. Esta abordagem a partir de agora começará a ser discutida a luz da Teoria da Paz
democrática, o referencial teórico deste trabalho.
Ao longo do tempo, a Argentina e o Brasil produziram de si uma auto-imagem
idealizada que originou uma visão preconceituosa de um país contra o outro. Tal imagem
refletia as diferenças no processo de desenvolvimento e na capacidade potencial de um país
frente ao outro. A Argentina percebia o Brasil com uma capacidade de expansão enorme, já
o Brasil percebia a vontade argentina de restaurar o Vice-Reinado do Prata21. Com estas
percepções consolidadas, esta relação no século XX oscilou fortemente entre conflito e
cooperação. (MELLO, 1996). Desde o início desse século (XX) até 1979, os momentos de
rivalidade foram poucas vezes interrompidos por pequenos períodos de cooperação.
Na República Velha (1889-1930) houve a política externa do Barão do Rio Branco de
aliança do Brasil com Estados Unidos em diversas questões internacionais, em troca de
auxílio nas questões de consolidação fronteiriça brasileira na América Latina. Esta aliança,
mesmo sem a presença de Rio Branco na diplomacia brasileira, acabou continuando nos
próximos governos, como objetivo de impor influências na região. (SANTORO,2004).
Na década de 1950, a não existência de um Plano Marshall no Brasil, criou uma
desilusão brasileira com os EUA. No mesmo período Perón havia proposto a Vargas a
criação de uma união aduaneira entre Brasil e Argentina. O presidente do Brasil buscava
esforços em torno do nacionalismo e da industrialização pelo Estado, e percebeu com “bons
olhos” a proposta de Perón. Porém o relacionamento amistoso entre os presidentes era mal
visto por boa parte da população brasileira, com isso, a proposta não foi efetivada e logo
depois a crise interna levou ao suicídio do presidente Vargas em 1954. (SANTORO,2004).
Quando JK e Frondizi substituíram respectivamente a presidência do Brasil e da
Argentina estes lideravam coligações frágeis e por isso temiam um possível aumento da
21 O Vice-Reinado do Prata (1783-1810) foi o último e mais curto vice-reino criado pela Espanha durante o período de colonização das Américas. Dentro de seus limites encontravam-se os territórios atuais da Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia.
48
intervenção dos militares na política. A Operação Pan-Americana, de Kubitschek, que visava
investimentos norte-americanos na América Latina, recebeu o apoio argentino. Ambos os
presidentes se mantiveram prudentes e este projeto se deu ao nível multilateral da
Organização dos Estados Americanos (OEA), afinal sabiam que do contrário, uma maior
aproximação poderia significar uma reação em suas oposições domésticas. Em 1962 houve
um golpe, o presidente Frondizi foi deposto devido à pressão dos militares e dos peronistas.
(SANTORO,2004).
Até então é perceptível que os momentos de rivalidade são deixados, na maioria das
vezes, quando os EUA não se apresentam de forma crucial na diplomacia e ao
desenvolvimento brasileiro. Ou seja, quando a aproximação com os Estados Unidos não é
fator primordial na política externa brasileira. Do contrário, quando o alinhamento aos norte-
americanos era forte e declarado, a Argentina sentia-se ameaçada, pois assim o Brasil se
tornava mais hostil, e as chances do mesmo de realmente alcançar uma posição de maior
destaque político e econômico na América Latina e no cenário internacional eram bem
maiores. Esta hostilidade nem sempre se caracterizava de forma efetiva, mas qualquer ação
que visava tornar o Brasil uma potência regional poderia assim ser vista.
No período do governo do presidente Frondizi, a Argentina deixa seu
conservadorismo histórico e alinha-se aos Estados Unidos. A Argentina não encontrou nesta
aliança a mesma força que tinha seu relacionamento com o Reino Unido, mas aderiu aos
Acordos de Bretton Woods e passou a ter acesso ao FMI.
A partir de então, o papel dos EUA na política brasileira não é tão determinante no
relacionamento entre o Brasil e a Argentina.
Nas décadas de 1960 e de 1970, a rivalidade entre ambos os países aumentou
devido a vários temas. O alinhamento do Brasil ao Paraguai para a Construção da
Hidrelétrica de Itaipu é um dos pontos fundamentais na defesa deste trabalho. Esta obra
energética era fundamental ao Brasil que crescia rapidamente, em torno de 10% ao ano. Já
para os paraguaios esta significava a chance de não depender do porto de Buenos Aires,
podendo comercializar então através dos portos brasileiros do Atlântico.
Este processo de negociação foi um dos mais difíceis que o Brasil enfrentou, pois o
Paraguai se aproveitou da tensão com a Argentina para fazer concessões, situação que
acabou por esgotar o negociador brasileiro, que buscava acordar com os dois países.
(BARBOZA,1992).
A Argentina tinha conhecimento de que a construção da hidrelétrica era primordial
para o Brasil, e que para impedi-la somente a guerra, que acarretaria altos custos. Neste
momento, a Argentina passava por uma contenda (1991) com o Chile, em torno de ilhas
estratégicas no estreito de Magalhães, por isso cedeu para evitar conflitos com o Brasil e o
49
Chile, que tinham uma aliança não declarada de forma a conter a Argentina. (MONIZ
BANDEIRA, 2003).
A Argentina aproveitou da rivalidade do Brasil com os EUA em torno da questão do
mar territorial de 200 milhas e do acordo nuclear com a Alemanha para se aproximar de
Washington. Porém este alinhamento não evitou que os Estados Unidos se alinhassem à
Grã-Bretanha na Guerra das Malvinas, na disputa do território contra a Argentina.
Concomitantemente, o interesse do Brasil em torno do desenvolvimento de
tecnologia nuclear, afirmado como diminuição da dependência externa de um país em
desenvolvimento, logo impulsionou o desenvolvimento desta mesma tecnologia na
Argentina, que claramente buscava sua defesa em relação ao Brasil e ao Chile.
Este momento é outro primordial na defesa do trabalho. Já que foi um período de
grandes tensões entre os dois países. Porém, agora o risco era bem maior, diferente dos
outros vários momentos de rivalidade entre ambos os países. Guerra de fato houve quando
os países buscavam sua independência, quando ainda não eram países democráticos, da
mesma forma que neste período em que eram regidos por militares. Na década de 1970,
analistas de segurança internacional acreditavam que a rivalidade geopolítica entre os dois
países tinham a mesma magnitude do conflito entre Índia e Paquistão. (VIOLA,2006).
Até este período, por mais que os momentos de rivalidades fossem mais constantes
que os momentos de cooperação, nenhum destes países tinham tomado a iniciativa de
desenvolvimento de tecnologia nuclear, e nem feito acordos do assunto com outros Estados.
Da mesma forma em que não tinham agido de forma hostil como até então.
Este fato pode se justificar pela idéia central da Teoria da Paz Democrática, de que
as democracias não são mais pacíficas do que os demais regimes, porém são mais pacíficas
entre si. Ou seja, nos momentos anteriores ao período militar em que houve rivalidade,
atitudes com caráter hostil como nesta ocasião não houveram, o direcionamento das
questões conflitantes eram em torno de negociação. Esta característica deriva-se cultura
democrática que busca fazer concessões com Estados de regimes parecidos.
Nos países em ditadura não há negociação em caso de diferenças internas, o que
explica o estado de beligerância destes no cenário internacional. (NOGUEIRA; MESSARI,
2005). Neste momento, além da forma de governo, o que encorajou o Brasil foi sua
vantagem em relação à Argentina. Mas caso ambos ainda fossem países democráticos o
Brasil provavelmente não o faria, afinal não teria um objetivo muito atrativo para lutar.
Nos governos militares há a característica do totalitarismo, que restringe as
liberdades dos indivíduos, e através da intimidação os governantes acabam moldando a
opinião pública e mantendo o poder. O contrário ocorre nas democracias, em que as
liberdades civis são garantidas. Por isso, que muitas vezes, os países democráticos não
50
entram em guerra com outras democracias, devido à projeção que este conflito poderia
causar. Já nas ditaduras estes valores não são tão ressaltados.
3.2 A redemocratização
Na década de 1980, o clima de confronto do período anterior dá início a uma nova
fase no relacionamento destes países, em que a cooperação ganha maior Constancia. Com
os governos militares enfraquecidos, assinou-se o Acordo Cooperativo Técnico- Operativo
de 1979, que encerrou a controvérsia em torno da construção de Itaipu. No momento,
tentavam restaurar a democracia, fato que facilitou a assinatura do acordo, pois a
democracia prega além da resolução pacífica dos conflitos, a maior transparência e
legitimidade em suas relações.
Em 1985, os dois países com suas democracias novamente consolidadas, assinaram
a Declaração de Iguaçu, um acordo de grande importância, precedente ao MERCOSUL, e
que possibilitou a assinatura do Tratado de Assunção cinco anos depois.
A crise da dívida externa de 1982 afetou ambos os países. Decretaram moratória e
enfrentaram restrição aos investimentos e financiamentos estrangeiros. Esta questão foi de
grande incentivo à cooperação latino-americana. No Brasil, em 1988, a carta magna afirma
em seu artigo: “A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política,
social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade
latino-americana de nações”.
Neste período, a política externa brasileira enfatizou as questões de integração.
Foram assinados acordos, como o de controle de materiais nucleares e também na área de
bens de capital, estendendo ao Tratado de Assunção, de 1991, nos governos Collor e
Menem, que compunha uma união aduaneira entre os dois países juntamente com o
Uruguai e Paraguai.
O Tratado de Assunção discutia mais questões relativas a temas econômicos como,
bens, serviços, fatores produtivos, tarifa externa comum, e coordenação de políticas
macroeconômicas e setoriais. O histórico de rivalidade entre o Brasil e a Argentina foi
desconsiderado com intuito de avançar a integração.
Com o fim da bipolaridade estratégico-militar Leste-Oeste, em função da implosão do
bloco soviético; com a crescente multipolaridade econômica- tecnológica, principalmente
representada pelos Estados Unidos, Comunidade Européia e Japão; com a organização de
mega blocos regionais; e com a nova divisão do mundo entre Norte (desenvolvido) e Sul
51
(subdesenvolvido); a constituição de um espaço geoeconômico como o proposto no Tratado
de Assunção torna-se uma questão de maior relevância. (MOREIRA; SADENBERG apud
MELLO, 1996).
Após a redemocratização, no Brasil, as alusões a democracia interna eram
evidenciadas como forma de vincular a política interna a externa. Este retorno significava
algo novo na identidade do país, e na ênfase da negociação no cenário internacional, um
dos pressupostos democráticos que ganhou força após o fim da Guerra Fria. Assim, para ser
mais proeminente neste ambiente, o Brasil aderiu a uma série de tratados e convenções
importantes como os pactos da ONU sobre direitos civis e políticos, convenção sobre tortura
e outros acordos de ordem econômica, cultural e social. (FREIXO; RISTOFF,2008).
Os acordos da Organização Mundial do Comércio (OMC) e do MERCOSUL,
baseiam-se em regimes internacionais, normas e princípios que regulam as relações entre
os Estados, que obrigam os governos dos países-membros a terem governos democráticos.
Estes conseguem garantir de certa forma maior coerência entre os espaços geoeconômicos,
“estabelecem expectativas mútuas estáveis sobre o padrão de comportamento dos outros”,
assim como “reduzem os custos de transação de barganhas legítimas, aumentando as para
ilegítimas”. (KEOHANE, 1984: 89 – 90).
Assim, como afirmam os liberais, o comércio proporciona maior bem estar entre as
nações, já que adiciona a economias diferentes, diferentes recursos e mão-de-obra. Além
disso, funciona como canal de comunicação, e como alargador de áreas de interesses
comuns, que servem como catalisadores da interdependência entre os Estados.
Os países latino-americanos ao se redemocratizarem foram bem vistos e
evidenciados pelos países desenvolvidos, porém não deram assistência e nem ajuda
suficientes para aprofundar os processos de democratização na região. Apesar da discussão
acerca da liberalização dos fluxos internacionais de comércio, com a criação da OMC, os
protecionismos das nações industrializadas continuaram. (FREIXO; RISTOFF,2008).
Neste sentido, os países da América Latina, buscaram com a cooperação, a
ampliação de sua segurança nacional e de seu poder de barganha. A integração regional se
deu em via paralela ao processo de democratização de seus Estados-membros, e o
elemento democracia, principalmente referindo-se a aspectos formais, passou a ser muito
importante nos discursos oficiais e considerado como um pressuposto para a integração,
ainda que não seja explícito no tratado de constituição do MERCOSUL. (FREIXO;
RISTOFF,2008).
O Protocolo de Ouro Preto, de 1994, estabeleceu uma estrutura jurídico-institucional
ao bloco, criando o Foro Consultivo Econômico-Social, que pretende dar voz aos
representantes dos setores econômicos e sociais, ou seja, articula interesses sociais e
52
democráticos. Porém, este tem caráter apenas consultivo, somente emiti recomendações ao
grupo. (FREIXO; RISTOFF,2008).
Com o golpe de Estado, em 1996, do General Lino Oviedo, no Paraguai, os Estados
–membros buscaram a institucionalização do compromisso democrático. Os presidentes dos
respectivos Estados reafirmaram sua adesão aos princípios e as instituições democráticas,
ao estado de direito e o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais. A
efetivação deste compromisso, Cláusula Democrática, se deu no Protocolo de Ushuaia, em
1998, e começou a vigorar em 2002. (FREIXO; RISTOFF,2008).
Este protocolo prevê a suspensão dos direitos do Estado-membro que romper com a
ordem democrática, que é então suspenso de participar dos órgãos ou de outros tratados do
bloco. Este instrumento também esta presente em órgãos como a Organização dos Estados
Americanos (OEA) e a União Européia, e também no âmbito do Direito Internacional.
(FREIXO; RISTOFF,2008).
O foco na democracia como situação indispensável para ser um Estado-membro do
MERCOSUL é um fato importante no apoio aos governos democráticos, e no compromisso
do bloco com a liberalização comercial. A formulação da "cláusula democrática" é algo
fundamental para prevenir o retorno de governos autocráticos a qualquer um dos países-
membros.
É perceptível que a questão democrática dentro do bloco parte de um consenso com
alto grau de adesão entre os governos e também entre a população ou grande parte desta.
A exata percepção entre integração regional e a sociedade civil na estruturação do bloco,
apesar de importante, não cabe ao contexto do trabalho.
No geral, a violação aos outros princípios do MERCOSUL ocasiona conseqüências
como represálias e perda de credibilidade entre os outros parceiros do bloco. Do contrário,
recebem ganhos oriundos da cooperação e garantem aumento das transações econômicas.
(FREIXO; RISTOFF,2008).
Apesar dos problemas estruturais do bloco, os atores não-estatais têm articulado em
torno da integração do Cone Sul, participação que tem gerado efeito positivo. Assim, o
MERCOSUL se estende para outras áreas, além da econômica, como setores culturais,
trabalhistas e energéticos. (FREIXO; RISTOFF,2008).
53
3.3 Século XXI
A projeção internacional do Brasil e da Argentina apresenta uma situação conflitiva. O
governo Lula (2002- 2010) desempenha um papel mais ativo regionalmente e maneja uma
política externa de maior articulação nos foros multilaterais e nas negociações
internacionais, na busca de posição de destaque no âmbito da ONU e da OMC. Apesar de
isso significar maior projeção internacional para a região, e poder efetivar maior
consolidação do MERCOSUL, o Brasil, não encontra apoio da Argentina, que parece almejar
o mesmo papel tanto no contexto regional quanto no internacional.
Esta busca pelos mesmos objetivos não seria o centro dos problemas no
relacionamento dos dois países, e sim a forma como o Brasil vem desempenhando este
papel. A busca deliberada pela posição de líder regional é que estaria incomodando a
Argentina, mesmo esta sabendo das melhores condições do Brasil frente ao seu país.
(TELES; CANEDO, 2006).
A liderança regional brasileira, de acordo com os argentinos, não estaria gerando
efeitos, esta para eles, acontece somente na retórica e no discurso. Segundo eles, o Brasil
não possui capacidade suficiente de garantir a segurança de seus vizinhos, e nem de se
posicionar como mediador para solução de controvérsias entre os países da América do Sul,
e mesmo de defender os interesses dos mesmos no âmbito internacional, funções de um
líder regional. (TELES; CANEDO, 2006).
Outra questão conflitante trata as políticas macroeconômicas adotadas por ambos os
países, implicando em desvantagens competitivas no âmbito do MERCOSUL. Em 1999, a
desvalorização do real foi um fator que afetou fortemente a economia argentina, que já
enfraquecida entrou então em crise, pois os produtos brasileiros se tornaram ainda mais
competitivos no mercado argentino.
Todavia, a preocupação dos dois países com o relacionamento bilateral e com a
estabilidade democrática são pontos convergentes na política externa de ambos. O Brasil e
a Argentina trabalham com a responsabilidade de manutenção dos regimes democráticos e
da segurança dos países sul-americanos, desta forma priorizam a cooperação nas áreas da
saúde e educação, dentre outras. (TELES; CANEDO, 2006).
É perceptível então que, no relacionamento destes dois países há pontos de
divergência e também de convergência, já no relacionamento destes com os outros
membros do MERCOSUL, Uruguai e Paraguai são cada vez mais constantes a
discordâncias. Estes afirmam ocupar posições desfavoráveis no MERCOSUL, e se
manifestam insatisfeitos com os poucos resultados provenientes da integração, resultado
54
principalmente oriundo das assimetrias econômicas e das desvantagens competitivas de
seus produtos frente aos outros dois países. (TELES; CANEDO, 2006). Porém, aprofundar
neste assunto não cabe ao trabalho.
A vitória de Néstor Kirchner em 2003 foi de suma importância ao Brasil. O presidente
Lula tinha demonstrado seu respaldo ao candidato, que venceu, o até então presidente
Carlos Menem. Além de Kirchner demonstrar maior importância ao relacionamento dos dois
países, o apoio de Lula também se deu em razão de que durante a longa gestão de Menem,
o MERCOSUL foi utilizado como instrumento de maximização dos ganhos comerciais
imediatos para o país, assim como direcionou sua política externa na busca constante de
alinhamento aos Estados Unidos. (FARIA, 2003).
A eleição do novo presidente argentino ocorreu em um momento em que se esgotara
a manutenção da paridade peso-dólar e de aproximação dos regimes cambiais da Argentina
e do Brasil, o que assegura aos dois Estados-membros do bloco maior campo de ação na
busca de mecanismos de interação. (FARIA, 2003).
É possível dizer que a democracia pode contribuir, e muito, para a continuação do processo de integração, já que a ampliação da sociedade civil, como decorrência da expansão das conquistas democráticas, pode de forma decisiva influir sobre as ações dos Estados.(...) Uma maior participação e cooperação podem levar a uma diminuição das incertezas de um Estado em relação ao outro. (FREIXO; RISTOFF,2008, p.44)
A eleição de novos governos críticos ao modelo neoliberal na América Latina, com
discursos desenvolvimentistas e democráticos, mostra uma reconfiguração na região.
Mesmo que haja problemas entre as orientações e classificações ideológicas destes, é
possível perceber uma maior convergência de objetivos, motivação política e integração
regional. Portanto é preciso incentivar a democracia internamente, assim como o processo
de integração, para que o maior envolvimento da sociedade resulte no aumento da
legitimidade do processo de estruturação do MERCOSUL. (FREIXO; RISTOFF,2008).
55
4.CONCLUSÃO
Argentina e o Brasil apresentaram de fato contextos instáveis durante todo o
processo histórico apresentado no trabalho. Mesmo antes da independência dos dois países
as diferenças apresentadas por ambos já delimitavam certo grau de rivalidade.
A maior dimensão territorial do Brasil frente à Argentina representa esta situação,
apesar de ser descompensada inicialmente em função de que território brasileiro não era
totalmente ocupado, de carecer de maior esforço nas áreas de transporte e comunicação.
Mas é um fator que hoje, apesar de não ser motivo real de hostilidade, provem ao Brasil
maior fonte de recursos e de status.
A maior integração da sociedade argentina em relação à sociedade brasileira é
também bastante interessante. Apesar de não ser motivo de comparação por parte do Brasil,
esta característica acabou moldando situações mais intensas na Argentina do que no Brasil.
Como um todo, os países apresentaram processos históricos com contextos inseridos em
quadros temporais semelhantes, porém na Argentina, estes quadros se configuraram de
maneira mais forte. Na medida que passava por conflitos internos e externos, esta
sociedade se fortificava o que ocasionou em maior integração da mesma.
A Guerra do Paraguai foi um dos principais conflitos envolvendo a Argentina e o
Brasil e também o Paraguai, e o Uruguai. Estes países entraram na guerra por motivos
geopolíticos, na busca pelo controle ou pelo impedimento deste sobre áreas geoestratégicas
na região sul da América Latina.
O Paraguai perdeu a guerra, mas tinha grande apoio por quase toda a America
Latina, que temia a possibilidade de expansão brasileira. Mas a hegemonia política e
econômica argentina frente aos outros países da região, e a criação de seu Exército, acabou
criando obstáculos no relacionamento com os outros, e não gerou uma política efetiva para
ser imposta aos vencidos paraguaios.
Foi um momento que culminou em certa rivalidade entre o Brasil e a Argentina, mas,
diferente de grande parte do contexto histórico citado no trabalho, em que na maioria das
vezes a Argentina é que se sentia ameaçada com as melhores condições políticas e
econômicas do Brasil.
O conflito ocorreu entre governos que não se regiam de repúblicas nem de
democracias. E principalmente foi ocasionado por intenções hegemônicas de um ditador,
que visava expansão de seu território. De fato, foi o único conflito armado que ocorreu no
contexto dos Estados-membros do MERCOSUL.
56
Com a Proclamação da República no Brasil, acordos comerciais entre o Brasil e os
Estados Unidos foram assinados. A política externa se esforçou em torno do estreitamento
deste relacionamento, que marcou a política de Barão do Rio Branco.
A doutrina Monroe, e o corolário Roosevelt, esclareciam as intenções hegemônicas
estadunidenses sobre o território, que tinham uma boa relação com o Brasil, e um
relacionamento mais restritivo com a Argentina. Esta não via com “bons olhos” a maior
proximidade do Brasil com os EUA. O relacionamento do Brasil e da Argentina, desde então
começa a ser pautado de acordo com o grau de aproximação do vizinho com a potência em
crescimento da época.
A contenda fronteiriça de Missiones-Palmas advém deste contexto. A Argentina
reivindicava a divisão de um pedaço de território brasileiro, ao sul de Santa Catarina. Atitude
que provavelmente buscava mostrar seu descontentamento com o Brasil em sua
aproximação com os Estados Unidos. A controvérsia foi decidida por arbitragem, sendo
acordado entre os envolvidos que o arbitro seria o presidente dos EUA, Cleveland; foi
decidida em favor do Brasil.
A figura do Terceiro neste episódio caracteriza a figura do árbitro, em que as partes
decidiram se submeter, apesar de parecer que o Terceiro tomou direção de uma das partes.
Mas, o pedaço de território então disputado era brasileiro, sem motivos explícitos que
mostrassem razão da Argentina em reclamá-lo, talvez, já conscientizada das condições não
hesitou em eleger, assim como o Brasil, os Estados Unidos como mediador.
A Argentina realmente tinha razão em desconfiar das intenções hegemônicas
brasileiras na região. Nesta busca, o alinhamento do Brasil com os EUA, era cada vez mais
era priorizado, porém este aumento de intensidade também se refletia na dependência do
Brasil com o mesmo, que também crescia. Ao contrário da Argentina, que lucrara em certa
parte, em até então não depender tanto deste relacionamento, mas também não desfrutara
das conseqüências do mesmo.
A tentativa de assinatura do Tratado do ABC, em 1915, mostra certa evolução no
contexto ideológico da política e economia na região, porém, em função da desconfiança do
relacionamento EUA (que apoiava o projeto) com o Brasil, pela Argentina, não foi aceito. Da
mesma forma, em 1951 quando tentaram sua reedição, porém desta vez por impedimentos
do Brasil, que percebia a tentativa de aproximação da Argentina, como intenção de
expansão regional.
Propostas e acordos que pareciam vislumbrar a estabilidade e cooperação foram
propostos pelos governantes do Brasil e da Argentina durante todo o período do início do
século até as ditaduras, na década de 1960. Raramente estes se efetivaram, principalmente
em função da constante desconfiança de um país frente ao outro.
57
Quando a Argentina se alinha aos Estados Unidos, delimita um novo contexto em sua
história política. A partir de então não é possível dizer que o relacionamento deste país com
o Brasil é caracterizado pelo grau de proximidade do próprio Brasil com os Estados Unidos.
O grande potencial brasileiro, até então, só poderia ser desenvolvido pelo alinhamento deste
com os EUA. Assim era percepção argentina, que agora também possui relacionamento com
EUA, mas não os potencias brasileiros.
No contexto regional, cada unidade política é afetada pela ação do vizinho, por isso
suspeitam sempre de suas intenções. Agora, para a Argentina, as intenções brasileiras
deixam de ser explicadas por sua aproximação com os EUA, mas mesmo assim as ações do
vizinho não deixam de ser suspeitas, o potencial territorial e de recursos brasileiros ainda é
muito maior.
Durante os momentos em que o nacionalismo esteve presente nas políticas de
ambos os países, a rivalidade era intrínseca a estas, não havendo convergência
principalmente das políticas externas. O contrário ocorria quando buscava-se o
desenvolvimentismo, que ocasionava em maior abertura e confiança.
Com o desenvolvimento da tecnologia nuclear claramente a rivalidade estava
presente. O Brasil tinha como principal em seu discurso de afirmação, a tecnologia em busca
de menor dependência econômica, o que para a Argentina não tinha tanto valor se
comparado à mudança no status-quo regional que esta poderia causar.
No contexto histórico dos países, a ação brasileira significava a grande ameaça que a
Argentina até então esta não sofrera. Os momentos de não convergência de política externa
nada significavam junto a esta ação, assim como a vigente prioridade econômica brasileira.
Afinal, nenhuma ameaça efetiva à segurança e ao status da região deste nível acontecera.
Por isso, a Argentina buscou o desenvolvimento de tecnologia nuclear, como estratégia para
consolidação do poder regional.
Em 1979 e 1980, os países deram fim aos conflitos. Com seus regimes militares
enfraquecidos, estavam buscando novamente a democracia, o que facilitou a assinatura do
acordo em função da democratização trazer consigo maior legitimidade e transparência em
suas relações.
Considerando a instabilidade no relacionamento de ambos os países, é evidente que
este período foi o mais complicado. No fim da Guerra do Paraguai, a preponderância
Argentina causou intimidação ao Brasil, mas nenhuma ação efetivamente hostil, assim como
na questão de Missiones-Palmas.
Nos constantes momentos de desconfiança e de paralelismos das políticas externas,
os Estados Unidos tiveram papel importante na medida em que propiciavam somente ao
Brasil as conseqüências do alinhamento. A Argentina se alinha já tardiamente. Como o
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Brasil tem de fato mais recursos do que esta, o papel dos Estados Unidos como propiciador
do desenvolvimento brasileiro já não é primordial, os caminhos já estavam abertos, e,
portanto a desconfiança continuou.
O fato é que realmente sabemos que nos governos democráticos, questões tão
intensas têm menos chances de ocorrerem. Os governantes militares brasileiros, na busca
pelo nacionalismo, queriam mostrar de forma efetiva a primazia brasileira na região, agindo
neste sentido de forma mais hostil, atuando diretamente sobre uma questão fundamental ao
Estado, a segurança.
A contenda de Corpus-Itaipu não pode ser claramente associada à expansão
hegemônica, afinal consistia como fundamental internamente ao setor energético brasileiro,
mesmo ao estar associando-se com o Paraguai. Porém apesar deste ser um país frágil, caso
se tornasse aliado, pelo menos no contexto do MERCOSUL, teria relevância. E esta
provavelmente foi a visão Argentina.
Hoje, não há bibliografias tão recentes do relacionamento dos dois países,
principalmente no tocante a rivalidade e desconfiança mútua, mas parece que a Argentina
está mais conformada, reconhece que realmente a situação brasileira é melhor,
principalmente no tocante aos recursos, e sabe que pelo fato de que sua economia não está
bem, não tem como fazer frente a uma posição que não teria como manter.
Não cabe aqui verificar aplicabilidade da Teoria da Paz Democrática em todos os
contextos de hostilidade entre dois países não democráticos. Mas esta se tornou uma opção
para explicação desta maior aproximação do Brasil e da Argentina após o fim dos governos
militares, e principalmente com o fim da Guerra Fria, em que houve a maior disseminação
dos valores democráticos por todo o mundo.
De fato, é possível aplicá-la no contexto do trabalho. Se focarmos após a década de
1980, com a redemocratização, os momentos de cooperação, no relacionamento de Brasil e
Argentina, se tornaram mais constantes, e a instabilidade já não tão rígida como antes. Fato
que propiciou não só o acordo primeiro de formação do MERCOSUL, mas também o seu
desenvolvimento até hoje, como fonte principal de relacionamento entre os países da região,
e como um ator internacional multilateral, que prega a democracia interna e externamente.
Antes das ditaduras, apesar da ausência de ações hostis, a instabilidade era grande,
mas devido principalmente às incertezas de dois países vizinhos, que ainda não tinham
alcançado nem metade de seu desenvolvimento e industrialização, e que ao buscá-los,
queriam atingir posição hegemônica na região.
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5.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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