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PAULO ROGERIO MANGINI
A SADE E SUAS RELAES COM A BIODIVERSIDADE, A
PESCA E A PAISAGEM EM DUAS COMUNIDADES DE
PESCADORES ARTESANAIS NO LITORAL DO PARAN.
Tese apresentada ao Curso de Ps-Graduao em
Meio Ambiente e Desenvolvimento da Universidade
Federal do Paran como pr-requisito obteno do
ttulo de Doutor.
Orientadores: Prof. Jos Milton Andriguetto Filho e
Profa. Eleusis Ronconi de Nazareno
CURITIBA
2010
Livros Grtis
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ii
PAULO ROGERIO MANGINI
A SADE E SUAS RELAES COM A BIODIVERSIDADE, A PESCA E
A PAISAGEM EM DUAS COMUNIDADES DE PESCADORES
ARTESANAIS NO LITORAL DO PARAN
Tese apresentada ao Curso de Ps-Graduao em
Meio Ambiente e Desenvolvimento da Universidade
Federal do Paran como pr-requisito obteno
do ttulo de Doutor.
Orientadores: Prof. Jos Milton Andriguetto Filho e
Profa. Eleusis Ronconi de Nazareno
CURITIBA
2010
i
PARECER DA BANCA EXAMINADORA
ii
Dedico primeiro a Toda Minha Famlia
Em especial
Ao v Cindo, que foi marceneiro e caador, ao v
Paulino, que foi barbeiro no interior (ou seja, quase
mdico) deles herdei algumas habilidades; s minhas
Avs, Titina e Madalena; e finalmente Paulinha, ao
Claudio, ao meu Pai e minha Me, sem essas pessoas
todas eu no teria os valores necessrios, nem a firme
certeza de que para levar a vida devemos apenas fazer
o que gostamos de fazer
Depois, aos que entendem que no
podemos deixar essa herana...
learn too late the simple, karmic law of ecology: all is interdependent and all is
interconnected. As bad philosophers continued to debate whether humans beings were part of
nature or his butcher, a spiral of dreadful causation erased this illusory dualism, and it became
evident that destiny of humanity on Earth was to be both, victim and executioner of creation. At
the end all earthly beings became joined in an intimate, slow dance of death (Michael Soul,
2002).
"O saber, a gente aprende com os mestres e com os livros... A sabedoria... se aprende com a
vida e com os humildes..." (Cora Coralina)
iii
AGRADECIMENTOS
Primeiro agradeo...
Ao meu orientador Prof. Jos Milton Andriguetto Filho, que deu um apoio fundamental, orientando
no meio de alguma confuso, conduzindo boas discusses tericas, pela confiana na equipe,
pela liberdade que nos deu pra criar esse modelo e por todo o apoio imprescindvel na reta final
desse trabalho.
Prof. Eleusis Ronconi de Nazareno, minha co-orientadora, e aos demais professores do MADE
que contriburam direta ou indiretamente para o andamento desse trabalho.
Ao todos os colegas da Turma 7 do MADE, pelas ajudas, troca de informaes e pela experincia
interdisciplinar. A Stela, que nos trouxe uma nova viso sobre as coisas entre sociedade e
natureza. Tivemos boas discusses e quase conseguimos fazer esse trabalho um pouco mais
transdisciplinar.
Aos todos os Moradores e Pescadores das Vilas do Superagui e do Ararapira, que foram bastante
receptivos e hospitaleiros, e tiveram prazer em parar o que estavam fazendo pra conversar com a
gente, tambm ao Sr. Rubens e Sr. Herundino sempre dispostos a colaborar.
Ao pessoal da vila de Barrancos, Fico, Taco e Maco, que sempre arranjam um jeito de nos levar
at Currais, e Sr. Jair pelas valiosas informaes complementares.
Ao Laboratrio de Ornitologia do CEM/UFPR pelo apoio logstico, e de pessoal e pelos dados
fundamentais sobre aves no litoral do Paran.
WCS Pelo suporte financeiro, e ao desenvolvimento de pesquisas e projetos na rea de
Sade e Conservao por meio do Programa One World One Health, que forneceu o Seed Money
fundamental para iniciarmos os trabalhos aqui no Litoral do Paran. Em especial aos amigos Billy
Karesh e Marcy Uhart, que sempre foram companheiros apoiando algumas das minhas idias, e
Flavia Miranda pelo amplo apoio a essa atual parceria.
Ao ICMBIO e a figura do Diretor do PARNA do Superagui, Marcelo, que sempre viabilizou nossa
estada na ilha, disponibilizando o alojamento e tambm pelo apoio ao projeto, por meio das
licenas ambientais.
Ao CNPq pelo apoio financeiro ao pesquisador durante 20 meses desse trabalho e Ao MADE que
possibilitou essa ajuda.
iv
Trade Pelo apoio institucional, em particular aos amigos Jean, Fernanda, Kadu, Juliana e
Cludia que em muitas ocasies correram para ajudar a resolver os entraves burocrticos, mas,
sobretudo por serem companheiros pelos mesmos ideais dentro da Medicina da Conservao.
Ao IP Por ser a instituio, a famlia de amigos, que me ajudou muito a entender e pensar de
forma interdisciplinar, sem a experincia do Pontal do Paranapanema eu no teria alcanado
muito do que tenho hoje. Para esse trabalho em particular, agradeo ao Beto Malheiros que cedeu
a base de dados do projeto de gesto participativa da pesca, referente s vilas de Ararapira e
Superagui.
Depois, porm nada menos importante, agradeo s meninas...
Cris, minha Pequena, que fez de tudo um pouco para me ajudar a terminar esse trabalho,
compilando dados, ajudando com resumos, coletando amostras, capturando aves, mamferos e
micuins... alm de ser a pessoa que se preocupa, se dedica e sempre est l por mim, e pelas
pessoas de quem gosta.
Paulinha, minha irmzinha, que ajudou um bocado em campo vrias vezes e no laboratrio
contando aquelas clulas e me ensinando, e por sempre ter tempo pra ajudar quando eu preciso.
Val, minha filha adotiva, que teve que adivinhar que parasitos eram aqueles (sem chance de eu
aprender a fazer isso) e por sempre ter tempo pra ajudar quando eu preciso.
s meninas do Lab de Ornito: Ana, Lu, Ju, Vivi, Elise, Mai e Dani que deram ajudas valiosas tanto
em campo, quanto na hora de tabular aqueles dados todos! Mas principalmente por serem boas
companheiras, competentes e bem humoradas.
todas as meninas do Vida Livre, parte da minha famlia, P, Marcinha, May, Aline, Val e
Paulinha que, mesmo de longe, muitas vezes me ajudaram tambm com uma srie de pequenas
ajudas fundamentais.
minha pupila, Lets, que foi um dos meus estmulos pra dar este passo e que tambm passou
pelo mesmo aperto que eu, ao mesmo tempo, mas terminou uns dias depois.
Fufi, minha Afilhadinha, Patrcia Medici, que sempre me apoia, ou critica quando preciso, e
que passou ao mesmo tempo pelo mesmo aperto que eu... mas terminou uns dias antes. Por
conta da nossa parceria de trabalho de longa data, juntos aprendemos muitas coisas importantes
sobre conservao da natureza e o trabalho em campo, e sobre amizades verdadeiras. Sem o
exemplo da minha Afilhadinha sobre organizao, dedicao e de como traar e perseguir as
metas necessrias a um trabalho de sucesso, muito do que fiz profissionalmente seria certamente
diferente.
Agora os rapazes...
Ao meu Amigo e Comparsa, Ricardo Krul, o Pescad. Sem esse parceiro essa tese no existiria!
Aprendi muito durante esse trabalho. Alm disso, hospedagem, churrascos, peixada em Currais,
pescaria de albatroz, e muitas outras parcerias bem sucedidas, e outras que esto por vir,
v
passarinhada na vila abandonada do Ararapira, Saint-Hilaire Lange, os maaricos, e algumas
consultorias e sem esquecer aquela coleta na Ilha das Palmas...
Ao Amigo Z Milton que nos apoiou muitas vezes mais do que um orientador teria apoiado.
Ao Amigo JC que tenho certeza que se divertiu muito indo pra campo e de quebra foi uma grande
ajuda nas coletas.
Ao amigo Arnaud Desbiez que deu valiosos conselhos sobre a finalidade de uma tese.
Ao meu amigo a toda a prova, o Fabiano, que em 1989 resolveu conhecer melhor aquele sujeito
de bon amarelo que estava sempre conversando com as meninas. Sem essa amizade, eu sei
que teria estudado menos, e no sei se teria explorado essa saudvel inquietao que me fez
aproveitar muito melhor a graduao e o mestrado, e que me trouxe at esta etapa.
Ao meu Mestre, Pachaly, que tambm l em 1990 resolveu que iria ajudar aquele moleque que
queria organizar um curso de selvagens na semana acadmica. Sem esse amigo, o seu exemplo
de profissional, suas dicas e orientaes, e o apoio em todas as horas, o caminho teria sido
totalmente outro.
Ao Espiga, Maurcio Barbanti, tambm um dos meus mestres, com quem aprendi muito, ainda nas
pocas de estagirio, em 1992, e nas muitas conversas depois disso. Essa etapa acadmica que
se completa agora ainda guarda um tanto dessa influncia. Sobretudo pelos exemplos da viso de
cientista, de conservacionista e a dedicao ao trabalho.
Ao Wanderlei de Moraes, mais um dos meus mestres, com quem tambm aprendi muito, ainda
nas pocas de estagirio, em 1993. O que aprendi l na Itaipu Binacional e o exemplo
entusiasmado e dedicado do Wander, estruturando e gerenciando aquele criadouro de fauna
selvagem, certamente me ajudaram muito a gerenciar uma parcela importante das minhas
atividades profissionais, a qual sempre foi economicamente relevante, e em ltima estncia
responsvel por parte da minha sobrevivncia durante o doutorado.
A todos os colegas e amigos da MAD_7, a melhor experincia interdisciplinar foi por conta do
chimarro, conversa na sala de aula, churrasco, festa na casa da Beth e na chcara do Gustavo,
e toda a camaradagem que s tem quem senta nas cadeiras dos alunos.
A todos os outros Professores e Mestres que me deram censo crtico e me ensinaram como olhar,
ler e escrever.
Ao apoio de todas as minhas famlias: Parentes, Vida Livre, IP, TRADE e Lab.
Finalmente, s propriedades emergentes dos sistemas sem isso nada seramos e essa tese, em
especial, seria totalmente diferente...
vi
APRESENTAO
A presente tese aborda temas relevantes para o entendimento dos sistemas
socioambientais, com ateno especial s interaes entre natureza e sociedade, a partir
de um modelo de estudo desenvolvido de forma interdisciplinar. O estudo aqui
apresentado resulta das discusses e reflexes tericas desenvolvidas dentro da linha de
pesquisa: Dinmicas Naturais dos Ambientes Costeiros: Usos e Conflitos, da stima
turma do Curso de Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento da Universidade
Federal do Paran. Este programa de doutorado tambm tem como inteno promover a
interao entre profissionais formados em diferentes reas especficas do conhecimento,
buscando identificao de problemas e elaborao de solues para questes complexas
atreladas ao meio ambiente e o desenvolvimento. Dentro deste contexto, o foco da
discusso que originou o presente trabalho esteve direcionado s inter-relaes entre a
paisagem, a pesca, a biodiversidade e a sade, considerando as atividades da sociedade,
como sendo prticas de fundo material capazes de interferir no curso dessas inter-
relaes. Os sistemas socioambientais escolhidos para o desenvolvimento dos estudos
de campo foram comunidades de pescadores do litoral do Paran. A metodologia do
estudo enfocou primariamente as implicaes ambientais decorrentes dos processos de
uso e ocupao de parte da faixa litornea do estado, e foi empregada para recolher os
dados necessrios ao desenvolvimento de duas teses desse programa de doutoramento,
desenvolvidas sob o mesmo tema. Estas teses em parte se sobrepem, pois se utilizam
do mesmo conjunto de conceitos, que originou um modelo de estudo comum aos dois
trabalhos. Adicionalmente, durante a discusso dos resultados ambos os trabalhos
empregaram um enfoque interdisciplinar, considerando de forma concomitante aspectos
relevantes da sade ambiental e da diversidade biolgica, o que levou a uma anlise
integrada dos principais indicadores das relaes entre paisagem, pesca, biodiversidade e
sade. Porm, as duas teses diferem substancialmente quanto ao enfoque dado aos
temas sade e biodiversidade, sobretudo na discusso referente complexidade destes
temas para o entendimento dos sistemas socioambientais, representados pelas duas
comunidades em estudo.
vii
RESUMO
O presente estudo teve como objetivo geral avaliar as relaes entre paisagem, pesca,
biodiversidade e sade, considerando as atividades da sociedade como prticas capazes
de interferir no curso dessas interaes. Os sistemas socioambientais escolhidos para os
estudos de campo foram duas comunidades de pescadores artesanais, Barra do
Superagui e Barra do Ararapira localizadas no Parque Nacional do Superagui litoral do
Paran. O mtodo de pesquisa aqui utilizado abordou 45 variveis, que compreenderam:
1) Temas da Paisagem como condies de urbanizao e tamanho das comunidades;
saneamento; uso de recursos naturais; e perfil das frotas pesqueiras; 2) Temas relativos
Pesca como artes de pesca; recursos utilizados e a produo de rejeitos; 3) Temas
referentes biodiversidade abordando aves associadas aos ecossistemas florestais e
marinhos; e 4) Temas referentes Sade, como acesso aos servios de sade disponvel
nas comunidades; condies de sade e manejo de animais domsticos; estado de sade
e perfil parasitrio de aves associadas aos ecossistemas florestais e estado de sade das
aves marinhas. Os resultados obtidos a partir das variveis analisadas possibilitaram
caracterizar as comunidades em estudo, bem como alimentar um modelo de anlise que
se mostrou capaz de determinar a relevncia das interaes entre sade, biodiversidade,
pesca e paisagem, e ainda relevar o nexo dessas relaes, mediadas pelas prticas
materiais. O tamanho das comunidades pesqueiras, as prticas atuais associadas s
atividades de pesca, o extrativismo e uso dos espaos fsicos demonstraram influenciar a
Sade e a Biodiversidade. A atividade da pesca de arrasto do camaro demonstrou
impactos positivos sobre as aves associadas ao ecossistema marinho, principalmente
gaivotas (Larus dominicanus) e atobs (Sula leucogaster). Por outro lado, foi comprovado
que os perodos de defeso podem acarretar severa depresso nas populaes de aves, o
que indica que a pesca de arrasto altera a dinmica dessas populaes. Tambm se
observou que as comunidades de pescadores influenciaram de forma negativa a Sade e
a Biodiversidade das aves associadas ao ecossistema florestal, devido principalmente aos
impactos causados pelas caractersticas demogrficas das vilas de pescadores, seus
animais domsticos e a distribuio das suas moradias. O perfil de sade das aves
apresentou-se intimamente relacionado com impactos sobre a diversidade e distribuio
ecolgica dessas aves dentro de guildas ambientais e alimentares. Assim, concluiu-se
que o modelo de estudo elaborado para este estudo indicou que, nas duas comunidades
em estudo, as prticas materiais relativas s atividades de pesca, extrativismo, e uso do
espao fsico influenciam a Sade e a Biodiversidade. Atuando de forma positiva sobre o
estado atual da populao de aves associadas ao ecossistema marinho e de forma
negativa sobre as aves associadas ao ecossistema florestal.
viii
ABSTRACT
The present study had as general goal to evaluate the relationships among landscape,
fishing, biodiversity and health, considering the activities of the society as practices that
are able to interfere in the course of these interactions. The social-environmental systems
chosen for the field studies were two communities of traditional fishermen, Barra do
Superagui and Barra do Ararapira located in Superagui's Park National Paran's Coast,
Brasil. The research methodology used 45 variables, which boarded: 1) Landscape
themes as urbanization characteristics and communities' size; sanitation; use of natural
resources; and fishing fleet profile; 2) Fishing themes as applied fishing techniques; fishing
resources used and by-catch production; 3) Biodiversity themes boarding forest and
marine birds; and 4) Health themes, like access to health services; health issues and
management of domestic animals; health condition and parasitic profile of forest birds and
health condition of marine birds. The results enable to characterize the communities, as
well as to provide an analysis model that was able to determine the relevance of the
interactions among health, biodiversity, fishing and landscape, and still reveal the
connection links on these relationships, mediated by the material practices. The
communities' fishing size, the current material practices associated to the fishing, forest
products extraction and the land use are able to influence the Health and Biodiversity. The
shrimp fishing activities demonstrated positive impacts over marine birds, mostly over gulls
(Larus dominicanus) and brown boobys (Sula leucogaster). On the other hand, was
proved that the shrimp fishing prohibited periods can carry severe depression in the birds
health and reproduction, which indicates that the shrimp fishing changes the dynamics of
these populations. Also the fishermen communities had negative influenced on Health and
Biodiversity of the forest birds, mostly due impacts on ecosystem caused by demographic
characteristics of the fishermen villages, their domestic animals profile and distribution of
your domiciles on landscape. The forest birds health profile was intimately related with
impacts on the diversity and ecological distribution of these birds inside their guild. This
way, it concluded that the study model elaborated for this research indicated that, in the
two communities, the material practices related to fishing activities, use of forest
resources, and land use produce influence on the Health and Biodiversity, acting on
positive manner to the marine birds and on negative manner to the forest birds.
ix
A SADE E SUAS RELAES COM A BIODIVERSIDADE, A
PESCA E A PAISAGEM EM DUAS COMUNIDADES DE
PESCADORES ARTESANAIS NO LITORAL DO PARAN
SUMRIO
PARECER DA BANCA EXAMINADORA ______________________________________ i
AGRADECIMENTOS _____________________________________________________iii
APRESENTAO ______________________________________________________ vi
RESUMO ___________________________________________________________ vii
ABSTRACT __________________________________________________________ viii
1 INTRODUO, HIPTESE e OBJETIVOS ________________________________ 1
1.1 Hiptese de estudo ________________________________________________ 5
1.2 Objetivo Geral ____________________________________________________ 5
1.3 Objetivos Especficos ______________________________________________ 5
1.3.1 Objetivos relativos avaliao da paisagem _________________________ 5
1.3.2 Objetivos relativos avaliao da pesca ____________________________ 6
1.3.3 Objetivos relativos avaliao da biodiversidade ______________________ 6
1.3.4 Objetivos relativos avaliao da sade ____________________________ 7
1.3.5 Objetivos relativos ao modelo _____________________________________ 7
2 REFERENCIAL TERICO _____________________________________________ 9
2.1 Sade, Meio Ambiente e Biodiversidade ________________________________ 9
2.2 Biodiversidade e a Regio Costeira __________________________________ 27
2.2.1 Biodiversidade de Aves_________________________________________ 28
2.2.2 Comunidade de aves associadas aos ecossistemas florestais___________ 29
2.2.3 Aves associadas aos ecossistemas marinhos _______________________ 30
2.2.4 Interao de Aves com a Pesca __________________________________ 31
2.3 Pesca _________________________________________________________ 33
2.4 Paisagem Natural ________________________________________________ 39
x
2.4.1 Unidades de Conservao ______________________________________ 41
3 DESENVOLVIMENTO DO MODELO CONCEITUAL DE ESTUDO _____________ 44
3.1 Oficinas de Pesquisa: Identificao de um tema de pesquisa conjunto _______ 44
3.2 Desenvolvimento de um modelo interdisciplinar de avaliao das relaes
natureza e sociedade em comunidades de pescadores artesanais _______________ 44
4 MATERIAL E MTODOS _____________________________________________ 52
4.1 Local de Estudo __________________________________________________ 52
4.2 Modelos de Coleta de Dados _______________________________________ 54
4.3 Coleta de Dados Referentes Paisagem ______________________________ 54
4.3.1 Moradias, Urbanizao e Vias de Acesso___________________________ 55
4.3.2 Resduos e Saneamento________________________________________ 56
4.3.3 Uso de Recursos Naturais ______________________________________ 57
4.3.4 Frota pesqueira _______________________________________________ 58
4.4 Coleta de Dados Referentes s Prticas Pesqueiras _____________________ 58
4.4.1 Artes de Pesca; Recursos Utilizados e Rejeitos ______________________ 58
4.5 Coleta de Dados Referentes Biodiversidade __________________________ 60
4.5.1 Aves Associadas a Ecossistemas Florestais ________________________ 60
4.5.2 Aves Associadas aos Ecossistemas Marinhos _______________________ 62
4.6 Coleta de Dados Referentes Sade _________________________________ 62
4.6.1 Acesso aos Servios de Sade __________________________________ 64
4.6.2 Condies de sade e manejo dos animais domsticos _______________ 64
4.6.3 Estado Fsico-Clnico e o Perfil Parasitrio das Aves Associadas aos
Ecossistemas Florestais ______________________________________________ 64
4.6.4 Estado Fsico-Clnico das Aves Associadas aos Ecossistemas Marinhos __ 70
4.7 Procedimentos de Anlise dos Dados _________________________________ 72
5 RESULTADOS _____________________________________________________ 74
5.1 Paisagem_______________________________________________________ 74
5.1.1 Moradias, Urbanizao e Vias de Acesso___________________________ 74
5.1.2 Resduos e Saneamento________________________________________ 84
5.1.3 Uso de Recursos Naturais ______________________________________ 93
5.1.4 Frota Pesqueira _____________________________________________ 100
5.2 Pesca ________________________________________________________ 102
5.2.1 Artes de Pesca ______________________________________________ 102
5.2.2 Recursos Utilizados __________________________________________ 105
xi
5.2.3 Rejeitos ____________________________________________________ 130
5.2.4 Destino do pescado __________________________________________ 140
5.3 Biodiversidade __________________________________________________ 143
5.3.1 Aves Associadas aos Ecossistemas Florestais _____________________ 143
5.3.2 Aves Associadas aos Ecossistemas Marinhos ______________________ 157
5.4 Sade ________________________________________________________ 165
5.4.1 Acesso aos Servios de Sade _________________________________ 165
5.4.2 Condies de Sade e Manejo Animais Domsticos _________________ 167
5.4.3 Estado Fsico-Clnico e Perfil Parasitrio das Aves Associadas aos
Ecossistemas Florestais _____________________________________________ 172
5.4.4 Estado Fsico-Clnico das aves Associadas aos Ecossistemas Marinhos _ 187
6 DISCUSSO ______________________________________________________ 197
6.1 Matrizes de Variveis ____________________________________________ 197
6.1.1 A Sade e a Diversidade de Aves Marinhas, a Paisagem e as Atividades
Pesqueiras _______________________________________________________ 204
6.1.2 A Sade e a Diversidade de Aves Florestais, a Paisagem Terrestre e o
Extrativismo _______________________________________________________ 220
7 CONCLUSES ____________________________________________________ 233
8 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ____________________________________ 237
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Diagrama conceitual da interao entre sade animal, humana e do ecossistema
proposto inicialmente como base para aes em medicina da conservao (Ilustrao:
Paulo Rogerio Mangini). __________________________________________________ 15
Figura 2: Diagrama conceitual revisado da interao entre as diferentes esferas da sade
associadas ao ambiente, proposto como base para aes em medicina da conservao
(Ilustrao: Paulo Rogerio Mangini)._________________________________________ 15
Figura 3: Representao esquemtica das abordagens do pensamento sobre as
intersees entre sade e ambiente, ressaltando a abordagem clnica e a funcional
(Ilustrao: Paulo Rogerio Mangini) _________________________________________ 18
Figura 4: Representao esquemtica das relaes consideradas entre variveis relativas
Paisagem, Pesca, Biodiversidade e Sade, dadas pelas prticas materiais em
comunidades pesqueiras. _________________________________________________ 46
xii
Figura 5: Localizao das reas de estudo (Ilustrao: Paulo R Mangini, 2009 Google
Inc.: Google Earth 5.1).___________________________________________________ 52
Figura 6: Imagem fotogrfica por satlite da rea da Vila do Superagui (Ilustrao: Paulo
R Mangini / 2009 Google Inc.: Google Earth 5.1). ____________________________ 53
Figura 7: Imagem fotogrfica por satlite da rea da Vila do Ararapira (Ilustrao: Paulo R
Mangini / 2009 Google Inc.: Google Earth 5.1). ______________________________ 53
Figura 8: rea de estudo controle no Penedo, municpio de Pontal do Paran (Ilustrao:
Paulo R Mangini / 2009 Google Inc.: Google Earth 5.1). _______________________ 61
Figura 9: Localizao do Arquiplago de Currais (Ilustrao: Paulo R. Mangini / Imagem
Satelital de 2000: INPE). _________________________________________________ 63
Figura 10: Vista do Arquiplago de Currais (Imagem: Viviane L. Carniel). ____________ 63
Figura 11: Redes de neblina para captura de aves. A) Aspecto da rede disposta no
ambiente, tornando-se pouco perceptvel; B) Exemplar de Thrythorus longirostris
(Arapau) retido em uma rede de neblina (Imagens: Ana L. M. Gomes). ____________ 65
Figura 12 Avaliao fsica, por auscultao, em um exemplar de Patagioenas cayennensis
(Pomba-galega) capturado na comunidade do Ararapira (imagem: Ana L.G. Mendes). _ 66
Figura 13: Detalhe da amostragem de ectoparasitos, em um exemplar de Turdus
amaurochalinus (sabi-poc), fazendo do uso de fita adesiva incolor (imagem: Juliana
Rechetelo). ____________________________________________________________ 66
Figura 14: Atividade de preparao para colheita de material biolgico de aves associadas
aos ecossistemas florestais, realizada no interior da base de campo temporria (Imagem:
Ana L.G. Mendes). ______________________________________________________ 67
Figura 15: Colheita de amostra de sangue de um exemplar juvenil de Ramphocelus
bresilius (ti-sangue) para realizao de esfregao (imagem: Ana L.G. Mendes). _____ 67
Figura 16: Representao esquemtica da seco, em plano transversal, do osso esterno
(OE) e da musculatura peitoral (MP) das aves (Ilustrao: Paulo Rogerio Mangini.
Adaptado de Harrison e Ritchie, 1994) _______________________________________ 68
Figura 17: Rplica reduzida da ficha de campo utilizada para registro de dados de captura
de Sula leucogaster. _____________________________________________________ 71
Figura 18: Detalhe da Vila do Superagui (Ilustrao: Paulo R Mangini / 2009 Google
Inc.: Google Earth 5.1).___________________________________________________ 79
Figura 19: Detalhe da Vila do Ararapira (Ilustrao: Paulo R Mangini / 2009 Google Inc.:
Google Earth 5.1). ______________________________________________________ 80
xiii
Figura 20: Vias internas de deslocamento (Esquerda: Superagui; Direita: Ararapira).
Observar a diferena na distribuio da vegetao e densidade das moradias entre as
duas localidades (Imagens: Paulo R. Mangini). ________________________________ 80
Figura 21: Vias internas de deslocamento (Esquerda: Superagui; Direita: Ararapira). ___ 81
Figura 22: Distribuio de moradias (Esquerda: Superagui; Direita: Ararapira). _______ 81
Figura 23: Caracterstica de distribuio das moradias e integrao destas com a
vegetao (Esquerda: Superagui; Direita: Ararapira) (Imagens: Ricardo Krul; Paulo R.
Mangini). ______________________________________________________________ 82
Figura 24: Caracterstica de distribuio das moradias e integrao destas com a
vegetao (Esquerda: Superagui; Direita: Ararapira) (Imagens: Ricardo Krul; Paulo R.
Mangini). ______________________________________________________________ 82
Figura 25: Caracterstica de distribuio das moradias e integrao destas com a
vegetao (Esquerda: Superagui; Direita: Ararapira) (Imagens: Paulo R. Mangini) _____ 82
Figura 26: Caracterstica de distribuio das moradias e integrao destas com a
vegetao (Esquerda: Superagui; Direita: Ararapira) (Imagens: Paulo R. Mangini) _____ 83
Figura 27: Aspecto geral dos terrenos (Esquerda: Superagui; Direita: Ararapira). ______ 83
Figura 28: Vista do Canal do Superagui. Esquerda vista do atracadouro e edificaes a
margem do canal. Direita rea de eroso atingindo edificaes a margem do canal na
poro mais noroeste da vila (Imagens: Paulo R. Mangini e Ricardo Krul). ___________ 84
Figura 29: Vista do Canal do Ararapira. Esquerda: Ramagem seca (setas) da vegetao
arrancada das margens do canal do Ararapira, devido aos processos de eroso, em
alguns pontos troncos e galhos submersos servem como ponto de referncia para reas
de pesca de espcies como o robalo (Centropomus undecimalis); Direita vista do canal
do Ararapira, evidenciando pontos de eroso (seta ao fundo) e deposio de sedimentos
(banco de areia em primeiro plano na imagem) ao longo da rea onde se estabelece a vila
do Ararapira (Imagens: Ana L.M. Gomes). ____________________________________ 84
Figura 30: Prevalncia de resduos dispersos nas comunidades de Superagui e Ararapira.
_____________________________________________________________________ 88
Figura 31: Distribuio qualitativa e quantitativa de resduos dispersos nas comunidades
de Superagui e Ararapira. _________________________________________________ 89
Figura 32: Barraco destinado manuteno temporria dos resduos slidos reciclveis,
na comunidade do Superagui (Imagem: Paulo R. Mangini). ______________________ 89
Figura 33: Acmulo de resduos slidos reciclveis as margens de uma das trilhas
internas na comunidade do Superagui (Imagem: Paulo R. Mangini). ________________ 89
xiv
Figura 34: Lixeira localizada a margem da trilha que leva praia deserta na comunidade
do Superagui (Imagem: Ricardo Krul). _______________________________________ 90
Figura 35: Limpeza de pescado em Superagui (Imagem: Ricardo Krul). _____________ 90
Figura 36: Grupo de moradores em atividade de preparo de Xiphopenaeus kroyeri
(camaro-sete-barbas), para armazenagem e venda (Superagui / Imagem: Paulo R.
Mangini). ______________________________________________________________ 90
Figura 37: Uma das reas utilizadas por moradores para limpeza de pescados na
comunidade do Ararapira, em geral os rejeitos decorrentes da manipulao do pescado
so dispostas diretamente ao solo nessa mesma rea (Imagem: Paulo R. Mangini). ___ 90
Figura 38: Edificao utilizada para processamento e armazenamento de pescados, na
comunidade do Superagui, sendo o principal produto manipulado o Xiphopenaeus kroyeri
(camaro-sete-barbas) (Imagem: Paulo R. Mangini). ____________________________ 91
Figura 39: Tubulao, utilizada para despejo dos rejeitos da manipulao de pescados no
canal do Superagui. (Imagem: Paulo R. Mangini). ______________________________ 91
Figura 40: Vista do crrego que corta a rea central da comunidade do Superagui
(Imagem: Paulo R. Mangini). ______________________________________________ 91
Figura 41: Resduos presentes no crrego que corta a rea central da comunidade do
Superagui (Imagem: Paulo R. Mangini). ______________________________________ 91
Figura 42: Moradias localizadas as margens da rea alagada na comunidade do
Superagui. Com destaque para novas habitaes sendo instaladas nessa parte da vila
(Imagem: Paulo R. Mangini). ______________________________________________ 92
Figura 43: rea de roa abandonada no Ararapira. (Imagem: Ricardo Krul).__________ 94
Figura 44: rea de roa de mandioca no Ararapira. (Imagem: Ricardo Krul) __________ 95
Figura 45: rea de roa no Ararapira. (Imagem: Ricardo Krul). ____________________ 95
Figura 46: Exemplo de trilhas do tipo A. (Superagui / Imagens: Ricardo Krul). _______ 96
Figura 47: Exemplo de trilhas do tipo B. (Superagui / Imagens: Ricardo Krul). _______ 96
Figura 48: Exemplo de trilhas do tipo C. (Superagui / Imagens: Ricardo Krul). _______ 97
Figura 49: Exemplo de trilhas do tipo C. (Superagui / Imagens: Ricardo Krul). _______ 97
Figura 50: Exemplo de trilhas para captura de aves. (Superagui / Imagens: Ricardo Krul).
_____________________________________________________________________ 98
Figura 51: Exemplo de trilhas para captura de aves. (Superagui / Imagens: Ricardo Krul).
_____________________________________________________________________ 98
Figura 52: Cavidade no solo (linha tracejada) produzida como consequncia da atividade
de caa tendo como objetivo espcies de tatu. (Superagui / Imagem: Ricardo Krul). ___ 99
xv
Figura 53: Exemplo de extrativismo de recursos madeireiros. (Esquerda Superagui; Direita
Ararapira / Imagens: Ricardo Krul). _________________________________________ 99
Figura 54: Exemplo de extrativismo de recursos vegetais, corte de exemplar de Palmito
Euterpes edulis. (Ararapira / Imagem: Ricardo Krul). ___________________________ 100
Figura 55: Embarcaes de tbua da frota pesqueira da comunidade do Superagui
(Imagem: Ricardo Krul)__________________________________________________ 101
Figura 56: Canoas da frota pesqueira da comunidade do Ararapira (Imagem: Paulo R
Mangini) _____________________________________________________________ 101
Figura 57: Representaes das porcentagens de utilizao de tamanhos de malhas de
redes de pesca nas comunidades de Ararapira, em uma avaliao geral e em mar aberto,
e de Superagui. _______________________________________________________ 104
Figura 58: Peixes capturados pelos pescadores da comunidade de Superagui no ano de
2009 e a contribuio destes para o total pescado. ____________________________ 107
Figura 59: Peixes capturados pelos pescadores da comunidade de Ararapira no ano de
2009 em mar aberto e a contribuio destes para o total pescado. ________________ 108
Figura 60: Peixes capturados pelos pescadores da comunidade de Ararapira no ano de
2009 em guas protegidas e a contribuio destes para o total pescado. ___________ 108
Figura 61: Anlise de proximidade (n-MDS) com base nas espcies de peixes capturadas
mensalmente nas Vilas Ararapira (Rio e Mar) e Superagui, durante 2009. Os dois pontos
outliers (Superagui) apresentaram captura muito baixa (em Abril e Maio) quando
comparada aos outros meses. ____________________________________________ 109
Figura 62: Variao do nmero de espcies de peixes explotadas ao longo do ano de
2009 pelos pescadores das comunidades pesqueiras de Superagui e Ararapira. _____ 111
Figura 63: Representaes da captura de peixes, em porcentagens do peso, ao longo do
ano de 2009 nas comunidades pesqueiras de Superagui e Ararapira. _____________ 112
Figura 64: Representao grfica da porcentagem mensal do total das capturas anuais
referente aos cinco principais recursos ictacos capturados pelos pescadores da
comunidade de Superagui no ano de 2009. __________________________________ 113
Figura 65: Representao grfica da porcentagem das capturas individuais dos cinco
principais recursos ictacos em relao captura total mensal de peixes pela comunidade
de Superagui no ano de 2009. ____________________________________________ 113
Figura 66: Representao grfica da porcentagem das capturas individuais dos cinco
principais recursos ictacos capturados mensalmente pelos pescadores da comunidade de
Ararapira em mar aberto no ano de 2009. ___________________________________ 114
xvi
Figura 67: Representao grfica da porcentagem das capturas individuais dos seis
principais recursos ictacos em relao captura total mensal dos recursos pela
comunidade de Ararapira no ano de 2009.___________________________________ 115
Figura 68: Representao grfica da porcentagem das capturas individuais dos quatro
principais recursos ictacos do ambiente protegido em relao captura individual do
recurso ao longo do ano pela comunidade de Ararapira no ano de 2009. ___________ 116
Figura 69: Representao grfica da porcentagem das capturas individuais dos quatro
principais recursos ictacos de ambiente protegido em relao captura total mensal dos
recursos pela comunidade de Ararapira no ano de 2009. _______________________ 116
Figura 70: Representao grfica dos percentuais de captura da tainha nas duas
comunidades estudadas, considerando a variao na captura da espcie nos diferentes
meses (A; B; C) e a sua importncia mensal frente aos demais recursos em cada ms (D;
E; F) ao longo do ano de 2009. ___________________________________________ 117
Figura 71: Representao grfica dos percentuais de captura da sororoca nas duas
comunidades estudadas, considerando a variao na captura da espcie nos diferentes
meses e a sua importncia mensal frente aos demais recursos em cada ms ao longo do
ano de 2009. __________________________________________________________ 118
Figura 72: Representao grfica dos percentuais de captura da salteira nas duas
comunidades estudadas, considerando a variao na captura da espcie nos diferentes
meses e a sua importncia mensal frente aos demais recursos em cada ms ao longo do
ano de 2009. __________________________________________________________ 118
Figura 73: Representao grfica dos percentuais de captura do cao nas duas
comunidades estudadas, considerando a variao na captura da espcie nos diferentes
meses e a sua importncia mensal frente aos demais recursos em cada ms ao longo do
ano de 2009. __________________________________________________________ 119
Figura 74: Representao grfica dos percentuais de captura da membeca nas duas
comunidades estudadas, considerando a variao na captura da espcie nos diferentes
meses e a sua importncia mensal frente aos demais recursos em cada ms ao longo do
ano de 2009. __________________________________________________________ 119
Figura 75: Representao grfica dos percentuais de captura de camaro pelas diferentes
artes de pesca utilizadas pelos pescadores da comunidade de Superagui durante o ano
de 2009. _____________________________________________________________ 121
xvii
Figura 76: Representao grfica da distribuio mensal dos percentuais dos eventos de
pesca conduzidos pelas artes de pesca de arrasto, lano, gerival e caceio direcionados ao
camaro pelos pescadores da comunidade de Superagui ao longo do ano de 2009. __ 121
Figura 77: Representao grfica da distribuio mensal dos percentuais de captura do
camaro-sete-barbas e do camaro-branco durante o ano de 2009 na comunidade de
Superagui. ___________________________________________________________ 122
Figura 78: Nmero de eventos pesqueiros empreendidos pela frota pesqueira motorizada
da comunidade de Ararapira no ano de 2009. ________________________________ 124
Figura 79: Nmero de eventos pesqueiros empreendidos por cada embarcao da frota
pesqueira da comunidade de Superagui direcionados aos camares e aos peixes no ano
de 2009. _____________________________________________________________ 124
Figura 80: Amplitude, valor mdio e intervalo onde se concentram 50% dos valores dos
dias trabalhados por ms pelos pescadores da comunidade de Superagui e Ararapira
durante o ano de 2009.__________________________________________________ 126
Figura 81: Amplitude, valor mdio e intervalo onde se concentraram 50% dos eventos de
pesca efetuados pelos pescadores da comunidade de Superagui e Ararapira durante o
ano de 2009. __________________________________________________________ 127
Figura 82: Distribuio mensal dos dias trabalhados na pesca de camaro na comunidade
do Superagui no ano de 2009. ____________________________________________ 128
Figura 83: Mdia diria, desvio padro e erro padro dos eventos de pesca realizados
pelos pescadores da comunidade de Superagui de acordo com os meses de 2009. __ 129
Figura 84: Dias trabalhados e viagens de pesca mensais realizadas pela frota da
comunidade de Superagui na pesca de camaro no ano de 2009. ________________ 129
Figura 85: Representao grfica da distribuio mensal da porcentagem de captura de
peixes em arrastos conduzidos na costa paranaense entre 1999 e 2010. ___________ 136
Figura 86: Representao grfica da distribuio mensal da porcentagem de captura de
camaro em arrastos conduzidos na costa paranaense entre 1999 e 2010. _________ 137
Figura 87: Representao grfica da proporo de captura entre camaro e peixe nos
diferentes meses do ano de acordo com Krul, 1999 e Cattani, 2010. ______________ 138
Figura 88: Estimativa do observado e intervalo de confiana da curva cumulativa de
espcies a partir da curva de rarefao para a comunidade de Ararapira. __________ 146
Figura 89: Estimativa do observado e intervalo de confiana da curva cumulativa de
espcies a partir da curva de rarefao para a comunidade de Superagui. __________ 146
xviii
Figura 90: Estimativa do observado e intervalo de confiana da curva cumulativa de
espcies a partir da curva de rarefao para a rea controle. ____________________ 147
Figura 91: Mdia e erros padres do nmero de espcies de aves registradas nos censos
conduzidos nas trs reas estudadas. ______________________________________ 148
Figura 92: Mdia e erros padres das estimativas do nmero de indivduos registrados
nos censos conduzidos nas trs reas avaliadas. _____________________________ 148
Figura 93: Contribuio das 12 espcies de aves com os maiores ndices de abundncia
relativa nas trs reas estudadas. _________________________________________ 149
Figura 94: Mdias do comprimento padro dos peixes consumidos por F. magnificens e S.
leucogaster ___________________________________________________________ 162
Figura 95: Mdias da massa corporal dos peixes consumidos por F. magnificens e S.
leucogaster ___________________________________________________________ 162
Figura 96: Variao do nmero de ninhos de Sula leucogaster na Ilha Grapir, no
Arquiplago de Currais, no perodo de agosto de 1995 a julho de 1996 (adaptado de Krul,
1999). _______________________________________________________________ 163
Figura 97: Variao do nmero de ninhos de Fregata magnificens na Ilha Grapir, no
Arquiplago de Currais, no perodo de agosto de 1995 a julho de 1996 (adaptado de Krul,
1999). _______________________________________________________________ 164
Figura 98: Exemplar de Equus caballus apresentando sinais de dficit nutricional, com
exposio evidente dos arcos costais (Superagui / Imagem: Paulo R. Mangini). ______ 170
Figura 99: Exemplares de Equus caballus, mantidos em rea cercada com pastagem,
apresentando bons escores corporais (Superagui / Imagem: Ricardo Krul). _________ 170
Figura 100: Estrutura utilizada para restrio de um exemplar de Equus caballus.
Notadamente a estrutura apresenta condies inadequadas para manuteno satisfatria
do conforto trmico do animal (Superagui / Imagem: Paulo R. Mangini). ____________ 170
Figura 101: Exemplar de Equus caballus, apresentando bom escore corporal, circulando
livremente pela comunidade (Superagui / Imagem: Ricardo Krul). _________________ 170
Figura 102: Rastro de Equus caballus, observado em um das trilhas localizadas nas reas
florestadas adjacentes comunidade, evidenciando a possibilidade de circulao e a
capacidade de impacto da espcie nessas reas (as setas indicam a marca da margem
da ngula do animal no terreno arenoso; Superagui / Imagem: Ricardo Krul). _______ 171
Figura 103: Exemplar de Canis familiaris, apresentando bom escore corporal e sem sinais
evidentes de problemas clnicos, esse indivduo como a ampla maioria dos animais desta
xix
espcie circulam livremente pela comunidade do Superagui, e reas adjacentes (Imagem:
Paulo R. Mangini). _____________________________________________________ 171
Figura 104: Exemplar de Canis familiaris, apresentando bom escore corporal e sem sinais
evidentes de problemas clnicos, esse indivduo como a ampla maioria dos animais desta
espcie circulam livremente pela comunidade do Ararapira e reas adjacentes (Imagem:
Paulo R. Mangini). _____________________________________________________ 171
Figura 105: Exemplares de Gallus gallus, em atividade de forrageamento no entremars
s margens do Canal do Ararapira (Imagem: Paulo R. Mangini). _________________ 171
Figura 106: Exemplares de Gallus gallus, retidos em galinheiro rudimentar. Situao
incomum onde o proprietrio dos animais mantm um sistema de confinamento para as
aves domsticas. Nessa estrutura a totalidade dos animais avaliados apresentava escore
corporal inadequado (Ararapira / Imagem: Paulo R. Mangini). ____________________ 172
Figura 107: Exemplares de Gallus gallus, circulando livremente pela comunidade.
Situao mais comumente observada na Vila da Barra do Ararapira, onde as hortas e
cultivos peridomiciliares so protegidos contra a invaso das aves domsticas (Imagem:
Paulo R. Mangini). _____________________________________________________ 172
Figura 108: Evento de interao entre Gallus gallus, Felis catus e Coragyps atratus
(urubu-de-cabea-preta) durante alimentao. O grupo de animais se reuniu para
consumo de recursos alimentares provenientes de rejeitos da atividade de pesca
(Ararapira / Imagem: Paulo R. Mangini). ____________________________________ 172
Figura 109: Prevalncia do grau de infestao por ectoparasitos em aves nas
comunidades do Superagui e Ararapira. ____________________________________ 176
Figura 110: Mdia do grau de infestao por ectoparasitos em aves nas comunidades do
Superagui e Ararapira. __________________________________________________ 177
Figura 111: Mediana do grau de infestao por ectoparasitos em aves nas comunidades
do Superagui e Ararapira. ________________________________________________ 177
Figura 112: Grau de infestao por ectoparasitos segundo o estado clnico das aves nas
comunidades do Ararapira e do Superagui. __________________________________ 178
Figura 113: Grau de infestao por ectoparasitos e do estado clnico de aves conforme
stio amostral. _________________________________________________________ 179
Figura 114: Microfilria observada em esfregao sanguneo de Turdus amaurochalinus,
capturado na comunidade do Ararapira (Imagem: Paula B. Mangini). ______________ 181
Figura 115: Plasmodium/Haemoproteus observado em esfregao sanguneo de Turdus
rufiventris, capturado na comunidade do Superagui (Imagem: Paula B. Mangini). ____ 181
xx
Figura 116: Trouessartia sp. (tipo I) morfotipo com alta prevalncia nas comunidades do
Superagui e do Ararapira (coletado de um exemplar de Turdus rufiventris) (Imagem: Paula
B. Mangini). __________________________________________________________ 181
Figura 117: Pterodectes sp. (tipo I) morfotipo com alta prevalncia nas comunidades do
Superagui e do Ararapira (coletado de um exemplar de Turdus amaurochalinus) (Imagem:
Paula B. Mangini). _____________________________________________________ 181
Figura 118: Trombiculidae (sp. tipo I) morfotipo com alta prevalncia nas comunidades do
Superagui e do Ararapira (coletado de um exemplar de Zonotrichia capensis) (Imagem:
Valria N. Teixeira). ____________________________________________________ 182
Figura 119: Colnia de ectoparasitos da famlia Argaridae, em um exemplar de Turdus
amaurochalinus, capturado na comunidade do Superagui (imagem: Juliana Rechetelo).
____________________________________________________________________ 182
Figura 120: Detalhe da implantao cutnea da colnia de ectoparasitos da famlia
Argasidae, em um exemplar de Turdus amaurochalinus, capturado na comunidade do
Superagui. Notar a formao de uma borda elevada de pele ao redor da colnia (imagem:
Juliana Rechetelo). _____________________________________________________ 182
Figura 121: Detalhe de um abscesso cutneo decorrente da implantao de uma colnia
de ectoparasitos, de hbitos semelhantes Argasidae, em um exemplar de
Lepdocolaptes fuscus, capturado na comunidade do Ararapira. (imagem: Ana L.M.
Gomes). _____________________________________________________________ 182
Figura 122: Curva de rarefao de coleta para espcies de ectoparasitos de
passeriformes nas comunidades de Superagui e Ararapira. _____________________ 183
Figura 123: Diversidade de ectoparasitos em passeriformes nas comunidades do
Ararapira e do Superagui. ________________________________________________ 184
Figura 124: Dissimilaridade e agrupamento de ectoparasitos em passeriformes nas
comunidades do Ararapira e do Superagui. __________________________________ 184
Figura 125: Diversidade de ectoparasitos de passeriformes distribuda de acordo com as
guildas de aves observadas nas comunidades do Ararapira e do Superagui. ________ 187
Figura 126: Variao da massa dos ovos de Sula leucogaster, no arquiplago de Currais.
____________________________________________________________________ 188
Figura 127: Variao da massa dos ovos de Fregata magnificens, no arquiplago de
Currais. ______________________________________________________________ 189
Figura 128: Variao da massa dos ovos de L. dominicanus, em trs perodos
reprodutivos distintos no Arquiplago de Currais. _____________________________ 190
xxi
Figura 129: Variao da massa corporal de exemplares de Sula leucogaster capturados
em Currais, nos meses de agosto de 2009 e janeiro de 2010. ____________________ 191
Figura 130: Distribuio da massa corporal de exemplares de Sula leucogaster
capturados em Currais, nos meses de agosto de 2009 e janeiro de 2010. __________ 191
Figura 131: Distribuio percentual de registros de sinais e problemas clnicos de Sula
leucogaster, Fregata magnificens e Larus dominicanus (n=208) no PROAMAR UFPR.
____________________________________________________________________ 192
Figura 132: Distribuio percentual de registros de Sula leucogaster, Fregata magnificens
e Larus dominicanus no PROAMAR UFPR, dentro e fora do perodo de defeso do
camaro. _____________________________________________________________ 194
Figura 133: Distribuio anual e linha de tendncia dos registros de Sula leucogaster,
Fregata magnificens e Larus dominicanus no PROAMAR UFPR. _______________ 195
Figura 134: Distribuio anual e linha de tendncia dos registros por espcies de Sula
leucogaster, Fregata magnificens e Larus dominicanus no PROAMAR UFPR. _____ 195
Figura 135: Distribuio mensal e linha de tendncia dos registros conjuntos de Sula
leucogaster, Fregata magnificens e Larus dominicanus no PROAMAR UFPR. _____ 196
Figura 136: Distribuio mensal e linha de tendncia dos registros por espcies de Sula
leucogaster, Fregata magnificens e Larus dominicanus no PROAMAR UFPR. _____ 196
Figura 137: Linha de tendncia do recebimento sazonal de aves no CEM, entre os anos
de 1992 e 2009 e linha de tendncia de captura sazonal de camaro-sete-barbas com
base nos dados de Superagui 2009. _______________________________________ 218
Figura 138: Diagrama das inter-relaes observadas entre as dez variveis mais
expressivas dentro do modelo de estudo. ___________________________________ 220
Figura 139: Diagrama das inter-relaes observadas entre as variveis relacionadas
sade e diversidade de aves dos ecossistemas florestais. _____________________ 232
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Sistemas pesqueiros identificados para o Paran, e as caractersticas distintivas
empregadas na metodologia de classificao. _________________________________ 37
Tabela 2: Tipologia vegetal na Ilha do Superagui (SCHMIDLIN, 2004) ______________ 41
Tabela 3: Localizao e caractersticas das Unidades de Conservao (UCs) do litoral
paranaense. ___________________________________________________________ 42
xxii
Tabela 4: Caractersticas das Moradias, Urbanizao e Vias de Acesso nas comunidades
do Superagui e de Ararapira. ______________________________________________ 74
Tabela 5: Caractersticas do tratamento de Resduos e Saneamento nas comunidades do
Superagui e do Ararapira. _________________________________________________ 85
Tabela 6: Caractersticas do Uso de Recursos Naturais nas comunidades do Superagui e
do Ararapira. ___________________________________________________________ 93
Tabela 7: Caracterstica da frota pesqueira nas duas comunidades em estudo. ______ 100
Tabela 8: Artes de pesca direcionadas aos peixes e registradas nas vilas de Superagui e
Ararapira no ano de 2009. _______________________________________________ 103
Tabela 9: Artes de pesca direcionadas aos camares registradas nas vilas de Superagui e
Ararapira no ano de 2009. _______________________________________________ 105
Tabela 10: Espcies, ou categorias, de peixes explotados nas comunidades do Ararapira
e do Superagui. _______________________________________________________ 106
Tabela 11: Contribuio relativa e contribuio acumulada das espcies de peixe mais
importantes na formao dos grupos Ararapira Rio, Ararapira Mar e Superagui. _____ 110
Tabela 12: Riqueza de espcies de peixes capturadas na pesca de arrasto no Paran 130
Tabela 13: Lista das 24 espcies de peixes com maiores ndices de captura em peso em
arrastos direcionados ao camaro no litoral paranaense. _______________________ 134
Tabela 14: Resultados de cinco estudos sobre peixes capturados nos arrastos
direcionados aos camares na costa paranaense. ____________________________ 135
Tabela 15: ndices de captura de peixe por hora de arrasto, a partir de uma rede, com
base em vrios estudos conduzidos na plataforma continental interna do Paran. ____ 136
Tabela 16: ndices de captura de camaro por hora de arrasto, a partir de uma rede, com
base em vrios estudos conduzidos na plataforma continental interna do Paran. ____ 137
Tabela 17: Relao de captura entre peixe e camaro-sete-barbas em gramas. _____ 138
Tabela 18: Preos dos recursos pesqueiros na primeira comercializao durante o ano de
2009 nas comunidades pesqueiras de Ararapira e Superagui. ___________________ 142
Tabela 19: Lista das espcies de aves registradas e ocorrncia destas na rea controle,
Penedo, e nas comunidades do Ararapira e do Superagui. ______________________ 143
Tabela 20: Lista das espcies de aves 11 espcies com maiores ndices de abundncia
relativa durante as contagens por ponto conduzidas nas comunidades do Ararapira e
Superagui. ___________________________________________________________ 150
Tabela 21: Lista das espcies de aves, suas categorias alimentares e estratos
associados, nas comunidades do Ararapira e Superagui. _______________________ 151
xxiii
Tabela 22: Lista das guildas identificadas e nmero de espcies de aves classificadas em
cada uma delas. _______________________________________________________ 154
Tabela 23: Lista dos estratos de obteno de alimento e nmero de espcies de aves
classificadas em cada um deles. __________________________________________ 155
Tabela 24: Nmero de espcies de aves registradas nas guildas e estratos preferenciais
de ocorrncia nas reas Penedo (controle), Ararapira e Superagui. _______________ 156
Tabela 25: Lista das espcies de aves do ambiente aqutico marinho da plataforma
continental interna a partir de informaes do banco de dados coletados pelos
pesquisadores do Laboratrio de Ornitologia do CEM/UFPR. ____________________ 157
Tabela 26: Lista das espcies de aves com potencial de consumir rejeitos da pesca no
ambiente de praia do litoral do Paran, com base em Carniel (2008). ______________ 158
Tabela 27: Lista das espcies de aves consumidoras de rejeitos da pesca na costa
paranaense e frequncia (F) e abundncia relativa (A. R.) destas durante eventos de
descarte, com base em Krul (2004) para o ambiente aqutico e Carniel (2008) para o
ambiente de entremars. ________________________________________________ 159
Tabela 28: Espcies de peixes presentes na dieta de Sula leucogaster e Fregata
magnificens e sua contribuio (%) na dieta de ambas as espcies com base em Krul
(2004). ______________________________________________________________ 160
Tabela 29: Caracterizao dos aspectos do Acesso aos Servios de Sade nas
comunidades do Superagui e do Ararapira. __________________________________ 165
Tabela 30: Caracterizao de aspectos das Condies de Sade e Manejo Animais
Domsticos nas comunidades do Superagui e do Ararapira. _____________________ 167
Tabela 31: Condies clnicas gerais de aves associadas aos ecossistemas florestais
amostradas nas comunidades do Ararapira e do Superagui. _____________________ 173
Tabela 32: Prevalncia do Grau de Infestao por ectoparasitos em aves selvagens nas
comunidades do Ararapira e do Superagui. __________________________________ 176
Tabela 33: Morfotipos de hemoparasitos e ectoparasitos observados em aves capturadas
nas comunidades de Ararapira e Superagui. _________________________________ 180
Tabela 34: Prevalncia de morfotipos de ectoparasitos observados nas comunidades do
Ararapira e Superagui, considerando apenas aves parasitadas. __________________ 185
Tabela 35: Prevalncia de morfotipos e ectoparasitos observados nas aves de acordo
com as guildas, considerando apenas aves parasitadas, nas comunidades do Ararapira e
Superagui. ___________________________________________________________ 186
xxiv
Tabela 36: Massa corporal e Parmetros Clnicos de Sula leucogaster capturados no
Arquiplago de Currais. _________________________________________________ 190
Tabela 37: Perfil geral da massa corporal dos registros de Sula leucogaster, Larus
dominicanus e Fregata magnificens no PROAMAR UFPR. ____________________ 193
Tabela 38: Matriz de valores indicadores do grau de interao entre as variveis
analisadas no componente Paisagem com as variveis dos componentes Pesca e
Biodiversidade. ________________________________________________________ 198
Tabela 39: Matriz de valores indicadores do grau de interao entre as variveis
analisadas no componente Paisagem com as variveis do componente Sade. _____ 199
Tabela 40: Matriz de valores indicadores do grau de interao entre as variveis
analisadas nos componentes Pesca, Biodiversidade e Sade, com as variveis dos
componentes Pesca e Biodiversidade. ______________________________________ 200
xxv
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Componentes, grupos de variveis e variveis especficas selecionadas. ___ 49
Quadro 2: Dados recolhidos pelos pescadores nos cadernos de anotao de dados da
pesca. ________________________________________________________________ 59
Quadro 3: Dados registrados no Caderno de campo para captura de aves associadas aos
ecossistemas florestais___________________________________________________ 69
Quadro 4: Matriz das mdias dos valores que indicam grau de interao entre as variveis
com os componentes do modelo. __________________________________________ 201
Quadro 5: Matriz das 10 variveis que obtiveram maiores mdias nos valores que indicam
interao entre os componentes do modelo. _________________________________ 202
Quadro 6: Matriz que apresenta as 10 variveis que obtiveram os maiores valores dentro
de cada componente do modelo. __________________________________________ 203
1
A SADE E SUAS RELAES COM A BIODIVERSIDADE, A
PESCA E A PAISAGEM EM DUAS COMUNIDADES DE
PESCADORES ARTESANAIS NO LITORAL DO PARAN
1 INTRODUO, HIPTESE e OBJETIVOS
A acelerao nos processos de desenvolvimento, a maior demanda por recursos
naturais, e um maior adensamento populacional em centros urbanos so tendncias
globais. Suprir os recursos necessrios para uma populao crescente, que atinge quase
sete bilhes de pessoas, tem gerado uma presso extraordinria sobre os ambientes
naturais. Hails, et al. (2008) consideram que, caso essa tendncia no se reverta, em
meados de 2030, ser necessrio duas vezes a capacidade de suporte do planeta, para
sustentar as atividades humanas.
Globalmente os ecossistemas esto sujeitos a diferentes formas e intensidades de
presso antrpica, diretas ou indiretas. O crescimento e o adensamento populacional
humano so acompanhados por mudanas na composio de todas as comunidades
biolgicas, tanto em centros urbanos como nos hbitat naturais. Essas comunidades
biticas se mantm em constante mudana, e nelas se inserem as pessoas, animais e
plantas domsticas e selvagens, alm de uma diversidade extraordinria de
microrganismos. As mudanas ocorrem constantemente, tanto em sistemas naturais
quanto antrpicos, contudo, podem ser positivas, quando as mudanas promovem um
realce, ampliando ou rejuvenescendo o ecossistema, ou negativa quando as mudanas
excedem a resilincia do ecossistema (TRESS e TRESS, 2008).
Contudo, a situao de adensamento das populaes humanas e animais,
acrescidas de mudanas expressivas em fatores abiticos dos sistemas, como alteraes
na qualidade do ar, gua, condies de umidade, temperatura e radiao eletromagntica
e outros componentes estruturais geram severas mudanas nos processos ecolgicos,
que se estabelecem entre os elementos das comunidades biolgicas. O
desbalanceamento dos processos ecolgicos leva a um aumento significativo do risco do
surgimento de doenas, que podem se manifestar em qualquer um dos componentes
biolgicos dessas comunidades (DASZAK e CUNNINGHAM, 2002).
2
Diferentes abordagens atuais sobre as relaes entre a sade e ambiente
compartilham da ideia comum de que muitas das doenas da atualidade esto associadas
s mudanas nas relaes ecolgicas entre as espcies, o que ocorre em consequncia
de rpidas e severas mudanas de origem antrpica no ambiente. Esses ambientes, ou
ecossistemas, constantemente expostos a agentes estressores externos e perturbaes
internas tendem a se tornam menos saudveis, gerando altas prevalncias de doenas
nos grupos biticos que o compe (TABOR, 2002; COSTANZA, NORTON e HASKELL
1992; MANGINI e SILVA 2007; RAPPORT 1998; KOCH, 1996).
Atualmente, todas as comunidades biolgicas esto sujeitas a um maior risco de
surgimento de doenas, o que evidenciado por situaes com o declnio global das
populaes de anfbios e agentes polinizadores, proliferao de algas txicas e o
surgimento de doenas infecciosas emergentes, como Hantavirose, Sndrome
Respiratria Aguda Grave (SARS ou Pneumonia Asitica), e outras sendo observadas em
vrios grupos taxonmicos (EPSTEIN, 2002; DASZAK e CUNNINGHAM, 2002). Sobre as
relaes atuais entre sade e biodiversidade deve se considerar que as atividades
humanas, reduzindo a diversidade biolgica, e outros distrbios antrpicos tm
consequncias, sobretudo, para a distribuio das doenas infecciosas (CHIVIAN, 2002).
Assim, a partir do momento que os seres humanos passaram a ser uma varivel muito
importante nos ecossistemas, o entendimento da capacidade de resposta do ambiente
requer a considerao tambm das atividades antrpicas (TROSPER, 2002). Bem como,
a importncia emergente das zoonoses refora a necessidade de um melhor
entendimento sobre relaes epidemiolgicas entre animais e pessoas (TABOR et al.,
2001; DASZAK e CUNNINGHAM 2002; TABOR, 2002; EPSTEIN, 2002).
Os sistemas de sade, vigilncia epidemiolgica e sanitria de maneira geral no
esto adaptados para responder as novas ameaas sade, originadas pelas mudanas
ambientais. O manejo dos problemas atuais de sade, tanto de pessoas quanto de
animais, requer mudanas nos modelos de profilaxia e vigilncia, incorporando conceitos
atualizados de epidemiologia da paisagem e medidas integradas de manuteno da
sade pblica e animal, abordando as inter-relaes entre espcies domsticas e
selvagens. Bem como uma abordagem integrada das relaes entre biodiversidade e
sade (GARRETT, 1994; EPSTEIN, 2002; ELSE e POKRAS, 2002; MANGINI e SILVA,
2007).
No que se refere aos aspectos da conservao da diversidade biolgica, o litoral
paranaense possui atributos positivos, como extensas reas de remanescentes florestais,
3
de relevante importncia, e uma presena expressiva de unidades de conservao
abrigando uma grande diversidade de fisionomias vegetais e de espcies da fauna. Bem
como, reas prioritrias para a conservao de aves marinhas, devido presena de
stios de reproduo de espcies coloniais, e reas de alimentao importantes para aves
costeiras (KRUL, 1999). Adicionalmente, a constante atividade local de pesca de arrasto
do camaro e a disponibilidade de rejeitos proveniente desta pesca tm se mostrado
importante varivel na estruturao e dinmica de populaes de aves marinhas no
Estado (KRUL, 1999; KRUL, 2004).
No Estado do Paran a atividade de pesca considerada, principalmente, como
artesanal ou semi-industrial, desenvolvida por uma frota composta, em grande parte, de
embarcaes de pequeno a mdio porte, sendo bastante direcionada arte do arrasto
para captura de camaro (ANDRIGUETTO FILHO, 1999). A maior parte da atividade
pesqueira conduzida por pescadores artesanais, que se distribuem em diferentes
comunidades ao longo da costa e no interior dos esturios. Em relao ao nmero de
comunidades pesqueiras presentes no litoral do estado h indcios do desaparecimento e
de forte reduo de uma parcela representativa delas. Esse fenmeno demogrfico
parece estar associado localizao mais afastada dos plos urbanos e da margem do
esturio. tambm possvel reconhecer diferenas marcantes entre as comunidades
remanescentes, demonstradas por aspectos relacionados demografia, ao carter
urbano ou rural, aos sistemas tcnicos, comercializao e a presena de agricultura
(ANDRIGUETTO FILHO, 1999).
A pesar da expressividade da pesca do camaro, a pesca no Paran conta
tambm com uma diversidade adicional importante de recursos explorados, onde so
empregados sistemas e tcnicas de pesca variadas. Reconhecer que h diferentes
comunidades utilizando esses recursos leva a considerar que h tambm diferentes
formas de interao com o ambiente e, por consequncia, emprego de diferentes prticas
materiais, as quais influenciam a evoluo dos sistemas socioambientais como um todo.
Assim como, a utilizao dos equipamentos de pesca tem carter cclico, o que ocorre
devido disponibilidade temporal de recursos pesqueiros, associada aos interesses dos
prprios pescadores na escolha das espcies-alvo. Cada comunidade pesqueira possui
caractersticas prprias, explorando o ambiente em forma distinta das outras (ROBERT,
2008). A interao entre as comunidades de pescadores, suas prticas materiais sobre
ambiente e os recursos que utilizam cria uma paisagem particular. Nas vilas de
pescadores as interaes entre a sociedade e o ambiente, bem como os padres de
4
sade e biodiversidade podem ser evidenciados, servindo como uma unidade de anlise
das relaes entre sociedade e natureza, dentro desses sistemas socioambientais.
A regio de Superagui, e tambm o vale do rio dos Patos, representam as
melhores oportunidades conservao da natureza no litoral do Paran (ANDRIGUETTO
FILHO e MARCHIORO, 2002). A regio de Superagui est inserida em uma regio de
baixa ocupao humana, baixo potencial agro-extrativista e agricultura incipiente. A
presso antrpica em geral baixa e a atividade econmica predominante da populao
a pesca artesanal. O ambiente natural se encontra bem preservado e a regio tem alta
significncia proteo da biodiversidade (ANDRIGUETTO FILHO e MARCHIORO,
2002).
Nesse ambiente em particular se destaca o Parque Nacional do Superagui, uma
unidade de conservao criada em 1989. Nela esto estabelecidas em suas reas
perifricas e mesmo dentro da unidade de conservao, mais de dez comunidades de
pescadores artesanais, com grande variao em tamanho e no perfil nas atividades de
pesca e extrativismo. Entre estas comunidades se destaca a da Barra do Superagui, a
maior delas, situada na rea de influncia direta do Parque. Esta apresenta crescimento
populacional e uma transformao da pesca no sentido de uma maior insero no
mercado. Na mesma unidade de conservao tambm se destaca a comunidade da Barra
do Ararapira, que atualmente encontra-se dentro dos limites do Parque,
significativamente menor e geograficamente mais isolada (ANDRIGUETTO FILHO e
MARCHIORO, 2002; VIVEKANANDA, 2000 e 2001).
Nessas vilas de pescadores as prticas materiais, que se destinam utilizao de
diferentes recursos naturais, podem servir como ponto de observao inicial para se
evidenciar as interaes das comunidades com o ambiente, o que pode ser feito por meio
da anlise de quatro componentes desses sistemas, denominados: Paisagem, Pesca,
Biodiversidade e Sade. A seleo desses componentes possibilita uma avaliao
disciplinar de aspectos particulares da realidade dos sistemas socioambientais em estudo,
ao mesmo tempo em que cria tambm as condies necessrias para integrar os
resultados dessa avaliao, promovendo posteriormente uma anlise interdisciplinar de
como determinada prtica ou varivel contribui na constituio desses sistemas.
Assim, essas comunidades pesqueiras tradicionais do Litoral do Paran, podem ser
entendidas como modelos de sistemas socioambientais, onde neles pode ser observada a
integrao de diversos aspectos da sade, da biodiversidade, da pesca e da paisagem.
Por se apresentaram como ncleos populacionais inseridos juntamente a um parque
5
nacional, implantado para manuteno da biodiversidade, um melhor entendimento das
relaes entre sociedade e ambiente nessas comunidades se faz necessria at mesmo
para efeitos de planejamento da prpria unidade de conservao.
Dessa forma, esse trabalho pretendeu criar um modelo de anlise, aplic-lo e
demonstrar como se apresentaram algumas das importantes interaes entre a sociedade
e a natureza em um ambiente representado por comunidades de pescadores artesanais
no litoral do Paran, mais especificamente as comunidades do Ararapira e do Superagui.
Para tanto se assumiram as hipteses e objetivos apresentados nos tpicos a seguir.
1.1 Hiptese de estudo
As relaes entre Sade, Biodiversidade, Pesca e Paisagem so influenciadas
pelas prticas materiais de maneiras distintas, em diferentes comunidades pesqueiras
artesanais, e podem ser reconhecidas, aferidas e representadas por modelos que indicam
as interaes e a intensidade dessas relaes
1.2 Objetivo Geral
"Identificar e caracterizar parmetros relacionados Pesca, Biodiversidade,
Paisagem e Sade e reconhecer relaes entre estes componentes a partir de modelos
que representem as influncias das prticas materiais em duas comunidades de
pescadores artesanais do litoral do Paran".
1.3 Objetivos Especficos
1.3.1 Objetivos relativos avaliao da paisagem
Determinar o tamanho das comunidades pesqueiras foco deste estudo, tanto em
nmero de pessoas quanto em relao ocupao de rea;
Caracterizar as moradias em relao ao material utilizado na construo,
distncia entre elas e ao aspecto geral;
6
Identificar as vias de acesso s duas comunidades pesqueiras, determinar as
distncias at os centros urbanos de referncia e tempo mdio de deslocamento
para acess-los;
Avaliar a disponibilidade de servios e o fluxo de visitantes / turistas nas duas
comunidades pesqueiras;
Caracterizar a vegetao nas duas vilas foco do estudo e reconhecer outras
caractersticas fsico-geogrficas, bem como buscar evidncias de trilhas, de
extrativismo vegetal e de caa de animais;
Identificar os meios de transporte presentes nas duas comunidades pesqueiras, a
origem e a qualidade da gua para uso domstico, a disponibilidade de servios de
comunicao, de lazer e de sade;
Identificar e quantificar a presena de resduos slidos nas duas comunidades
pesqueiras, bem como, avaliar a estrutura de saneamento e destino de efluentes
residenciais;
Identificar impactos de efluentes sobre o ecossistema nas duas comunidades
pesqueiras;
Avaliar o perfil da frota pesqueira nas duas comunidades de pescadores artesanais
foco do estudo.
1.3.2 Objetivos relativos avaliao da pesca
Registrar e quantificar a utilizao de artes de pesca praticadas em duas
comunidades de pescadores artesanais do litoral do Paran;
Identificar e quantificar os recursos pesqueiros explotados em duas comunidades
de pescadores artesanais do litoral do Paran;
Avaliar a sazonalidade de utilizao dos recursos pesqueiros explotados e
quantificar o esforo de pesca direcionado a cada recurso;
Determinar o destino da produo pesqueira nas duas comunidades estudadas;
Avaliar a produo de rejeitos de pesca nas duas comunidades de pescadores
estudadas e extrapolar os ndices para toda a frota paranaense;
Identificar impactos decorrentes da produo de rejeitos na costa paranaense.
1.3.3 Objetivos relativos avaliao da biodiversidade
7
Determinar a riqueza e a abundncia relativa de aves associadas a ecossistemas
florestais em duas comunidades de pescadores artesanais e em uma rea controle
no litoral do Paran;
Agrupar as espcies de aves associadas a ecossistemas florestais registradas nas
comunidades pesqueiras e rea controle em guildas;
Caracterizar as comunidades de aves associadas ao ambiente de praia e
plataforma continental interna em relao ao perfil de interao com a pesca;
Identificar as principais espcies de aves que interagem com a pesca na costa
paranaense e caracterizar as dietas e aspectos da reproduo.
1.3.4 Objetivos relativos avaliao da sade
Avaliar a presena e as condies de acesso aos servios de sade, para a
populao, em duas comunidades distintas de pescadores artesanais no litoral do
Paran;
Estimar o tamanho das populaes dos animais domsticos e avaliar os
parmetros de manuteno, condies gerais de sade e de manejo destes nas
duas comunidades de pescadores artesanais;
Avaliar o estado fsico-clnico e o perfil parasitrio das aves selvagens, associadas
aos ecossistemas florestais, em duas comunidades de pescadores artesanais;
Determinar o estado fsico-clnico de aves associadas ao ecossistema marinho que
interagem com a pesca na plataforma continental interna e avaliar as condies de
massa corporal e massa dos ovos destas no Arquiplago de Currais;
Avaliar o perfil geral dos registros das principais espcies de aves marinhas da
plataforma interna paranaense, recebidas pelo projeto PROAMAR (Projeto de
Estudos e recuperao de aves, Mamferos e Rpteis) do Centro de Estudos do
Mar/UFPR.
1.3.5 Objetivos relativos ao modelo
Desenvolver um modelo de estudo que permita observar variveis que revelem a
intensidade das interaes entre o estado de sade, o perfil de diversidade
biolgica e o perfil das atividades de pesca, em uma paisagem representada por
duas comunidades distintas de pescadores artesanais no litoral do Paran;
8
Elaborar uma matriz de interao entre os quatro componentes do estudo a partir
da interao entre todas as variveis;
Identificar as variveis mais importantes e que melhor refletem as relaes dentro
dos componentes especficos do estudo e verificar as interaes entre estas.
9
2 REFERENCIAL TERICO
2.1 Sade, Meio Ambiente e Biodiversidade
As questes de sade relacionadas ao meio ambiente vm sendo apresentadas e
debatidas de forma mais intensa a partir de 1990, o que acontece de forma concomitante
com uma srie de eventos onde prejuzos sade de populaes de animais e plantas,
bem como de populaes humanas, se mostraram fortemente correlacionados com a
crise global da perda de diversidade biolgica, ou outros impactos ambientais decorrentes
das atividades antrpicas sobre os ecossistemas (GARRETT, 1994 passim; DASZAK,
CUNNINGHAM e HYATT, 2000; AGUIRRE et al. 2002 passim; MANGINI e SILVA, 2007).
A sociedade globalizada est apenas comeando a compreender as conexes entre
sade do ecossistema, sade humana e sade animal frente situao atual de
mudanas globais em grande escala e da crescente influncia em todo o planeta dos
efeitos negativos das atividades antrpicas sobre os ecossistemas. Uma dentre cinco
preocupaes da sociedade em relao sade humana tem causa ambiental (SOUL,
2002). Com o crescimento sem precedentes da populao, a consequente presso sobre
os recursos do planeta e a globalizao econmica, os regimes ecolgicos do planeta tm
experimentado mudanas dramticas, manifestadas por recentes consequncias para a
sade global (SOUL, 2002). Enquanto as mudanas no ambiente permanecerem
aceleradas e contnuas, os padres das doenas e seus efeitos na sade das populaes
humanas e animais, tambm se mantero em contnua alterao (ELSE e POKRAS,
2002). Assim, a srie de eventos, representados pelo surgimento de doenas e de
perturbaes sobre a sade dos ecossistemas, disseminados por diferentes reas do
planeta nas ltimas trs dcadas, tem sido entendida como uma crise global da sade
(GARRETT, 1994 passim; AGUIRRE et al. 2002 passim).
Contudo, a interdependncia entre sade e ambiente no foi identificada como uma
questo relevante apenas no perodo atual, em diferentes regies do planeta e em
perodos histricos variados essa relao entre sade e ambiente foi ressaltada. De fato,
a percepo de que a sade est ligada s relaes do homem com o meio ambiente faz
parte do senso comum, e figura em diferentes filosofias mdicas e de sade coletiva,
10
desde a antiguidade (NAZARENO, 1999). Percepes focadas em causalidades externas
ou no desequilbrio entre elementos constituintes do organismo foram ressaltadas por
diferentes culturas. Na cultura mdica ocidental a maior influncia destes pensamentos se
deve a Hipcrates que, segundo Nazareno (1999), desenvolveu a prtica clnica com
cuidadosas observaes da natureza. No pensamento Grego a sade era dada por um
estado de harmonia entre os elementos constitutivos do corpo, e a doena resulta do
desequilbrio desses constituintes, como resultante de fatores e influncias externas.
Hipcrates desenvolveu seus princpios teraputicos buscando restabelecer o reequilbrio
do organismo, usando o princpio da contraposio entre elementos. O pensamento de
Hipcrates tambm reconhecia a grande importncia do ambiente fsico, conferindo
influncia dos ventos, das guas, da posio das cidades, das estaes do ano, entre
outros fatores, como importantes aspectos para a apario e o curso das epidemias.
Deixando claro que a percepo existente na poca era de que as agresses do ambiente
natural provocam reaes no homem, produzindo doenas (NAZARENO, 1999).
Ao final do sculo XVIII, depois da Revoluo Francesa, outra percepo,
relacionada ao ambiente social passa a fazer parte da discusso sobre sade. A
concepo de causa social para o surgimento das doenas se destaca no meio mdico,
relacionando o aparecimento de doenas s condies de vida e trabalho das
populaes. Essa abordagem associada ao desenvolvimento das cincias sociais permite
o surgimento da medicina social, que atribuiu uma origem social s doenas, substituindo
ento a importncia do ambiente natural, pelo ambiente social, para a explicao da
causalidade das doenas (NAZARENO, 1999).
Contudo, na segunda metade do sculo XIX, os avanos da microbiologia e os
trabalhos de Henle, Pasteur e Koch (que ressaltam que a maior parte das doenas tem
um agente etiolgico e uma causa identificvel) criam um ambiente cientfico e acadmico
que alterou profundamente o pensamento e a prtica mdica. As doenas passam a ser
vistas como disfunes objetivas, podendo ser perfeitamente diagnosticadas e reparadas.
Essa abordagem, representada por uma relao quase direta de causa e efeito entre a
presena do agente patognico e o surgimento da doena, reduzem significativamente,
da prtica e do pensamento mdico, a relevncia das relaes entre sade e meio
ambiente (NAZARENO, 1999). Em muitos campos das atividades ligadas a sade, dentro
da medicina humana e da medicina veterinria, esse posicionamento permanece ainda
predominante na prtica diagnstica e teraputica, com excees em algumas reas
especficas das atividades mdicas.
11
Contudo a abordagem conjunta do ambiente e da sade no foi totalmente
eliminada do pensamento mdico, e voltou ser discutida com mais propriedade, seguindo
os moldes da cincia moderna, a partir do incio de sculo XX, fundamentados por
estudos epidemiolgicos como os apresentados por Gordon, 1920 (apud NAZARENO,
1999) que apresenta o modelo epidemiolgico ecolgico, composto por uma trade onde o
agente, o hospedeiro e o meio ambiente devem estar em equilbrio. Posteriormente, a
escola sovitica de epidemiologia tambm contribui para essa abordagem com os
trabalhos de Evgeny N. Pavlovsky representados pela Teoria da Nidalidade das Doenas
(1939) e pela Epidemiologia da Paisagem (1964) (LEVINE, 1966), que demonstram a
importncia de se analisar caractersticas fsicas do hbitat, como clima, altitude, latitude,
e aspectos geolgicos, alm de caractersticas biolgicas do ecossistema, como nicho
ecolgico das espcies envolvidas, dinmica populacional e localizao das espcies na
cadeia trfica.
Mais recentemente essas abordagens centradas no estudo dos fenmenos
ecolgicos e biolgicos foram transpostas para os ramos da medicina ligados as cincias
sociais, como a geografia mdica que ressalta que o estudo do enfermo no pode ocorrer
separado do seu ambiente, do bitopo, onde se desenvolvem os fenmenos de ecologia
associados com a comunidade a que esse indivduo pertence (LACAZ, 1972 apud
PIGNATTI, 2004)
Nesse contexto as cincias veterinrias, que englobam conhecimentos tanto de
sade animal como humana, seguiram a tendncia de pensamento sobre sade e
ambiente descrita anteriormente. Contudo, a importncia das interaes entre ambiente e
sade permaneceu com certa relevncia na prtica mdica veterinria, sendo
considerada em alguns campos fundamental para a manuteno da sade. Como
exemplo, ressalta-se a medicina de animais selvagens, onde o ambiente e o estresse
decorrente da m adaptao do indivduo ao ambiente so vistos como pontos
determinantes para o surgimento de doenas infecciosas, traumticas e metablicas, bem
como de comportamentos patolgicos nos pacientes cativos. Na medicina de animais
selvagens o planejamento e o manejo ambiental so fundamentais para a manuteno da
sade de animais no domsticos em cativeiro (WALLACH e BOEVER, 1984 passim;
FOWLER, 1986 passim; PACHALY, 1992; PACHALY et al. 1993, CUBAS, CATO-DIAS
e SILVA, 2007 passim). Atualmente, essa mesma abordagem que atribui importncia
significativa para estresse, decorrente da m interao entre indivduo e ambiente, como
fator determinante para o surgimento das doenas vem sendo tambm empregada como
12
referncia para o entendimento das enfermidades em populaes de animais de vida
livre. Mudanas severas e aceleradas nos padres de uso do espao, a fragmentao dos
habitas e outras consequncias das atividades humanas sobre os ambientes naturais
geram novas formas de estresse. Estes novos estressores, em associao com a perda
de recursos naturais, a introduo de novos agentes patognicos e o acmulo de toxinas
no ambiente alteraram significativamente as relaes entre hospedeiros e agentes
patognicos, aumentando de forma expressiva o risco do surgimento de doenas em
populaes selvagens (MUNSON e KARESH, 2002, MANGINI e SILVA, 2007).
A noo de sade, em geral, empregada para denotar a vitalidade de indivduos,
porm pode ser empregada tambm para populaes de pessoas, animais e plantas,
sejam domsticas ou selvagens. Atualmente, a sade (que pode ser entendida como um
estado de balano dinmico entre diferentes componentes de um determinado sistema ou
organismo) analisada sob a tica de muitas disciplinas, incluindo medicina humana,
sade pblica, epidemiologia, medicina veterinria, toxicologia, ecologia, biologia da
conservao e medicina da conservao (TABOR, 2002). Dessa forma, o estudo da
sade nos dias atuais compreende as relaes entre os componentes de um determinado
organismo ou sistema, abordando uma ampla escala espacial, desde o nvel qumico e
molecular at as inter-relaes ecossistmicas, como por exemplo, aquelas
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