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As Psicopatologias dos Alunos em Contexto Escolar ____________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________ 1
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, agradeo minha filha, fazendo votos para que mais tarde
compreenda os momentos de ocupao e ausncia que a privaram da minha companhia.
Agradeo ainda, a toda a minha famlia a ateno e a constante disponibilidade.
Em seguida agradeo a todas as pessoas que contriburam para o meu enriquecimento
profissional, proporcionando a execuo e elaborao deste trabalho:
Ao Mestre Miguel Ricou Orientador desta dissertao, cujo apoio ao longo destes anos
foi decisivo para a consolidao, estruturao e realizao deste trabalho. Salienta-se
que os seus conhecimentos na rea da psicologia e biotica foram fundamentais na
estruturao dos meus conhecimentos. Agradeo ainda, a sua disponibilidade e
incentivo em todo este meu longo percurso.
Ao Sr. Prof. Doutor Rui Nunes, cuja qualidade cientfica e pedaggica muito contribuiu,
para a estruturao deste trabalho.
Sr. Prof. Doutora Isabel Monteiro da Universidade de Aveiro pela sua ajuda no
tratamento estatstico de todos os dados recolhidos, bem como por outras ajudas
imprescindveis.
Aos membros do Servio de Biotica e tica Mdica, Mestre Ivone Duarte e Dra.
Catarina Canrio pelo apoio sempre concedido.
Aos meus colegas do grupo de Mestrado pela amizade e apoio nesta viagem.
A todos os meus amigos que me ajudaram na consulta dos profissionais de educao,
profissionais de psicologia e alunos, cujos nomes no vou citar, para no correr o risco
de me esquecer de algum muito importante e relevante.
As Psicopatologias dos Alunos em Contexto Escolar ____________________________________________________________________________________
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Por fim, agradeo a todos os que directa ou indirectamente colaboraram neste projecto,
nomeadamente, aos professores, aos psiclogos e aos alunos, que mesmo no
conhecendo, se disponibilizaram a preencher o inqurito.
As Psicopatologias dos Alunos em Contexto Escolar ____________________________________________________________________________________
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NDICE GERAL Introduo 10
PARTE I Parte Terica
1 - Noo de Educao 14
1.1 - Etimologia / Definio 14
1.2 - Resenha Histrica 15
1.2.1 - O Direito Educao no Mundo Actual 20
2 - O Papel da Escola no sc. XXI 24
3 - Sistema Educativo 28
3.1 - Lei de Bases do Sistema Educativo Lei n 46/86 de 14 de
Outubro com as alteraes introduzidas pela Lei 115/97 de 19 de
Setembro
28
3.2 - mbito da aplicao da Lei 28 3.3 - Princpios do Sistema Educativo 30
3.4 - Organizao geral
3.4.1 Organigrama 31
3.4.2 - Administrao Geral do Sistema 33
3.5 - Educao No Escolar 34
3.5.1 - Educao pr-escolar 34
3.5.2 - Educao extra-escolar 34
3.6 - Ensino Bsico
3.6.1 - Caractersticas essenciais 35
3.6.2 - Organizao curricular 36
3.7 - Objectivos do Ensino Bsico 36
3.7.1 no plano pessoal 36
3.7.2 no plano do relacionamento social 37
3.7.3 no plano das aquisies cognitivas 37
3.7.4 no plano do comportamento 37
3.8 - Escolaridade obrigatria 38
3.9 - Ensino Secundrio
As Psicopatologias dos Alunos em Contexto Escolar ____________________________________________________________________________________
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3.9.1 - Caractersticas essenciais 38
3.9.2 - Estrutura e organizao 39
3.10 - Modalidades especiais da educao escolar 39
3.10.1 - Educao especial 39
3.10.2 - Apoios e complementos educativos, recursos fsicos e
recursos educativos
3.10.2.1 - Apoio a alunos com necessidades escolares
especficas 40
3.10.2.2 - Apoio psicolgico e orientao escolar e
profissional 40
3.10.2.3 - Aco social escolar 40
3.10.2.4 - Apoio de sade escolar 41
3.10.2.5 - Apoio a trabalhadores-estudantes 41
4 Psicopatologias detectadas nos alunos em contexto escolar: 42
4.1 - Perturbao da Hiperactividade e Dfice de Ateno 44
4.2 - Problemas Comportamentais 46
4.3 - Perturbao do Tipo Alimentar 47
4.4 - Perturbao do Humor 49
4.5 - Perturbao da Ansiedade Generalizada 50
4.6 Stress 50
4.6.1 - Stress Agudo 50
4.6.2 - Stress Ps Traumtico 50
4.7 - Perturbao de Sono 51
4.7.1 - Insnia Primria 51
4.7.2 - Hipersnia Primria 51
5 - Princpios ticos na Educao 53
5.1 Conceito de tica 53
5.2 Teorias ticas 56
5.2.1 tica Deontolgica 57
5.2.2 Utilitarismo 58
5.2.3 tica das Virtudes 60
As Psicopatologias dos Alunos em Contexto Escolar ____________________________________________________________________________________
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5.3 Princpios ticos 61
5.4 Biotica 68
6 - Igualdade de oportunidades na educao 72
6.1- Resenha histrica 73
7 - Os alunos diferentes, os alunos com necessidades educativas especiais
7.1 - A Incluso da Diferena 79
7.2 - Diferena / Desigualdade 81
7.3 - Diversidade / Insucesso escolar 82
8 - Formao de professores para a diferena 85
PARTE II Parte Prtica
9 Metodologia
9.1 Objectivos do estudo 89
9.2 Tipo de estudo 89
9.3 - Construo do questionrio 89
9.4 O Teste-Reteste 90
9.4.1 Proporo de concordncia do inqurito aos alunos 91
9.4.2 - Proporo de concordncia do inqurito aos
professores 93
9.5 - Local de estudo 95
9.6 - Definio da populao e seleco da amostra 95
10 - Anlise dos dados dos questionrios
10.1 Alunos
10.1.1 - Caracterizao da amostra 97
10.1.2 Caracterizao do estudo
10.1.2.1 com base na sua experincia 98
10.1.2.2 com base na experincia dos outros 100
10.2 Professores
10.2.1 - Caracterizao da amostra 101
As Psicopatologias dos Alunos em Contexto Escolar ____________________________________________________________________________________
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10.2.2 Caracterizao do estudo 103
10.3 - Psiclogos
10.3.1 - Caracterizao da amostra 105
10.3.2 Caracterizao do estudo 106
11 Discusso
11.1 - Alunos 110
11.2 - Professores 114
11.3 - Psiclogos 120
12 Consideraes Finais 123
13 - Bibliografia 129
ANEXOS:
Anexo 1
. Inquritos
Alunos
Professores
Psiclogos
Anexo 2
. Estatstica
Alunos
Professores
Psiclogos
Anexo 3
Algumas respostas obtidas nos inquritos aos alunos s perguntas:
. Sentes que te ajudou?
As Psicopatologias dos Alunos em Contexto Escolar ____________________________________________________________________________________
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NDICE de QUADROS e TABELAS
Tabela 1 Significado dos valores de concordncia 91
Quadro 1 Grau de concordncia dos itens do questionrio realizado aos
alunos 92
Quadro 2 Grau de concordncia dos itens do questionrio realizado aos
professores 94
Quadro 3 Frequncia por sexo dos elementos da amostra alunos 97
Quadro 4 Frequncia por idade dos elementos da amostra alunos 97
Quadro 5 Frequncia por habilitaes literrias dos elementos da amostra
alunos 98
Quadro 6 Frequncia dos servios de psicologia escolar pelos elementos da
amostra alunos 99
Quadro 7 Frequncia do porqu consultar o Psiclogo Escolar pelos
elementos da amostra alunos 99
Quadro 8 Frequncia sobre o motivo da consulta dos servios de psicologia
escolar pelos elementos da amostra alunos 99
Quadro 9 Frequncia de satisfao com os servios de psicologia pelos
elementos da amostra alunos 100
Quadro 10 Frequncia do conhecimento de pessoas que recorreram ao
Psiclogo por parte dos elementos da amostra alunos 100
Quadro 11 Frequncia do porqu consultar o Psiclogo por parte dos 100
As Psicopatologias dos Alunos em Contexto Escolar ____________________________________________________________________________________
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conhecidos dos elementos da amostra alunos
Quadro 12 Frequncia de satisfao com os servios de psicologia por
parte dos elementos da amostra alunos 101
Quadro 13 Frequncia por sexo dos elementos da amostra professores 101
Quadro 14 Frequncia por idade dos elementos da amostra professores 102
Quadro 15 Frequncia por habilitaes literrias dos elementos da amostra
professores 102
Quadro 16 Frequncia por experincia profissional ao nvel da docncia
dos elementos da amostra professores 102
Quadro 17 Frequncia das psicopatologias detectadas nos alunos por parte
dos elementos da amostra professores 103
Quadro 18 Frequncia das pessoas a contactar por parte dos elementos da
amostra professores 103
Quadro 19 Frequncia de psicopatologias dos alunos que so
encaminhadas para os servios de psicologia por parte dos elementos da
amostra professores
104
Quadro 20 Frequncia do acompanhamento da situao do aluno por parte
dos elementos da amostra professores 104
Quadro 21 Frequncia dos alunos que evoluem positivamente, avaliada por
elementos da amostra professores 105
Quadro 22 Frequncia por idade dos elementos da amostra psiclogos 105
As Psicopatologias dos Alunos em Contexto Escolar ____________________________________________________________________________________
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Quadro 23 Frequncia por experincia profissional dos elementos da
amostra psiclogos 106
Quadro 24 Frequncia do horrio semanal dos elementos da amostra
psiclogos 106
Quadro 25 Frequncia de servios prestados pelos elementos da amostra
psiclogos 107
Quadro 26 Frequncia de problemticas mais frequentes, nos alunos em
contexto escolar 107
Quadro 27 Frequncia da autorizao, por parte o encarregado de
educao, do aluno em interveno 108
Quadro 28 Frequncia do tipo de encaminhamento dos alunos com
determinado problema 108
Quadro 29 Frequncia do acompanhamento fora da escola por parte dos
elementos da amostra psiclogos 109
Quadro 30 Frequncia da evoluo positiva dos alunos em interveno 109
As Psicopatologias dos Alunos em Contexto Escolar ____________________________________________________________________________________
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INTRODUO
A escola actual enfrenta um conjunto de desafios que, sinteticamente, se podero
sistematizar em trs grandes vias: a massificao do ensino, o aumento da escolarizao
e a adaptao ao grande desenvolvimento tecnolgico da sociedade. As modificaes
sociais, nomeadamente a globalizao da economia, o avano da cincia e tecnologia e,
fundamentalmente, a sociedade de informao, favorecem as possibilidades de acesso
dos indivduos informao, cincia, tecnologia e ao saber.
A sociedade que se gera exige dos indivduos a combinao de saberes elementares,
com novos saberes adquiridos de forma diversa e, nesta perspectiva, os sistemas
educativos desempenham um papel central indiscutvel. A consciencializao de que a
educao e a formao individual so os principais factores de identificao, integrao,
promoo social e realizao pessoal, sempre foram vectores determinantes da
igualdade de oportunidades e desempenharam um papel essencial na emancipao,
promoo pessoal, social e profissional. Hoje, o conceito de desenvolvimento encontra-
-se relacionado com a valorizao do recurso humano, nomeadamente na sua
capacidade de adquirir e usar princpios ticos fundamentais. Nesta perspectiva, deixa
de ser atribudo escola o papel de transmitir conhecimentos de forma simples, mas
exige-se que o processo educativo e formativo tenha a durao que se confunde com o
tempo de vida dos indivduos (processo educativo permanente). A escola mais uma vez
entendida como tendo a funo principal de integrao social, bem como sendo a
promotora do desenvolvimento pessoal. Tem a preocupao constante da insero em
contextos de ensino regular, crianas e jovens, que pelos mais diversos factores, nem
sempre tiveram aceitao numa sociedade em mudana constante.
O conceito e papel de escola em Portugal foi-se modificando ao longo das dcadas do
sculo XX, sendo legislado pela Lei de Bases do Sistema Educativo Lei n 46/861, na
qual o Estado garante um dos direitos fundamentais do Homem o direito educao,
bem como, uma formao base comum a todos os Portugueses, sendo universal e
gratuito, e que promove uma efectiva igualdade de oportunidades no acesso e sucesso
1 Com alteraes introduzidas pela Lei n 115/97 de 19 de Setembro de 1997.
As Psicopatologias dos Alunos em Contexto Escolar ____________________________________________________________________________________
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escolares. No ensino, os formadores devem nortear a sua prtica educativa por
princpios ticos, devendo estes estarem interiorizados para fundamentar o seu agir.
A tica e a Educao tm como objectivo comum o melhor interesse do Homem, dando
pertinncia a este trabalho que tem como finalidade compreender a importncia da tica
e os seus princpios na educao. Refere-se a aplicao dos princpios da biomdica de
Beauchamp e Childress (1994, 2002) (princpio da autonomia, princpio da beneficncia,
princpio da no maleficncia e princpio da justia) educao.
Para Perrenoud (2001) a incluso de alunos com necessidades educativas especiais ou
os alunos ditos diferentes no sistema de ensino regular constituiu algo que
actualmente aceite de forma consensual. No entanto, a implementao prtica dos
princpios necessrios para uma escola inclusiva constitui ainda um processo difcil e
lento, uma vez que as escolas e os profissionais de educao no esto suficientemente
preparados para as exigncias que este tipo de escola impe. Exige alteraes
significativas em termos de conhecimentos, atitudes e capacidades no sentido de se
desenvolverem prticas que respeitem, reconheam e valorizem as diferenas
individuais. Como afirma Mittler (2000), o objectivo da incluso est, neste momento,
no centro tanto da poltica educativa como da poltica social.
Existem, contudo, nas nossas escolas, alunos com outras psicopatologias que no se
incluem nas necessidades educativas especiais, tais como: perturbao da
hiperactividade e dfice de ateno, problemas comportamentais, perturbao do tipo
alimentar, perturbao da ansiedade, perturbao do humor, stress e perturbao de
sono, entre outras.
Pretende-se saber, com o presente trabalho, se os profissionais da educao, em
contexto escolar, as identificam, se as encaminham correctamente e se as instituies
escolares so sensveis a esta temtica, de forma a responder satisfatria e
assertivamente s necessidades dos alunos.
necessrio que haja individualizao, personalizao, adaptao e diferenciao
curricular s necessidades e caractersticas de cada aluno. Todos os alunos devero ter
os mesmos direitos e oportunidades, incluindo o direito diferena e a uma educao
As Psicopatologias dos Alunos em Contexto Escolar ____________________________________________________________________________________
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adaptada s suas necessidades. Assim prevalecer um sistema educativo que promova o
sucesso educativo e conceitos como cidadania e civilidade.
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PARTE I
PARTE TERICA
As Psicopatologias dos Alunos em Contexto Escolar ____________________________________________________________________________________
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1 - NOO DE EDUCAO
Educar instruir, promover a educao, transmitir conhecimentos, dar as
condies para que o educando modifique o seu comportamento atravs de
desenvolvimento das suas capacidades fsicas, intelectuais e morais. Assim quando se
pensa no produto final deste processo entende-se Educao como a actividade que
modela, forma e ajusta o ser humano forma padro da actividade social.
No entanto, educar sempre um risco, mas sobretudo, uma oportunidade de
desenvolvimento natural, progressivo e sistemtico de todas as foras do educando no
sentido de atingir um ideal de perfeio.
Educar a experincia mais comum da condio humana, uma das poucas coisas que
pode modificar o ser humano, direccionando um caminho e aumentando as suas
limitadas possibilidades. Todos os dias em que se aprende algo, no um dia comum,
um dia importante. Claro que esta viso optimista da vida transforma todos os dias em
dias importantes. Desta forma e tal como refere Santos (1996, pg.17), " preciso
aprender dia a dia".
Numa sociedade sedenta de projectos, de valores individuais e de aprendizagens, a
grande oportunidade da escola apostar numa proposta educativa slida, concreta e
robusta que vise educar o Homem, principalmente numa poca em que se refora a
autonomia das escolas e dos valores educacionais.
Os professores, nunca se podem esquecer que para educar os outros, necessrio ter
vontade de aprender com eles. O que aprendemos, quando aprendemos a aprender? E o
que se aprende quando somos educados? O que a educao?
1.1 Etimologia / Definio do senso comum a noo de que educar consiste em alimentar as crianas e jovens,
bem como cultivar o seu esprito atravs da cincia e dos bons costumes.
As Psicopatologias dos Alunos em Contexto Escolar ____________________________________________________________________________________
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Para Durkheim (1972), educao a aco exercida pelas geraes adultas sobre as que
ainda no esto maduras para a vida social, tendo por objectivo suscitar na criana um
determinado nmero de estados fsicos, intelectuais e morais que a sociedade poltica,
no seu conjunto e o meio social, ao qual est particularmente destinada, reclamam.
A palavra Educao tem a sua origem etimolgica no latim dux que significava
"chefe" indicando uma magistratura, um ttulo de nobreza; daqui surge a palavra
"duque" (Pimenta, 1999). Daquela raiz emergiu o verbo latino ducere, "levar", que
gerou o termo "conduzir". Deste verbo, surgiriam muitas outras palavras, como
producere que significa "levar para a frente", deducere que tem o sentido de "trazer para
dentro" ou ainda traducere que "levar para um outro lado". A partcula latina e
significa o movimento de dentro para fora somada ao ducere, deu origem palavra
educao: como colocar as ideias para fora.
1.2 - Resenha Histrica J nas sociedades mais ancestrais e primitivas se educava de uma forma pouco
organizada, simples e sempre com um sentido prtico (por exemplo distinguir plantas
comestveis de venenosas), com o intuito de que estes saberes se transmitissem de
gerao em gerao, dos mais velhos para os mais novos.
Com o surgir das grandes civilizaes (Antigo Egipto, China, Imprio Persa, entre
outras) surgem sistemas educacionais organizados e destinados a elites (sacerdotes,
mdicos, escribas, etc.).
Segundo Guimares (1974) os filsofos gregos Scrates2, Plato3 e Aristteles4 foram
sem dvida os grandes orientadores da histria da pedagogia e da educao. Para
Aristteles a principal finalidade da educao era ensinar a compreender e a apreciar o
bem.
2 470 a.C. 399 a.C.. 3 428 a.C. 347 a.C.. 4 384 a.C. 322 a.C..
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Os romanos, a partir do sculo IV a.C., tinham como funo difundir o saber e a cultura
greco-romana entre os povos, promovendo a oportunidade do ensino da leitura, da
escrita e dos nmeros.
Na Idade Mdia entre o sculo V e at ao sculo XVIII a Igreja teve o monoplio do
ensino/educao, pois a religio dominava e influenciava a sociedade (Pernoud, 1981).
O ensino era assegurado pelos religiosos que dominavam o conhecimento, isto , estes
ensinavam a ler e a escrever. Foi tambm neste perodo que as Universidades se
comearam a organizar, e atravs delas que a chama da cultura clssica se voltou a
reacender. Salientamos ainda, que foi nesta poca que se desenvolveram as cincias tais
como a Medicina, Astronomia, Matemtica, Qumica, etc.
Entre 1540 e 1759 os Jesutas Padres da Companhia de Jesus em Portugal foram
educadores, confessores e pregadores da corte portuguesa, dedicando-se a um vasto
leque de outras tarefas, tais como o ensino do catecismo, obras de caridade, visitas a
pessoas hospitalizadas e / ou encarceradas (Gonalves, 2008)5. No campo da educao
chegaram a dirigir 30 estabelecimentos de ensino que formavam a nica rede escolar
orgnica e estvel do Pas. O ensino era gratuito e aberto a todas as classes sociais
porque a Companhia de Jesus s aceitava iniciar uma nova escola quando existisse uma
fundao que assegurasse os meios necessrios para o seu funcionamento. Em meados
do sculo XVIII, o nmero total de alunos rondava os 20.000, numa populao de
3.000.000 habitantes, com a igreja a continuar a dominar o ensino em Portugal.
A escola era tradicional, o ensino era realizado pelo professor, enquanto o aluno era um
ser passivo, com as suas regras baseadas no autoritarismo e normas disciplinares
rgidas. As aulas eram centradas no professor, que por sua vez transmitia os
conhecimentos atravs dos exerccios de fixao.
Foi no sculo XVIII, mais concretamente em 1759, no reinado de D. Jos I, que o
Ministro Conde de Oeiras e Marqus de Pombal Sebastio Jos de Carvalho e Melo6
decidiu interromper a actividade dos Padres Jesutas atravs da sua expulso do
5 Portal dos Jesutas Portugueses. 6 Segundo o Dicionrio Histrico, nasceu em Lisboa a 13 de Maio de 1699, e faleceu em Pombal a 8 de Maio de 1782.
As Psicopatologias dos Alunos em Contexto Escolar ____________________________________________________________________________________
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territrio e colnias portuguesas, por motivos de natureza poltica e ideolgica
(Azevedo, 1990). Relativamente educao, Gomes (1989) afirma que foram
introduzidas alteraes significativas, pois at ento esta estava sob a responsabilidade
da Igreja e passou-a para o controle do Estado. No ensino primrio aprovou uma lei7
que organizava a instruo primria de uma forma muito complexa para a poca. Para
Teodoro (1982, pg. 45) a Marqus de Pombal que cabe dar incio, no nosso Pas,
institucionalizao da instruo pblica, nomeadamente com a publicao da carta de Lei de 6
de Novembro de 1772, que institui e oficializa os chamados . O Estado, pela
primeira vez, chama a si os encargos da instruo, retirando ao clero, definitivamente, um
monoplio e um servio que detinha desde a Idade Mdia. Quanto ao ensino superior, por
exemplo, extinguiu a Universidade de vora, pertena dos Jesutas, e reformou
profundamente a Universidade de Coimbra. Esta reforma universitria incluiu tambm a
proibio da frequncia de alunos com ascendncia judaica, estendendo-se esta
proibio ao quadro docente. Em 1777 ocorreu a morte de D. Jos e o poder de Marqus
de Pombal encaminhou-se para o final.
Aps a tomada do poder pelos liberais8 (1777-1826) ocorreu uma importante reforma
no ensino protagonizada por Rodrigo da Fonseca Magalhes9, em 1835, que estabeleceu
a gratuitidade e obrigatoriedade do ensino. Ainda assim, no final do sculo XIX,
segundo Teodoro (1982), Portugal era um pas de analfabetos, pois 69,7% da populao
maior de sete anos no sabia ler nem escrever (maioritariamente do sexo feminino). A
burguesia republicana, nestes ltimos anos de monarquia, contestava o tipo de ensino
vigente e solicitavam medidas de combate ao analfabetismo.
Segundo um estudo10 do Ministrio da Educao (2001) com a implantao da 1
Repblica democrtica e liberal, em 1910, o sistema educativo revelou um carcter
progressivo, mas no o suficiente para baixar o nvel de analfabetismo da populao
portuguesa. Ou seja, se no incio da Repblica 70% da populao era analfabeta,
volvidos vinte anos ainda cerca de 60 % desta se mantinha na mesma condio. A 29 de
7 Lei de 6 de Novembro de 1772. 8 Seguidores do Liberalismo, doutrina poltico-econmica, caracterizada pela abertura e tolerncia a vrios nveis e que surgiu na poca do Iluminismo. 9 Poltico Liberal portugus. 10 Estudo intitulado Breve Evoluo Histrica do Sistema Educativo, 2001.
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Maro de 1911 foi promulgada a Lei de Reorganizao do Ensino Primrio11, criando-
-se o ensino oficial infantil; este novo nvel de ensino nunca foi posto em prtica,
salientando-se que, pelo facto de Portugal ter estado envolvido na Primeira Grande
Guerra Mundial, pode ter atrasado todo e qualquer desenvolvimento.
Com o golpe de estado de 28 de Maio de 192612 entrou uma nova era o Estado Novo13
que encerrou o perodo do liberalismo em Portugal e que tinha como intuito
educacional o ensino primrio universal, obrigatrio e gratuito (Teodoro, 1982). j
com o Oliveira Salazar14 no governo que se tornou possvel a frequncia escolar por
todas as crianas e que se pretendeu a formao e consolidao de uma escola
nacionalista, tendo por fim, preparar os novos Homens e as novas Mulheres que iriam
servir a sociedade portuguesa, sustentada em trs pilares fundamentais Deus, Ptria e
Famlia. O ensino primrio reduzia-se apenas aquisio das tcnicas de leitura, da
escrita e do clculo, assim como ainda se incutia nos alunos o respeito por determinados
valores e hierarquias sociais. O edifcio escolar era de pobre construo e nas salas de
aula o material escolar e didctico escasseava. Os docentes (regentes escolares) apenas
tinham que possuir a instruo primria como habilitaes literrias necessrias para
exercer funes, donde provinha tambm um baixo vencimento mensal. No ser difcil
entender o motivo desta deciso quando na biografia de Oliveira Salazar escrita por
Antnio Ferro (1933), se pode ler: Quando cheguei idade de aprender a ler comecei logo a
frequentar a escola primria de Santa Comba Do (). O meu pai, aborrecido, porque eu no
fazia grandes progressos, tirou-me da escola e mandou-me ensinar por um homenzinho que
dava lies particulares num compartimento da sua casa trrea. () E aqui tem como eu aprendi
a ler com um percursor rural dos tais postos de ensino.. Estamos perante uma sociedade
tradicional, rural e imutvel.
Aps a Segunda Guerra Mundial 15 deu-se um forte desenvolvimento industrial e
tecnolgico no nosso pas. Ocorreu um forte xodo da populao rural para o meio
urbano, dando origem a uma profunda alterao na estrutura social portuguesa. Ocorreu
em Portugal, em Abril de 1974, uma revoluo poltica que permitiu a conquista da
democracia, liberdade e da cidadania plena, que ps termo ao regime do Estado Novo.
11 Lei de Joo de Barros e Joo de Deus Ramos. 12 Sendo a Repblica governada por Antnio Maria da Silva. 13 Regime ditatorial, vigente em Portugal, entre 1933 e 1974. 14 Antnio de Oliveira Salazar governou Portugal desde 1936 a 1968. 15 1939 1945.
As Psicopatologias dos Alunos em Contexto Escolar ____________________________________________________________________________________
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Segundo Teodoro (1982, pg. 24) no campo do ensino, o 25 de Abril possibilitou a
introduo de alteraes profundas na escola portuguesa e na situao profissional dos
professores, bem como o lanamento de algumas reformas significativas. O 25 de Abril tornou
possvel a gesto democrtica das escolas, a democratizao dos contedos de ensino, o acesso
de maior nmero de crianas provenientes de camadas populares educao, a democratizao
da prtica desportiva, medidas visando a valorizao da profisso docente e algumas reformas
estruturais como a unificao do ensino secundrio geral, superando-se a clssica distino entre
ensino liceal e ensino tcnico profissional, e a reforma das Escolas do Magistrio Primrio. Ainda segundo o mesmo autor, decorrente do processo democrtico de 1974 surgiu o
designado ciclo preparatrio, com a durao de dois anos. Assim, a educao passa a
estar organizada entre a escola primria, com durao de quatro anos, qual se segue o
ciclo preparatrio, com a durao de dois anos com carcter tendencialmente universal e
obrigatrio.
Com a aprovao da Lei de Bases do Sistema Educativo Lei n 46/86 de 14 de
Outubro16, a escolaridade obrigatria passou de seis para nove anos e ser percorrida
por todos os alunos segundo uma nica via. Mas este prolongamento deveria ter sido
acompanhado por aces pedaggicas, apoios sociais s famlias, entre outras iniciativas,
com a finalidade de evitar o abandono e o insucesso escolar.
Ocorre, ento, uma profunda renovao da estrutura do ensino primrio, passando pela
criao de um ensino anterior a este designado de ensino pr-escolar. Esta educao pr-
-escolar visa, fundamentalmente, o desenvolvimento intelectual, afectivo e social das
crianas, visto que estas tm um grande potencial de desenvolvimento desde o
nascimento at idade escolar.
Os edifcios escolares muito pequenos e degradados no regime anterior, assim como a
carncia de materiais e deteriorao dos mesmos, proporcionam a degradao do
ambiente material e humano da escola, factores que contriburam fortemente para o
insucesso e abandono escolares. Tornou-se necessrio a reconstruo e reconverso da
rede escolar com edifcios maiores e com melhores condies, quer a nvel de materiais
escolares e equipamentos didcticos, quer a nvel do desenvolvimento de uma rede de
transportes escolares.
16 Com alteraes introduzidas pela Lei 115/97 de 19 de Setembro.
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___________________________________________________________________ 20
Apostou-se ainda na formao inicial e contnua dos professores, bem como na
implementao de um sistema de formao coerente, tendo como base o grau superior
de qualificao cientfica e pedaggica de todos os professores e educadores.
Em Portugal surge a Educao para todos como sendo um conceito de democracia e
que garante o direito universal ao ensino. Toda a comunidade social, a famlia e a
prpria escola cooperam para que este direito seja concretizado, com vista a uma
sociedade culta, justa e com valores, baseados sempre na dignidade da pessoa humana.
Actualmente, a educao que vai desde a infncia at idade adulta, passando pelos
ensinos pr-escolar, bsico, secundrio e superior, visa a inter-relao entre o meio
social e a escola. Exige-se o domnio da lngua materna, de duas lnguas estrangeiras e
das cincias exactas e experimentais. Esta escola de cidados tem de se orientar para a
construo de uma cidadania activa, participativa e consciente. Fundamentalmente
pretende-se construir um percurso de desenvolvimento do ser-humano, das suas
capacidades morais e de discernimento de valores.
As universidades encontravam-se em profunda crise em 1974. Caracterizavam-se por
um elevado insucesso escolar, um elevado rigor na seleco dos estudantes (at com
carcter discriminatrio scio-econmico e geogrfico), e um baixo nmero de alunos
face populao. Aps a revoluo de 1974 procedeu-se democratizao do ensino
superior, promovendo a igualdade de oportunidade no acesso. Segundo Teodoro (1982,
pg. 69) apesar das vicissitudes desse tempo, registaram-se formas de degradao extrema,
transformaes positivas e responsveis em muitas escolas superiores: democratizao da gesto;
recrutamento de novos docentes de elevada competncia cientfica e pedaggica; remodelao
dos currculos, expurgando-os dos valores fascistas e acompanhando a evoluo cientfica e
tcnica.
1.2.1 - O Direito Educao no Mundo Actual
O direito educao um valor incontestado, uma conquista na maior parte da
sociedade actual, podendo at mesmo afirmar-se, por toda a sociedade actual. Este
direito internacional deve ser imparcial perante as mltiplas vises do mundo. Deve ter
a dimenso tica que lhe permita resolver os grandes problemas da Humanidade.
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O direito educao, alm de ser um direito em si, um direito que possibilita a
realizao de outros direitos fundamentais. De acordo com Jover (2001), o direito
educao um direito de segunda gerao, visto que no consta nas primeiras
declaraes do perodo moderno. A sua implantao a nvel internacional iniciou-se na
segunda metade do sculo XIX e propagou-se at a segunda metade do sculo XX,
altura em que foi acordada a Declarao Universal dos Direitos Humanos (1948)17.
Assim, a Declarao Universal dos Direitos do Homem, diz no seu artigo XXVI:
1. Toda a pessoa tem direito educao. A educao deve ser gratuita, pelo menos no que diz
respeito a ensino elementar e fundamental. O ensino elementar obrigatrio. O ensino, tcnico
e profissional deve ser generalizado; o acesso aos estudos superiores deve ser assegurado a
todos, em plenas condies de igualdade, em funo do mrito.
2. A educao deve aspirar ao pleno desenvolvimento da personalidade humana e ao
fortalecimento do respeito pelos direitos do homem e pelas liberdades fundamentais. A
educao deve favorecer a compreenso, a tolerncia e a amizade entre todas as naes e todos
os grupos raciais ou religiosos, assim como o desenvolvimento das actividades das Naes
Unidas em prol da manuteno da paz.
3. Os pais tm, por prioridade, o direito de escolher o gnero de educao a dar aos seus filhos.
4. A educao deve aspirar ao pleno desenvolvimento da personalidade humana e ao
fortalecimento do respeito pelos respeitos do homem e pelas liberdades fundamentais.
Quanto ao ponto 1 do artigo XXVI. Toda a pessoa tem direito educao afirmar um
direito educao intelectual e moral reconhecer o papel indispensvel dos factores
sociais na prpria formao do ser-humano. assumir uma responsabilidade maior do
que assegurar a possibilidade do ensino da leitura, da escrita ou do clculo; significa
exactamente garantir a todas as crianas o pleno desenvolvimento das suas capacidades
mentais e a aquisio de conhecimentos, assim como de valores morais e ticos que
correspondam ao exerccio dessas funes, at adaptao vida social (cada ser
humano adquire um conjunto de aptides que o distinguem). Presume-se tambm a
gratuitidade da educao. Em Portugal o Estado assume os encargos do funcionamento
das escolas pblicas quer ao nvel de instalaes, quer ao nvel de funcionrios docentes 17 Adoptada e proclamada pela resoluo 217 A (III) da Assembleia Geral das Naes Unidas em 10 de Dezembro de 1948.
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e no docentes. Quanto aos alunos menos favorecidos economicamente, so subsidiados
na aquisio de manuais, materiais e uso de transportes escolares; mas este apoio ainda
permanece insuficientemente generalizado, muito condicionado e seleccionado. O
ensino elementar, entenda-se como ensino bsico, obrigatrio para todas as crianas
em idade escolar (at completarem quinze anos).
No que concerne ao ponto 2, denota-se que nesta declarao houve a preocupao de
colocar em evidncia as obrigaes da sociedade na educao das crianas e jovens. No
entanto denota-se ainda a preocupao com o associar do desenvolvimento humano com
a solidariedade e respeito pelo semelhante, podendo ser considerados estes os objectivos
sociais da educao. A Declarao faz referncia, ainda, a um dos maiores problemas
com que se debatem os educadores, a Educao Internacional, que ser um ensino
ministrado em todas as escolas e que visa a manuteno da paz e o reforo do esprito
de compreenso entre os povos.
No ponto 3 salienta-se que Os pais tm, por prioridade, o direito de escolher o gnero
de educao a dar a seus filhos; o artigo XXVI confere aos pais o direito de decidir a
respeito da educao a ser ministrada aos seus educandos ou filhos. Nas nossas
sociedades e apesar das transformaes da estrutura da famlia, esta continua a ser um
pilar fundamental. Na realidade a escola tem tudo a ganhar com a aproximao dos pais
e/ou encarregados de educao nos problemas escolares. Esta aproximao leva a uma
informao mtua e este intercmbio resulta numa ajuda recproca. Pode at ocorrer
uma diviso de responsabilidades, realizando-se desta forma, a sntese desejada entre a
famlia e a escola.
Quanto ao ponto 4 A educao deve visar o pleno desenvolvimento da personalidade
humana e o reforo do respeito pelos direitos do homem e pelas liberdades fundamentais
salienta-se que este ponto do artigo no se limita a afirmar o direito educao;
determina qual a funo fundamental da educao, ou seja, promover o
desenvolvimento pleno da personalidade. Este desenvolvimento acompanhado pelo
respeito dos direitos e liberdades de todas as personalidades. No propondo nenhuma
definio de personalidade, permite o desenvolvimento em plena liberdade de todas elas.
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Assim se entende que o direito educao no apenas o acesso frequncia da escola,
tambm o direito a uma educao que vise o pleno desenvolvimento da personalidade
e o direito construo de um raciocnio e de uma conscincia moral e tica.
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2 - O PAPEL DA ESCOLA NO SCULO XXI
Durante vrias dcadas, em Portugal, o ensino, particularmente o conceito de ensino
bsico, no existiu com o significado e designao que lhe foi conferido pela actual Lei
de Bases do Sistema Educativo.
De acordo com Teodoro (1982), at 1968 o conhecido como ensino primrio tinha
como base a educao para todos, pois este conceito integrou-se com o contexto
social e poltico do Estado Novo. Este ensino caracterizava-se pela interiorizao e
memorizao de conhecimentos essenciais, pela homogeneizao de normas de conduta
pessoal e social e pela aquisio de tcnicas elementares (leitura, escrita, clculo).
Existia um nico professor que leccionava segundo um conjunto de orientaes rgidas
e j prescritas. Este ensino baseava-se na repetio e memorizao dos contedos, na
correco dos erros, no poder autoritrio e disciplinar do docente. As aprendizagens
resultantes deste processo mantinham-se estveis durante quase toda a vida dos alunos.
No final do 4 ano existia o exame da 4 classe. Era este ensino que garantia o bom
funcionamento da sociedade.
Ainda segundo o mesmo autor, entre 1968 e 1986 no domnio educativo de Hermano
Saraiva 18 e Veiga Simo19 , e do processo democrtico de 1974, ocorre o fim do
isolamento poltico e econmico do pas. Nesta altura, o conceito educao para todos
alastrou-se ao designado ciclo preparatrio, com a durao de dois anos. Assim, a
educao passa a estar organizada entre a escola primria, com durao de quatro anos e
com carcter universal e obrigatrio, qual se segue o ciclo preparatrio, com a durao
de dois anos com carcter tendencialmente universal e obrigatrio. Neste ciclo, foi
introduzido o saber dividido por vrias disciplinas, com vrios professores e com
metodologias diferentes, com espaos e tempos de aulas prprios, com regras e normas
pessoais e com uma organizao do trabalho escolar mais exigente. Estvamos perante
uma escolaridade obrigatria de 6 anos, cuja prioridade da poltica educativa era
18 Jos Hermano Saraiva Ministro da Educao Nacional de 19 de Agosto de 1968 a 15 de Janeiro de 1970. 19 Jos Veiga Simo Ministro da Educao Nacional de 15 de Janeiro de 1970 a 25 de Abril de 1974.
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possibilitar a um maior nmero de crianas uma educao de base que no fosse apenas
instruo, mas sim um pouco mais longa, exigente e consistente.
Em 1986, aprovada a Lei de Base do Sistema Educativo Lei n 46/86 de 14 de
Outubro onde se define pela primeira vez o conceito de ensino bsico. O ensino bsico
a educao fundamental, obrigatria para as crianas desde os seis aos quinze anos de
idade. Tem a durao de nove anos, distribudos por trs ciclos: o primeiro ciclo, com a
durao de quatro anos; o segundo ciclo, com a durao de dois e o terceiro ciclo, com a
durao de trs anos. Este alongamento temporal visava o desenvolvimento pessoal,
cognitivo, psicolgico, afectivo e relacional que permitisse graus mais elevados de
autonomia e responsabilidade pessoal. A funo de cada ciclo seria a de aprofundar,
complementar e alargar os objectivos e competncias do ciclo anterior.
No artigo 7. da Lei de Bases do Sistema Educativo pode-se ler a inteno em assegurar
uma formao geral comum a todos os portugueses; assim o ensino bsico destinado a
todos, universal (ou seja, a todos os jovens independentemente da etnia, caractersticas
pessoais, ideologia, condies sociais, gnero, religio, entre outros), gratuito (artigo 6.
- a gratuitidade no ensino bsico abrange propinas, taxas e emolumentos relacionados
com a matrcula, frequncia e certificao, podendo ainda os alunos dispor
gratuitamente do uso de livros e material escolar, bem como de transporte, alimentao
e alojamento, quando necessrios). Portanto o Estado garantia o direito a uma justa e
efectiva igualdade de oportunidades no acesso e sucesso escolares. Deste modo, o
Estado garante um dos direitos fundamentais do Homem o direito educao.
Esta reforma educativa foi-se tornando mais exigente face evoluo dos tempos,
nomeadamente no que diz respeito reorganizao de programas e manuais escolares,
formao contnua de professores, avaliao dos alunos, reformulao dos modelos
de organizao e gesto escolar, autonomia das escolas, etc.
Depois de vrias anlises e avaliaes ao sistema educativo detectaram-se inmeros
pontos fracos: elevado insucesso escolar em determinadas disciplinas (Lngua
Portuguesa e Matemtica), desmotivao e mau comportamento por parte dos alunos,
m preparao pelo ciclo anterior, etc.
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Perante este cenrio, e no questionando as finalidades do ensino bsico apenas se deve
corrigir o excesso de benevolncia por parte de alguns profissionais, a falta de
responsabilidade por parte dos alunos, e quem sabe, a falta de qualidade e eficcia de
que o ensino pblico era apelidado pela maioria da opinio pblica.
do conhecimento geral que o nvel de exigncia dos conhecimentos cientficos fora
diminuindo medida que a massificao e a heterogeneidade da populao escolar
aumentou. Esta diminuio da exigncia de conhecimentos foi uma das formas que se
encontrou para no se promover a excluso escolar, devido grande diversidade scio-
-cultural.
Presentemente a educao centra-se no desenvolvimento de competncias essenciais,
entendendo o Departamento do Ensino Bsico como competncia essencial noo
ampla de competncia, que integra conhecimentos e atitudes e que pode ser entendida como
saber em aco ou em uso. Deste modo no se trata de adicionar a um conjunto de
conhecimentos um certo nmero de capacidades e atitudes, mas sim de promover o
desenvolvimento integrado de capacidades que viabilizam a utilizao dos conhecimentos em
situaes diversas, mais familiares ou menos familiares aos alunos. (Currculo Nacional do
Ensino Bsico Competncias Essenciais DEB20, 2001).
O currculo21 do aluno do Ensino Bsico fica ento organizado em duas grandes reas:
as reas curriculares disciplinares (disciplinas nucleares) e as reas curriculares no
disciplinares22 Decreto de Lei n 209/ 2002 23de 17 de Outubro.
A clarificao das competncias a atingir no final da Educao Bsica sustentam-se
num conjunto de valores e princpios dos quais se salienta:
. a construo e a tomada de conscincia da identidade pessoal e social;
. a participao na vida cvica de forma livre, responsvel, solidria e crtica;
. o respeito e a valorizao da diversidade dos indivduos e dos grupos quanto s suas
pertenas e opes
20 DEB Departamento de Educao Bsica. 21 Segundo Roldo, M. C. (1999, pg.24) currculo o conjunto das aprendizagens que, por se considerarem socialmente necessrias num dado tempo e contexto, cabe escola garantir e organizar. 22 reas Curriculares No Disciplinares: rea de Projecto, Estudo Acompanhado e Formao Cvica. 23 Decreto de Lei n 209 / 2002 de 17 de Outubro define as alteraes Organizao Curricular.
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Como afirma Ponte (1997, pg.1), "o papel fundamental da escola j no o de preparar uma
pequena elite para estudos superiores proporcionar grande massa os requisitos mnimos para
uma insero rpida no mercado de trabalho". Pelo contrrio o seu papel passou a ser o de
preparar a totalidade dos jovens para se inserirem de modo criativo, crtico e
interveniente numa sociedade cada vez mais complexa, em que a capacidade de
discernir oportunidades, a flexibilidade de raciocnio, a adaptao a novas situaes, a
persistncia e a capacidade de interagir e cooperar so qualidades fundamentais. neste
contexto que se situa o papel da escola no sculo XXI: educar para o pleno
desenvolvimento humano, nas suas mais diversas facetas. H um regresso dos valores
s polticas educativas e educao escolar. A educao moral do cidado est no
corao da prpria aco educacional.
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3 - O SISTEMA EDUCATIVO
Define-se como Sistema Educativo o conjunto de meios pelo qual se concretiza o direito
educao, que se exprime pela garantia de uma permanente aco formativa orientada para
favorecer o desenvolvimento global da personalidade, o progresso social e a democratizao da
sociedade24.
3.1 - Lei de Bases do Sistema Educativo Na Lei de Bases do Sistema Educativo Lei n 46/86 de 14 de Outubro, com alteraes
introduzidas pela Lei 115/97 de 19 de Setembro encontra-se definido o quadro geral
do Sistema Educativo. A Constituio da Repblica Portuguesa25 definiu os princpios
gerais pelos quais se deve reger a poltica educativa, levando caducidade da Lei de
Veiga Simo (nunca regulamentada), surgindo uma nova Lei de Bases do Sistema
Educativo. Segundo esta Constituio da exclusiva competncia da Assembleia da
Repblica legislar sobre o sistema de ensino.
Esta Lei resultou de uma presso social, nomeadamente na dcada de 80, proveniente
dos sindicatos de professores, associaes de pais e de estudantes, conscientes da
necessidade de clarificao e actualizao da estrutura do sistema escolar e de evitar a
tomada de medidas avulsas, por vezes at antagnicas e incoerentes (tomadas pelos
sucessivos governos at ento). Assim, a presente Lei visava um quadro de estabilidade
que se concretizava num plano de desenvolvimento a mdio prazo do sector educativo.
A Lei constituda por 64 artigos, agrupados em 9 captulos. Os captulos e os artigos
tm epgrafes, isto , tm ttulos que indicam a natureza e o contedo do respectivo
captulo ou artigo.
3.2 - mbito da aplicao da Lei Este tema est contido no artigo 1. do captulo I dividido em cinco nmeros. Em
primeiro lugar indicado que a Lei estabelece o quadro geral do Sistema Educativo.
enunciado o direito constitucional educao segundo trs fundamentos: o pleno
24 Lei de Bases do Sistema Educativo - captulo I artigo 1. - nmero 2. 25 Aprovada e decretada pela Assembleia Constituinte, reunida na sesso plenria de 2 de Abril de 1976.
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desenvolvimento global da personalidade, o progresso social e a democratizao da
sociedade, sendo estes os objectivos a que se destinam o sistema educativo.
Outro princpio importante o que define que a responsabilidade de desenvolvimento
do sistema educativo pertence a instituies pblicas, particulares e cooperativas, com
clara repartio de responsabilidades e iniciativas e consequente desresponsabilizao
ou menor participao do Estado. Este princpio vem manifesto noutras situaes, por
exemplo, em relao educao pr-escolar (5. - 5)26, educao extra-escolar (23. -
-5), educao especial (18. - 6) e ao ensino particular e cooperativo (55. - 56. - 1).
A essncia geral da Lei consagra uma forte presena estatal no sistema educativo que
contaria esta repartio por outras entidades sociais, permanecendo uma certa
indefinio da Lei relativamente s competncias de cada um.
Outro aspecto importante diz respeito ao mbito geogrfico do sistema educativo, sendo
que do ponto de vista territorial so dois os territrios onde o sistema educativo
portugus se pode desenrolar: o territrio nacional (continental e regies autnomas) e
todas as iniciativas desenvolvidas em pases estrangeiros (onde existam comunidades
portuguesas e que tenham interesse pelo desenvolvimento e divulgao da cultura
portuguesa). Desta forma fica impossibilitado a definio de modelos educativos,
finalidades e contedos programticos diferenciados sobre o ponto de vista regional o
sistema educativo nico e uniforme em todo o territrio portugus.
Curricularmente, apenas o ensino superior pode diversificar os seus modelos, no
dependendo das regies, mas apenas das instituies. Os planos curriculares do ensino
bsico e secundrio so estabelecidos escala nacional, podendo as suas componentes
apresentar caractersticas de ndole regional e local, quando estas se justificarem pelas
condies scio-econmicas (47. - 4 e 5).
Finalmente, no menos importante e indito a atribuio de toda a responsabilidade e
coordenao da poltica educativa a um nico ministrio (o Ministrio da Educao), 26 Os nmeros e/ou alneas, colocados entre parntesis no meio/fim do texto, referem-se ao nmero do artigo da Lei de Bases, e/ou nmeros e alneas do mesmo artigo. Por exemplo, (5.) refere-se ao artigo 5. da Lei; (5. - 5) indica-se o nmero 5 do artigo 5. da Lei; e por ltimo (5. 5 b) refere-se alnea b) do nmero 5 do artigo 5. da Lei.
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sendo que a educao em todas as instituies a nvel territorial, seja, regulamentada
pela aco poltico-governamental do Ministrio da Educao.
3.3 - Princpios do Sistema Educativo Os princpios consagrados ao longo de toda a Lei so trs: princpios gerais, princpios
organizativos e princpios especficos ou particulares. Os dois primeiros so princpios
consagrados nos artigos 2. e 3. e so de orientao geral, e o ltimo de natureza
finalista.
Em relao ao conjunto de princpios gerais salientam-se:
- o direito educao e cultura;
- a promoo da democratizao do ensino, garantindo o direito a uma justa e efectiva
igualdade de oportunidades no acesso e sucesso escolares;
- liberdade de aprender e ensinar e com tolerncia para as escolhas possveis;
- o impedimento para o Estado de programar a educao e a cultura segundo qualquer
directriz filosfica, esttica, poltica, ideolgica ou religiosa;
- o ensino no confessional;
- o direito criao de escolas cooperativas e particulares.
Tambm estruturada uma definio de modelo de cidado a ser educado, assim o
cidado ideal dever ser:
- livre;
- responsvel;
- autnomo;
- solidrio;
- possuidor de um esprito:
. democrtico e pluralista;
. respeitador dos outros e das suas ideias;
. aberto ao dilogo e livre troca de opinies;
. crtico e criativo relativo ao meio social;
. capaz de uma reflexo consciente relativo aos valores espirituais, estticos,
morais e cvicos;
- possuidor de capacidade para o trabalho, para a vida activa e ainda para a utilizao
criativa dos tempos livres.
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A Lei define o modelo de cidado mas no define o modelo de sociedade em que o
cidado se vai inserir. Pode-se concluir que o Homem o centro do processo educativo,
com uma ntida valorizao deste na sociedade onde se inclui a escola. Este aspecto
confirma-se pelo posicionamento da Lei no que se refere valorizao da dimenso
humana do trabalho (2. - 4), isto , numa relao indivduo/trabalho, a formao do
indivduo faz-se com vista, no sua adequao ao trabalho, mas antes com a sua
adequao dimenso humana.
A sociedade portuguesa concebida em termos da identidade nacional e de fidelidade
matriz histrica de Portugal, no quadro da tradio universalista europeia e da
independncia e solidariedade entre todos os povos do mundo. Define-se uma
hierarquia de modelos histricos sociais: portugus, europeu e mundial.
Finalmente, consideram-se os princpios que influenciam directamente o modelo
organizativo do sistema educativo, que visam:
assegurar a formao:
. moral e cvica;
. para o trabalho (sempre tendo em ateno os interesses, capacidades e vocao)
- descentralizar, desconcentrar e diversificar as estruturas e aces educativas;
- desenvolver a participao das populaes nas aces educativas, nomeadamente
alunos, docentes e famlias, na definio da poltica educativa, na administrao e
gesto do sistema escolar e na experincia pedaggica quotidiana;
- assegurar a existncia de uma escolaridade de segunda oportunidade;
. assegurar a igualdade de oportunidade para ambos os sexos.
No entanto, nem todos os princpios referenciados tm a devida expresso no
desenvolvimento, real, da Lei.
3.4 - Organizao Geral do Sistema Educativo 3.4.1 Organigrama
A Lei ocupa-se de todo o sistema educativo, sendo que a maior parte, 62 dos 64 artigos,
referem-se educao escolar ou sistema de ensino.
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A educao no escolar est distribuda por dois tipos de educao de carcter diferente:
educao pr-escolar e educao extra-escolar. A educao pr-escolar antecede a
educao escolar, articulando-se entre si. A educao extra-escolar pode-se realizar em
qualquer momento da vida, no significando que no ocorra na escola, mas que v para
alm desta (ex. actividades de alfabetizao, de aperfeioamento, actualizao cultural e
cientfica).
A Lei organiza o Sistema Educativo dividindo-o em trs sistemas diferenciados:
- educao pr-escolar;
- educao escolar;
- educao extra-escolar.
O sistema de educao escolar, sistema escolar ou sistema de ensino constitudo por
trs partes/nveis sequenciais:
- ensino bsico;
- ensino secundrio;
- ensino superior.
O ensino bsico desenrola-se ao longo de nove anos, organizados por trs ciclos
sequenciais, sendo designados por: 1, 2 e 3 ciclos, com a durao, respectivamente,
de quatro, dois e trs anos.
O ensino secundrio tem a durao de trs anos, compreendendo o 10, 11 e 12 ano.
O ensino superior organiza-se no ensino universitrio e no ensino politcnico. A
durao dos cursos do ensino superior varivel, dependendo do grau acadmico
conferido, existindo uma articulao entre este e a complexidade.
A Lei introduziu vrias alteraes, nomeadamente, na extenso do ensino bsico para
nove anos obrigatrios. No entanto os trs ciclos deste ensino passam a ser articulados
como um todo entre si, pelas correspondentes organizaes curriculares e respectivos
contedos, constituindo um todo nico.
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No quadro seguinte pretende-se fazer uma breve sntese entre o sistema de ensino
anterior e aquele que definido pela Lei actual:
Organigrama anterior Lei Organigrama definido pela Lei actual
Ensino primrio
Ensino preparatrio
Ensino secundrio unificado
Ensino secundrio complementar (+12
ano)
Ensino universitrio
Ensino superior politcnico
Ensino bsico (1ciclo)
Ensino bsico (2ciclo)
Ensino bsico (3ciclo)
Ensino secundrio
Ensino universitrio
Ensino politcnico
3.4.2 - Administrao geral do sistema
Tal como foi referenciado anteriormente, atribuda a responsabilidade pela
coordenao da poltica do sistema educativo a um nico ministrio, presumivelmente o
Ministrio da Educao, sendo o topo, da hierarquia administrativa relativamente a
questes educativas, que tm como competncias:
- concepo , planeamento e definio do sistema educativo;
- coordenao global e avaliao da execuo do normativo aplicado ao sistema
educativo;
- inspeco e tutela em geral;
- definio dos normativos relativamente rede escolar, da tipologia das escolas e do
seu apetrechamento;
- garantia da qualidade dos meios didcticos em especial dos manuais escolares.
Num segundo patamar ou nvel encontra-se a administrao, que so os departamentos
regionais de educao (4. - 2). So consideradas estruturas centralizadas, que se
ocupam de todos os sectores educativos. As competncias da administrao regional so
inmeras, salientando-se as seguintes:
- orientao administrativa das escolas;
- colocao dos docentes;
- colocao do pessoal no docente;
- orientao e apoio pedaggico;
- definio do ano escolar;
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- regime de frequncia de alunos;
- construes de espaos escolares;
- apetrechamento das escolas;
- gesto da aco social;
- apoio psicolgico e orientao escolar e profissional;
- apoio de sade escolar;
- etc.,
A Lei prev ainda, um terceiro nvel dedicado a estruturas de carcter local que
assegurem a interligao do sistema educativo com a comunidade (43. - 2), com a
participao das autarquias e municpios.
Assim, conclumos que a administrao envolve a participao, a todos os nveis, dos
alunos, dos professores, das famlias, das autarquias, de entidades das actividades
sociais, econmicas e culturais e ainda instituies de carcter cientfico.
3.5 - Educao No Escolar No seguimento do anteriormente exposto a educao no escolar constituda por dois
sectores: a educao pr-escolar e a educao extra-escolar.
3.5.1 - Educao pr-escolar
o sector da educao que precede a educao escolar, integrando crianas desde os
trs anos de idade at ao ingresso no primeiro ciclo do ensino bsico. Apresenta uma
especificidade e autonomia em relao educao escolar, apresentando, ainda,
objectivos prprios. Revela uma natureza no preparatria do primeiro ciclo do ensino
bsico. So desempenhadas por profissionais qualificados os denominados educadores
de infncia.
3.5.2 - Educao extra-escolar
Visa, numa perspectiva de educao permanente e de continuidade da aco educativa,
aumentar os conhecimentos de cada um e desenvolver as suas potencialidades em complemento
da formao escolar recebida ou em suprimento da que no pode obter (23. - 1). Esta
educao distinta da educao escolar, pois adquirem-se saberes e conhecimentos que
no so certificadas por diplomas, resultando sim, um crescimento ou benefcio interior.
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Assim, a educao extra-escolar realiza-se, fundamentalmente, em quatro domnios
diferentes:
- alfabetizao e educao de adultos;
- actividades de reconverso e aperfeioamento profissional, pelo desenvolvimento das
aptides tecnolgicas e do saber tcnico;
- educao cvica;
- educao para a ocupao dos tempos livres.
3.6 - Ensino Bsico 3.6.1 - Caractersticas Essenciais
A presente Lei alterou profundamente o ensino bsico, nomeadamente, a sua estrutura,
organizao filosfica e at concepo.
O ensino bsico passou a ter caractersticas como:
- extenso de nove anos;
- organizao em trs ciclos sequenciais;
- unidade global ao longo dos trs ciclos;
- no sentido desta sequencialidade, cada ciclo tem como funo completar, alargar e
aprofundar o ciclo anterior ( desaparece a ideia anterior de cada ciclo preparar o
prximo);
- a subordinao dos objectivos especficos de cada ciclo aos objectivos gerais,
conferindo desta forma uma unidade global ao ensino bsico;
- a gradual passagem de professor nico , no primeiro ciclo, para o professor por
disciplina, no terceiro ciclo, passando pelo professor por rea no segundo ciclo. Assim
previne-se a passagem brusca de um s professor (1 ciclo) para um elevado nmero de
docentes (3 ciclo);
- a possibilidade de lhe ser conferido o diploma no final do ensino bsico, tal como, o
certificado de aproveitamento de qualquer ano ou ciclo;
- existncia de escolas especializadas do ensino bsico no domnio do ensino artstico
ou educao fsica ou desportiva;
- unidade do modelo de administrao escolar .
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3.6.2 - Organizao Curricular
A organizao curricular diferente nos trs ciclos, assim:
- o primeiro ciclo est organizado de uma forma interdisciplinar, coordenada por um
nico professor, coadjuvado por reas especificas, por exemplo, educao fsica e
educao artstica;
- o segundo ciclo esta organizado em reas interdisciplinares, tais como:
. formao humanstica;
. formao artstica;
. formao fsica e desportiva
. formao cientfica e tecnolgica;
. educao moral e cvica.
- o terceiro ciclo est organizado por disciplinas integrando reas vocacionais diversas,
sendo essas do mbito:
. humanstico;
. literrio;
. artstico;
. fsico e desportivo;
. cientfico e tecnolgico.
Os planos curriculares podem integrar o ensino da religio e moral catlica ou outras
religies, a ttulo facultativo. Os planos curriculares do ensino bsico so estabelecidos
a nvel nacional, podendo, no entanto, ser flexveis e conter componentes regionais.
3.7 - Objectivos do Ensino Bsico O objectivo essencial do ensino bsico assegurar uma formao geral comum a todos os
portugueses (7. - a). Salienta-se que o ensino bsico proporciona uma formao que
geral e no especfica, que ainda, comum e no diferenciada socialmente, bem como,
universal pois destinada a todos a toda a populao.
Ao se efectuar a anlise dos objectivos podem juntar-se em vrios grupos ou planos, tais
como:
3.7.1 - plano pessoal, onde se pretende a descoberta e o desenvolvimento:
. dos interesses e aptides de cada um;
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. do esprito criativo e da criatividade;
. da capacidade de memria e de raciocnio;
. do sentido moral e da sensibilidades esttica;
. das aptides fsicas e motoras.
3.7.2 - no plano do relacionamento social pretende-se:
. a realizao individual em harmonia com a solidariedade social;
. o desenvolvimento da maturidade cvica e scio - afectiva;
. a aquisio de atitudes autnomas, civicamente responsveis e
democraticamente intervenientes;
. o desenvolvimento da conscincia nacional, numa perspectiva do humanismo
universalista e da solidariedade e da cooperao internacional;
. o aprofundamento desta conscincia nacional pelo desenvolvimento da lngua,
da histria e da cultura portuguesa.
3.7.3 - no plano das aquisies cognitivas pretende-se:
. combinar o saber e o saber fazer, a teoria e a prtica, a cultura escolar e a
cultura do quotidiano;
. promover interesse pela actualizao de conhecimentos tendo em vista uma
permanente valorizao pessoal do saber;
. promover no desenvolvimento curricular a valorizao e a organizao dos
saberes, tendo em vista a possibilidade:
- do prosseguimento de estudos;
- da insero em esquemas de formao profissional;
- da aquisio de mtodos e instrumentos de trabalhos pessoal e
em grupos que levem valorizao da dimenso humana do
trabalho.
3.7.4 - no plano do comportamento, cabe escola:
. criar condies de promoo escolar e educativa para todos os alunos;
. colabora com as famlias , pela participao no processo de informao e
orientao educacionais;
. e , por fim, dedicar ateno especial s crianas com necessidades educativas
especiais.
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3.8 - Escolaridade Obrigatria A escolaridade obrigatria coincide com a durao do ensino bsico, ou seja, ocorreu
um alargamento para nove anos (6. 1). A Lei define os limites de frequncia, ou seja
tem incio aos seis anos e termina aos quinze anos (6. 2, 3 e 4).
O ensino bsico alm de obrigatrio tambm gratuito, mas essa gratuitidade est
especificada na Lei da seguinte forma:
- pela iseno do pagamento de propinas, taxas e emolumentos relacionados com a
matrcula, frequncia e certificao;
- a possibilidade de se dispor gratuitamente do uso de livros e material escolar;
- a possibilidade do uso de transporte, alimentao e alojamento, quando necessrios.
Com a imposio da escolaridade obrigatria o Estado teve que garantir a gratuitidade
do ensino. Teve ainda que garantir actividades de apoio e complemento educativo, tais
como:
- apoios a alunos, do ensino bsico, com necessidades escolares especficas;
- apoio psicolgico e orientao escolar e profissional;
- aco social escolar;
- apoio de sade escolar.
Estes apoios e complementos educativos pretendem promover e contribuir para o
sucesso da escolaridade obrigatria.
3.9 - Ensino Secundrio 3.9.1 - Caractersticas Essenciais
O ensino secundrio compreende o 10, 11 e 12 anos de escolaridade e representa uma
mudana qualitativa em relao ao ensino bsico, pois deixa de ser geral e comum e
passa a ser especializado e diversificado. Deixa ainda de ser obrigatrio e acrescendo a
isso a preocupao essencial de preparao para a vida activa, baseada numa formao
tecnolgica, resultante da sntese entre o pensamento e a aco, ente a teoria e a prtica.
Podem-se resumir os objectivos fundamentais do ensino secundrio como sendo a
preparao de um cidado tecnologicamente especializado, capaz de contribuir para o
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progresso social pela sua qualificao profissional e pela sua capacidade de exercer a
cidadania de uma forma consciente e informada.
3.9.2 - Estrutura e Organizao
O ensino secundrio est organizado num nico ciclo com a durao de trs anos,
estruturado em cursos distintos, que so de dois tipos:
- cursos predominantemente orientados para a vida activa (cursos
tecnolgicos/profissionais);
- cursos predominantemente orientados para o prosseguimento de estudos (cursos
cientfico-humansticos).
O acesso a qualquer curso do ensino secundrio, independentemente do tipo de curso,
ou da especificidade da sua formao cientfica, est aberta a qualquer aluno que tenha
completado com sucesso/aproveitamento o ensino bsico (10. - 1), bem como, da
modalidade de educao escolar (16.).
3.10 - Modalidades Especiais de Educao Escolar As modalidades especiais da educao escolar fazem parte da educao escolar, estando
previstas na lei:
- a educao especial;
- a formao profissional;
- o ensino recorrente de adultos;
- ensino distncia;
- o ensino portugus no estrangeiro.
Cada modalidade distinta das outras, destinadas a grupos especficos, com
metodologias prprias, podendo existir pontos de contacto entre as diversas
modalidades, como por exemplo o ensino do portugus distncia, neste caso, no
estrangeiro.
3.10.1 - Educao Especial
A educao especial visa a recuperao e integrao scio-educativas dos indivduos com
necessidades educativas especficas devido a deficincias fsicas e mentais (17. - 1). A
educao especial integra aces dirigidas aos alunos, s famlias, aos educadores e
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comunidade, realizando-se segundo modelos diversificados. A escolaridade bsica para
crianas e jovens deficientes devem ter currculos e programas devidamente adaptados s
caractersticas de cada tipo de deficincia, assim como, formas de avaliao adequadas s
dificuldades especficas (18. - 4).
3.10.2 - Apoios e Complementos Educativos, Recursos Fsicos e Recursos Educativos
As actividades e medidas de apoio e complemento educativo, tm como objectivo
contribuir para a igualdade de oportunidade de acesso e ao sucesso escolar. Aquelas
previstas na Lei so as seguintes:
- apoio a alunos com necessidades escolares especficas;
- apoio psicolgico e orientao escolar e profissional;
- aco social escolar;
- apoio de sade escolar;
- apoio a trabalhadores-estudantes.
3.10.2.1 - Apoio a alunos com necessidades escolares especficas
Destina-se a alunos que frequentem o ensino bsico, apresentando-se sobre a forma de
actividades de acompanhamento e complemento pedaggico.
3.10.2.2 - Apoio psicolgico e orientao escolar e profissional
Neste domnio a Lei (26.) prope trs tipos de apoio:
- desenvolvimento psicolgico dos alunos;
- orientao escolar e profissional;
- apoio psicopedaggico s actividades educativas e ao sistema de relaes na
comunidade escolar.
Estas actividades de apoio so promovidas por servios de psicologia, orientao
escolar e profissional ou inseridas em estruturas regionais escolares.
3.10.2.3 - Aco social escolar
A aco social escolar intervm na educao escolar e na educao pr-escolar. Os
alunos que beneficiam desta aco so os mais carenciados, do ponto de vista
econmico, segundo critrios de discriminao positiva que promovam a compensao
social e educativa.
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Dentro dos tipos de aces sociais destacam-se:
- manuais e materiais escolares
- comparticipao de refeies;
- transporte;
- alojamento;
- bolsas de estudo.
3.10.2.4 - Apoio de sade escolar
O principal objectivo da existncia de um apoio de sade escolar o acompanhamento
do saudvel crescimento e desenvolvimento dos alunos (28.). Este apoio assegurado por
servios especializados dos centros de sade ou por servios prprios.
3.10.2.5- Apoio a trabalhadores-estudantes
Pretende-se criar condies que permitam a aquisio de conhecimentos, a progresso
no sistema de ensino e a formao profissional adequada sua valorizao pessoal.
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4 - PSICOPATOLOGIAS DETECTADAS NOS ALUNOS,
EM CONTEXTO ESCOLAR
A Psicologia Clnica pode ser definida como o ramo da psicologia que tem por objecto
o estudo, a avaliao e a interveno nos problemas e nas perturbaes psquicas, bem
como da componente psquica das perturbaes somticas (Huber, 1993). O seu objecto
pois um organismo biolgico, situado num contexto social com o qual interage,
possuindo uma histria e caracterizado pela sua reflexividade, ou seja, um organismo
bio-psico-social.
A adolescncia uma etapa do desenvolvimento que implica rpidas modificaes
fsicas, psicolgicas, cognitivas e scio-culturais, tendo como finalidade a aquisio da
autonomia e identidade. A pluralidade de contextos sociais e interpessoais constitui um
conjunto de desafios e de factores de risco para o adolescente que podem ter
consequncias na sua sade e no seu ajustamento social e emocional. A adolescncia
sendo um perodo de grande actividade fsica e psicolgica, de escolhas e oportunidades,
constitui por isso um perodo crtico e, por consequncia, de desenvolvimento de
comportamentos e atitudes de responsabilidade perante a sade (Matos, 1999).
Actualmente, a taxa de mortalidade e morbilidade apresentadas pelos adolescentes o
resultado dos estilos e formas de estar na vida, sendo que os factores de risco de uma
atitude de vida saudvel relacionam-se com o uso e abuso de substncias, a violncia e
delinquncia, a psicopatologia (depresso, distrbios do comportamento alimentar), a
gravidez e as doenas sexualmente transmissveis (DiClemente, Hansen & Ponton,
1996).
importante que os adultos (profissionais da educao e sade, pais e famlia, etc.)
criem condies para que os jovens e crianas aprendam e desenvolvam as suas
competncias pessoais e sociais, a sua capacidade de resoluo de problemas e tomada
de decises, de gesto de conflitos interpessoais e de comunicao, de forma a facilitar
o desenvolvimento da capacidade de escolha de um estilo de vida saudvel, assim,
como a sua manuteno.
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Se considerarmos com Cristoph Djours (2000) que, a sade a capacidade de cada
homem, mulher ou criana para criar e lutar pelo seu projecto de vida, pessoal e original,
em direco ao bem estar, cabe sem dvida aos sistemas educativos, perante o
conhecimento rigoroso das caractersticas e dimenso dos problemas de sade,
condicionados pelos comportamentos, para eles construir respostas preventivas que so
parte integrante da formao global do cidado.
Conhecer as psicopatologias que atingem os adolescentes/crianas integrados nos
sistemas educativos , em nosso entender, condio determinante para poder intervir
adequadamente com estratgias preventivas.
Segundo a Enciclopdia Wikipdia (2007)27, Psicopatologia um termo que se refere
tanto ao estudo dos estados mentais patolgicos, quanto manifestao de
comportamentos e experincias que podem indicar um estado mental ou psicolgico
anormal. O termo de origem grega; psykh significa esprito e patologia, estudo das
doenas e seus sintomas.
Karl Jaspers,28 (1913) o responsvel por tornar a psicopatologia uma cincia autnoma
e independente da Psiquiatria, afirmando que o objectivo desta "sentir, apreender e
reflectir sobre o que realmente acontece na alma do Homem".
A psicopatologia fundamenta-se atravs da observao e sistematizao de fenmenos
do psiquismo humano e presta a sua indispensvel colaborao aos profissionais que
trabalham com sade mental, em especial os psiquiatras, os psiclogos, os assistentes
sociais, os professores, entre outros.
Neste captulo ir fazer-se referncia s psicopatologias detectadas com mais frequncia
em contexto escolar, segundo o Manual de Psicopatologia de Cheniaux, 2005. Ser
realizada uma descrio de cada psicopatologia baseada no American Psychiatric
Association DSM-IV-TR Manual de Diagnstico e Estatstica das Perturbaes
Mentais, 2002.
27 Actualizada a 3 de Novembro de 2007. 28 Karl Theodor Jaspers filsofo e psiquiatra alemo, nasceu a 1883 e faleceu em 1969. Escreveu em 1913 o livro Psicopatologia Geral.
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4.1 - Perturbao da Hiperactividade e Dfice de Ateno Esta perturbao apresenta como principal caracterstica um padro persistente de falta de
ateno e/ou impulsividade hiperactividade, com uma intensidade que mais frequente e
grave que o observado habitualmente nos sujeitos com um nvel semelhante de
desenvolvimento (DSM-IV-TR, 2002, pg. 85). Salientamos que estes comportamentos
devem manifestar-se antes dos sete anos de idade, mas podem ser diagnosticados
bastantes mais tarde, depois de terem sido considerados durante anos, crianas
desatentas. Estes problemas normalmente devem ser detectados em duas situaes (por
exemplo: casa - escola, etc.).
As faltas de ateno podem manifestar-se em situaes escolares, sociais etc. Os
sujeitos com esta perturbao podem no dar ateno suficiente aos pormenores ou podem
cometer erros de descuido nas tarefas escolares ou noutras tarefas. (DSM-IV-TR, 2002, pg.
85). Os alunos revelam dificuldades de concentrao nas tarefas propostas e os seus
trabalhos so incompletos, desorganizados e por vezes incorrectos, devido
essencialmente referida dificuldade. Revelam uma atitude alheada das tarefas
escolares, assim como dificuldade em finalizar as tarefas propostas. So alunos com
facilidade para se distrarem com estmulos irrelevantes (rudos, sinais, etc.) quando
comparados com alunos de padro normal, tambm apresentam diversas faltas de
material por esquecimento. Apresentam, normalmente, insucesso escolar motivado pela
falta de concentrao e hbitos de estudo.
Segundo o DSM-IV-TR, em situaes sociais esta perturbao pode manifestar-se por
frequentes mudanas na conversa, no prestar ateno aos outros, no manter um raciocnio na
conversa e no seguir os pormenores ou as regras de jogos ou actividades. (2002, pg. 86).
Quanto hiperactividade manifesta-se pela dificuldade em se manter quieto, quando o
deve fazer. A hiperactividade pode manifestar-se por estar inquieto ou mover-se quando est
sentado, no ficar sentado quando se espera que o faa, correr ou saltar excessivamente em
situaes em que inadequado faz-lo, ter dificuldades em brincar ou actuar tranquilamente em
actividades de lazer, frequentemente andar ou actuar como se ou frequentemente falar em excesso. (DSM-IV-TR, 2002, pg. 86). Esta perturbao varia
dependendo da idade e do nvel de desenvolvimento do sujeito. Por exemplo, em
crianas em idade pr-escolar esta perturbao manifesta-se por serem muito activas
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com dificuldades em participarem em actividades sedentrias. Nas crianas de idade
escolar, alm de demonstrarem os mesmos comportamentos, mas com menor frequncia,
tm dificuldade em se concentrarem nas tarefas escolares, pois no conseguem estar
quietos, podendo ainda, conversar muito. Nos adolescentes esta perturbao dificulta a
dedicao a actividades sedentrias e tranquilas, tornando-se pessoas instveis e
inquietas.
A impulsividade, caracterstica tpica das pessoas com esta perturbao, manifesta-se
por impacincia, dificuldade para adiar respostas, precipitao das respostas antes que as
perguntas tenham acabado, dificuldade em esperar pela sua vez, interromper ou interferir
frequentemente com os outros ao ponto de provocarem problemas em situaes sociais,
escolares ou laborais. (DSM-IV-TR, 2002, pg. 86). Normalmente, so pessoas que
emitem comentrios inoportunos, desadequados ao contexto, interrompem conversas.
Por vezes, envolvem-se em actividades perigosas, no medindo as consequncias dos
seus actos.
Os alunos com perturbao da hiperactividade e dfice da ateno normalmente
apresentam um rendimento escolar mais baixo As caractersticas associadas variam
dependendo da idade e estdio de desenvolvimento e podem incluir uma baixa tolerncia
frustrao, arrebatamentos emocionais, teimosia, insistncia excessiva e frequente em que as
suas exigncias sejam satisfeitas, labilidade emocional, desmoralizao, disforia, rejeio pelos
companheiros e baixo autoestima. Com frequncia, o rendimento escolar est afectado e
desvalorizado, o que tipicamente conduz a conflitos com a famlia e autoridades escolares
(DSM-IV-TR, 2002, pg. 87 - 88).
Esta perturbao pode ocorrer em qualquer cultura, com valores diferentes de
prevalncia nos diferentes pases ocidentais, o que pode ser explicado provavelmente
devido a prticas de diagnstico diferentes e no devido a diferenas na apresentao clnica do
quadro. (DSM-IV-TR, 2002, pg. 89).
Segundo, o DSM-IV-TR (2002) a prevalncia desta perturbao est estimada entre 3 a
7% das crianas em idade escolar (taxas que variam segundo a natureza da amostra
populacional e o mtodo de avaliao). Esta perturbao mais frequente em pessoas
do sexo masculino. Os dados referentes adolescncia so ainda imprecisos.
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