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Goiânia - GO, 27 a 30 de julho de 2014
SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
ANÁLISE DO INVESTIMENTO EM PESQUISA CAFEEIRA DO INSTITUTO
AGRONÔMICO DE CAMPINAS - IAC POR MEIO DO RESÍDUO DE SOLOW
Autor(es) 1Matheus Gomes Gonçalves da Silva,
2Flavia Maria de Mello Bliska,
3Patrícia
Helena Nogueira Turco, 4Julia Silva Caiado
Filiação: 1Economista/Esalq, Bolsista FAPESP-Treinamento Técnico III,
2 Centro de Café
IAC, 3Depto-Descentralização do Desenvolvimento – DDD/APTA,
4
Economista/Unicamp, bolsista FAPESP – Treinamento Técnico III
E-mail: 1matheusggs@gmail.com;
2 bliska@iac.sp.gov.br;
3 patyturco@apta.sp.gov.br;
4juliacaiado@gmail.com
Grupo de Pesquisa: Evolução e Estrutura da Agropecuária no Brasil
Resumo
O objetivo deste estudo é realizar uma análise custo-benefício dos investimentos realizados
pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC) em pesquisas relacionadas ao setor cafeeiro,
com a finalidade de verificar se os retornos sociais, delas oriundos, são positivos. A
metodologia utilizada foi o Resíduo de Solow: estima-se uma série de Produtividade Total
dos Fatores que é relacionada estatisticamente com uma série de dispêndios ou estoque de
pesquisa. Os coeficientes obtidos nos permitem verificar a média do retorno para cada
unidade monetária investida. Os resultados mostram que entre 1931 e 2012 a cafeicultura
brasileira apresentou um crescimento médio de 13,88 kg por hectare ao ano. A despeito da
redução na área plantada nesse período, o aumento da produção ocorreu graças à perceptível
mudança no comportamento da série de produtividade média da terra. Dentre os fatores que
contribuiram para isso destacam-se: a incorporação da variedade Mundo Novo pelo mercado,
lançada em 1952, um marco da pesquisa do IAC; a enorme presença de material genético
gerado no instituto, na área cultivada de café no Brasil, que possibilitou diretamente o
incremento da produtividade pelo melhoramento genético e, indiretamente, pela possibilidade
de mecanização; e a atuação do IAC nas áreas de mecanização, adubação, correção de solo,
poda, adensamento da lavoura e irrigação – técnicas ligadas à modernização da agricultura.
Palavras-chave: Modernização da agricultura; Inovação; Análise custo-benefício; Café.
Abstract
The aim of this study is to conduct a cost - benefit analysis of investments made by the
Agronomic Institute of Campinas (IAC) in research related to the coffee production system, in
order to verify if the social returns analysis, stemming there from, are positive. The
methodology used was the Solow Residual. We estimate a series of Total Factor Productivity
and statistically we associated it with a series of expenditures or inventory search. The
coefficients obtained allow us to check the average return for each monetary unit invested.
The results showed that in the period 1931 to 2012 the Brazilian coffee sector presented an
average growth of 13.88 kg per hectare per year. Despite the reduction in planted area in that
period, the increase in production was due to the noticeable change in the behavior of the
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series of average land productivity. Some factors contributed to this prominently:
incorporation of Mundo Novo cultivar, by market, released in 1952, a landmark study of IAC;
the massive presence of genetic material generated in this institute, in the cultivated area of
coffee in Brazil, which directly enabled increased productivity by breeding and, indirectly, by
the possibility of mechanization; and the action of IAC in the areas of mechanization,
fertilization, soil improvement, pruning, farming spacing and irrigation - techniques related
to the modernization of agriculture.
Key words: Agricultural modernization; innovation; Cost-benefit analysis; Coffee.
1. Introdução
O cultivo do café chegou à região de Campinas em 18101. Nessa época, o Estado de São
Paulo tornou-se o centro da economia brasileira, em função da expansão da cafeicultuta. Por
solicitação geral dos cafeicultores do Estado, foi criada pelo imperador D.Pedro II, em 1887, a
Imperial Estação Agronômica de Campinas2, para fornecer suporte técnico ao
desenvolvimento cafeeiro; em 1892 a Estação passou para a administração do Governo
estadual e seu nome foi alterado para Instituto Agronômico do Estado de São Paulo3,
posteriormente conhecido por Instituto Agronômico de Campinas – IAC.
O município de Campinas deixou de ser importante produtor de café há muitas décadas
e o Estado de São Paulo deixou de ser o maior produtor brasileiro – encontra-se na terceira
posição quanto ao volume de café produzido no País. Atualmente a produção cafeeira se
extende a 17 Estados, porém se concentram nos Estados de Minas Gerais, Espírito Santo, São
Paulo, Bahia, Paraná e Rondônia, onde ocorre com competitividade e custos diferenciados,
resultantes de níveis tecnológicos distintos, influenciados por fatores como a bienalidade da
cultura, condições edafoclimáticas, preços e concorrência internacionais, incentivos
governamentais e investimentos em desenvolvimento científico e tecnológico.
Esses últimos fatores constituem o cerne das atribuições do Instituto Agronômico (IAC)
desde sua fundação: desenvolver projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação
(P&D&I) para o setor cafeeiro, nas diversas áreas do conhecimento. Para que os
conhecimentos e tecnologias gerados contribuam para a preservação ambiental e para o
desenvolvimento científico, tecnológico e socioeconômico, é necessário que sejam
transferidos à cadeia produtiva e que sejam prontamente utilizados. Isso é fundamental para
aumento da competitividade setorial e para o fortalecimento do Instituto.
Atualmente os investimentos em pesquisa e educação são amplamente reconhecidos
como políticas fundamentais para o desenvolvimento econômico de um país, principalmente
porque, a partir deles, acredita-se originar os ganhos de produtividade – considerados pela
ciência econômica peças fundamentais para a obtenção de um crescimento sustentado do
produto per capita de uma nação.
O elemento principal que justifica a realização de um investimento é a existência de
1 Vegro e Bliska, 2007.
2 No município de Campinas (Carmo e Alvim, 1987, p. 53).
3 Centro de importante zona cafeicultora e centro ferroviário (Carmo e Alvim, 1987, p. 40, 41 e 56).
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retorno positivo e, quando se trata de recurso público, a responsabilidade pela devolução de
resultados à sociedade torna-se ainda mais importante. Assim, vê-se necessário o
desenvolvimento de metodologias de avaliação do retorno aos investimentos feitos em
pesquisa baseados em análises de custo-benefício. No setor cafeeiro são poucos os estudos
nessa área. Portanto, o objetivo deste estudo é realizar uma análise custo-benefício dos
investimentos realizados pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC) em pesquisas
relacionadas ao setor cafeeiro, com a finalidade de verificar se os retornos sociais, delas
oriundos, são positivos.
2. Metodologia
A existência de maneiras distintas de quantificação dos retornos e de estimativa das
séries de dados gera resultados bastante divergentes para os investimentos feitos em pesquisa,
principalmente relativos à agricultura – setor mais carente de indicadores estatísticos.
No que tange ao setor agrícola, o principal benefício resultante do desenvolvimento de
novas tecnologias, para a sociedade, é que, dada a manutenção da demanda em um patamar,
ocorre uma diminuição do preço do bem causada pelo aumento da produtividade e,
consequentemente, da quantidade ofertada. A redução do preço dos bens alimentícios, além
de aumentar o acesso da população ao produto, traz um benefício adicional: a redução das
desigualdades; uma vez que a população mais pobre gasta uma parcela maior da sua renda
com alimentos, o impacto é relativamente menor na parcela mais abastada.
Com relação ao setor cafeeiro, dois trabalhos, desenvolvidos há mais de 25 anos,
analisaram a produção da pesquisa no Estado de São Paulo. O primeiro estimou custos e
retornos sociais aos investimentos feitos no programa de pesquisa estadual com café, entre
1933 e 1975 (Fonseca, 1979). O segundo dimensionou conhecimentos científicos e
tecnológicos para o setor agrícola com a construção de um indicador baseado no número de
trabalhos publicados por pesquisadores ou associados dos Institutos Agronômico e Biológico,
pertencentes à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (Veiga
Filho, Assef e Souza, 1986), para captar a geração de tecnologias por parte das instituições
públicas, para o setor cafeeiro paulista. A base de dados abrangeu o período 1890 a 1985.
Excluindo esses trabalhos, foi possível encontrar uma linha de análise baseada no
cômputo dos “excedentes” e outra, no “resíduo de Solow”.
2.1 Resíduo de Solow
Este método é utilizado por diversos autores, entre eles Araujo et al (2002) e Figueiredo
(2008). “O produto de uma economia é dado pela quantidade de insumos usados na
produção e pela produtividade desses insumos, ou seja, pela tecnologia usada para
transformar esses insumos em produto” (Araujo et al, 2002).
Partindo deste postulado, o aumento da produção de um período para o outro pode ser
explicado por apenas dois elementos: pelo acréscimo da quantidade dos insumos ou pelo
incremento de suas produtividades.
O resíduo de Solow é a parcela do crescimento do produto que não é explicada pelo
aumento na quantidade de insumos. Apesar da extensa discussão que existe na literatura a
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respeito desta medida, costuma-se associá-la ao progresso tecnológico, que, dada uma mesma
quantidade de insumos, permite a geração de um maior volume de produto.
Como forma de mensurar os retornos do investimento em pesquisa, estima-se uma série
de Produtividade Total dos Fatores e a relaciona estatisticamente com uma série de dispêndios
ou estoque de pesquisa. De posse dos coeficientes, é possível verificar a média do retorno
para cada unidade monetária investida.
O desenvolvimento da metodologia deve ser cauteloso para que o modelo, mesmo que
simplificado, reflita as características do mercado e do produto estudados. No que diz respeito
ao café, deve-se atentar ao fato de que se trata de uma cultura perene, com oferta não elástica
no período de um ou dois anos e com concentração de mercado em alguns elos da cadeia.
Esta última característica apontada pode fazer com que a redução dos preços causada
pelos investimentos em pesquisa não retorne à sociedade como um todo, mas apenas a um
pequeno grupo que controla os elos finais da cadeia. Uma vez que a diminuição dos preços
pagos ao produtor não refletisse em diminuição do custo do produto ao consumidor final, a
pesquisa cafeeira no Brasil seria caracterizada por custos coletivos e benefícios individuais, o
que configuraria a existência de externalidades.
Porém Barros e Rizzieri (2001) demonstram que o preço de café pago pelos
consumidores no período de 1975 a 2000 caíram a uma taxa média de 7,4% ao ano. Isso
mostra que a redução dos preços recebidos pelo produtor refletiu em benefícios para a
sociedade como um todo (aqueles que arcaram com o ônus da pesquisa). Com isso foi
escolhido o método “Resíduo de Solow” para este trabalho
2.2 Modelo
Diversas são as variáveis determinantes da Produtividade Total dos Fatores (PTF),
dentre elas P&D, extensão, infraestrutura, educação, capital humano e outros. O objetivo do
modelo é estimar o coeficiente que acompanha a variável “pesquisa” na explicação do
comportamento da PTF no setor cafeeiro.
O primeiro procedimento para a realização do trabalho é a estimativa da série de
Produtividade Total dos Fatores no setor cafeeiro. As formas de cômputo deste índice são
discutidas e apresentadas em Bonelli e Fonseca (1998) e Araújo et al. (2002).
No presente trabalho, parte-se de uma função de produção dada por:
(1) Yt = PTFt x Ttα1
x Ftα2
x Atα3
x Ltα4
Em que Y é o valor de produção de café (em R$ de 2011), T é o estoque de tratores (em
número), F é a quantidade ou custo de fertilizante utilizado (em toneladas ou dólares a valores
reais), A é a área colhida (em ha), L a quantidade de trabalho utilizada, t é o ano e α é o
parâmetro de cada variável.
Ao aplicar o logaritmo na função, tornando-a linear, é possível estimar os coeficientes
pelo método dos mínimos quadrados ordinários.
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Estimados os coeficientes, pode-se obter a série de produtividade total para os demais
anos através do cálculo do resíduo das variações dos fatores, como explanado na literatura
supracitada.
Uma segunda equação será utilizada para estimar, agora, a elasticidade da PTF com
relação ao estoque de pesquisa realizada pelo IAC no setor cafeeiro. Tal função é dada por:
(2) PTFt = β0 + β1 (Rt) + εt
Em que R é o estoque de investimento em pesquisa tecnológica para o setor cafeeiro
realizado pelo IAC e ε é um erro aleatório que incorpora as demais variáveis que explicam o
comportamento da PTF.
2.3 Levantamento de dados
O levantamento dos dados para a construção das séries necessárias à realização deste
estudo contempla duas fases. A primeira se refere aos dados necessários à estimativa do
Percentual Total dos Fatores e a segunda à elaboração da variável estoque de pesquisa. De
forma resumida e simplificada, o primeiro item corresponde aos benefícios da pesquisa
(desenvolvimento tecnológico), enquanto o segundo ao seu custo.
2.3.1 Benefícios da Pesquisa Cafeeira
E necessário obter dados relativos ao valor da produção da cafeicultura, ao estoque de
tratores, ao uso de fertilizantes nesta cultura, à área colhida e à quantidade de mão de obra
utilizada.
Valor de produção
A série produção brasileira de café (em R$ correntes) tem como fonte a Pesquisa
Agrícola Municipal (PAM) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) e está disponível no sítio do IPEADATA em valores nominais. Os dados foram
deflacionados pelo IGP-DI (índice elaborado e calculado pela Fundação Getúlio Vargas) com
base no ano de 2013. Pelo fato de a série do IGP-DI iniciar-se em 1944, o valor anual da
produção cafeeira utilizado no presente trabalho corresponde ao período de 1944 a 2012.
Área colhida
Os dados de área colhida, em hectares, utilizados neste estudo são oficiais, tendo como
fonte a PAM do IBGE, e apresenta informações anuais desde 1931.
Produção
Com a finalidade de avaliar o efeito da tecnologia sem a interferência das variações do
preço do café, também é analisada a série de produção, em toneladas, estimada pelo IBGE na
PAM. A série de 1900 até 2012 pode ser encontrada no sítio do IPEADATA.
Estoque de tratores
A série de estoque de tratores é aquela que apresenta maior dificuldade para o cômputo
da PTF no setor agrícola, pois assim como descrito por ARAUJO et. al. (2002) trata-se de um
insumo que prestará serviço durante um longo período de tempo. Além disso, a grande
variedade de modelos, idade e tamanhos dificulta bastante sua mensuração. Diante de todas
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estas dificuldades, optou-se por utilizar uma série estimada do número de tratores utilizado na
produção de café.
A base de dados utilizada no presente estudo é a série de vendas internas de tratores de
rodas no atacado disponibilizada no Anuário da Indústria Automobilística Brasileira 2013,
desenvolvido e publicado pela ANFAVEA (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos
Automotores). Por se tratar de uma variável de estoque de tratores, vê-se necessário somar as
vendas de um determinado número de anos para obter tal série.
Este número de anos foi determinado da forma sugerida por Barros (1999) e utilizada
por Figueiredo (2008) e Araújo et al (2002), utilizando o estoque de tratores estimado nos
censos agropecuários para balizar o período de vendas acumuladas (os autores citados
utilizam série de consumo aparente de tratores e não vendas). Neste contexto, a série de
estoque de tratores foi definida pela soma das vendas dos 21 anos anteriores, para o período
de 1970 a 1985; 23 anos, de 1986 a 1995; de 1996 a 2000, este número aumentou em uma
unidade ao ano, de forma que em 2000 o estoque fosse composto pelo acumulo das vendas
dos 28 anos antecessores, regra esta que foi mantida até o ano de 2011.
Em posse do estoque de tratores para a agricultura, torna-se necessário estimar a
participação do café na demanda por estas máquinas. Tal índice foi mensurado pelo método
utilizado por Figueiredo (2008). A partir da tabela de consumo médio anual de horas-máquina
por hectare para as principais culturas (cuja fonte é o Instituto de Economia Agrícola de SP),
multiplica-se pela área plantada da respectiva cultura para obter o total de horas-máquina
utilizado em cada ano. Sabendo o consumo anual de horas-máquina das principais culturas,
basta dividir o dado referente ao café pela soma de todas as culturas consideradas para obter
uma medida de ponderação da participação do café na utilização deste fator produtivo.
O produto entre a participação da cultura do cafeeiro na demanda anual por horas-
máquina e o estoque de tratores da agricultura brasileira é a série que representa o estoque de
capital na cafeicultura neste estudo.
Fertilizantes
Para representar o comportamento do uso de fertilizantes na cafeicultura utilizou-se
como fonte o Anuário estatístico da ANDA (Associação Nacional para a Difusão de Adubos).
Nele, é possível encontrar duas séries que se referem exclusivamente à cultura do café:
Estimativa de custo médio anual de adubação, em US$ nominais/hectare, que
compreende o período de 1981 em diante, e;
Estimativa de entrega/consumo anual de fertilizantes, em toneladas, para os anos de
1985 em diante.
Com a finalidade de enriquecer a análise e comparar os resultados, ambas foram
empregadas:
Em quantidade: Como forma de obter dados da quantidade de adubo químico utilizada
na cultura do café para o todo o período estudado (1970 a 2011), estimaram-se,
através de regressão simples (com o tempo como variável explicativa), os valores
para os anos não disponíveis.
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Em valor: A primeira etapa para construir a série de valor gasto com fertilizantes foi
deflacionar os dados de custo, disponibilizados pela ANDA. O índice escolhido foi o
Consumer Price Index (CPI – US) anual médio, e o ano-base, 2011. Em posse dos
valores reais, estimou-se, através de uma linha de tendência, o custo por hectare para
o período de 1970 a 1980. Posteriormente, multiplicou a série de custo médio por
hectare pela de área plantada de cafeeiro descrita em subseção anterior.
Mão de obra
Existe bastante dificuldade para coletar dados a respeito de mão de obra empregada na
agricultura brasileira, principalmente devido a algumas de suas características como grande
informalidade, sazonalidade e importância do trabalho familiar (ARAUJO et al, 2002). Diante
disso, necessitou considerar algumas hipóteses simplificadoras que permitissem a estimativa
de uma série.
Primeiramente, obteve-se a melhor informação oficial sobre este tema disponível para
todo o período para a agricultura: a série de população rural, cuja fonte é o IBGE.
Do trabalho de Araújo et al (2002), foi possível encontrar a parcela da população rural
que também é considerada população agrícola no estado de São Paulo no período de 1970 a
1999. Com estes dados, estimou-se a continuidade desta série para o período de 2000 a 2011
através de uma regressão linear simples. Considerando que a participação da população
agrícola na rural é idêntica para o estado de São Paulo e para o Brasil, tornou-se possível
obter uma série da população agrícola do Brasil para todo o período.
A partir das informações das matrizes de insumo-produto para o Brasil, para os anos de
1975, 2002 e 2009, a participação do emprego no setor cafeeiro no emprego agrícola foi
calculada para os anos das matrizes e, a partir disso, estimaram-se por regressão linear
simples tais coeficientes para todo o período.
Admitindo-se que o emprego agrícola seja uma razão constante da população agrícola,
pode-se utilizar o produto do coeficiente por este indicador como proxy da mão de obra
empregada no setor.
2.3.2 Custos da pesquisa cafeeira
Os levantamentos de informações referentes aos gastos realizados pelo Instituto
Agronômico e por outras instituições de pesquisa ou fomento à pesquisa, na condução da
pesquisa cafeeira no IAC são relacionados a seguir.
Salários dos pesquisadores científicos
Levantamento dos salários recebidos pelos pesquisadores do IAC, ativos e aposentados,
que trabalharam com o café, para o período compreendido entre a seu ingresso no Instituto até
dezembro de 2011 ou até sua aposentadoria, por meio de consulta individual nos arquivos do
IAC. Foram identificados 95 pesquisadores. As informações sobre os pesquisadores não
aposentados foram fornecidas pelo Departamento de Recursos Humanos do IAC (data
ingresso, mudanças de nível na carreira, quinquênios, sexta-parte, férias, licenças prêmio). Os
dados referentes aos demais pesquisadores foram obtidos nos arquivos do IAC. Foram
fotografados os históricos de cada um dos pesquisadores.
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O histórico mais antigo data de 1928. Portanto a equipe analisou o histórico de cada um
dos 95 pesquisadores para o periodo de 1928 a dezembro de 2011. Para cada pesquisador,
calculou-se o período de permanência no cargo, a cada nível da carreira, verificou-se o nível
da carreira em que ele se aposentou, os salários recebidos, número de anos trabalhados,
adicionais diversos. Para o período anterior à instituição da carreira de pesquisador científico
foram analisados os contratos de serviço que constam nos históricos fotografados.
Calcularam-se as percentagens de tempo que cada pesquisador dedica ou dedicou aos
trabalhos com o cafeeiro ao longo de sua vida profissional. Para estimar o tempo dos
pesquisadores antigos, aposentados ou falecidos, contou-se com a memória do Dr. Armando
Conagin, hoje com 93 anos e ainda produzindo trabalhos científicos (trabalha com professores
da ESALQ/USP na área de estatística) e também com a memória da Dra. Dixier Medina, da
área de citologia, ambos os pesquisadores aposentados do IAC, tendo ingressado no Instituto
em 1942. Também contribuíram para essas estimativas o Dr. Luís Carlos Fazuoli, que
ingressou oficialmente no IAC em 1978, mas foi contratado por projetos entre 70 e 77, e o
Engº Agrônomo Roberto Antonio Thomaziello, que atua na área de café desde 1968.
Levantaram-se os salários recebidos pelos pesquisadores do IAC ativos, para o período
entre seus respectivos ingressos no Instituto até o final de 2011. Calcularam-se, então, os
valores recebidos individualmente ano a ano pelos pesquisadores (ponderados pela
percentagem de seu tempo de pesquisa dedicado ao café), de 1928 a 2011. Somaram-se ano a
ano os valores recebidos pelos pesquisadores. A seguir os valores obtidos foram
transformados em valores de 2013.
Bolsas recebidas pelos pesquisadores
Inicialmente, procurou-se saber quais pesquisadores usufruíram de bolsas para
treinamento, como especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado. Foram estimados os
valores dessas bolsas, com base em informações encontradas no arquivo do IAC e as mais
recentes, de acordo com os valores das próprias agências de fomento: CNPq, Fapesp, Finep,
Embrapa, Fundação de Apoio à Pesquisa Agrícola (Fundag), Fundação de Desenvolvimento
da Pesquisa do Agronegócio (Fundepag), Fundação do desenvolvimento Administrativo
(Fundap), Fundação Artur Bernardes (Funarbe), Consórcio Brasileiro de Pesquisa e
Desenvolvimento do Café (CBP&D-Café), dentre outras. Também foram levantadas as bolsas
de produtividade em pesquisa (CNPq) e outras bolsas equivalentes a essa categoria.
Bolsas recebidas por estagiários
Levantaram-se os nomes dos estagiários e os tipos de bolsas recebidas, em categorias
diversas: iniciação científica, treinamentos técnicos, mestrado e doutorado (o IAC possui
curso formal de mestrado e doutorado). O levantamento inclui bolsas do Instituto Brasileiro
do Café (IBC), CNPq, Fapesp, Finep, CBP&D-Café, Fundag, Fundap, Fundepag e a Funarbe.
Investimentos do Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do café
As informações sobre os investimentos realizados no IAC pelo Consórcio Brasileiro
de Pesquisa e Desenvolvimento do Café – CBP&D Café, foram encaminhados pela Embrapa
Café, administradora do Consórcio, para o período de 1998 a 2011 (ou seja, desde o início da
atuação efetiva do Consórcio). Incluem recursos utilizados na construção de prédios, viveiros,
laboratórios, recursos para contratação de trabalhadores de campo, técnicos agrícolas,
consultores, materiais permanentes e de consumo, para o campo e laboratórios.
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Outros Investimentos
Auxílios à Pesquisa Fapesp, Editais CNPq e Finep;
Projetos de pesquisa realizados com financiamento do setor privado e de
Organizações Não Governamentais, nacionais e estrangeiras;
Projetos de infraestrutura (Finep e Fapesp);
Manutenção do Banco de Germoplasma do Café;
Manutenção do parque cafeeiro do IAC, para pesquisa (60 ha – Fazenda Santa
Elisa), incluindo os investimentos realizados pelo IBC;
Manutenção de escritórios e laboratórios; e,
Salários de pesquisadores de outras instituições lotados no IAC para trabalhar com
café.
2.4 Agregação do estoque de investimentos
Em posse dos dados referentes ao total de gastos realizados em pesquisa no IAC a cada
ano, vê-se necessário definir um método de cômputo do estoque de investimento. O método
foi elaborado considerando que, em média, cerca de 80% dos recursos da pesquisa cafeeira do
IAC são destinados à genética – pesquisa cujos resultados aparecem somente após 12 anos – e
o restante aos demais temas – cujos retornos foram considerados existentes a partir do sexto
ano ao qual se deu o dispêndio.
A variável Estoque de Pesquisa, no período ‘t,’ será dada, portanto, pela soma de:
4% dos valores dos períodos ‘t-6’ e ‘t-7’;
8% dos valores dos períodos ‘t-8’ e ‘t-9’;
12% de ‘t-10’;
28% de ‘t-11’;
32% de ‘t-12’;
48% de ‘t-13’;
52% de ‘t-14’;
68% de ‘t-15’ e ‘t-16’;
84% de ‘t-17’ e ‘t-18’; e,
100% dos anos mais antigos.
3 Resultados
3.1 Análise da Produtividade
Antes de discutir as análises econométricas, vamos observar o comportamento das
séries referentes à cafeicultura.
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Uma das séries mais importantes a serem analisadas refere-se à de produtividade da
terra e seu comportamento pode ser observado na figura 1. Sua importância é explicada pelo
fato de ser um bom indicador do nível tecnológico empregado na produção agrícola.
Figura 1: Produtividade média do café, em sacas por hectare, de 1931 a 2012.
Fonte: Elaborado a partir de dados do IBGE.
No período de 1931 a 2012, a cafeicultura brasileira apresentou um crescimento médio
de 13,88 kg por hectare ao ano.
Quando dividimos esta série em dois momentos, a primeira de 1931 a 1969 e a segunda
de 1970 em diante, observa-se grande diferença de comportamento nos períodos. Quanto ao
nível de produtividade, enquanto no período mais antigo obteve-se uma média de 9,06 sacas
por hectare, no mais recente aferiu-se 19,4 sacas por hectare.
Mais relevante para o presente estudo é a taxa de crescimento médio para os dois
períodos. Enquanto no primeiro momento observou-se um crescimento médio de
produtividade de 0,275 saca por hectare ao ano, no momento seguinte foi de apenas 0,0742
saca por hectare ao ano. Em outras palavras, enquanto no período de 1931 a 1969 eram
necessários, em média, 3,64 anos para aumentar em uma saca a produtividade média de café,
no período posterior, demoraria mais de uma década para que se obtivesse tal incremento –
mais precisamente a cada 13,48 anos (em média).
Visto que o presente estudo utiliza, em sua metodologia, o período de 1970 em diante
como contexto da análise, seus resultados não incorporam o momento de maior crescimento
de produtividade e, como consequências estarão subestimados.
O grande incremento da produtividade observado durante todos esses anos tem como
principal consequência um significativo aumento da produção, que cresceu em mais de 400
sacas ao ano – partindo de um nível de produção de 9 milhões de sacas em 1900 para mais de
45 milhões em 2011 –, mesmo que a área colhida tenha sido reduzida em mais de 1,5 milhões
de hectares ao fim do período. Se mantivéssemos a produtividade de 1931, eliminando o
processo de desenvolvimento tecnológico, para se alcançar o nível produzido em 2011 seria
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necessária uma área de aproximadamente 7,56 milhões de hectares, que representa 3,5 vezes a
área atual.
Apesar de esta forma mensuração não ser o principal método utilizado neste projeto, em
termos ambientais, é admissível considerar o valor média da floresta em pé multiplicado por
esta área como um benefício gerado pelos investimentos em tecnologia, dado que a
possibilidade de redução da área sem comprometimento da oferta de café evitou maiores
pressões na fronteira agrícola.
Ainda relacionado à análise do comportamento da produtividade média da área para a
cultura do cafeeiro, foi realizada uma regressão da seguinte função para o período de 1970 a
2011:
(3) Prt = γ1.ft + γ2.tt + εt
Em que Pr é a produtividade média, f é o custo médio de adubação por hectare, t é a
quantidade média de tratores por hectare, γ são parâmetros, ε é um erro aleatório e o índice t
refere-se ao ano do dado.
Os resultados, apresentados tabela1, permitem concluir, com bastante segurança
estatística, que a variação do custo de fertilização por hectare e o número de tratores por
hectare explicaram aproximadamente 95% da variação da produtividade média no período.
Tabela 1: Regressão da Equação sobre produtividade.
Estatística de regressão R múltiplo 0,97316555 R-Quadrado 0,947051188 R-quadrado ajustado 0,920727468 Erro padrão 4,688692681 Observações 42
ANOVA
gl SQ MQ F F de
significação
Regressão 2 15728,26292 7864,131461 357,7233003 8,1659E-26
Resíduo 40 879,3535622 21,98383906 Total 42 16607,61648
Coeficientes Erro padrão Stat t valor-P
Interseção 0 #N/D #N/D #N/D Fertilizante por hectare 0,025864281 0,004219731 6,129367137 3,10907E-07 Tratores por hectare 585,1439394 75,41072882 7,759425595 1,6799E-09
Fonte: Dados da pesquisa.
Sabe-se que o IAC é responsável por grande parte da pesquisa relacionada à
mecanização, adubação, correção do solo, adensamento e irrigação no setor cafeeiro; que 90%
de toda área cultivada com café utiliza as variedades Mundo Novo e Catuaí (genéticas do
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IAC); e que, das 48 cultivares de porte baixo efetivamente cultivadas no Brasil, 25 são do
IAC e as outras 23 possuem em sua genética materiais gerados no IAC (CARVALHO, 2008).
Com tal importância do Instituto nas pesquisas que possibilitaram a mecanização e a
intensificação do uso de adubos químicos na produção do café no Brasil, nota-se que grande
parte dos resultados gerados pelo IAC não serão captados pelo modelo. Isso ocorre pelo fato
de que a mensuração dos benefícios, no modelo, é resultado do resíduo de Solow e que tais
ganhos supracitados são imputados aos fatores Estoque de Tratores e Fertilização.
3.2 Análise do Modelo
Diante destes fatos, torna-se necessário realizar a análise estatística para verificar o
comportamento e a relação entre variáveis.
No que diz respeito à primeira equação do modelo, aquela cuja regressão possibilita
mensurar os coeficientes da função de produção, o modelo que considerou o valor de
produção uma variável dependente da área colhida, da estimativa da mão de obra empregada
na cafeicultura, do gasto estimado com fertilizantes na produção de café e do estoque
estimado de tratores de roda utilizados nessa cultura obteve melhor resultado estatístico. As
variáveis supracitadas foram capazes de explicar mais de 99% do comportamento do valor da
produção no período estudado. Além disso, todos os parâmetros são estatisticamente
significantes considerando um nível de 90% de confiança, com exceção daquele que
acompanha o estoque de tratores, que só apresentou-se significante a 63% de confiança.
Fato curioso é o coeficiente α2 – que acompanha o fator trabalho na função de produção
– ser estatisticamente relevante e apresentar sinal negativo. Tal fenômeno sugere,
contraditoriamente ao que se espera, que o aumento do número de trabalhadores empregados
na cafeicultura reduz o valor de produção deste bem.
Uma vez estimados os coeficientes que acompanham os fatores de produção, torna-se
possível mensurar o resíduo de Solow, que, neste trabalho, representa a Produtividade Total
dos Fatores. Tal série pode ser vista no Anexo 1
A segunda equação do modelo de análise, cujo objetivo é estimar a relação de causa
entre o estoque de investimentos realizados pelo IAC e os ganhos de produtividade, obteve
um baixíssimo poder explicativo (R2 equivalente a 7,1%), porém com os coeficientes β0 e β1
significantes a 10%. A estimativa de tais parâmetros foi de 1,42 para o linear e um valor
praticamente nulo para o coeficiente angular (-3.10-9
). A interpretação desta avaliação
empírica indica que o estoque de investimentos em pesquisa para o setor cafeeiro no período
analisado não resultou em aumento da PTF (indicador de desenvolvimento tecnológico). O
resumo encontra-se no Anexo 2.
Deve-se lembrar, porém, que o resultado é consequência das séries utilizadas no
presente estudos e que, como já foi repetidamente apontado neste e em outros estudos da
mesma natureza, a precariedade das informações estatísticas e o excesso de hipóteses
simplificadoras adotadas para estimar tais dados (principalmente quando relacionados ao setor
agrícola) prejudica a capacidade analítica do modelo.
Outra questão que deve ser apontada neste estudo é que foi observada entre as séries das
variáveis explicativas (Área colhida, mão de obra, adubação e estoque de tratores) a
correlação existente. Os valores podem ser observados na tabela 2.
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Tabela 2: Correlação entre as variáveis explicativas
Área Mão-de-obra Adubação Tratores
Área 1 0,237447885 0,348042569 0,558272105
Mão-de-obra 0,237447885 1 -0,251992801 0,505660996
Adubação 0,348042569 -0,251992801 1 -0,17611741
Tratores 0,558272105 0,505660996 -0,17611741 1
Fonte: Dados da pesquisa.
Visto que a série de estoque de tratores possui correlação relativamente alta com a área
e com a mão de obra, existe a possibilidade de o modelo ter sido contaminado por
multicolinearidade.
Em face da possibilidade de existência deste problema, estimou-se modelo semelhante
ao originalmente analisado, porém sem a variável Estoque de Tratores, que foi excluída do
modelo.
O novo modelo utilizado manteve praticamente o mesmo poder explicativo do Valor de
Produção (com R2 de 99%) e também obteve, curiosamente, coeficiente negativo para a
variável mão de obra. No que diz respeito à segunda equação estimada, a capacidade de
explicar a variação da PTF foi ínfima (R2 de 5%) e o coeficiente angular estimado novamente
em valor quase nulo só apresentou-se significante no nível de 84% de confiança, fato que
reforça a incapacidade de explicação do comportamento pelo modelo.
Diante de tais resultados empíricos não condizentes com a expectativa inicial e
observada e apontada nos diversos questionários aplicados por este projeto, faz-se necessário
analisar e apontar alguns tópicos importantes.
O primeiro e mais importante deles diz respeito à dificuldade em se obter séries
históricas acuradas, relativamente confiáveis para período anterior ao ano de 1970. Este fato é
extremamente relevante quando verificamos que os maiores ganhos de produtividade estão
relacionados com o desenvolvimento genético.
No ano de 1970, a variedade “Mundo Novo”, desenvolvida pelo IAC e reconhecida
como marco histórico na tecnologia cafeeira, já estava presente no mercado em grande parte
da área plantada do país há mais de 10 anos. Isto resulta na não incorporação no modelo de
um ponto de ruptura na tendência da produtividade cafeeira do Brasil.
4 Conclusões
Observou-se uma relativa incapacidade do modelo utilizado para captar a importância
dos investimentos do IAC no desenvolvimento tecnológico do setor cafeeiro e para aferir uma
taxa de retorno a eles. Tal insucesso é atribuído principalmente às dificuldades existentes para
estimar longas séries de dados relativos ao uso e custo dos fatores em nível setorial nacional.
Além disso, a incorporação de parte dos benefícios da pesquisa cafeeira pelos insumos
impede que os efeitos sejam computados na PTF, uma vez que esta é um resíduo (aquilo que
não é explicado pelos fatores).
Apesar dos problemas supracitados, a análise do comportamento da produtividade
possibilitou verificar alguns pontos importantes e benefícios gerados pelo investimento em
pesquisa cafeeira realizado pelo IAC. Dentre eles destacam-se:
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Perceptível mudança no comportamento da série de produtividade média da terra em
um marco da pesquisa do IAC, o ano de 1959 – resultado da incorporação da
variedade Mundo Novo pelo mercado, lançada em 1952;
Enorme presença de material genético gerado no instituto na área plantada no Brasil,
que possibilitou diretamente o incremento da produtividade pelo melhoramento
genético e indiretamente pela possibilidade de mecanização; e,
Importância do IAC nas pesquisas relacionadas à mecanização, adubação, correção de
solo, poda, adensamento e irrigação – técnicas ligadas à modernização da agricultura.
Futuros trabalhos poderão melhorar ou enriquecer os resultados aqui obtidos, uma vez
que a evolução das técnicas e da informação disponível permite a geração de séries mais
condizentes com a realidade. Vale lembrar que os métodos alternativos de cômputo dos
benefícios podem ser testados.
O modelo utilizado não seria capaz de captar, por exemplo, retornos relativos às
pesquisas de controle de pragas e doenças como apontado por Figueiredo (2008). Também
não se pode garantir que a redução de preços pagos ao produtor reflita em ganhos aos
consumidores (ou à população), como foi apontado neste estudo. Outro problema do modelo
aqui utilizado é o tratamento do produto café de forma homogênea, sabe-se da existência de
um grande leque de qualidade e variedade distintas. Portanto, qualquer trabalho que venha a
corrigir alguns destes “defeitos” apontados é capaz de enriquecer a discussão e aumentar o
nível de entendimento acerca do assunto.
5 Agradecimento
Os autores agradecem a importante contribuição do Professor Dr. Ricardo Shirota,
ESALQ/USP.
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1986-. Anual. ISSN 0103-4790.
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ANFAVEA. Anuário Estatístico. Disponível em: <http://www.anfavea.com.br>. Acesso em
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ANEXOS
Anexo 1: Produção, área colhida, produtividade e valor de produção de café no Brasil,
1931 a 2011.
Ano
Produção
Área
Colhida
Produtividade
Média
Valor de
Produção
(em sacas)
(em
hectares) (em sacas/ha)
(em mil R$ de
2013)
1931 21.694.500 3.651.880 5,94 -
1932 25.595.750 3.971.200 6,45 -
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1933 29.610.000 3.960.000 7,48 -
1934 27.542.300 3.458.080 7,96 -
1935 18.931.200 3.559.600 5,32 -
1936 26.284.100 3.462.070 7,59 -
1937 24.349.317 3.459.728 7,04 -
1938 23.402.383 3.492.364 6,70 -
1939 19.283.850 3.047.905 6,33 -
1940 16.701.033 2.519.111 6,63 -
1941 16.025.867 2.378.311 6,74 -
1942 13.831.317 2.173.577 6,36 -
1943 15.365.567 2.340.799 6,56 -
1944 11.444.767 2.326.141 4,92 4.938.045,48
1945 13.915.267 2.381.561 5,84 6.700.208,54
1946 15.288.633 2.406.369 6,35 8.233.067,98
1947 15.791.483 2.414.648 6,54 7.633.666,40
1948 17.291.083 2.463.996 7,02 8.318.665,46
1949 17.804.717 2.537.851 7,02 10.244.042,52
1950 17.857.283 2.663.117 6,71 17.193.481,55
1951 18.003.150 2.738.180 6,57 15.406.361,90
1952 18.756.767 2.823.003 6,64 15.806.014,19
1953 18.510.100 2.918.919 6,34 15.563.553,05
1954 17.283.117 3.004.585 5,75 16.995.503,27
1955 22.829.317 3.265.541 6,99 20.376.349,91
1956 16.321.300 3.411.651 4,78 12.484.319,12
1957 23.488.400 3.672.325 6,40 16.834.175,87
1958 28.264.250 4.077.920 6,93 15.387.709,76
1959 73.280.733 4.296.645 17,06 14.870.851,01
1960 69.493.100 4.419.537 15,72 13.785.893,71
1961 74.290.133 4.383.820 16,95 13.410.339,45
1962 73.010.117 4.462.657 16,36 13.511.060,73
1963 55.017.567 4.286.129 12,84 8.931.505,96
1964 34.733.783 3.696.281 9,40 7.588.566,90
1965 76.468.250 3.511.079 21,78 17.089.477,34
1966 40.095.617 3.057.470 13,11 7.641.521,82
1967 50.249.850 2.791.650 18,00 10.032.818,83
1968 35.256.733 2.622.885 13,44 8.658.811,20
1969 42.783.567 2.570.899 16,64 12.590.296,73
1970 25.158.667 2.402.993 10,47 7.635.565,58
1971 51.715.400 2.390.345 21,64 16.499.385,15
1972 49.856.833 2.265.695 22,01 21.157.212,28
1973 29.096.583 2.079.741 13,99 12.708.821,52
1974 53.843.633 2.155.017 24,99 21.464.162,43
1975 42.409.933 2.276.921 18,63 23.171.824,15
1976 12.532.817 1.121.015 11,18 10.582.507,32
1977 32.512.850 1.941.473 16,75 27.341.945,70
1978 42.255.383 2.183.673 19,35 28.061.691,90
1979 44.425.750 2.406.239 18,46 27.551.751,91
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1980 35.373.183 2.433.604 14,54 19.839.771,72
1981 67.740.350 2.617.836 25,88 28.016.950,90
1982 31.931.017 1.895.486 16,85 14.042.474,90
1983 55.719.600 2.346.007 23,75 22.851.196,63
1984 47.342.717 2.505.435 18,90 21.606.847,94
1985 63.688.200 2.533.762 25,14 46.509.774,39
1986 34.713.517 2.591.461 13,40 35.279.829,47
1987 73.423.600 2.875.641 25,53 25.912.847,33
1988 45.627.667 2.975.245 15,34 18.842.162,85
1989 50.994.750 3.026.535 16,85 16.220.181,71
1990 48.828.517 2.908.961 16,79 10.407.700,79
1991 50.679.383 2.763.439 18,34 11.046.256,37
1992 43.145.750 2.500.324 17,26 9.821.269,84
1993 42.625.300 2.259.332 18,87 12.687.029,00
1994 43.576.300 2.097.650 20,77 21.417.650,52
1995 31.004.483 1.869.984 16,58 10.492.762,43
1996 45.639.850 1.920.253 23,77 10.753.995,03
1997 40.950.417 1.988.186 20,60 12.945.275,83
1998 56.312.183 2.070.409 27,20 14.140.064,52
1999 54.395.067 2.222.925 24,47 14303381,65
2000 63.452.067 2.267.968 27,98 11952523,25
2001 60.652.300 2.336.031 25,96 7170658,259
2002 43.508.733 2.370.891 18,35 10109240,15
2003 33.117.900 2.395.501 13,83 8059539,296
2004 41.095.167 2.368.040 17,35 12188270,04
2005 35.669.483 2.325.920 15,34 10583657,1
2006 42.889.467 2.312.154 18,55 14268770,75
2007 37.483.517 2.264.129 16,56 11771001,98
2008 46.615.450 2.222.224 20,98 13725915,21
2009 40.667.600 2.135.508 19,04 11095512,03
2010 48.454.417 2.159.785 22,43 14129293,14
2011 45.009.000 2.148.775 20,95 18245218,27
Fonte: Elaborado pelo bolsista a partir de dados do IBGE.
Anexo 2: Séries de estimativas de fatores de produção da cafeicultura brasileira, 1970 a
2011.
Ano
Mão-de-
obra Fertilizantes
Gasto com
adubação Tratores
(em
pessoas)
(em
toneladas) (em US$ de 2011)
(em
número)
1970 663.233 358.886 888.517.715,52 1.601
1971 609.223 372.525 878.736.716,62 2.328
1972 630.988 386.683 828.074.818,24 2.874
1973 634.285 401.378 755.670.564,76 3.486
1974 588.894 416.632 778.420.155,62 4.028
1975 531.290 432.466 817.591.328,07 5.313
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1976 535.066 448.902 400.137.560,33 2.894
1977 536.870 465.962 688.847.822,42 3.473
1978 564.681 483.671 770.119.014,05 3.309
1979 603.400 502.052 843.473.394,10 3.852
1980 544.427 521.133 847.869.093,76 4.261
1981 581.084 540.938 1.433.714.214,34 2.486
1982 602.915 561.496 1.137.057.748,92 1.514
1983 626.089 582.835 1.176.854.336,23 1.740
1984 651.467 604.985 828.565.215,92 3.190
1985 677.732 1.028.000 848.449.295,48 3.012
1986 717.709 1.050.000 749.124.272,95 3.360
1987 778.187 809.900 740.860.866,21 3.080
1988 801.421 918.000 784.989.474,61 2.455
1989 813.352 619.000 906.238.360,49 2.234
1990 814.956 580.000 975.662.033,99 1.781
1991 766.000 540.000 1.017.724.760,63 1.072
1992 847.468 540.000 647.809.354,11 846
1993 733.766 580.000 532.950.042,29 1.551
1994 694.621 635.000 432.736.885,30 2.324
1995 706.677 619.000 407.097.684,37 932
1996 1.030.913 827.000 503.953.076,56 578
1997 781.762 1.021.000 582.301.953,20 915
1998 780.126 1.117.000 528.546.437,69 1.105
1999 777.787 1.325.000 462.275.408,36 1.202
2000 775.441 1.428.000 405.872.311,13 1.575
2001 773.753 1.154.000 436.238.716,31 1.825
2002 773.041 1.291.000 412.117.126,70 2.115
2003 773.499 1.315.000 377.860.663,18 1.792
2004 775.292 1.372.000 581.527.423,37 1.649
2005 778.570 1.391.000 631.016.643,02 983
2006 783.469 1.585.000 598.081.218,71 1.077
2007 790.121 1.564.000 755.134.544,83 1.499
2008 798.521 1.295.000 1.153.507.429,20 1.847
2009 808.134 1.490.000 870.319.314,92 1.803
2010 818.280 1.530.000 888.089.523,54 2.201
2011 789.571 1.863.000 1.141.106.963,75 1.922
Fonte: Elaborado pelo bolsista.
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