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UniFIAMFAAM Centro Universitrio das Faculdades Integradas Alcntara Machado
TCNICAS DE REDAO
Profa Ana Tereza Pinto de Oliveira
Fevereiro/2012
M. C. Escher Drawing hands (1948)
2
2
A poesia
toda
uma viagem ao desconhecido.
A poesia
como a lavra1
do rdio2,
um ano para cada grama.
Para extrair
uma palavra,
milhes de toneladas
de palavra-prima.
Vladimir Maiakvski, traduo Augusto de Campos
2Lavra: extrao de metais, explorao econmica de uma jazida.
3Rdio: elemento qumico de nmero atmico 88 da famlia dos metais alcalinoterrosos (smb.: Ra).
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importante, em todos os nveis de desempenho profissional, o domnio da lngua
portuguesa para uma expresso clara, fluente e correta (correo como adequao a uma
dada circunstncia, a um determinado pblico). Mas, para o comunicador social, essa
importncia requisito sem o qual no se presta um servio comunidade.
Para realizar essa tarefa, o aluno deve: gostar de, estar habituado a e saber ler os vrios
nveis de um texto, percebendo sua organizao interna, identificando as intenes nele
contidas (e s vezes mascaradas), o tipo de discurso utilizado, distinguindo o nvel do
contedo do nvel da expresso e percebendo como se harmonizam, distinguir a
denotao da conotao; saber escrever, levando em considerao um pblico-alvo, a
situao sociocomunicativa e o veculo que determinaro o nvel de linguagem e os recursos de que far uso.
I PLANO DE CURSO 1) A comunicao humana: elementos, funes da linguagem, implcitos 2) O signo lingustico e o trabalho com o significante. Explorao grfica do
significante
3) O signo lingustico e o trabalho com o significante. Explorao sonora do significante
4) Denotao e conotao Texto literrio e texto no literrio 5) Modalidades e variaes lingusticas 6) Fatores de textualidade 7) Gneros textuais 8) Tipos textuais 9) Redao (premissas bsicas) 10) O texto descritivo/ Acentuao 11) O texto descritivo/ Ortografia 12) O texto narrativo/ Elementos coesivos 13) O texto narrativo/ Elementos coesivos 14) O texto narrativo/ Elementos coesivos 15) O texto dissertativo/ Uso dos pronomes 16) O texto dissertativo/ Uso dos pronomes 17) O texto dissertativo/ Uso dos pronomes 18) Leitura de texto (aferio): ABREU, Antnio Surez. A arte de argumentar. So
Paulo: Atelier Editorial, 2008. (Disponvel tambm em:
.)
19) Avaliao regimental 20) Vista de provas
II OBJETIVOS DA DISCIPLINA
O aluno dever ser capaz de:
1. expressar-se de forma clara, concisa, precisa, objetiva, criativa e correta, sabendo
utilizar as possibilidades que a lngua lhe oferece e adequando-as ao veculo, pblico e
contexto;
2. ler textos tericos, perceber seus movimentos, discutir e criticar os conceitos neles
apresentados;
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3. utilizar-se, com segurana, do instrumental normativo para comunicar-se, de acordo
com a situao, segundo o padro gramatical vigente.
III BIBLIOGRAFIA
Bibliografia bsica
ABREU, Antnio Surez . A arte de argumentar. So Paulo: Atelier Editorial, 2008.
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Vocabulrio ortogrfico da lngua
portuguesa. So Paulo: ABL, 1999.
CALDAS AULETE. Dicionrio eletrnico. Rio de Janeiro: Lexicon. (download gratuito)
CUNHA, Celso & CINTRA, Lindley. Nova Gramtica do Portugus Contemporneo. 2.
ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
LUFT, Celso Pedro. Dicionrio eletrnico: dicionrio da lngua portuguesa, dicionrio de
regncia verbal, dicionrio de regncia nominal. So Paulo: tica, 1998. 1 CDrom
Bibliografia complementar:
BAKHTIN, Mikhail. Esttica da criao verbal. So Paulo: Martins Fontes, 2000.
CHALHUB, Samira. Funes da linguagem. So Paulo: tica, 1987.
GARCIA, Othon M. Comunicao em prosa moderna. Rio de Janeiro: Fundao Getlio
Vargas, 1969.
KOCH, Ingedore. Desvendando os segredos do texto. So Paulo: Cortez, 2002.
KOCH, Ingedore; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerncia textual. So Paulo: Contexto,
1990.
PROENA FILHO, Domcio. A linguagem literria. So Paulo: tica, 1986. Srie
Princpios.
RABAA, Carlos Alberto; BARBOSA, Gustavo. Dicionrio de comunicao. So Paulo:
Editora tica, 1987.
VAL, Maria da Graa Costa. Redao e textualidade. So Paulo: Martins Fontes,1999.
VANOYE, Francis. Usos da linguagem. So Paulo: Martins Fontes, 1981.
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1. A COMUNICAO HUMANA
O homem utiliza a linguagem para comunicar-se. Ela, alm de propiciar o progresso (j que
o ser humano, atravs da linguagem, pode codificar e armazenar suas experincias e descobertas
para transmiti-las a outras geraes), um fator de interao e coeso social.
A linguagem pode ser verbal (o cdigo lingustico) e no verbal (todos os outros cdigos:
icnico, gestual, cromtico, etc.). As caractersticas inerentes linguagem verbal so:
o dialogismo: a linguagem sempre remete a algo j dito e dirige-se a algum, ela s viva porque orientada para o outro com o qual entra em interao;
a argumentatividade: atravs da linguagem, o enunciador (emissor) imprime, por meio de palavras, uma direo argumentativa a seu texto, indicando como o enunciatrio (receptor)
deve/pode entend-lo.
A comunicao um processo que exige determinados fatores, elementos mnimos para
poder realizar-se. No quadro a seguir, voc ver o esquema clssico da comunicao proposto pelo
linguista Roman Jakobson:
Referente
Emissor Mensagem Receptor
Cdigo
Canal
Analisemos esses fatores:
emissor: voc. A partir de uma situao de comunicao, caber a voc escolher, entre as possibilidades que os cdigos colocam sua disposio, os enunciados que melhor se ajustem
aos seus propsitos interacionais;
receptor: seu leitor. O destinatrio v, ouve, l etc., traduz os cdigos (decodifica), entende e interpreta. importante enfatizar que o leitor quem vai determinar a escolha de palavras e
todos os outros recursos de organizao da mensagem que voc vai utilizar, pois uma das
caractersticas fundamentais da linguagem o dialogismo, a interao;
referente: assunto sobre o qual voc vai falar/escrever;
mensagem: ou texto uma manifestao comunicativa, concretizada por alguma materialidade (grafia, som, imagem, gestos...). Ela produzida por algum, em uma situao concreta
(contexto), com alguma finalidade;
cdigo: uma conveno, um contrato, que controla a relao entre aquilo que se pode perceber atravs dos sentidos (significante) e seu significado. Essa relao entre o plano da expresso
(significante) e o plano do contedo (significado) constitui uma unidade abstrata, a que se d o
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nome de signo (no ato de linguagem, ser concretizado por alguma materialidade visual, sonora,
ttil...). a partir do cdigo que um estmulo fsico qualquer pode virar signo. importante
enfatizar que o cdigo que o comunicador social vai usar a Lngua Portuguesa, a qual deve
dominar em todas as suas variantes;
canal (meio, veculo ou mdia): o meio fsico que transporta a mensagem e possibilita o contato entre o emissor e o destinatrio da mensagem. H dois tipos de canal natural e tecnolgico , que, quando necessrio, complementam-se (isso ocorre sobretudo na publicidade e em textos de RTV). Assim, podemos aumentar a abrangncia do canal natural, com o auxlio
de um canal tecnolgico. A televiso, por exemplo, um meio, canal ou veculo tecnolgico,
pelo qual podemos ver e ouvir o mundo todo, o que a nossa viso e audio (canais naturais) no
permitem. Os canais tecnolgicos (telefone, internet, rdio, impressos etc.) so chamados pelos
especialistas em comunicao de mdias. Quando a comunicao realizada somente com o
canal natural (ar), ela denominada comunicao direta. A comunicao realizada com o auxlio
da mdia (canal tecnolgico) denominada comunicao indireta.
Funes da Linguagem
Segundo o linguista russo Roman Jakobson, em toda comunicao h uma inteno
predominante por parte do emissor da mensagem. Esse objetivo do emissor faz com que, nas
mensagens, cada fator, que corresponde a uma das funes da linguagem, esteja mais enfatizado do
que outros (a questo de hierarquizao das funes e no de excluso). Assim:
Referente
(Funo referencial)
Emissor Mensagem Receptor
(Funo emotiva) (Funo potica) (Funo conativa)
Cdigo
(Funo metalingustica)
Canal
(Funo ftica)
a) O remetente informa de modo objetivo funo denotativa ou referencial nfase no contexto. Ex.: bula de remdio, manual de instruo, notcia de jornal.
b) O remetente trata de seus sentimentos, emoes funo emotiva nfase no emissor. Ex.: msicas romnticas, poesia lrica (gnero de poesia em que o poeta canta suas emoes
e sentimentos ntimos).
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c) O remetente quer influenciar o comportamento do destinatrio funo conativa nfase no destinatrio/receptor. Ex.: publicidade.
d) O emissor quer explicar alguma palavra que faz parte da mensagem, isto , usa o cdigo
para falar do prprio cdigo funo metalingustica nfase no cdigo. Ex.: dicionrio.
e) O remetente testa se o destinatrio est recebendo bem a mensagem funo ftica nfase no contato/canal de comunicao. Ex.: a conversa de elevador.
f) O remetente preocupa-se com a elaborao da forma da mensagem funo potica nfase na mensagem. Trata-se de um trabalho com a linguagem. Ex.: metforas, aliteraes,
rimas, ritmo etc.
Lembre-se de que essas funes dificilmente aparecem sozinhas nos textos. Na maioria das
vezes, ocorre uma hierarquizao de funes. Veja nos exemplos a seguir.
Exemplos:
Funo referencial uma notcia do jornal. Tiradentes rendeu penso especial para sete trinetos
Criada na ditadura militar, aposentadoria especial j foi paga a sete trinetos do mrtir da
Inconfidncia, enforcado h 219 anos. Uma das descendentes recebeu o benefcio por 18 anos.
Funo emotiva qualquer texto em que sentimentos, emoes, opinies do receptor sejam enfatizados: Amor, ento,
Tambm acaba?
No que eu saiba
O que eu sei
que se transforma
Numa matria-prima
Que a vida se encarrega
De transformar em raiva
Ou em rima
(Paulo Leminski, Caprichos e Relaxos)
Funo conativa ou apelativa procura convencer o receptor, o uso do modo imperativo, na maioria das vezes, prevalece:
A Stella Barros est lanando uma novidade on ice: os novos programas para as mais incrveis estaes de esqui dos EUA. So vrias opes para a prxima temporada de inverno: Aspen, Vail e
Park City. E em todos os programas voc e sua famlia contam com uma infraestrutura completa,
que inclui hoteis, restaurantes, instrutores, equipamentos e transporte. (Vip, nov. 95)
Funo metalingustica: utiliza o cdigo (seja ele qual for) para falar do prprio cdigo: Quadrinhos: s.m.pl. Narrao de uma histria por meio de desenhos e legendas dispostos numa srie de quadros; histria em quadrinhos. (Minidicionrio Luft. 9 ed. So Paulo: tica/Scipione, s.d. p. 511.)
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Funo ftica predomnio das mensagens que tm por objetivo principal no a transmisso de informaes, mas o prolongamento da comunicao ou sua interrupo, para atrair a ateno do
destinatrio ou verificar sua ateno:
Al! Al!, marciano
Aqui quem fala da Terra... (Rita Lee)
Funo potica caracteriza-se pelo trabalho com a linguagem: Trova
Quem as suas mgoas canta,
Quando acaso as canta bem
No canta s suas mgoas,
Canta a de todos tambm.
(Mrio Quintana)
As ancas balanam, e as vagas de dorsos, das vacas e touros, batendo com as caudas, mugindo no
meio, na massa embolada, com atritos de couros, estralos de guampas, estrondos e baques, e o berro
queixoso do gado junqueira, de chifres imensos, com muita tristeza, saudade dos campos, querncia
dos pastos de l do serto (...) (Guimares Rosa)
Exerccios
Identifique a funo da linguagem predominante em cada um dos enunciados:
1) O cultivo da soja foi o que mais cresceu no Brasil nos ltimos quinze anos e representa,
atualmente, o ramo mais importante do setor oleaginoso.
2) Sinta a suave sensao de Nvea loo.
3) Al, dona Maria, como vai a sua tia? Al , dona Aurora, como vai a senhora? (Chacrinha)
4) beba coca cola
babe cola
beba coca
babe cola caco
caco
cola
cloaca
(Dcio Pignatari)
5) Eu sei que um outro deve estar falando,
ao seu ouvido,
palavras de amor como eu falei,
mas eu duvido,
duvido que ele tenha tanto amor
e at os erros do meu portugus ruim
e nessa hora voc vai
vai lembrar de mim. (Roberto e Erasmo Carlos)
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6) O adjetivo essencialmente um modificador do substantivo. (CUNHA, C.C. e CINTRA, L. Nova
Gramtica do Portugus Contemporneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. p. 238.)
Em todo esse processo de comunicao, o contexto de fundamental importncia, pois,
dependendo dele, um mesmo enunciado pode adquirir significados diferentes. Observe a orao A
porta est aberta nas seguintes situaes:
diz a moa num dia de calor: A porta est aberta e, por ela, entra uma brisa fresca. O contedo da mensagem indica, simplesmente, que a porta est aberta;
o barulho do corredor muito intenso e o professor, incomodado com a situao, queixa-se a um aluno que est perto da porta: A porta est aberta. Sua inteno no constatar que a porta est
aberta, mas pedir ao aluno que a feche;
um aluno est brigando com o professor e diz-lhe que no suporta mais sua aula. O professor responde: A porta est aberta, ou seja, Pode sair;
um empregado de uma empresa recebe uma proposta para trabalhar num outro lugar, com um salrio melhor e possibilidade de ascenso na carreira. Seu empregador lhe diz que est feliz
com essa perspectiva; mas, se algo no correr bem no prximo emprego, A porta est aberta, ou
seja, ele poder voltar.
por isso que se diz que, na comunicao, preciso sempre levar em considerao o
contexto e reconhecer a inteno de quem produz a mensagem. Assim, nas frases acima, o leitor
deve perceber a fora ilocutria (a inteno), para que a interao se estabelea.
A linguagem tambm trabalha (e muito) com implcitos, espcie de passageiros clandestinos,
que agem sub-repticiamente3, da a necessidade de saber ler as lacunas. Os implcitos podem ser de
duas naturezas:
pressupostos: mensagens cuja inferncia automtica. Em Paulo deixou de fumar, a inferncia que ele fumava antes, pois o verbo parar autoriza essa leitura. Ou Jean nasceu
na Frana, mas bem-humorado. O mas pressupe que quem nasce na Frana mal-
humorado. H sempre na frase um elemento lingustico que permite a pressuposio.
subentendidos: mensagem que transfere ao emissor a responsabilidade de atribuir determinado sentido ao texto. o caso da ironia, em que difcil provar que o emissor quis
dizer tal coisa, isto , muitas vezes no se pode provar, com apoio no texto, a inteno do
emissor. Para sua leitura, o receptor deve conhecer o contexto. Por exemplo, no ano de 2004,
uma escola de idiomas em sua publicidade veiculou esta frase em cartazes:
Duas lnguas do mais prazer do que uma
3 Feito s ocultas; furtivamente.
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A primeira leitura marota ertica, mas o publicitrio pode dizer que no foi isso que quis
dizer, mas somente que, sabendo duas lnguas, voc pode ter acesso a duas culturas e ter
muito mais prazer no aprendizado.
Exerccios4:
1) Tire a concluso possvel:
a) Na cidade, todos os prdios com mais de trs andares ficam na praa da matriz. O Z Carlos disse
que mora no 6 andar. Logo, o Z Carlos ....
b) As marcas dos pneus ficaram a um metro e noventa de distncia. Nenhum carro tem uma bitola
to larga. Portanto, as marcas de pneus ...
c) Para ser diplomata, era preciso ter o curso do Itamaraty, ou ter se notabilizado por uma obra
artstica considerada de grande expresso. No me consta que o poeta Vinicius de Moraes
tivesse feito o curso do Itamaraty. Logo, ...
d) Nenhum bolo de aniversrio comprado em confeitaria custa hoje menos de 30 reais. Se o Joo
gastou menos de 30 reais com o bolo de aniversrio do irmozinho, ento...
e) Na vspera do concerto, o banco mandou convite para cada um dos clientes com mais de cinco
mil reais na carteira de investimento. Se o Z Carlos no foi convidado, que ...
2) Em poca prxima ao Dia dos Namorados de 1999, a montadora Renault estava promovendo o
carro modelo Scnic por meio de uma propaganda em que aparecia a frase: No Dia dos Namorados, a Renault lembra: os bancos do Scnic podem ficar em 97 posies diferentes. Explique-a.
3) Levando em considerao o que um pressuposto, explique por que esta propaganda
potencialmente nociva ao comerciante que a utiliza.
No se deixe explorar pela concorrncia!
Compre na nossa loja.
4) Como voc interpretaria esta sequncia de perguntas (de um juiz) e respostas (de uma
acusada) registrada durante uma audincia no tribunal?
Pergunta: A senhora passou alguma vez a noite com este homem em Nova York?
Resposta: Eu me recuso a responder a essa pergunta!
Pergunta: A senhora passou alguma vez a noite com este homem em Chicago?
Resposta: Eu me recuso a responder a essa pergunta!
Pergunta: A senhora passou alguma vez a noite com este homem em Miami?
Resposta: No!
5)
Reduit leite puro e saboroso.
Reduit saudvel, pois nele quase toda gordura retirada, permanecendo todas as outras
qualidades nutricionais.
Reduit bom para jovens, adultos e dietas de baixas calorias.
(texto de uma embalagem de leite em p)
4 Exerccios extrados de ILARI, Rodolfo. Introduo semntica. So Paulo: Contexto, 2001.
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a) No texto, a gordura pode ser entendida tambm como uma qualidade nutricional? Justifique sua
resposta, transcrevendo do texto a expresso mais pertinente.
b) As qualidades nutricionais de um produto, segundo o texto, sempre fazem bem sade?
Justifique sua resposta.
6) Suponha uma notcia esportiva como esta:
O jogo de ontem noite no Pacaembu foi um espetculo memorvel. No gramado, os atletas do So Paulo e do Corinthians deram uma exibio de arte. Nas arquibancadas,
mesmo a torcida do Corinthians se comportou civilizadamente.
Ao ler a notcia, um torcedor corintiano protestou contra o jornal.
a) O torcedor tinha motivo para fazer o protesto? Por qu?
b) Qual a palavra da notcia mais reveladora da opinio do redator?
c) Que pressuposto essa palavra estabelece dentro do contexto da notcia?
7) Dois adesivos foram colocados no vidro traseiro de um carro. Um em cima:
DEUS FIEL
E o outro bem embaixo:
PORQUE PARA DEUS
NADA IMPOSSVEL
possvel ler os dois adesivos em sequncia, constituindo um nico perodo. Nesse caso:
a) O que se estaria afirmando sobre a fidelidade?
b) O que o dono do carro poderia estar querendo afirmar sobre si mesmo?
8) Est circulando na internet uma mensagem que diz o seguinte:
Ateno! Os extraterrestres esto chegando para sequestrar todas as pessoas bonitas. Voc est seguro, s estou escrevendo para me despedir.
Quais as duas informaes que se podem pressupor dessa mensagem?
9) Observe estas duas frases:
Em Cuba, at as universitrias so prostitutas. Em Cuba, at as prostitutas so universitrias.
a) A primeira frase pressupe uma crtica ao regime cubano. Qual?
b) E a segunda?
10) Pressupostos so ideias no ditas de modo explcito (ou seja, so informaes implcitas), mas que o leitor pode perceber a partir de certas palavras ou expresses contidas no enunciado. Por
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exemplo, em Pedro parou de fumar, o verbo parou permite pressupor que Pedro fumava antes, embora essa informao no esteja explcita. Em qual das seguintes frases no h palavra(s) que indique(m) haver pressuposto?
a) O New Civic est ainda mais luxuoso.
b) Luciana pobre, mas veste-se bem.
c) Desde que casou, Ricardo no cumprimenta mais ningum.
d) Maria continua triste.
e) Nenhuma das anteriores.
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2/3 O SIGNO LINGUSTICO
O signo, aquilo que representa algo para algum, compe-se de um elemento material, perceptvel o significante e um elemento conceitual, no perceptvel, conceitual o significado. Entre significante e significado se estabelece uma relao arbitrria proveniente de um acordo implcito ou explcito entre os usurios de uma mesma lngua, assim essa relao convencional, arbitrria e
aprendida.
Trabalho com o significante
I Aspectos visuais
Seu trabalho, agora, escrever/desenhar palavras, fazendo com que a relao significante/significado no seja mais arbitrria, mas motivada.
Primeiramente, voc vai trabalhar denotativamente e, em seguida, produzir metforas visuais5.
5 No e-mail de sua sala, h uma srie de exemplos desse trabalho realizado por alunos do primeiro semestre de
Comunicao Social, 2009.
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(Augusto de Campos)
Obs.: Veja outros exemplos nos anexos.
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Observe como os autores dos textos abaixo utilizaram a forma grfica:
COMO UM KAMIKAZE
A mosca azul finalmente pousou sobre a gelatina
Gelatinou zonza at os ares, seca
A mosca azul finalmente pousou sobre
Gelatinou zonza at os ares
A mosca azul finalmente pousou
Gelatinou zonza at
A mosca azul finalmente
Gelatinou zonza A mosca azul
Gelatinou
A mosca
A h quanto tempo quero pousar!
(Artur Adriano Borges Ferreira Fiam/78)
Epitfio para um banqueiro n e g c i o
e g o
c i o
c i o
0
(Jos Paulo Paes)
CIDADE
ATROCADUCAPACAUSTIDUPLIELASTIFELIFEROFUGA
HISTORILOQUALUBRIMENDIMULTIPLIORGANIPERIO-
DIPLASTIPUBLIRAPARECIPROSAGASIMPLITENAVELO-
VERAVIVAUNIVORACIDADE
CITY
CIT
(Augusto de Campos)
vai e vem
e e
vem e vai
(J. L. Grnewald)
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II Explorao do significante para criar outros significados Muitas vezes, para criar um efeito-surpresa, alguns autores conseguem gerar significaes novas por
meio da montagem/inveno de palavras, a partir de duas ou trs j existentes; ou da desmontagem
de palavras j existentes, criando outro significado. Veja:
Montagem Desmontagem abusufruto (abuso+uso+usufruto) amor tece dor (amortecedor)
propriotrio (proprietrio+otrio) ali nao (alienao)
festivaia (festival+vaia) carrega a dor (carregador)
tranquilometragem (tranqulidade+quilometragem) feliz ardo (felizardo)
sertanojo (sertanejo+nojo) os ss (ossos)
Observe como estes autores foram a desautomatizao de sua percepo (porque se utilizam
dos procedimentos acima descritos) para que voc consiga realizar a inteleco destes textos:
REALIDADE
A
IDA
REAL
DA
IDADE
sem volta
(Fbio L. Silva Fiam/77)
durassolado solumano
petrifincado corpumano
amargamado fardumano
agrusurado servumano
capitalienado gadumano
massamorfado desumano
(Jos Lino Grnewald)
(...)
Parafins gatins alphaluz sexonhei la guerrapaz
Ourax palvoras driz ok cris expacial
projeitinho imanso ciumortevida vidavid
lambetelho frturo orgasmaravalha-me Logun
homenina nel paras de felicidadania:
outras palavras.
(Caetano Veloso)
ETERNAMENTE (fragmento)
eternamente
ter na mente
ternamente
eternamente
ter na mente (Walter Franco)
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De palavra em palavra
SOM
MAR
AMARELANIL
MAR
ANILINA
AMARANILANILINALINARAMA
SOM
MAR SILNCIO
NO
SOM
(Caetano Veloso)
Agora tente criar um texto em que o significado esteja em busca de novos significantes.
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III Aspectos sonoros
Oua:
Ondulou de mansinho alguns passos denunciados apenas na branda alavanca das ancas. (Otto Lara Rezende)
Amor morto motor da saudade (Caetano Veloso)
Acho que a chuva ajuda a gente a se ver... (Caetano Veloso)
Toda gente homenageia Januria na janela, At o mar faz mar cheia pra chegar mais perto dela. (Chico Buarque)
Pompom com Protex protege o nen
Sinta a suave sensao de Nvea Loo
A onda
a onda anda
aonde anda Clara
a onda?
a onda ainda quando a manh madrugava
ainda onda calma
ainda anda alta
aonde? clara
aonde? Clara morria de amor
a onda a onda (Caetano Veloso)
(Manuel Bandeira)
BALALAICA
Balalaica6
(como um balido7 abala
a balada do baile
de gala)
(como um balido)
abala (com balido)
(a gala do baile)
louca a bala
laica8
(Maiakvski trad. Augusto de Campos) 6 Balalaica: Instrumento musical de trs cordas e forma triangular, muito us. pelos russos na execuo de sua msica
popular. 7 Balido: som emitido por ovelha ou por cordeiro.
8 Laico: que ou aquele que no pertence ao clero nem a uma ordem religiosa; leigo.
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4 DENOTAO E CONOTAO
Crie imagens concretas para os seguintes substantivos abstratos. No utilize verbos.
Felicidade:
Dificuldade:
Dvida:
Apreenso:
Medo:
Coragem:
Amor:
Paz:
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26
Guarde suas imagens para utiliz-las aps a leitura destes textos:
RIO-NITERI
Apito, guich, aperto, cotovelo,
gente, fila, salto e perigo.
Rostos em tenso. Suor no corrimo.
Escada pro saguo. Banco,
cheiro de leo, urina e peixe.
Fuligem nos olhos e fumaa.
Olho no catarro e no estmago...
Enjoo!
Verde profundo em gaivota rasa.
Espuma e poeira.
Balano e boia e boto.
Motor e conversa e rdio de pilha.
Pequena paz em alerta ao apito, ao povo, pressa.
Sada longe dos passos.
Tinta, corroso, tonta multido
em confuso, tbua solta no assoalho.
Barca barriguda, aborto social.
Cordas, amarras, ncoras, armazns.
Marinha, porto e chegada.
(Thephilo Augusto de Barros Neto Fiam/84)
VIDA VIDINHA
A solteirona e seu p de begnia
a solteirona e seu gato cinzento
a solteirona e seu bolo de amndoas
a solteirona e sua renda de bilro
a solteirona e seu jornal de modas
a solteirona e seu livro de missa
a solteirona e seu armrio fechado
a solteirona e sua janela
a solteirona e seu olhar vazio
a solteirona e seus bands grisalhos
a solteirona e seu bandolim
a solteirona e seu noivo-retrato
a solteirona e seu tempo infinito
a solteirona e seu travesseiro
ardente, molhado
de soluos.
(Carlos Drummond de Andrade)
Aps a leitura, volte ao seu material anterior e organize-o num texto potico em que no haja
verbos.
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TEXTO LITERRIO X TEXTO NO LITERRIO Texto1:
Fotossntese Da ao da luz sobre os vegetais verdes depende o mais importante de todos os fenmenos vitais, a fotossntese, qual esto direta ou indiretamente escravizados todos os seres
vivos. Exteriormente, a fotossntese se manifesta pela troca de gases entre o vegetal e a atmosfera: o
vegetal absorve CO2 e elimina oxignio. Duas condies so necessrias para que o fenmeno se
realize: uma a presena de clorofila; outra, a presena de luz. O papel da clorofila consiste em
absorver uma parte das radiaes solares, cuja energia ento aproveitada para reaes qumicas no
interior da planta. Nessa funo, as radiaes vermelhas so as mais eficazes, vindo depois o
alaranjado, o amarelo, e, na outra extremidade do espectro, o violeta. Na faixa correspondente ao
verde, o fenmeno quase nulo. O mais importante, porm, que, graas energia solar absorvida,
a planta verde decompe o CO2 em seus elementos (carbono e oxignio), devolve o oxignio
atmosfera, e, unindo o carbono aos materiais da seiva, fabrica substncia orgnica. Esta sntese,
efetuada sob a ao da luz, que justifica a denominao de fotossntese dada ao fenmeno.
(ALMEIDA Jr., A. Biologia Educacional. So Paulo: Cia. Editora Nacional, 1965. p. 201.)
Texto2: Luz do Sol
Luz do sol, Reza a correnteza,
Que a folha traga e traduz Roa a beira,
Em verde novo, em folha, em graa, Reza, reza o rio,
Em vida, em fora, em luz. Crrego pro rio,
Cu azul, O rio pro mar.
Que vem at onde os ps tocam a terra Marcha o homem sobre o cho,
E a terra expira e exala seus azuis. Leva no corao uma ferida acesa.
Dono do sim e do no,
Doura a areia. Diante da viso da infinita beleza
Roa a beira, Finda por ferir com a mo essa delicadeza,
Reza, reza o rio, A coisa mais querida:
Crrego pro rio, A glria da vida.
O rio pro mar.
(Caetano Veloso, Luz do Sol. In: Meu bem, meu mal. LP Fontana 826162-1. 1985. L.2, f.1.)
Como voc percebeu, o tema do primeiro texto e do segundo (na parte destacada) o mesmo: a
fotossntese. Mas, por suas intenes e caractersticas, cada um deles pode ser classificado como no
literrio e literrio, respectivamente. Vejamos por qu.
No primeiro texto predomina a funo referencial. O objetivo do autor , pura e simplesmente,
informar de maneira precisa e objetiva. Para atingir essa meta, ele utilizou a denotao, isto , valeu-
se do sentido prprio ou referencial da palavra. Privilegiou, portanto, o significado, seu valor
utilitrio, ou seja, o plano do contedo. Por isso, pode-se fazer um resumo das ideias do texto e
apreender o essencial da informao. O plano da expresso (explorao dos recursos do significante)
no trabalhado nesse texto, isto , a linguagem transparente, s veicula contedos. Como
consequncia o texto univalente: apresenta uma nica interpretao9.
9 O texto jornalstico informativo pertence a essa classe de textos. Embora se possa questionar sua objetividade, uma vez
que, no simples ato de selecionar palavras, h a presena da subjetividade do autor.
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No segundo texto, ao contrrio, predomina a funo potica, pois a organizao da mensagem
privilegia a prpria mensagem, o plano da expresso, o trabalho com a parte concreta do signo
(significante): o que se destaca o trabalho com a linguagem. A predominncia no texto de Caetano
da linguagem em funo esttica, conotativa, que permite o aparecimento de um sentido figurado.
Observe o uso conotativo, metafrico, dos verbos tragar e traduzir: houve uma associao por
similaridade, em outras palavras, associou-se o ato de fumar e de tragar ao do vegetal
absorvendo a luz e, em seguida, transformando essa luz em substncia orgnica. Ou, nas palavras do
autor, traduzindo uma informao em outra.
Alm dessa utilizao de metforas, percebe-se na seleo desses verbos o trabalho com o
significante: a repetio dos fonemas tr (traga e traduz) e a enumerao em verde novo, em folha,
em graa, em vida, em fora, em luz.
Essas observaes referem-se somente parte destacada do texto, mas, no restante, a presena do
trabalho no nvel da mensagem repete-se. Na segunda estrofe, a repetio do fonema r sugere o
movimento das guas e, na terceira estrofe, o uso de metforas (ferida acesa, dono do sim e do
no) indica o trabalho com uma linguagem subjetiva. o domnio da conotao, da interpretao
afetiva, do sentido figurado, metafrico. Neste exemplo, vemos claramente como, ao plano do
contedo, superpe-se o plano da expresso, resultando da a plurissignificncia do texto.
importante aqui fazer uma distino de muita relevncia: se o texto no literrio passvel de ser
resumido porque tem uma funo utilitria (informar), porque trabalha basicamente o plano do
contedo, o mesmo no acontece com o texto literrio. Resumir o texto literrio perder o essencial.
No ato de resumir pode-se saber o enredo da histria, mas perdem-se as sabedorias e mincias do
estilo.
Esquematizando o que foi dito, teremos predominantemente:
Texto Literrio
(plurissignificante = vrias interpretaes) Texto No Literrio
(univalente = uma nica interpretao)
Subjetivo Objetivo
Conotativo Denotativo
Intuitivo/Criativo Racional
Relevncia do plano da expresso Relevncia do plano do contedo
O TEXTO NO LITERRIO
Textos no literrios privilegiam a funo referencial, portanto conciso, objetividade, clareza,
coerncia e adequao ao nvel hierrquico do destinatrio so suas principais caractersticas.
Conciso: expressar o mximo de informaes com o mnimo necessrio de palavras.
Objetividade: para que o texto seja objetivo, preciso determinar com preciso quais so as informaes realmente relevantes que dele devem constar.
Clareza: para que o texto seja claro, deve estar conceitualmente bem organizado e redigido em bom portugus.
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Coerncia: para que o texto seja coerente, deve ter nexo, lgica, isto , deve apresentar harmonia entre situaes, acontecimentos ou ideias.
Linguagem formal: respeitar as normas gramaticais. O grau de formalidade, maior ou menor, dever ser adequado posio hierrquica do destinatrio.
O que se deve evitar em qualquer tipo de texto
escrita rebuscada e difcil;
emprego de construes em desuso, ainda que gramaticalmente
corretas;
abuso de estrangeirismos;
erros gramaticais;
utilizao de modismos lingusticos;
rimas e m ordenao de palavras na frase
Exerccio
A partir de uma mesma palavra-mote, crie dois textos: um literrio e outro no literrio.
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5 MODALIDADES E VARIEDADES LINGUSTICAS
5.1 MODALIDADES LINGUSTICAS
O portugus, como qualquer outra lngua, tem uma modalidade oral e uma modalidade
escrita. Trata-se, praticamente, de duas lnguas com gramticas diferentes, o que no impede que
certos textos escritos apresentem traos de oralidade ou que determinadas realizaes orais se
pautem pela gramtica normativa a qual rege, na maioria das vezes, a modalidade escrita. Exemplos
disso so o radiojornal e o telejornal que, apesar de falados, tm como base um texto escrito, que
tenta aproximar-se da linguagem oral.
A modalidade oral pressupe o contato direto entre os falantes, o que a torna mais concreta e
econmica (porque os elementos a que se refere esto presentes na situao do dilogo e porque
gestos e olhares desempenham, ao lado da linguagem verbal, um papel importante). Existe ainda na
modalidade oral um jogo de cadncias e pausas que d o ritmo fala e auxilia na decodificao de
mensagem. Essa modalidade caracteriza-se pela fragmentao (hesitaes, repeties, correes,
truncamentos), pela presena de marcadores conversacionais (n, ento, da, entendeu?) e pelo
envolvimento devido alta taxa de feedback. Constituda por jatos cujo comprimento de
aproximadamente sete palavras (quantidade de informao que o falante consegue controlar na
memria), conhecidos como chunks, a modalidade oral prefere a coordenao (situao em que as
unidades de pensamento so independentes).
Ao contrrio da modalidade oral, a escrita um ato de produo solitrio, lento, planejado,
que possibilita alteraes, ou seja, ela editvel. A modalidade escrita caracteriza-se pela integrao
e pelo distanciamento, preferindo a subordinao. Nesta modalidade, o jogo de cadncias e pausas
deve ser recriado pela pontuao e pelos caracteres grficos (maisculas, negrito, itlico, etc.).
Como tem de recuperar todos esses elementos, a modalidade escrita resulta menos econmica, mas
mais precisa que a oral.
Traos distintivos entre a modalidade oral e a modalidade escrita
Modalidade oral Modalidade escrita
Ocorre num ambiente de interao social,
onde existe a co-presena dos enunciadores
No tem o apoio do ambiente da co-presena
dos enunciadores
Altamente dialgica Ato solitrio
Fragmentria No fragmentria
Incompleta Completa
Pouco elaborada, com a presena de
marcadores conversacionais (n?, ento,
da), expresses coloquiais e grias
Elaborada
No planejada Planejada
Predominncia de frases curtas, simples ou
coordenadas.
Predominncia de frases complexas,
subordinao abundante
No editvel Editvel
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Exerccio:
(Unicamp - SP) O trecho seguinte foi extrado do debate que se seguiu palestra do poeta Paulo
Leminski (Poesia: a paixo da linguagem), proferida durante o curso Os sentidos da paixo (Funarte, 1986). Observe que nele possvel identificar palavras e construes caractersticas da
linguagem coloquial oral. Reescreva-o de forma a adequ-lo modalidade escrita culta.
Estudei durante seis anos muito a vida de um paulista e fiz um filme sobre ele, que o Mrio de Andrade, um puta poeta muito pouco falado pelas ditas vanguardas modernistas. [...] Hoje em dia,
felizmente, j existem vrios trabalhos, h muita gente reavaliando a potica do Mrio, que ela
muito mais importante e profunda do que aparentemente pareceu nestes ltimos anos. Estudando o
Mrio, eu descobri que o Mrio foi um exemplo do cara que morreu de amor, mas de amor pelo seu
povo, pelo seu pas, pela sua cultura [...] Um outro cara que tambm fiz um filme o Cmara
Cascudo. Um cara como o Cmara Cascudo morre, os jornais do uma notinha desse tamanhinho,
escondidinho, um cara que deveria ter esttua em praa pblica, deveria ser lido, recitado. (Os sentidos da paixo, p. 301)
5.2 VARIAES LINGUSTICAS
Em nossa sociedade (como alis em qualquer outra), existe uma pluralidade de discursos, ou
seja, nossa lngua no homognea: os brasileiros no se expressam todos da mesma forma, apesar
de todos falarem portugus. Cada um de ns segundo o nvel de instruo, idade, sexo, regio, situao em que ocorre a comunicao, destinatrio da mensagem, etc. usa a lngua de uma determinada forma. Assim, existem variaes dialetais, que ocorrem em funo dos emissores, e
variaes de registro, que dependem dos receptores, da mensagem ou da situao10
.
O extinto jornal Notcias Populares (NP) de So Paulo, na edio de 11/9/2000, apresentou a
seguinte manchete seguida da linha fina (explicao sucinta da manchete):
ROLO NO INSS MELA APOSENTADORIA
NP explica mais essa treta pra voc no comer bola
Observe que a seleo de palavras rolo, mela, treta, comer bola exemplifica, ao mesmo tempo, uma variante social da linguagem e uma variao de registro (tentativa de adequar-se
linguagem do receptor).
Com certeza, o mesmo fato teria outra manchete em um jornal como O Estado de S.Paulo ou
Folha de S.Paulo, por exemplo, pois seu pblico outro. Poderia ser algo como:
SUSPEITA DE FRAUDE NO INSS ADIA CONCESSO DE BENEFCIO
o que, certamente, seria incompreensvel (ou menos legvel) para o leitor do NP.
10
A distino entre variaes dialetais e variaes de registro, no entanto, puramente didtica, uma vez que no ato de
comunicao elas se superpem.
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5.2.1 Variaes dialetais
Estas variaes presentes na fala ou na escrita revelam muito sobre o emissor da mensagem.
nelas que o preconceito lingustico se manifesta com maior intensidade, porque h certas variantes
que desfrutam de maior prestgio social. Elas podem ser:
territoriais ou regionais: ocorrem entre pessoas de diferentes regies onde se fala a mesma lngua e so determinadas por influncias histricas, sociais, econmicas, culturais, polticas.
Marcam-se sobretudo na fontica (observe como diferente o sotaque de um carioca, de um
baiano, de um mineiro) e no lxico (a mandioca do Sudeste do Brasil chamada macaxeira no
Nordeste e aipim no Sul);
sociais: representadas pelos jarges (linguagem tcnica, profissional) ou pela gria;
etrias: dependem da idade dos interlocutores. Observe que um jovem no fala como uma pessoa de 70 anos;
de sexo: h palavras permitidas aos homens, mas inadmissveis na boca de mulheres;
de gerao ou histricas: devidas evoluo do idioma, so mais percebidas na lngua escrita. Caetano Veloso, na msica Lngua, em que trata das variantes, conseguiu com mestria
sintetizar essa variao neste verso: Gosto de sentir a minha lngua roar a lngua de Lus de Cames (Ateno que, provocativamente, o autor sugeriu uma conotao sexual ao texto escolhendo no cdigo a palavra roar (tocar de leve, brandamente)).
5.2.2 Variaes de registro
Estas variaes representam a necessidade de o emissor adaptar-se ao seu interlocutor,
situao ou mensagem. Assim, obras cientficas ou obras literrias clssicas apresentaro um
cuidado maior com a linguagem e utilizaro a norma culta, enquanto obras do Modernismo, bate-
papos na Internet, revistas para jovens e adolescentes vo aproximar-se do coloquial. A situao vai
tambm determinar o registro a ser usado: um professor no fala da mesma forma em uma palestra e
num bate-papo em um barzinho ao lado de uma turma de jovens.
Em qualquer situao sociocomunicativa, o emissor deve estar atento ao grau de formalismo
(representado pelo cuidado com a linguagem e pela aproximao da lngua padro e culta) e
sintonia com seu receptor neste ltimo item selecionando os recursos de expresso de acordo com o status do receptor, variando o
volume de informaes ou conhecimentos com o que presume que seu leitor / ouvinte
tenha;
ajustando o nvel de cortesia segundo a dignidade que considera adequada a seus interlocutores (que varia da blasfmia obscenidade e ao eufemismo, veja como Joo
Gordo (ex-Ratos do Poro) trata seus entrevistados);
escolhendo o registro a ser utilizado em dado contexto, o que considerado bom para determinada situao.
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Assim, em funo de diversos fatores, as pessoas falam lnguas diferentes, o que levou o linguista Evanildo Bechara a dizer que devemos ser poliglotas dentro da prpria lngua, pois o
conhecimento das variaes e modalidades lingusticas facilita a eficcia da comunicao.
Podem-se delinear trs principais nveis de linguagem: a linguagem culta (ou variante-
padro), a linguagem familiar (ou coloquial) e a linguagem popular.
A linguagem culta utilizada pelas classes intelectuais da sociedade. a variante de maior prestgio e aquela ensinada nas escolas. Sua sintaxe mais complexa, seu
vocabulrio mais amplo e h, nela, maior obedincia gramtica e lngua dos escritores
clssicos.
A linguagem coloquial utilizada pelas pessoas que fazem uso de um nvel menos formal, mais cotidiano. Relativamente linguagem culta, apresenta limitao vocabular,
revelando-se incapaz para a comunicao do conhecimento filosfico, cientfico etc.
Apresenta maior liberdade de expresso, sobretudo no que se refere gramtica
normativa.
A linguagem popular aquela utilizada por pessoas de pouca ou nenhuma escolaridade. Esse nvel raramente aparece na forma escrita e caracteriza-se como um subpadro
lingustico. Nele, o vocabulrio bem mais restrito, com muitas grias, onomatopeias e
formas gramaticalmente incorretas (pobrema, nis vai, nis fumo e no encontremo
ningum, tauba, etc.). No h, aqui, preocupao com as regras gramaticais.
Como em comunicao a questo no de certo ou errado, mas de adequao ao contexto
sociocomunicativo, essas variaes nos fazem entender e aceitar construes da linguagem
publicitria decalcadas na modalidade oral, como: A empresa que voc fala com o dono, em lugar da
forma gramaticalmente correta: A empresa em que voc fala com o dono. O slogan da Caixa
Econmica Federal Vem pra Caixa voc tambm, vem em lugar de Venha para a Caixa voc tambm, venha ou de Vem para a Caixa tu tambm, vem, outro exemplo dessas variaes, pois
opta pela mistura de tratamento tu/ voc, tpica do registro coloquial, para chegar mais prximo de
seu pblico. Por outro lado, as letras das msicas de Adoniran Barbosa s so saborosas e
verossmeis11
porque retratam a lngua inculta falada por seus personagens.
Ao contrrio, este ttulo de outro texto publicitrio publicado h cerca de 20 anos numa
importante revista semanal no quer com seus erros aproximar-se de seus leitores nem procura criar
nenhum efeito de sentido, ele s revela que seu autor no conseguiu adequar a mensagem nem ao
seu pblico nem situao: More no Pacaemb como a 60 anos atrs. Analisando: at um corretor ortogrfico do Word indicaria que Pacaembu no tem acento por
tratar-se de palavra oxtona terminada em u;
como se trata de 60 anos passados, o h deve ser assim grafado; e, se j se grafou h 60 anos, o atrs dispensvel (embora, no nvel coloquial as
pessoas no o omitam).
No teria sido mais fcil e conciso o redator ter escrito: More no Pacaembu como h 60 anos?
11
Verossmil: que parece verdadeiro.
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Exerccios
1) Identifique as variaes e registros presentes nos seguintes textos:
a) cara, t azarando uma mina que o maior barato.
b) A nica testemunha do crime, encontrada num bar de Ipanema, declarou:
Tvamos malocados no Vidigal cafungando uma legal, quando embunecamos com a mquina de dois baitolas na viseira. Meu chapa, numa pssima, neurotizou adoidado, levou um caramelo no
gorgolejo e meteu l uma de decbito sem retorno. Por a. A polcia j est no encalo de um tradutor. (Veja, 21/09/77)
2) (Fuvest - SP) A princesa Diana j passou por poucas e boas. Tipo quando seu ex-marido Charles teve um love affair com lady Camille revelado para Deus e o mundo. (Folha de S.Paulo, 5/11/93)
No texto acima, h expresses que fogem ao padro culto da lngua escrita.
Identifique-as.
Reescreva-as conforme o padro culto.
3) massa! Dessa vez a Atrevida arrepiou. Foi da hora a matria NA PONTA DA LNGUA, com as grias maneiras de todos os lugares. por isso que me amarro cada vez mais nesta revista:
descolada, divertida, diferente e trilegal. (Mariana Alves Manso, Atrevida, set. 1996, p.18)
Reescreva como se a leitora estivesse escrevendo para a revista Veja.
4) Frases como estas so comuns em situaes informais, porm, num texto escrito formal, so
inadequadas. Reescreva-as observando o padro culto:
a) A rua que eu moro no arborizada.
b) O escritrio que trabalho tem ar-condicionado.
c) O homem que eu telefonei para ele ontem no estava em casa.
d) A rua que eu gosto de correr toda arborizada.
e) O rapaz que a filha ganhou o prmio coreano.
f) Os assessores da rainha Elisabeth queriam saber os assuntos que dona Ruth Cardoso gostava de
falar.
5) Segundo o padro culto, estas frases esto corretas? Explique por qu.
a) Os congressistas sobre os quais recaem tantas acusaes e dos quais tanto se suspeita no vieram
se defender.
b) As notcias de que me valho esto no jornal em que voc confia.
c) O programa a que estou assistindo aquele de que voc gosta.
d) A corrupo, com que ningum se conforma mas que poucos denunciam, representa um risco
para a democracia.
e) Essas foram as razes por que parti.
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Texto para leitura: Assalto brasileira
Assaltante mineiro " s, presteno. Iss um assarto, uai. Levantus brau e fiketin qui mi pruc. Esse trem na minha
mo t chein di bala... Mi pass logo os trocado que eu num to bo hoje. Vai andano, uai ! T
esperanuqu, s?!"
Assaltante baiano " meu rei... (pausa). Isso um assalto... (longa pausa). Levanta os braos, mas no se avexe no...
(outra pausa). Se num quiser nem precisa levantar, pra num ficar cansado Vai passando a grana, bem
devagarinho (pausa pra pausa ) Num repara se o berro est sem bala, mas pra no ficar muito
pesado (pausa maior ainda). No esquenta, meu irmozinho (pausa). Vou deixar teus documentos na
encruzilhada."
Assaltante carioca "A, perdeu, mermo! Seguiiiinnte, bicho. Isso um assalto, sac? Passa a grana e levanta os brao
rap ... No fica de ca que eu te passo o cerol.... Vai andando e se olhar pra trs vira presunto ..."
Assaltante paulista "Isto um assalto! Erga os braos! Passa logo a grana, meu. Mais rpido, mais rpido, meu, que eu
ainda preciso pegar a bilheteria aberta pru jogo do Curintias, meu ... P, agora se manda, meu, vai...
vai..."
Assaltante gacho "O guri, ficas atento... isso um assalto. Levanta os braos e te aquieta, tch ! No tentes nada e
cuidado que esse faco corta uma barbariiidaaade, tch. Passa as pilas pr c ! Trilegal! Agora, te
mandas, seno o quarenta e quatro fala."
Assaltante de Braslia "Companheiros, estou aqui no horrio nobre da TV para dizer que no final do ms, aumentaremos as
seguintes tarifas: energia, gua, esgoto, gs, passagem de nibus, imposto de renda, licenciamento
de veculos, seguro obrigatrio, gasolina, lcool, IPTU, IPVA, IPI, ICMS, PIS, Cofins."
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36
6 FATORES DE TEXTUALIDADE
CONCEITUAO DE TEXTO
O texto uma manifestao lingustica produzida por algum, em alguma situao concreta
(contexto), com alguma inteno. Independentemente de sua extenso, o texto deve dar a sensao
de completude12
, do contrrio no ser um texto.
Por exemplo, algum sai correndo de um edifcio e grita: Fogo! Percebe-se que nessa circunstncia a palavra fogo adquire um significado diferente de uma mera referncia a um processo de combusto. A interpretao ser de que h um incndio naquele prdio e a pessoa est
querendo alertar outras e, se possvel, conseguir ajuda. Logo, nessa situao especfica, a palavra
fogo um texto.
Alm da noo de completude, sete fatores so responsveis pela textualidade (conjunto de
caractersticas que fazem de um texto um texto e no um amontoado de frases):
fatores pragmticos13 intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, informatividade e intertextualidade dizem respeito aos fatores contextuais que determinam os usos lingusticos nas situaes de comunicao e contribuem para a construo do sentido do texto:
intencionalidade: a manifestao da inteno, do objetivo do emissor numa determinada situao sociocomunicativa;
aceitabilidade: a expectativa que o leitor manifesta de que o texto com que se defronta seja coerente, coeso, til, relevante;
situacionalidade: pertinncia e relevncia do texto quanto ao contexto em que ocorre. Ela orienta tanto a produo quanto a recepo de textos;
informatividade: diz respeito taxa de informao do texto. Ela depende da situao, do pblico, das intenes;
intertextualidade: refere-se ao dilogo entre textos. A produo e compreenso de textos dependem do conhecimento de outros textos.
Exemplificando: Cano do exlio facilitada
l?
ah!
sabi...
pap...
man...
sof...
sinh...
c?
bah! (Jos Paulo Paes)
12
Carter do que , ou est completo. 13
Pragmtico: Suscetvel de aplicaes prticas; voltado para a ao; relativo pragmtica (estudo dos fatores
contextuais que determinam os usos lingusticos nas situaes de comunicao).
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Esse texto pode parecer um amontoado de palavras sem sentido se o leitor no perceber as
intenes do autor, se no aceit-lo como um texto coerente. Mas, para isso, ele deve ter em seu
repertrio a informao de que este texto refere-se a outro (dialoga com outro) do Romantismo
brasileiro Cano do exlio, de Gonalves Dias e dirige-se a leitores de um tempo moderno, caracterizado pela pressa, da seu ttulo.
fator semntico conceitual dele depende a coerncia do texto;
fator formal diz respeito coeso textual (corresponde superfcie lingustica do texto).
Como voc viu, um texto vai alm de sua superfcie lingustica e pressupe um comunicador
atento a todas as suas dimenses. Em seguida, vamos tratar com maior profundidade os dois ltimos
fatores: o semntico conceitual e o formal.
1. COERNCIA (ou fator semntico conceitual)
A coerncia o resultado de processos cognitivos, relaes de sentido, conhecimentos
partilhados, condies operantes entre os usurios emissor e destinatrio e no apenas um trao constitutivo dos textos.
Para ser coerente, um texto deve:
manter o mesmo tema;
trazer sempre uma informao nova;
no ser contraditrio;
ter um valor de verdade que possa ser percebido e aceito por sua organizao.
A realizao da coerncia condiciona-se adequao entre os elementos cognitivos ativados
pelas palavras e o universo de referncia do texto. Veja este exemplo: Os lees subiram as
montanhas geladas e puseram-se a perseguir a foca. Os esquims os chamavam por seus nomes. As
feras corriam sobre o gelo, protegendo-se com suas garras para no cair. Quando estavam prestes
a alcan-la, a foca alou voo. (In: GUIMARES, Elisa. A articulao do texto. So Paulo: tica,
1990. p. 39)
Se considerarmos o mundo normal, a incoerncia do texto decorre da incompatibilidade entre aquilo que ele descreve e os fatos da realidade: os lees no habitam territrios gelados, os
esquims no se utilizam desses animais para caadas, nem as focas voam. No entanto, inserido
num contexto ficcional fantstico, o mesmo texto teria a coerncia prpria (o valor de verdade)
desse tipo de contexto. Como se trata do mundo normal, teria de haver a consonncia entre os referentes textual e externo (situacional) em que repousa a coerncia.
A coerncia tambm representada pela organizao linear das sequncias e pela ordenao
temporal relativa aos fatos descritos. Nas seguintes frases, s a primeira coerente:
A menina despediu-se da me, disse o dia da sua volta, tomou o txi e partiu.
A menina partiu, despediu-se da me, tomou o txi e disse o dia da sua volta.
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1 - Se houver incoerncias neste texto, aponte-as:
Joo Carlos vivia em uma pequena casa construda no alto de uma colina rida, cuja frente dava para o Leste. Desde o p da colina se espalhava em todas as direes, at o horizonte, uma
plancie coberta de areia. Na noite em que completava 30 anos, Joo, sentado nos degraus da escada
frente de sua casa, olhava o sol poente. E observava como a sua sombra ia diminuindo no caminho
coberto de grama. De repente, viu um cavalo que descia para a sua casa. As rvores e a folhagem
no lhe permitiam ver distintamente; entretanto observou que o cavalo era manco. Ao olhar mais de
perto verificou que o visitante era seu filho Guilherme, que havia 20 anos partira para alistar-se no
exrcito, e, em todo esse tempo, no tinha dado sinal de vida. Guilherme, ao ver o pai, desmontou
imediatamente, correu at ele, lanando-se nos seus braos e comeando a chorar. (In Koch,
Ingedore & Travaglia, Luiz Carlos. A coerncia textual. So Paulo: Contexto, 1990)
2 Este texto, para voc, incoerente? Por qu?
Com gemas para financi-lo, nosso heri desafiou valentemente todos os risos desdenhosos que tentaram dissuadi-lo de seu plano. Os olhos enganam, disse ele, um ovo e no uma mesa tipificam corretamente este planeta inexplorado. Ento as trs irms fortes e resolutas saram procura de provas, abrindo caminho, s vezes atravs de imensides tranquilas, mas amide atravs
de picos e vales turbulentos. Os dias se tornaram semanas, enquanto os indecisos espalhavam
rumores apavorantes a respeito da beira. Finalmente, sem saber de onde, criaturas aladas e bem-
vindas apareceram anunciando um sucesso prodigioso. (In: Effects of comprehension on retention of prose, Journal of experimental Psychogy, apud Kleiman, Angela. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. Campinas: Pontes, 1992. p.21)
3 Leia o texto seguinte e indique o que, primeira vista, o torna incoerente e, por isso, causa o efeito de humor.
A vaguido especfica
As mulheres tm uma maneira de falar que eu chamo de vago-especfica. (Richard Gehman)
Maria, ponha isso l fora em qualquer parte. Junto com as outras? No ponha junto com as outras, no. Seno pode vir algum e querer fazer qualquer coisa com elas. Ponha no lugar do outro dia.
Sim senhora. Olha, o homem est a. Aquele de quando choveu? No, o que a senhora foi l e falou com ele no domingo. Que que voc disse a ele? Eu disse para ele continuar. Ele j comeou? Acho que j. Eu disse que podia principiar por onde quisesse. bom? Mais ou menos. O outro parece mais capaz.
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Voc trouxe tudo para cima? No senhora, s trouxe as coisas. O resto no trouxe porque a senhora recomendou para deixar at a vspera.
Mas traga, traga. Na ocasio, ns descemos tudo de novo. melhor, seno atravanca a entrada e ele reclama como na outra noite.
Est bem, vou ver como. (Fernandes, Millr. Trinta anos de mim mesmo. So Paulo: Abril Cultural, 1973)
Exerccios
1) A maneira como certos textos so escritos pode produzir efeitos de incoerncia, como no
exemplo: Zlia Cardoso de Mello decidiu amanh oficializar sua unio com Chico Anysio. (A Tarde, Salvador, 16/9/94). o que ocorre no trecho a seguir
14:
As Foras Armadas brasileiras j esto treinando trs mil soldados para atuar no Haiti depois da retirada das tropas americanas. A Organizao das Naes Unidas (ONU)
solicitou o envio de tropas ao Brasil e a mais quatro pases, disse ontem o presidente da
Guatemala, Ramiro de Lon. (O Estado de S.Paulo, 24/9/94)
a) Qual o efeito de incoerncia presente nesse texto?
b) Do ponto de vista sinttico, o que provoca esse efeito?
c) Reescreva o trecho, introduzindo apenas as modificaes necessrias para resolver o problema.
2) (Fuvest 99)
O cheque em branco que o eleitor passa ao eleito alto demais, faz parte da condio
mesma de o candidato expor-se ao escrutnio15
pblico e abrir mo de uma srie de
prerrogativas, entre elas a privacidade. (Folha de S.Paulo, 3/9/98)
H algum problema na expresso alto demais, dado o contexto lingustico em que ela ocorre? Justifique sua resposta.
3) (Puccamp-SP) Identifique a alternativa em que o pensamento formulado de forma
contraditria:
1) O compositor Pestana expirou naquela madrugada, s quatro horas e cinco minutos, bem com os
homens e mal consigo mesmo.
2) Na falta de alternativas, acabou optando pela que lhe pareceu a mais barata: passar as frias com
os pais.
3) Nem vem que no tem, disse-me o menino ressabiado, pensando que eu fosse algum agente do Juizado.
4) H males que vm para bem: a gripe que me obrigou ao repouso deu-me a oportunidade de
descobrir Cervantes.
4) (FGV-SP) A seguir, temos o primeiro perodo de um texto16
. Os demais perodos esto alinhados
sem ordem alguma. Organize-os em uma sequncia lgica, de forma a completar o sentido do
14
A no ser que, da cano de Caetano e Gil, se conclua que o Haiti mesmo aqui. 15
Escrutnio: votao em urna.
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40
primeiro. Na resposta indique, por meio de nmeros, a ordem lgica em que devem dispor-se os
perodos.
Primeiro perodo
A costarriquenha Eleonora Odio e o americano George E. Hill fazem parte de um grupo
especial de pessoas.
1. Mas eles so mais do que viajantes contumazes.
2. Essa equipe o embrio da BCP Telecomunicaes, futura operadora da telefonia celular na
regio metropolitana de So Paulo.
3. Eles so membros de uma equipe formada pela americana BellSouth para dar conta de uma
misso no Brasil.
4. O que Hill e Eleonora tm em comum um perfil de globe-trotter.
5.No mundo dos negcios, isso significa ter aptido para comunicar-se de modo eficiente mundo
afora, a ponto de treinar equipes num pas estranho, com lngua diferente da sua.
6. So profissionais com capacidade para atravessar a barreira do etnocentrismo e serem aceitos, diz Roberto Pon, presidente da BPC.
2. COESO (ou fator formal)
A coeso, efeito da coerncia, manifesta-se no plano lingustico e constri-se por meio de
mecanismos gramaticais e lexicais.
Mecanismos gramaticais: o conhecimento da gramtica nos auxilia a produzir textos coesos. Entre alguns dos recursos gramaticais que auxiliam a coeso esto os pronomes,
conjunes, pontuao, crase, advrbios, a elipse, a concordncia, a correlao entre os tempos
verbais, a colocao das palavras na frase, a pontuao, etc.
Mecanismos lexicais: a coeso lexical se d, entre outros processos, pela reiterao, pela substituio e pela expanso lexical.
reiterao: repetio do mesmo item lexical;
substituio: inclui a sinonmia, a antonmia, a hiponmia e a hiperonmia e os nomes genricos (coisa, negcio, gente, pessoa, lugar);
expanses lexicais: trazem para o texto novas informaes sobre o termo substitudo, marcando tambm o posicionamento ideolgico do enunciador, pois as palavras no so
neutras, manifestam intenes. Ex.: Joo Paulo II esteve em Varsvia. Na capital da
Polnia, o sumo Pontfice disse que a Igreja continua a favor do celibato clerical. // Joo
Paulo II esteve em Varsvia. Na cidade do odioso gueto, o mais recente aliado do
capitalismo disse que a Igreja continua a favor dessa excrescncia que o celibato clerical.
O texto abaixo, publicado na primeira pgina de um jornal de bairro da Zona Sul de So
Paulo logo aps os resultados do primeiro turno para eleio do prefeito da cidade, em 2000,
exemplifica aspectos da coerncia e coeso:
16
Adaptado de texto publicado na revista Exame, ed. 658, ano 31, n. 7, 25/3/98, p. 140)
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Os dois mais votados agora procuram adeptos para somarem votos. Na verdade queles que votaram no Alckmin e no Tuma, com certeza, vo votar no Maluf, pois pertencem a
uma classe que no querem o comunismo ou, pelo menos, que o prefeito seja conduzido
pelos princpios que regem as diretrizes do PT. At na Rssia por terem sofrido
barbaridades, impostas pelo sistema do comunismo, massacrante, autoritrio, sem qualquer
liberdade, o muro da vergonha foi derrubado, demonstrando a insatisfao de um povo
sofredor, mas que mesmo assim at hoje sentem os reflexos do sistema.
Esse texto no apresenta coerncia porque no trata de um nico assunto nem a informao
da introduo foi desenvolvida (portanto no houve progresso semntica), houve, tambm, uma
informao que contraria nosso conhecimento do mundo: o Muro da Vergonha ficava em Berlim
(Alemanha) e no na Rssia. No plano lingustico, faltou-lhe coeso, pois a crase no queles no
remete a nada e no h correlao entre os termos pertencem/ querem/ classe; terem sofrido/ sentem/
povo. No segundo perodo, terem sofrido no tem sujeito explcito, portanto o muro da vergonha o
sujeito dessa orao reduzida e o mas e o mesmo assim marcam uma relao que no existe.
Concluso: texto(?) mal-estruturado, que jamais deveria ter sido publicado.
Exerccios
1) Reescreva estes trechos, realizando a coeso seja no nvel lexical, seja no gramatical:
a) A deputada parecia nervosa. A deputada havia sido vtima de um assalto.
b) O menino entrou depressa no supermercado. O menino parecia estar fugindo de algum.
c) A Enterprise partiu da estao espacial com toda a tripulao. A Enterprise faria mais uma
viagem intergaltica.
d) As revendedoras de automveis esto equipando cada vez mais os automveis para vender os
automveis mais caro. O cliente vai revendedora de automveis com pouco dinheiro e, se tiver de
pagar mais caro pelo automvel, desiste de comprar o automvel, e as revendedoras de automveis
tm prejuzo. (in: ABREU, Antnio Surez. Curso de redao. 2 ed. So Paulo: tica, 1990.)
e) Todos os anos dezenas de baleias encalham nas praias do mundo e at h pouco nenhum
oceangrafo ou bilogo era capaz de explicar por que as baleias encalham nas praias do mundo.
Segundo uma hiptese corrente, as baleias se suicidariam ao pressentir a morte, em razo de uma
doena grave ou da prpria idade, ou seja, as baleias praticariam uma espcie de eutansia instintiva.
Segundo outra hiptese corrente, as baleias se desorientariam por influncia de tempestades
magnticas ou de correntes marinhas.
f) A multimdia uma tecnologia que combina sons, imagens e textos. No futuro a multimdia
apresentar recursos ainda mais sofisticados. Os preos dos equipamentos de multimdia tendem a
ficar cada vez menores. Os preos dos equipamentos de multimdia continuaro inacessveis para a
maioria da populao brasileira. O poder aquisitivo da maioria da populao brasileira baixo.
g) A jubarte uma baleia que mede at 15 metros de comprimento. Ela chega a pesar 45 toneladas.
Ela est ameaada de extino. Ela passou a ser vista no arquiplago de Abrolhos. O arquiplago de
Abrolhos fica ao sul do litoral da Bahia.
2) Corrija os defeitos de coeso que aparecem nestas frases:
a) Conheci Maria Elvira, onde me amarrei.
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b) Ele sempre foi bom, porm honesto.
c) Os alunos no entenderam todos os assuntos. Assuntos estes que foram aprofundados.
d) Todos querem uma vaga na USP, mesmo sabendo que a USP faz exames de seleo rigorosos.
e) Eles fugiam da polcia. A polcia foi mais rpida e prendeu eles.
f) H um grande nmero de pessoas que no entendem e no se interessam por poltica.
g) Lembrou-se que havia um bilhete. Bilhete este que desaparecera entre os velhos papis da
escrivaninha.
3) A expanso lexical, isto , a substituio de um termo por palavras ou expresses sinnimas, ou
quase sinnimas, um mecanismo de coeso que acumula trs funes:
evita repeties enfadonhas;
traz informaes novas sobre o termo substitudo;
define a orientao argumentativa do texto, isto , contribui para construir uma imagem positiva ou negativa daquilo de que se fala.
Suponhamos uma notcia jornalstica como a que segue:
O movimento dos sem-terra, na tentativa de pressionar o governador a acelerar o processo de reforma agrria, est convocando os associados para a ocupao de uma rea de 800
alqueires situada no extremo oeste do Estado. O chefe do governo orientou a polcia para
controlar os participantes do movimento dentro dos limites da lei. O chefe do destacamento
prometeu cumprir risca as determinaes da autoridade mxima do Estado.
Transcreva as palavras ou expresses sinnimas usadas ao longo do texto para substituir:
a) os sem-terra:
b) o governador:
c) a polcia:
Pode-se dizer que a escolha desses termos foi feita por um jornal partidrio, radical, para exaltar os
nimos das partes em conflito?
Os pronomes demonstrativos so alguns dos elementos que promovem coeso num texto.
Preencha os espaos com aquele adequado ao contexto:
Crianas escravizadas
Explorar o trabalho de uma criana sempre muito ruim. Mesmo assim, existem trabalhos
infantis que so considerados piores.
o caso de crianas que so usadas como escravas junto com suas famlias.
Os donos de fazendas e empresas que fazem _________ cobram a comida e o aluguel dos
trabalhadores. Mas o dinheiro cobrado pela alimentao e moradia sempre maior do que o salrio
que __________ fazendeiros pagam para ___________ pessoas.
____________ condies, os trabalhadores ficam sempre devendo. Para piorar, os
fazendeiros no deixam ningum ir embora. Quem tenta fugir e no consegue apanha. Do mesmo
modo que os antigos senhores de engenho do Brasil tratavam seus escravos. (FOLHINHA, Folha de
S. Paulo, 28/2/98)
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7 GNEROS TEXTUAIS
Se no existissem os gneros do discurso e se no os dominssemos, se tivssemos de cri-los pela primeira vez no
processo da fala, se tivssemos de construir cada um de nossos
enunciados, a comunicao verbal seria quase impossvel. (Mikhail Bakhtin. Esttica da criao verbal)
Gneros so entidades sociodiscursivas altamente maleveis, dinmicas, plsticas que
surgem, situam-se e integram-se funcionalmente nas culturas em que se desenvolvem. Os gneros
orientam tanto o autor na produo, quanto o leitor na interpretao. Dessa definio do linguista
russo Bakhtin, depreende-se que:
como esto inseridos no fluxo histrico, os gneros modificam-se constantemente, morrem e surgem em funo, por exemplo, de inovaes tecnolgicas. Assim, at antes de o computador
ser inventado, no havia o gnero e-mail ou o gnero infografia;
os gneros tm uma funo dentro da sociedade e representam uma grande economia, pois so reconhecidos pelos interlocutores por suas caractersticas. Por exemplo, qualquer um sabe que
uma receita no um poema, que no um romance, que no uma notcia de jornal, que no
um requerimento, que no um texto publicitrio e assim por diante;
os gneros tm trs dimenses essenciais sua caracterizao: tema (contedo), estilo (configuraes especficas das unidades de linguagem) e composio (estrutura particular do
texto, relaciona-se com a finalidade extralingustica do texto: didtica, publicitria, jornalstica,
etc.)
importante saber que cada gnero trabalha com a tipologia textual que lhe mais
adequada, assim, por exemplo: uma notcia vai trabalhar sobretudo com a narrao e a descrio; um
artigo de jornal, com a argumentao; um texto publicitrio, com a injuno (ordem); uma
conferncia, com a exposio...
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8 A TIPOLOGIA TEXTUAL: descrio, narrao, exposio e argumentao
8.1 Descrio
Descrever recriar imagens sensoriais na mente do leitor: o enunciador percebe o objeto atravs de
seus cinco sentidos e sua imaginao criadora traduz em palavras o objeto com riqueza de detalhes, minuciosa e inventivamente. Observe o esquema:
Percepo
Sujeito Objeto
(aquele que percebe) (aquilo que percebido)
Base sensorial Imaginao criadora (viso, audio, olfao, gustao, tato)
Exemplos:
A faca desce macia, cortando sem esforo o pedao de picanha. Dourada e crocante nas bordas, tenra e mida no centro. Voc pe a carne na boca e mastiga devagar, sentindo o tempero, a maciez,
a temperatura. O sumo que escorre dela enche a boca e, com ele, o sabor incomparvel. Carne
bom.
Mas que tal assistir mesma cena de outra perspectiva? No prato jaz um pedao de msculo,
amputado da regio plvica de um animal bem maior que voc. Com a faca, voc serra os feixes
musculares. A seguir, coloca o tecido morto na boca e comea a dilacer-lo com os dentes. As fibras
musculares, clulas comprimidas de at 4 centmetros e resistentes, so picadas em pedaos. Na sua boca, a gua (que ocupa at 75% da clula) se espalha, carregando organelas celulares e todas as
vitaminas, os minerais e a abundante gordura que tornavam o msculo capaz de realizar suas
funes, inclusive a de se contrair. Sim, meu caro, por mais que voc odeie pensar que a comida no
seu prato tenha sido um animal um dia, voc est comendo um cadver. (Superinteressante, abril de 2002.)
Fui tambm recomendado ao Sanches. Achei-o supinamente17 antiptico: cara extensa, olhos rasos, mortos, de um pardo transparente, lbios midos, porejando baba, meiguice viscosa de crpula
18
antigo. Primeiro que fosse do coro dos anjos, no meu conceito era a derradeira das criaturas. (Raul Pompeia)
L vem ele. E ganjento19, pilantra: roupinha de brim amarelo, vincada a ferro; chapu tombado de banda, leno e caneta no bolsinho do jaqueto abotoado; relgio de pulso, pegador de monograma
na gravata chumbadinha de vermelho. (Mrio Palmrio)
17
Supinamente: Em alto grau; demasiadamente, excessivamente. 18
Crpula: Indivduo devasso, desregrado, libertino. 19
Ganjento: Vaidoso, presumido, enganjento.
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45
Depois da leitura dos textos, voc percebeu que o ato de descrever exige percepo e imaginao
criadora. S existe uma boa descrio a partir da percepo do objeto. preciso, portanto,
desenvolver a acuidade sensorial, ativando sentidos s vezes adormecidos, anestesiados por uma
civilizao predominantemente audiovisual. Somente uma percepo aguada permite revelar
facetas novas do objeto descrito.
8.2 Narrao
O texto narrativo conta uma histria. A narrao um relato de fatos vividos por personagens e
ordenados numa sequncia lgica e temporal, por isso ela caracteriza-se pelo emprego de verbos de
ao que indicam a movimentao das personagens no tempo e no espao. A estrutura narrativa
compe-se das seguintes sequncias: apresentao, complicao, clmax, desfecho.
Se os fatos se apresentarem nessa ordem acima exposta, o enredo ser linear; do contrrio, ser
alinear.
Os morangos
A vizinha espiou por cima do muro.
Bom dia, seu Agenor! Bom dia.
Que lindos esto esses morangos, que maravilha! ........................................................................................................................................
O senhor no colhe, seu Agenor? Esto no ponto. No gosto de morangos. Que pena, aqui em casa somos todos loucos por morangos. As crianas, ento, nem se
diga. Se no colher, vo apodrecer no p, uma judiao.
. Se o senhor no se incomodasse eu colhia um pouco, j que o senhor no gosta de
morangos.
Com licena, preciso pegar o ponto na repartio. vontade, seu Agenor, mas... e os morangos? No prestam para comer, tm gosto de terra. Pena, to lindos! Saiu para a repartio. Voltou noite. O luar batia em cheio no canteiro de morangos.
Acercou-se em silncio. Estavam bonitos mesmo. De dar gua na boca. Pena que no se pudessem
comer. Suspirou fundo.
Mariana, to linda. Linda como uma flor. Mas to desleixada, to preguiosa. Comida
malfeita, roupa por lavar, pratos gordurosos. E aquele gnio! Sempre descontente, exigindo tudo o
que no lhe podia dar, espezinhando-o diariamente pelo seu magro ordenado.
Fora realmente uma gentil ideia plantar os morangos depois que a enterrara no jardim.
(Giselda Laporta Nicolelis)
8.3 Exposio
O texto expositivo de natureza dissertativa. Trata-se da apresentao, explicao ou constatao,
de maneira impessoal, sem julgamento de valor e sem o propsito de convencer o leitor.
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A formao da mensagem Muniz Sodr De um modo geral, a mensagem da televiso assim como a do rdio visa a uma universalidade (atingir todo e qualquer receptor indistintamente) que, mal compreendida, pode levar o veculo a
uma relao falsa com o grupo social. A tv levada a tratar como homogneos fenmenos
caractersticos de apenas alguns setores da sociedade. A busca de um suposto denominador comum,
que renda o mximo de aceitao por parte do pblico, preside elaborao da mensagem. O xito
de um programa aferido pelo ndice de audincia: quanto maior o pblico, maior o sucesso.
Essa necessidade de padronizar o contedo do veculo segundo um ndice optimum de
aprovao do pblico condiciona necessariamente a formao da mensagem. Isso demonstrvel
na Teoria da Informao: quanto menor a taxa matemtica de informao de uma mensagem (e
maior, portanto, a redundncia), maior a sua capacidade de comunicao. Comunicao aqui
empregada em seu sentido tcnico: no se trata de um ideal de ordem humana ou social, mas da
recepo e decodificao da mensagem por um indivduo qualquer. Quanto mais os signos da
mensagem (os elementos culturais de um programa de televiso, por exemplo) forem familiares ao
pblico, por j constarem de seu repertrio, maior ser o grau de comunicao.
O que aconteceria se um comunicador (a tv, por exemplo) tentasse transmitir uma mensagem
a um pblico amplo e heterogneo (composto por diferentes classes sociais, nveis de instruo e
faixas etrias) sem atentar, na sua formao, para o nvel comum de entendimento? Certamente a
mensagem s seria decodificada ou aceita pela parte do pblico que conhecesse o cdigo do
comunicador, ou seja, que participasse da mesma estrutura cultural.
Suponhamos que a televiso pretendesse, a ttulo de servio pblico, esclarecer o povo sobre
os perigos da falta de higiene domstica e de limpeza urbana para a sade nacional. Se a tv utilizasse
argumentos puramente tcnicos (de ordem mdico-sanitria, sociolgica, etc.), a mensagem seria
provavelmente entendida por uma boa parcela da populao culta, a detentora do cdigo segundo o
qual se organizou a mensagem. Mas os outros setores da populao ficariam impermeveis
campanha.
O comunicador poderia, ento, elaborar uma nova mensagem em termos mais acessveis. A
nova mensagem, embora mais efetiva em comunicao, seria certamente mais pobre em informao
por omitir dados cientficos (difceis, mas necessrios correta apreciao do problema)
desconhecidos da populao. Mas figuremos uma terceira hiptese: a mensagem no atingiu a
populao inteira.
O comunicador poderia criar, agora, um slogan (algo como Higiene Sade), cujos termos
fossem acessveis at aos analfabetos. Esse slogan sintetiza a mensagem original, mas a esvazia de
sua fora informativa. J viram o que acontece quando se joga uma pedra num lago? Formam-se
crculos concntricos, cada vez maiores medida que se espalham. No processo de comunicao,
d-se exatamente o movimento inverso: a mensagem original um grande crculo que tende a
reduzir-se para se espalhar. Na televiso, como a norma geral atingir o maior pblico possvel, as
mensagens so empobrecidas ou reduzidas ao suposto denominador comum.
4 Argumentao O texto argumentativo tambm de natureza dissertativa. Ele consiste na apresentao, explicao
ou constatao de um fato para:
a) convencer o leitor atravs de um raciocnio lgico, consistente e baseado na evidncia das provas;
b) persuadir o leitor atravs da emoo.
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47
APROVEITE EM EXCESSO. FUME COM MODERAO. Ningum tem o direito de fazer suas
escolhas por voc. isso que chamam de liberdade. O ideal mais importante na vida de qualquer
um.Free sempre acreditou nisso, respeitando os mais diversos estilos, opinies, atitudes. Cada um na
sua. Ento seja livre para fazer o que quiser: cante, ame, dance, crie, apaixone-se, sonhe, aproveite
tudo em excesso. E se voc decidiu fumar, por que no com moderao? A deciso sua. S no
deixe de ser quem voc , seja voc quem for.
Uma questo de ser Free.
Maiores informaes 0800 888 2233 No h um nvel de consumo sem riscos. 6 mg de alcatro 0.6 mg de nicotina e 8mg de monxido de carbono
O Ministrio da Sade adverte
FUMAR CAUSA MAU HLITO, PERDA DE DENTES E CNCER NA BOCA
Encarte encontrado em maos de cigarros Free.
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REDAO: QUADRO-RESUMO
MODALIDADES DESCRIO NARRAO DISSERTAO
Caractersticas Situa seres e objetos no
espao (fotografia)
Situa seres e objetos no
espao (histria)
Discute um assunto,
apresentando pontos de
vista e juzos de valor
Introduo
Desenvolvimento
Concluso
A perspectiva do
observador focaliza o ser
ou objeto, distingue seus
aspectos gerais e os
interpreta.
Capta os elementos numa
ordem coerente com a
disposio em que eles se
encontram no espao,
caracterizando-os
objetiva e subjetivamente,
fsica e psicologicamente.
No h procedimento
especfico. Considera-se
concludo o texto quando
se completa a
caracterizao
Apresenta as
personagens, localizando-
as no tempo e no espao.
Atravs das aes das
personagens, constri-se
a trama e o suspense, que
culminam no clmax.
Existem vrias maneiras
de concluir uma narrao.
Esclarecer a trama uma
delas
Apresenta a sntese do
ponto de vista a ser
discutido (tese).
Amplia e explica o
pargrafo introdutrio.
Expe argumentos que
evidenciam posio
crtica, analtica,
reflexiva, interpretativa,
opinativa sobre o assunto.
Retoma sinteticamente as
reflexes crticas ou
aponta as perspectivas de
soluo para o que foi
discutido.
Recursos Uso dos cinco sentidos,
que, combinados,
produzem a sinestesia.
Adjetivao farta, verbos
de estado, comparaes.
Verbos de ao,
geralmente no tempo
passaado; narrador
personagem, observador
ou onisciente; discurso
direto, indireto e indireto
livre.
Linguagem referencial,
objetiva; evidncias,
exemplos, justificativas e
dados.
O que se pede Sensibilidade para
combinar e transmitir
sensaes fsicas cores, formas, sons, gostos,
odores e psicolgicas impresses subjetivas,
comportamentos. Pode
ser redigida em um nico
pargrafo.
Imaginao para compor
uma histria que
entretenha o leitor,
provocando expectativa e
tenso. Pode ser
romntica, dramtica,
humorstica...
Capacidade de organizar
ideias (coeso), contedo
para discusso (cultura
geral), linguagem clara,
objetiva, vocabulrio
adequado e diversificado.
Crnica
Da descrio, a crnica tem a sensibilidade impressionista; da narrao, a imaginao (para o humor ou a
tenso); da dissertao, o teor crtico. A crnica pode ser narrativa, narrativo-descritiva, humorstica, lrica,
reflexiva... Ou combinar essas variantes com as singularidades do assunto. Desenvoltura e intimidade na
linguagem aproximam o texto do leitor. um gnero breve (curta extenso), que no tem estrutura definida.
Toda possibilidade de criao permitida nesse tipo de redao, que corresponde a um flagrante do cotidiano,
em seus aspectos pitorescos e inusitados, a uma abordagem humorstica, a uma reflexo existencial, a uma
passagem lrica ou a um comentrio de interesse social.
49
49
9 REDAO (PREMISSAS20
)
Ao elaborar seus textos, lembre-se de que sua comunicao ser muito mais eficiente se voc
observar as seguintes condies:
conhea com razovel profundidade aquilo sobre o que vai falar (leia, pesquise,
discuta...);
conhea seu receptor, para adequar a ele sua linguagem. Trata-se de saber a posio do
outro, usar a linguagem e o nvel adequados hierarquia;
conhea e domine as possibilidades e as regras do cdigo por meio do qual voc vai
expressar-se;
escolha o canal mais eficiente para enviar sua mensagem.
Lembre-se, no entanto, de que rudos21
na comunicao podem comprometer a mensagem.
Para combat-los existe a redundncia, tambm conhecida como saber partilhado. Trata-se do
fenmeno que no traz informao nova mensagem, mas garante sua eficcia. Os meios de
comunicao de massa, por exemplo, primam pela redundncia, pois, para atingir um pblico amplo
e heterogneo e conquistar o mximo de audincia, evitam solues originais preferindo trabalhar
com elementos previsveis, que fazem parte do repertrio desse pblico (saber partilhado).
No entanto, quando a redundncia exagerada, ao invs de garantir a eficcia da mensagem,
torna o texto prolixo22
, repetitivo, sem coeso.
20
Premissa: 1. Lg. Cada uma das proposies de um silogismo que serve de base concluso. 2. P. ext. Fato ou
princpio que serve de base concluso de um raciocnio. 21
Rudo todo fenmeno que ocasiona perda da informao entre a fonte e o destinatrio, ou seja, qualquer perturbao
que afete a comunicao e pode ser proveniente do canal (letras midas demais numa revista), emissor ou receptor
(distrao, semialfabetizao, pr-julgamentos), mensagem (ambiguidade, incoerncia, obscuridade), cdigo
(inadaptao aos seus fins). 22
Prolixo: superabundante, excessivo, demasiado. Antnimo = conciso: sucinto, resumido.
50
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10/11 O TEXTO DESCRITIVO
Descrio de ambiente
1. Tentando ativar a percepo, procure registrar livremente todos os sons e rudos que esto
ocorrendo.
2. Registre, agora, os cheiros que esteja sentindo ou de que possa lembrar-se.
3. ... e os gostos.
4. Descreva, em seguida, as formas que enxerga ao seu redor.
5. Que cores essas formas tm?
6. Que diferentes sensaes tteis tais formas apresentam?
7. Organize um texto que seja a descrio de uma feira livre
Textos para leitura
Vivem dentro, mesquinhamente, vergnteas estioladas23 de famlias fidalgas, de boa prospia24 entroncada na nobiliarquia
25 lusitana. Pelos sales vazios, cujos fri
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