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A CONTRIBUIÇÃO DA PSICOLOGIA ESCOLAR NO COMBATE À DISGRAGIA
MARIA DAS GRAÇAS SOUZA OLIVEIRAMYCHELLE KAROLLYNE SOUSA OLIVEIRA
RESUMO
A proposta desta pesquisa tem por objetivo analisar a contribuição do psicopedagogo no combate a disgrafia no processo de aprendizagem na alfabetização. Apresenta o contexto histórico da psicopedagogia no Brasil, identificando os distúrbios de aprendizagem na alfabetização. Destaca a disgrafia como foco do presente estudo com base na diculdade da criança em escrever corretamente a linguagem falada. Discute os resultados apontando a importância do psicopedagogo no combate a disgrafia na alfabetização.
Palavras-chaves: Contribuição da Psicopedagogia. Distúrbio de aprendizagem, Disgrafia. Intervenção psicopedagógico.
ABSTRACT
The purpose of this research is to analyze the contribution of psychopedagogists dysgraphia in combating the process of learning in literacy. Presents the historical context of educational psychology in Brazil, identifying learning disabilities in literacy. Dysgraphia highlights the child spell the spoken language. Discusses the results indicating the importance of fighting in psychopedagogists dysgraphia in literacy.
Keywords: Contribution of Educational Psychology. Learning disabilities. Disgraphia. Intervention psychology.
1 INTRODUÇÃO
Ao longo dos anos, o sistema educacional brasileiro tem mostrado uma proposta
educacional, até certo ponto, preocupada com o ensinar, porém, pouco comprometida com o
aprender, o que tem proporcionado defasagem na aprendizagem, sobretudo na escrita, devido
a diversos fatores como: metodologia de ensino inadequada, despreparo dos professores,
desinteresse dos alunos, falta de apoio da família, dificuldades fonológicas da língua, sistema
de avaliação obsoleto, entre outros. Portanto, é mister, dentre outras possibilidades, a
contribuição do profissional da psicologia, com objetivo de combater a referida dificuldade de
aprendizagem da escrita no processo de ensino.
Constata-se que, por décadas, foi mantido o equívoco de não dar a atenção devida
à Educação Infantil. Chegou-se a defender, na prática, que a criança exige menos e, por
conseguinte, o professor menos capacitado era lotado na alfabetização e séries iniciais. Hoje
há uma nova leitura com relação a esse fato. Tem-se percebido quão relevante é uma
metodologia adequada e um professor competente, bem como o diagnóstico de qualquer
dificuldade de aprendizagem ainda na infância, faixa etária onde a possibilidade de reversão
de quadros é bem maior.
O tema do presente trabalho surgiu em face da necessidade de compreender como
o profissional de psicopedagogia interfere no combate à dificuldade da escrita. Diante disso,
questiona-se: até que ponto é importante a contribuição do profissional de psicopedagogia no
combate à disgrafia na alfabetização?
Nesse contexto, propõe-se a discutir a contribuição psicopedagógica no combate à
disgrafia na alfabetização. De acordo com o Código de Ética dos Psicopedagogos:
A Psicopedagogia é um campo de atuação em Saúde e Educação que lida com o
processo de aprendizagem humana; seus padrões normais e patológicos,
considerando a influência do meio - família, escola e sociedade - no seu
desenvolvimento, utilizando procedimentos próprios da psicopedagogia. (Artigo 1º).
Conforme o exposto entende-se que a psicopedagogia é capaz de contribuir
intensamente no combate à dificuldade de escrita, até porque essa ciência conta com a
contribuição de várias áreas de conhecimento, tais como, psicologia, sociologia e
antropologia, todas indispensáveis à análise do processo de aprendizagem.
A pesquisa ora apresentada está fundamentada de acordo com a classificação de
Vergara (2003), sendo explicativa e bibliográfica. Quanto aos meios, explicativa, porque
busca identificar as causas da disgrafia na alfabetização. Quanto aos fins, é bibliográfica,
porque recorre-se à literatura pertinente, para a fundamentação teórica do estudo em questão.
Portanto, este estudo se revela de grande importância para a Educação Infantil
tendo em vista melhorar as dificuldades da escrita no processo da alfabetização, o que
contribuirá para a efetivação de uma aprendizagem de qualidade.
Inicialmente, faz-se uma revisão do contexto histórico da psicopedagogia,
identificando, por conseguinte, os distúrbios de aprendizagem e as causas da disgrafia
apresentadas na alfabetização e, por fim, visa-se destacar a importância da intervenção
psicopedagógica no combate à disgrafia.
2 CONTEXTO HISTÓRICO DA PSICOPEDAGOGIA
O histórico da Psicopedagogia nos remete à Europa do século XIX, mais precisamente na França, como um movimento de colaboração entre educadores, filósofos e médicos, em busca de soluções para os problemas de aprendizagem. Naquela época, acreditava-se que os comprometimentos na área escolar eram provenientes de causas orgânicas, pois se procurava identificar no físico as determinantes das dificuldades dos educandos.
Conforme Bossa (2000, p. 59) “a crença de que os problemas de aprendizagem eram causados por fatores orgânicos perdurou por muitos anos e determinou a forma do tratamento dada à questão do fracasso escolar”. Com isto, constituiu-se o caráter orgânico da Psicopedagogia.
Essa mesma linha diagnóstica permaneceu nas décadas de 40 e 60 na França, onde em Paris, no ano de 1946 foram criados os Centros Psicopedagógicos com o objetivo de desenvolver um trabalho cooperativo entre o médico e o pedagogo para crianças com problemas escolares, ou de comportamento. Após o diagnóstico era dado orientação para o tratamento, quer de reeducação, quer de terapia. Na verdade, esse diagnóstico era definido como aquelas que apresentavam doenças crônicas como diabetes, tuberculose, cegueira, surdez, problemas motores ou de inadaptação escolar e social. Seu objetivo visava à melhora do seu estado geral de saúde.
Convém esclarecer que a denominação “Psicopedagógico” foi escolhida em detrimento de “Médico Pedagógico”, já que se acreditava que os pais enviariam seus filhos sem menor resistência.
Nesse contexto, em decorrência de novas descobertas científicas e movimentos sociais, a Psicopedagogia sofreu muitas críticas em relação ao diagnóstico, bem como, inadaptação e deficiências, sobretudo, ao se referirem ao fracasso escolar e com isso, sofreu também muitas influências, inclusive no Brasil.
2.1 O surgimento da Psicopedagogia no Brasil
A Psicopedagogia na sua origem no Brasil em 1958, quando foi criado o Serviço de Orientação Psicopedagógico (SOP) da Escola Guatemala, na Guanabara (Escola Experimental do INEP- Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais do MEC), cujo objetivo geral era: melhorar a relação professor-aluno proporcionando um clima mais afetivo para o aprendiz, como também, esteve voltada para atender crianças com dificuldades de aprendizagem dentro de um contexto clínico.
Na década de 1980 aparece a ênfase no aspecto ligado ao fracasso escolar. Dessa forma, os problemas relacionados à aprendizagem individual do aluno deixaram de ser investigados e passaram também a pesquisar os fatores intra-escolares e os de ordem social, econômica e política envolvidos na Educação. Fica assim, a Psicopedagogia vulnerável a séries críticas como bem mostra Masini (2008, p.19):
Nessas formas de atuação deixa a Psicopedagogia de exercer seu papel: o de acompanhar o aprendiz nos processos envolvidos na aquisição e elaboração de conhecimentos, estudando condições para que isso ocorra; localizando, quando necessário, dificuldades e problemas que levam as paradas nesses processos e propondo caminhos para que o aprendiz possa superá-los.
Nesse sentido, cabe destacar aqui, que a Psicopedagogia no Brasil foi marcado por pontos polêmicos, entre eles, alguns questionamentos sobre o verdadeiro papel desta ciência, ou seja, a consistência, fortalecimento e autonomia da psicopedagogia. De 1995 a 1996, foram elaborados vários documentos explicitando seu campo de atuação, sua área científica e seus critérios de formação acadêmica.
A Psicopedagogia no Brasil enquanto área de atuação é sustentada por referenciais teóricos, isto é uma práxis psicopedagógico. É reconhecida academicamente através das produções científicas materializadas em teses, publicações e reuniões científicas organizadas pela Associação Brasileira de Psicopedagogia e por outros órgãos representados pelos profissionais e áreas afins; e a sua formação é feita pelos cursos de especializações em Universidades Públicas e Particulares.
Vale destacar, que para formar profissionais que atendessem as crianças com fracasso escolar, surgiram a princípio no Brasil cursos de curta duração os quais ofereciam subsídios para entender aspectos específicos como aqueles relacionados com a psicomotricidade, linguagem e raciocínio. Esses cursos eram ministrados na sua maioria por profissionais de outros países, sobretudo da Argentina e da Espanha.
O trabalho psicopedagógico tem como base teórica as concepções de Jean Paiget, Ferreiro, Vygostsky, Howard Gardner, Henry Wallon, Freud, Perrenoud, Ausubel, Pichon, dentre outos. Entretanto, para apreender o objeto de estudo da psicopedagogia, a aprendizagem, recorre-se a áreas, como a filosofia, a neurologia, a Sociologia, a Linguística e a Psicanálise, necessárias para fundamentar a constituição de uma teoria psicopedagogica.
No que se refere ao processo de aprendizagem Sara Paín (1995, p. 15) relaciona com o “momento histórico, um organismo, uma genética da inteligência e um sujeito associado a tantas outras estruturas teóricas, de cuja engrenagem se ocupa e preocupa a Epistemologia”, referindo-se ao Materialismo histórico, a teoria piagetiana e à teoria psicanalítica de Freud. Por sua vez, além da psicopedagogia clínica, da psicanálise e da Psicologia genética, a psicopedagogia se preocupa também com Psicologia social e Linguística. Desta forma, entende-se assim, ser possível compreender os aspectos afetivos, cognoscitivo do aprender do ser humano.
Nesse sentido, vale ressaltar que os profissionais brasileiros, estudiosos do assunto, também creem nessa articulação de diversas áreas do conhecimento como fundamento para a teoria e a prática psicopedagógico. Entretanto, apesar de muitos estudos ainda encontra-se em fase de organização de um corpo teórico específico, visando à integração das ciências pedagógica, psicológica, fonoaudióloga, neuropsicológica e psicolinguística, para uma compreensão mais integradora do fenômeno da aprendizagem humana (BEAUCLAIR, 2006).
Assim como a Pedagogia, a Psicopedagogia se ocupa da aprendizagem humana, sobretudo, do problema de aprendizagem, e como tal, deve estudar as características da aprendizagem humana. Cabe saber como se constitui o sujeito, como este se transforma em suas diversas etapas de vida, quais os recursos de conhecimento de que ele dispõe e a forma pela qual produz conhecimento e aprende. Nesse sentido, Scoz (2000, p. 103) nos diz que, “a psicopedagogia estuda o processo de aprendizagem e suas dificuldades, e numa ação profissional deve englobar vários campos do conhecimento, integrando-os e sintetizando-os”. Esses conhecimentos favorecerá uma melhor compreensão sobre os distúrbios de aprendizagem na alfabetização escolar.
3 DISTÚRBIO DE APRENDIZAGEM NA ALFABETIZAÇÃO
Muito se tem discutido sobre os distúrbios da aprendizagem, sobretudo na
alfabetização, visto sua importância no contexto da aprendizagem escolar.
Conforme Fonseca (1995), distúrbio de aprendizagem está relacionado a um
grupo de dificuldades específicas e pontuais, caracterizadas pela presença de uma disfunção
neurológica. Já a dificuldade de aprendizagem é um termo mais global e abrangente com
causas relacionadas ao sujeito que aprende aos conteúdos pedagógicos, ao professor, aos
métodos de ensino, ao ambiente físico e social da escola. Para Crasca & Rossini (2000) a
dificuldade de aprendizagem é um déficit específico da atividade acadêmica, enquanto o
distúrbio de aprendizagem é uma disfunção intrínseca da criança relacionada aos fatores
neurológicos.
Lerner (1989) aborda o assunto sobre distúrbios de aprendizagem de uma forma
que nos fica evidente como os sintomas aparecem e são manifestados, classificando da
seguinte forma:
Distúrbios da atenção e concentração, que retrata os comportamentos das crianças com
e sem hiperatividade e impulsividade;
Problemas receptivos e de processamento da informação: diz respeito à competência
linguística, como as atividades de escrita, distinção de sons e de estímulos visuais,
aquisição de léxicos, compreensão e expressão verbal.
Dificuldades de leitura: manifestada pela aquisição das competências básicas
relacionadas às fases de decodificação, como sendo a compreensão e interpretação de
textos, as dificuldades de escrita e presença de erros ortográficos em geral.
Dificuldades de matemática: se revelam na aquisição da noção de números, no lidar
com quantidades e relações espaços-temporais e problemas na aquisição e utilização
de estratégias para aprender, manifestados na falta de organização e utilização de
funções metacognitivas, comprometendo o sucesso na aprendizagem desde a
alfabetização.
Dentre as muitas dificuldades de aprendizagem se destaca o conceito dado por
Ciasca, (2003, p.113) que diz: “o distúrbio de aprendizagem se caracteriza por uma
disfunção do sistema nervoso central, já a dificuldade escolar está relacionada
especificamente e um problema de ordem ou origem de método de ensino”.
Diante disso, ele considera que uma criança tenha distúrbio de aprendizagem quando:
a) Não apresenta um desempenho compatível com sua idade quando lhe são fornecidas
experiências de aprendizagens apropriadas;
b) Apresenta discrepância entre seu desempenho e sua habilidade intelectual em uma ou
mais das seguintes áreas; expressão oral e escrita, compreensão de ordens orais,
habilidades de leitura e compreensão e cálculo e raciocínio matemático.
Além disso, a criança deverá:
*Apresentar problemas de aprendizagem em uma ou mais áreas;
*Apresentar uma diferença significativa entre seu potencial e seu desempenho real;
*Apresentar um desempenho irregular, isto é, a criança tem seu desempenho satisfatório e
insatisfatório alternadamente, no mesmo tipo de tarefa;
Para Olívia Porto (2009, p. 65) todos os distúrbios (da fala, da audição,
emocionais, do comportamento etc.) tem sua origem em causas diversas, porém todas se
constituem em obstáculo à aprendizagem. Por esse motivo, apresenta os distúrbios mais
encontrados, que embora sejam de origens diversas, constituem obstáculo à aprendizagem.
Os principais distúrbios de aprendizagem são:
a) Dislexia: Refere-se à falha no processamento da habilidade da leitura e da escita
durante o desenvolvimento, é um atraso no desenvolvimento ou a diminuição em
traduzir sons em símbolos gráficos e compreender qualquer material escrito. São de
três tipos: visual, mediada pelo lóbulo occipital fonológico, mediada pelo lóbulo
temporal, e mista, com mediação das áreas frontal, occipital, temporal e pré-frontal.
b) Disortografia: É a incapacidade de apresentar uma escrita correta, com o uso adequado
dos símbolos gráficos. Assim, a criança não respeita a individualidade das palavras.
Junta palavras, troca sílabas e omite sílabas ou palavras. (COLL, 1996)
c) Discalculia: É a dificuldade ou a incapacidade de realizar atividades aritméticas
básicas, tais como quantificação, numeração ou cálculo. É causada pela disfunção de
áreas têmpora-parietais, muito compatíveis com o exame clínico do TDAH.
Vale ressaltar, que alguns indivíduos têm menos aptidão para matemática do que
outros, e nem por isso pode-se diagnosticá-los como se tivessem discalculia.
d) Disgrafia: Foco do nosso estudo; está associada à dificuldade em escrever
corretamente a linguagem falada, mais precisamente na qualidade do traçado gráfico,
sem comprometimento neurológico e/ou intelectual. Nas disgrafias, também
encontramos níveis de inteligência acima da média, mas por vários motivos,
apresentam escrita ilegível ou lenta. Ferreiro considera como hipóteses que a criança
elabora na construção do próprio conhecimento. Vygotsky, por exemplo, mostrou que
o ensino formal da escrita possibilitou a tomada de aspectos importantes da
linguagem. (VYGOTSK, 1989).
Nesse sentido, deve-se esclarecer que a letra feia está ligada a dificuldade para
recordar a grafia correta para representar um determinado som, elaborado mentalmente. Por
isso, ela se apresenta em dois tipos: Disgrafia motora e disgrafia perceptiva.
Disgrafia motora (discaligrafia) onde a criança consegue falar e ler, mas encontra
dificuldades na coordenação motora fina para escrever as letras, palavras e números, ou seja,
vê a figura gráfica, mas não consegue fazer os movimentos para escrever. Já na disgrafia
perceptiva, a criança não consegue fazer relação entre o sistema simbólico e as grafias que
representam os sons, as palavras e frases. Possui as características da dislexia, sendo que esta
está associada à leitura e a disgrafia à escrita. Normalmente isso acontece pelas dificuldades
de aprendizagem desde a alfabetização.
4 CAUSAS DA DISGRAFIA NA ALFABETIZAÇÃO
Podemos apontar como causas prováveis da disgrafia na alfabetização os
distúrbios de motricidade ampla e, especialmente fina, os distúrbios de coordenação viso-
motora, a deficiência da desorganização temporoespacial, os problemas de lateralidade e
direcionalidade e o erro pedagógico. Cinel (2003), especialista em Linguística descreve da
seguinte forma:
4.1 Distúrbio na motricidade ampla e fina:
Ocorre com a falta de coordenação entre o que a criança se propõe a fazer
(intenção) e a respectiva ação. Resulta em dificuldade, ou mesmo, em impedimento de
expressão por meio do corpo. Nesse caso, essa falta de sintonia entre o pretendido e o
realizado provoca o desequilíbrio, especialmente o afetivo, sem repercussões de ordem social,
nas áreas motoras e perceptivas.
Na área motora, aparecem a hiper ou a hipoatividade, as perturbações do ritmo, a
incordenação excessiva, prejudicando a postura, e todos os movimentos. Nas áreas
perceptivas, evidenciam-se desordem perceptovisual, de orientação e estruturação espacial,
perturbações do esquema corporal e da lateralidade.
Dessa forma, tais perturbações interferem em todos os campos da ação da criança.
Na alfabetização, ela está sujeita ao baixo rendimento e um mau desempenho, apesar da sua
boa capacidade intelectual, uma vez que um bom desempenho requer atenção e concentração
da criança. Nesse caso, se não houver domínio do corpo, a atenção será desviada e absorvida
no controle do movimento.
Portanto, na alfabetização, para que a criança adquira os mecanismos da escrita,
além da necessidade de saber orientar-se no espaço (motricidade ampla), deve ter consciência
de seus membros, de saber fazer agir, e ter a capacidade de individualizar os dedos
(motricidade fina) para pegar o lápis e riscar, traçar, escrever, ou desenhar o que quiser. Para
sanar essas dificuldades o professor da alfabetização deve trabalhar os grandes músculos e
posteriormente, trabalhar com os pequenos músculos.
4.2 Distúrbio na coordenação visomotora
Sempre que um movimento dos membros superiores ou inferiores ou de todo o
corpo responde a um estímulo visual de forma adequada, a coordenação visomotora está
presente. No traçar de uma linha, a criança, ao mesmo tempo em que segue, com os olhos, a
ação de riscar, deve ter em mira o alvo a atingir. Isso implica ter atenção a algo imediatamente
posterior a ação que está realizando no momento.
Fica claro, que a criança na alfabetização com problemas de coordenação
visomotora não consegue, por exemplo, traçar linhas com trajetórias pré-determinadas, pois,
apesar de todo esforço, a mão não obedece ao trajeto pré-estabelecido.
Pode-se dizer que esses problemas repercutem negativamente na alfabetização,
uma vez que para aprender fixar a grafia é indispensável que a criança tenha coordenação
olho/mão, da qual depende a destreza manual.
4.3 Deficiência na organização temporoespacial
É o conhecimento e o domínio de direita/esquerda, frente,/atrás/lado, alto/baixo,
antes/depois/durante, ontem/hoje/amanhã, etc., que a criança na alfabetização deve ter
desenvolvido para construir seu sistema de escrita.
Assim, na alfabetização, a criança com problemas de orientação e estruturação
espacial, normalmente apresenta dificuldades ao escrever: invertendo letras, combinações
silábicas, sob o ponto de vista de localização. Ela não consegue também escrever obedecendo
ao sentido correto da execução das letras, nem se orienta no plano da folha, apresentando má
utilização do papel e ou escrevendo fora da linha. É possível ainda, encontrar dificuldade na
leitura e na compreensão de um texto, como consequência da desorganização tempoespacial.
4.4 Problemas de lateralidade e direcionalidade
As crianças com dificuldades motoras podem apresentar problemas relativos à
lateralidade e que podem provocar e ser provocados por perturbações do esquema corporal,
pela má organização do espaço em relação ao próprio corpo ou, ainda, por ordem afetiva. E
podem ainda, apresentar-se de várias maneiras como:
*Lateralidade mal estabelecida: Manifesta-se pela não definição do domínio, em especial da
mão direita ou esquerda. Nesse caso, a criança torna-se confusa quanto ao uso das mãos,
tornando-se pouco eficiente no desempenho das atividades motoras, apresentando
dificuldades como: inversão das letras na leitura e/ou na escrita, confusão de letras de
grafismos (traçados) parecidos, mas com orientação espacial diferente, trocando o b pelo p.
Ex: bato/pato; ou o b pelo d. Ex: bato/dato;
* Sinistrismo ou canhotismo: É o domínio do uso da mão esquerda. A eficiência da mão
esquerda nas crianças canhotas é inferior à da mão direita nas destras, tanto pela velocidade
quanto pela precisão. Na verdade, um canhoto pode escrever com a mesma destreza e
facilidade de um destro. Entretanto, para chegar aos mesmos resultados, a criança canhota
deve percorrer a uma série de movimentos e ajustes motores. Sua tendência é espontânea no
plano horizontal ao escrever da direita para a esquerda. Por isso, é tarefa do professor
incentiva-la e auxiliá-la na sua dificuldade para encontrar seus padrões motores;
* Lateralidade cruzada: Caracteriza-se pelo domínio da mão direita em conexão com o olho
esquerdo, ou da mão esquerda com o olho direito. Entretanto, há vários autores que acredita
ser em certos casos, causa de desequilíbrios motores, e outras perturbações que dificultaria o
aprendizado e o desenvolvimento da leitura e da escrita;
* Sinistrismo ou canhotismo contrariado: É o domínio da mão esquerda contraposta ao uso
forçado e imposto da mão direita, o que pode comprometer a eficiência motora da criança, na
orientação em relação ao próprio corpo e na estruturação espacial. É sabido que alguns
autores admitem que em determinados casos, a gagueira, seja consequência de sinistrismo
contrariado, e nesse caso, aconselham a criança volte a usar a mão dominante, que é a mão
esquerda.
4.5 Erro Pedagógico
Geralmente, as dificuldades que os alunos apresentam na escrita se devem a falha
no processo de alfabetização, nas estratégias inadequadas, ou mesmo por desconhecimento
dos problemas de aprendizagem. Ferreiro, no entanto, contribuiu com essa visão, ao
considerar os erros cometidos pelas crianças como erro pedagógico. Desde a alfabetização, os
cuidados que o professor deve ter quando os alunos começam a escrever, não deve resumir-se,
somente a ortografia, mas, também, a legibilidade. Esses cuidados devem prolongar-se por
todo o período de escolarização.
Sabe-se, que preparar um aluno para escrever com correção e legibilidade é
trabalhar com ele a grafia correta das palavras, a forma das letras, a uniformidade no traçado,
o espaçamento, o ligamento e a inclinação da escrita em relação ao espaço onde se está
escrevendo. Por isso, é importante a intervenção psicopedagógica do professor no combate à
disgrafia na alfabetização.
5 A IMPORTÂNCIA DA INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA NO COMBATE À
DISGRAFIA NA ALFABETIZAÇÃO
A finalidade da intervenção psicopedagógica é contribuir para prevenir possíveis
disfunções ou dificuldades para compensar prevenir possíveis disfunções ou dificuldades,
para compensar ou corrigir problemas de aprendizagem.
Nesse sentido Solé (2001, p.16) conceitua a intervenção psicopedagógica como
“um conjunto articulado e coerentes de tarefas e ações que tendem a promover um ensino
diversificado e de qualidade, dando atendimento aos diferentes usuários, juntamente com a
colaboração dos diferentes agentes da escola”. Diante disso, cabe ressaltar que assim como
em outros transtornos de aprendizagem, o tratamento da disgrafia é multidisciplinar e envolve
neurologistas, psicólogos, fonoaudiólogos e terapeutas.
Para isso, vários exercícios podem ser realizados em parceria com outros
professores (Educação Física, Arte, por exemplo), para o desenvolvimento das habilidades
motoras, do esquema corporal, das percepções. Outros deverão ser realizados em sala de aula,
como a parte motora. Ainda assim, para se trabalhar a parte motora é necessária uma
preparação prévia da criança com exercícios mais amplos, para depois chegar à escrita. O
importante é trabalhar com o corpo, com exercícios para manusear objetos e depois partir para
o específico, no caso, a escrita. O objetivo não é atingir a letra bonita, mas, sim legível. É
ajudar no processo de aprendizagem das crianças na alfabetização.
Rubinstein (1996 p. 28) afirma que “o diagnóstico psicopedagógico é em si, uma
intervenção, pois o psicopedagogo tem de interagir com o cliente, a família e a escola, partes
envolvidas na dinâmica do problema” Isto permite que o psicopedagogo tenha maior clareza a
respeito dos objetivos a serem alcançados na intervenção psicopedagógica. Para isso, a
psicopedagogia já conta com recursos próprios como indica Rubinstein (1996, p.29).
O psicopedagogo pode usar como recurso a entrevista com a família: pode, também,
investigar, o motivo da consulta, procurar conhecer a história de vida da criança,
realizando a anamnese, entrevistar o cliente, fazer contato com a escola e outros
profissionais que atendam a criança, manter os pais informados de seu
desenvolvimento e da intervenção que está sendo realizada e encaminhar o caso para
outros profissionais, quando necessário.
Desse modo, ele informa que se houver necessidade de uma avaliação do nível
emocional ou da inteligência, no combate a disgrafia, deve-se encaminhar a criança para um
psicólogo, e se necessário uma intervenção nesse nível, os dois profissionais poderão atuar
juntos de forma multidisciplinar. Portanto, conclui-se acreditando que existem vários recursos
para uma intervenção psicopedagógica, e a mesma, é importante para o psicopedagogo
desenvolver seu trabalho de forma eficiente e eficaz, contribuindo assim, para melhorar a
qualidade do ensino na alfabetização.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considera-se importante concluir este trabalho na certeza de que, é importante a contribuição do psicopedagogo no combate a disgrafia já que o mesmo se configura peça fundamental para ajudar nas dificuldades de aprendizagens das crianças, sobretudo na alfabetização. Essencial também no auxílio à criança, à família, à escola e à sociedade no que diz respeito a superar e lidar com problemas relacionados à aprendizagem.
Nesse sentido, entende-se que o Psicopedagogo acaba por representar uma intersecção entre o aluno e as dificuldades de aprendizagens, que define o rumo do processo de aprendizagem, com a finalidade de mediar e preservar a riqueza da singularidade do sujeito que aprende, dentro do contexto e ambiente de que faz parte.
Compreende-se que, os vínculos com a aprendizagem e as significações contidas no ato de aprender são estudados pela Psicopedagogia, a fim de que este campo de conhecimento possa contribuir para entender os distúrbios de aprendizagem e melhorar as dificuldades dos alunos, dentre elas, as da escrita como, por exemplo, a disgrafia no processo de alfabetização.
Diante disso, vale ressaltar que o Psicopedagogo deve ser um profissional que tenha conhecimentos multidisciplinares, pois em um processo de avaliação diagnóstica, é necessário estabelecer e interpretar dados em várias áreas. O conhecimento dessas áreas fará com que o profissional compreenda o quadro diagnóstico o que favorecerá na intervenção e escolha da metodologia mais adequada para melhorar a aprendizagem.
Portanto, considera-se importante finalizar o referido trabalho afirmando que as contribuições do Psicopedagogo são importantíssimas, e por que não dizer, essenciais por possibilitarem um redimensionamento na aprendizagem já que facilitam a compreensão da leitura e consequentemente da escrita no processo de alfabetização escolar.
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