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Rosana Oleinik
Mestre e doutoranda – PUC/SP
Interpretação Jurídica
Premissas
• Método: Construtivismo Lógico-semântico
• Conhecimento e linguagem.
• Visão semiótica
• Direito e linguagem:
→Sistema de enunciados prescritivos válidos emdeterminado espaço de tempo e lugar (Direitoposto).
→Sistema de enunciados crítico-descritivo (Ciênciado Direito).
Premissas
• Autorreferencialidade da linguagem jurídica: construção darealidade jurídica.
• Hierarquia do sistema.
• Objeto cultural: criação humana (visão antropocêntrica).
• Utilização de ciências auxiliares: semiótica, linguística,Lógica.
• Uniformidade do objeto : normas jurídicas em sentidoamplo e sentido estrito (H→C).
Premissas
• Direito como texto e Teoria Comunicacional do Direito.
• Elementos da comunicação:
• A) emissor• B) receptor• C) mensagem• D) canal• E)conexão psicológica• F) contexto
Interpretação do Direito como sistema de linguagem
• Linguagem jurídica pode ser analisada(decomposta) em três planos:
A) Sintático: relação entre os enunciadosjurídicos.
B) Semântico: relação do enunciado com aconduta.
C) Pragmático: uso da linguagem.
Interpretação do Direito como sistema de linguagem
• Construção de sentido que se faz a partir dos enunciadosjurídicos com a finalidade de regular condutasintersubjetivas.
• Visão tradicional: extração do significado e do alcance dostextos jurídicos.
• Vontade da lei e vontade do legislador: impossível dealcançar-se.
• In claris cessat interpretatio: interpretar-se-ia somente emcaso de dúvida. Impossível. Sentido é sempre construido. Oque é duvidoso?
Interpretação do Direito como sistema de linguagem
• Intérprete atribui sentido aos textos jurídicos conforme valores.
• Art. 150, VI, “d”, CR/88: imunidade dos livros, jornais, periódicos e papéis destinados à sua impressão.
• Que é livro? Há obscuridade no conceito?Álbum de figurinhas, apostilas de concurso,dispositivos de áudio e imagem podem serlivros?
Interpretação do Direito como sistema de linguagem
• Apostila é livro (STF, RE 183403/SP, Rel. Min.Marco Aurélio, DJ 04/05/2001);
• Álbum de figurinhas e papel destinado à suaprodução (STF, RE 221239/SP, Rel. Min. EllenGracie, DJ de 06/08/2004).
Percurso gerador de sentido
• S1: plano dos enunciados prescritivos. Legisladorinova.
• S2: plano das significações dos enunciados. Início do conteúdo
• S3: plano dos juízos hipotéticos condicionais.
• S4: plano da sistematização da norma jurídica.
• Limites: cultura jurídica, usos, contexto.
• Inesgotabilidade e intertextualidade: axiomas da interpretação.
Percurso gerador de sentido
• No S4 norma jurídica está na mente dointérprete.
• Necessidade de enunciá-la para que regulecondutas intersubjetivas: S1’.
• A incidência do direito é um processocomunicacional.
Métodos de interpretação do direito
• Doutrina tradicional: Procura de técnicas paraapreender o alcance e o sentido dos textosjurídicos conforme a intenção do legislador e avontade da lei.
• Interpretação literal: Apenas a primeira etapa aser cumprida na interpretação da lei. Técnicadesprestigiada pela Doutrina atual. Ex: Paulo deBarros Carvalho, Bernardo Ribeiro de Moraes,Hugo de Brito Machado etc.
Métodos de interpretação do direito
• Método ou técnica literal está prevista no art.111 do CTN. Legislador prevê sua aplicação àsuspensão ou exclusão do crédito tributário, àoutorga de isenção e à dispensa documprimento de obrigações acessórias.
• Não é possível fracionar a linguagem. Osaspectos semânticos e pragmáticos se fazempresentes na construção de sentido.
Métodos de interpretação do direito
• “Se a legislação estadual não prevê a isenção de ICMSe do IPVA para veículo adquirido por deficiente físicopara que outrem o dirija, ainda que para transportá-lo,não há como conceder liminar e mandado desegurança por ausência de um dos pressupostos do art.7º, inciso II, da Lei 1.533/51, que é a fumaça do bomdireito. Em matéria de legislação tributária não cabeinterpretação extensiva da lei nem a adoção analógicade lei federal para isentar o contribuinte o impostoestadual.” TJSC, agravo de instrumento 2005.012351-6.Rel. Des. Jaime Ramos, julgado em 30/08/2005.
Métodos de interpretação do direito
• A interpretação literal dada ao casodesconsiderou a finalidade das normasisentivas (aspecto pragmático), consistenteem atender as necessidades especiais dosdeficientes físicos, protegidasconstitucionalmente(CR, arts 203, IV). Criaduas categorias de deficientes físicosdesrespeitando a isonomia.
Métodos de interpretação do direito
• Histórico-evolutivo: transpor a vontade dolegislador, ao tempo da edição da norma, paraa atualidade.
• Pode ser utilizada pelo intérprete não com ointuito de atualizar a vontade do legislador,mas como pesquisa semântica ou comoestudo histórico.
• Pode auxiliar na verificação da vigência danorma.
Métodos de interpretação do direito
• “A interpretação histórica é de extrema valianos conflitos aparentes de normas, porque: ‘odireito não se inventa; é produto lento daevolução...” STJ, Primeira Seção, Rel. Min. LuizFux, Embargos de Declaração no RESp2003/0062403-4, Dje de 31/03/2008. Análisede inúmeras alterações legislativas – créditoprêmio do IPI.
Métodos de interpretação do direito
• Lógico: extração da vontade da lei ou dolegislador estabelecendo o sentido e o alcanceda norma aplicando-se exclusivamenteraciocínios lógicos (dedução, indução,argumento contrario sensu etc.).
• Limita-se ao aspecto sintático da linguagemjurídica.
Métodos de interpretação do direito
• Teleológico: finalidade da norma comoprincipal critério para descobrir seu sentido ealcance. Novamente a vontade da lei e dolegislador.
• Interpretação sistemática: análise de todos osaspectos da linguagem jurídica (lógico,semântico e pragmático).
Métodos de interpretação do direito
• Pressupõe as demais técnicas de exegese:“Não é difícil distribuir os citados ‘métodos de
interpretação’ pelas três plataformas de investigaçãolinguística. Os métodos literal e lógico estão no planosintático, enquanto o histórico e teleológico influemtanto no plano semântico como no pragmático. Ocritério sistemático de interpretação envolve os trêsplanos e é, por isso mesmo, exaustivo da linguagem dodireito. Isoladamente, só o último (sistemático) temcondições de prevalecer exatamente porque pressupõeos anteriores. É assim considerado o método porexcelência. “ Paulo de Barros Carvalho. Curso de DireitoTributário, p. 134.
Interpretação no CTN
• Regras contidas no CTN não dirigem de formaabsoluta a interpretação. Como enunciadosprescritivos também necessitam de construçãode sentido.
• Leis interpretativas – CTN, Art. 106, I:
“A lei aplicar-se-á a ato ou fato pretérito: I – emqualquer caso, quando seja expressamenteinterpretativa, excluída a aplicação de penalidadeà infração dos dispositivos interpretados.”
Interpretação no CTN
• Lei interpretativa sempre inova ao retirar sentidosantes possíveis.
“Nas democracias, com o princípio da irretroatividade dalei, a interpretação autêntica ou nova da lei, ou nãotem outro prestígio que o de seu valor intrínseco, se otem; é interpretação como qualquer outra, semqualquer peso a mais que lhe possa vir da procedência:o corpo legislativo somente pode, hoje, fazer lei parao futuro, ainda que a pretexto de interpretar lei feita.”Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda. Tratado deDireito Privado. Tomo I, p. 166.
Interpretação no CTN
• STJ decidiu pela irretroatividade do art. 3º daC 118/05, expressamente denominado pelolegislador como interpretativo do at. 168 doCTN. Determinava como termo inicial deprescrição da ação de repetição de indébitodos tributos sujeitos a lançamento porhomologação, a data do pagamentoantecipado e não a da homologação dolançamento.
Interpretação no CTN
• “...ainda que defensável a ‘interpretaçãodada, não há como negar que a lei inovou noplano normativo, pois retirou das disposiçõesinterpretadas um dos seus sentidos possíveis,justamente aquele tido como correto peloSTJ, intérprete e guardião da legislaçãofederal.” STJ, Corte Especial, AI nos EREsp nº644.73, Rel. Min. Teori Abi Zavascki, DJ27/08/2007.
Validade
• As normas jurídicas são proposiçõesprescritivas. Não são verdadeiras ou falsas,mas válidas ou inválidas em relação a umdeterminado sistema “S”.
• Ser válida é manter relação depertinencialidade com o sistema “S”: postapor órgão legitimado a produzi-la, medianteprocedimento estabelecido para esse fim.
Validade
• Não é atributo da norma é relação depertinência a determinado sistema. Umanorma existente é necessariamente válida.
• Uma norma enquanto não ab-rogada poroutra permanece válida, isto é, pertencenteao sistema
Vigência
• Vigência é propriedade das regras jurídicas queestão prontas para propagar efeitos, tão logoaconteçam, no mundo fático, os eventos que elasdescrevem.
• Vigência no tempo. A regra revogada não terávigência para acontecimentos futuros, masconserva a vigência para fatos acontecidosanteriormente à revogação.
• Vigência plena: regras propagam efeitos para opassado e para o futuro.
Vigência
• Vigência parcial: somente passado em caso de revogação, ou ainda, somente futuro, quando vigência for nova.
• Veículos introdutores (regra geral e concreta)têm vigência no átimo da validade.
• Norma introduzida: vigência estabelecida pelanorma introdutora (vacatio legis).
Vigência
• Irretroatividade: Art. 150, III, “a”. Norma não alcança fatos ocorridos antes de sua vigência. Protege direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada.
• Anterioridade: Art. 150, III, “a” e “b” (U, E, DF e M nãopodem cobrar tributo no mesmo exercício financeiroem que haja sido publicada lei que os instituiu ouaumentou; antes de decorrido 90 dias da lei que osinstituiu ou aumentou): Ambas espécies deanterioridade deslocam o termo inicial da vigência.Norma não possui força para produzir efeitos.
• Vigência no espaço: territorialidde.
Revogação
• Término da trajetória da norma no sistema do direito positivo.
• Para se revogar uma norma é necessário aprodução de linguagem competente, isto é denorma revogadora. Nesse sentido, inexistiriarevogação tácita.
• Mesmo que duas normas estejam em conflitoserá necessário o ato de fala revogador.
Revogação
• Ab-rogação: supressão total de uma lei. Incidesobre a enunciação-enunciada. Marca o fimda norma veículo introdutor e com ela detodo o enunciado-enunciado.
• Derrogação: supressão de alguns dispositivosda lei. Incide sobre o enunciado-enunciado.
Efeitos da revogação no sistema
• As normas jurídicas, mesmo depois derevogadas, continuam a ser aplicadas aosfatos jurídicos ocorridos antes da entrada emvigor da norma revogadora. Normapermanece parcialmente vigente e ainda éválida.
Eficácia técnica, jurídica e social
• Eficácia jurídica: Propriedade do fato jurídicode provocar a irradiação dos efeitos que lhesão próprios. Mecanismo lógico da incidência(causalidade jurídica). Efetivando-se o fatoprevisto no antecedente, projetam-se osefeitos previstos no consequente.
• Eficácia técnica: Acontecido o fato previsto noantecedente da norma não há qualquerobstáculo que impeça a irradiação dos efeitos.
Eficácia técnica, jurídica e social
• Espécie de ineficácia técnica:
(i) Ausência de regras regulamentadoras, ouainda, modulação de efeitos (ineficáciatécnico-semântica).
(ii) Ausência de condições materiais para aincidência da norma (ineficácia tecnico-sintática). Por exemplo, ineficácia deprograma de computador que permitaaplicação das regras de parcelamento.
Eficácia técnica, jurídica e social
• A eficácia social diz respeito ao acatamento com que a comunidade acata as normas jurídicas.
Bibliografia Básica
• Carvalho, Paulo de Barros. Direito Tributário, Linguagem e método. São Paulo: Noeses.
• _______________. Fundamentos jurídicos da incidência. São Paulo: Saraiva.
• Tomé. Fabiana Del Padre. A prova no Direito Tributário.
• Oleinik. Rosana. Pressupostos condicionantes da interpretação do direito tributário. Dissertação de mestrado. PUC/SP.
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