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As comunidades tradicionais de alto Rio Pardo estão em processo de autodemarcação de territórios como forma de garantir a permanência delas e contribuir com a preservação do Cerrado.
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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 7 • nº 1050
Dezembro/2013
Alto Rio Pardo
A autodemarcação de territórios é uma
estratégia que, desde 2004, vem sendo
adotada pelas comunidades tradicionais do
Norte de Minas. Inspirada na ação dos
povos indígenas, a comunidade geraizeira
de Vereda Funda foi a primeira a fazer a
autodemarcação de seu território,
inspirada no intercâmbio com os povos
Tupiniquins Guarani do Espírito Santo, no
âmbito da Rede Alerta Contra o Deserto
Verde.Vereda Funda esta situada no
município de Rio Pardo de Minas, em uma
área de Cerrado chamada por eles de Gerais. A luta da comunidade de Vereda Funda começou
após a chegada das empresas de eucalipto na
região, nas décadas de 1970 e 1980. Através
de incentivos do Governo do Estado de Minas
Gerais que arrendava as terras a preços
irrisórios várias empresas nacionais e
internacionais se alojaram na região do Alto
Rio Pardo. Nesta época o cerrado foi
desmatado para dar lugar às extensas
monoculturas. Com a perda do cerrado, as
águas diminuíram, os animais nativos
desapareceram e o gado, antes criado na solta, passou a ser criado em terra cercada. As
comunidades se viram encurraladas pelo eucalipto, que cercava toda a região, desestruturando
completamente seu modo de vida. A partir de um processo de organização e de articulação de
uma rede de parceiros iniciou processo intenso de luta pela retomada de seu território. Após 10
anos de luta conseguiram retomar o território onde hoje está em curso a implantação do
Autodemarcação de territórios fortalece a luta pelos
territórios das comunidades tradicionais
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Minas Gerais
Realização Apoio
primeiro Assentamento Extrativista de Minas Gerais.
O geraizeiro e um dos anciãos da comunidade Nerim
Rodrigues da costa, 68 anos nasceu e vive até hoje
em Vereda Funda. Casado com Rita Ferreira de
Souza, é pai de 07 filhos. Ele participou em todos os
momentos da luta da comunidade, inclusive
ajudando a recontar a história e a relembrar os
costumes antigos. Ele conta que a autodemarcação
foi importante para ajudar a comunidade,
principalmente os mais jovens, a relembrarem e conhecerem os limites do seu território. No
dia da autodemarcação juntaram todos: homens, mulheres, crianças, jovens, adultos e
anciãos. Seguiram de moto, a cavalo, a pé e percorreram de um lado a outro os limites dos
territórios. Nesta caminhada relembraram histórias: de festas, músicas, danças, costumes de
antigamente, compartilhados com vizinhos e moradores da comunidade. E lembraram também
daqueles que já faleceram mas que contribuíram muito para a história da comunidade.No
processo de autodemarcação do território a comunidade se reconhece como diferenciada e
percebe que para garantir a sua reprodução social e cultural utiliza um território que nem
sempre é aquele descrito nos títulos de propriedade. Está associado aos direitos que são
preservados pela tradição. Uma maneira das comunidades reafirmarem e protegerem seus
territórios frente ao avanço dos grandes empreendimentos. José Rodrigues da Costa, filho do Sr.
Nerim afirma que acompanha a luta dos geraizeiros pela posse da Terra desde criança, e relata
que a autodemarcação é importante por ser o
reconhecimento quanto à oficialização da existência da
comunidade tradicional. Para ele as famílias entendem
o território como uma fonte de sustento que sem essa
garantia não têm como sobreviver. Além de reverter à
continuidade do processo de monocultura nas áreas de
autodemarcação, possibilita que as empresas tenham
consciência que é uma área produtiva e a comunidade
necessita dela.Um marco da comunidade Vereda Funda
é a união das famílias, sempre muito forte na vida da comunidade.
Eles contam que foi a partir das reflexões das comunidades eclesiais de base que encontraram a
força para pensar seu processo de reapropriação dos territórios, sendo a cultura outro ponto
visto nas celebrações religiosas. O sonho de todos é que os parentes que foram embora venham
morar de novo em sua comunidade e que as chapadas voltem a dar as frutas e ter água com
fartura como antigamente.
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