View
213
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
Bové Montero y Asociados
FAZERNEGÓCIOS
EM ESPANHAGuia prático sobre legislação laboral,
fiscal e comercial
Bové Montero y Asociados
Fazer negócios
em Espanha
Guia prático sobre legislação laboral, fiscal
e comercial
BOVÉ MONTERO Y ASOCIADOS
Mariano Cubí, 708006 BarcelonaTel.: +34 932 180 708 Fax: +34 932 375 925E-mail: bcn@bovemontero.comPessoa de contacto: José María Bové ou Belén Fernández
Príncipe de Vergara, 12628002 MadridTel.: +34 915 615 414Fax: +34 915 625 705E-mail: mad@bovemontero.comPessoa de contacto: José María Bové ou Alfredo Sáinz
Sindicat, 6707002 Palma de MaiorcaTel.: +34 971 775 124Fax: +34 971 726 348E-mail: pma@bovemontero.comPessoa de contacto: José María Bové
Conde de Salvatierra, 2146004 ValênciaTel.: +34 963 287 793Fax: +34 963 287 794E-mail: val@bovemontero.comPessoa de contacto: Secundino Urcera
Este livro foi editado durante o quarto trimestre de 2015, contendo portanto toda a regulamentação em vigor até essa data. Para obter informações mais detalhadas, agradecemos aos nossos leitores que entrem diretamente em contacto com qualquer dos nossos escritórios.
O presente documento recolhe comentários de caráter geral, que não podem ser postos em prática sem a devida assessoria particular.
Com as exceções legalmente estabelecidas, qualquer reprodução, distribuição, comunicação pública ou transformação da presente obra só poderá ser realizada com a autorização dos seus titulares. Dirija-se ao CEDRO (Centro Español de Derechos Reprográficos) se necessitar de fotocopiar ou digitalizar qualquer fragmento da presente obra (www.conlicencia.com; +34 917 021 970 / +34 932 720 445).
7
Agradecimentos
É sempre difícil resumir num livro de formato reduzido todos
os aspetos jurídicos, fiscais, contabilísticos e laborais a tomar
em consideração ao iniciar uma atividade empresarial em
Espanha. Procurámos realizar uma obra que tratasse todas
as questões essenciais, usando uma linguagem próxima dos
investidores. Se tivermos atingido este objetivo, estamos
satisfeitos.
Se além disso, neste esforço, e graças às diversas traduções
que proximamente verão a luz em alemão, francês, inglês,
italiano, português e russo, conseguirmos que a comunidade
de investidores estrangeiros conheça melhor a lógica dos
negócios e da atividade empresarial em Espanha, sentir-nos-
emos ainda mais satisfeitos com esta modesta contribuição
para o desenvolvimento económico espanhol.
A décima primeira edição desta obra, convenientemente
atualizada com as exigências em vigor durante o ano de 2016,
foi redigida pelos recursos humanos dos nossos departamentos
jurídico e fiscal, recaindo a responsabilidade pela sua realização
e coordenação em Belén Fernández Ulloa.
O seguimento de todo o processo de edição, tradução e
distribuição aos clientes e amigos da Bové Montero y Asociados
foi realizado por Brigitte Pollinger.
A todos, o meu mais sincero agradecimento.
José M. Bové
9
Índice de conteúdos
Agradecimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1. Espanha, destino preferido do investimento
estrangeiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1 .1 . Distribuição geográfica da atividade
económica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1 .2 . Descentralização da organização territorial
espanhola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1 .3 . Um espaço monetário integrado na União
Europeia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1 .4 . Especialização e diversificação do sistema
financeiro espanhol . . . . . . . . . . . . . . 22
2. O investimento estrangeiro em Espanha . . . . . . 25
2 .1 . Panorama geral da regulamentação atual . . . . 28
2 .2 . Definição e classificação dos
investimentos estrangeiros . . . . . . . . . . 29
2 .3 . Trâmites relativos à sua notificação e
implementação . . . . . . . . . . . . . . . . 31
A . Declaração prévia . . . . . . . . . . . . . . 32
B . Declaração posterior . . . . . . . . . . . . 33
2 .4 . Incentivos e ajudas ao investimento
estrangeiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
Fazer negócios em Espanha
10
2 .5 . Transferências para o exterior e controlo
de câmbios . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3. O mercado de trabalho e a sua legislação . . . . . 39
3 .1 . Retribuição salarial dos empregados . . . . . . 42
3 .2 . Distribuição do horário laboral . . . . . . . . . . 43
3 .3 . Direitos sociais dos trabalhadores . . . . . . . . 44
3 .4 . Reconhecimento do direito de greve . . . . . . 45
3 .5 . Modelos vigentes de contrato . . . . . . . . . . 45
3 .6 . Indemnização por finalização de contrato . . . 48
3 .7 . Relações laborais especiais . . . . . . . . . . . 50
3 .8 . Bases de contribuição para
a Segurança Social . . . . . . . . . . . . . . 51
3 .9 . Responsabilidade do empresário . . . . . . . . 54
3 .10 . Situação social dos estrangeiros . . . . . . . 55
4. Criação e estabelecimento de um negócio . . . . . 59
4 .1 . Sociedades de capital como modelo de
constituição . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
4 .1 .1 . Sociedade Anónima . . . . . . . . . . . 64
4 .1 .2 . Sociedade de Responsabilidade
Limitada . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
4 .1 .3 . Sociedade Comanditária
por Ações . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
4 .2 . Constituição de uma sucursal . . . . . . . . . . 68
4 .3 . Trâmites para a constituição
de uma sociedade . . . . . . . . . . . . . . . 70
4 .4 . Livros societários . . . . . . . . . . . . . . . . 72
4 .5 . Registo Comercial . . . . . . . . . . . . . . . . 73
4 .6 . Requisitos contabilísticos de todas
as sociedades . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
Índice de conteúdos
11
4 .7 . Requisitos de revisão das contas anuais . . . . 75
5. Os tributos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
5 .1 . Imposto sobre o Rendimento das Pessoas
Coletivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
5 .1 .1 . Aspetos básicos . . . . . . . . . . . . 85
5 .1 .2 . Atribuição temporária de receitas e
despesas . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
5 .1 .3 . Avaliação de receitas e despesas . . . 88
5 .1 .4 . Cálculo das amortizações . . . . . . . 89
5 .1 .5 . Imparidade de valor de elementos
patrimoniais e provisões . . . . . . . . . 91
5 .1 .6 . Reduções na base tributável: patent box e
reserva de capitalização . . . . . . . . . 93
5 .1 .7 . Incentivos fiscais para as empresas de
reduzida dimensão . . . . . . . . . . . . 94
5 .1 .8 . Regime das entidades de detenção de
valores estrangeiros (holdings) . . . . . . 95
5 .1 .9 . Medidas para evitar a dupla
tributação . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
5 .1 .10 . Deduções para incentivar a realização de
determinadas atividades . . . . . . . . . . 99
5 .1 .11 . Retenções e pagamentos
fracionados . . . . . . . . . . . . . . . 100
5 .1 .12 . Declaração consolidada . . . . . . 101
5 .2 . Imposto sobre o Rendimento das Pessoas
Singulares . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
5 .2 .1 . Aspetos básicos: residência habitual e
rendimentos sujeitos a tributação . . . . 102
5 .2 .2 . Regime especial para trabalhadores
deslocados . . . . . . . . . . . . . . . 103
5 .2 .3 . Benefícios fiscais . . . . . . . . . . . 104
Fazer negócios em Espanha
12
5 .2 .4 . Taxas aplicáveis do Imposto sobre o
Rendimento das Pessoas Singulares . . 105
5 .2 .5 . Taxas das retenções . . . . . . . . . 107
5 .3 . Imposto sobre o Rendimento
dos Não Residentes . . . . . . . . . . . . . 108
5 .3 .1 . Rendimentos obtidos mediante
estabelecimento permanente . . . . . . 108
5 .3 .2 . Rendimentos obtidos sem
estabelecimento permanente . . . . . . 111
5 .3 .3 . Rendimentos isentos
de tributação . . . . . . . . . . . . . . 113
5 .3 .4 . A figura do representante fiscal . . . 116
5 .3 .5 . Ónus especial sobre
bens imóveis . . . . . . . . . . . . . . . 117
5 .3 .6 . Apresentação do Imposto sobre o
Rendimento dos Não Residentes . . . . 118
5 .3 .7 . Prevalência dos tratados e
convenções internacionais . . . . . . . 120
5 .4 . Imposto sobre o Património . . . . . . . . . 121
5 .5 . Imposto sobre Sucessões e Doações . . . . 122
5 .6 . Impostos locais . . . . . . . . . . . . . . . . 122
5 .7 . Imposto sobre o Valor Acrescentado . . . . . 123
5 .8 . Imposto sobre Transmissões Patrimoniais
e Atos Jurídicos Documentados . . . . . . 125
5 .9 . Direitos aduaneiros . . . . . . . . . . . . . . 126
15
Poucos países europeus se podem gabar de tanto ter atraído
o capital estrangeiro como Espanha. Os primeiros a chegar,
mais invasores que investidores, vinham atraídos pela posição
geoestratégica da Península Ibérica e pela benevolência
do clima e da terra, ideal para o desenvolvimento do setor
primário. Assim entenderam uma lista interminável de povos
e civilizações, de celtas a árabes, passando por fenícios e
romanos. Séculos mais tarde, durante a Revolução Industrial,
Espanha acolheu investidores britânicos e franceses que
contribuíram de forma decisiva para a consolidação de
um tecido empresarial moderno. E já durante o século XX,
o capital chegado da Alemanha, dos Estados Unidos e do
Canadá recebeu o testemunho e possibilitou a instalação de
uma infraestrutura industrial inédita até à data.
Fazer negócios em Espanha
16
Com a adesão à Comunidade Económica Europeia
em 1986, o investimento estrangeiro experimentou um
crescimento nunca visto até então. Espanha converteu-se em
destino preferido de capitais oriundos dos restantes países
europeus, enquanto o investimento procedente dos Estados
Unidos mantinha um crescimento constante. Todos os setores
económicos obtiveram vantagens da entrada no espaço
comum europeu, com a indústria automóvel, o comércio,
os abastecimentos energéticos e a indústria fabril como
principais recetores de investimento. A combinação de uns
custos laborais controlados com uma elevada percentagem de
profissionais com diplomas do ensino superior foi irresistível
para as primeiras empresas dos citados setores.
Entrados no século XXI, quando a economia já só pode
ser entendida a partir de uma perspetiva global, Espanha
encontra-se entre os primeiros países do mundo no que se
refere a destino de investimento estrangeiro. Aos já tradicionais
capitais europeus e norte-americanos uniram-se investidores
provenientes da Rússia, da China e do Médio Oriente, atraídos
pela solidez de uma economia que já superou os reveses
do período 2009-2012. A renovação das infraestruturas
ferroviárias e aeroportuárias reforçou ainda mais a posição
geoestratégica de Espanha, até ao ponto de atrair em 2014 um
investimento estrangeiro de 15.812 milhões de euros, 8,8%
superior ao do ano anterior.
Em 2015, Espanha voltou a ser o destino preferido do
investimento estrangeiro na Europa. Uma tendência que se
prevê inalterável durante toda a década. Perante a constante
chegada de capital estrangeiro, cada vez mais diversificado,
considerámos oportuno abrir este livro com uma breve
apresentação da realidade espanhola. Assim, os próximos
apartados servirão como uma primeira aproximação a um
Espanha, destino preferido do investimento estrangeiro
17
país que sempre recebeu o investimento estrangeiro como
parte do seu próprio património.
1.1. Distribuição geográfica da atividade económica
Espanha goza de uma situação privilegiada no sudoeste
da Europa, representando uma porta de acesso à América,
à África e ao Velho Continente. Ocupa um território de
aproximadamente meio milhão de quilómetros quadrados,
distribuídos entre a Península Ibérica – partilhada com
Portugal –, as Ilhas Baleares no Mar Mediterrâneo, as Ilhas
Canárias no Oceano Atlântico e as cidades autónomas de
Ceuta e Melilla, situadas no norte do continente africano
e limítrofes com Marrocos. Na atualidade, Espanha tem
aproximadamente uns 46 milhões de habitantes, que vivem
na sua maioria em ambientes urbanos. Neste sentido, as
cidades mais importantes são Madrid – a capital –, Barcelona,
Valência, Sevilha, Bilbau e Saragoça.
Além das instituições políticas do Estado, Madrid acolhe
também as sedes da maior parte das empresas que operam
em Espanha. Cidade basicamente dedicada aos serviços,
sobretudo orientados para as empresas, ainda conserva
uma cintura industrial com predomínio do setor gráfico,
energético e químico. É além disso o ponto central da rede
ferroviária de alta velocidade e o de maior concentração de
investimento estrangeiro. Barcelona, por seu lado, graças ao
imparável crescimento do seu setor turístico, é o primeiro
aeroporto de Espanha em número de passageiros e o primeiro
porto de cruzeiros do Mediterrâneo. Apesar do predomínio
dos serviços comerciais e administrativos, mantém um
tecido industrial importante, com grande peso dos setores
Fazer negócios em Espanha
18
farmacêutico e automóvel, além de ser uma das principais
cidades do mundo em organização de feiras e congressos.
Os portos de Valência e de Algeciras (em Cádis) são os
primeiros do Estado em tráfego de contentores e mercadorias.
Dada a importância histórica do seu porto, Valência concentra
um importante setor comercial ligado sobretudo à exportação
agrícola, que reúne um grande número de empresas de
logística e transportes. Sevilha é o principal centro industrial
do sul de Espanha, muito ligado aos derivados do setor
primário e à especialização aeronáutica, enquanto Bilbau seria
o seu equivalente no terço norte. Além de contar com um dos
portos mais importantes de Espanha, a atividade económica
de Bilbau e da sua província sempre se caracterizou pelo
importante peso da indústria extrativa e fabril, embora se note
uma progressiva viragem para o setor dos serviços. Saragoça,
por seu lado, destaca-se por incorporar na sua própria área
metropolitana um importante parque industrial, em que a
produção automobilística e os seus serviços auxiliares têm
especial relevância. Conta além disso com um dos principais
parques logísticos do sul da Europa.
Mais além dos principais núcleos urbanos, merecem
especial menção as zonas de produção hortofrutícola,
principalmente situadas na costa oriental e na Andaluzia,
que fazem da Espanha o principal exportador europeu do
setor. Toda a costa mediterrânica é igualmente um destino
turístico de primeira ordem, enquanto a costa norte, e
especialmente a Galiza, é um importante foco de comércio
externo ligado ao transporte marítimo, com a presença de
grandes portos e estaleiros que fornecem barcos ao mundo
inteiro. Pode-se afirmar que a diversidade geográfica do país,
com condicionantes muito variados em função do território,
contribuiu para que o tecido produtivo espanhol esteja
Espanha, destino preferido do investimento estrangeiro
19
amplamente diversificado, abrangendo hoje em dia a prática
totalidade dos setores e especialidades.
1.2. Descentralização da organização territorial espanhola
A Constituição de 1978 estabelece que o Estado espanhol
é uma democracia que adota a forma de monarquia
parlamentar. O Chefe de Estado, atualmente o Rei Felipe VI,
arbitra e modera o funcionamento das instituições, assume a
mais alta representação nas relações internacionais e exerce as
funções que lhe atribui o ordenamento jurídico, entre as quais
se destaca o seu papel como comandante-chefe das Forças
Armadas.
Por sua vez, as Cortes Gerais, que representam a soberania
do povo espanhol, estão formadas pelo Congresso dos
Deputados (também conhecido como a câmara baixa) e
o Senado (também conhecido como a câmara alta). Os
deputados e senadores são eleitos por sufrágio universal e
detêm o poder legislativo do Estado. A função executiva é
exercida pelo Governo, que dirige a política interna e externa,
bem como a administração civil e militar. O Governo está
encabeçado pelo presidente, eleito por votação no Congresso,
que por sua vez supervisiona o Conselho de Ministros.
A organização territorial do Estado aposta na
descentralização, estando por este motivo estruturada em
três níveis, em função do grau de proximidade ao cidadão
e das competências atribuídas. No nível mais básico
encontra-se a administração local, exercida pelas autarquias
(Ayuntamientos) dos diversos municípios. A uma escala
intermédia, os municípios estão agrupados em cinquenta e
duas províncias, cada uma delas com a sua correspondente
Fazer negócios em Espanha
20
Deputação Provincial. Finalmente, as Comunidades
Autónomas definem um território com características
históricas, culturais e económicas comuns, e contam com
os seus próprios parlamentos eleitos por sufrágio universal.
A maior parte das comunidades autónomas engloba várias
províncias, embora haja sete uniprovinciais, incluindo La
Rioja ou Múrcia, por exemplo.
A administração autonómica tem atribuídas importantes
competências, como as relativas à educação ou saúde, e algumas
dispõem mesmo das suas próprias forças de segurança. No
caso da Catalunha e do País Basco as polícias autonómicas
são independentes do Corpo Nacional de Polícia, enquanto
em Navarra e nas Ilhas Canárias exercem uma função
complementar. Nesta mesma linha de descentralização,
é conveniente assinalar o caso particular do País Basco e
Navarra, que em virtude de um conjunto de direitos históricos
dispõem de autoridades tributárias próprias, o que lhes
permite regular e manter um sistema fiscal próprio. Como se
descreve nos capítulos dedicados à regulamentação tributária,
as competências exclusivas em matéria fiscal permitem que
estes dois territórios apliquem taxas de tributação diferentes
das do resto do Estado.
Esta organização administrativa, mais complexa
que a de outros países europeus, responde à necessidade
de reconhecimento da singularidade cultural e política
dos diversos territórios de Espanha, garantindo assim a
representação dos seus respetivos interesses no conjunto das
instituições do Estado. Dado Espanha ter surgido da união
de vários reinos autónomos, no final da Idade Média, ainda
hoje se podem apreciar notáveis diferenças culturais entre os
seus territórios. A mais evidente é certamente as diferentes
línguas que se falam nas diversas comunidades autónomas, e
Espanha, destino preferido do investimento estrangeiro
21
que são cooficiais com o espanhol nas suas respetivas áreas
de influência, mais concretamente o catalão na Catalunha e
nas Ilhas Baleares, o valenciano na Comunidade Valenciana,
o euscara no País Basco, e o galego na Galiza. Apesar de o
espanhol ser a língua comum de todo o território, as línguas
cooficiais têm um papel predominante na administração
pública autonómica. A condição de cooficialidade garante que
todos os trâmites e atuações perante a administração pública
podem ser realizados indistintamente em ambas as línguas.
1.3. Um espaço monetário integrado na União Europeia
Durante a década de 1990, uma ampla maioria dos países
pertencentes à União Europeia decidiram iniciar um processo
para harmonizar as suas políticas económicas, com o fim de
implantar uma moeda única, o euro. No dia 1 de janeiro de
2002, doze países passaram a partilhar uma moeda e uma
política monetária única; e Espanha encontrava-se entre eles.
Na atualidade, são já dezanove os Estados-membros da União
Económica e Monetária, o nome por que é conhecido o espaço
que possui o euro como moeda única.
Os países incluídos na zona euro não só partilham uma
moeda única, mas também assumem o compromisso de
coordenar as suas políticas fiscais e económicas sob a tutela
da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu. Todos
os Estados-membros partilham um mercado único no qual,
salvo regulamentação expressa em contrário, está garantida
a livre circulação de capitais, serviços, mercadorias e pessoas.
A Espanha faz parte da União Económica e Monetária desde
a sua instauração, juntamente com a Alemanha, a Áustria,
a Bélgica, a Finlândia, a França, a Grécia, a Irlanda, a Itália,
o Luxemburgo, os Países Baixos e Portugal. Nesse mesmo
Fazer negócios em Espanha
22
ano de 2002, além disso, quatro pequenos estados europeus
também decidiram adotar o euro como moeda: o Vaticano,
o Mónaco, San Marino e Andorra. Cinco anos mais tarde,
em 2007, a Eslovénia integrar-se-ia na zona euro. O Chipre e
Malta entraram em 2008, a Eslováquia em 2009, a Estónia em
2011, a Letónia em 2014 e, finalmente, a Lituânia em 2015.
Na atualidade, vários países membros da União Europeia
encontram-se em lista de espera para fazer parte da zona
euro. No momento em que as suas economias cumprirem
os critérios de convergência exigidos, poderão adotar o euro
como moeda e incorporar-se como membros de pleno direito
na União Económica e Monetária. Os próximos países que
adotarão o euro como moeda única serão provavelmente a
Bulgária, a República Checa, a Polónia e a Roménia, embora
não se espera que isto aconteça antes dos anos de 2019 e 2020.
Neste sentido, deve-se destacar que há vários países
europeus que não participam no euro, ou seja que não são
parte do sistema da moeda única, como a Dinamarca, o Reino
Unido e a Suécia.
1.4. Especialização e diversificação do sistema financeiro espanhol
Espanha possui um sistema financeiro moderno e diversificado completamente integrado nos mercados internacionais, composto pelo mercado de crédito, pelo mercado de valores e pelo mercado monetário. Unicamente este último, o mercado monetário, está sujeito a um controlo direto pelos poderes públicos. No entanto, está aberto tanto aos bancos como às sociedades de investimento e aos intermediários financeiros. Por este motivo, o número atual de operadores financeiros existente em Espanha é francamente elevado.
Espanha, destino preferido do investimento estrangeiro
23
Para descrever as entidades que atualmente configuram
este rico e diversificado sistema financeiro, a seguinte lista
resume os diversos operadores presentes a partir da sua
atividade principal:
• Banco central. O Banco de Espanha.
• Entidades de crédito. Os bancos espanhóis e
estrangeiros, o Instituto de Crédito Oficial (ICO), as
caixas económicas, as cooperativas de crédito e os
estabelecimentos financeiros de crédito.
• Auxiliares financeiros. As entidades de pagamento
e de dinheiro eletrónico, as sociedades de garantia
recíproca e refinanciamento, e as sociedades de
avaliação.
• Instituições de investimento coletivo. As sociedades
de investimento, mobiliário e imobiliário, e os fundos
de investimento, mobiliário e imobiliário.
• Empresas de serviços de investimento. As sociedades
e agências de valores, as sociedades gestoras de
carteiras e as empresas de assessoria financeira.
• Entidades de capital de risco.
• Companhias de seguros e resseguros, e mediadores
de seguros.
• Planos e fundos de pensões.
• Fundos de titularização hipotecária e de ativos.
No que se refere ao mercado do crédito e ao mercado de valores, a função da administração pública está quase exclusivamente limitada a três atividades. Em primeiro lugar, a regular as condições de acesso; em segundo, a garantir a presença permanente de operadores regulares; e, finalmente, a controlar as operações das sociedades financeiras. Todas estas funções são realizadas conforme as práticas normalmente utilizadas nos países desenvolvidos e, muito especialmente,
nos restantes Estados-membros da União Europeia.
27
Como se indicou no capítulo anterior, o Tratado da União
Europeia estabelece a plena liberdade de movimentos de
capital entre os países membros. No entanto, o referido tratado
reconhece ao mesmo tempo que os Estados têm a faculdade
de estabelecer os requisitos administrativos que considerarem
oportunos sobre qualquer operação, incluindo as que a priori
estão liberalizadas. Por este motivo, torna-se imprescindível
conhecer detalhadamente a regulamentação específica
sobre investimentos estrangeiros atualmente em vigor, já
que qualquer organização, investidor ou empreendedor
estrangeiro que deseje operar em Espanha terá, obviamente,
de observar a legislação específica desde o primeiro dia.
Com esta finalidade, nos próximos capítulos é
estabelecida a definição do que é classificado como
Fazer negócios em Espanha
28
investimento estrangeiro e são descritos os trâmites
administrativos que terão de ser cumpridos antes (e depois)
da sua realização. São igualmente apresentados os principais
incentivos existentes ao investimento, muitos deles ligados
a programas da União Europeia, bem como as limitações
às transferências monetárias realizadas de e para o exterior.
Tudo isto com a intenção de expor com a maior precisão
possível o contexto atual que regula o estabelecimento de
investimentos estrangeiros em Espanha, e preparar assim o
terreno para os capítulos seguintes, nos quais se apresenta
em detalhe a legislação relativa à realização de qualquer
atividade empresarial.
2.1. Panorama geral da regulamentação atual
Desde a entrada em vigor do Tratado da União, pode-se
afirmar que os investimentos estrangeiros em Espanha
estão plenamente liberalizados. Regra geral, só é necessário
declarar este tipo de operações a posteriori, ou seja, depois de
o investimento já ter sido realizado. No entanto, há casos em
que é necessário realizar uma declaração prévia à operação,
como, por exemplo, nos casos de investimentos relacionados
com um território considerado, segundo a legislação em vigor,
como um paraíso fiscal.
Ao mesmo tempo, existem regimes especiais
estabelecidos em legislações sectoriais específicas que afetam
os investimentos estrangeiros em Espanha, nomeadamente
em matéria de transporte aéreo, rádio, minerais e matérias-
primas minerais de interesse estratégico e direitos de
mineração, televisão, jogo, telecomunicações, segurança
privada, fabrico, comércio e distribuição de armas e
O investimento estrangeiro em Espanha
29
explosivos de uso civil, bem como atividades relacionadas
com a defesa nacional.
Além das disposições estabelecidas para estes
setores concretos, o Conselho de Ministros reserva-se a
faculdade de suspender o regime geral de liberalização dos
investimentos estrangeiros em situações fora do comum.
Ocorreria, por exemplo, se a natureza, forma ou condição
dos investimentos estrangeiros pudesse afetar o exercício
do poder público ou a própria ordem pública, o que inclui
as atividades relacionadas com a saúde e a segurança do
conjunto da população.
2.2. Definição e classificação dos investimentos estrangeiros
Antes de abordar questões mais específicas, é conveniente
definir quem é considerado investidor estrangeiro segundo
a legislação espanhola. Em primeiro lugar, são investidores
estrangeiros todas as pessoas singulares não residentes, ou seja,
que estejam domiciliadas no estrangeiro ou que tenham aí a
sua residência principal, mesmo que tenham a nacionalidade
espanhola. Também são consideradas investidores estrangeiros
as pessoas coletivas com sede no estrangeiro, bem como as
entidades públicas estrangeiras. A mudança da sede social
das pessoas coletivas ou a mudança de residência das pessoas
singulares determinarão a modificação da classificação de um
investimento estrangeiro em Espanha.
Os investimentos estrangeiros em Espanha podem ser
realizados de várias formas, tomando em consideração a
sua tramitação administrativa. Estas diversas modalidades
são a seguir apresentadas:
Fazer negócios em Espanha
30
• A participação em sociedades espanholas cujo capital
não esteja admitido à negociação nos mercados
secundários. Nesta modalidade estão incluídas, por
exemplo, a constituição de uma nova sociedade, a
subscrição e aquisição total ou parcial das suas ações,
ou a assunção de participações sociais; bem como a
aquisição de valores, como direitos de subscrição
de ações, obrigações convertíveis em ações ou de
qualquer outro tipo semelhante que, pela sua natureza,
dê direito a uma participação no capital. Também fica
incluído nesta modalidade qualquer negócio jurídico
em virtude do qual sejam adquiridos direitos políticos.
• Investimentos em ações de sociedades espanholas
cujo capital esteja admitido à negociação, de forma
total ou parcial, em mercados de valores espanhóis
ou estrangeiros. Esta modalidade inclui os direitos de
subscrição ou outros análogos, seja qual for o lugar de
emissão e aquisição.
• A constituição de sucursais, e a ampliação da dotação
das já existentes, de empresas com sede no estrangeiro.
• A subscrição e aquisição de valores negociáveis
representativos de empréstimos emitidos por
residentes.
• A participação em fundos de investimento inscritos
nos Registos da Comissão Nacional do Mercado de
Valores (CNMV).
• A aquisição de bens imóveis situados em Espanha
cujo montante total supere os 3.005.060,52 euros. Se
o investimento proceder de paraísos fiscais, qualquer
investimento em bens imóveis, independentemente
do montante.
O investimento estrangeiro em Espanha
31
• Finalmente, as denominadas outras formas de
investimento: a constituição, formalização ou
participação em contratos de contas em participação,
fundações, agrupamentos europeus de interesse
económico, cooperativas e comunidades de bens;
quando o valor total correspondente à participação dos
investidores estrangeiros for superior a 3.005.060,52
euros, ou independentemente do montante quando
proceder de paraísos fiscais.
Deste modo, qualquer investimento que respeite uma
destas sete modalidades, e que tenha sido realizado em
Espanha por uma pessoa singular ou coletiva domiciliada
no estrangeiro, terá de ser classificado como investimento
estrangeiro ao notificar a sua natureza.
2.3. Trâmites relativos à sua notificação e implementação
No princípio deste capítulo indicava-se que, regra geral, não é
necessário declarar os investimentos estrangeiros antes da sua
realização, sendo suficiente informar posteriormente da sua
natureza. No entanto, há alguns casos em que é obrigatório
informar com determinada antecedência a administração
pública. Para resolver qualquer eventual dúvida, nesta secção
é especificado quando é necessário informar antes de efetuar
o investimento e quando é suficiente informar depois. De
uma forma ou de outra, todas as declarações de investimento
estrangeiro, bem como as correspondentes liquidações, terão
de ser realizadas no Registo de Investimentos do Ministério de
Economia e Competitividade.
Fazer negócios em Espanha
32
A. Declaração prévia:
Tal como se indicou anteriormente, o titular de um
investimento estrangeiro tem de realizar uma declaração
prévia quando este proceder de paraísos fiscais. É importante
assinalar que esta declaração não exclui a que é necessário
efetuar com posterioridade, depois de o investimento já ter
sido realizado. No entanto, existem certas exceções a esta
norma geral. Os três casos em que não é necessário realizar
a declaração prévia, independentemente da origem do
investimento, são os seguintes:
• Investimentos em valores negociáveis.
• Participações em fundos de investimento inscritos nos
registos da CNMV.
• Investimentos que representem uma participação
estrangeira não superior a 50% no capital da sociedade
espanhola destinatária do investimento, nem com
anterioridade ao investimento projetado, nem como
consequência deste.
Quando for necessário realizar a declaração prévia,
será o seu titular quem terá de a apresentar no registo.
Esta declaração terá uma validade de seis meses, a contar
do momento da sua apresentação. Se nesses seis meses o
investimento não for realizado, terá de ser apresentada uma
nova declaração prévia. Finalmente, é necessário indicar
que quando for preciso liquidar investimentos estrangeiros
procedentes de paraísos fiscais, não será necessário notificar
a liquidação antes da sua realização.
O investimento estrangeiro em Espanha
33
B. Declaração posterior:
Regressando à norma genérica, a maior parte dos
investimentos estrangeiros são declarados depois terem sido
realizados. Esta declaração posterior tem de ser realizada pelo
titular não residente, embora, se a operação tiver contado
com a intervenção de um notário, seja este último a enviar a
informação ao registo. Com caráter especial, podem ser outros
os responsáveis por efetuar a declaração:
• Se se tratarem de investimentos em valores negociáveis,
a obrigação de os declarar será da responsabilidade das
empresas de serviços de investimento, entidades de
crédito ou das entidades financeiras correspondentes.
• No caso de investimentos em valores não negociados
em mercados secundários, as entidades depositárias
ou administradoras dos valores serão as encarregadas
de notificar a operação. Se tiver intervindo uma
sociedade, agência de valores ou entidade de crédito,
terão de ser estas entidades a efetuar a declaração.
• No caso de ações nominativas, o sujeito obrigado a
realizar a declaração será a sociedade espanhola objeto
do investimento.
• As operações em fundos de investimento espanhóis
terão de ser declaradas pela respetiva sociedade
gestora.
Quanto ao prazo, a declaração terá de ser efetuada no
prazo de um mês quando afetar sociedades não cotadas,
sucursais, as conhecidas como outras formas de investimento
e bens imóveis. Os investimentos relativos a valores
negociáveis seguem um procedimento de declaração
que terão de cumprir todas as entidades depositárias
e administradoras dos valores, bem como as entidades
Fazer negócios em Espanha
34
que, sem atuar como depositárias, liquidem operações de
compra ou venda de valores por ordem de pessoas não
residentes.
Por último, é necessário apontar que, em determinadas
condições ou simplesmente se forem requeridas, as
sociedades espanholas que tiverem participação estrangeira
e as sucursais em Espanha de pessoas não residentes têm de
apresentar, à Direção-Geral de Comércio e Investimentos do
Ministério da Economia e Competitividade, uma memória
anual relativa ao desenvolvimento do investimento,
no prazo máximo de nove meses a contar da data de
encerramento do exercício social.
É oportuno recordar aqui que qualquer incumprimento
das obrigações relacionadas com a declaração do
investimento estrangeiro pode ser objeto de sanção.
2.4. Incentivos e ajudas ao investimento estrangeiro
As pessoas singulares ou coletivas não residentes interessadas
em realizar investimentos em Espanha podem usufruir de
determinadas ajudas, que adotam a forma de subvenções
ou de empréstimos muito favoráveis. Estas ajudas podem
provir dos organismos da administração pública espanhola,
tanto estatais como autonómicos, ou diretamente da União
Europeia (UE).
Os incentivos regionais – os de origem espanhola –
são determinados em certos aspetos pelas diretivas da UE.
Costumam ser aplicados a empresas que decidem instalar-
se em zonas geográficas pouco desenvolvidas, com um alto
nível de desemprego, ou em setores industriais em crise.
A administração central, através dos diversos ministérios,
oferece ajudas específicas. Paralelamente, as comunidades
O investimento estrangeiro em Espanha
35
autónomas também possuem os seus próprios programas
de atuação. Entre os incentivos em vigor, destaca-se a
concessão de empréstimos destinados a financiar ativos
fixos ou a criação de empresas, sempre em condições
substancialmente mais vantajosas que as oferecidas pelo
mercado. Também é necessário destacar os subsídios para
investimentos em investigação e desenvolvimento, bem
como os destinados à internacionalização de empresas.
Por outro lado, os incentivos que procedem dos
orçamentos da União Europeia são os denominados
recursos estruturais, ou seja, os Fundos Estruturais Europeus
e o Fundo de Coesão. Ambos constituem os principais
instrumentos de que a UE dispõe para reforçar a coesão
económica e social. O seu objetivo consiste em reduzir as
disparidades entre os diferentes territórios, financiando
ações de desenvolvimento regional em colaboração com os
Estados-membros.
2.5. Transferências para o exterior e controlo de câmbios
Como é lógico, os titulares de investimentos estrangeiros
têm o direito de transferir para o exterior o produto da sua
liquidação e os rendimentos económicos obtidos. Convém
esclarecer que a existência deste direito não é incompatível
com o regime de tramitação administrativa já comentado
em apartados anteriores, nem com a regulação específica do
controlo de câmbios.
Seguindo as diretrizes estabelecidas pela União Europeia,
a legislação espanhola relativa ao controlo de câmbios,
fundamentada na diretiva comunitária 88/361/CEE, foi-
se liberalizando progressivamente. De facto, atualmente
Fazer negócios em Espanha
36
pode-se dizer que os controlos de câmbio não representam
qualquer obstáculo para realizar qualquer tipo de atividade
empresarial em Espanha. O Governo de Espanha foi mais
além do que estabelecia a diretiva comunitária e aplicou a
liberalização às transações com todos os países, sejam ou
não membros da União Europeia.
Assim, o princípio básico em que se fundamenta a
legislação espanhola é o da liberdade total dos movimentos
de capitais e das transações económicas com o exterior. Os
atos, negócios, transações e operações entre residentes e não
residentes que impliquem, ou dos quais possam derivar,
cobranças e pagamentos externos são completamente
livres. Do mesmo modo, também o são as transferências
de ou para o estrangeiro, bem como as variações em contas
ou em posições financeiras devedoras ou credoras perante
o exterior. As únicas limitações existentes são as que
eventualmente estabelecer a lei.
Portanto, pode-se afirmar com caráter geral que não
existe qualquer exigência de declarar com antecedência
qualquer transferência para o exterior. No entanto, sempre
existem certas exceções à regra geral. Mais concretamente,
os dois casos seguintes, que estão efetivamente sujeitos a
declaração prévia e obrigatória:
a) A saída ou entrada em território nacional de
numerário e cheques bancários ao portador, em euros
ou em qualquer outra divisa ou meio físico – o que
também incluiria os meios eletrónicos concebidos
para ser utilizados como forma de pagamento –,
quando o seu montante for superior a 10.000 euros
por pessoa e viagem.
b) Os movimentos por território nacional de numerário
e cheques ao portador, em euros ou em qualquer
O investimento estrangeiro em Espanha
37
outra divisa ou meio físico – o que também incluiria
os meios eletrónicos concebidos para ser utilizados
como forma de pagamento –, quando o seu montante
for superior a 100.000 euros.
É necessário esclarecer que quando nestes dois casos
se fala de meios de pagamento eletrónicos, não se trata dos
cartões nominativos de crédito ou de débito.
Deixando de lado as exceções à regra, são total e
absolutamente livres as cobranças e pagamentos entre
residentes e não residentes, bem como as transferências
de ou para o exterior, sempre que forem realizadas por
mediação bancária. A entidade registada unicamente
terá de declarar os dados relativos à operação aos órgãos
competentes da administração pública e ao Banco de
Espanha. Esta declaração nem sequer será necessária
quando as cobranças, pagamentos ou transferências forem
inferiores a 50.000 euros. Também não se pode esquecer
que a execução de pagamentos e transferências para o
exterior não está condicionada à comprovação prévia do
cumprimento das obrigações fiscais.
Adicionalmente, e com fins puramente estatísticos e
informativos, as pessoas singulares ou coletivas residentes
em Espanha que realizarem transações com não residentes,
ou que mantiverem ativos ou passivos no exterior, terão
de apresentar uma declaração ao Banco de Espanha. A
periodicidade das comunicações dependerá do volume
das transações realizadas durante o ano imediatamente
anterior, bem como dos saldos de ativos e passivos existentes
a 31 de dezembro. Mais concretamente, a frequência destas
comunicações será a descrita no seguinte quadro.
Fazer negócios em Espanha
38
PERIODICIDADE DAS COMUNICAÇÕES SOBRE TRANSAÇÕES
Quando os montantes das transações durante o ano imediatamente anterior ou os saldos de ativos e passivos a 31 de dezembro do ano anterior…
forem iguais ou superiores a 300 milhões de euros
UMA VEZ POR MÊS
forem iguais ou superiores a 100 milhões de euros
UMA VEZ POR TRIMESTRE
forem inferiores a 100 milhões de euros
UMA VEZ POR ANO
não superarem 1 milhão de euros:só quando o requerer o Banco de
Espanha; no prazo de dois meses a contar da data do requerimento
Quanto a contas bancárias, os residentes poderão abri-las
em agências que operem no estrangeiro, tanto das entidades
registadas como de qualquer entidade bancária ou de crédito
estrangeira. Para os não residentes, a abertura e a manutenção
de contas em euros ou noutras divisas é livre nas agências que
operem em Espanha das entidades registadas.
41
Qualquer empreendedor que pretenda criar uma nova
sociedade em Espanha tem de conhecer em profundidade
a regulamentação que regulará as relações com os seus
trabalhadores. Para o investidor estrangeiro esta obrigação
é ainda mais premente, dado que a legislação espanhola
atual emana de um amplo conjunto de leis que se refundam
e corrigem umas às outras, e que chegam a remontar-se à
segunda metade da década de 1970.
A principal fonte do direito laboral é o Estatuto dos
Trabalhadores, a lei básica que regula os contratos de
trabalho e estabelece os direitos e deveres das diversas partes
implicadas. Dado que, pelo seu caráter geral, este diploma não
contempla todas e cada uma das singularidades próprias do
mundo do trabalho, ao longo dos anos as condições laborais
Fazer negócios em Espanha
42
dos diversos setores produtivos foram sendo especificadas
por um conjunto de acordos coletivos. Estes acordos coletivos
são negociados entre as empresas e os representantes dos
trabalhadores, são de cumprimento obrigatório por ambas as
partes e são revistos periodicamente.
Antes de realizar um investimento num determinado setor
produtivo, é indispensável rever o acordo coletivo em vigor
para descobrir a regulamentação que lhe é aplicável, e que
pode especificar aspetos tão concretos como a distribuição
do horário laboral ou as tabelas salariais. Neste capítulo
são resumidos os conteúdos da legislação laboral geral em
Espanha, desde o Estatuto dos Trabalhadores às diferentes
reformas e leis específicas, incluindo também apartados
dedicados à contratação e à situação social dos estrangeiros.
3.1. Retribuição salarial dos empregados
Em Espanha, a lei estabelece uns limites mínimos aos salários
recebidos pelos trabalhadores. Qualquer retribuição inferior
a estes limites está fora da lei e pode ser objeto de denúncia
e sanção. Mais concretamente, o salário mínimo estabelecido
pelo Governo, que se revê anualmente, encontra-se nos 655,20
euros mensais. Trata-se de um dos limites mais baixos da
Europa Ocidental, apenas superado pelo salário mínimo em
vigor em Portugal.
No entanto, este salário mínimo não é válido nos setores
em que exista um acordo coletivo que altere a regulamentação
geral e que inclua, geralmente nos seus anexos, uma tabela
salarial na qual é especificada a retribuição mínima que terá
de receber o trabalhador, sempre em função do seu cargo
dentro da empresa. Convém indicar que os acordos coletivos
O mercado de trabalho e a sua legislação
43
entre empresas e trabalhadores só podem melhorar o salário
estabelecido pelo Governo.
Na maior parte dos casos, os trabalhadores têm direito
pelo menos ao subsídio de férias e ao subsídio de natal. Isto
implica que o salário bruto anual é liquidado distribuído em
catorze pagamentos. No entanto, muitos acordos coletivos
estabelecem a possibilidade de pagar os subsídios de férias e
de natal em duodécimos, distribuindo-os ao longo do ano.
Na prática, isto significa que muitas empresas pagam doze
salários por ano, incluindo em cada mês um duodécimo dos
subsídios de férias e de natal.
3.2. Distribuição do horário laboral
Devido às necessidades específicas de cada setor produtivo, a
duração e a distribuição do horário laboral são especificadas
nos diferentes acordos coletivos e nos contratos de trabalho.
No entanto, a lei estabelece que a duração máxima do horário
normal de trabalho efetivo é de 40 horas semanais, obtidas
como média da contabilização anual.
De forma parecida, o horário diário não pode superar as 9
horas, exceto se por acordo coletivo ou pacto entre o empresário
e os trabalhadores for estabelecida outra distribuição do
tempo. Em qualquer caso, o trabalhador tem direito a
descansar 12 horas entre o final de uma jornada laboral e o
início da seguinte. Em relação à possibilidade de realizar horas
extraordinárias retribuídas mais além do horário acordado, a
lei estabelece que estas não podem superar as 80 por ano.
No que se refere a férias, a legislação estabelece que estas
terão de ter uma duração de 30 dias de calendário por ano de
serviço. Isto significa que nesses 30 dias estão incluídos tanto
os dias úteis como os feriados. Além disso, ao longo do ano,
Fazer negócios em Espanha
44
existem 14 feriados em dias úteis, com caráter retribuído e não
recuperável. Estes 14 feriados são distribuídos entre os que
têm caráter nacional (celebrados no país inteiro), os que só
afetam uma comunidade autónoma determinada e os que são
de âmbito local (em total, dois por ano).
3.3. Direitos sociais dos trabalhadores
Desde a instauração da democracia, os trabalhadores espanhóis
gozam de uns direitos equiparáveis aos dos restantes países
europeus. O Estatuto dos Trabalhadores e a Constituição de
1978 garantem a liberdade sindical, o que inclui o direito a
fundar sindicatos e a afiliar-se ao que o trabalhador escolher.
Além disso, os sindicatos têm a liberdade de estabelecer
confederações e de fazer parte de organizações internacionais
de trabalhadores. Por sua vez, ninguém pode ser obrigado a
afiliar-se a um sindicato.
No que se refere à representação sindical dos trabalhadores,
esta varia em função do tamanho da empresa. Quando esta
tem menos de 50 e mais de 10 trabalhadores, são os delegados
de pessoal os encarregados de representar o conjunto dos
quadros. Em empresas que tenham entre 6 e 10 trabalhadores,
também pode existir a figura do delegado de pessoal se assim
decidirem por maioria os quadros. E nos centros com mais
de 50 trabalhadores, a representação será realizada pelos
conselhos de empresa. Em todos os casos, são os trabalhadores
quem elegem livremente e por votação os seus representantes.
É necessário apontar que, se uma empresa tiver vários
centros de trabalho numa única província ou em províncias
limítrofes, e se os seus quadros por separado não chegarem
aos 50 trabalhadores, mas o seu total atingir esse número, será
criado um conselho de empresa conjunto entre os diferentes
O mercado de trabalho e a sua legislação
45
centros. Além disso, no caso das multinacionais que estão
obrigadas a ter delegados no Conselho de Empresa Europeu,
estes representantes serão escolhidos entre os membros dos
conselhos de empresa já existentes.
3.4. Reconhecimento do direito de greve
O direito de greve dos trabalhadores para defender os seus
interesses está estabelecido na própria Constituição, que
remete a especificação das normas que regulam o exercício
desse direito à redação de uma futura lei. No entanto, a
redação dessa lei continua pendente, o que significa que o
direito de greve é regulado pelas disposições da Lei 17/1977,
que tem sido posteriormente alterada por diversas sentenças
do Tribunal Constitucional.
Mais concretamente, a lei recolhe o direito de greve por
acordo expresso dos trabalhadores, que pode ser tomado
diretamente em assembleia, através dos seus representantes
legais ou mediante as diversas organizações sindicais. Quando
os trabalhadores tomam a decisão diretamente em assembleia,
é suficiente uma maioria simples dos assistentes para aprovar
a greve; não são requeridos os votos de uma percentagem
determinada dos quadros globais.
Por outro lado, só podem ser estipulados uns serviços
mínimos obrigatórios quando a atividade da empresa afetar
diretamente a manutenção de serviços assistenciais básicos,
como a saúde e os transportes públicos.
3.5. Modelos vigentes de contrato
A atual legislação estabelece a possibilidade de realizar
múltiplas formas de contratação, que podem ser resumidas
Fazer negócios em Espanha
46
em quatro grandes grupos: os contratos sem termo; os
contratos a termo; os contratos realizados para a formação
e aprendizagem; e, por último, os contratos em práticas.
Dentro de cada um destes quatro grandes tipos de contrato,
existem diversas fórmulas e modalidades que permitem a sua
adaptação às diversas circunstâncias e necessidades de cada
setor. Todos estes contratos têm de ser formalizados por escrito
e estar registados no Serviço Público de Emprego Estatal.
O contrato sem termo (indefinido) estabelece que o
trabalhador prestará os seus serviços sem que haja uma data
limite que marque o final da relação laboral. É, portanto, um
contrato em que não se especifica a duração da relação entre
a empresa e trabalhador. Os contratos sem termo podem ser
celebrados a tempo inteiro, a tempo parcial e para a prestação
de serviços fixos descontínuos. Este último modelo é
utilizado para cobrir determinadas necessidades da atividade
empresarial que surgem durante umas datas concretas ao longo
do ano. Para um empresário poder despedir um trabalhador
com contrato sem termo sem ter de pagar a indemnização
estabelecida por lei, terá de se ter produzido qualquer das
causas estabelecidas no Estatuto dos Trabalhadores ou nos
acordos coletivos. No próximo apartado 3.6 são resumidas as
diversas circunstâncias que podem conduzir à finalização da
relação laboral.
Por seu lado, os contratos sem termo a tempo parcial
permitem a prestação de serviços durante um número de
horas por dia, por semana, por mês ou por ano, sempre que
esse número seja inferior ao de um horário a tempo inteiro.
Se a produção exigir aumentar o horário de trabalho, os
trabalhadores com um contrato a tempo parcial podem
realizar horas extraordinárias. Existe sempre um limite
máximo às horas extraordinárias que um trabalhador pode
O mercado de trabalho e a sua legislação
47
realizar, estipulado pela legislação proporcionalmente ao
horário de trabalho determinado no contrato.
O contrato sem termo tem, além disso, uma
variante adicional: o contrato de trabalho de apoio aos
empreendedores. É um novo tipo de contrato sem termo e
a tempo inteiro que pode ser utilizado pelas empresas com
menos de 50 trabalhadores nos seus quadros. A empresa que
utilizar este modelo de contrato gozará de determinados
incentivos fiscais e bonificações nas contribuições à Segurança
Social, sempre que forem cumpridos certos requisitos e
condições. Um dos principais é que o trabalhador conserve o
seu emprego durante um período mínimo de 3 anos a contar
da data de início do contrato. Se estes requisitos e condições
não forem cumpridos, o empresário terá de devolver os
incentivos que tiver recebido.
Os contratos a termo certo, por seu lado, indicam de
forma explícita a data de finalização da relação entre o
trabalhador e a empresa. Este tipo de contrato tem quatro
variantes principais: de obra e serviço para realizar uma
tarefa determinada; eventual por circunstâncias da produção;
de relevo para substituir um trabalhador que se reformou
parcialmente; e de interinidade para substituir um empregado
que não pode ocupar o seu cargo durante determinado tempo.
Se o empresário quiser finalizar a relação com o trabalhador
antes da data estipulada, ou se ainda forem vigentes as
circunstâncias que levaram à contratação temporária, o
despedimento pode ser declarado injustificado.
As pessoas que tiverem terminado recentemente os seus
estudos podem acolher-se a um contrato de trabalho em
práticas. Para poder efetuar esta modalidade de contrato,
o trabalhador tem de ter terminado os seus estudos nos
últimos cinco anos, que serão sete no caso do trabalhador
Fazer negócios em Espanha
48
portador de deficiência. Do mesmo modo, estes estudos
têm de corresponder a um título universitário, de formação
profissional ou ser oficialmente reconhecidos como
equivalentes, e capacitar para o exercício profissional do cargo
oferecido. Em qualquer caso, se o trabalhador tiver menos de
30 anos, não será tomada em consideração a data de finalização
dos estudos.
Finalmente, o objetivo de um contrato de formação e
aprendizagem é que o trabalhador obtenha uma qualificação
profissional específica, alternando a atividade retribuída
na empresa com uns estudos teóricos. É importante indicar
que o trabalhador tem de ser candidato a emprego e não ter
formação oficial relacionada com a atividade que vai realizar.
Com este tipo de contrato as empresas gozam de uma redução
de 100% das quotas da Segurança Social, tanto na parte do
trabalhador como da empresa, e de uma bonificação de 100%
nos custos dos cursos de formação associados.
3.6. Indemnização por finalização de contrato
O contrato laboral, tal como se expôs anteriormente, pode ser
celebrado a termo certo ou sem termo. Neste último caso, o
empresário só o poderá rescindir unilateralmente se se tiver
verificado qualquer das causas estabelecidas no Estatuto dos
Trabalhadores, ou seja, mediante o despedimento disciplinar
baseado num incumprimento grave e culposo do trabalhador.
Se não forem demonstradas as causas disciplinares e o
despedimento for declarado injustificado, a empresa fica
obrigada a indemnizar o trabalhador com uma quantia
equivalente a 33 dias de salário por cada ano de serviço,
com um máximo de 24 mensalidades. A indemnização por
despedimento injustificado dos contratos celebrados antes
O mercado de trabalho e a sua legislação
49
de 12 de fevereiro de 2012 é calculada à razão de 45 dias de
salário por ano de serviço pelo tempo de prestação de serviços
anterior à dita data, e à razão de 33 dias de salário por ano
de serviço pelo tempo de prestação de serviços posterior. O
montante indemnizatório resultante não poderá ser superior
a 720 dias de salário, exceto se do cálculo da indemnização
pelo período anterior a 12 de fevereiro de 2012 resultar um
número de dias superior, em cujo caso este será aplicado como
montante indemnizatório máximo, sem que em nenhum caso
este possa ser superior a 42 mensalidades.
Adicionalmente, a lei permite a rescisão do contrato de
trabalho se se verificarem as causas objetivas expressamente
previstas, tendo de ser cumpridos, além disso, os seguintes
requisitos:
• A comunicação por escrito do despedimento ao
trabalhador, indicando a causa que leva à finalização
do contrato.
• A entrega ao trabalhador, no mesmo momento em
que for realizada a comunicação por escrito, de uma
indemnização equivalente a 20 dias de salário por ano
de serviço, com um limite de 12 mensalidades.
• A concessão de um prazo de pré-aviso de 15 dias,
que começará a ser computado no momento em que
for realizada a comunicação pessoal por escrito ao
trabalhador, e que terminará quando o contrato de
trabalho for efetivamente rescindido.
Depois de efetuada a rescisão do contrato, um tribunal
pode decidir que o despedimento terá de ser declarado nulo se
se tiver produzido numa série de circunstâncias. Se se incorrer
nesta situação, o empresário fica obrigado a readmitir o
empregado na sua anterior posição. Basicamente, são duas as
Fazer negócios em Espanha
50
situações que podem conduzir a um despedimento nulo: por
um lado, que o motivo do despedimento seja uma das causas
de discriminação estabelecidas na Constituição ou no restante
ordenamento jurídico em vigor; e, por outro, que os direitos
fundamentais e as liberdades públicas do trabalhador tenham
sido violados.
De modo semelhante, existe um caso adicional que pode
conduzir à declaração de nulidade de um despedimento, que
consiste em que este seja realizado enquanto o trabalhador
estiver a gozar de uma das licenças ou situações reguladas
por lei para promover a conciliação da vida familiar e laboral.
Entre estas licenças encontram-se, por exemplo, a redução
de horário por cuidado de familiares ou a suspensão do
contrato por gravidez. Se um despedimento se produzir nestas
circunstâncias, os tribunais terão a faculdade de decidir se é
considerado justificado ou, pelo contrário, nulo.
3.7. Relações laborais especiais
As normas descritas no presente capítulo são aplicáveis
à maioria das relações de trabalho por conta de outrem,
em que uma pessoa singular ou coletiva paga um salário a
um trabalhador em troca dos seus serviços. No entanto, a
riqueza e complexidade do mercado de trabalho provocou o
aparecimento de relações laborais às quais a legislação geral
não pode responder. Por este motivo, determinados setores
e postos de trabalho têm uma regulação específica que vai
mais além da descrita até aqui. É o caso, por citar apenas
alguns exemplos, do pessoal de alta direção, dos desportistas
profissionais e do serviço doméstico.
No âmbito dos investimentos estrangeiros, podem ser
de especial interesse as estipulações relativas aos agentes de
O mercado de trabalho e a sua legislação
51
comércio, como são conhecidos os profissionais que intervêm
em operações de compra e venda como mediadores. Quando
se produz esta relação laboral especial, pode ser aplicável a Lei
do Contrato de Agência, que determina o estabelecimento de
uma relação comercial e que está harmonizada com a Diretiva
Comunitária relativa aos Agentes de Comércio.
3.8. Bases da contribuição para a Segurança Social
O pilar básico do estado do bem-estar espanhol é o sistema
da Segurança Social, cujo objetivo consiste em oferecer
aos cidadãos um conjunto de prestações nas mais variadas
situações de necessidade, desde a reforma à baixa laboral.
Mais concretamente, os principais serviços oferecidos pela
Segurança Social podem ser divididos em duas grandes áreas:
primeiro, estariam todos os relacionados com os serviços
médicos e farmacêuticos, de caráter universal; e, depois, as
prestações económicas destinadas a ajudar os beneficiários em
caso de incapacidade temporária, desemprego, risco durante
a gravidez, maternidade, incapacidade permanente, reforma,
viuvez, orfandade e outras situações de necessidade familiar.
O sistema da Segurança Social é financiado graças às
contribuições que trabalhadores e empresários pagam
mensalmente. O pessoal está classificado numa série de grupos
de contribuição para determinar o montante a entregar à
Segurança Social. Cada grupo tem uma base mínima e uma
base máxima de contribuição que normalmente é revista
todos os anos.
Pode acontecer, por exemplo, que depois de realizar
os cálculos oportunos, um trabalhador com um salário
muito elevado tenha uma base de contribuição superior à
estabelecida pelos Orçamentos Gerais do Estado. Nesse caso,
Fazer negócios em Espanha
52
a base de contribuição não será a derivada do seu salário,
mas o máximo estabelecido por lei. Do mesmo modo, um
trabalhador com um salário muito baixo, que não chegue à
base mínima de contribuição, calculará o que tem de pagar à
Segurança Social a partir do valor estabelecido por lei, e não
do que realmente recebe.
Na atualidade, as bases mínimas e máximas a partir das
quais são calculadas as contribuições para a Segurança Social,
em função de cada categoria profissional e laboral, são as
apresentadas no seguinte quadro de resumo.
CATEGORIABASE
MÍNIMAEUROS/MÊS
BASEMÁXIMA
EUROS/MÊS
1. Engenheiros, licenciados e alta direção
1.067,47 3.642,00
2. Engenheiros técnicos, peritos e ajudantes titulados
885,37 3.642,00
3. Chefes administrativos e de oficinas
770,23 3.642,00
4. Ajudantes não titulados 764,17 3.642,00
5. Oficiais administrativos 764,17 3.642,00
6. Subalternos 764,17 3.642,00
7. Auxiliares administrativos 764,17 3.642,00
O mercado de trabalho e a sua legislação
53
EUROS/DIA EUROS/DIA
8. Oficiais de 1ª e 2ª 25,47 121,40
9. Oficiais de 3ª e especialistas 25,47 121,40
10. Operários 25,47 121,40
11. Trabalhadores menores de 18 anos
25,47 121,40
A partir destas bases de contribuição, é possível calcular
o montante a pagar à Segurança Social por cada trabalhador.
Como se indicou nos parágrafos anteriores, a contribuição para
a Segurança Social é efetuada conjuntamente pelo trabalhador
e pela empresa, embora a percentagem que o empresário tem
de pagar seja substancialmente superior. Para saber a quanto
ascendem as contribuições para a Segurança Social, basta
multiplicar a base pela taxa de contribuição, que é dada em
forma de percentagem. Estas taxas de contribuição também
são revistas anualmente e publicadas na Lei dos Orçamentos
Gerais do Estado. No seguinte quadro são resumidas as taxas
de contribuição em vigor para os diversos títulos, e indicadas a
parte paga pelo trabalhador e a parte paga pela empresa.
EMPRESA
%EMPREGADO
%TOTAL
%
Contingência comum 23,6 4,7 28,30
Desemprego contrato sem termo
5,50 1,55 7,05
Fazer negócios em Espanha
54
Desemprego contrato a termo
6,70 1,60 8,30
Formação profissional 0,60 0,10 0,70
Fundo de garantia salarial
0,20 ----- 0,20
Pode-se afirmar, sem exagero, que o cálculo das bases e das
taxas de contribuição requer a assessoria de um profissional
que conheça pormenorizadamente a legislação em vigor e
as características da empresa, dado que qualquer erro nas
liquidações pode ser objeto de sanção.
3.9. Responsabilidade do empresário
Como se indicou no apartado anterior, os órgãos de
administração e direção de uma empresa são responsáveis por
qualquer violação da legislação em vigor. A falta de pagamento
de contribuições para a Segurança Social, o incumprimento das
normas de segurança e saúde no trabalho ou a subcontratação
fraudulenta, para dar apenas alguns exemplos, podem
representar uma sanção de tipo civil, administrativo e mesmo
penal, da qual o empresário será pessoalmente responsável.
Por este motivo, e dada a complexidade de muitos dos trâmites
que as empresas têm de cumprir, é conveniente contar sempre
com a devida assessoria especializada.
Entre todas as infrações que podem ser cometidas durante
o exercício de uma atividade, são de especial relevância as
relacionadas com a Lei 31/1995, sobre prevenção de riscos
laborais e normas complementares, já que este diploma
estabelece importantes sanções, que chegam aos 819.780 euros,
O mercado de trabalho e a sua legislação
55
para o seu incumprimento. É de vital importância, portanto,
proporcionar aos trabalhadores a devida formação acerca
da prevenção dos riscos laborais inerentes à atividade, bem
como o material adequado (estabelecido por lei) para reduzir
a incidência de acidentes laborais. Não se pode esquecer
que esta questão, atualmente, é considerada de fundamental
importância para a Inspeção do Trabalho, ao mesmo nível
que a falta de pagamento de contribuições ou a contratação
irregular.
3.10. Situação social dos estrangeiros
Até meados da década de 1990, a percentagem de população
estrangeira em Espanha era muito inferior à da maioria
dos países da União Europeia, dificilmente superando 1%
da população. Mas, a partir de 1998, e muito especialmente
devido à bonança económica vivida pelo país durante o
período de 2002-2008, Espanha começou a experimentar
um crescimento na sua população de origem estrangeira
sem paralelo até à data. Se no ano de 2002 a percentagem de
estrangeiros atingia os 4,73%, em 2010 superou os 12%.
A Lei Orgânica 4/2000, sobre os direitos e liberdades
dos estrangeiros em Espanha, que seria objeto de revisões
nos anos de 2003 e 2009, desenvolve toda a regulamentação
aplicável à entrada e estada em Espanha de estrangeiros não
comunitários. Neste sentido, é necessário frisar as grandes
diferenças existentes entre as condições de permanência em
Espanha aplicáveis aos cidadãos estrangeiros procedentes da
União Europeia e aos extracomunitários, que acabam por
configurar dois regimes completamente diferentes.
Desde 1 de janeiro de 1992, qualquer pessoa
com passaporte da União Europeia, em aplicação da
Fazer negócios em Espanha
56
regulamentação comunitária, pode trabalhar em Espanha
nas mesmas condições que uma pessoa de nacionalidade
espanhola. Pode exercer qualquer trabalho desde o primeiro
dia da sua chegada ao país, sem que seja necessário obter
qualquer tipo de autorização de trabalho ou de residência. Se
a sua estada for inferior a três meses, seja qual for o motivo
da sua permanência, só precisa de ter consigo o passaporte ou
um documento de identificação válido. Esta regulamentação
também é aplicável, desde 1994, aos cidadãos da Islândia, do
Liechtenstein e da Noruega, que apesar de não serem membros
da UE fazem parte do Espaço Económico Europeu (EEE).
Embora os cidadãos comunitários possam prolongar a
sua estada em Espanha durante o tempo que desejarem, se
tencionarem permanecer no país por um período superior a
três meses terão de requerer, de forma pessoal, a sua inscrição
no Registo Central de Estrangeiros. Mediante o cumprimento
deste único requisito obterão o NIE, o Número de Identificação
de Estrangeiro, que lhes permitirá realizar qualquer trâmite
em Espanha, incluindo todos os de índole económica. Assim,
por exemplo, é obrigatório possuir o NIE para abrir uma
conta bancária, criar um negócio ou adquirir um veículo,
bem como para realizar qualquer atividade económica com
transcendência fiscal.
Os cidadãos estrangeiros não comunitários, pelo
contrário, têm muito mais limitadas as condições da sua
estada, e necessitam de possuir uma autorização de residência
para poder permanecer em Espanha de forma legal. Na
atualidade existem três tipos diferentes de autorizações de
residência, mais concretamente:
• Estada de curta duração. Autoriza a permanência no
território espanhol durante um período de tempo não
superior a 90 dias por semestre, a partir da data da
O mercado de trabalho e a sua legislação
57
primeira entrada; sem prejuízo das disposições para as
estadas para efeitos de estudos, mobilidade de alunos,
práticas não laborais ou serviços de voluntariado.
Passados esses 90 dias, se se desejar continuar em
Espanha, será necessário obter uma prorrogação de
estada ou uma autorização de residência.
• Residência temporária. Autoriza o cidadão
estrangeiro não comunitário a permanecer em
Espanha por um período superior a 90 dias e inferior
a 5 anos. De novo, sem prejuízo das disposições em
matéria de estada por estudos, mobilidade de alunos,
práticas não laborais ou serviços de voluntariado.
Dentro das autorizações de residência temporária,
distinguem-se quatro tipos: de tipo não lucrativo; por
reagrupamento familiar; com exceção da autorização
de trabalho; e por circunstâncias excecionais.
• Residência permanente. Se um cidadão
extracomunitário permanecer em Espanha de forma
continuada e legal por um período superior a 5 anos,
adquire o direito a residir em Espanha indefinidamente.
Esta autorização dá-lhe a possibilidade de trabalhar
sem qualquer tipo de limitação, e em igualdade de
condições que os restantes cidadãos espanhóis.
Algumas categorias profissionais, como os investigadores, os desportistas ou o pessoal altamente qualificado ou de direção, podem usufruir de determinadas facilidades ao tramitar as suas autorizações de residência em Espanha. Em qualquer caso, para poder efetuar a entrada no país é necessário possuir o respetivo visto, e para tramitar qualquer alteração da autorização de residência é necessário acudir aos gabinetes de Estrangeiros, dependentes do Ministério da Administração Interna.
Mais além de regular as condições de entrada e estada, a Lei de Estrangeiros também descreve os direitos e as liberdades de que gozam os cidadãos estrangeiros, bem como as ações destinadas a garantir a sua integração social. Mais concretamente, a lei reconhece que os cidadãos estrangeiros gozam do direito de associação e reunião, bem como o livre acesso à educação, à Segurança Social e à saúde, nas mesmas condições que os cidadãos espanhóis. Além disso, os residentes podem votar nas eleições municipais que se celebrarem no município em que estiverem recenseados, podem aceder a um posto de trabalho ao serviço da administração pública e têm direito ao reagrupamento familiar, nas condições legalmente
estabelecidas.
61
Qualquer investidor que deseje empreender uma atividade
empresarial em Espanha tem de realizar um processo de
constituição antes de lhe dar início. Este processo divide-se
em duas grandes etapas. A primeira consiste na escolha da
forma jurídica que vai adotar. Apesar de existirem múltiplas
fórmulas, as principais opções consistem na criação de uma
empresa em Espanha, sob as diversas formas que oferece a
regulamentação, ou na instalação de uma sucursal de uma
empresa matriz estrangeira. Depois de escolhida a forma
jurídica mais adequada para a atividade a realizar, na seguinte
etapa o investidor tem de cumprir uma série de trâmites
e requisitos, que não são especialmente difíceis, mas que
requerem uma assessoria profissional adequada.
Fazer negócios em Espanha
62
Mais além das fórmulas jurídicas mais comuns, existem
outras vias que podem resultar úteis para os investidores
que desejarem operar em Espanha, como a possibilidade
de se associarem com empresários espanhóis, mediante
uma das fórmulas estabelecidas com esta finalidade, mais
concretamente: o Agrupamento de Interesse Económico (AIE),
para o mercado interno espanhol, ou o Agrupamento Europeu
de Interesse Económico (AEIE), de âmbito comunitário;
o Agrupamento Complementar de Empresas (ACE), para
prestar um serviço ou obra determinados; o contrato de contas
em participação, ideal para empreendedores e business angels;
e a joint-venture através de sociedades anónimas e limitadas.
No presente capítulo é apresentada uma exaustiva descrição
das formas diretas que permitem constituir um negócio
em Espanha, bem como uma relação de todos os requisitos
legais, contabilísticos e de revisão a cumprir para completar
o processo. Adicionalmente, e à margem das sociedades de
capitais aqui descritas, é preciso indicar que existem outras
fórmulas de base personalista. No entanto, na prática, estes
tipos de sociedades são utilizados em raras ocasiões, devido
sobretudo aos inconvenientes derivados das suas singulares
características, nomeadamente a responsabilidade pessoal e
ilimitada que assume cada sócio, bem como a impossibilidade
de transmitir as participações sociais a terceiros sem o
consentimento de todos os implicados. Como exemplo de
sociedade de pessoas, pode-se apresentar a Sociedade Regular
Coletiva.
Criação e estabelecimento de um negócio
63
Prin
cipa
is fo
rmas
Form
as d
ireta
s
Cons
titui
ção
de u
ma
socie
dade
de
capi
tal
Socie
dade
anó
nim
aSo
cieda
de d
e re
spon
sabi
lidad
e lim
itada
Socie
dade
com
andi
tária
por
açõ
es
Cons
titui
ção
de u
ma
sucu
rsal
Form
as in
dire
tas
Cont
rato
s de
com
issão
Cont
rato
s de
repr
esen
taçã
o ou
agê
ncia
Cont
rato
s de
fran
chisi
ngCo
ntra
tos
de d
istrib
uiçã
o
Fazer negócios em Espanha
64
4.1. Sociedades de capitais como modelo de constituição
A legislação espanhola introduziu nos últimos anos
importantes reformas no âmbito comercial, com o objetivo
fundamental de adaptar a regulamentação existente à
comunitária. Este processo de reforma culminou com a
entrada em vigor do Real Decreto Legislativo 1/2010, que
refunde num único texto as normas legais sobre as sociedades
de capitais. Até à aprovação deste diploma, as Sociedades
Anónimas e as Sociedades de Responsabilidade Limitada
– as formas mais comuns de sociedades de capitais – eram
reguladas por duas leis diferentes, o que provocava que
existissem certas incoerências e vazios legais, que o novo texto
resolveu.
Até há pouco tempo, a Sociedade Anónima (SA) era a
figura jurídica mais habitual quando era necessário escolher
uma fórmula de base capitalista para financiar projetos de
investimento que tivessem uma envergadura importante. No
entanto, nos últimos anos, os operadores económicos têm
preferido a Sociedade de Responsabilidade Limitada (SL) ao
escolher uma forma jurídica. Tem sido certamente a menor
quantia do capital social necessário para a sua constituição,
combinada com uma maior simplicidade na sua gestão, o que
inverteu a tendência tradicional.
4.1.1. Sociedade Anónima
O capital de uma Sociedade Anónima está dividido em ações.
Uma ação confere ao seu titular a condição de sócio e atribui-
lhe um conjunto de direitos, entre os quais se destacam:
o direito de voto e o direito de informação; o direito de
preempção de ações; o direito de participação na distribuição
Criação e estabelecimento de um negócio
65
dos lucros sociais; e o direito de impugnação dos acordos
sociais. As ações da sociedade podem ser nominativas ou ao
portador, só sendo admitidas restrições à sua livre transmissão
no primeiro caso. As ações também terão de adotar a forma
de nominativas enquanto o seu montante não tiver sido
completamente desembolsado. Adicionalmente, é admitida a
emissão de ações sem direito a voto, que por outro lado terão o
direito de receber o dividendo anual mínimo, fixo ou variável,
que estabelecer o pacto social.
Para constituir uma Sociedade Anónima é necessário um
único acionista e um capital social mínimo de 60.000 euros.
É necessário outorgar uma escritura perante notário, que a
seguir terá de ser inscrita na respetiva Conservatória do Registo
Comercial, para assim obter a personalidade jurídica. O capital
terá de estar totalmente subscrito e terá de ser desembolsada
pelo menos uma quarta parte do valor nominal de cada
uma das ações. O capital pendente terá de ser desembolsado
no prazo máximo estabelecido no pacto social. No entanto,
se o desembolso for efetuado mediante contribuições não
monetárias, este prazo nunca poderá superar os cinco anos.
A responsabilidade dos acionistas está limitada, em
qualquer caso, ao valor nominal das ações subscritas. No
entanto, existe uma exceção a esta norma: nas Sociedades
Anónimas que têm um único sócio, se este não tiver declarado
esta circunstância nos termos legalmente estabelecidos, a lei
atribui-lhe a responsabilidade solidária e ilimitada pelas dívidas
sociais contraídas durante o período de unipessoalidade.
Os órgãos de governo de uma Sociedade Anónima
consistem na assembleia-geral de acionistas e nos
administradores. Os órgãos de governo exercem as seguintes
funções principais:
Fazer negócios em Espanha
66
• A assembleia-geral é o órgão supremo de decisão de
uma Sociedade Anónima. Os administradores podem
convocá-la sempre que considerarem necessário. Estão
além disso obrigados a fazê-lo quando o requerer um
grupo de sócios que possua pelo menos 5% do capital
social. A sua convocatória também é imperativa
dentro dos seis primeiros meses de cada exercício
para aprovar a gestão social e as contas do exercício
anterior, e resolver sobre a aplicação dos resultados.
As resoluções da assembleia-geral são aprovadas por
maioria.
• Os administradores exercem a representação da
sociedade, que pode ser confiada a um ou vários
administradores, que, se atuarem conjuntamente, e o
seu número for superior a dois, formarão un conselho
de administração. Os administradores poderão ser
considerados responsáveis quando não atuarem com
a devida diligência e lealdade.
Além da fórmula clássica, é imprescindível mencionar
neste apartado a chamada Sociedade Anónima Europeia
ou “Societas Europaea”. Trata-se de uma forma social
supranacional adicionada ao catálogo das já reconhecidas nos
respetivos ordenamentos jurídicos dos países comunitários.
O enquadramento jurídico da Sociedade Anónima Europeia
tem como objetivo fundamental ampliar a liberdade de
estabelecimento no território da União Europeia, permitindo
às empresas operar no seu interior sujeitas a umas únicas
normas de direito comunitário, diretamente aplicáveis em
todos os Estados-membros. Para garantir a consecução deste
objetivo, os diversos países têm a obrigação de adotar todas as
disposições necessárias para garantir a aplicação direta dessas
normas.
Criação e estabelecimento de um negócio
67
Em princípio, o modelo de Sociedade Anónima Europeia
está orientado para os grandes investimentos, dado que
o capital mínimo exigido ascende aos 120.000 euros. No
entanto, a sua própria definição não impede que iniciativas
de dimensões médias, ou mesmo modestas, adotem esta
forma jurídica. Porque a verdadeira razão de ser da Sociedade
Anónima Europeia consiste em permitir a empresas de diversos
países comunitários formar um holding, fusionar-se ou criar
uma filial comum, sem tropeçar com as obrigações jurídicas e
práticas derivadas de ordenamentos jurídicos diferentes. Além
disso, implica um importante valor acrescentado: organizar
a participação dos trabalhadores na sociedade europeia,
reconhecendo o seu papel e o seu trabalho dentro da empresa.
4.1.2. Sociedade de Responsabilidade Limitada
Esta forma jurídica é, indubitavelmente, a melhor fórmula
para estabelecer um negócio de tamanho pequeno ou médio.
Por um lado, o capital social mínimo é de apenas 3.000 euros,
tendo de estar integralmente subscrito e desembolsado no
momento da constituição, sendo de realçar que não existe
qualquer limite máximo para a sua quantia. Por outro lado,
só é necessário um sócio para a sua constituição, também não
havendo qualquer limitação relativa ao seu número máximo.
Dentro deste modelo, é necessário referir um tipo especial:
a Sociedade Limitada Nova Empresa, especialmente introduzida
para fomentar a criação de pequenas e médias empresas em
condições mais vantajosas. Este tipo de Sociedade Limitada
permite simplificar e flexibilizar os trâmites, os órgãos sociais
e a contabilidade, e oferece a opção de realizar a constituição
através de ferramentas eletrónicas e telemáticas. Tal como
acontece com uma sociedade limitada tradicional, o capital
Fazer negócios em Espanha
68
social não pode ser inferior aos 3.000 euros. Mas, ao contrário
daquela, tem um limite máximo, que se encontra nos 120.000
euros. Além disso, o número de sócios não pode ser superior a
cinco no momento da constituição, e só as pessoas singulares
podem ser sócios.
4.1.3. Sociedade Comanditária por Ações
Esta forma jurídica é virtualmente inexistente na prática,
mas ao estar reconhecida na regulamentação em vigor é
indispensável apresentar uma breve descrição das suas
características. Em resumo, poder-se-ia dizer que é uma
fórmula que combina aspetos das sociedades de pessoas e das
sociedades de capitais. É, essencialmente, uma forma social
derivada em que coexistem dois tipos de sócios: os sócios
que tem uma responsabilidade pessoal e ilimitada e os sócios
comanditários, cuja responsabilidade está limitada à sua
participação na empresa.
É precisamente esta estrutura híbrida o que a converte
numa rara avis dentro das formas jurídicas, e o motivo
pelo qual a maioria dos investidores decide optar por uma
Sociedade Anónima ou uma de Responsabilidade Limitada.
4.2. Constituição de uma sucursal
Os investidores estrangeiros que quiserem exercer a sua
atividade económica de forma direta não estão obrigados
a constituir uma sociedade com sede em Espanha. A
regulamentação em vigor proporciona às entidades não
residentes a possibilidade de realizar todas as suas transações
através de uma sucursal, que estará submetida à legislação
do país de origem no que se refere às relações com terceiros.
Criação e estabelecimento de um negócio
69
A sucursal depende sempre da empresa central sedeada no
estrangeiro, e carece de personalidade jurídica própria.
Apesar de ser mais simples, a constituição da sucursal exige
uma escritura outorgada perante notário e a sua posterior
inscrição na respetiva Conservatória do Registo Comercial.
Na referida escritura terá de ser especificado qual é o objeto da
sua instalação em Espanha, que depois determinará os limites
das suas operações. Como é lógico, a sucursal tem de ter um
endereço permanente e um representante fiscal residente em
Espanha. Entre os restantes requisitos exigidos, destaca-se
a apresentação de uma memória anual à Direção-Geral de
Comércio e Investimentos especificando o desenvolvimento
do investimento. Em termos gerais, poder-se-ia dizer que o
conjunto de trâmites, formalidades, requisitos e exigências
contabilísticas são muito semelhantes aos necessários para
constituir uma filial.
A carga fiscal que suporta uma sucursal é a mesma que
a de uma empresa espanhola. Esta igualdade de condições
em matéria fiscal também é estabelecida a nível de direitos
e obrigações, excetuando pequenas diferenças decorrentes
da ausência de personalidade jurídica própria e da sua
dependência de uma empresa estabelecida no estrangeiro.
Assim, por exemplo, a casa matriz pode faturar
determinadas despesas incorridas em relação com a
sucursal, nomeadamente os custos de direção e os gerais de
administração; um montante que poderá ser deduzido das
receitas da sucursal. Por outro lado, é necessário tomar em
consideração a existência de um imposto sobre as sociedades
não residentes com estabelecimento permanente (o Branch
Profit Tax), que onera os rendimentos obtidos pela sucursal
que forem transferidos para o estrangeiro com uma taxa
adicional de 19%.
Fazer negócios em Espanha
70
Em cumprimento do princípio de não discriminação
estabelecido no modelo de Convenção da OCDE, este
imposto não é aplicável aos países com os quais Espanha tiver
celebrado Convenções para evitar a Dupla Tributação sobre os
Rendimentos e o Património, com condição de reciprocidade,
exceto se a convenção estabelecer expressamente a
possibilidade da sua introdução em Espanha, tal como
acontece com a correspondente aos Estados Unidos. Também
não resulta aplicável quando se tratar de entidades residentes
noutro Estado-membro da UE, exceto se se tratar de um país
ou território considerado um paraíso fiscal.
4.3. Trâmites para a constituição de uma sociedade
A seguir é apresentada uma relação completa dos trâmites
a realizar por qualquer investidor estrangeiro que pretenda
criar e pôr a funcionar uma sociedade em Espanha.
• Certificado emitido pela Conservatória Central do
Registo Comercial, demonstrando que não existe
outra sociedade com uma denominação idêntica à
que se pretende utilizar. Estes certificados possuem
um prazo de validade de dois meses a contar da sua
data de emissão.
• Sempre que a legislação em vigor a exigir (consulte
o capítulo 2), a apresentação da declaração prévia
do investimento à Direção-Geral de Comércio e
Investimentos.
• Outorga de uma escritura de declarações dos sócios
constituintes da nova sociedade, perante notário,
relativa ao seu beneficiário efetivo.
• Outorga de uma escritura de constituição.
Criação e estabelecimento de um negócio
71
• No caso dos investimentos estrangeiros não sujeitos
a declaração prévia, é necessário realizar a citada
declaração perante a Direção-Geral de Comércio e
Investimentos no prazo de um mês a contar da data
de outorga da escritura de constituição.
• Inscrição no respetivo censo da autoridade tributária,
para obter o Número de Identificação de Pessoa
Coletiva. No caso de uma sociedade com sócios ou
representantes não residentes, é necessário que as
pessoas singulares não residentes obtenham um
Número de Identificação de Estrangeiros (NIE) e que
as coletivas não residentes obtenham o equivalente
Número de Identificação de Pessoa Coletiva.
• Nos casos estabelecidos na legislação, apresentação da
declaração de isenção do imposto sobre transmissões
patrimoniais e atos jurídicos documentados, na sua
modalidade de “operação societária”.
• Matrícula na Conservatória do Registo Comercial
da província em que se encontrar a sede social da
entidade.
• Pagamento dos respetivos impostos municipais,
nomeadamente do Imposto sobre as Atividades
Económicas.
• Cumprimento de todas as formalidades laborais, da
contratação às inscrições na Segurança Social.
Nenhuma destas atuações é especialmente complexa,
embora o processo de constituição de uma sociedade requeira
normalmente uma assessoria profissional adequada.
Fazer negócios em Espanha
72
4.4. Livros societários
As sociedades terão de possuir, devidamente organizados, os
seguintes livros:
• O livro de atas, no qual são lavradas as atas das
assembleias-gerais e do conselho de administração, se
a sociedade possuir este órgão.
• O livro de registo de sócios, obrigatório para as
Sociedades de Responsabilidade Limitada. Este livro
terá de incluir informação pormenorizada sobre a
titularidade originária e as sucessivas transmissões das
participações sociais, bem como sobre a constituição
de direitos reais e ónus sobre estas. As Sociedades
Limitadas Nova Empresa não estão obrigadas a
possuir este livro.
• O livro de registo de ações nominativas, obrigatório
para as Sociedades Anónimas, que seria o equivalente
ao livro de registo de sócios das sociedades limitadas.
Neste livro são inscritos os proprietários de ações
nominativas e as modificações que eventualmente se
produzirem na sua titularidade.
• O livro de contratos com o sócio único, no qual serão
transcritos os contratos celebrados entre o sócio único
e a sociedade unipessoal. Os dados apresentados serão
depois incluídos na memória das contas anuais.
Os livros societários terão de ser legalizados na
correspondente Conservatória do Registo Comercial.
Criação e estabelecimento de um negócio
73
4.5. Registo Comercial
Todas as sociedades têm de estar inscritas num registo público,
o Registo Comercial. A inscrição é opcional para o empresário
individual, exceto para os armadores navais.
O Registo Comercial também é responsável pela
legalização dos livros das sociedades e empresários individuais,
pelo depósito e publicidade de documentos contabilísticos,
e pela centralização e publicação da informação relativa às
resoluções relacionadas com a insolvência.
O Registo Comercial é público, podendo emitir diversos
documentos relativos à informação de que dispõe:
• Certidões emitida pelos Conservadores.
• Notas informativas.
• Cópias das entradas realizadas ou dos documentos
depositados.
A emissão de uma certidão será o único modo de
demonstrar fidedignamente o conteúdo dos documentos
inscritos no Registo Comercial. As sociedades e os empresários
individuais estão obrigados a indicar os dados da sua matrícula
no Registo Comercial nas suas faturas, cartas, etc.
4.6. Requisitos contabilísticos de qualquer sociedade
O processo de convergência entre a regulamentação espanhola
e a dos países comunitários também representou modificações
nos procedimentos de contabilidade que as empresas têm de
seguir. Neste sentido, a legislação espanhola sobre a matéria
experimentou um longo processo de reforma, que serviu para
incorporar as Normas Internacionais de Contabilidade (NIC)
e as Normas Internacionais de Informação Financeira (NIIF).
Desde o dia 1 de janeiro de 2005, é obrigatório aplicar estas
Fazer negócios em Espanha
74
normas na elaboração das contas anuais de determinados
grupos empresariais; mais concretamente, dos que tiverem
qualquer sociedade que tenha emitido valores admitidos à
cotação em qualquer país da União Europeia. As restantes
sociedades também podem aplicar estas normas, mas de
forma voluntária.
O processo de convergência entre regulamentações
culminou em 2007 com a aprovação de um novo Plano
Geral Contabilístico, que desenvolve os aspetos recolhidos na
legislação comercial, e que está baseado nos novos princípios
avaliativos das normas internacionais. Basicamente, a
regulamentação espanhola sobre contabilidade segue o
modelo da Diretiva 2013/34, de 26 de junho, que moderniza
o direito europeu sobre a matéria e o alinha com o modelo
global sobre princípios de contabilidade (as citadas NIC). As
linhas mestras destas Normas Internacionais de Contabilidade
são marcadas pelo IASB, o International Accounting Standard
Board, com sede em Londres.
Na atualidade, a legislação espanhola obriga todos os
empresários, tanto os individuais como os titulares de uma
sociedade, a possuir uma contabilidade adequada que permita
o seguimento cronológico de todas as suas operações, bem
como a elaborar periodicamente inventários e balanços. Esta
obrigação implica que todas as empresas têm de possuir
necessariamente um livro de inventários e contas anuais, além
de um livro diário. Estes livros de contabilidade têm de ser
legalizados de forma telemática no Registo Comercial, depois
da sua devida apresentação em suporte eletrónico, e no prazo
máximo de quatro meses a contar da data de encerramento
do exercício. Estes livros de contabilidade, juntamente com os
documentos que servem para a sua verificação, terão de ser
Criação e estabelecimento de um negócio
75
conservados durante um período de seis anos a contar da data
da última anotação registada.
Adicionalmente, os administradores da sociedade estão
obrigados a formular, no prazo máximo de três meses a contar
da data de encerramento do exercício social, as contas anuais,
o relatório de gestão e a proposta de aplicação dos resultados.
As contas anuais incluem o balanço, a conta de ganhos e
perdas, a demonstração das alterações no património líquido
do exercício, a demonstração dos fluxos de caixa e a memória.
As contas anuais, juntamente com o relatório de gestão,
têm de ser depositadas na respetiva Conservatória do Registo
Comercial no prazo de um mês a contar da data da sua
aprovação pela Assembleia-Geral.
Toda a contabilidade da empresa, e especialmente o registo
e a avaliação dos elementos das contas anuais, será realizada
aplicando imperativamente os princípios contabilísticos de
especialização dos exercícios, uniformidade, prudência, não
compensação, importância relativa e continuidade.
Por último, deve-se indicar que o Plano Geral de
Contabilidade espanhol é de aplicação obrigatória para todas
as empresas, seja qual for a sua forma jurídica, tanto individual
como societária.
4.7. Requisitos de revisão legal de contas
A revisão de contas consiste na revisão e verificação das contas
anuais, bem como de outras demonstrações financeiras ou
documentos contabilísticos, elaborados de acordo com o
enquadramento regulamentar de informação financeira que
lhes for aplicável, com o objetivo de emitir um relatório sobre
a fiabilidade dos referidos documentos que possa ter efeitos
perante terceiros.
Fazer negócios em Espanha
76
A revisão de contas tem de ser, necessariamente, realizada
por um revisor oficial de contas ou uma sociedade de revisores
oficial de contas, mediante a emissão do correspondente
relatório e cumprindo os requisitos e formalidades
estabelecidos na Lei de Auditoria.
Os revisores oficiais de contas e as sociedades de roc’s
serão contratados por um período de tempo determinado, que
inicialmente não poderá ser inferior a três anos nem superior
a nove a contar da data de início do primeiro exercício objeto
de revisão, podendo ser contratados por sucessivos períodos
máximos de três anos após a finalização do período inicial.
Os roc’s são responsáveis pelos danos e prejuízos derivados
do incumprimento das suas obrigações perante as empresas
ou entidades objeto de revisão, bem como perante terceiros.
O roc está obrigado a manter a confidencialidade de
toda a informação que obter no exercício da sua atividade,
não podendo utilizá-la para quaisquer fins diferentes dos da
própria revisão de contas.
Sem prejuízo das disposições do anterior parágrafo,
poderão aceder à documentação referente a cada revisão de
contas, ficando sujeitos à obrigação de confidencialidade da
informação a que acedem:
a) O Instituto de Contabilidade e Revisão de Contas,
(ICAC), tanto no exercício da função supervisora
como para efeitos de cooperação internacional.
b) Quem por designado por uma autoridade judicial.
c) As pessoas que estiverem autorizadas por lei.
d) O Banco de Espanha, a Comissão Nacional do
Mercado de Valores, a Direção-Geral de Seguros
e Fundos de Pensões e os órgãos autonómicos
responsáveis pelo controlo de entidades seguradoras,
Criação e estabelecimento de um negócio
77
bem como os órgãos responsáveis pelo controlo da
gestão económica e financeira do setor público.
e) As corporações representativas dos revisores de
contas, para os exclusivos efeitos de verificar as
práticas e procedimentos internos de atuação dos seus
membros.
f) Os revisores de contas e sociedades de revisão, além de
no caso de revisão de contas consolidadas, em caso de
substituição do revisor de contas ou da sociedade de
revisão da entidade.
g) As autoridades competentes dos Estados-membros
da União Europeia e de terceiros países dentro do
enquadramento legalmente estabelecido.
O controlo e disciplina do exercício da atividade de
revisão de contas corresponde ao Instituto de Contabilidade e
Revisão de Contas, do qual depende também o Registo Oficial
de Revisores Oficiais de Contas.
Terão de se submeter a revisão legal de contas, em qualquer
caso, qualquer que seja a sua natureza jurídica, as empresas
ou entidades que se encontrarem em qualquer das seguintes
circunstâncias:
a) Que emitam valores admitidos a negociação em
mercados secundários oficiais de valores ou sistemas
multilaterais de negociação.
b) Que emitam obrigações em oferta pública.
c) Que se dediquem de forma habitual à intermediação
financeira.
d) Que tenham como objeto social qualquer atividade
relacionada com o seguro privado, bem como os
fundos de pensões e as suas entidades gestoras.
e) Que recebam subsídios ou ajudas, ou realizem obras,
prestem serviços ou forneçam bens ao Estado e/ou
Fazer negócios em Espanha
78
a quaisquer organismos públicos, dentro dos limites que regulamentarmente estabelecer o Governo.
Adicionalmente, as contas anuais e o relatório de gestão das empresas terão de ser objeto de revisão. Ficam excetuadas desta obrigação as sociedades em que durante 2 anos consecutivos à data de encerramento do exercício se verifiquem pelo menos duas das seguintes circunstâncias:
1. Que o total das rubricas do ativo não supere 2.850.000,00 euros.
2. Que o montante líquido do volume anual de negócios seja inferior a 5.700.000,00 euros.
3. Que o número médio de trabalhadores empregados durante o exercício não seja superior a 50.
Os roc’s dispõem do prazo mínimo de um mês, a contar do momento em que lhes forem entregues as contas assinadas pelos administradores da sociedade, para a emissão do seu relatório.
O papel destacado dos roc’s em acontecimentos financeiros ou legais, como fusões, cisões de grupos, emissões de ações, aumentos de capital por compensação de créditos, reduções de capital para compensação de perdas, avaliações de ações, etc., pode ser claramente observado na regulamentação da revisão de contas.
A Lei 22/2015, de 20 de julho, de auditoria, seguindo as disposições do Regulamento UE nº 537/2014, impõe uns critérios mais restritivos às revisões de interesse público, nomeadamente a rotação obrigatória de roc’s passados dez anos da contratação, com a opção de prorrogar o referido período até um máximo de quatro anos se forem contratados sob a modalidade de revisão conjunta.
Também está limitada a prestação de serviços diferentes dos de revisão de contas, cujo montante não poderá exceder os 70% dos honorários pagos pela realização da revisão de contas.
80
Estrutura geral dos impostos que podem onerar os investimentos estrangeiros em Espanha.
Impostosem Espanha
Impostos sobre o Rendimento de Residentes
Imposto sobre o Rendimento das Pessoas ColetivasImposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares
Impostos diretos
Impostos sobre o Rendimento de Não Residentes
Impostos sobre Bens Patrimoniais (afetam apenas as pessoas singulares)
Imposto sobre o Património LíquidoImposto sobre Sucessões e Doações
Impostos locais
Impostos indiretos
Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA)IImposto sobre Transmissões Patrimoniais e Atos Jurídicos
DocumentadosImposto sobre o Comércio Externo – Direitos aduaneiros
à importaçãoImpostos especiais sobre certos consumos específicos
(hidrocarbonetos, álcool, tabaco, etc.)
81
Impostosem Espanha
Impostos sobre o Rendimento de Residentes
Imposto sobre o Rendimento das Pessoas ColetivasImposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares
Impostos diretos
Impostos sobre o Rendimento de Não Residentes
Impostos sobre Bens Patrimoniais (afetam apenas as pessoas singulares)
Imposto sobre o Património LíquidoImposto sobre Sucessões e Doações
Impostos locais
Impostos indiretos
Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA)IImposto sobre Transmissões Patrimoniais e Atos Jurídicos
DocumentadosImposto sobre o Comércio Externo – Direitos aduaneiros
à importaçãoImpostos especiais sobre certos consumos específicos
(hidrocarbonetos, álcool, tabaco, etc.)
83
Entre as obrigações associadas ao exercício de uma atividade
económica, poucas preocupam mais os investidores que
as questões relacionadas com a fiscalidade. Quer pela
complexidade e multiplicidade dos impostos existentes,
quer pelo risco de cometer erros durante a sua tramitação,
é fundamental conhecer o funcionamento do sistema fiscal
e contar com uma assessoria adequada. Esta recomendação
torna-se crucial no caso dos investidores estrangeiros, que
não estão familiarizados com as particularidades do sistema
espanhol.
A autoridade superior em matéria fiscal é a denominada
Agencia Estatal de Administración Tributaria (AEAT),
dependente em última instância do Ministério das Finanças.
O trabalho da AEAT consiste na cobrança e gestão dos
Fazer negócios em Espanha
84
impostos que são competência do Estado, o que inclui o dever
de proporcionar aos cidadãos a informação e a assessoria
necessárias para cumprir as suas obrigações fiscais. Todas as
atuações da autoridade tributária derivam da legislação em
vigor sobre matéria fiscal, um corpo regulamentar construído
a partir de diversas fontes, da Constituição Espanhola aos
regulamentos que desenvolvem as leis tributárias.
No final da presente obra foi incluída uma secção
especificamente dedicada aos impostos de âmbito municipal,
dado que estes acabam por afetar um grande número de
empresas. No entanto, resulta oportuno mencionar aqui
que as comunidades autónomas desenvolveram tributos que
oneram determinados setores, como as indústrias que emitem
gases para a atmosfera ou as grandes superfícies comerciais,
além de deter a competência para determinar a base liquidável
do imposto sobre sucessões e doações.
Este primeiro apartado relativo aos tributos em vigor em
Espanha está dedicado ao Imposto sobre o Rendimento das
Pessoas Coletivas (o Impuesto de Sociedades), o tributo mais
importante que têm de enfrentar as empresas, e que é regulado
pela Lei 27/2014, de 27 de novembro. Trata-se de um imposto
direto e proporcional, que tem de ser liquidado em cada
exercício económico. É importante recordar que o País Basco
e Navarra, em aplicação do seu modelo de financiamento,
conhecido como o concerto económico, gerem e cobram
uma ampla maioria de impostos a partir da sua própria
regulamentação, à margem da autoridade tributária estatal.
Esta singularidade implica, por exemplo, que essas duas
comunidades autónomas tenham os seus próprios Impostos
sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas.
Os tributos
85
5.1. Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas (IRC)
5.1.1. Aspetos básicos
O Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas é
aplicado em todo o território espanhol, sem prejuízo dos
regimes especiais por motivos de território e dos tratados e
convenções internacionais. O facto tributável é a obtenção
de rendimentos, independentemente da sua origem, e os
contribuintes são todas as entidades residentes em Espanha.
São consideradas entidades residentes em Espanha as que
cumprirem qualquer dos seguintes requisitos:
a) Que tiverem sido constituídas conforme a legislação
espanhola.
b) Que tiverem a sua sede social situada em território
espanhol.
c) Que tiverem a sede da direção efetiva em território
espanhol.
É importante indicar que a autoridade tributária espanhola
tem uma atitude bastante inclusiva em relação ao que
considera entidades residentes. Assim, as sociedades radicadas
em paraísos fiscais ou de nula tributação também serão
consideradas entidades residentes quando os seus principais
ativos consistirem em bens situados, ou direitos cumpridos e
exercidos, em território espanhol. Do mesmo modo, também
serão consideradas entidades residentes quando a sua atividade
principal for exercida em território espanhol. Nesta mesma
linha, as entidades residentes estão oneradas pela totalidade
dos rendimentos que obtiverem, independentemente do lugar
onde estes tiverem sido produzidos e do lugar de residência
do pagador.
Fazer negócios em Espanha
86
Para evitar a evasão ao pagamento do Imposto sobre o
Rendimento das Pessoas Coletivas em Espanha mediante o
uso instrumental de sociedades não residentes submetidas a
baixa tributação no estrangeiro, as entidades residentes têm
de incluir na sua base tributável determinados rendimentos
positivos obtidos por uma entidade não residente em que
tenham uma participação igual ou superior a 50%, sempre que
se verificarem as circunstâncias expressamente estabelecidas na
legislação. Trata-se de onerar, através da “transparência fiscal
internacional”, os investimentos no exterior que respondam a
objetivos fiscais e não empresariais.
Para calcular o imposto, é necessário estabelecer como
base tributável o montante dos rendimentos obtidos
durante o período de tributação, que coincide com o
exercício económico da sociedade. Este montante pode ser
reduzido pela compensação de bases tributáveis negativas de
exercícios anteriores. Do mesmo modo, e quando for o caso,
a base tributável estará formada pelo resultado contabilístico
corrigido pela aplicação das normas fiscais.
No final, o imposto é calculado aplicando à base tributável
as seguintes taxas:
Exercício Geral PME*
2015 28% 25%-28%
2016 25% 25%
(*) Para este efeito, no exercício de 2015 foram consideradas pequenas e médias
empresas as empresas de reduzida dimensão que tiveram, pelo menos, um empregado
com contrato laboral a tempo inteiro, e cujo volume de faturação líquida anual foi
inferior aos 10 milhões de euros. Estas empresas poderão aplicar uma taxa de 25% à
parte da base tributável compreendida entre os 0 e os 300.000 euros, e ao resto aplicarão
a taxa geral de 28%. É de realçar que as empresas de dimensão reduzida têm outras
vantagens fiscais.
Os tributos
87
Se a base tributável resultar negativa, o seu montante
poderá ser compensado sem qualquer limite temporário
a partir de 1 de janeiro de 2016. No entanto, está previsto
um limite quantitativo de 70% da base tributável anterior à
compensação, que transitoriamente para o exercício de 2016
é de 60%.
Em qualquer caso em cada período só poderá ser
compensado um montante máximo de 1 milhão de euros.
Para entidades recém-criadas, o limite citado não será
aplicável nos 3 primeiros períodos de tributação em que for
gerada uma base tributável positiva.
A regulamentação do Imposto sobre o Rendimento das
Pessoas Coletivas contém cautelas dirigidas a impedir o
aproveitamento de bases tributáveis negativas no caso de
aquisições de sociedades inativas ou quase inativas.
5.1.2. Atribuição temporária de receitas e despesas
As receitas e despesas serão atribuídas ao período fiscal
em que forem geradas, de acordo com a regulamentação
contabilística, independentemente da sua data de pagamento
ou de cobrança, respeitando a devida correlação entre si.
A eficácia fiscal dos critérios de atribuição temporária de
receitas e despesas, diferentes dos estabelecidos no parágrafo
anterior, utilizados excecionalmente pelo contribuinte
para conseguir uma imagem verdadeira e apropriada do
património, da situação financeira e dos resultados, de acordo
com as disposições da regulamentação comercial, estará
sujeita à aprovação da autoridade tributária.
Fazer negócios em Espanha
88
5.1.3. Avaliação de receitas e despesas
As receitas e despesas são registadas pelos seus valores
contabilísticos, sempre que a contabilidade refletir a
verdadeira situação patrimonial da sociedade. No entanto,
no caso de operações entre pessoas ou entidades vinculadas,
existem determinadas condições: estas operações terão de ser
avaliadas pelo seu valor normal de mercado. A administração
pública está facultada para comprovar que as operações
entre pessoas ou entidades vinculadas foram avaliadas pelo
seu valor normal de mercado, e para efetuar as correções
avaliativas que forem necessárias, tomando em consideração
o conjunto de pessoas ou entidades que tiverem realizado a
operação, para evitar a tributação de rendimentos superior
aos efetivamente derivados da operação para o conjunto de
pessoas ou entidades que a tiverem realizado. A avaliação da
operação terá de ter um suporte documental adequado.
Adicionalmente, a dedução de despesas a título de
serviços entre entidades vinculadas está condicionada a que
esses serviços produzam uma vantagem ou utilidade para o
destinatário. Quanto à dedução de despesas derivadas de um
acordo de distribuição de custos celebrado entre entidades
vinculadas, será necessário que os participantes obtenham a
propriedade ou outro direito semelhante sobre o objeto do
acordo, devendo a distribuição em questão ser realizada em
função das utilidades ou vantagens previstas para cada um
deles.
É possível apresentar à autoridade tributária uma
proposta de avaliação das operações efetuadas entre entidades
vinculadas antes da sua realização.
A dedução de despesas financeiras está limitada em
determinados casos.
Os tributos
89
O valor líquido contabilístico de um elemento do ativo
estará formado, com sinal positivo, pelo valor de aquisição,
e com sinal negativo pelas amortizações acumuladas e pelas
possíveis imparidades do seu valor.
5.1.4. Cálculo das amortizações
A amortização representa a perda de valor ou depreciação
de caráter irreversível que experimenta o ativo não corrente
ou ativo fixo, constituído pelas imobilizações corpóreas, as
imobilizações incorpóreas e os investimentos imobiliários.
Para que a amortização possa ser deduzida, tem de cumprir
dois requisitos básicos: ser efetiva e ter sido contabilizada.
Sobre o primeiro ponto, a efetividade da amortização requererá
sempre a sua demonstração pelo contribuinte. Para superar
esta dificuldade, será considerada provada a depreciação
quando a dotação observar qualquer dos métodos descritos
no presente apartado.
Em primeiro lugar, estaria o método de amortização
linear segundo a tabela oficial. No texto da lei que regula o
imposto, é incluída uma tabela de amortização que descreve
um coeficiente e um período de tempo máximos. Em qualquer
caso, o contribuinte pode operar dentro destes limites. Existe
também uma quota linear mínima, que é a necessária para
cobrir o valor do elemento objeto da amortização no período
máximo que estabelecem as tabelas. Consideramos que a
seguinte tabela explica melhor este conceito:
Fazer negócios em Espanha
90
COEF
ICIE
NTE
MÁX
IMO
COEF
ICIE
NTE
MÍN
IMO
PERÍ
ODO
MÁX
IMO
Edifícios industriaisEdifícios comerciaisMóveis de escritório
32
10
1,471,005,00
6810020
Além disso, os coeficientes experimentam um aumento
nos casos em que os elementos produtivos forem utilizados
em mais de um turno de trabalho, ou quando tiverem sido
adquiridos já usados.
O segundo método aceite é o da amortização degressiva.
No entanto, este sistema de amortização não pode ser
aplicado a todos os bens, encontrando-se expressamente
excluídos os edifícios, o mobiliário e os utensílios. Há duas
formas de realizar os cálculos a partir deste método: com uma
percentagem constante sobre o valor pendente de amortização,
ou com o método de Colle ou dos números dígitos.
Em terceiro lugar, existe uma série de bens que podem ser
abrangidos pela liberdade de amortização. Entre estes bens
que podem ser amortizados livremente, encontram-se:
• As despesas em investigação e desenvolvimento (I+D)
ativadas como imobilizações incorpóreas.
• Os elementos das imobilizações corpóreas e
incorpóreas (excluindo os edifícios) consignados às
atividades de I+D. Os edifícios serão amortizados,
de forma linear, durante um período de dez anos, na
Os tributos
91
parte que se encontrar consignada às atividades de
I+D.
• Os elementos das imobilizações corpóreas novos, cujo
valor unitário não exceder os 300 euros, com um limite
máximo de 25.000 euros por período de tributação.
5.1.5. Imparidade de valor de elementos patrimoniais e provisões
Como se indicava no primeiro apartado, dedicado à
regulamentação básica do imposto, a base tributável é
calculada a partir do resultado contabilístico. No entanto, no
que se refere às despesas originadas por perdas causadas por
Imparidade e provisões, a regulamentação do Imposto sobre
o Rendimento das Pessoas Coletivas não assume plenamente
os critérios contabilísticos. Esta anomalia é causada por
três motivos básicos: primeiro, porque estabelece limites
quantitativos ao seu valor dedutível; segundo, porque também
estabelece determinados requisitos qualitativos que têm de
ser cumpridos para que possam ser dedutíveis; e, terceiro,
porque recusa a dedução da Imparidade ou, eventualmente,
da provisão registadas como despesas.
Uma primeira limitação aparece quando existe uma
Imparidade dos créditos por insolvência dos devedores. Só
serão consideradas dedutíveis as perdas associadas a este
conceito se, no momento em que o imposto for exigível, se
verificar qualquer das seguintes circunstâncias:
1. Que tenha decorrido um prazo de seis meses a contar
do vencimento da obrigação.
2. Que o devedor esteja em situação declarada de
insolvência.
Fazer negócios em Espanha
92
3. Que o devedor esteja processado por um delito de
esvaziamento de empresas.
4. Que as obrigações tenham sido reclamadas
judicialmente, ou que sejam objeto de um litígio
judicial ou de um processo arbitral de cuja resolução
dependa a sua cobrança.
Exceto em determinadas circunstâncias, também não
serão consideradas dedutíveis as perdas ocasionadas por
Imparidade dos créditos devidos por entidades públicas ou
vinculadas, nem as correspondentes a estimativas globais do
risco.
A lista das rubricas que também não são fiscalmente
dedutíveis não termina aqui. Encontram-se igualmente nessa
condição:
a) As perdas por Imparidade das imobilizações corpóreas,
dos investimentos imobiliários e das imobilizações
incorpóreas, incluindo o goodwill, sem prejuízo
da amortização sistemática que lhes corresponder
conforme a regulamentação fiscal.
b) As perdas por Imparidade dos valores representativos
da participação no capital ou nos fundos próprios de
entidades.
c) As perdas por Imparidade dos valores representativos
de dívida.
Quanto a provisões, a regulamentação do Imposto
sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas estabelece a não
dedutibilidade de determinadas despesas por provisões, entre
as quais se destacam:
a) Obrigações implícitas ou tácitas
b) Retribuições a longo prazo ao pessoal
c) Contratos onerosos
Os tributos
93
d) Reestruturações
e) Devoluções de vendas
f) Retribuições ao pessoal com pagamentos baseados em
instrumentos de património
5.1.6. Reduções na base tributável: patent box e reserva de capitalização
Cessão de ativos intangíveisEste incentivo fiscal, também conhecido como «patent box»,
tem como finalidade estimular a realização de atividades de
criação de conhecimentos técnicos com aplicação industrial no
enquadramento de uma atividade inovadora, conferindo um
tratamento fiscal especial à exploração desses conhecimentos
mediante a cessão da sua utilização a terceiros, sempre que
forem cumpridos os requisitos legalmente estabelecidos.
O referido tratamento especial é articulado mediante a
integração na base tributável de apenas 40% dos rendimentos
procedentes da cessão dos direitos de utilização ou exploração
de determinados ativos intangíveis: patentes, desenhos,
planos, procedimentos secretos, experiências industriais, etc.
O mesmo tratamento fiscal especial é aplicado à transmissão
dos referidos ativos.
Reserva de capitalizaçãoPara fomentar a capitalização empresarial, os contribuintes
podem reduzir a base fiscal no montante equivalente a 10%
do aumento dos seus fundos próprios, o que se traduz, tal
como estabelecem as normas desta redução da base tributável,
na exigência de ter obtido lucros que não sejam objeto
de distribuição, e de manter o montante de tais lucros não
distribuídos nos fundos próprios da entidade durante um
período de cinco anos.
Fazer negócios em Espanha
94
5.1.7. Incentivos fiscais para as empresas de dimensão reduzida
Existe um regime fiscal especial, com incentivos específicos,
para as empresas de dimensão reduzida (PME), considerando-
se como tais aquelas cujo montante líquido do volume de
negócios for inferior a 10 milhões de euros anuais, no período
fiscal imediatamente anterior.
Os incentivos, além da já comentada taxa reduzida do
imposto no exercício de 2015, de 25% para os primeiros
300.000 euros de base tributável e de 28% para a restante base
tributável, são:
1. Liberdade de amortização dos elementos novos
das imobilizações corpóreas e dos investimentos
imobiliários sempre que for realizado um aumento
de pessoal. A quantia do investimento que poderá
beneficiar do regime de liberdade de amortização será
a que resultar de multiplicar o valor de 120.000 euros
pelo referido aumento.
2. Amortização acelerada, multiplicando por 2 o
coeficiente linear máximo previsto na tabela oficial de
amortização.
3. Perda por Imparidade de créditos por possíveis
insolvências até ao limite de 1% do saldo de devedores
aquando do encerramento do exercício.
4. Redução de até 10% da base tributável positiva
mediante a dotação de uma reserva indisponível
denominada reserva de nivelamento. Trata-se
de uma diferença temporária dado que a redução
reverterá à medida que a entidade obtiver bases
tributáveis negativas, com um limite temporário de 5
anos. Se não forem geradas bases tributáveis negativas
nesse período, produz-se um diferimento durante
Os tributos
95
5 anos da tributação da reserva constituída. Pode-se
dizer que estamos perante uma espécie de sistema
de compensação “para trás” de bases tributáveis
negativas.
5.1.8. Regime das entidades de detenção de valores estrangeiros (holdings)
As entidades cujo objeto social inclua a atividade de gestão e
administração de valores representativos dos fundos próprios
de entidades não residentes em território espanhol, mediante
a correspondente organização de meios materiais e pessoais,
podem acolher-se ao regime das entidades de detenção de
valores estrangeiros.
Os valores representativos do capital do holding têm de ser
nominativos.
A principal vantagem deste regime especial consiste em que
o lucro distribuído pelo holding a um não residente, mesmo
que seja de um país não membro da UE, não se entende obtido
em território espanhol, sempre que for distribuído a partir
de rendimentos isentos, mais concretamente, dividendos
de entidades não residentes e rendimentos derivados da
transmissão da participação numa entidade não residente,
que cumpram os seguintes requisitos:
• Que a percentagem de participação, direta ou indireta,
seja igual ou superior aos 5%, e que a participação
tenha sido detida de forma ininterrupta durante o
prazo mínimo de um ano.
Considera-se cumprido o requisito da participação
mínima quando o valor de aquisição da participação
for superior a 20 milhões de euros.
Fazer negócios em Espanha
96
• Que a entidade não residente participada tenha estado
onerada por um imposto estrangeiro de natureza
idêntica ou análoga ao Imposto sobre o Rendimento
das Pessoas Coletivas a uma taxa nominal mínima de
10%. Considera-se cumprido este requisito quando
a entidade participada for residente num país com o
qual Espanha tenha celebrado uma convenção para
evitar a dupla tributação internacional, que lhe seja
aplicável e que contenha uma cláusula de intercâmbio
de informação.
Por último, são estabelecidos requisitos adicionais para
a isenção dos rendimentos procedentes da transmissão de
participações em entidades não residentes que tiverem a
consideração de “entidades patrimoniais” ou de entidades não
residentes recetoras de rendimentos passivos (“transparência
fiscal internacional”).
Para usufruir deste regime não é necessário qualquer
requerimento prévio, só é preciso optar por ele e comunicar
essa opção à autoridade tributária.
5.1.9. Medidas para evitar a dupla tributação:
Estas medidas procuram evitar tanto a denominada dupla
tributação jurídica como a económica. A dupla tributação
jurídica ocorre quando uns rendimentos de um único
contribuinte são onerados em dois Estados diferentes. A dupla
tributação económica produz-se quando uns rendimentos são
onerados em dois contribuintes diferentes por dois Estados
diferentes (dupla tributação internacional) ou pelo mesmo
Estado (dupla tributação interna).
Existem dois métodos para evitar a dupla tributação: o
método da isenção e o método da imputação.
Os tributos
97
a. Método da isenção 1. Dividendos e mais-valias de entidades
residentes e não residentes.
A isenção dos dividendos é estabelecida para
evitar a dupla tributação económica que se produz
quando os rendimentos de uma sociedade, integrados
na sua base tributável e posteriormente distribuídos
como dividendos, suportam o correspondente
Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas
na sociedade que distribui o dividendo e na sociedade
que o recebe, ao incluí-lo como rendimento ou receita
na sua base tributável.
Além disso, quando na transmissão de uma
participação no capital de outra sociedade forem
gerados rendimentos positivos que tenham de
tributar, a sociedade transmissora poderá aplicar
a correspondente isenção para evitar uma dupla
tributação económica, já que a mais-valia produzida
incluirá os lucros não distribuídos gerados durante
o período de detenção da participação, que já terão
tributado na sociedade participada.
A isenção de dividendos e mais-valias poderá ser
aplicada sempre que forem cumpridos os requisitos
legalmente estabelecidos.
2. Rendimentos obtidos no estrangeiro através
de um estabelecimento permanente.
Estarão isentos os rendimentos positivos obtidos
no estrangeiro através de um estabelecimento
permanente situado fora do território espanhol,
bem como os rendimentos positivos derivados da
sua transmissão, sempre que forem cumpridos
os requisitos e circunstâncias estabelecidos na
Fazer negócios em Espanha
98
regulamentação do Imposto sobre o Rendimento das
Pessoas Coletivas.
É importante destacar que não se permite a
integração na base tributável dos rendimentos
negativos obtidos no estrangeiro através de um
estabelecimento permanente, exceto nos casos de
transmissão deste ou de finalização da sua atividade.
b. Método da imputação 1. Dedução por impostos suportados no
estrangeiro.
A legislação do Imposto sobre o Rendimento das
Pessoas Coletivas permite deduzir a menor das duas
seguintes quantias:
• O imposto de caráter semelhante pago no
estrangeiro.
• O imposto que deveria ser pago em
Espanha se as receitas tivessem sido
recebidas neste país.
2. Dividendos de entidades não residentes
Em determinados casos é possível a dedução,
para a sociedade residente que recebe os dividendos,
da parte correspondente aos referidos dividendos
do imposto efetivamente pago pela sociedade não
residente. Também tem a consideração de imposto
efetivamente pago o liquidado pelas sociedades
participadas pela filial e pelas que, por sua vez,
estiverem participadas diretamente por aquelas, e
assim sucessivamente, na parte atribuível aos lucros
com débito dos quais são pagos os dividendos. Na
prática, esta dedução é aplicada quando não for
possível aplicar a “isenção”.
Os tributos
99
Esta dedução tem um limite conjunto com a
descrita no apartado anterior: a soma de ambas não
poderá exceder o imposto que teria de ser pago se
estes rendimentos tivessem sido obtidos em Espanha.
5.1.10. Deduções para incentivar a realização de determinadas atividades
Entre estas deduções podemos destacar as seguintes:
• As atividades de investigação e desenvolvimento,
bem como a inovação tecnológica, podem beneficiar
de uma dedução de entre 8% e 59%. A percentagem
definitiva depende de diversos fatores.
• As produções cinematográficas espanholas
podem deduzir entre 20% e 18%. As produções
cinematográficas estrangeiras, 15%. Os espetáculos ao
vivo, 20%.
• A criação de emprego para trabalhadores portadores
de deficiência permite deduzir entre 9.000 e 12.000
euros por pessoa/ano de aumento da média dos
quadros de trabalhadores portadores de deficiência.
As deduções descritas não podem exceder o limite sobre a
quota integral, que oscila conforme os casos entre os habituais
25% e um máximo de 50%.
As leis anuais que aprovam os Orçamentos Gerais do
Estado podem incluir outras deduções para incentivar o
investimento.
Fazer negócios em Espanha
100
5.1.11. Retenções e pagamentos fracionados (por conta)
Determinados rendimentos obtidos por sujeitos passivos têm
uma retenção a título de pagamento por conta do Imposto
sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas. A percentagem de
retenção é, com caráter geral, de 19%, embora possa variar
em função do tipo de rendimento. Além disso, nos primeiros
vinte dias de abril, outubro e dezembro, as empresas terão
de efetuar um pagamento fracionado, que será efetuado por
conta da liquidação correspondente ao exercício em curso no
primeiro dia de cada um dos meses indicados. O montante
deste pagamento fracionado será equivalente a 18% da quota
correspondente ao último exercício encerrado e cujo prazo de
declaração esteja vencido nessas datas, menos as deduções e
bonificações aplicáveis e as retenções que forem requeridas.
Alternativamente, existe a opção de calcular os pagamentos
por conta a partir da base tributável correspondente ao
período de três, nove ou onze primeiros meses de cada ano de
calendário. Este método é obrigatório para as entidades cujo
volume de operações tiver superado os 6.010.121,04 euros
durante os doze meses anteriores à data em que tiver iniciado
o período de tributação. A percentagem será o resultado de
multiplicar por 5/7 a taxa de ónus arredondada por defeito.
Ou seja, com uma taxa de tributação de 28%, será aplicada
uma taxa de 20%. Esta percentagem de pagamento por conta
vai aumentando em função do volume de negócios, chegando
aos 27% se este superar os 60 milhões de euros.
As retenções suportadas e os pagamentos fracionados
já realizados podem ser deduzidos na declaração do
Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas do ano
correspondente. Se superarem os impostos finais a pagar, a
entidade tem direito a pedir a devolução do que pagou a mais
ao longo do período de tributação.
Os tributos
101
5.1.12. Declaração consolidada (IRC)
Quando uma sociedade exercer o controlo sobre uma ou
várias sociedades residentes, todo o grupo poderá tributar
conjuntamente pelo Imposto sobre o Rendimento das
Pessoas Coletivas, comunicando previamente essa intenção
à autoridade tributária, sempre que a sociedade dominante
possuir, de forma direta ou indireta, durante o prazo legalmente
exigido, pelo menos 75% do capital social e a maioria dos
direitos de voto da sociedade ou sociedades dependentes.
5.2. Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (IRS)
O Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares é
indubitavelmente o tributo mais importante administrado
pela autoridade tributária, tanto pela quantidade de
contribuintes como pela quantia final arrecadada. O período
temporário em que é necessário apresentar toda a informação
relativa ao imposto começa em abril e termina em junho.
Toda a regulamentação relativa a este imposto encontra-se
na Lei 35/2006, do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas
Singulares, e no regulamento aprovado pelo Real Decreto
439/2007.
Este imposto, conhecido pelas siglas IRPF (Impuesto
sobre la Renta de las Personas Físicas), é aplicado em todo o
território espanhol sem prejuízo dos regimes especiais por
território nem dos tratados e convenções internacionais.
Os contribuintes por este imposto são as pessoas singulares
residentes de forma habitual em território espanhol, e o facto
tributável que o imposto onera é a obtenção de rendimentos.
Fazer negócios em Espanha
102
5.2.1. Aspetos básicos: residência habitual e rendimentos sujeitos a tributação
Em primeiro lugar, é necessário especificar o que se entende
por residência habitual. Espanha considera como tal a
permanência em território nacional por um período superior
a 183 dias durante um ano de calendário. Para determinar
o período de permanência serão computadas as ausências
esporádicas, exceto se se demonstrar a residência fiscal noutro
país. Ao mesmo tempo, entende-se que o sujeito passivo
tem a residência habitual quando radica em Espanha o
núcleo principal ou a base das suas atividades ou interesses
económicos.
Adicionalmente, e exceto se se provar o contrário,
presume-se a residência habitual quando o cônjuge e os filhos
menores de idade do contribuinte residirem habitualmente em
Espanha. Não perdem a condição de contribuintes as pessoas
singulares de nacionalidade espanhola que demonstrarem a
mudança de residência para um paraíso fiscal. Esta regra é
aplicada no ano em que for efetuada a mudança de residência,
bem como durante os quatro períodos seguintes.
Os contribuintes são onerados pela totalidade dos
rendimentos que obtiverem, independentemente do lugar
em que se tiverem produzido e seja qual for a residência
do pagador. O IRPF onera a capacidade económica dos
contribuintes, o que leva a legislação a estabelecer um mínimo
pessoal e familiar que tem de ser tomado em consideração ao
calcular a quota integral do imposto. As unidades familiares
podem optar por tributar conjuntamente, ou cada um dos
seus membros de forma separada.
Tal como no Imposto sobre o Rendimento das Pessoas
Coletivas, os contribuintes têm de incluir na sua base
tributável determinados rendimentos obtidos por entidades
Os tributos
103
não residentes, sempre que detiverem uma participação igual
ou superior a 50% do seu capital social e quando se verificarem
as circunstâncias previstas pela regulamentação. É necessário
tomar em consideração a existência de um regime especial
para os ganhos patrimoniais por mudança de residência, o
conhecido como exit tax, aplicável na maioria dos países da
União Europeia.
5.2.2. Regime especial para trabalhadores deslocados
As pessoas que adquirirem a residência fiscal em Espanha
por motivos laborais podem tributar pelo Imposto sobre
o Rendimento dos Não Residentes, cujas características
são descritas detalhadamente no apartado 5.3. do presente
capítulo. Os trabalhadores deslocados poderão acolher-se a
este regime especial durante o período de tributação em que
for efetuada a mudança de residência, bem como nos cinco
períodos seguintes.
Para poder tributar conforme este regime especial, os
trabalhadores deslocados terão de cumprir duas condições.
Primeiro, não ter sido residentes em Espanha durante os dez
períodos de tributação anteriores à deslocação. E segundo,
que a deslocação se produza como consequência de um
contrato de trabalho ou de um cargo de administrador de uma
entidade de cujo capital não detenham qualquer participação
ou detenham uma participação que não determine a sua
consideração como entidade vinculada. Os contribuintes que
optarem por este regime especial ficarão sujeitos como não
residentes ao Imposto sobre o Património.
Segundo este regime especial, todos os rendimentos do
trabalho serão considerados obtidos em território espanhol,
e nos exercícios 2015 e 2016 tributarão às taxas indicadas na
seguinte tabela.
Fazer negócios em Espanha
104
Base LiquidávelTaxa aplicável
2015 2016
Até 600.000,00 euros 24% 24%
A partir de 600.000,01 euros 47% 45%
5.2.3. Benefícios fiscais
Tal como ocorria com o Imposto sobre o Rendimento
das Pessoas Coletivas, a regulamentação do IRPF inclui a
possibilidade de aplicar uma série de deduções quando se
verificam determinadas circunstâncias. Entre os benefícios
aplicáveis, o investidor estrangeiro poderá encontrar os
seguintes especialmente interessantes:
1. Dedução por investimento em empresas
recentemente criadas. Bonificação de 20% das
quantias liquidadas durante o exercício pela subscrição
de ações ou participações em empresas recentemente
criadas. A base máxima de dedução será de 50.000
euros anuais.
2. Deduções por atividades económicas. Os
contribuintes que exercerem atividades económicas
podem beneficiar dos incentivos e estímulos
ao investimento empresarial estabelecidos na
regulamentação do Imposto sobre o Rendimento das
Pessoas Coletivas.
Os tributos
105
3. Deduções por donativos. Os donativos efetuados a
determinadas entidades têm direito à correspondente
dedução no IRPF.
4. Dedução pelas receitas obtidas em Ceuta e Melilla.
Os sujeitos passivos têm direito a uma dedução
de 50% na parte da quota que corresponder a estes
rendimentos.
5. Deduções por investimentos em património
histórico. As atuações relacionadas com o património
histórico, quer espanhol quer mundial, podem
acolher-se a uma dedução de 15%.
6. Dedução por dupla tributação internacional. Nos
rendimentos que incluem ganhos ou rendimentos
patrimoniais obtidos e onerados no estrangeiro, será
deduzida a menor destas duas quantias: o montante
pago no estrangeiro por um imposto de natureza
idêntica ou semelhante ao IRPF ou ao Imposto sobre
o Rendimento dos Não Residentes; o resultado da
aplicação da taxa média efetiva à base liquidável
onerada no estrangeiro.
No entanto, é necessário tomar em consideração que
existe uma limitação para as deduções por donativos e
as deduções por investimentos em património histórico,
descritas nos pontos 3 e 5. A base do cálculo de cada uma
destas deduções não poderá em qualquer caso superar os 10%
da base liquidável.
5.2.4. Taxas aplicáveis do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares
O Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares
contempla dois tipos de rendimentos: os gerais e os da poupança.
Fazer negócios em Espanha
106
Os rendimentos da poupança estão formados, entre outros, por
dividendos, juros (exceto os obtidos de pessoas ou entidades
vinculadas) e ganhos patrimoniais, independentemente do seu
período de geração.
As taxas aplicáveis a estes dois grandes grupos de rendimentos
encontram-se descritas nas duas seguintes tabelas. Na primeira
está incluída a escala aplicável aos rendimentos gerais, enquanto
na segunda é apresentada a escala para os rendimentos da
poupança; ambas são válidas para o exercício de 2016.
Taxas aplicáveis aos rendimentos gerais
Base liquidável Quota integralResto base liquidável Taxa aplicável
em 2016Até euros Euros Até euros
- - 12.450,00 19%
12.450,00 2.365,50 7.750,00 24%
20.200,00 4.225,50 15.000,00 30%
35.200,00 8.725,50 24.800,00 37%
60.000,00 17.901,50A partir desse
montante45%
Os tributos
107
Taxas aplicáveis aos rendimentos da poupança
Base Tributável Taxa aplicávelem 2016Euros
Até 6.000 19%
6.000 - 50.000 21%
A partir de 50.000 23%
5.2.5. Taxas nas retenções
Os empresários e profissionais que satisfizerem rendimentos
no exercício da sua atividade, incluindo as pessoas coletivas
e os não residentes que operarem em Espanha através
de estabelecimentos permanentes, quando liquidarem
rendimentos do trabalho, do capital mobiliário ou de
atividades profissionais, estão obrigados a reter e depositar
nas contas do Estado, a título de pagamento por conta, as
quantias resultantes da aplicação das seguintes percentagens
aos montantes brutos a liquidar:
• Rendimentos do trabalho: uma percentagem
determinada em função da quantia e de diversas
circunstâncias.
• Rendimentos derivados de ministrar cursos ou
conferências: 15%.
• Rendimentos do capital mobiliário, como dividendos
ou juros: 19%.
Fazer negócios em Espanha
108
• Rendimentos de atividades profissionais: 15%; exceto
no exercício de início da atividade e nos dois seguintes,
em que é aplicada uma taxa de 7%.
• Retribuições a membros de órgãos de administração:
35% com caráter geral.
• Prémios obtidos como consequência da participação
em jogos e concursos: 19%.
• Rendimentos procedentes do arrendamento de
imóveis: 19%.
• Rendimentos procedentes da propriedade intelectual
ou industrial, assistência técnica ou arrendamento de
bens móveis: 19%.
Quando qualquer dos rendimentos mencionados não
for pago em dinheiro, mas em espécie, existirá igualmente a
obrigação de efetuar um pagamento por conta. Quanto aos
não residentes que atuarem sem mediação de estabelecimento
permanente, basicamente terão de efetuar as retenções sobre
os rendimentos do trabalho que tiverem de pagar no exercício
da sua atividade.
5.3. Imposto sobre o Rendimento dos Não Residentes
O Imposto sobre o Rendimento dos Não Residentes onera
os rendimentos obtidos em território espanhol pelas pessoas
singulares e coletivas não residentes. Este imposto está
organizado num esquema que distingue entre:
5.3.1. Rendimentos obtidos mediante estabelecimento permanente
O conceito de estabelecimento permanente refere-se à
existência em Espanha de um lugar fixo, como uma sucursal,
Os tributos
109
a partir do qual é realizada a atividade económica que
proporciona os rendimentos à pessoa singular ou coletiva
não residente. A base tributável para os rendimentos obtidos
mediante estabelecimento permanente é determinada em
conformidade com as normas gerais do Imposto sobre o
Rendimento das Pessoas Coletivas. De facto, a base tributável
é onerada, habitualmente, à taxa geral do Imposto sobre
o Rendimento das Pessoas Coletivas. No entanto, há duas
grandes particularidades que sublinham a singularidade do
Imposto sobre o Rendimento dos Não Residentes em relação
ao Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas:
1. A primeira é que os pagamentos efetuados pelo
estabelecimento permanente à casa central, ou a
qualquer dos seus estabelecimentos permanentes,
a título de royalties, juros, comissões, assistência
técnica ou pela utilização e cessão de bens ou direitos,
não são dedutíveis.
2. O segundo ponto a destacar é que as despesas de
direção e as despesas gerais de administração, na parte
que corresponder ao estabelecimento permanente,
são dedutíveis, sempre que cumprirem os requisitos
de racionalidade e continuidade na sua atribuição e
forem apresentadas nas demonstrações contabilísticas,
bem como na correspondente memória informativa.
Os estabelecimentos permanentes estão submetidos às
mesmas obrigações formais, de registo e contabilísticas que as
entidades com sede em Espanha. Entre as características mais
notáveis da utilização de um estabelecimento permanente
destaca-se a possibilidade de transferir lucros para o exterior.
No entanto, como já foi comentado no segundo apartado
do capítulo quarto (“Constituição de uma sucursal”), os
Fazer negócios em Espanha
110
rendimentos transferidos são onerados com uma taxa
adicional de 19%.
Apesar do anterior, a regulamentação define dois casos
em que os rendimentos transferidos estão isentos desses
19%. O primeiro consiste em que exista uma convenção de
dupla tributação na qual não se estabeleça expressamente
o contrário, sempre que exista um tratamento recíproco.
O segundo, em que o contribuinte seja residente num país
membro da União Europeia.
É relevante indicar que, no caso de dívidas fiscais
correspondentes aos estabelecimentos permanentes de
contribuintes não residentes, as pessoas designadas como
suas representantes terão de responder solidariamente pelas
quantias devidas (consulte mais à frente o ponto 5.3.4,
dedicado aos representantes fiscais).
Existem normas especiais para determinar a base tributável
do estabelecimento permanente nos seguintes casos:
a) Estabelecimentos com atividade esporádica: obras
de construção, instalação ou montagem com uma
duração superior a 6 meses, explorações de temporada
ou exploração de recursos naturais.
Neste caso são aplicadas as regras dos rendimentos
obtidos em Espanha sem mediação de estabelecimento
permanente, ficando a entidade dispensada das
obrigações relativas a contabilidade e registo, devendo
no entanto conservar justificantes das receitas obtidas
e dos pagamentos realizados por este Imposto, bem
como das eventuais retenções e pagamentos por conta
realizados.
Estes estabelecimentos podem optar por tributar
pelo regime geral descrito para os rendimentos
obtidos através de estabelecimento permanente,
Os tributos
111
à taxa geral do Imposto sobre o Rendimento das
Pessoas Coletivas. Esta opção só será possível se o
estabelecimento dispuser de contabilidade separada
dos rendimentos obtidos em território espanhol.
b) Estabelecimentos com um ciclo empresarial
incompleto: Estão incluídos os que tiverem um
local de trabalho em Espanha, mas destinam os bens
produzidos ou os serviços realizados à sua utilização.
Como consequência, não obtêm receitas, mas um
simples reembolso das despesas. Nestes casos, é
possível determinar a base tributável aplicando a
percentagem estabelecida pelo Ministro das Finanças,
que atualmente é de 15%, às despesas incorridas
durante o exercício, e adicionando ao resultado as
receitas de caráter acessório, como juros ou royalties,
bem como os ganhos ou perdas patrimoniais. A
taxa de tributação aplicada à base tributável assim
determinada é a geral do Imposto sobre o Rendimento
das Pessoas Coletivas, sem que sejam aplicáveis as
deduções e bonificações reguladas no seu regime geral.
5.3.2. Rendimentos obtidos sem estabelecimento permanente
Neste caso, o imposto onera os rendimentos do contribuinte
não residente obtidos diretamente em território espanhol.
A base tributável é calculada, portanto, a partir das receitas
brutas obtidas pelo não residente. Aqui não é possível
deduzir despesas, exceto nos casos das prestações de
serviços, da assistência técnica e das obras de instalação ou
montagem. Também é possível deduzir despesas, como regra
geral, nas explorações económicas realizadas em Espanha,
nomeadamente as despesas de pessoal, de aprovisionamento
de materiais e de abastecimentos.
Fazer negócios em Espanha
112
Quando o contribuinte tiver a sua residência noutro
Estado-membro da União Europeia, ao determinar a base
tributável poderão ser deduzidas as despesas previstas na
regulamentação reguladora do Imposto sobre o Rendimento
das Pessoas Singulares e do Imposto sobre o Rendimento
das Pessoas Coletivas. O único requisito para poder efetuar a
dedução é a demonstração de que as despesas estão diretamente
relacionadas com os rendimentos obtidos em Espanha, e que
têm um vínculo económico direto com a atividade realizada
no território nacional.
No caso dos ganhos patrimoniais, a base tributável é
determinada, com caráter geral, pela diferença entre o valor
de transmissão do elemento em questão e o seu valor de
aquisição. Deve-se recordar que cada rendimento ou ganho
patrimonial tributa de forma separada.
Vista a forma de calcular a base tributável desta modalidade
do imposto, é necessário indicar as taxas aplicadas aos diversos
títulos. A seguir apresentamos um resumo:
• É estabelecida uma taxa geral de 24%. No entanto,
a taxa será de 19% para os contribuintes residentes
noutro país membro da União Europeia ou do
Espaço Económico Europeu com o qual exista um
intercâmbio efetivo de informação fiscal.
• No caso de dividendos, juros e ganhos patrimoniais, a
taxa aplicável em 2016 é de 19%.
• A taxa aplicada aos rendimentos do trabalho obtidos
em virtude de um contrato a termo certo para
trabalhadores estrangeiros de temporada é de 2%.
• Nos rendimentos do trabalho obtidos por não
residentes que prestarem os seus serviços em missões
diplomáticas e representações consulares de Espanha
no estrangeiro a taxa é de 8%.
Os tributos
113
• A taxa aplicável às pensões é estipulada em função da
correspondente escala de ónus.
• As operações de resseguro são oneradas à taxa de 1,5%.
• É aplicada uma taxa de 4% no caso de entidades de
navegação marítima ou aérea residentes no estrangeiro,
cujos navios ou aeronaves toquem território espanhol.
Para terminar, é necessário destacar os casos em que se
produz a transmissão de um imóvel situado em Espanha
por sujeitos passivos não residentes, que atuam sem
estabelecimento permanente. Nestes casos, a pessoa que
adquirir o imóvel estará obrigada a reter e depositar 3% do
preço acordado, a título de pagamento por conta do imposto
correspondente aos sujeitos passivos não residentes. Se não se
efetuar o pagamento da retenção, o imóvel transmitido ficará
consignado ao pagamento do imposto.
Em qualquer caso, os depositários ou gestores dos
bens ou direitos dos não residentes não relacionados com
um estabelecimento permanente, ou os pagadores dos
rendimentos gerados sem mediação de estabelecimento
permanente, são responsáveis solidários pelo pagamento das
dívidas fiscais correspondentes aos rendimentos dos bens ou
direitos cujo depósito ou gestão tiverem encomendada ou aos
rendimentos que tiverem liquidado.
5.3.3. Rendimentos isentos de tributação
A vontade de evitar a dupla tributação dos rendimentos obtidos
em Espanha, unida à possibilidade de que os contribuintes
não residentes procedam de países da União Europeia, com
os quais se partilha um espaço económico comum, motivou
o estabelecimento de uma longa lista de isenções no Imposto
Fazer negócios em Espanha
114
sobre o Rendimento dos Não Residentes. Entre outros, os
seguintes rendimentos ficam isentos de tributação:
a) Os juros e os ganhos patrimoniais derivados de bens
móveis, obtidos, sem mediação de estabelecimento
permanente, por residentes noutro Estado-membro
da UE.
Este regime tão favorável não é aplicável aos
ganhos patrimoniais derivados das transmissões de
ações ou participações sociais nos seguintes casos:
1. Se o ativo da referida sociedade consistir
principalmente, direta ou indiretamente, em bens
imóveis sitos em território espanhol.
2. No caso de contribuintes pessoas singulares, se
nalgum momento anterior, durante o período de
12 meses precedente à transmissão, tiverem detido
uma participação, direta ou indireta, igual ou
superior a 25% do capital.
3. No caso de entidades não residentes, se a
transmissão não cumprir os requisitos para a
aplicação da isenção para evitar a dupla tributação.
b) Os rendimentos derivados de dívida pública, obtidos sem
mediação de estabelecimento permanente em Espanha.
c) Os rendimentos das contas de não residentes
que também sejam pagos a contribuintes não
residentes, exceto se o pagamento for realizado a um
estabelecimento permanente situado em Espanha pelo
Banco de Espanha, por um banco ou pelas entidades
devidamente registadas.
Os tributos
115
d) Os rendimentos derivados de valores emitidos
em Espanha por não residentes sem mediação de
estabelecimento permanente, independentemente
do lugar de residência das instituições financeiras
que atuarem como agentes de pagamento ou que
mediarem na emissão ou transmissão dos valores.
e) Os rendimentos obtidos em território espanhol,
sem mediação de estabelecimento permanente,
procedentes do arrendamento, da cessão ou da
transmissão de contentores ou navios e aeronaves a
casco nu, utilizados na navegação marítima ou aérea
internacional.
f) Os lucros distribuídos por sociedades filiais residentes
em Espanha às suas sociedades matrizes residentes
noutros países da União Europeia ou nos Estados
integrantes do Espaço Económico Europeu, sempre
que forem cumpridas as condições expressamente
estabelecidas na regulamentação em vigor.
g) Os rendimentos derivados das transmissões de
valores, ou do reembolso de participações em fundos
de investimento realizados nos mercados secundários
oficiais de valores espanhóis. Estes rendimentos terão
de ser obtidos por não residentes sem mediação de
estabelecimento permanente, sempre que forem
residentes num Estado que tenha celebrado com
Espanha uma convenção com cláusula de intercâmbio
de informação.
h) Os dividendos e participações em lucros obtidos sem
mediação de estabelecimento permanente por fundos
de pensões, sempre que forem residentes ou tiverem
um estabelecimento permanente noutro país membro
da União Europeia.
Fazer negócios em Espanha
116
i) Os dividendos e participações em lucros obtidos
sem mediação de estabelecimento permanente
por instituições de investimento coletivo reguladas
pela Diretiva 2009/65/CE, ou residentes nos países
integrantes do Espaço Económico Europeu, sempre
que exista um acordo de intercâmbio de informação.
j) Os royalties liquidados por uma entidade residente
em território espanhol, ou por um estabelecimento
permanente de uma sociedade residente noutro país
da União Europeia, a uma sociedade residente noutro
Estado-membro da UE. Também se aceita que o
recetor seja um estabelecimento permanente situado
noutro Estado-membro, sempre que forem cumpridos
os requisitos legalmente exigidos e que a matriz seja
uma sociedade residente num país da União Europeia.
As isenções descritas nos pontos a), g) e f) não poderão ser
aplicadas, em qualquer caso, aos rendimentos obtidos através
de paraísos fiscais.
5.3.4. A figura do representante fiscal
Os contribuintes não residentes em território espanhol estão
obrigados, em determinados casos, a designar uma pessoa
singular ou coletiva com residência em Espanha para que os
represente perante a autoridade tributária. Esta obrigação
também é aplicável às pessoas singulares ou coletivas residentes
em países ou territórios com os quais não exista um efetivo
intercâmbio de informação fiscal, que sejam titulares de bens
situados ou de direitos cumpridos ou exercidos em território
espanhol, excluindo os valores negociados em mercados
secundários oficiais.
Os tributos
117
No caso de estabelecimentos permanentes, é considerado
seu representante quem constar como tal no Registo
Comercial ou, em caso de ausência dessa indicação, quem
estiver facultado para contratar em nome da entidade.
O incumprimento desta obrigação constitui uma infração
sancionável.
5.3.5. Ónus especial sobre bens imóveis
As entidades residentes num país ou território que tenha a
consideração de paraíso fiscal e que sejam proprietárias, ou
detenham direitos reais de uso e/ou usufruto, de bens imóveis
em Espanha estão sujeitas a um ónus especial que será gerado
a 31 de dezembro de cada ano e que é necessário depositar
no seguinte mês de janeiro. Atualmente este ónus especial
é aplicado a uma taxa de 3% sobre o valor cadastral dos
bens imóveis. Este ónus especial não é exigível às seguintes
entidades:
a) Estados, instituições públicas estrangeiras e
organismos internacionais.
b) Entidades que realizam em Espanha, de modo
continuado ou habitual, explorações económicas
diferenciáveis da simples detenção ou arrendamento
de imóveis.
c) As sociedades cotadas em mercados secundários de
valores oficialmente reconhecidos.
Nos casos em que uma entidade obrigada a pagar este
ónus especial for coproprietária de um imóvel juntamente
com outra entidade que esteja isenta do seu pagamento, o
imposto só será exigível pela parte de que é titular.
Fazer negócios em Espanha
118
5.3.6. Apresentação do Imposto sobre o Rendimento dos Não Residentes
Com caráter geral, a regulamentação do IRNR obriga a
apresentar uma declaração por cada rendimento individual
obtido no mês seguinte à data de geração, que normalmente
coincidirá com a do vencimento do pagamento. Esta declaração
terá de ser apresentada à repartição da autoridade tributária
da mesma área em que se encontra a sede ou domicílio fiscal
do representante. No entanto, no caso de rendimentos obtidos
de transmissões de bens imóveis, as declarações terão de ser
apresentadas à repartição da mesma área onde os referidos
bens estiverem situados.
Devido à dificuldade de registar todas as transações
efetuadas por não residentes, a figura do pagador que retém
a quota do imposto e a deposita por conta na autoridade
Notas a la tabla de la página 119 FALTA TRADUCIR(1) Limite máximo de impostos a exigir no Estado de procedência dos dividendos a transferir
(2) Limite máximo de impostos a exigir no Estado de procedência dos dividendos, segundo a participação no capital da filial, igual ou superior à percentagem de domínio matriz-filial indicada no quadro. Nesta matéria é importante tomar em consideração a incorporação no ordenamento jurídico espanhol da diretiva comunitária relativa ao regime fiscal comum aplicável às sociedades matrizes e filiais dos países pertencentes à União Europeia. Esta diretiva estabelece, os requisitos exigidos, à isenção dos dividendos distribuídos por uma filial à sua sociedade matriz e também da não aplicação do sistema de retenções (consulte as isenções do apartado 5.3.3.).
(3) Limite máximo de impostos a exigir no Estado de procedência dos juros transferidos. Por aplicação da regulamentação interna, mais favorável, os juros de pessoas residentes noutros países da União Europeia estão isentos de tributação (consulte as isenções do apartado 5.3.3.).
Os tributos
119
RESUMO DAS CONVENÇÕES PARA IMPEDIR A DUPLA TRIBUTAÇÃO
(1) (2) (3)
Divid
endo
s(g
eral
)
Divid
endo
sca
pita
l
Rete
nção
m
atriz
-filia
l
Juro
s
% % % %
ALEMANHA
ÁUSTRIA
BÉLGICA
BRASIL
CANADÁ
FINLÂNDIA
FRANÇA
ITÁLIA
JAPÃO
NORUEGA
PAÍSES BAIXOS
POLÓNIA
PORTUGAL
REINO UNIDO
ROMÉNIA
SUÉCIA
SUÍÇA
E.U.A.
15
15
15
15
15
15
15
15
15
15
15
15
15
10/15
15
15
15
15
10
50
25
25
10
25
10
---
25
25
50
25
25
10
25
50
10
25
5
10
---
10
5
10
---
15
10
10
10
5
10
---
10
10
---
10
--
5
0/10
15/10
10
10
10
12
10
10
10
---
15
---
10
15
---
10
Fazer negócios em Espanha
120
tributária reveste-se de uma grande importância neste
imposto. De facto, em muitos casos a retenção efetuada
converte-se na tributação do não residente. Nestas situações, e
com caráter geral, a legislação estabelece a possibilidade de que
o retentor que paga rendimentos a um não residente apresente
uma declaração trimestral, incluindo todos os rendimentos
gerados durante o trimestre de calendário anterior.
5.3.7. Prevalência dos tratados e convenções internacionais
Neste apartado destacou-se a importância dos acordos
bilaterais celebrados entre Espanha e outros países para evitar
a dupla tributação dos rendimentos obtidos. Dado que as
normas das convenções têm primazia sobre o direito interno,
a regulamentação relativa ao IRNR pode resultar alterada
pelas disposições destes acordos, o que implica modificações
na tributação dos rendimentos dos não residentes. Portanto,
sempre que um residente de um Estado que tiver celebrado
uma convenção de dupla tributação com Espanha receber um
rendimento obtido neste país, será necessário consultar o texto
da convenção para estabelecer o tratamento fiscal adequado.
A seguir é apresentada uma lista que resume o conteúdo
das principais convenções de dupla tributação celebradas
por Espanha, e que indica as percentagens máximas de
impostos exigíveis no país donde procedem os rendimentos.
Na atualidade, Espanha tem estabelecidas convenções de
dupla tributação com mais de 75 países, mas este quadro
apenas apresenta os acordos celebrados com os principais
membros da União Europeia e com os Estados com os quais
é mais frequente a entrada e saída de capitais. Apesar do
anterior, também existem acordos celebrados com países
que nos últimos anos aumentaram notavelmente os seus
Os tributos
121
investimentos em Espanha, como a China, a Arábia Saudita
ou a Rússia, o que exige que qualquer estimativa da fiscalidade
correspondente às transações efetuadas com estes Estados
observe as disposições das respetivas convenções.
5.4. Imposto sobre o Património
Na última década, a existência deste tributo esteve
submetida a um profundo debate, que provocou numerosas
alterações na sua regulamentação. De facto, desapareceu
durante um breve período de tempo, para depois regressar
temporariamente e terminar sendo prorrogado sem que se
saiba quando voltará a ser suprimido do ordenamento.
Este imposto onera a propriedade de qualquer tipo de
bens e a titularidade de direitos de conteúdo económico
atribuíveis a uma pessoa singular, computáveis a 31 de
dezembro de cada ano.
Atualmente só estão obrigados a apresentar uma
declaração os contribuintes cuja quota tributária resulte
a depositar porque o valor do seu património líquido não
isento supera os 700.000 euros, ou cujos bens ou direitos
tenham um valor superior a 2.000.000 euros. O imposto
é de aplicação tanto a residentes no território espanhol
como a não residentes, e é interessante especificar que as
comunidades autónomas podem modificar o montante
mínimo isento.
Quanto às isenções estabelecidas no imposto, deve-se
destacar a aplicada aos bens e direitos das pessoas singulares
cuja finalidade consista no exercício da sua atividade
empresarial ou profissional, sempre que forem cumpridos
determinados requisitos exigidos por lei. Também podem
resultar isentas as participações em entidades que realizem
Fazer negócios em Espanha
122
atividades económicas, sempre que forem cumpridos os
requisitos específicos exigidos por lei. Da mesma forma, está
isenta a residência habitual, até um montante máximo de
300.000 euros.
5.5. Imposto sobre Sucessões e Doações
Outro imposto cedido às comunidades autónomas, que onera
a aquisição de bens e direitos por herança e por doação, bem
como as quantias recebidas pelos beneficiários de seguros de
vida, sempre que o contratante for uma pessoa diferente do
beneficiário. Se estes ganhos patrimoniais forem obtidos por
pessoas coletivas, não estarão sujeitos a este imposto, mas ao
Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas.
Os contribuintes que tiverem a sua residência habitual em
Espanha estarão obrigados ao imposto por obrigação pessoal,
independentemente do lugar em que se encontrarem situados
os bens ou direitos adquiridos. No entanto, os não residentes
só estão obrigados ao imposto pelos bens ou direitos que
estiverem situados ou puderem ser exercidos em Espanha.
No caso de aquisição por familiares próximos de uma
empresa individual, de determinadas participações em
entidades ou de uma residência habitual, existe uma redução
na base tributável, mais concretamente, de 95% do valor dos
referidos elementos.
5.6. Impostos locais
São vários os impostos locais ou municipais que merecem
uma menção específica por afetar as empresas, sobretudo
as que possuem um espaço físico estável a partir do qual
realizam a sua atividade. Além dos três impostos incluídos
Os tributos
123
neste apartado, é necessário mencionar o imposto sobre
veículos de tração mecânica, que terão que pagar todas as
pessoas ou empresas que tiverem um desses veículos em seu
nome.
Os impostos locais ou municipais que merecem uma
menção específica são os seguintes:
a) Imposto sobre Bens Imóveis (IBI)
O facto tributável está constituído pela propriedade
de bens imóveis ou pela titularidade de um direito
real de usufruto ou de superfície, ou de uma concessão
administrativa. Onera o valor cadastral do referido
imóvel e é gerado anualmente.
b) Imposto sobre as Atividades Económicas (IAE)
Onera o mero exercício de uma atividade empresarial,
profissional ou artística. Tem caráter anual. É um
imposto que não é exigível durante os dois primeiros
anos de exercício da atividade, nem às pessoas
singulares ou às entidades cujo volume de negócio
não supere os 1.000.000 euros.
c) Imposto sobre o Aumento de Valor dos Terrenos
Este imposto onera o aumento de valor que
experimentam os terrenos de natureza urbana
manifestado como consequência da sua transmissão
ou da constituição de qualquer direito real de uso ou
usufruto sobre os referidos terrenos (usufruto, direito
de superfície, etc.).
5.7. Imposto sobre o Valor Acrescentado
O IVA é um tributo sobre o consumo em geral e onera as
seguintes operações: entregas de bens, prestações de serviços,
Fazer negócios em Espanha
124
aquisições intracomunitárias de bens e importações. A taxa
geral é de 21%, enquanto determinados produtos, como os
artigos alimentares, a água, a habitação em geral, as lentes
graduadas e o material médico são onerados à taxa reduzida
de 10%. Existe também uma taxa super-reduzida de 4%,
aplicada, entre outros, aos medicamentos, aos produtos
alimentares de primeira necessidade (pão, cereais, leite,
queijo, ovos) e aos livros, jornais e revistas.
Cada empresa ou profissional, ao fornecer um bem ou
serviço determinado, tem de acrescentar ao seu montante
final o IVA à taxa correspondente. Essa mesma empresa ou
profissional, durante o exercício da sua atividade, tem de pagar
o IVA dos bens ou serviços que tiver de adquirir. Ao liquidar o
imposto, o contribuinte tem de subtrair ao montante do IVA
arrecadado o IVA pago em compras e aquisições, e depositar
a sua diferença no Tesouro Público. Se o resultado final for
negativo, por exemplo num trimestre de forte investimento
em material ou maquinaria, poderá ser compensado nas
seguintes declarações. No final do exercício, e se a quota
continuar a ser negativa, o sujeito passivo poderá optar pela
sua devolução pelo Estado.
Existe um regime especial de devolução mensal para
as empresas que têm saldos de IVA a seu favor de forma
continuada.
É muito importante frisar que os empresários ou
profissionais não estabelecidos em Espanha têm direito a
solicitar a devolução do IVA pago. Para poder solicitar a
devolução, terão de estar estabelecidos num país da União
Europeia, ou noutro território com o qual exista uma
convenção de reciprocidade. O pedido de devolução pode ser
apresentado até ao dia 30 de setembro do ano posterior àquele
em que se tiver suportado o IVA em Espanha.
Os tributos
125
5.8. Imposto sobre Transmissões Patrimoniais e Atos Jurídicos Documentados
Este tributo, cedido às comunidades autónomas, onera as
transmissões patrimoniais inter vivos e onerosas de qualquer
tipo de bens e direitos, as operações societárias e os atos
jurídicos documentados. É incompatível com o IVA, ou seja,
um único ato não pode ser onerado por ambos os impostos,
embora existam determinadas exceções. Este imposto, na
sua modalidade de atos jurídicos documentados, onera os
documentos notariais, comerciais e administrativos.
Quanto às operações societárias, a regulamentação inclui
uma notável lista de isenções. As operações não obrigadas a
este imposto são as a seguir apresentadas:
• A constituição de sociedades.
• O aumento de capital.
• As contribuições efetuadas pelos sócios que não
representem um aumento de capital.
• A mudança para Espanha da direção efetiva ou da sede
social de uma sociedade, quando nem uma nem outra
estivessem previamente situadas num país membro da
União Europeia.
As operações societárias que não estiverem isentas são
oneradas à taxa de 1%. A transmissão de um imóvel está
onerada a uma taxa de 6%. Por este último título, algumas
comunidades autónomas modificaram esta percentagem,
nomeadamente a Catalunha, que aplica uma taxa de 10%.
Por último, a transmissão de bens móveis está onerada a 4%.
Fazer negócios em Espanha
126
5.9. Direitos aduaneiros
Como Espanha é membro da União Europeia, e como a
implantação de um mercado único europeu implicou a
eliminação de fronteiras e de controlos alfandegários, as
transações comerciais com outros países comunitários
deixaram de ser consideradas importações em 1993.
Estas operações são atualmente consideradas aquisições
intracomunitárias de bens, o que significa, com caráter geral,
que os bens são onerados quando passam para o poder do
adquirente no país comunitário de destino.
No caso de importações originárias de países que não
são membros da União Europeia, as pautas de tipo standard
são pagas geralmente quando os bens afetados passam a
alfândega. Com muito poucas exceções, os direitos aduaneiros
são ad valorem, ou seja são calculados sobre o valor CIF (Cost,
Insurance and Freight) ou sobre um valor de fatura semelhante.
Regra geral, é o comprador ou importador que está obrigado a
pagar os custos aduaneiros associados aos bens afetados.
Bové Montero y Asociados
Bové Montero y Asociados, fundada há mais de 35 anos, é
uma sociedade que presta serviços de auditoria/revisão legal
das contas, de contabilidade e fiscalidade, estando presente em
Barcelona, Madrid, Palma de Maiorca e Valência.
A empresa representa a HLB International, grupo líder no
contexto de sociedades de prestação de serviços, com mais de
2.100 sócios e 19.000 profissionais e com escritórios em mais
de 130 países, prestando serviços a clientes muito diversos, em
particular a empresas estrangeiras que pertencem a grandes
grupos multinacionais. O nosso valor acrescentado consiste
na prestação de serviços na língua de cada cliente.
A filosofia da nossa empresa fundamenta-se em proporcionar
aos nossos clientes um serviço multidisciplinar com qualidade,
baseado na confiança, adaptado às suas necessidades, tendo
em consideração um contexto de respeito pelas normas que
regulam o mundo empresarial, com o objectivo de ajudar a
desenvolver os seus negócios em Espanha.
www.bovemontero.com
www.profiteditorial.com
Toda a legislação necessária parafazer negócios em Espanha
Este livro recolhe toda a legislação e normas em matéria laboral, fiscal e comercial que os empreendedores, empresas e investidores estrangeiros que vejam Espanha como um destino atrativo para os seus negócios têm de tomar em consideração. Além de descrever brevemente as principais características deste país ibérico, como a geografia, as instituições, as políticas e as línguas, explica todos os aspectos de natureza jurídica, fiscal, contabilística e laboral que podem surgir no início de uma atividade empresarial em Espanha com base nas normas atualmente em vigor.
Recommended