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BREVES COMENTÁRIOS DOS ARTIGOS 175 AO 205 DA LEI 6.404/76, A
QUAL DISPÕE SOBRE AS SOCIEDADES POR AÇÕES
CRISTINA PINTO FREITAS1
Resumo: O presente artigo visa a tecer breves Comentários dos capítulos XV e XVI
da lei 6.404/76 que regulamenta as Sociedades Por Ações, aos quais
compreendem os artigos 175 ao 205, com a nova redação dada pela lei
11.638/2007. Tais Capítulos da citada lei alteram e ao mesmo tempo revogaram
alguns dispositivos normativos da lei no 6.404/76 e da lei no 6.385/76,
estendendo às sociedades de grande porte determinadas disposições tangentes à
elaboração e divulgação de suas demonstrações financeiras.
Palavras Chaves: Sociedades Por Ações. Exercício Social. Demonstrações
Financeiras. Lucros. Reservas. Dividendos.
1 Aluna do 9º período de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – (PUC MINAS – Betim).
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1. INTRODUÇÃO. 2. A FINALIDADE DOS RESULTADOS ECONÔMICOS. 3. O EXERCÍCIO SOCIAL E AS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS. 4. OS RESULTADOS DO EXERCÍCIO SOCIAL. 5. OS LUCROS E AS RESERVAS DO PERÍODO. 6. OS DIVIDENDOS. 7. DOS DIVIDENDOS OBRIGATÓRIOS. 8. BIBLIOGRAFIA. INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é tecer breves e singelos comentários do capítulo
XV2 ao qual abriga os artigos 175 ao 188, e do capítulo XVI3 ao qual abrange os
artigos 189 ao 205, todos, da lei 6.040/76, com a nova redação dada pela lei
11.638/2007, sem esgotar demasiadamente o tema, mesmo porque é impossível.
Foi priorizado fazer o referido trabalho com base em materiais que
pudessem dar sólido conhecimento sobre o assunto e o embasamento necessário
para melhor entendimento, tais como o que foi encontrado nos livros e manuais
de Direito Empresarial e Comercial.
Espero que este trabalho possa servir como norte na aplicabilidade destes
artigos no que tange as demonstrações financeiras e sua periodicidade, os
resultados do exercício, os lucros e reservas obtidos pela empresa e, os
dividendos como forma de conservação da empresa.
A FINALIDADE DOS RESULTADOS ECONÔMICOS
Apesar das sociedades (contratuais ou estatutárias) terem objetos sociais
diversos, estas sempre terão em comum a mesma finalidade através dos seus
objetivos sociais: produzir e fomentar riquezas, obtenção de vantagens econômicas
traduzíveis em lucros, aos quais serão apropriados pelos membros ou sócios:
quotistas, adonisras, cooperados, colaboradores, ou qualquer outro nome que venham a
ter.
De maneira mais especifica, as sociedades empresariais (seja por quotas de
participação ou por ações) compreendidas como um complexo de união de esforços
para realizar de forma organizada certo trabalho ou atividade desenvolvida de 2 Exercício Social e Demonstrações Financeiras. 3 Lucros, Reservas e Dividendos.
3
maneira reinterada com emprego de recursos materiais e conceituais, objetivando
um acesso otimizado a determinado mercado, para atender suas demandas e benefi-
ciar-se das possibilidades e vantagens que este oferece.
A constituição de um patrimônio especifico4 se faz necessário para a realização das
finalidades econômicas da empresa e exige investimento dos participantes destas
sociedades, através de capital que é devido pelo empresário ou sociedade empresária.
Em contrapartida, os valores gerados pela atividade empresária (receita) que exeder o
necessário para as respectivas despesas poderão ser destinados ao empresário ou
sócios; porém, não constituem mero saldo positivo, como ocorre nas pessoas jurídicas
de Direito Publico ou fundações, haja vista que são lucros, ou seja, é uma
recompensa ao capital investido naquela sociedade.
Todas as movimentações econômicas advindas da atividade exercida pelas
sociedades devem ser descritas e controladas através de escrituração específica a
cada fim, o que normalmente é feito pelos registros contábeis, aos quais são
obrigatórios para empresários e sociedades empresárias, já que estão
espressamente previstos em lei: artigos 1.179 e seguintes do Código Civil e art. 177
da Lei 6.404/76.
Dessa forma, e por força da lei, a escrituração da companhia deve ser
mantida em registros permanentes, observando aos preceitos legais e os princípios
de contabilidade, devendo-se ainda atentar para os métodos ou critérios contábeis
uniformes no tempo e registrar as mutações patrimoniais segundo o regime de
competência.
O EXERCÍCIO SOCIAL E AS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS
Para melhor facilitar a escrituração contábil da empresa, sua atuação é
dividida em exercícios, cada qual com a duração de um ano, sendo que a data de
início e término é fixada pelo seu estatuto social (art. 175 da Lei 6.404/76); assim, é
mais usual e comum estipular-se que o exercício social inicia-se em 1a de janeiro e
termina em 31 de dezembro do mesmo ano, mas podem-se fixar quaisquer outros
marcos desde que respeitado um ano civil (P. Ex: início do exercício em 8 de maio de
um ano e término em 7 de maio do ano seguinte). 4 Bens jurídicos materiais (coisas móveis ou imóveis) e imateriais (direitos pessoais com expressividade econômica, como marcas, patentes, etc).
4
Como em toda regra há uma exeção, nas hipóteses de constituição de uma
nova companhia e nos casos de alteração estatutária, abre-se espaço para
mudança do exercício social, que poderá ter duração diversa e não coincidente com
um ano, pois concluirá na data de término indicada no estatuto.
Sempre ao final do exercício social, a diretoria, atendendo à determinação do
art. 176 da Lei das S.A, fará elaborar demonstrações financeiras baseadas nas
escriturações mercantis da companhia; demosntrações estas obrigadas a revelar de
foma clara e prescisa a situação do patrimônio da companhia e as mudanças que
ocorreram ao longo daquele exercício.
A lei das Sociedades Anônimas define como cinco as demonstrações
financeiras obrigatórias:
1. balanço patrimonial;
2. demonstração dos lucros ou prejuízos acumulados;
3. demonstração do resultado do exercício;
4. demonstração dos fluxos de caixa; e
5. se companhia aberta, demonstração do valor adicionado.
Vale ressaltar, se a companhia for fechada, com património líquido, na data do
balanço, inferior a R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais) não será obrigada à
elaboração e publicação da demonstração dos fluxos de caixa, conforme preceitua
o art. 176, § 6º.
As demonstrações financeiras de uma companhia, devem-se apresentar de
forma comparativa, indicando também os valores correspondentes das
demonstrações do exercício anterior.
Tais demonstrações deverão apresentar-se, complementadas por notas
explicativas e outros quadros analíticos ou demonstrações contábeis necessários
para elucidação da situação patrimonial e dos resultados do exercício.
Cumpre observar, que estas notas devem obrigatoriamente indicar,
segundo o artigo 176, § 5º, da referida lei, (I) Os principais critérios de avaliação
dos elementos patrimoniais, especialmente estoques, dos cálculos de depreciação,
amortização e exaustão, de constituição de provisões para encargos ou riscos, e
dos ajustes para atender a perdas prováveis na realização de elementos do ativo;
(II) os investimentos em outras sociedades, quando relevantes (artigo 247,
parágrafo único); (III) o aumento de valor de elementos do ativo resultante de
5
novas avaliações (artigo 182, § 3º); (IV) os ônus reais constituídos sobre
elementos do ativo, as garantias prestadas a terceiros e outras responsabilidades
eventuais ou contingentes; (V) a taxa de juros, as datas de vencimento e as
garantias das obrigações a longo prazo; (VI) o número, espécies e classes das
ações do capital social; (VII) as opções de compra de ações outorgadas e
exercidas no exercício; (VIII) os ajustes de exercícios anteriores (artigo 186, § 1º);
(IX) os eventos subseqüentes à data de encerramento do exercício que tenham,
ou possam vir a ter, efeito relevante sobre a situação financeira e os resultados
futuros da companhia.
Quanto aos investimentos relevantes em outras sociedades (item II, acima),
estes são consideraros relevantes em sociedade coligada ou controlada, se o seu
valor contábil for igual ou superior a 10% do valor do património líquido da
companhia; também será considerado relevante o investimento se o valor contábil
for igual ou superior a 15% do valor do património líquido da companhia, porém
neste caso, deve se ater ao conjunto das sociedades coligadas e controladas.
Além disso, todas as escriturações da companhia deverão ser mantidas em
registros permanentes, obedecendo os preceitos da legislação comercial e a lei
6.404/76, além dos princípios contábeis aceitos geralmente, as demonstrações
financeiras deverão ser assinadas pelos administradores das sociedades e
contabilistas legalmente habilitados no conselho de classe competente, que as
escriturarão de maneira uniforme usando os mesmos métodos ou critérios contábeis
uniformes no tempo e registrar as mutações patrimoniais segundo o regime de
competência.
Caso haja modificação em algum exercício, com efeitos relevantes, deverá ser
indicada também em nota explicativa que ressaltará aqueles efeitos, corno exigido
pelo art. 177, § 1º, da Lei 6.404/76.
Havendo disposições de lei tributária ou de legislação especial sobre
atividade que constitui o objeto da companhia que conduzam à utilização de
métodos ou critérios contábeis diferentes ou à elaboração de outras
demonstrações não os eximem da obrigação de elaborar demonstrações
financeiras em consonância com o disposto no caput do art. 177, as quais
deverão ser alternativamente observadas mediante registro: (I) em livros
auxiliares, sem modificação da escrituração mercantil, ou (II) no caso da
elaboração das demonstrações para fins tributários, desde que sejam efetuados
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em seguida lançamentos contábeis adicionais que assegurem a preparação e a
divulgação de demonstrações financeiras observando caput do art. 177.
Quando se tratar de companhias abertas, deverá ser observadas as normas
específicas expedidas pela CVM5, pois tais demontrações devem ser elaboradas de
acordo com padrões internacionais de contabilidade adotados nos principais
mercados de valores mobiliários. O artigo 177, § 3a, demanda ainda que a
escrituração da companhia aberta, obrigatoriamente deve ser auditada por auditores
independentes devidamente registrados naquela Comissão.
OS RESULTADOS DO EXERCÍCIO SOCIAL
A demonstração segundo a qual registram-se os direitos (ativo) e as obrigações
(passivo) da companhia no exercício é o balanço patrimonial. Assim, visando facilitar
um melhor conhecimento e a análise da situação financeira da companhia, o
legislador determinou uma ordem classificatória das contas.
Por derradeiro, no ativo as contas são dispostas em grupos e ordem
decrescente de grau de liquidez por elementos nelas registrados: ativo circulante; ativo
realizável a longo prazo; ativo permanente (dividido em: dividido em investimentos,
imobilizado, intangível e diferido); no passivo, as contas serão classificadas nos
seguintes grupos: passivo circulante; passivo exigível a longo prazo; resultados de
exercícios futuros; património líquido (dividido em: capital social, reservas de capital,
ajustes de avaliação patrimonial, reservas de lucros, ações em tesouraria e
prejuízos acumulados).
Com relação aos saldos devedores e credores que a companhia não tiver direito
de compensar , estes serão classificados separadamente.
O património líquido da companhia, representa o encontro entre o ativo e o
passivo; se a empresa está deficitária (ativo menor do que o passivo), este valor será
negativo; ao contrário ocorrerá, se a companhia está superavitária, pois o ativo será
maior do que o passivo, havendo uma sobra patrimonial. Os elementos que
compõem o património líquido devem ter valor que, somando-se ao valor dos
demais grupos de contas do passivo (passivo circulante, passivo exigível a longo prazo
e resultados de exercícios futuros), alcance um valor total igual ao ativo, em seu
5 Comissão de Valores Mobiliários.
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somatório total, e com base nestas contas que será definido a existência, ou não, de
lucro a ser distribuído entre os acionistas.
Já o património social é dividido em:
1) capital social;
2) reservas de capital;
3) reservas de reavaliação;
4) reservas de lucros; e
5) lucros ou prejuízos acumulados.
Num primeiro momento, deve-se subtrair o capital social, uma vez que este ser
preservado; obviamente, deve ser separada a parcela ainda não realizada do capital
(ações subscritas, mas não inteiramente integralizadas), pois são valores que não
foram, ainda, disponibilizados para a companhia. Em seguida, se ainda for positivo
o valor, subtraem-se as reservas de capital, isto é, valores que ficarão reservados na
companhia – e em sua contabilidade – para fazer frente a eventualidades. Ainda há
valores que devem ser contabilizados como reservas de capital, conforme o art. 182, §
1a, da Lei 6.404/76, de:
1) a contribuição do subscritor de ações que ultrapassar o valor nominal e
a parte do preço de emissão das ações sem valor nominal que ultrapassar a
importância destinada à formação do capital social, inclusive nos casos de conversão
em ações de debêntures ou partes beneficiárias;
2) o produto da alienação de partes beneficiárias e bónus de subscrição;
São classificadas como reservas de lucros as contas constituídas pela apropriação
de lucros da companhia. Por fim, levam-se em conta os lucros ou os prejuízos
acumulados de exercícios anteriores.
Aferindo-se lucros ou prejuízos do balanço, estes deverão ser objeto de uma
demonstração específica: a Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA),
que parte do saldo do início do período, podendo incluir ajustes de exercícios anteriores,
ou seja, ajustes decorrentes de efeitos da mudança de critério contábil, ou da
retificação de erro imputável a determinado exercício anterior, e que não possam ser
atribuídos a fatos subsequentes.
Registre-se, que a Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados deverá
esclarecer as reversões de reservas (dinheiro que estava reservado e que volta a ser
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disponibilizado, podendo compensar prejuízos ou ampliar lucros a serem distribuídos
entre os acionistas), bem como o lucro líquido do exercício. Nesta mesma demostração
deverá conter de forma explicita os valores que foram transferidos para formação de
reservas, os dividendos que serão distribuídos entre os acionistas (indicando o montante
do dividendo por ação do capital social), eventual parcela dos lucros a ser incorporada
ao capital e o saldo ao fím do período.
De forma a facilitar a compreensão dos resultados das atividades das
companhias, deve ser elaborado a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), que
conterá (I) a receita bruta das vendas e serviços, as deduções das vendas, os abatimentos
e os impostos; (II) a receita líquida das vendas e serviços, ó custo das mercadorias e
serviços vendidos e o lucro bruto; (III) as despesas com as'vendas, as despesas
financeiras, deduzidas das receitas, as despesas gerais e administrativas e outras
despesas operacionais; (IV) o lucro ou prejuízo operacional, as receitas e despesas
não operacionais; (V) o resultado do exercício antes do Imposto sobre a Renda e a
provisão para o imposto; (VI) as participações de debêntures, de empregados e
administradores, mesmo na forma de instrumentos financeiros, e de instituições
ou fundos de assistência ou previdência de empregados, que não se caracterizem
como despesa; e (VII) o lucro ou prejuizo líquido dal exercício e o seu montante por
ação do capital social.
No final, explica-se as origens dos recursos que circularam pela companhia
e a sua aplicação, e para isso, elabora-se a Demonstrações dos Fluxos de Caixa e do
Valor Adicionado (DFCVA), objeto das disposições do art. 188 da Lei 6.404/76. As origens
dos recursos deverão ser agrupadas em: (I) demonstração dos fluxos de caixa com
as alterações ocorridas, durante o exercício, no saldo de caixa e equivalentes de
caixa, segregando-se essas alterações em, no mínimo, 3 (três) fluxos: (das
operações; dos financiamentos; e dos investimentos; (II) demonstração do valor
adicionado, o valor da riqueza gerada pela companhia, a sua distribuição entre os
elementos que contribuíram para a geração dessa riqueza, tais como empregados,
financiadores, acionistas, governo e outros, bem como a parcela da riqueza não
distribuída; (III) o excesso ou insuficiência das origens de recursos em relação às
aplicações, representando aumento ou redução do capital circulante líquido; (IV) os saldos, no início e no fim do exercício, do ativo e passivo circulantes, o
montante do capital circulante líquido e o seu aumento ou redução durante o
exercício.
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Em todos os casos, todas demonstrações financeiras deverão registrar as
destinações dos lucros segundo a proposta dos órgãos da administração, no
pressuposto de sua aprovação pela assembleia geral.
OS LUCROS E AS RESERVAS DO PERÍODO
Se no exercício tiver prejuízo por resultado, este será absorvido pelos lucros
acumulados, pelas reservas de lucros e pela reserva legal, necessariamente nessa ordem.
Por outro prisma, se o resultado é superavitário (lucro), o art. 189 da Lei
6.404/76 exige, em primeiro lugar (e antes de qualquer participação), sejam
deduzidos os prejuízos acumulados e a provisão para o Imposto sobre a Renda. O passo
seguinte, será determinar as participações estatutárias de empregados, administrado-
res e partes beneficiárias, conforme o art. 190.
Contudo, tais pagamentos somente poderã se efetivar à conta de lucro líquido do
exercício, de lucros acumulados e reserva de lucros; somente as ações preferenciais com
direito a dividendo fixo podem ser pagas à conta de reserva de capital.
O Lucro líquido, será considerado se haver saldo positivo, devendo os órgãos da
administração da companhia apresentar à assembleia geral ordinária, juntamente com
as demonstrações financeiras do exercício, proposta sobre a destinação a ser dada a este
e a qual deve respeitar alguns preceitos normativos obrigatórios, dispostos nos artigos
193 a 203 da Lei 6.404/76 e no estatuto da companhia.
Assim, 5% do lucro líquido do exercício serão aplicados, antes de qualquer outra
destinação, na constituição de uma reserva legal, que não excederá 20% (vinte por
cento) do capital social; essa reserva legal tem objetiva assegurar a integridade do capital
social e somente será utilizada para compensar prejuízos ou aumentar o capital.
De toda maneira, por disposição do art. 200, as reservas de capital somente
poderão ser utilizadas para (I) absorção de prejuízos que ultrapassarem os lucros
acumulados e as reservas de lucros; (II) resgate, reembolso ou compra de ações;
(III) resgate de partes beneficiárias; (IV) incorporação ao capital social; e (V)
pagamento de dividendo a ações preferenciais, quando essa vantagem lhes for
assegurada. Mas é possível que a reserva constituída com o produto da venda de
partes beneficiárias seja destinada ao resgate desses títulos.
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O art. 198 da Lei das Sociedades Anónimas veda destinação dos lucros para
constituição de reservas ou a retenção de lucros para realização conforme orçamento
previamente aprovado, quando implique prejuízo à distribuição de dividendos
obrigatórios. Com isso, cria-se uma proteção aos preferencialistas, que também
reflete sobre art. 197, ao permitir a utilização de reserva de lucros a realizar para
pagamento dó dividendo obrigatório, e para nada mais.
Conforme preceituado no art. 199 da Lei 6.404/76, não há permissão para que
o saldo de reservas de lucros ultrapasse o capital social, executado quando se trate de
reserva (designadamente as provisões) para contingências determinadas (como
provisão para créditos de liquidação duvidosa, provisão para ajuste de estoques,
provisão para décimo terceiro, provisão para férias, provisão de comissões etc.), bem como
a reserva de lucros a realizar.
Quando o saldo de reservas atingir valor igual ou superior ao capital social, a
assembleia deliberará sobre a aplicação do excesso na (I) integralização de ações, se
ainda as há por integralizar, no (II) aumento do capital social ou (III) na distribuição
de dividendos. É necerrário tais medidas, pois ocorrendo constituição
indiscriminada de reservas poderá criar-se uma distorção económica, jurídica e
contábil; o que seria altamente lesivo aos interesses dos acionistas minoritários.
DOS DIVIDENDOS
Ao investirem na companhia, na constituição de seu património social, os
acionistas esperam aferir lucro, ou seja, objetivam obter uma remuneração da
pecúnia investida: dinheiro que se alocou para a produção de mais dinheiro.
Para que haja tal remuneração, é necessário que a empresa logre sucesso na
realização de sua finalidade, isto é, que consiga na realização do objeto social
determinar um quadro de superávit, que será detectado como património líquido
positivo
Por conseguinte, o art. 202, § 6º, da Lei 6.404/76 determina que os lucros que
não forem destinados à reserva legal, às reservas estatutárias, à retenção de lucros e
às reservas de lucros a realizar deverão ser distribuídos como dividendos. Assim, a
distribuição de dividendos é compreendida no âmbito do princípio jurídico da
conservação da empresa.
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Desse modo, há um especial cuidado para que a distribuição de dividendos se
faça a partir do que sobra (o superávit), do sobrevalor produzido nas atividades
econômicas da companhia, sendo que sua distribuição entre os acionistas não pode
concretizar-se em detrimento do capital investido, que se mantém alocado no
patrimônio especializado da empresa, com o objetivo de conservar-lhe a existência até
uma eventual dissolução.
A norma do art. 201 da Lei das Sociedades Anônimas corrobora para a afirmação
dos fatos acima, ao permitir que à companhia pague dividendos à conta de lucro líquido do
exercício somente de lucros acumulados e de reserva de lucros. Entretanto, se houver casos
em que há distribuição de dividendos desobedecendo a tais regras, os administradores e
fiscais responderão solidariamente pela reposição à caixa social a importância
distribuída, sem prejuízo da ação penal que no caso couber.
Todavia, os acionistas não estão obrigados a restituir os dividendos que em boa-fé
tenham recebido, como estabelecido no § 2a do art. 201, mas o mesmo dispositivo
presume a má-fé quando os dividendos forem distribuídos sem o levantamento do
balanço ou em desacordo com os resultados deste.
DOS DIVIDENDOS OBRIGATÓRIOS
Como já discorrido acima, o art. 202 assegura aos acionistas o direito de receber
como dividendo obrigatório, em cada exercício, a parcela dos lucros estabelecida no
estatuto.
Ademais, segundo o § 1a do referido artigo, é possível que o estatuto estabeleça o
dividendo como porcentagem do lucro ou do capital social, ou fixar outros critérios para
determiná-lo, desde que sejam regulados com precisão e minúcia e não sujeitem os
acionistas minoritários ao arbítrio dos órgãos de administração ou da maioria.
Caso haja alguma omissão estatutária, deve-se aplicar a regra legal para garantir
o recebimento de metade do lucro líquido do exercício diminuído da importância
destinada à constituição da reserva legal e da importância destinada à formação da
reserva para contingências e acrescer os valores resultante da reversão da mesma reserva
formada em exercícios anteriores.
A omissão acima descrita pode ser sanada alterando-se o estatuto social para
introduzir norma sobre a matéria, mas tal situação é limitada pelo arbítrio da
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assembleia geral, que não pode estipular dividendo obrigatório que seja inferior a 25% do
lucro líquido, diminuído da importância destinada à constituição da reserva legal e da
importância destinada à formação da reserva para contingências e acrescido dos valores
que resultem da reversão da mesma reserva formada em exercícios anteriores., tudo isso
de acordo com o art. 202, § 2a.
Há ainda, a possibilidade de limitar o pagamento do dividendo ao montante do
lucro líquido do exercício que tiver sido realizado, é o que preconiza o inciso II do artigo
202.
O legislador permitiu essa limitação do montante do lucro líquido aos valores já
realizados, embora para tanto seja necessário registrar a diferença como reserva de lucros
a realizar; mantendo-se como parte do património líquido, mas preservado o cálculo do
lucro destinado à distribuição entre os acionistas, uma vez que as operações são
contabilizadas segundo o tempo de sua ocorrência. Os valores que foram registrados na
reserva de lucros a realizar, deverão ser acrescidos ao primeiro dividendo declarado após
a realização, se não tiverem sido absorvidos por prejuízos verificados no exercício
subsequente.
A constituição das reservas estatutárias, reservas para contingências, re-
tenção de lucros e reservas de lucros a realizar não prejudicará o direito dos
acionistas preferenciais de receber os dividendos fixos ou mínimos a que tenham
prioridade, inclusive os atrasados, se cumulativos6, haja vista que é essa a regra
inscrita no art. 203 da Lei das Sociedades Anônimas.
Contudo, no exercício social em que os órgãos da administração informarem
à assembléia geral ordinária ser a distribuição de dividendos incompatível com a
situação financeira da companhia, não será ela obrigatória, e para validar esse
procedimento é exigido um parecer do conselho fiscal sobre essa informação; quando
se tratar de companhia aberta, os administradores deverão encaminhar à CVM no
prazo de cinco dias da realização da assembléia geral, expondo de forma justificada
as informações transmitidas à assembláia. Tal subterfúgio, inscrito no art. 202, §
4º, afirma a necessidade de registro como reserva especial dos lucros que deixarem
de ser distribuídos e o dever de pagá-los como dividendo assim que o permitir a
situação financeira da companhia.
O pagamento dos dividendos deverá ser feito aquala pessoa que na data do
ato de declaração do dividendo for a proprietária ou usufrutuária das ações.
6 Que não foram pagos, face à ausência de lucro no exercicio anterior.
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Tal pagamento, poderá ser feito por cheque nominativo remetido por via
postal para o endereço comunicado pelo acionista à companhia ou mediante crédito
em conta corrente bancária aberta em nome do acionista; quando se tratar de
ações em custódia bancária ou em depósito, os dividendos devem ser pagos pela
companhia à instituição financeira depositária, que por sua vez será a responsável
pela entraga aos titulares das ações depositadas.
O dividendo deverá ser pago, salvo deliberação em contrário da assembléia
geral, no prazo de 60 dias da data em que for declarado e, em qualquer caso,
dentro do exercício social.
BIBLIOGRAFIA
CARVALHOSA, Modesto. Comentários à lei de sociedades anônimas: volume 3: artigos 138 a 205. 3. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2003. 824p. ISBN 8502040618. MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro: volume 2: direito societário: sociedades simples e empresárias. São Paulo: Atlas, 2004. 673p. ISBN 8522438978. MARTINS, Fran. Curso de direito comercial. 31. ed. rev., atual. e ampl. conforme a Lei nº 1 Rio de Janeiro: Forense, 2007. 494 p. ISBN 9788530925598. SOCIEDADES ANÔNIMAS, Lei das. Dispõe sobre as Sociedades por Ações: Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6404consol.htm> Acesso em: 31 out. 2008.
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