View
93
Download
8
Category
Preview:
DESCRIPTION
Mais 40 pautas musicais, do CANTE, algumas, claro, já repetidas, a enriquecer o acervo de mais de 750 já recolhidas e divulgadas a pedir mais trabalho de selecção e digitalização musical...
Citation preview
AS MODAS / PAUTAS
in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA Coordenao Distrital de Beja
Ministrio da Cultura Direco-Geral da Educao de Adultos
Arranjo grfico das pautas de msica: Paulo Barreto
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
2
Digitalizao de Pautas de Msica https://www.youtube.com/watch?v=Rhl98H6nyns
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
3
AS MODAS / PAUTAS
IN LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
Coordenao Distrital de Beja Ministrio da Cultura
Direco-Geral da Educao de Adultos Arranjo grfico das pautas de msica: Paulo Barreto
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
4 FICHA TCNICA: Ttulo -- AS MODAS / PAUTAS, in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA Digitalizao e organizao Jos Rabaa Gaspar Crditos: Ablio Perptua Raposo, Manuel Viegas Guerreiro, Antnio Machado Guerreiro Ministrio da
Educao e Cultura Direco-Geral da Educao d Adultos Coordenao Distrital de Beja, 1987
Local Corroios Data -- 2015 07
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
5
dedicatria
A todos os Amantes do CANTE
que, agora e no futuro, puderem e quiserem
estudar e fundamentar as razes deste
PATIMNIO da HUMANIDADE
Desde 2014, Novembro
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
6
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
7
apresentao
para ir permitindo tentar ir completando
o imenso acervo musical do CANTE
alm das mais de setecentas PAUTAS MUSICAIS
j digitalizadas e divulgadas
aqui apresento mais QUARENTA
algumas so repetidas, como acontece com as que j foram divulgadas
fica o desafio para que se possam detectar as que foram copiadas e repetidas
e o grande desafio aos mais capazes para que possam se digitalizadas para udio
como j acontece com o notvel trabalho que pode ver / ouvir:
http://wencesmc.web.interacesso.pt/delgado1.htm#Acom
ABRAO:
Jos Rabaa Gaspar
Corroios
2015 07
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
8 NDICE
Texto de: Guadalupe de F. M. Apolinrio Palma, ...............................................................11
Nota de: Ablio Perptua Raposo .......................................................................................11
01 AO ROMPER DA BELA AURORA ......................................................................................13
02 ERVA CIDREIRA ............................................................................................................14
FUI COLHER MARCELA ........................................................................................................15
FUI COLHER UMA ROM ....................................................................................................15
RAMA, QUE UNDA RAMA ............................................................................................16
TRIGUEIRINHA ....................................................................................................................16
03 OLIVEIRINHA DA SERRA ..................................................................................................17
04 AO PASSAR A RIBEIRINHA ...............................................................................................18
A RIBEIRA VAI CHEIA ...........................................................................................................19
ENTO, PORQUE NO, PORQUE NO? ..............................................................................19
MENINA DA SAIA BRANCA..................................................................................................19
VILA NOVA DE FERREIRA ....................................................................................................20
05 AI QUE PRAIAS ................................................................................................................21
06 J MORREU QUEM ME LAVAVA .....................................................................................22
07 A ROUPA DO MARINHEIRO .............................................................................................23
08 VAI COLHER A ROSA .......................................................................................................24
09 LISBOA, LINDA LISBOA ....................................................................................................25
10 PASSARINHO PRISIONEIRO .............................................................................................26
11 RAMA ..........................................................................................................................27
12 ROSA BRANCA DESMAIADA ............................................................................................28
13 A ROUPA DO MARINHEIRO .............................................................................................29
14 STAVA DE ABALADA .......................................................................................................30
Outra variante recolhida e publicada pelo P. Marvo ........................................................31
15 TODA A BELA NOITE .......................................................................................................32
16 MINHA ME, MINHA ME ...........................................................................................33
AS CEIFEIRAS ......................................................................................................................34
17 ADEUS, MARIANITA, ADEUS ...........................................................................................35
18 ADEUS, VILA DE SERPA ................................................................................................36
AURORA TEM UM MENINO ................................................................................................37
BARCO VELA ....................................................................................................................37
19 CARMEZITA, CARMEZITA ................................................................................................38
20 O CERRO DA NEVE ..........................................................................................................39
CHAMASTE-ME EXTRAVAGANTE ........................................................................................39
21 DIZES QUE SOU LAVADEIRA ............................................................................................40
22 EU FUJO ..........................................................................................................................41
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
9
23 EU OUVI, MIL VEZES OUVI ..............................................................................................42
24 EU OUVI UM PASSARINHO .............................................................................................43
25 EU SOU MARUJINHO, EU SOU ........................................................................................44
H LOBOS SEM SER NA SERRA ...........................................................................................45
26 L VAI O BALO AO AR ...................................................................................................46
27 A MACELA .......................................................................................................................47
MARIANITA FOI FONTE ...................................................................................................48
MELANCOLIA DOS CAMPOS ...............................................................................................48
28 MANINA ESTS JANELA ...............................................................................................49
MEU LRIO ROXO ................................................................................................................50
MEU LRIO ROXO DO CAMPO .............................................................................................50
MONDADEIRA ALENTEJANA ...............................................................................................51
29 NO TARDE NEM CEDO ............................................................................................52
NO QUERO QUE VAS A MONDA .......................................................................................53
30 NASCE O SOL NO ALENTEJO ...........................................................................................54
31 DE NOITE BATEM PORTA .............................................................................................55
OLHA A NOIVA SE VAI LINDA! .............................................................................................56
32 OS OLHOS DA MARIANITA ..............................................................................................57
33 ROSA BRANCA DESMAIADA ............................................................................................58
QUE PRAIAS TO LINDAS ....................................................................................................59
34 SERPA DO ALENTEJO.......................................................................................................60
35 TANTAS LIBRAS ...............................................................................................................61
TENHO BARCO, TENHO REMOS ..........................................................................................62
36 TINHAS-ME TANTA AMIZADE .........................................................................................63
TRIGUEIRINHA ALENTEJANHA ............................................................................................64
TRISTE VIUVINHA................................................................................................................64
UMA FLOR QUE ABRIU EM MAIO .......................................................................................65
37 VAI COLHER A SILVA .......................................................................................................66
VAMOS L SAINDO .............................................................................................................67
38 VERDE CARACOL .............................................................................................................68
39 AO PASSAR A RIBEIRINHA ...............................................................................................69
[NOSSA SEMHORA DE AIRES] .............................................................................................70
O CANTE AO DESPIQUE ......................................................................................................71
40 DESPIQUE EU TENHO OUVIDO DIZER ..........................................................................73
Nota: S os ttulos numerados tm pauta musical
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
10
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
11
Da introduo de: AS MODAS, pp. 183 e 184
Texto de: Guadalupe de F. M. Apolinrio Palma, Professora destacada no C. E. B. do C. C. P. em Serpa.
Aqui, neste Alentejo sem sombras, de searas ondulantes, onde o po tem o sabor do suor de quem trabalha, h um povo que sente. E porque sente criou uma forma de cantar que, se no a mais bela, das mais belas do nosso pas. O cantar deste povo carrega consigo todo o labor do seu dia-a-dia. A dolncia com que os corais o interpretam est intimamente ligada com a vida do homem trabalhador. Na imensido da plancie... O cansao, o calor ardente do sol de Agosto ou a fria geada de Janeiro, a dor de trabalhar todos os dias e a vida acabar em nada: A luta pelo po, pela sobrevivncia e... que mais? No de estranhar que o canto alentejano seja dolente; ele o reflexo do cansao de quem o faz viver. Quem escreveu os poemas que o Alentejo canta? Quem os musicou e obteve melodias to belas? No procuremos nos meios intelectuais, no foi l que eles nasceram. Mas no seio deste povo que, na sua maioria analfabeto, tem consigo o dom natural de saber olhar a natureza e cant-la. Quando nasceu o canto alentejano? Que fontes o inspiraram? Eis duas perguntas j inmeras vezes feitas por inmeras pessoas e para as quais ainda no se conseguiram respostas concretas e que nos possam dar uma referncia exacta. A sua antiguidade recua tanto no tempo que no permite que se conhea com rigor a sua verdadeira origem. Existe a hiptese de que estes cantares tenham sofrido uma certa influncia rabe. H ainda quem defenda uma certa influncia da pera italiana no sculo XVIII e ainda a hiptese de vestgios do canto eslavo, fundamentada numa pretensa existncia de famlias russas nas colnias de fencios que estiveram no litoral sul da costa portuguesa (Apontamentos do Sr. PaIma). No folclore alentejano s se encontram dois tipos de cantares: -- A moda ou estribilho -- A cantiga (quadra que -se mete na moda. Os poemas que inspiram o cantar do povo tm a sua essncia no quotidiano: o trabalho do campo, a natureza e a relao existente entre os diversos elementos que a compem: o amor, a saudade... Umas vezes cada um destes temas aparece isolado mas, na sua maioria, conjugam-se, como se conjuga tudo o que forma a vida. Procurar mais palavras para definir esta manifestao deste povo seria um alongar (quem sabe!) desnecessrio. Vamos, pois, apreciar a alma deste povo, atravs da sua voz...
Texto de: Guadalupe de F. M. Apolinrio Palma, Professora destacada no C. E. B. do C. C. P. em Serpa.
Da introduo de: AS MODAS, pp. 185 e 186
Nota de: Ablio Perptua Raposo
Permitimo-nos acrescentar muito pouco ao que a professora de Serpa lucidamente e apaixonadamente exps. Seja, por exemplo, podermos afirmar que as modas alentejanas sofreram durante dcadas a incompreenso de muita gente (h povoaes onde foi proibido, ou pelo menos quase proibido, os grupos cantarem), e que ultimamente, por felicidade e por justia, h um renovar de interesse por este modo de expresso. Sabemos da criao recente de alguns grupos corais (Alccer do Sal, Colos, Amoreiras, Baixa da Banheira); sabemos, pela voz de Michel Giacometti, que h nos arredores de Lisboa 22 grupos corais alentejanos e que tambm os h pelo mundo que os alentejanos povoam (Frana, Alemanha, Luxemburgo, Sucia, Sua, Estados Unidos). O alentejano leva com ele o seu cantar mais querido, porque lhe lembra a terra, a famlia, os amigos, porque lhe vai na alma, e talvez porque, embora inconscientemente, sinta que em nenhuma outra parte do mundo seu conhecido encontra a arte melodiosa do seu cante, ao mesmo tempo singelo e profundo -- e que, segundo a opinio de estudiosos, no tem igual no mundo e apenas encontra algum paralelismo em certas reas da extensa Rssia.
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
12 Acrescentaremos ainda um pormenor: o que h de extraordinrio e maravilhoso em ouvir a execuo duma moda cantada por um grupo de homens que no conhecem uma nota de msica, que desconhecem a mais simples e rudimentar noo tcnica de harmonia, entoando na perfeio, com recolhimento e entusiasmo, a melodia que no tem pauta! Quem os ensinou? Ningum. Aquele cantar instintivo. E natural. E belo. Registamos tambm uma opinio do PF Antnio Marvo, expressa em O Canto Popular Alentejano, Arquivo de Beja, IV, 1947: Entre os centros onde bem se cultivam as nossas modas, tem para ns um valor muito especial a Peroguarda, no porque no conjunto de vozes, na afinao ou na execuo, se avantaje a Serpa, Amareleja ou Aldeia Nova; o que verdadeiramente nos impressiona a toadilha das vozes, que mais parecem gemidos plangentes, tomando a cadncia final de cada moda um volume especial e surpreendente. Ilustram-se algumas modas com a respectiva pauta musical. No obtivemos mais, e foi pena. Parte delas so muito antigas. bom assim, para que o antigo no se perca. Quanto ao moderno, h boas perspectivas de que se v multiplicando. Repetimos as palavras finais da Professora Guadalupe Palma: Vamos, pois, apreciar a alma deste povo, atravs da sua voz...
Nota de: Ablio Perptua Raposo
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
13
01 AO ROMPER DA BELA AURORA
AO ROMPER DA BELA AURORA Moda Ao romper da bela aurora, Sai o pastor da choupana; Vai dizendo, em altas vozes, Muito padece quem ama. Muito padece quem ama, Muito mais de quem namora; Sai o pastor da choupana, Ao romper da bela aurora. Beringel Palavras do P. Antnio Marvo, de quem tambm a transcrio no Arquivo de Beja IV, 1947: para ns uma das mais castias modas alentejanas e das de maior valor quanto a antiguidade.
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
14 02 ERVA CIDREIRA
MODA
erva cidreira Quests na varanda, Quanto mais se rega, Trai-la-rai Mais a folha abranda Ai, Ai.
Mais a folha abranda Mais a folha cheira Quests na varanda, Trai-la-rai erva cidreira Ai, Ai.
Com esta melodia recolhida em So Matias, com a letra: Erva cidreira, confrontemos esta outra, de Amareleja e vejamos a diferena que entre ambas existe:
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
15
FUI COLHER MARCELA
Moda Eu fui colher marcela, Da marcela marcelinha, L nos campos, verdes campos, Daquela mais miudinha. Daquela mais miudinha, Daquela mais amarela, L nos campos, verdes campos, Eu fui colher a marcela. Castro Verde Nota do colector: Esta cantiga a mais popular dos mastros de S. Joo e S. Pedro
FUI COLHER UMA ROM
Cantiga Muito gosto eu de ouvir Uma bonita conversa. Mesmo que vagar no tenha, Logo se me acaba a pressa. Moda Fui colher uma rom, Estava madura no ramo. Fui encontrar no jardim Aquela mulher que eu amo. Aquela mulher que eu amo, Dei-lhe um aperto de mo. Estava madura no ramo E o ramo caiu no cho. Castro Verde Tambm cantada nos mastros.
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
16
RAMA, QUE UNDA RAMA Cantiga Por baixo das oliveiras No se pode namorar, Que as folhas so miudinhas, No deixam passar o ar. Moda rama, que linda rama, A rama da oliveira. O meu par o mais lindo Que anda aqui na roda inteira. Que anda aqui na roda inteira, Aqui, e em qualquer lugar, O rama, que linda rama, A rama do olival. Castro Verde
TRIGUEIRINHA Cantiga olhos azuis, Que j foram meus. Agora so doutro... Agora so doutro... (1) Pacincia. Adeus. Moda Trigueirinha de raa, Quem te fez assim, Ceifando os trigais, Ouvindo os pardais, Com pena de mim? Eu por ti cantando, Alegre e chorando, Sem ter um desejo. Linda trigueirinha, Linda alentejana. D c um beijo. Castro Verde (1) A estrutura desta moda um tanto estranha A cantiga uma quadra a que se repete um verso, para perfazer a quintilha, medida, alis, pouco vulgar nas modas; isso no impossvel. O que se estranha a que, na prpria moda, uma estrofe seja em quintilha e a outra em sextilha. Haveria lapso do informador?
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
17
03 OLIVEIRINHA DA SERRA
Moda Oliveirinha da serra, D-lhe o vento, abana a rama. L no stio mais escuro E que eu fao a minha cama. que eu fao a minha cama, Na manh de Primavera. D-lhe o vento, abana a rama, Oliveirinha da serra. (1) Ferreira do Alentejo. A transcrio da msica e da letra do P. Marvo, ob. cit. (1) Por nos parecer significativo das transformaes que as modas podem sofrer, transcrevemos a letra da moda cantada em Colos com o mesmo ttulo: Oliveirinha da serra, O vento leva a flor. -i--ai. S a mim ningum me leva (bis) -i--ai, Para ao p do meu amor.
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
18 04 AO PASSAR A RIBEIRINHA
Moda Ao passar a ribeirinha, Pus um p, molhei a meia. No casei na minha terra, ai, Fui casar em terra alheia. Fui casar em terra alheia E no fui casar na minha. Pus um p, molhei a meia, ai, Ao passar a ribeirinha. Peroguarda Transcrio de letra e de msica do P. Marvo, trabalho citado. (1) Veja-se adiante a mesma moda cantada na Vidigueira.
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
19
A RIBEIRA VAI CHEIA
Moda A ribeira vai cheia E o barco no anda. Tenho o meu amor L daquela banda. L daquela banda, Eu c deste lado; A ribeira vai cheia E o barco parado. Ferreira do Alentejo
ENTO, PORQUE NO, PORQUE NO?
Moda Ento, porque no, porque no? Ento, porque no hei-de ir? A ladeira do castelo alta, m de subir. E alta, m de subir, E alta m de baixar. J morreu o meu amor, J no h quem saiba amar. (bis) Peroguarda
MENINA DA SAIA BRANCA
Moda Menina da saia branca Foi passar ao apeadeiro; Apertou a mo ao chefe, Pensando que era solteiro. Pensando que era solteiro... Enganou-se. Era casado. Menina da saia branca, Do cachin encarnado. Peroguarda
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
20
VILA NOVA DE FERREIRA
Moda Vila Nova de Ferreira Tem uma fonte entrada, No como a de Almodvar; Que bebe gua enxovalhada. Bebe gua enxovalhada Para no morrer sede. No a vilas que eu mais goste Que de Ourique e Castro Verde. Que e de Ourique e Castro Verde, No falando na Salvada. Para no morrer sede Bebe gua enxovalhada. Bebem gua enxovalhada, Toda cheia de poeria. Tem uma fonte entrada Vila Nova de Ferreira. Ferreiro do Alentejo Cantava-se em Colos esta moda, com algumas variantes na letra, h mais de 50 anos. (1986) Repare-se que das poucas modas com quatro quadras na letra e que, de quadra para quadra h apenas uma dobra: o ltimo verso da quadra o primeiro da quadra que se lhe segue.
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
21
05 AI QUE PRAIAS
Moda Ai que praias to lindas, to belas, Era meia-noite, eu estava a sonhar, Assentado num barco, mais elas, Namorando ao fresco luar. Amareleja. Nota do P Marvo, ob. cit.: uma das mais conhecidas e mais cantadas no Alentejo. O oitavo compasso apresenta-nos um exemplo de trs vozes, constitudas pelo alto, segundas vozes e baixo. Este raras vezes aparece (...). A transcrio da letra e da msica so tambm do mesmo autor, no mesmo artigo.
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
22 06 J MORREU QUEM ME LAVAVA
Moda J morreu quem me Iavava, Minha rica Iavadeira! Deixava a roupa de neve, Naquela fresca ribeira. Amareleja, Transcrio de letra e msica do P.A. Marvo, art. citado.
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
23
07 A ROUPA DO MARINHEIRO
Moda A roupa do marinheiro No lavada no rio: lavada no mar alto, sombra do seu navio. sombra do seu navio, sombra do seu vapor. No lavada no rio A roupa do meu amor. Amareleja Transcrio de letra e msica do P. Marvo, art. citado.
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
24 08 VAI COLHER A ROSA
Moda Vai colher a rosa, Vai colh-la, vai, Se ela te picar, No digas ai, ai. No digas ai, ai, No dias ai, ui; Vai colher a rosa, Vai, que eu tambm fui. Amareleja. Recolha de letra e msica do P.' A. Marvo, trabalho citado. Nota: Na dcada de 30 cantava-se esta moda em Colos, mas com certas diferenas. No temos a msica, mas a letra mostra-as: Vai panh-Ia rosa. Vai panh-la vai, Se ela te picar No digas ai, ai. E ora vai. E ora vai. No digas ai, ai, No digas, ui, ui, Vai panh-la rosa, Vai. que eu tambm fui.
No fim do sculo passado cantava-se em Serpa ainda de outra maneira, como adiante se pode verificar.
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
25
09 LISBOA, LINDA LISBOA
Recolha de A. Machado Guerreiro
Transcrio de Francisco Antunes Domingos Cantiga Nem de chorar sou senhor, Que me procuram por qui. Choro de noite, na cama; s escuras ningum vi. Moda Lisboa, linda Lisboa, s a nossa capital, Donde embarcam-nos soldados Prs terras do Ultramar. Prs terras do Ultramar, Deixando esta vida boa. s a nossa capital, Lisboa, e linda Lisboa. Colos, 1963
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
26 10 PASSARINHO PRISIONEIRO
Recolha de A. Machado Guerreiro
Transcrio de Francisco Antunes Domingos Cantiga Toma l meu corao; Se o queres matar, podes. Olha que ests dentro dele, Se o matas tambm morres. Moda Passarinho prisioneiro, Diz-me l quem te prendeu. Pela tua liberdade Eu, cantando, peo a Deus. Eu, cantando, peo a Deus Pra livrar teu cativeiro. Diz-me l quem te prendeu, Passarinho prisioneiro. COLOS, 1963
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
27
11 RAMA
Moda rama, oh que linda rama, rama da oliveira! O meu par o mais lindo Que anda aqui, na brincadeira. Que anda aqui, na brincadeira, mentira, no tai. rama, oh que linda rama, rama do olival. Colos. O P. Marvo publicou esta recolha em 1947. Obteve-a. Portanto, antes. A letra que, recentemente, obtivemos em Castro Verde tem pequenas diferenas e , segundo nos parece. a que os profissionais da cano utilizam e a radiodifuso e a televiso difundem. Repare-se que a antiga, que pensamos ser e do povo, rima oliveira com brincadeira e mentira. no tal com a rama do olival. A mais recente, nos mesmos lugares, tem oliveira e roda inteira, lugar a rimar com olival. Ressalvando a nossa ignorncia na matria, atrevemo-nos a pensar que a verso moderna no beneficiou nem a rima nem a harmonia. Caso semelhante se verifica nas diferenas da moda Ao passar a ribeirinha, isto . a forma tradicional no beneficia nada com o arranjo da forma moderna. Se, como pensamos, se trata de intromisso da msica erudita na msica antiga. Tradicional, popular, perece-nos que seria desejvel que a intromisso no se alargasse a outras modas alentejanas.
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
28 12 ROSA BRANCA DESMAIADA
Recolha de A. Machado Guerreiro
Transcrio de Francisco Antunes Domingos Cantiga No me inveja de quem tem Carros, parelhas e montes. S me inveja de quem bebe gua de to boas fontes. Moda Rosa branca, desmaiada, Onde deixastes o cheiro? Deixei-o no teu jardim, A sombra do limoeiro. sombra do limoeiro, Onde no seja regada. Onde deixastes o cheiro, Roda branca, desmaiada?
Colos, 1963
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
29
13 A ROUPA DO MARINHEIRO
Recolha de A. Machado Guerreiro
Transcrio de Francisco Antunes Domingos
Cantiga Q cantar parece bi, E uma coisa bonita, No empobrece ningui, Assim como no enrica. Moda A roupa do marinheiro No lavada no rio: lavada no mar alto, A sombra do seu navio. A sombra do seu navio, A sombra do seu vapor. No lavada no rio A roupa do meu amor.
Colos. 1933 Pode comparar-se com a verso da Amareleja.
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
30 14 STAVA DE ABALADA
Recolha de A. Machado Guerreiro
Transcrio de Francisco Antunes Domingos
Cantiga Quando eu no tinha, Desejava ter Uma hora, no dia, Meu bem, pra te ver. Moda 'Stava de abalada L pr meu montinho; Saiu-me uma rosa Danando caminho. Como ela linda, Como formosa; Danando, caminho, Saiu-me uma rosa.
Colos, 1963
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
31
Outra variante recolhida e publicada pelo P. Marvo
Moda 'Stava de abalada L pr meu montinho; Saiu-me uma rosa Danand caminho. Como era linda, Como era formosa; Danand caminho, Saiu-me uma rosa.
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
32 15 TODA A BELA NOITE
Cantiga alta faia sombria, Se vires passar meu bem, Diz-lhe qu'eu sou amado, Mas no lhe digas de quem. Moda Toda a bela noite eu 'stive Com o pensamento em ti; S tu, agora, meu amor, J te no lembras de mim.
Colos. Recolha do P. Marvo, ob. cit
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
33
16 MINHA ME, MINHA ME [(Gravao obtida posteriormente (1963)]
Cantiga minha me, minha me, minha me, minha amada: Quem tem uma me tem tudo, Quem no tem me no tem nada. Moda Toda a bela noite que eu ando, Lindo amor, pensando em ti. S tu, ingrata, amante doutro, No te recordas de mim. No te recordas de mim, Nem de mim te recordais (1). Toda a bela noite que eu ando Dando suspiros e ais. (1) Nem Colos, nem todo o Baixo Alentejo usa a segunda pessoa do plural. O emprego dela, aqui, significa que a letra est deturpada. Antigamente estes trs ltimos versos, eram: J te no lembras, no, no / Toda a bela noite que eu ando / Pensando em teu corao.
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
34
AS CEIFEIRAS
A seara longe, Vamo-nos embora. J no tarda muito O raiar d'aurora. A seara dana Ao sabor do vento E faz ondas d'oiro No seu movimento. J esta na hora. Vamos comear. Como bela a arte De saber ceifar! Da terra fecunda Ceifamos o po Que os homens cultivam Com dedicao. O Sol vai a pino, Queima-nos o rosto. J escorre o suor. Quem dera o sol-posto! So um grande alvio, Na tarde deserta, As nossas enfusas, Quando a sede aperta. E, ao pr-do-sol. Que grande alegria! Da faina da ceifa Passou mais um dia. Voltamos a casa, De foices no brao. E as balsas transportam O nosso cansao.
Cano alegre, de acordeo, estreada pelo Grupo ORIGEM Maria Joaquina Rebelo Rosa, 18/2/1981, Panias
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
35
17 ADEUS, MARIANITA, ADEUS
Moda Adeus, Marianita, adeus! Ai! J me despeo de ti. Que eu vou pra Loureno Marques, Ai! No sei que ser de mim. No sei que ser de mim, Ai! De mim no sei que h-de ser! Adeus, Marianita, adeus. Ai! Saudinha, at mais ver. Serpa. Pauta da revista A Tradio
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
36 18 ADEUS, VILA DE SERPA
Recolha da Coordenao Distrital de Beja Transcrio de J. Leonardo Freitas Barros
Cantiga Serpa, pois tu no ouves Os teus filhos a cantar? Enquanto os teus filhos cantam, Tu, Serpa, deves chorar. Moda Adeus, vila de Serpa. Saudades, quem as no tem? Dentro das tuas muralhas. H uma rosa a quem quero bem. Adeus, velho castelo, Companheiro do luar. Quem me dera j l ir, _ bis Para me ouvires cantar. Serpa
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
37
AURORA TEM UM MENINO
Cantiga Uma me que um filho embala, meu lindo amor, As vezes pe-se a chorar, meu lindo amor, meu lindo bem, S por no saber a sorte, O meu lindo amor, Que Deus tem para lhe dar. O meu lindo amor, meu lindo bem. Moda Aurora tem um menino, Mas to pequenino, Q pai quem ser? E o Z da Daroeira, Que foi pr Figueira, Mais tarde vir. No adro de S. Vicente, Onde h tanta gente, Aurora no est. Cala-te, Aurora, no chores, Que o pai da criana Mais tarde vir. Serpa
BARCO VELA
Cantiga L no meio daqueles mares Ouvem-se grandes gemidos. So os tristes marinheiros Quando se vem perdidos. Moda J l vem o barco vela, S o meu amor no vem. No se lembra, aquele ingrato, Duma rosa que c tem. Duma rosa que c tem, Duma rosa to bonita. J l vem o barco vela, S o meu amor l fica.
Serpa
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
38 19 CARMEZITA, CARMEZITA
Moda coreogrfica Carmezita, Carmezita, Carmezita da lembrana! Anda, vem danar ao meio Uma linda contradana. Uma linda contradana, Anda, vem danar ao meio! Carmezita, Carmezita, Anda, no tenhas receio.
Serpa Pauta musical da revista A Tradio
[Dana(?J
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
39
20 O CERRO DA NEVE
Moda Todas as bem-casadinhas Vo par' Cerro da Neve... Eu tambm pra l hei-de ir, Antes que a morte me leve. Antes que a morte me leve, A mim, mais ao meu amor. Eu tambm pra l hei-de ir, meu Deus, meu Senhor.
Serpa Pauta publicada em A Tradio
Ano III N 7, Julho 1901, pp. 104 e 105, letra p. 106
CHAMASTE-ME EXTRAVAGANTE
Cantiga Toda esta noite, eu caminho Por estradas to medonhas, Sempre sonhando contigo; S tu comigo no sonhas. Moda Chamaste-me extravagante Por eu ter uma noitada: Eu sou rapaz brilhante, Recolho de madrugada. Recolho de madrugada, Mesmo agora, neste instante. Por eu ter uma noitada Chamaste-me extravagante.
Serpa
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
40 21 DIZES QUE SOU LAVADEIRA
Descante Dizes qu'eu sou lavadeira, / Que ando no mar a lavara. / bis Eu passo uma vida alegre/ Na ribeira, a namorara. / bis Na ribeira a namorara / que eu passo o meu bom tempo / bis Desejava, amor, saber / Qual era o teu pensamento. / bis
Serpa Pauta musical da Revista A Tradio
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
41
22 EU FUJO Moda coreogrfica
Vai o barco vela. Moda meu lindo amor, / Eu fujo! / Pelo mar abaixo / Vou a ser marujo! / bis Vou a ser marujo! / Mais ela. / bis Pelo mar abaixo / Vai o barco vela. / bis
M. Dias Nunes, Serpa. Letra e msica publicadas na Revista A Tradio, Serpa
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
42 23 EU OUVI, MIL VEZES OUVI
Moda Eu ouvi, mil vezes ouvi, L no campo rufar os tambores... Das janelas, me chamam-nas moas: -- J l vou, j l vou, meus amores! (1)
M. Dias Nunes Msica e letra publicadas na Revista A Tradio, 1902, Serpa.
(1) Variante, tambm de Serpa:
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
43
24 EU OUVI UM PASSARINHO
Recolha da Coordenao Distrital de Beja Transcrio de S. Leonardo Freitas Barros
Moda Quando o rouxinol padece, Uma ave to pequena, Que far meu corao, Coberto de tanta pena? Ao romper da bela aurora, Eu ouvi o passarinho Lamentar sua desgraa, Poisado nesse raminho. Poisado nesse raminho, Olhando para quem passa, Eu ouvi o passarinho Lamentar sua desgraa.
Serpa
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
44 25 EU SOU MARUJINHO, EU SOU
(Moda coreogrfica)
Eu sou, marujinho, eu sou Contramestre do navio. Esta noite dormi eu Na rua, a tremer com frio. Na rua, a tremer com frio, porta do meu amor. Eu sou, marujinho, eu sou Contramestre do vapor (1). Doce limo, Branco luar... Oh! que lindas damas Para namorar. Doce limo, Verde limo. H que lindas damas Do meu corao.
Letra e msica publicadas em A Tradio; Serpa, 1904. (1) Em Colos a moda cantava-se s com as duas quadras septisslbicas, e a cantiga naturalmente.
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
45
H LOBOS SEM SER NA SERRA
Cantiga O homem nunca devia Sua existncia acabar, Nem nunca se fazer velho, Para sempre namorar. Moda H lobos sem ser na serra, Eu ainda no sabia. Debaixo do arvoredo Trabalho com valentia. Trabalho com valentia, Cada qual na sua terra. Eu ainda no sabia, H lobos sem ser na serra.
Serpa
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
46
26 L VAI O BALO AO AR
Moda L vai o balo ao ar! Se ele vai, deixai-o ir! Ajuntem-se as moas todas Para verem o balo subir. Para verem o balo subir, Para verem o balo baiar. Ausentou-se o meu amor, J no h quem saiba amar. (1)
M. Das Nunes. Letra e msica publicadas em A Tradio, Serpa, 1902.
(1) Variante em Colos. Jogui o balo, ar, Jogui-o, deix-Io ir. Ai! Juntaram-se as moas todas Pra verem-no balo subir. Pra verem-no balo subir. Pra verem-no balo baixar. Ai! Jogui-o, deix-lo ir. Jogui o balo ar.
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
47
27 A MACELA (Moda coreogrfica)
Moda Eu hei-de ir colher macela, / Da macela, a macelinha, / bis L nos campos, verdes campos, / Daquela mais miudinha. /bis Daquela mais miudinha. / Daquela mais amarela. / bisS L nos campos, verdes campos, / Eu hei-de ir colher macela. / bis
M. Dias Nunes Serpa. Da revista A Tradio, 1900
Moda vulgarizada, nos ltimos tempos, pela rdio e pela TV.
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
48
MARIANITA FOI FONTE
Moda Marianita foi fonte E a cantarinha quebrou. Ah! Ah! Q meu lindo bem! Ah! Ah! O meu lindo amor. Marianita no tem culpa, Culpa tem quem na mandou. Ah! Ah! meu lindo bem! Ah! Ah! meu lindo amor.
Serpa
MELANCOLIA DOS CAMPOS
Cantiga O Alentejo que O celeiro da nao. Ns somos alentejanos, Sorrindo, ceifando, Somos da terra do po. Moda Melancolia dos campos! Oio o meu amor cantar Debaixo do sol ardente, Sorrindo, ceifando, At o dia findar. At o dia findar. Alegria para a gente. Oio o meu amor cantar, Sorrindo, ceifando, Debaixo do sol ardente.
Serpa
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
49
28 MANINA ESTS JANELA
Recolha da Coordenao Distrital de Beja Transcrio de J. Leonardo Freitas Barros
Cantiga J com esta so trs vezes / Que aqui passo tua rua, / bis Sempre com a porta fechada: / No sei que vida a tua! / bis Moda Menina, ests janela Com o teu cabelo lua, No me vou daqui embora Sem levar uma prenda tua. Sem levar uma prenda tua. Sem levar uma prenda dela, Com o teu cabelo lua Menina, ests janela.
Serpa
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
50 MEU LRIO ROXO
(Esta a moda mais difcil de cantar) (Nota do informador) Cantiga Ao romper da bela aurora Sai o pastor da choupana -- Meu lrio roxo -- Sai o pastor da choupana, Gritando, em altas vozes: Muito padece quem ama. -- Meu Irio roxo -- Muito padece quem ama. Moda Badajoz tem lindas damas, Portugal tambm as tem -- Meu Irio roxo -- Chirlo, birlo, birlo, Para amar meu bem.
Serpa
MEU LRIO ROXO DO CAMPO
Cantiga Suspirava p'ra te ver, J matei a saudade. Muito custa uma ausncia, Ai, ai, P'ra quem ama na verdade. Moda Meu Irio roxo do campo, Criado na Primavera: Desejava, amor, saber, Ai, ai, A tua inteno qual era. A tua inteno qual era. Desejava, amor, saber, Meu Irio roxo do campo, Ai, ai, Quem te pudesse colher! (1)
Serpa (1) Variante: Oh! Quem te tosse colher.
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
51
MONDADEIRA ALENTEJANA
Cantiga Na campina alentejana, Cantando, sua maneira, Cantigas aos seus amores, Linda moa mondadeira. Moda Mondadeira alentejana, Leno de todas as cores, Vai mondando, vai cantando Cantigas aos seus amores. Um dia mais tarde, quando Chega a ceifa, que alegria! Vai ceifando, vai cantando, Passa mais depressa o dia.
Serpa
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
52 29 NO TARDE NEM CEDO
Recolha da Coordenao Distrital de Beja Transcrio de J. Leonardo Freitas Barros
Cantiga luar da meia-noite / No venhas c ao sero, / bis Que as meninas de hoje em dia / Querem escuro e luar no. / bis Moda No tarde nem cedo, / Chegaste mesmo a boa hora: / O meu pai j est deitado, / Minha me deitou-se agora. / bis Eu ia pela rua / Quando ouvi: pst!, pst! / bis Eu logo respondi: / Estou aqui! Estou aqui! (1) / bis
Serpa (1) Este verso pode ser substitudo por assobio, respeitando a msica da moda.
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
53
NO QUERO QUE VAS A MONDA
Cantiga A paixo no tem limites: Dura enquanto a vida dura. Tudo o que nasce na alma S tem fim na sepultura. Moda No quero que vs monda Nem ribeira lavar. S quero que me acompanhes No dia em que me casar. No dia em que me casar Hs-de ser minha madrinha. No quero que vs monda Nem ribeira sozinha.
Serpa
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
54 30 NASCE O SOL NO ALENTEJO
Recolha da Coordenao Distrital de Beja Transcrio de J. Leonardo Freitas Barros
Cantiga Algum dia em tendo sede, Ia beber ao teu monte. Agora, passo de roda, Vou beber a outra fonte. Moda Nasce o sol no Alentejo, Nasce gua clara na fonte Nasce em mim a saudade Na ladeira do teu monte. Na ladeira do teu monte, Meu amor quando te vejo, Nasce gua clara na fonte, Nasce o sol no Alentejo.
Serpa
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
55
31 DE NOITE BATEM PORTA
Descante De noite batem porta: filha, vai ver quem . Se for teu amor primeiro, Vai aquecer o caf. Vai aquecer o caf, Vai aquecer o ch'coIate. De noite batem porta: filha, vai ver quem bate.
Serpa Pauta musical da revista A Tradio
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
56
OLHA A NOIVA SE VAI LINDA!
Cantiga Compadre, j te casaste, J o lao te apanhou. Deus queira que sempre digas: Se bem estava, melhor estou. Moda Olha a noiva, se vai linda No dia do seu noivado! Tambm eu queria ser, Tambm eu queria ser, Tambm eu queria, Tambm eu queria ser casado. Ser casado e ter juzo, Acho que bonito estado. Tambm eu queria ser, Tambm eu queria ser, Tambm eu queria, Tambm eu queria ser casado.
Serpa
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
57
32 OS OLHOS DA MARIANITA
Moda Os olhos da Marianita / So verdes, cor de limo. / bis Ai! sim, Marianita, ai! sim... / Ai! no, Marianita, ai! no... / bis
M. Dias Nunes Letra e msica publicadas em A Tradio, Serpa, 1989.
Esta moda est divulgada por todo o pas
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
58 33 ROSA BRANCA DESMAIADA
Recolha da Coordenao Distrital de Beja Transcrio de J. Leonardo Freitas Barros
Cantiga A rosa, depois de seca, Foi-se queixar ao jardim. Respondeu-lhe o jardineiro: Tudo no mundo tem fim. Moda Rosa branca desmaiada, Onde deixaste o cheiro? Deixei-o no teu jardim, A sombra do limoeiro. sombra do limoeiro. Onde no seja regada. Onde deixaste o cheiro, Rosa branca, desmaiada?
Serpa
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
59
QUE PRAIAS TO LINDAS
Cantiga luar bisbilhoteiro, No me venhas espreitar Quando estou com meu amor No barquinho, a navegar. Mota Que praias to lindas, to belas Era meia-noite, estava a sonhar, Assentado no barco, mais ela, Namorando beira do mar.
Serpa
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
60 34 SERPA DO ALENTEJO
Recolha da Coordenao Distrital de Beja Transcrio de J. Leonardo Freitas Barros
Cantiga Cantigas de Serpa so / Palmos de trigo nascendo, / bis So bocadinhos de po / Que s nos sobram em morrendo. / bis Moda Serpa do Alentejo, s minha terra natal. s das vilas mais antigas Que temos em Portugal. Que temos em Portugal, Das terras que eu mais invejo. Es minha terra natal, Serpa do Alentejo.
Serpa
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
61
35 TANTAS LIBRAS Moda coreogrfica
Tantas libras e eu to livre delas, Amarelas, so de cavalinho; So leais ao meu amor, So leais ao meu benzinho. So leais ao meu benzinho, So leais ao meu amor; Tantas libras e eu to livre delas, Amarelas, oh! que linda cor.
Letra e msica publicadas n'A Tradio, Anno V N 5 Serpa, Maio 1903, volume V Letra p. 68, pauta musical p. 69
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
62
TENHO BARCO, TENHO REMOS
Cantiga Quem embarca, quem embarca? Quem vem para o mar, quem vem? Quem embarca, quem embarca? Ol, menina, ol! Quem vem para o mar, quem vem? Quem embarca nos teus olhos, Que linda mar que tem! Que linda mar que tem! Quem embarca nos teus olhos, Ol, menina, ol, Que Iinda mar que tem! Moda Tenho barco, tenho remos, Tenho navios no mar, Tenho um amor to catita, Ol, menina, ol! No mo deixam namorar. No mo deixam namorar, No me deixam comparecer. Se com ela no casar, Ol, menina, ol, Com outra no h-de ser.
Serpa
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
63
36 TINHAS-ME TANTA AMIZADE Moda coreogrfica
TINHAS-ME TANTA AMIZADE Tinhas-me tanta amizade, Que me querias sustentara... Abalaste para Lisboa E eu c fiquei a chorara. Eu c fiquei a chorara, Chorava duma paixo. Abalaste para Lisboa, Lindo amor do corao.
Pauta musical da Revista A Tradio, Serpa
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
64
TRIGUEIRINHA ALENTEJANHA
Cantiga to linda a minha terra! Ela l e eu aqui. Os anjos do cu me levem , Par' terra onde nasci. Moda to lindo ver no campo, To lindo... Trigueirinha alentejana: Numa mo levas a foice, Noutra, canudos de cana. Com teu trajo a camponesa, To lindo... Com o teu chapu ao lado, Cantando lindas cantigas, Ceifando As espigas do po sagrado.
Serpa
TRISTE VIUVINHA
Moda -- Triste viuvinha, Que fazes tu l dentro? -- Estou fazendo os bolos Para o nosso casamento. No te quero a ti, Nem a ti tambm! S te quero a ti, Lindo amor, s o meu bem!
Da Revista A Tradio, Serpa
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
65
UMA FLOR QUE ABRIU EM MAIO
Cantiga Entre papoilas, no campo, Es a rainha das flores, Ceifeira de olhos negros, Senhora dos meus amores. Moda Uma flor que abriu em Maio, Se bem abriu, bem fechou. Um amor que tanto amava Gavou-se que me deixou. Gavou-se que me deixou, Abram-se as portas que eu saio. Se bem abriu, bem fechou, Uma flor que abriu em Maio.
Serpa
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
66 37 VAI COLHER A SILVA
Moda coreogrfica
VAI COLHER A SILVA Vai colh-la (1) silva, Vai colh-la, vai Se a fores colhera (2), No digas - ai! ai! No digas - ai! ai! No digas - ui! ui! Vai colh-la silva, Vai, que eu tambm fui.
Dias Nunes, A Traio, Serpa, 1899 (3). (1) A fala popular d a um infinito verbal seguido de artigo o mesmo tratamento que ao infinito seguido de pronome. (2) O infinito seguido de um a paraggico forma caracterstica de algumas regies do Baixo Alentejo. (3) Esta moda foi a predilecta do povo serpense, durante o Carnaval. Em andamento alegro, dana-se ao meio, nos bailes de roda.
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
67
VAMOS L SAINDO
Cantiga Eu no sei, amor, Como t'hei-de amar, Que o mundo no tenha De ns que falar. Moda Vamos l saindo Por esses campos fora, Que a manh vem vindo Dos lados da aurora. Dos lados da aurora A manh vem vindo. Por esses campos fora Vamos l saindo.
Serpa
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
68 38 VERDE CARACOL
Moda Verde caracola (1), Minha rica pomba! Eu ando contigo Do sol pra sombra. Do sol pr sombra, Da sombra pr sola. Minha rica pomba, Verde caracola.
Serpa. (1) Tambm caracterstica da regio de Serpa, entre outras do Baixo Alentejo a posio deste a paraggico, como que para apoio da consoante final.
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
69
39 AO PASSAR A RIBEIRINHA
Moda
Ao passar da ribeirinha, Pus um p, molhei a meia. No casei na minha terra, Fui casar em terra alheia.
Fui casar em terra alheia, E no quis casar na minha. Pus um p, molhei a meia, Ao passar da ribeirinha.
Letra e msica publicadas pelo P. Marvo, trabalho citado. Vidigueira.
Nota: Tanto esta verso como a de Peroguarda foram publicadas no Arquivo de Beja, pela mesma altura, pelo P. Antnio Marvo. H pequenas diferenas na letra (Vidigueira no canta o ai e na msica. Mas nenhuma das verses apresenta a triplicao do segundo e do quarto verso das quadras, como se ouve na rdio e na televiso, cantadas por canonetistas profissionais, com o arranjo (?) que parece estar na linha das composies desta dcada e da anterior, em que certas frases ou versos se repetem at saturao de quem os ouve. Aqui, por exemplo, o arranjo (?) resulta assim, pouco mais ou menos: Ao passar da ribeirinha Pus o p, molhei a meia, Pus o p, molhei a meia, Pus o p, molhei a meia, No casei na minha terra, Fui casar em terra alheia, Fui casar em terra alheia, Fui casar em terra alheia. Fui casar em terra alheia, Podendo casar na minha, Podendo casar na minha, Podendo casar na minha, Pus o p, molhei a meia, Ao passar da ribeirinha, Ao passar da ribeirinha, Ao passar da ribeirinha. No ser caso para dizer que o poeta popular foi mais simples e menos impertinente que o poeta erudito?
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
70
[NOSSA SEMHORA DE AIRES]
Moda Virgem Senhora de Aires, santa das mais formosas: Transformai o meu viver Em linda estrada de rosas. Fui ver a Senhora de Aires E rezar-lhe a ladainha: Fui solteira e vim casada, Foi milagre da santinha. Virgem Senhora de Aires Eu rezo, de noite e dia, A fim de que meu filhinho Seja criana sadia. Quando vou feira de Aires, Eu rezo a Nossa Senhora, Fois a Virgem milagrosa a nossa protectora.
Vila de Frades
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
71
O CANTE AO DESPIQUE
Em quase todo o pas, e at nos Aores, quando duas ou mais pessoas cantam, respondendo uma a outra, diz-se que se esto despicando, que cantam a despique -- o que tanto pode ser cantar desgarrada, como cantar ao desafio, como cantar ao baldo, como a qualquer outro ttulo que no nos ocorre agora. Nesses cantares, nesses desafios, cada um canta as quadras que sabe de cor ou que inventa de momento para responder ao adversrio, mas no h regras, a no ser a de rimar normalmente o segundo com o ltimo verso duma quadra, em regra, e em regra tambm compondo os versos em septisslabos. No este o caso do cante a despique do Sul do pas, e que nos parece ser s dali, isto , duma rea que compreende a Serra e a Meia-Serra do Algarve, tanto a que desce para o litoral algarvio como a que desce para o Alentejo e se prolonga da serra de Monchique at Sines, entre os cursos do Mira e do Sado e o Atlntico. Antigamente o cante a despique era acompanhado viola campania, o que parece sugerir que tambm se cantaria mais para o interior da plancie alentejana. Presentemente, segundo as informaes que temos, nesta ltima regio j se no encontra. Os exemplos que se apresentam foram recolhidos no concelho de Odemira. O de Colos, s para explicar como o esquema; o das Amoreiras foi gravado em fita magntica nesta povoao. Comearemos por notar que h no cante a despique o dobre (o verso de abertura o que termina a estrofe), a rima abraada (com dois versos soltos entre os rimados), formas pouco vulgares entre toda a nossa poesia, e o modo de repetio, tambm invulgar na nossa poesia: repetem-se no os dois ltimos versos, como vulgar, mas sim os dois primeiros, em ordem inversa: ABCA-BA. Distingue-se o cante a despique dos outros cantares ao desafio porque tem regras, mais ou menos rgidas, conforme a combinao prvia. Um nmero varivel de cantadores, geralmente na venda, resolve cantar a despique. Combina-se o ponto, e cada um vai cantando na sua vez, respondendo se pode e como pode ao que o anterior cantou, mas a resposta explcita no obrigatria. Obrigatrio no pisar o ponto (e o que o fizer sujeita-se a multa) e no fugir rima (falta que j no to grave). Os castigos eram, e hoje tambm, se assim se combinar, o faltoso pagar uma rodada de vinho para os outros cantadores ou no beber na vez que lhe competia -- isto quando o cante a rigor. Pisar o ponto repetir, no final do segundo verso, palavra que j tenha sido empregada. Fugir ao ponto no encontrar palavra para terminar esse segundo verso, com a slaba escolhida para ponto. Fugir rima no encontrar palavra para terminar o quarto verso de modo a rimar com o primeiro. O ponto a ltima slaba forte do segundo verso. Nos nossos exemplos o ponto -ida num caso e -ia no outro. Mas pode ser -o, -oa, -ar, -m, -ento, -inho, etc., etc., ou -ola, -ava, etc. Na combinao prvia tambm se pode estabelecer se vale ou no vale empregar toantes no ponto (ou s consoantes) e ainda que no vale roubar o ponto, isto , utilizar, noutro que no seja o segundo verso, palavra com a terminao do ponto. Antnio Domingos Pontalinho deu-nos em Colos estas trs estrofes para exemplificao: o ponto -ida. -- o primeiro cantador diria, por hiptese:
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
72 (A) Coitado de quem no tem / (B) Nem caminho nem guarida. / bis (C) Vive a abandonado, (A) Sem carinhos de ningum. (B) Nem caminho nem guarida (A) Coitado de quem no tem. -- o segundo poderia cantar assim: (A) falta de saber ler / (B) H muita gente atrevida. / bis (C) Se no h conhecimento, (A) As vezes vo a sofrer. (B) H muita gente atrevida (A) A falta de saber ler. -- um terceiro cantador poderia exprimir-se desta forma (mostrando que o essencial, no cante a despique, encontrar o ponto. Responder a palavra ou frase de algum dos outros cantadores de bom-tom, vulgar e o que todos desejam, mas no o principal do cante e nem todos sempre o conseguem. Quando no podem alcanar esse objectivo, limitam-se a preencher a sua vez): (A) Eu mudo qualquer santinho / (B) s vezes, p'ra outra ermida: / bis (C) J posso pedir auxlio, (A) Certamente, ao meu vizinho. (B) s vezes, p'ra outra ermida, (A) Eu mudo qualquer santinho. Aprofundando um pouco o sentido destas trs estrofes, pode-se tentar encontrar nelas uma certa ligao. Mas ela no est explcita e no aqui lugar para a tentativa (1). Se um cantador no acha, de momento, palavra que satisfaa o ponto, passa, isto , no canta, e cede a sua vez ao parceiro que se lhe segue. Quando escasseiam as palavras que contm o ponto, combina-se de comum acordo outro ponto e o cante prossegue. Normalmente o divertimento dura horas, mantm-se pela noite fora (ou pela tarde fora) e normalmente tambm, l para o fim, h s dois cantadores, porque os outros foram desistindo, e um deles acaba por ser o campeo dessa tarde ou dessa noite. A msica uma toada lenta, arrastada, e com pequenas variaes meldicas de cantador para cantador, o que permite estender versos de seis slabas como se tivessem sete, e versos de oito ou mais slabas encurtarem-se e serem cantados como se fossem septissilbicos. Como j se verificou, os versos so normalmente de sete slabas e o esquema estrfico A, B (que bisam), C, A, B, A, e a msica , como mdulo mdio, a da pauta que se segue.
1 A. Machado Guerreiro, in O Cante a Despique, Revista Lusitana (Nova Srie). n. 2, Lisboa, 1981, tentou uma ligeira explicao da interligao do sentido destas trs estrofes.
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
73
40 DESPIQUE EU TENHO OUVIDO DIZER
1 Pauta musical da Revista Lusitana
(Nova srie) N. 2, Lisboa, 1981 Segue-se a transcrio das estrofes cantadas pelos cinco intervenientes que se prontificaram a cantar para a gravao feita em Amoreiras-Gare, povoao mais conhecida, naquela rea por Estao das Amoreiras. Jos Pontalinho organizou a sesso, com mais quatro amigos de que omitimos os nomes, porque no os sabemos completos e porque, infelizmente, nem todos j so vivos. Combinado que o ponto era -ia, comeou-se sem outras combinaes prvias. Primeiro cantador: Eu c sou di S. Martinho, / Senh Capela, de Santa Luzia. /bis J me tenho embobedado Mesmo sem provar o vinho. Senhor Capela, de Santa Luzia, E eu c sou de S. Martinho. Segundo cantador: Ao romper da madrugada / Aparece a luz do dia. / bis Inda nunca m'embobedei Uma vez qui no beba nada. Aparece a luz do dia Ao romper da madrugada. Terceiro cantador: Eu vejo, profeitamnti, /
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
74 Qu'eu qui cantar n devia. / bis 'Stou velho, aqui cantando vista de tanta gnti. Pois eu cantar n devia, Eu vejo profeitamnti. Quarto cantador: Conheo a provina alentejana / (E) conheo a provina algarvia; (E) conheo a vida trabalhadora E conheo a vida cigana. Conheo a provina algarvia, Conheo a provina alentejana. Quinto cantador: O primo Jos estar aqui com a gente / A todos nos d alegria. / bis Ds qura qu'inda viva mais 5 6 anos, Mas que no morra de repente. Que a todos d alegria O primo Jos estar aqui com a gente. Com esta estrofe terminou a primeira volta. Continua: Primeiro cantador: Eu tenho ouvido dizri: / Quonde se canta n se assobia. / bis Ns samos todos iguais E no nascer e no morrri. Quonde se canta n se assobia, (E) eu tenho ouvido dizer. Segundo cantador: brilhante sociaddi / Tenho por ela sempata. / bis Eu, d'ouvir 'ma cantiga bem feita, Eu at me crece sauddi. Tenho por ela sempatia, brilhante sociaddi. Terceiro cantador: Quondo eu era rapaz novo, / Eu com isto me antertia. / bis Mas hoje estou velho e cansado, Eu at-i-aborreo o povo. Eu com isto me antretia Quondo eu era rapaz novo.
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
75
Quarto cantador: Quondo eu vendo puxar linha, / Este moo no si desvia. / bis Vamos a ver quem seja capaz, Assar a sua sardinha. E este moo no si desvia Quondo vendo puxar linha. Quinto cantador: (Ai) levamos o cantar porfundo, / moos desta freguesia: / bis Que as cantigas so gravadas Talvez para todo o mundo. moos desta freguesia. Levamos o cantar porfundo. Terminada a segunda, entra-se na terceira volta. Mas esclarea-se que no h paragens de uma para a outra volta. Diz-se que se fez uma volta ou uma roda quando todos cantaram na sua respectiva vez. Primeiro cantador: Quondo eu meto o meu machado (2) / Sai virge e mais amadia. Fazemos a roda completa Sem ver um ponto pisado (3). Sai virge e mais amadia Quondo eu meto o meu machado. Segundo cantador: Eu tenho manto e bingala, / Eu vou-me ter setia. / bis pena, sociadade, Eu ter tam poucachinha fala. Eu vou-me ter setia, Eu tenho manto e bingala. Terceiro cantador: Ele, s o enterradri / Me tirar esta mania: / bis No porque seja muito parvo, Mas sou desconhecedri. Me tirar esta mania,
2 O cantador era tirador de cortia: tirava cortia virge (virgem) e cortia amadia. 3 Algum na assistncia perguntou se no tinha sido pisado o ponto.
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
76 Pois, s o enterradri. Quarto cantador: Sou pss'ro di arribao, / Lido co as moas di a Mouraria. / bis Eu no quero aqui ser criado, Mas nem criado nem patro. Lido co'as moas di a Mouraria, Sou pss'ro di arribao. Quinto cantador: (Ai) samos todos di a mesma terra, / Baptizados na mesma pia, / bis Sam Martinho di a Amorras, Que fica-i- beira-serra. Baptizados na mesma pia, Samos todos di a mesma terra. Dedica-se a esta forma de divertimento popular algumas palavras, atendendo a que quase desconhecida no pas e vai sendo cada vez mais rara mesmo na regio onde foi muito difundida. Nota-se que dos 60 versos transcritos (sem contar as repeties) a maioria septissilbica (29) e 24 aproximam-se desta medida (tm 8 slabas mtricas); e que, tal como nos exemplos de Colos, h por vezes respostas implcitas: na 1. volta o segundo cantador responde ao primeiro (este embebedava-se sem vinho, o outro sem vinho nunca se embebedou); ao terceiro, que se achava ali indevidamente, devido idade, diz o quinto que tem muita alegria em v-lo ali e deseja-lhe mais anos de vida; tambm se pode admitir como resposta o primeiro cantador, na 2. volta, dizer que somos todos iguais, contrapondo-se enumerao que um outro fizera das gentes e das provncias que conhecia; como que uma resposta o terceiro cantador, j idoso, dizer que s o enterrador lhe tira a mania de cantar, enquanto o outro, moo novo, se lamentava j de ter tam poucachinha fala.
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
77
trabalho realizado
por @ JORAGA Vale de Milhaos, Corroios, Seixal
2015 JULHO
JORAGA
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
78
AS MODAS / PAUTAS in LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA
79
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
80
Digitalizao e organizao de Jos Rabaa Gaspar, Corroios, 2015 Julho
Recommended