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ANÁLISE COMPARATIVA: CASAS GUAECÁ E ITATIBA
Implantação e Partido Formal
Ambas as casas do escritório Nitsche estão localizadas em São Paulo, porém se encontram em diferentes regiões do estado: a Casa
Guaecá (2010) está situada na cidade litorânea de São Sebastião, mais precisamente na praia de Guaecá, e a Casa Itatiba (2012) se
encontra na cidade interiorana de Itatiba. Mesmo com esta diferença regional, as duas casas possuem paisagens compostas por
áreas verdes e morros. (Figura 1)
As características geométricas e topográficas dos terrenos se diferem, culminando em implantações também distintas. O terreno
plano e de proporções retangulares da Guaecá contrasta com o terreno amplo, de geometria irregular e com certo desnível na
porção leste da Itatiba. Ambas as casas se encontram em posição centralizada no lote, respeitando recuos e afastamentos, mas
exploram diferentes eixos de acessos em relação às geometrias dos lotes – longitudinal na Guaecá e transversal na Itatiba. (Figura
2)
CASA GUAECÁ CASA ITATIBA Local: São Sebastião - SP
Ano: 2010
Local: Itatiba - SP
Ano: 2012
Escritório Nitsche Arquitetos Escritório Nitsche Arquitetos
Autoras: Brenda Noele Wolffenbüttel e Ana Elísia da Costa
Figura 1: Paisagem circundante: (a) Casa Guaecá (2010); (b) Casa Itatiba (2012). Nitsche Arquitetos
Fonte: http://www.nitsche.com.br
(a) (b)
As duas casas são compostas por um partido aditivo de dois volumes retangulares paralelos entre si e sobrepostos, estando
o superior parcialmente apoiado no inferior e em pilotis. O arranjo aditivo das duas casas é mais evidente na Itatiba pelo
deslocamento horizontal do volume inferior em relação ao superior, conferindo uma maior individualidade à cada volume.
(Figura 3)
Figura 2: Implantação: (a) Casa Guaecá (2010); (b) Casa Itatiba (2012). Nitsche Arquitetos
Fonte: (a) WOLFFENBÜTTEL, Brenda. 2016; (b) DORNELLES, Gerônimo. 2016
(a) (b)
limite do terreno acesso volumes
(a) (b)
Figura 3: Relação entre os volumes: (a) Casa Guaecá (2010); (b) Casa Itatiba (2012). Nitsche Arquitetos
Fonte: (a) WOLFFENBÜTTEL, Brenda. 2016; (b) DORNELLES, Gerônimo. 2016
N N
O tratamento dos volumes ajuda a evidenciar o referido caráter aditivo dos mesmos e a semelhança entre os partidos
adotados. No térreo, o tratamento envidraçado dos pilotis explicita visualmente a sobreposição dos volumes. Nos volumes
inferiores das duas casas, revestidos em pedra, predomina os cheios sobre os vazios. Nos volumes superiores das mesmas,
as empenas cegas transversais, em chapas lisas, contrastam com as superfícies longitudinais envidraçadas, sendo as suas
fachadas norte ainda protegidas por painéis deslizantes - painéis metálicos perfurados na Guaecá e painéis de madeira na
Itatiba. (Figura 4)
Uma modulação rege o arranjo das alas, a disposição interna dos espaços, bem como o arranjo estrutural das casas. No caso
da Guaecá, seis módulos transversais regem o arranjo das duas plantas, sendo que no pavimento superior, outros dois
módulos longitudinais definem os balanços que configuram a circulação e a varanda frontal. Na Itatiba, por sua vez, três
módulos transversais regem a planta do pavimento inferior. No pavimento superior, esses módulos são subdivididos em dois,
definindo os dois módulos centrais e os dois módulos em balanço nos extremos do volume. (Figura 5)
(a) (b)
Figura 4: Tratamento das fachadas e emprego de material: (a)Casa Guaecá (2010); (b) Casa Itatiba (2012). Nitsche Arquitetos
Fonte: http://www.nitsche.com.br
Figura 5: Modulação: (a) Casa Guaecá (2010); (b) Casa Itatiba (2012). Nitsche Arquitetos
Fonte: (a) WOLFFENBÜTTEL, Brenda. 2016; (b) DORNELLES, Gerônimo. 2016
(a) (b)
O sistema estrutural misto também é convergente nas duas casas - estrutura autoportante nos volumes inferiores; estrutura
independente e aparente nos volumes superiores, sendo os pilares e vigas de Guaecá em madeira e os da Itatiba em concreto
e metal. (Figura 6)
Configuração funcional
Ambas as casas possuem seu zoneamento em alas claramente identificáveis: no pavimento térreo, se encontram as zonas
de serviço (volume inferior) e social (pilotis envidraçado); e no pavimento superior, a zona íntima. (Figura 7)
(a) (b)
Figura 7: Zoneamento: (a) Casa Guaecá (2010); (b) Casa Itatiba (2012). Nitsche Arquitetos
Fonte: (a) WOLFFENBÜTTEL, Brenda. 2016; (b) DORNELLES, Gerônimo. 2016
zona íntima zona de serviço zona social
(a) (b)
Figura 6: Estrutura independente: (a) Casa Guaecá (2010); (b) Casa Itatiba (2012). Nitsche Arquitetos
Fonte: (a) WOLFFENBÜTTEL, Brenda. 2016; (b) DORNELLES, Gerônimo. 2016
As escadas das casas estão localizadas ao centro dos volumes inferiores e no eixo de sobreposição dos dois volumes, É em
função dela que se desenvolve os diferentes sistemas de circulação interna. Na Guaecá, a escada se encontra próxima ao
hall do acesso principal, ligado à garagem, o que torna independente o acesso aos três setores da casa. Na Itatiba, por sua
vez, o acesso se dá pela sala, sendo necessário percorrê-la perifericamente para acessar a escada e a zona de serviço, o
que compromete o seu isolamento e privacidade. Nos pavimentos superiores, a circulação principal compõe um binômio
paralelo e linear – escada e corredor -, ramificando, a partir daí, para os dormitórios. (Figura 8)
Neste arranjo, a disposição dos elementos irregulares de composição obedece também a lógicas muito semelhantes. No
térreo, esses elementos estão agrupados no volume de serviço, possibilitando que a ala social tenha uma planta livre e visual
livre para o pátio. No pavimento superior, os banheiros e closets ocupam duas posições que buscam favorecer o tratamento
livre da fachada junto aos quartos: a) internalizados na planta, compondo uma faixa entre o corredor e os quartos; b) nos
dois extremos longitudinais do eixo da circulação, (Figura 8)
(a) (b)
Figura 8: Sistema de circulação e inserção dos elementos de composição irregulares: (a) Casa Guaecá (2010); (b) Casa Itatiba (2012). Nitsche
Arquitetos
Fonte: (a) WOLFFENBÜTTEL, Brenda. 2016; (b) DORNELLES, Gerônimo. 2016
circulação secundária elementos irregulares circulação principal
Espacialidade
As diferentes configurações dos acessos às residências, como já discutido, promove uma distinção na espacialidade
das mesmas. Na Guaecá, a passagem pela garagem anuncia um espaço de mediação ou de transição entre dentro e
fora. O ingresso no hall, pelas suas dimensões, promove uma suave compressão espacial que é dilatada verticalmente
pela escada, anunciando um segundo pavimento, e horizontalmente, pelos planos envidraçados do próprio hall e pela
vista que sugere a existência do estar e o pátio ao fundo. Na Itatiba, esse acesso não se dá por meio de um ambiente
de transição ou que promova expectativas na experiência espacial, ocorrendo diretamente na ampla e envidraçada
sala. (Figura 9)
Ingressando na sala, há uma dilatação espacial nas duas casas, configurada principalmente pela planta livre e pelo
perímetro envidraçado das mesmas, A resultante permeabilidade visual para a área externa define distintos pontos
focais de interesse e configura uma tensão visual multidirecional. (Figura 10)
(a)
(b)
Figura 9: Espacialidade do acesso: (a) Casa Guaecá (2010); (b) Casa Itatiba (2012). Nitsche Arquitetos
Fonte: (a) WOLFFENBÜTTEL, Brenda. 2016; (b) DORNELLES, Gerônimo. 2016
Os percursos da ala social para a ala íntima das duas casas envolvem a passagem pela escada e pelo corredor íntimo, cujas
dimensões sugerem uma compressão espacial. Na Guaecá, esse percurso é acompanhado por superfícies envidraçadas que
minimizam a sensação de compressão sugerida e criam um conflito entre o eixo de movimento e o eixo visual. Destaca-se
ainda a varanda transversal ao volume que cria uma “pausa” ou um contraponto visual à linearidade do corredor. Já na
Itatiba, o percurso pela escada promove uma sensação maior de compressão por estar entre paredes, sensação esta que é
aliviada ao chegar no corredor íntimo, onde também há planos envidraçados que dilatam o espaço para o exterior e
configuram diversos pontos focais de interesse. (Figura 11)
(a)
(b)
Figura 10: Espacialidade da ala social: (a) Casa Guaecá (2010); (b) Casa Itatiba (2012). Nitsche Arquitetos
Fonte: (a) WOLFFENBÜTTEL, Brenda. 2016; (b) DORNELLES, Gerônimo. 2016
(a)
(b)
O ingresso nos dormitórios das duas casas promove uma experiência espacial de dilatação causada pela geometria estática
destes ambientes. Dali, as superfícies envidraçadas se configuram como o único ponto focal de interesse, definindo, portanto,
uma tensão visual unidirecional. Destaca-se ainda a intermediação entre interior e exterior promovida pela varanda (Guaecá)
e pelos painés móveis que protegem as superfícies envidraçadas das duas casas, causando, presumivelmente, fortes efeitos
de luz e sombra. (Figura 12)
Assim, no percurso desde o ingresso na casa até os quartos, observa-se semelhanças na a experiência espacial promovida
pelas duas casas, destacando-se um ritmo alternado entre compressão e dilatação: compressão (hall – Guaecá), dilatação
(ala social), compressão (corredor íntimo), dilatação (quartos).
Figura 11: Espacialidade do percurso íntimo: (a) Casa Guaecá (2010); (b) Casa Itatiba (2012). Nitsche Arquitetos
Fonte: (a) WOLFFENBÜTTEL, Brenda. 2016; (b) DORNELLES, Gerônimo. 2016
(a)
(b)
Figura 12: Espacialidade dos quartos: (a) Casa Guaecá (2010); (b) Casa Itatiba (2012). Nitsche Arquitetos
Fonte: (a) WOLFFENBÜTTEL, Brenda. 2016; (b) DORNELLES, Gerônimo. 2016
Considerações Finais
A análise das duas casas revela como um mesmo esquema tipológico se adequa a contextos diferentes. Por imposição
do contexto, especialmente a geometria dos lotes e seus acessos, as soluções incorporam pequenas variações formais
e funcionais, sem que se perca, contudo, a integridade do esquema tipológico original. As maiores variações se
observam no arranjo do volume de serviços e do volume íntimo, permanecendo íntegro o arranjo do estar envidraçado
sob pilotis.
Ao absorver a garagem longitudinal e o acesso principal , o volume de serviços da casa Guaecá ganha maiores
dimensões longitudinais, impondo, por um lado, a “invasão” do estar pela cozinha e, por outro, permitindo a relação
direta do hall com a escada, arranjo este eficiente ao proporcionar a autonomia de uso entre os setores. Na Itatiba, a
garagem externa confere, por um lado, uma maior integridade volumétrica a cada “volume-setor”, mas, por outro,
impõe uma lógica circulatória e espacial de acesso não tão eficientes, visto que faz necessária a passagem pela sala.
No arranjo do volume íntimo, observa-se variações quanto à maior ou menor compacidade do volume, definida
principalmente pela a inserção de um módulo de varanda transversal na Guaecá. Esta estratégia, ao definir as
dimensões horizontais do volume superior, impacta o seu contraste visual com o volume inferior de serviços e a
expressão da natureza aditiva das composições, mais evidente na casa Itatiba.
Neste jogo de forças entre os aspectos formais e funcionais, a integridade do partido é mantida, bem como a
espacialidade resultante, com sutis diferenças no ingresso, marcado pela passagem ou não por um hall, e no percurso
íntimo, tensionado ou não pela presença da varanda transversal. Estas, contudo, são ainda sutis diferenças, revelando
o domínio dos arquitetos da estrutura tipológica e as manobras necessárias para adaptá-la aos condicionantes de cada
problema projetual.
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