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Encontro dos Ciência 2009, F.C. Gulbenkian, Lisboa – Julho 2009. Com um brilho nos olhos: a dimensão espacial dos comportamentos migratórios. Jorge Malheiros Centro de Estudos Geográficos IGOT – Universidade de Lisboa. - PowerPoint PPT Presentation
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Com um brilho nos olhos: a dimensão espacial dos comportamentos migratórios
Jorge MalheirosCentro de Estudos Geográficos IGOT – Universidade de Lisboa
Encontro dos Ciência 2009, F.C. Gulbenkian, Lisboa – Julho 2009
Dada a essência espacial do fenómeno (mobilidade geográfica dos indivíduos, isoladamente ou em grupo) num determinado período de tempo, gerada por processos de decisão individuais, embora tomados no quadro familiar ou do grupo de conterrâneos, que dá origem a formas de inserção (e desinserção…) social, económica, cultural e política, qual pode ser o contributo da investigação em Geografia?
Um esforço de resposta, com exemplos a três escalas
- Global;
- Regional;
- Local
… que incidem sobre as duas componentes básicas fundamentais das migrações: os fluxos e a inserção
I – O transnacionalismo migrante
O vai-e-vem migratório é antigo, mas assume actualmente novas características e nova intensidade no quadro de uma Nova Ordem Espacial (um mundo globalizado, “mais pequeno” e, cada vez mais, organizado de forma arquipelágica)
Domínios tradicionais de explicação...
• Transportes e comunicações
• Interdependências e integração económica
• Formas de integração política
• Uma nova consciência “do todo mundial”
• Culturas hegemónicas e globalizantes
A - Migrações – processos globais, uma escala macro
Em que consiste o transnacionalismo migrante?Comunidades transnacionais (critérios):
• Movimento (vai e vem regular) - circulação, relativamente frequente, entre locais situados no país de origem e/ou em diversos países de destino associada a uma troca de informações regular;
• Cultura migratória activa - existência de um “saber circular”, seja em processo de consolidação, seja geracionalmente transmitido, que pressupõe a interiorização dos mecanismos inerentes ao processo de cruzamento de fronteiras nacionais, incorporando as estratégias de vida dos cidadãos, tanto as possibilidades oferecidas pelas localidades situadas dentro das fronteiras do seu estado de origem, como as possibilidades oferecidas pelos diferentes nós espaciais da diáspora;
• Envolvimento societal duplo ou múltiplo - desenvolvimento de formas de participação em processos económicos, políticos, cívicos e culturais, tanto no local de origem, como no de destino, variando os domínios, níveis e modos de envolvimento com as pessoas;
• Consciência de pertença a uma diáspora - isto é, consciência da pertença a um grupo disperso por diversos locais do mundo (não apenas dois ou três), que partilha uma mesma memória étnico-cultural colectiva e que mantém laços, reais ou simbólicos, com o território de origem, seja dos próprios ou dos seus antepassados (Safran, 1988; Chaliand e Rageau, 1991; Bruneau, 1994 e Cohen, 1997).
A - Migrações – processos globais, uma escala macro
Exemplo I - o transnacionalismo indiano – perspectivas comparativas a partir de Lisboa e Roterdão
Hindus em Lisboa e Roterdão – um processo migratório bi-etápico; 1974/1975 como referênciaSuriname – Um “produto” do colonialismo holandês, formatado por “imigrantes” – as migrações semi-forçadas de trabalhadores contratados (1873-1916)Moçambique (Maputo, Inhambane) – Centros urbanos com funções comerciais e administrativas (os “indianos” como minorias de “intermediação” – séculos 18 a 20)
EUA
Roterdão (Holanda)
Inglaterra (Grande Londres)
Antilhas Holandesas
Suriname
Lisboa (Portugal) ÍNDIA
Diu/Gujarate
Moçambique (Maputo e Inhambane)
Origem na Índia Origem intermédia
Destinos de referência Destinos complementares
A espessura das linhas indica o nível de intensidade de contacto. O tracejado refere-se a uma relação de carácter simbólico (em reconstrução).A dimensão das setas indica o sentido de contactos dominante.
Legenda:
A descontinuidade das migrações e a perda dos contactos, “desdobrou” as origens, sobretudo no caso dos hindus-surinameses da Holanda (o Suriname sobrepõe-se à Índia, que quase “desaparece” do espaço transnacional de relação; já não é assim com os hindus de Lisboa – Moçambique não se assume como a origem principal).
A - Migrações – processos globais, uma escala macroExemplo I - o transnacionalismo indiano – perspectivas
comparativas a partir de Lisboa e Roterdão
Organização espacial – importância dos contactos, ligações, contributos potenciais para o desenvolvimento
A - Migrações – processos globais, uma escala macroExemplo II – as migrações irregulares; interpretações a uma
escala global
Explorando as causas das migrações irregulares
A – Nível Macro• Geografias de proximidade e desiguais níveis de
desenvolvimento ao nível internacional;
B – Nível Meso• i) Eficácia dos canais formais de recrutamento; • ii) Características e dimensão da economia informal; • iii) Dinâmica económica; • iv) Eficácia (e percepção) dos mecanismos de
regulação da imigração.
Causas da imigração irregular (testando hipóteses)Dimensions Indicators (Dependent variables) Equation R R2 Used in
Multiple Regression
Recruitment time of foreign (temporary) workers (months)
y = -0,0175x + 3,1242 -0,179 0,0321 No International Recruitment Channels Index Recruitment Costs y = 0,0025x + 0,2519 +0,210 0,0443 Yes
Contribution of Informal Economy to GDP (%) y = 0,0611x + 14,999 y = 0,2151x + 12,494*
+0,167 +0,486*
0,0279 0,2365*
Yes
Construction enterprises with <10 employees (%)
y = -0,0521x + 90,119 -0,192 0,0370 Yes Informal Economy
Hotels and restaurants with <10 employees (%) y = -0,1434x + 88,659 -0,247 0,061 Yes Economic Dynamics Real GDP growth (2003-2005) y = 0,0155x + 1,7835 0,196 0,0385 Yes
Index Border Exposure y = -57,477x + 2611,6 -0,581 0,3375 Yes Geographical Proximity and Inequality Index Border Pressure Y= 0,1555x + 2,9798 0,639 0,408 Yes Perception of Regulatory Mechanisms
Perception of sanctions applied to undeclared work (% answers “normal tax; no fine”)
y = 0,2573x + 14,369 0,489 0,239 Yes
Migrações – processos globais, uma escala macroExemplo II – as migrações irregulares; interpretações a uma
escala global
Desigualdades de desenvolvimento associadas a proximidade geográfica são uma causa fundamental para perceber as migrações irregulares
B - Migrações – processos regionais, uma escala meso O contributo dos migrantes para o desenvolvimento regional
– cooperação descentralizada; co-desenvolvimento e os seus impactos regionais I – O exemplo da emigração
portuguesa - retorno
A intensidade da emigração e do retorno são regionalmente desiguais, o que significa que os impactes regionais potenciais também o são…
Infelizmente os impactos da emigração portuguesa nas regiões periféricas ficaram aquém do possível porque:
-O efeito multiplicador das remessas utilizadas em despesas de consumo é reduzido;
-Os mecanismo de fixação das remessas para investimento nestas áreas foram sempre fracos – drenadas pelo sistema bancário, serviram, muitas vezes, para financiar projectos no litoral
B - Migrações – processos regionais, uma escala meso O contributo dos migrantes para o desenvolvimento regional – cooperação
descentralizada; co-desenvolvimento e os seus impactos regionais
II – O exemplo da emigração portuguesa – cooperação descentralizada e desenvolvimento?
As geminações dos municípios portugueses aparecem ligadas ao quadro das origens regionais de saída dos emigrantes e de fixação dos imigrantes.
Apesar de a materialização das geminações assumir um carácter de intercâmbio cultural ou a forma de cooperação atomizada, são uma etapa num processo que pode traduzir-se numa cooperação mais estratégica para o desenvolvimento.
Geminações
Municípios franceses Municípios dos EUA
Índice de Segregação – mede o grau de segregação de um grupo específico numa determinada área de estudo.IS varia entre 0 (distribuição conforme à da restante população) e 100 (máxima segregação)
Fonte: Malheiros e Vala (2004). Dados: INE (Censos 1991 e 2001).
Tendência generalizada para a diminuição ou estabilização dos índices de segregação
Índice de Segregação, por freguesia1991 2001 Diferenças
% % p.p.China, Índia e Paquistão 52 42 -10
China 67 41 -26 Índia 54 54 0 Paquistão 71 64 -7
UE - 15 39 39 0 América do Norte 42 37 -5 PALP 37 36 -1
Angola 30 35 5 Cabo Verde 46 37 -8 Guiné-Bissau 51 46 -6 Moçambique 38 27 -10 S_ Tomé e Príncipe 50 50 -1
Europa de Leste 59 29 -31 Brasil 33 28 -5 Portugal 25 22 -3
DecréscimoEstabilizaçãoAumento
Nacionalidade
C - Migrações – a inserção local, uma escala microExemplo I - Guetos, segregação residencial e violência
Concelho de Lisboa
Quocientes de Localização1 - 22 - 5> 5
FreguesiaConcelho
Limites AdministrativosImportância na AML : 30 %o
Quocientes de Localização1 - 55 - 10> 10
FreguesiaConcelho
Limites Administrativos
PARA ARTIGOPARA POWERPOINT
10 0 10 20 Kilometers
0 10 Km
Concelho de Lisboa
Quocientes de Localização1 - 55 - 10> 10
FreguesiaConcelho
Limites AdministrativosImportância na AML : 2,7 %o
Cc_lvt_2001_dat73.shpConc2001_cen_alen73.shpAml_conc_01.shp
PALPFr_aml_2001_dat73.shpAml_conc_01.shp
PALP
Concelho de Lisboa
Quocientes de Localização1 - 22 - 5> 5
FreguesiaConcelho
Limites AdministrativosImportância na AML : 30 %o
Quocientes de Localização1 - 55 - 10> 10
FreguesiaConcelho
Limites Administrativos
PARA ARTIGOPARA POWERPOINT
10 0 10 20 Kilometers
0 10 Km
Concelho de Lisboa
Quocientes de Localização1 - 55 - 10> 10
FreguesiaConcelho
Limites AdministrativosImportância na AML : 2,7 %o
Cc_lvt_2001_dat73.shpConc2001_cen_alen73.shpAml_conc_01.shpPortugalFr_aml_2001_dat73.shpAml_conc_01.shp
Quocientes de Localização> 1
FreguesiaConcelho
Limites Administrativos
Importância na AML: 938 %o
(Sobre-representação)
Portugal
Concelho de Lisboa
Quocientes de Localização1 - 22 - 5> 5
FreguesiaConcelho
Limites AdministrativosImportância na AML : 30 %o
Quocientes de Localização1 - 55 - 10> 10
FreguesiaConcelho
Limites Administrativos
PARA ARTIGOPARA POWERPOINT
10 0 10 20 Kilometers
0 10 Km
Concelho de Lisboa
Quocientes de Localização1 - 55 - 10> 10
FreguesiaConcelho
Limites AdministrativosImportância na AML : 2,7 %o
Cc_lvt_2001_dat73.shpConc2001_cen_alen73.shpAml_conc_01.shp
UE - 151 - 55 - 1010 - 37
Fr_aml_2001_dat73.shpAml_conc_01.shpQuocientes de Localização
> 1
FreguesiaConcelho
Limites Administrativos
Importância na AML: 938 %o
(Sobre-representação)
Quocientes de Localização1 - 55 - 10> 10
FreguesiaConcelho
Limites AdministrativosImportância na AML : 4,6 %oUE - 15
Dados: INE (Censos 2001).
• Áreas de• Concentração
População residente por tipos de áreas
enclaves de assimilação--pluralismo
enclaves com mix
étnico
enclaves polarizados guetos isoladas não
isoladas % Número
Total 0,2 0,0 0,1 0,0 2,5 97,2 100 2682687
Portugal 0,1 0,0 0,0 0,0 1,9 98,0 100 2516812
UE - 15 0,1 0,0 0,0 0,0 6,6 93,3 100 12335
Europa de Leste 0,3 0,0 0,0 0,0 3,4 96,3 100 7348
Resto da Europa 0,0 0,0 0,2 0,0 11,6 88,2 100 474
PALP 3,5 0,0 2,9 0,0 16,9 76,8 100 80427
Outros - África 1,0 0,0 0,1 0,0 5,5 93,4 100 1850
América do Norte 0,2 0,0 0,0 0,0 5,6 94,2 100 1242
Brasil 0,0 0,0 0,0 0,0 5,4 94,6 100 16817 Resto da Américado Centro e Sul 0,0 0,0 0,0 0,0 4,9 95,1 100 1110
China, Índia e Paquistão 0,1 0,0 0,0 0,0 7,5 92,5 100 3225
Resto da Ásia 0,0 0,0 0,0 0,0 5,9 94,1 100 974
Oceania 0,0 0,0 0,0 0,0 7,2 92,8 100 125 Dupla nacionalidade eoutras situações 1,0 0,0 0,2 0,0 6,8 91,9 100 39948
População residente
Grupos
Áreas com forte presença de estrangeirosÁreas dominadas
pela comunidade de acolhimento
C - Migrações – a inserção local, uma escala microExemplo I - Guetos, segregação residencial e violência
Se determinadas áreas apresentem uma maior tensão e uma maior tendência para a emergência de conflitos, estes têm, na sua base, motivos relacionados com a privação sócio-económica e não com a etnicidade. Podemos assumir que não existiam guetos étnicos na AML (as minorias estão relativamente dispersas, os índices de segregação diminuiram entre 1991 e 2001), mas, eventualmente, guetos de exclusão, sendo aqui que as condições para a irrupção de situação de conflito são mais evidentes.
C - Migrações – a inserção local, uma escala micro
Exemplo I - Guetos, segregação residencial e violência
Nota conclusiva
Como entendemos inovação sócio-espacial - um processo bottom-up que põe em causa a ordem estabelecida, o modo de regulação dominante; - uma resposta a problemas sociais envolvendo agentes “fracos” em meios adversos;- - um processo cuja produção é influenciada pelo contexto geográfico onde ocorre e que tem impacto neste; - um objectivo de promoção da inclusão social que, em última análise, gera uma mudança nas relações sociais.
C - Migrações – a inserção local, uma escala micro
Imigrantes e inovação sócio-espacial nas cidades
C - Migrações – a inserção local, uma escala microImigrantes e inovação sócio-espacial nas cidadesExemplo II – O contributo dos comerciantes oriundos do estrangeiro para a transformação urbanística e a dinamização do Martim Moniz
Businesses according to the activity branch and the owner origin in the Avenue da Palma/Almirante Reis (Lisbon), 2000.
Origin of the owner Activity Branches
South Asian
Other Foreigne
r
Portuguese
Total % of South Asians
TOTAL 45 4 142 191 23,6 Of which: . Furniture (decoration) 27 0 5 32 84,4 . Clothes 4 2 34 40 10,0 . Jewelry 3 0 5 8 37,5
Businesses according to the activity branch and the owner origin in Rua do P. Borratém, Rua da Mouraria, Rua Fernandes da Fonseca, Rua dos Cavaleiros and Benformoso (Lisbon), 2000.
Origin of the owner Activity Branches
South Asian
Other Foreigner
Portuguese
Total % of South Asians
TOTAL 47 6 70 123 38,2 of which: . Toys, stationary and similar (retail and wholesale)
20 1 4 25 80,0
. Wholesale Bazars, frequently specialised in electronic gadgets
11 0 16 27 40,7
. Personal accessories 12 1 12 25 48,0 Fontes: Câmara Municipal de Lisboa/Direcção Municipal de Abastecimento e Consumo e Levantamento Directo.
C - Migrações – a inserção local, uma escala microImigrantes e inovação sócio-espacial nas cidades
Exemplo II – O contributo dos comerciantes oriundos do estrangeiro para a transformação urbanística e a dinamização do Martim Moniz
No Martim Moniz e na sua envolvente, os empresários de origem indiana contribuiram para:
- A instalação de novos negócios que substituiram muitos dos antigos, ligados a um comércio que já se encontrava em declínio na segunda metade dos anos 70(e.g. reparação de máquinas de costura, casas de mobiliário “tradicionais”, tabernas…);
- Trazer clientes e animação comercial para uma área das “traseiras” do centro da cidade;
- Alguma manutenção (física) dos espaços comerciais e para alguma renovação nos modos de apresentar os produtos (mais evidente nos comerciantes de mobiliário ismailitas da Almirante Reis);
- Um reconhecimento formal, bastante tímido, por parte de algumas entidades públicas do “comércio imigrante” como um elemento relevante do processo de promoção e revitalização da Mouraria (Projecto Mouraria: Um espaço comercial inter-étnico; URBCOM of Mouraria…)
E, afinal, o que é mais importante reter…
- Que os fenómenos migratórios, como os restantes fenómenos sociais, fazem parte de uma realidade social una que requer leituras diversas e complementares;
Que a compreensão das migrações exige, em simultâneo, análises específicas desenvolvidas por cada disciplina e mais orientadas para os seus respectivos “centros de interesse” e, também, análises interdisciplinares que permitam o desenvolvimento de teorias e conceitos (ainda muito insatisfatórios…) e o aprofundamento e melhor compreensão dos fenómenos migratórios concretos.
-É certo que nas últimas décadas as ciências sociais avançaram na cooperação e no trabalho interdisciplinar, começando a ultrapassar o “estado fragmentário” que lhes atribuia Sedas Nunes nos anos 70. Mas, por vezes, as fracturas ainda emergem sob a cooperação…
Pelo seu percurso na investigação, pelos incentivos que deu a investigadores de várias formações, pelo rigor e entusiasmo do seu trabalho, foi trambém isto que M. I. Baganha ensinou a muitos de nós…
… sempre com um brilho nos olhos!
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