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7/24/2019 Conflitos Ambientais, Processos de Territorialização e Identidades Sociais
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33º Encontro Anual da Anpocs
GT 4: Conflitos ambientais, processos de territorialização e identidades
sociais
Povos e Comunidades Tradicionais Demarcando Territórios na
Amazônia: uma análise crítica do caso das Quebradeiras de Coco
Babaçu
Iran Veiga1
Noemi Miyasaka Porro2
Dalva Mota3
Luciene Dias Figueiredo4
1 Núcleo de i!ncias "gr#rias e Desenvolvimento $ural % &niversidade Federal do Par#' iveiga(u)*a+,r
2 Núcleo de i!ncias "gr#rias e Desenvolvimento $ural % &niversidade Federal do Par#' noemi(u)*a+,r 3 -m,ra*a .-m*resa /rasileira de Pes0uisa "gro*ecu#ria "mania riental' dalva(c*atu+em,ra*a+,r 4 Doutoranda do Programa de P5s%gradua67o em i!ncias 8ociais % &niversidade Federal do Par#' consultoria(mi0c,+org+,r
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Povos e Comunidades Tradicionais Demarcando Territórios na Amazônia: uma
análise crítica do caso das Quebradeiras de Coco Babaçu
Iran Veiga' Noemi Miyasaka Porro' Dalva Mota' Luciene Dias Figueiredo
Resumo
" crescente aten67o ao meio am,iente' em es*ecial nos últimos 29 anos' *arecia
)avorecer *ovos e comunidades tradicionais envolvidos em con)litos am,ientais'
inclusive no controle so,re *rocessos de territorialia67o vinculados a recursos naturais
es*ec:)icos+ Decretos e medidas re)letiram relativa considera67o aos movimentos sociais
aglutinados em torno de identidades coletivas de ,ase ;tnica' como 0uilom,olas'
seringueiros e 0ue,radeiras de coco+ Por;m' essas categorias *ol:ticas de mo,ilia67o
t!m en)rentado com*le<as negocia6=es na e<ecu67o de leis e a6=es de desenvolvimento'
tanto internas a seu gru*o social' 0uanto com segmentos sociais >istoricamente
antagnicos e o -stado+ -sta an#lise cr:tica identi)ica *ossi,ilidades nessas negocia6=es'
discutindo estrat;gias adotadas e os riscos de ru*turas nas redes sociais 0ue' )inalmente'
mant;m a integridade de seus territ5rios e modos de vida+
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Introdução
No /rasil' a *artir de meados da d;cada de 1?@9' di)erentes movimentos sociaisA
no meio rural lograram recon>ecimento no es*a6o *ú,lico' a)irmando identidades
coletivas de ,ase ;tnica vinculadas a determinados territ5rios e a recursos naturais
es*ec:)icos+ Na0uele conte<to' a a*ro<ima67o entre institui6=es *romotoras da
conserva67o am,iental .so,retudo NBs am,ientalistas e movimentos sociais' como o
de 0uilom,olas' seringueiros e 0ue,radeiras de coco ,a,a6u' )oi considerada essencial
*ara o avan6o de *ol:ticas *ú,licas e *rogramas de desenvolvimento 0ue integravam0uest=es am,ientais e sociais+ "s $eservas -<trativistas e os diversos *roCetos
desenvolvidos com este en)o0ue )oram instrumentos considerados vitais *ara um maior
controle so,re os *rocessos de territorialia67o *retendidos *or tais movimentos+
Por;m' ao longo dessas duas d;cadas' )oram tam,;m crescentemente registradas
situa6=es de con)litos am,ientais em 0ue se *osicionam antagonicamente suCeitos sociais
outrora aliados+ ais con)litos se veri)icaram tanto em situa6=es locais' no con)ronto entre
leis am,ientais e )ormas tradicionais de gest7o de recursos naturais' 0uanto em situa6=es
institucionais' no con)ronto entre atores de *ers*ectivas divergentes so,re a 0uest7o' em
organia6=es de ,ase' e em ag!ncias governamentais e n7o governamentais+ s con)litos
am,ientais' e os di)erenciais de *oder entre atores' c>egaram ao *onto de se conce,er a
*ossi,ilidade de se tratar de um Eneo%colonialismo am,iental .Diegues' 299@+
"ssim' se a aten67o glo,al e nacional Gs 0uest=es am,ientais *ro*orcionou uma
arena );rtil *ara uma maior visi,ilidade social tanto *ara gru*os ind:genas como *ara as
c>amadas comunidades tradicionaisH' tam,;m trou<e com*le<os dilemas+ 8e as
A De)inimos movimentos sociais como uma categoria anal:tica 0ue envolve Eum conCunto de re)er!nciassim,5licas em um cam*o de valores e *r#ticas sociais' os 0uais s7o constru:dos na a67o e mem5riacoletiva' *enetrando nas rela6=es dentro e entre )am:lias' comunidades e sociedade' nos n:veis local'nacional e glo,al .8c>erer%arren et al+' 2992J24@+ -n0uanto movimentos sociais s7o n7o >ier#r0uicos e)luidos' organia6=es sociais ou de ,ase s7o estruturas >ier#r0uicas e normatiadas criadas *ara re*resent#%los na interlocu67o com outros setores da sociedade+H 8egundo a legisla67o ,rasileira' *ovos e comunidades tradicionais s7o de)inidos comoJ Egru*osculturalmente di)erenciados 0ue se recon>ecem en0uanto tal' os 0uais mant!m suas *r5*rias )ormas deorgania67o social' ocu*ando e usando territ5rios e recursos naturais como condi67o *ara sua re*rodu67osocial' religiosa' ancestral e econmica' utiliando con>ecimentos' inova6=es e *r#ticas geradas etransmitidas atrav;s da tradi67o .Decreto H949 de 9K de )evereiro de 299K+
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identidades coletivas de ,ase ;tnica )oram recon>ecidas e atingiram essa maior
visi,ilidadeK' tam,;m )oram )orCadas em *rocessos de dura negocia67o so,re o acesso e
)ormas de gest7o de recursos naturais+ -ste estudo analisa criticamente essas
negocia6=es' utiliando a no67o de territorialia67o *ro*osta *or liveira .1??@' G lu de
*es0uisas em*:ricas realiadas Cunto ao Movimento das ue,radeiras de oco /a,a6u
.MI/' criado e dirigido *or mul>eres 0ue tiram seu sustento das )lorestas de ,a,a6u
. Attalea speciosa' antes con>ecido como Orbignya phalerata+ -ste estudo de caso
mostra como esta organia67o de ,ase en)rentou desa)ios tais como a )ragmenta67o do
*r5*rio movimento' a descone<7o das lideran6as de sua *r5*ria ,ase e o risco de ru*tura
das redes sociais 0ue mant!m a integridade de seus territ5rios+
O Movimento das Quebradeiras de Coco Babaçu
"s 0ue,radeiras de coco ,a,a6u vivem em comunidades tradicionais localiadas
dentro ou nas *ro<imidades de ,a,a6uais nas regi=es Norte e Nordeste do /rasil+ -las
gan>am seu sustento coletando e 0ue,rando )rutos de ,a,a6u *ara e<trair as am!ndoas
.as 0uais s7o consumidas de di)erentes )ormas e vendidas *or seu 5leo' al;m da
realia67o de ro6as de arro de corte%e%0ueima+ s ,a,a6uais constituem
a*ro<imadamente 29 mil>=es de >ectares de )loresta secund#ria cont:nua' co,rindo uma
am*la #rea desde 0ue a colonia67o come6ou' a *artir do s;culo VII' a *ertur,ar as
)lorestas de terra )irme da "mania oriental ."nderson' 1??9+ -ste e<trativismo'
conectado ao mercado internacional desde *elo menos 1?11' tem sido levado a ca,o
*rinci*almente *or mul>eres e crian6as' envolvendo atualmente um número estimado em
499+999 )am:lias cam*onesas@+
"s am!ndoas de ,a,a6u tam,;m s7o utiliadas *ara consumo das )am:lias' mas
seu *rinci*al destino ; a venda *ara a indústria *ara a *rodu67o de 5leo comest:vel'
K De)inimos visi,ilidade social como o resultado de *rocessos com*le<os nos 0uais distintos gru*os sociais)aem com 0ue sua identidade e e<ist!ncia social seCam recon>ec:veis *ela sociedade+@ 8egundo o I/B- >avia em 299H 12H+999 c>e)es de )am:lia declarando a coleta e 0ue,ra do ,a,a6u comoatividade *rodutiva+ "s organia6=es de ,ase das 0ue,radeiras estimam em 499+999 seu número+ De0ual0uer maneira trata%se do maior gru*o .em número de )am:lias de comunidades tradicionais realiandoatividades e<trativas )lorestais' e do segundo em termos de valor de *rodu67o+
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margarina' sa,7o e cosm;ticos+ " renda *roveniente do ,a,a6u em geral garante o
sustento das )am:lias at; a col>eita do seu *rinci*al cultivo' o arro' *roduido em
*e0uenas ro6as de corte%e%0ueima a,ertas nos ,a,a6uais+ omens' mul>eres e crian6as
tra,al>am nestas ro6as' maneCando recursos agr:colas e e<trativos nos -stados do
Maran>7o' Par#' ocantins e Piau:+ 8eus territ5rios?' 0ue coincidem com as #reas onde
a,undam os ,a,a6uais' incluem diversas regi=es )itogeogr#)icas' indo da )loresta úmida
no Maran>7o central e ocidental' sudeste do Par# e norte do ocantins' at; as onas
*eriodicamente inundadas da /ai<ada Maran>ense e as de transi67o *ara a aatinga
semi%#rida no Piau:+
cam*esinato 0ue )orma estas comunidades tradicionais com*artil>a uma>ist5ria comum de o*ress7o e resist!ncia a *artir de di)erentes origens onde a
destri,alia67o' a escravid7o e a migra67o )or6ada s7o os *rinci*ais elementos+
"tualmente' estas comunidades en)rentam condi6=es *ol:ticas e sociais muito es*ec:)icas
em cada territ5rio+ -n0uanto algumas 0ue,radeiras em comunidades 0uilom,olas da
/ai<ada Maran>ense lutam contra criadores de ,ú)alos 0ue avan6am so,re suas terras'
outras' assentadas no sudeste do Par#' lutam contra indústrias 0ue com*etem *elos )rutos
do ,a,a6u *ara )aer carv7o vegetal *ara a *rodu67o de )erro gusa+ No entanto' todas as
0ue,radeiras resistem contra cair no 0ue elas c>amam de novas )ormas de Ecativeiro' ou
seCa' su,ordina67o a grandes *ro*riet#rios de terra 0ue grilam suas terras e co,ram *elo
acesso aos ,a,a6uais+ -las ,uscam )icar livres desta su,ordina67o atrav;s do Etra,al>o
livre' ou seCa' a *ossi,ilidade de tra,al>ar *ara si mesmas' sem de*ender de um *atr7o'
integrando atividades agr:colas e e<trativas so, o controle da )am:lia' levadas a ca,o
atrav;s de rela6=es es*ec:)icas de g!nero e gera67o .Porro' 2992+
-m comunidades 0ue mantiveram suas )ormas de organia67o tradicional' esta)orma de *roduir cam*onesa ; ,aseada em uma *erce*67o e uma *r#tica da terra e dos
,a,a6uais en0uanto recursos de uso comum+ Normas de)inidas culturalmente *rescrevem
? &tiliamos a0ui a de)ini67o de territ5rio dada *or "l,aladeCo e Veiga .2992J1' 0ue o consideram Enaace*67o da geogra)ia social e cultural' ou seCa' n7o ; Oo es*a6oOJ ; uma ordem local de a*ro*ria67o social esim,5lica do mesmo+ uma ordem em trans)orma67o constanteJ o territ5rio ; o cadin>o' e tam,;m o
*alco' onde se )ormam e se re*roduem >ist5rias e identidades de gru*os sociais e de indiv:duos+ Istoim*lica em 0ue ele ten>a ca*acidade de >armoniar eQou articular >ist5rias e identidades atrav;s derela6=es cotidianas ou es*or#dicas entre as *essoas' e entre as *essoas e as coisas' *articularmente' osrecursos locais+ s5 a *artir do momento em 0ue e<iste um territ5rio' 0ue a 0uest7o de um )uturo comumdos atores e dos gru*os sociais 0ue convivem num es*a6o *ode )aer sentido+
A
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um sistema de E0uem c>ega *rimeiro' usa *rimeiro' de maneira 0ue todos devem
es*erar 0ue os )rutos caiam soin>os *ara 0ue *ossam ser coletadosR e ningu;m )a
demandas de *ro*riedade individual de *almeiras+ Pes0uisas realiadas desde os anos
1?K9 .Mour7o' 1?KAR Mour7o e "lmeida' 1?K4R Porro' 1??KR arval>o' 2999R Lago'
2994R Figueiredo' 299A mostram 0ue' em cada territ5rio' mesmo 0ue estrat;gias
econmicas e am,ientais *ossam variar' a 0ue,ra do ,a,a6u n7o ; somente uma )onte de
renda' mas tam,;m tornou%se um im*ortante s:m,olo da identidade destas cam*onesas e
a )unda67o material *ara um meio de vida distinto+ -stes estudos demonstram a
centralidade de seus territ5rios e do Etra,al>o livre *ara uma ro6a ,em sucedida a*oiada
*ela 0ue,ra do ,a,a6u+ -stes *ermitem a autonomia e a re*rodu67o do gru*o )amiliar
en0uanto unidade de *rodu67o e consumo segundo sua *r5*ria cultura' mesmo em um
conte<to dominado *or grandes *ro*riet#rios *oderosos e *or um -stado geralmente
des)avor#vel Gs 0ue,radeiras e suas )am:lias+
No )inal dos anos 1?H9' leis e *ol:ticas *ú,licas estaduais e )ederais criaram as
condi6=es *ara 0ue criadores de gado e<*ro*riassem comunidades tradicionais'
*rivatiando terras *ú,licas e legitimando a grilagem de terras ."lmeida' 1??4+ Durante
os trinta anos seguintes' governos estaduais e )ederais tacitamente *ermitiram a
elimina67o de centenas de comunidades tradicionais em )avor de )aendas'
*articularmente de enormes )aendas de gado' o 0ue resultou em concentra67o )undi#ria
e desmatamento ."lmeida' 1??A+ S# durante os anos 1?K9' resist!ncias locais
come6aram a a*arecer es*ontaneamente contra criadores de gado 0ue cortavam
,a,a6uais e im*ediam as 0ue,radeiras de coletar ,a,a6u' dei<ando seu gado destruir as
ro6as de arro dos cam*oneses ou *lantando *astagens em #reas )lorestais at; ent7o
maneCadas *or comunidades locais+ "o longo dos anos 1?@9' a6=es de ,ase a*oiadas *or
setores da IgreCa at5lica *r5<imos G teologia da li,erta67o .como a P % omiss7o
Pastoral da erra' *or organia6=es de ,ase .-N$& % entro de -duca67o e ultura
dos ra,al>adores $urais e "88-M" % "ssocia67o de "ssentamentos do -stado do
Maran>7o e *or NBs .como a 8ociedade Maran>ense de De)esa dos Direitos umanos
e o entro de -duca67o Po*ular de -s*erantina' no Piau: come6am a )aer com 0ue a
luta das 0ue,radeiras )osse se tornando mais vis:vel *ara o *ú,lico em geral+ -m 1??1'
249 mul>eres re*resentando comunidades de 0uatro -stados se reúnem em 87o Lu:s'
H
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*ela *rimeira ve se identi)icando como E0ue,radeiras de coco ,a,a6u+ -m 2991' em
uma assem,l;ia geral 0ue contou com 249 mul>eres' ; criada o)icialmente uma
organia67o de ,ase denominada "ssocia67o do Movimento das ue,radeiras de oco
/a,a6u .MI/+ ada uma das H *rinci*ais #reas de atua67o do movimento'
con>ecidas como Eregionais ./ai<ada Maran>ense' Vale do Mearim' Im*eratri' /ico
do Pa*agaio' 8udeste do Par# e Piau:' elegeu ent7o duas coordenadoras entre as
lideran6as locais *ara com*or uma coordena67o geral de 12 0ue,radeiras+ Para alcan6ar
as metas esta,elecidas *ela assem,l;ia geral e registradas no $elat5rio do II -ncontro
Interestadual' iniciou%se um *rocesso gradual de )ormalia67o e consolida67o do MI/
como uma organia67o re*resentativa' o 0ual tornou necess#ria uma s;rie de mudan6as
nas *r#ticas das associadas e das lideran6as+ MI/ )oi )undado n7o somente *ara
re*resentar a diversidade das regionais' mas tam,;m *ara lidar com novas
res*onsa,ilidades e interagir com assessores e t;cnicos' assim como *ara negociar com
governos' com doadores' com a m:dia e com a sociedade em geral+ -ste *rocesso tem
demandado um e<erc:cio constante de negocia67o de di)eren6as e converg!ncias' dentro
do *r5*rio gru*o das 0ue,radeiras e entre elas e atores e<ternos+ "*esar das di)iculdades'
o HT -ncontro Interestadual realiado em 299? )oi um momento de comemorar desa)ios
su*erados e discutir )racassos com os 0uais a organia67o teve 0ue lidar neste *rocesso
de a*rendiagem social+
Riscos e oportunidades para um novo movimento social
8egundo 8c>erer%arren .2992' trans)orma6=es numerosas e cada ve mais
r#*idas' e um conte<to de glo,alia67o econmica' tecnol5gica e in)ormacional' t!m
*rovocado mudan6as nas )ormas e maneiras de atuar de movimentos sociais e nas
organia6=es de ,ase 0ue os re*resentam+ Neste cen#rio' novos temas emergem' *or
e<em*lo a luta *ela cidadania e o recon>ecimento de direitos culturais' os 0uais v7o al;m
das convencionais lutas de classe+
movimento das 0ue,radeiras *ode ser analisado como um Enovo movimento
social .8c>eren%arren' 2992 ou movimento social contem*orUneo .o>en' 1?@A+ -le
K
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n7o se de)ine atrav;s da no67o de classe social' mas sim en0uanto um movimento de
,ase' democraticamente organiado e *ouco >ierar0uiado e' como outros movimentos
do mesmo ti*o' Eenvolve atores 0ue se tornaram conscientes de sua ca*acidade de criar
identidades e das rela6=es de *oder envolvidas na sua constru67o social .o>en' 1?@AJ
H?4' nossa tradu67o+ -sses movimentos tem uma caracter:stica de Eauto%limita67o' na
medida em 0ue seu o,Cetivo n7o ; a con0uista do -stado ou uma trans)orma67o radical
da sociedade' mas Ereorganiar as rela6=es entre economia' -stado e sociedade .o>en'
1?@AJ HK9 de maneira mais democr#tica e trans*arente+ Para tanto eles agem na arena da
sociedade civil' *ois ; nessa arena 0ue *odem se criar essas novas identidades' e atrav;s
delas tentar trans)ormar rela6=es sociais de su,ordina67o nas 0uais )re0uentemente est7o
envolvidos os gru*os sociais 0ue *artici*am nesses movimentos .como ; o caso das
0ue,radeiras+ "ssim' as organia6=es )ormais constitu:das *or estes movimentos .como
o MI/ n7o s7o somente meios *ara atingir um )im' mas um )im em si mesmo na
medida em 0ue *ermitem a cria67o e o )ortalecimento destas identidades+
No entanto o movimento das 0ue,radeiras n7o ; um t:*ico Enovo ou
Econtem*orUneo movimento social como os constitu:dos nos anos 1?H9 e 1?K9 na
-uro*a ocidental e na "m;rica do Norte+ -le tam,;m deve suas caracter:sticas ao seu
surgimento no conte<to ,rasileiro *5s%onstitui67o de 1?@@ .e G sua )orte rela67o com
organia6=es envolvidas em Elutas de classe mais convencionais' assim como G
in)lu!ncia do Ea*arato de desenvolvimento ./reton' 299AR -sco,ar' 1??A criado no
/rasil .e em outras *artes da "m;rica Latina e do mundo em desenvolvimento a *artir
dos anos 1??9 com as *ol:ticas de desengaCamento do -stado+ -ste *er:odo se caracteria
*or uma mudan6a de atores' temas e )iloso)ia de tra,al>o *ara o desenvolvimento+ )im
do 0uase mono*5lio estatal na #rea do desenvolvimento rural .0ue marca o re)lu<o do
Edesenvolvimentismo na "m;rica Latina leva a uma multi*lica67o dos atores
*artici*ando nas interven6=es de desenvolvimento' tanto no 0ue di res*eito a seus
)inanciadores como a seus im*lementadores' *or e<em*lo NBs e movimentos
sociaisQorgania6=es re*resentativas de setores su,ordinados da sociedade+
Finalmente as 0ue,radeiras est7o tam,;m )irmemente ancoradas em um
cam*esinato nordestinoQmaran>ense 0ue agru*a 0uilom,olas' descendentes de ind:genas
e migrantes de v#rios -stados nordestinos' o 0ue con)ere a seu movimento um certo
@
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conCunto de la6os culturais e e<*eri!ncias *ol:ticas centrais G constru67o de sua
identidade de 0ue,radeiras+ -ste cam*esinato est# envolvido desde os anos 1?H9 em um
*rocesso de e<*ans7o da )ronteira agr#ria da "mania oriental' o 0ual *ode ser
analisado en0uanto a trans)orma67o de comunidades tradicionais no contato com o
mercado ca*italista+ -stas com*le<as mudan6as sociais ocorrem simultaneamente em
di)erentes n:veisJ atrav;s da cria67o de organia6=es cam*onesas ,aseadas na Emoderna
solidariedade de classe' como os sindicatos de tra,al>adores ruraisR mas tam,;m atrav;s
do contato destes gru*os sociais com o E*5s%moderno a*arato de desenvolvimento e
suas novas )ormas de solidariedade' identidade e mo,ilia67o' e atrav;s das alian6as
contingentes criadas com alguns atores deste a*arato .NBs' assessores e certos setores
do -stado+
"trav;s destas alian6as' investimentos s7o )eitos .local e glo,almente na
constru67o de imagens e discursos 0ue associem' *or um lado' modos de vida
considerados am,ientalmente corretos' geralmente de gru*os >istoricamente aliCados do
mercado' com os o,Cetivos da *reocu*a67o glo,al com o meio am,iente+ " constru67o
desta nova imagem e discurso' atrav;s da a*ro*ria67o de temas glo,ais e de alian6as mais
ou menos estrat;gicas com atores nacionais e estrangeiros' *ermite em certa medida
curto%circuitar as >istoricamente desiguais rela6=es de )or6a locais e o,ter gan>os
consider#veis no acesso a recursos de todo ti*o' entre eles recursos sim,5licos+ "trav;s
destas alian6as com os novos atores do desenvolvimento' movimentos como o das
0ue,radeiras trans)ormam sua luta *or estes recursos em uma luta *elo direito de
constru67o de uma nova identidade coletiva 0ue se Coga no Um,ito da sociedade civil+
-sta nova identidade est# relacionada G tradi67o' mas a uma tradi67o *oliticamente
reinventada e em constante trans)orma67o+ Isto n7o 0uer dier 0ue o acesso aos recursos
em si n7o seCa im*ortante+ No caso das 0ue,radeiras' o acesso ao e o controle dos
recursos agr:colas e e<trativos atrav;s do Etra,al>o livre em territ5rios livres de grandes
*ro*riet#rios ; central a essa luta *ela rede)ini67o de sua identidade+
No caso es*ec:)ico das 0ue,radeiras' e de movimentos sociais cam*oneses da
"mania' a cria67o destas novas identidades est# intrinsecamente relacionada com a
constitui67o e o controle de um territ5rio a,arcando o es*a6o ):sico .0ue *ode ser n7o
cont:nuo e di)uso e os gru*os sociais 0ue o e<*loram e l>e d7o signi)icado+ liveira
?
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.1??@JAA )ala da no67o de Eterritorialia67o' 0ue nos *arece *articularmente útil *ara a
com*reens7o do caso das 0ue,radeiras' e 0ue ; de)inida como Eum *rocesso de
reorgania67o social 0ue im*licaJ 1 a cria67o de uma nova unidade sociocultural
mediante o esta,elecimento de uma identidade ;tnica di)erenciadoraR 2 a constitui67o de
mecanismos *ol:ticos es*ecialiadosR 3 a rede)ini67o do controle social so,re os
recursos am,ientaisR 4 a reela,ora67o da cultura e da rela67o com o *assado+
" rela67o entre esta tradi67o *oliticamente reinventada e as *r#ticas sociais
concretas nas comunidades tradicionais ; crucial *ara nossa an#lise' *ois a constru67o
desta nova identidade e sua ca*acidade de mo,ilia67o *ara tanto de*ende desta tradi67o
e das solidariedades comunit#rias tradicionais .o *ovo da ro6a e o tra,al>o livre'
mas ao mesmo tem*o tem 0ue' necessariamente' ir al;m delas criando novas identidades
e novas solidariedades .as 0ue,radeiras como mul>eres de)endendo os ,a,a6uais
atrav;s de uma *rodu67o ecologicamente correta19+ " 0uest7o ; como a organia67o
)ormal 0ue re*resenta o movimento das 0ue,radeiras .o MI/ negocia esta di):cil
transi67o' *ois ela tra o risco im*l:cito de ru*tura e distanciamento das *erce*6=es da
,ase comunit#ria tradicional 0ue garante a sua )or6a e l>e d# sentido+ rata%se de um
*rocesso de a*rendiagem social 0ue re0uer um tem*o *r5*rio' nem sem*re com*at:vel
com o tem*o r#*ido do a*arato do desenvolvimento+ N7o *arece evidente evitar a
tenta67o de se dei<ar desliar tran0uilamente *ara categorias como am,ientalista ou
)eminista' o)erecidas com ,oa vontade *elos *arceiros do a*arato do desenvolvimento'
mas distantes da cultura tradicional de sua ,ase+ desa)io ; de se a*ro*riar destas
categorias 0ue l>es traem os *arceiros dando%l>es um signi)icado novo' 0ue )a6a sentido
*ara sua gente' ou seCa' como )a!%lo instituindo um verdadeiro *rocesso de
a*rendiagem social' e n7o de mimetismo social+
Nesse *rocesso tensionado de se manter a imagem *roCetada e os discursos
aud:veis' e<istem outros riscos constantes *ara o movimento das 0ue,radeiras+ &m risco
,astante o,servado e estudado ; o da re*rodu67o de )ormas tradicionais de su,ordina67o
*ersonaliada .Be))ray' 1??AR L;na et al+' 1??HR Picard' 1??@R Veiga e "l,aladeCo' 2992'19&m e<em*lo interessante ; a trans)orma67o do *r5*rio signi)icado da coleta e 0ue,ra do ,a,a6u' 0ue era>istoricamente relacionado como o último recurso de )am:lias deses*eradamente *o,res+ De*enderunicamente do ,a,a6u im*licava 0ue a ro6a >avia )al>ado e 0ue as mul>eres tin>am 0ue 0ue,rar ,a,a6u
*ara n7o morrer de )ome+ "s lutas do movimento das 0ue,radeiras *ara criar uma nova identidade em tornodesta atividade mudou a maneira como ela ; *erce,ida *or muitas )am:lias cam*onesas' trans)ormando%aem algo de 0ue elas *odem se orgul>ar+
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como redes de clientela' nas 0uais os gru*os sociais 0ue constituem o movimento das
0ue,radeiras )oram e s7o socialiados+
/reton .299A' na sua cr:tica do Ea*arato do desenvolvimento' tam,;m levanta
uma 0uest7o *ertinente *ara o nosso casoJ o risco de 0ue a multi*lica67o das novas
identidades e dos novos movimentos .e novas organia6=es )ormais' estimulada *elo
a*arato do desenvolvimento e seus *aradigmas e modas' dilua um certo *otencial
reivindicativo e trans)ormador dos gru*os sociais su,ordinados+ -le mostra como o
E*roCetismo .multi*lica67o de *e0uenos *roCetos *ara a a*oiar uma grande 0uantidade
de organia6=es re*resentativas locais *ode Custamente re)or6ar estruturas clientelistas
locais .como as mencionadas *elos autores acima' re)or6ando a di)erencia67o interna
das comunidades locais e Eanestesiando *oliticamente as organia6=es re*resentativas
com a inCe67o de recursos' ou seCa' criando uma certa de*end!ncia e a)astando%as de uma
cr:tica mais e)etiva de grandes *ro,lemas estruturais da sociedade+
-stes s7o riscos ,em concretos no camin>o do movimento das 0ue,radeiras em
sua tentativa de trans)ormar sua *ouco vis:vel mo,ilia67o social a n:vel local' em suas
#reas geogr#)icas isoladas' em um movimento social mais am*lo e mais articulado'
atrav;s da )ormalia67o do MI/+ "s organia6=es locais ainda tratam de *ro,lemas
locais do cotidiano .como *or e<em*lo o acesso aos ,a,a6uais e a re*rodu67o de seu
modo de vida es*ec:)ico' mas agora o MI/' simultaneamente' articula n7o somente
estes' mas novos temas' tais como g!nero' meio am,iente' *rote67o de con>ecimentos
tradicionais e novas intera6=es com a sociedade nacional e internacional+ MI/ se
tornou central *ara levar os *ro,lemas locais das 0ue,radeiras *ara a es)era glo,al' e tem
0ue lidar com as tens=es entre as e<*eri!ncias concretas vividas *elas )am:lias das
0ue,radeiras nas suas comunidades e as imagens e discursos estrategicamente
conce,idos e *roCetados *ara o di#logo e negocia6=es com audi!ncias mais am*las e
atores sociais im*ortantes+
" no67o de territorialia67o de liveira .1??@' utiliada originalmente no estudo
de gru*os ind:genas Emisturados' e 0ue *ode ser conce,ida como uma interven67o
*rescritiva da autoridade' com o uso de mecanismos de su,ordina67o ao -stado' *ara
organiar e assentar indiv:duos agru*ados W como o,Cetos de uma *ol:tica%administrativa
W em #reas geogr#)icas designadas *ela autoridade' c>ama a aten67o *ara um outro
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as*ecto da luta das 0ue,radeiras *ela cria67o de uma nova identidade ligada a um
determinado territ5rio+ Para alcan6ar seus o,Cetivos elas constroem um rela67o com o
-stado 0ue *assa' em certa medida' *or seu en0uadramento a uma autoridade 0ue
>istoricamente l>e )oi des)avor#vel+ Por;m' como vem ocorrendo com o movimento das
0ue,radeiras' o considerado o,Ceto *ode se construir suCeito e *rotagoniar os *rocessos
de constru67o de seus territ5rios+
Portanto' como conceituado *or liveira .1??@JAA' o *rocesso de
territorialia67o envolveria um E processo de reorganização social tal como vem sendo
o,servado em*iricamente Cunto ao movimento das 0ue,radeiras 0ueJ esta,eleceram
unidades organiativas 0ue recon>ecem em sua identidade de 0ue,radeira de coco um
suCeito coletivo de resist!ncia *ol:tica' 0ue as di)erencia *or suas conce*6=es *r5*rias de
g!nero e de rela67o com o recurso *almeira ,a,a6u . Attalea speciosaR atrav;s de
unidades de mo,ilia67o )ormais e in)ormais' institu:ram mecanismos de atua67o
*ol:tica' sendo a c>amada Lei do /a,a6u Livre .8>irais>i Neto' 299H um mecanismo
comum de lutaR ao lidarem com a *assagem da Eterra li,erta onde a *almeira era recurso
a,undante e de uso comum' *ara a terra so, constante amea6a de trans)orma67o em
Eterra de dono' as 0ue,radeiras rede)inem o controle so,re o ,a,a6ualR tendo en)rentado
di)erentes traCet5rias >ist5ricas' em *rocessos de escravid7o' destri,alia67o e migra6=es'
e estando em #reas de ocorr!ncia de ,a,a6uais 0ue se estendem *or 0uatro -stados' as
0ue,radeiras viveram e vivem di)erentes *rocessos de territorialia67o' e re%ela,oram sua
cultura' ao mo,iliarem%se em torno de uma identidade comum+
-ssas im*lica6=es em seu conCunto' como sugerido *or liveira' constituiriam o
*rocesso de reorgania67o necess#rio G territorialia67o+ Por;m' essas im*lica6=es n7o
ocorrem simultUnea e >omogeneamente Cunto a todas as associadas ao movimento das
0ue,radeiras+ "o contr#rio' indiv:duos e gru*os vivem seus *rocessos de territorialia67o
de )ormas ,astante di)erenciadas+ movimento das 0ue,radeiras lida com situa6=es em
0ue determinados gru*os lograram o recon>ecimento )ormal de seus territ5rios' atrav;s
da regularia67o )undi#riaR en0uanto outros gru*os' C# e<*ro*riados das terras 0ue
tradicionalmente ocu*avam' lutam *elo acesso Gs *almeiras e contra a co,ran6a de renda
so,re a *rodu67o e<trativista o,tida+
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r!s temas *rinci*ais *odem ilustrar como o movimento das 0ue,radeiras tem
lidado com os riscos e tens=es discutidos acima nas suas tentativas de manter a unidade
sem eliminar a diversidade e as reais di)eren6as entre suas associadasJ as )ormas de
re*resenta67o e mo,ilia67o ,aseadas no Etra,al>o livreR o tratamento dado ao meio
am,iente e G agriculturaR e as )ormas de acesso e *ro*riedade da terra e dos recursos
)lorestais+ "trav;s de uma an#lise cr:tica destes temas' tentamos a seguir discutir os
riscos e o*ortunidades 0ue emergem neste *rocesso de a*rendiagem social 0ue envolve
a cria67o de uma nova identidade *ol:tica sem *erder a coes7o social 0ue d# coer!ncia
aos territ5rios e modos de vida das 0ue,radeiras+
Formas de representação e mobilização baseadas no “trabalholivre”
Nos anos 1??9 l:deres dos sindicatos de tra,al>adores rurais e da F-"-M"
.Federa67o dos ra,al>adores na "gricultura do Maran>7o' associados G N"B
.on)edera67o dos ra,al>adores na "gricultura' se *reocu*avam 0ue a )ormalia67o do
MI/ iria causar uma )ragmenta67o do movimento social dos tra,al>adores rurais+ Noentanto' as associadas do MI/ nunca a,andonaram a *artici*a67o ativa nos sindicatos
munici*ais de tra,al>adores rurais+ Na verdade as 0ue,radeiras nunca consideraram o
MI/ como sua única )orma de organia67o+ "o contr#rio' elas se envolveram em
v#rias organia6=es' doss 8$s Gs )edera6=es' do onsel>o Nacional dos 8eringueiros
.N8R o 0ual re*resenta n7o somente os seringueiros mas tam,;m outros e<trativistas a
associa6=es de mul>eres' de organia6=es cat5licas ao Movimento dos ra,al>adores
$urais 8em erra .M8 e *artidos *ol:ticos+ -las est7o ativamente envolvidas na
*ol:tica *artid#ria' e at; agora duas de suas lideran6as )oram eleitas vereadoras' tendo
como *lata)orma eleitoral sua identidade de 0ue,radeiras+
"o longo dos anos' a*esar das 0ue,radeiras e do MI/ terem adotado um
am*lo le0ue de estrat;gias *ara alcan6ar seus o,Cetivos' elas t!m mantido um de,ate
constante so,re os *rinc:*ios )undamentais 0ue as mant!m unidas+ conceito de
Etradicional' tal como de,atido na onven67o IL 1H?' )oi adotado como um termo
e<*ressando as metas de auto%de)ini67o e autonomia do *onto de vista *ol:tico+
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Eradicional n7o tem nada a ver com imemorialX tradicional ; uma maneira de ser' uma
maneira de e<istir' uma maneira de reivindicar' de ter uma identidade coletiva' a 0ual ;
uma e<*eri!ncia *ol:tica como um gru*o )ace a outros gru*os e mesmo )ace ao *r5*rio
-stado ."lmeida' 299H+ "s*ectos )undamentais de sua identidade e re*rodu67o social %
tais como o acesso livre aos ,a,a6uais e o Etra,al>o livre atrav;s da ro6a e do
e<trativismo do ,a,a6u % d7o sentido G tradi67o como uma *osi67o *ol:tica atual' e n7o
como algo 0ue so,revive de um *assado congelado no tem*o+
"ssim' as diversas )ormas e es*a6os de re*resenta67o e mo,ilia67o n7o s7o o
as*ecto mais im*ortante' mas sim como a tradi67o das 0ue,radeiras se re)lete nas
*r#ticas destas )ormas de re*resenta67o e mo,ilia67o+ MI/ tem tido sucesso at;
agora em manter sua mo,ilia67o e re*resenta67o como leg:timas *or0ue' a*esar de ser
uma organia67o )ormal' tem se mantido )le<:vel e a,erto a estrat;gias de re*resenta67o
localmente de)inidasJ a )orma n7o se tornou mais im*ortante 0ue o conteúdo+
&m outro momento arriscado se a*resentou 0uando o MI/ )oi al;m da
re*resenta67o' mo,iliando *essoas e recursos *ara *roCetos *rodutivos e assumindo um
*a*el de assist!ncia t;cnica+ Visando com*ensar as de)ici!ncias do -stado' o MI/
contratou sua *r5*ria e0ui*e de assist!ncia t;cnica e est# tentando *romover mel>ores
o*ortunidades *ara as mul>eres de acesso a recursos econmicos+ -le tem at; agora 2H
gru*os de *rodu67o coletiva' administrando m#0uinas de e<tra67o de 5leo de ,a,a6u a
n:vel comunit#rio' *roduindo sa,7o e )arin>a de mesocar*o de ,a,a6u a n:vel munici*al
e organiando uma coo*erativa regional+ MI/ assumiu a coordena67o *or um
*er:odo de tr!s anos de uma e0ui*e de e<tensionistas do Programa de "-8 ."ssist!ncia
;cnica' "m,iental e 8ocial do IN$" .Instituto Nacional de olonia67o e $e)orma
"gr#ria *ara os assentamentos da re)orma agr#ria de um dos munic:*ios onde atua+
o,Cetivo deste *roCeto ; mel>orar o acesso ao cr;dito do P$N"F .Programa Nacional
de "*oio G "gricultura Familiar *ara atividades agro*ecu#rias e e<trativas' *romover a
agroecologia e mel>orar o acesso das mul>eres a recursos econmicos+
Y medida 0ue estas novas res*onsa,ilidades v7o sendo assumidas' a,re%se es*a6o
a con)litos internos e a )ormas de clientelismo+ No entanto tem%se conseguido gerenciar
estes *otenciais con)litos atrav;s da vincula67o de valores tradicionais .>onra e vergon>a'
o res*eito devido G )am:lia Gs novas iniciativas+ omo estudos etnogr#)icos so,re o
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movimento das 0ue,radeiras t!m mostrado .Lago' 2994R Porro' 1??K e 2992R Figueiredo'
299A' uma caracter:stica central do movimento ; a trans)orma67o das mul>eres da
condi67o de v:timas .da *o,rea e do tra,al>o *enoso im*osto *elo *atr7o G de
lutadoras+ Nestas condi6=es' seria di):cil 0ue as lideran6as ou t;cnicos G )rente dos
*roCetos *rodutivos re*roduissem o clientelismo dos *atr=es .e mesmo o de um E,om
*atr7o' *ois estes *roCetos t!m )ortes v:nculos com o n:vel das comunidades de onde
Custamente surgiu a resist!ncia a estes *atr=es+
&m outro risco traido *ela de*end!ncia de *roCetos com recursos e<ternos ;
constitu:do *elas di)erentes inter*reta6=es e *erce*6=es de conceitos centrais dos *roCetos
im*lementados' como agroecologia' g!nero e )eminismo+ Por e<em*lo' o MI/ tem
um assento na omiss7o *ara a rgania67o da Produ67o das Mul>eres ra,al>adoras
$urais e na $ede de "ssist!ncia ;cnica e 8ocial Gs Mul>eres' am,os do Minist;rio do
Desenvolvimento "gr#rio .MD"+ omo esta se67o do MD" adotou *rinc:*ios
)eministas' seus *roCetos s7o ,aseados na Eeconomia )eminista+ "*esar das 0ue,radeiras
terem se ,ene)iciado desta iniciativa' estudos mostram 0ue as 0ue,radeiras n7o
conce,em as rela6=es sociais dentro de suas )am:lias e comunidades a *artir de uma
*ers*ectiva )eminista+ "o contr#rio' suas vidas cotidianas e discursos contestam a
Ecren6a de 0ue a li,erta67o )eminina seria alcan6ada necessariamente atrav;s de
inde*end!ncia econmica' como um resultado da inser67o individual no mercado de
tra,al>o .Paulilo' 2994+ "*esar do di#logo entre esses di)erentes *ontos de vista ser
,astante inci*iente' ># uma clara consci!ncia no movimento das 0ue,radeiras das
di)eren6as em Cogo e da necessidade de' ao mesmo tem*o em 0ue se res*eita os *ontos
de vista dos agentes governamentais' res*eitar tam,;m os *ontos de vista das
0ue,radeiras a n:vel local+
"*esar das di)iculdades discutidas acima' os avan6os econmicos e sociais
traidos *or estas iniciativas no cam*o da *rodu67o s7o reais+ -stas tam,;m t!m aCudado
a dar legitimidade Gs lideran6as' *ois as 0ue,radeiras n7o conce,em re*resenta67o e
mo,ilia67o e)etivas )ora de iniciativas concretas+
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O tratamento dado ao meio ambiente e a!ricultura
&m outro tema relevante na an#lise 0ue )aemos do movimento das 0ue,radeiras
s7o as di)erentes *erce*6=es entre estas' doadores' governos e NBs so,re a ro6a de
corte%e%0ueima' a 0ual sem dúvida contri,ui ao desmatamento e G mudan6a clim#tica'
mas ; ao mesmo tem*o um elemento central da identidade das 0ue,radeiras+
Di)erentemente de outras organia6=es 0ue omitem este com*onente em suas
demandas e *roCetos' o MI/ tem a)irmado a im*ortUncia desta *r#tica nas rela6=es
com atores como a &ni7o -uro*;ia' "ction "id' ar on ant' "ktiongemeinsc>a)t8olidarisc>e elt' o MD" e o MM" .Minist;rio do Meio "m,iente+ "l;m de )ortalecer
a ca*acidade de di#logo com doadores e assessores em torno de temas *ol!micos como a
ro6a de corte%e%0ueima' as lideran6as do MI/ t!m a*rendido a gradualmente
esta,elecer limites so,re o 0ue ; e o 0ue n7o ; negoci#vel+ "s ,ases de sua tradi67o %
Etra,al>o livre' livre acesso aos ,a,a6uais e' *ara certos gru*os de 0ue,radeiras' o uso
comum da terra % em *rinc:*io n7o s7o negoci#veis' mas a maneira de im*lement#%los
*ode so)rer mudan6as ao longo do tem*o+ De )ato' Etradi67o n7o tem nada deimuta,ilidade' ao contr#rio ela est# ligada a *rocessos reais e atores sociais 0ue
dialeticamente trans)ormam suas *r#ticas ."lmeida' 299H+ "*esar do MI/ assumir
a centralidade em sua tradi67o da ro6a so, controle )amiliar' isto n7o 0uer dier 0ue as
t;cnicas utiliadas seCam imut#veis' e se est7o ,uscando )ormas alternativas de se *raticar
a agricultura+ No entanto tenta%se realiar esta mudan6a de maneira gradual' de maneira a
0ue as *artici*antes do movimento *ossam se manter no controle deste *rocesso 0ue n7o
; somente de mudan6a t;cnica' mas tam,;m de a*rendiagem social+
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Formas de acesso e propriedade da terra e dos recursos"lorestais
"s 0ue,radeiras re*resentam um am*lo le0ue de rela6=es )ormaliadas e n7o
)ormaliadas com a terra' com os ,a,a6uais e com outros recursos naturaisJ de *e0uenos
*ro*riet#rios com t:tulos legalmente v#lidos a sem%terra residentes na *eri)eria de cidades
0ue coletam ,a,a6u em )aendas viin>as' de ,ene)ici#rios da re)orma agr#ria em
$eservas -<trativistas a colonos em lotes de 199 >a com t:tulo e maneCo individual+
"*esar das *ro)undas modi)ica6=es realiadas *or gru*os *ol:ticos ligados a grandes
*ro*riet#rios no I Plano Nacional de $e)orma "gr#ria de 1?@A' a *artir desta data v#rias
comunidades tradicionais conseguiram o,ter o recon>ecimento legal de seu dom:nio
so,re terras tradicionalmente ocu*adas+ &ma caracter:stica interessante em v#rias destas
comunidades ; 0ue a terra )oi mantida como um recurso de uso comum' desconsiderando
as tentativas do IN$" de dividi%la em lotes individuais+ Nestes casos os ,a,a6uais
tam,;m continuaram como um recurso de uso comum+ Por outro lado' no entanto'
centenas de 0ue,radeiras *erderam neste mesmo *er:odo o acesso a suas terras
tradicionais' tornando%se sem%terra ou mantendo%se na terra sem nen>um recon>ecimento
legal de seu direito so,re a mesma+ "o mesmo tem*o' em *roCetos de assentamento nas
#reas de )ronteira agr#ria mais recente' como nos -stados do Par# e do ocantins' a terra
)oi dividida em lotes individuais+ Nestes casos os ,a,a6uais 0ue caem em lotes
individuais )re0Zentemente )icam su,metidos a regras di)erentes' com os *ro*riet#rios
im*edindo a entrada de mul>eres 0ue n7o esteCam relacionadas com seu gru*o )amiliar+
Da mesma maneira' em locais onde a terra ; escassa' *ode >aver diverg!ncias dentro do
*r5*rio gru*o )amiliar so,re 0uantos ,a,a6us ; necess#rio cortar *ara se )aer a ro6a de
corte%e%0ueima+ MI/ est# lidando com estas 0uest=es em duas )rentes+ "o mesmo tem*o em
0ue *romove de,ates dentro das comunidades' a organia67o tem uma *artici*a67o ativa
nos es*a6os *ú,licos onde estes *ro,lemas s7o tratados+ &m e<em*lo de avan6o nesta
#rea )oi inclus7o do ,a,a6u no *rograma do governo )ederal de *re6os m:nimos *ara a
agricultura+ "*esar de se tratar de um valor ,ai<o' trata%se de uma aCuda signi)icativa em
regi=es onde a sua comercialia67o ; mais di):cil' o 0ue in)luencia na decis7o de se cortar
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ou n7o os ,a,a6us no momento de *re*ara67o da ro6a' o 0ue *or sua ve muda algumas
vari#veis na rela6=es de g!nero dentro do núcleo )amiliar+
"*esar da re)orma agr#ria ter *ermanecido como uma ,andeira de luta desde o
in:cio das mo,ilia6=es das 0ue,radeiras' em 2993 uma demanda >ist5rica das
0ue,radeiras emergiu como a *rinci*al do MI/J a lei do E,a,a6u livre' ou seCa' a lei
0ue regulamenta o livre acesso aos ,a,a6uais .8>irais>i' 299H+ "*esar de conscientes do
marco legal 0ue *rivilegia a *ro*riedade *rivada e das *ol:ticas *ú,licas )avorecendo a
*rivatia67o de recursos *ú,licos' as 0ue,radeiras tem uma com*reens7o cultural dos
,a,a6uais en0uanto recurso de livre acesso e uso comum % o ,a,a6u ; a Em7e do *ovo+
"ssim' mesmo 0uando a terra ; legalmente *rivatiada' elas continuam a considerar o
,a,a6u como um recurso comumJ Eningu;m o *lantouR ningu;m o regouR ele ; *ara o
*ovo+ "tualmente 1K munic:*ios a*rovaram leis do E,a,a6u livre' com as 0ue,radeiras
)aendo lo,,y *elas mesmas nas *re)eituras e cUmaras de vereadores+ Desde 2994' 0uatro
*eti6=es )oram su,metidas ao ongresso Nacional solicitando uma lei )ederal *roi,indo
o corte dos ,a,a6us e o livre acesso aos )rutos *elos mem,ros das comunidades
tradicionais das 0ue,radeiras' inde*endentemente da situa67o legal da terra+ -sta
demanda de uma )orma es*ec:)ica de acesso e *ro*riedade de recursos )lorestais )oi um
marco na ru*tura com Eo mono*5lio do direito de dier os direitos ./ourdieu'
1?@?J212+
-m 299H uma nova )orma de rea)irmar o direito a recursos )lorestais emergiu
,aseada nos direitos emanados da onven67o da Diversidade /iol5gica+ "s 0ue,radeiras
da P"-8P' uma *e0uena coo*erativa do Vale do Mearim cuCo *rinci*al *roduto ; a
)arin>a )eita a *artir do mesocar*o do )ruto do ,a,a6u' )oi contatada *or uma grande
com*an>ia de cosm;ticos *ro*ondo com*rar sua )arin>a e *oder utiliar o con>ecimento
tradicional relacionado com a mesma+ &ma longa e tortuosa negocia67o so,re o
signi)icado de direitos es*ec:)icos e so,re a assim c>amada Ere*arti67o Custa e e0uitativa
dos ,ene):cios terminou envolvendo o Minist;rio Pú,lico Federal+ MI/' en0uanto
organia67o re*resentativa das 0ue,radeiras' tam,;m )oi envolvido no *rocesso de
consentimento de acesso ao *atrimnio gen;tico do ,a,a6u e aos con>ecimentos
tradicionais associados solicitado *ela com*an>ia de cosm;ticos+
1@
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resultado )oi o *rimeiro acordo no /rasil no 0ual um )ornecedor .a
P"-8P recon>eceu 0ue o con>ecimento tradicional associado ao seu *roduto n7o
era e<clusividade de seus associados' tendo envolvido no acordo organia6=es
re*resentativas de outras 0ue,radeiras .MI/ e "88-M"+ am,;m )oi a *rimeira ve
0ue um )ornecedor n7o concordou com cl#usulas de con)idencialidade nem aceitou o
montando o)erecido inicialmente *ela com*an>ia solicitante+ Foi acordado 0ue o
montante *ago *ela com*an>ia )osse trans)ormado em um )undo a,erto G demanda de
recursos *or 0ual0uer 0ue,radeira+ -stes avan6os criaram um *recedente 0ue *ode
,ene)iciar a todas as *o*ula6=es tradicionais na mesma situa67o+
"*esar de cele,rar tal )eito' o MI/ est# a*rendendo so,re o risco de
Ecommoditia67o do con>ecimento tradicional .8>irais>i' 299@ e so,retudo a res*eito
dos riscos de se distanciar da luta *ela terra' elemento central na sua identidade
cam*onesa+ -las sa,em 0ue a integridade de seu modo de vida de*ende do acesso a um
territ5rio e 0ue a lei do E,a,a6u livre ; somente um meio *ara o )im último de gan>ar
novamente acesso a este territ5rio+ Para alguns gru*os de 0ue,radeiras do Vale do
Mearim' esta constata67o )oi )eita C# nos anos 1?@9J En5s n7o 0uer:amos mais s5 o direito
de 0ue,rar ,a,a6u+ N5s 0uer:amos terra *ara *lantar+ -nt7o n5s decidimos 0ue 0uer:amos
tam,;m a terra+ N5s n7o 0uer:amos s5 os cocos .Lago' 2994+ Para alguns outros gru*os
de 0ue,radeiras esta constata67o s5 agora est# emergindo+ " lei do E,a,a6u livre ;
tam,;m um meio de manter um *rocesso de a*rendiagem social coletiva a*esar das
di)erentes situa6=es dos diversos gru*os de 0ue,radeiras+
Conclusão
-m conte<tos de intera67o de movimentos sociais de origem cam*onesa com
am,ientalistas e outros atores do Ea*arato do desenvolvimento' so,retudo com os
gru*os sociais menos *re*arados *ara essa intera67o' *ode%se o,servar a constitui67o de
rela6=es ,astante desiguais+ # situa6=es de uma instrumentalia67o do social *ara )ins
de im*lementa67o da agenda am,iental+ Por outro lado' em gru*os sociais mais
*re*arados' onde o risco de instrumentalia67o ; menor' *ode%se *erguntar at; 0ue *onto
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a constitui67o de gru*os de interesse es*ec:)icos n7o leva G )ragilia67o e mesmo G
)ragmenta67o de movimentos sociais de ,ase mais am*la+
"o mesmo tem*o em 0ue ad0uire relativa visi,ilidade social' o movimento das
0ue,radeiras ; co,rado em coer!ncia e coes7o' tendo 0ue com*ortar múlti*las situa6=es e
manter o signi)icado *ol:tico de sua identidade constru:da a duras *enas+ -m,ora a
onstitui67o e v#rios outros dis*ositivos legais C# garantam o direito das 0ue,radeiras'
e<istem imensas di)iculdades *ara sua e)etiva67o *ara todas as associadas' im*edindo o
e)etivo controle de seus *rocessos de territorialia67o+ Por;m' rom*er com a
invisi,ilidade social e lan6ar no es*a6o *ú,lico as )ormas tradicionais do viver o
territ5rio *arece ser a via *ara a trans)orma67o estrutural' com *otencial de garantir os
direitos de sua am*la ,ase das associadas+
ertamente o movimento social das 0ue,radeiras e sua organia67o' o MI/'
t!m muito 0ue comemorar com os avan6os o,tidos no acesso G terra' recursos )lorestais e
iniciativas econmicas+ 8o,retudo' os avan6os sim,5licos s7o im*ressionantes+ -les
trans)ormaram mul>eres su,metidas a uma atividade desconsiderada *or seus *r5*rios
*ares' envolvendo um *roduto desvaloriado *elo mercado' em *rotagonistas de um dos
movimentos de mul>eres cam*onesas mais vis:veis do /rasil+ -sta visi,ilidade social
tem contri,u:do na constru67o de uma nova identidade social e tem levado a
o*ortunidades concretas de mudan6a na situa67o econmica e social das 0ue,radeiras e
suas )am:lias+
No entanto' ao longo deste *rocesso' ># uma tens7o *ermanente entre as imagens
e discursos constru:dos *ara *ermitir esta visi,ilidade e a realidade cotidiana vivida *elas
0ue,radeiras re*resentadas *elo MI/+ "o mesmo tem*o em 0ue esta tens7o )ormata
intera6=es sociais dentro deste gru*o social e entre elas e atores e<ternos' ela tam,;m tem
)omentado um *rocesso de a*rendiagem social+ ertamente tais imagens e discursos
constru:dos *ara dom:nios controlados *rinci*almente *or atores e<ternos t!m
in)luenciado realidades locais+ No entanto as realidades da ,ase das 0ue,radeiras tam,;m
mudam o mundo 0ue as est# Econsumindo+ "s 0ue,radeiras' de uma maneira ,astante
>a,ilidosa' mesclam suas realidades locais no *rocesso de constru67o destas imagens e
discursos *ara consumo e<terno e as tens=es nem sem*re terminam em ru*turas+ No
,alan6o )inal' este *rocesso dinUmico re*resenta um a*rendiado socialJ vivendo seus
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sucessos e )racassos en0uanto um movimento coerente' recon>ecendo sua *r5*ria
diversidade e suas diverg!ncias internas+
Biblio!ra"ia
"l,aladeCo' +' Veiga' I+ 2992+ Introdu67o+ organia6=es sociais e sa,eres locais )rente Ga67o de desenvolvimento+ na dire67o de um territ5rio cidad7o+ "gricultura Familiar+Pes0uisa' Forma67o e Desenvolvimento+ Número tem#ticoJ " onstru67o Localdos errit5rios da "gricultura Familiar ."mania riental+ Partes 2 e 3 %rgania6=es sociais e sa,eres locais )rente G a67o de desenvolvimento' 1.3J1W12'
2992+"lmeida' "++/+ 1??4+ rans)orma6=es "gr#rias e on)litos 8ociais nas [reas de
corr!ncia do /a,a6u+ 8alvador' -D- W De,ate N+ 3' ano IV *a+ 43%H9+
"lmeida' "++/+ 1??A+ ue,radeiras de oco /a,a6uJ Identidade e Mo,ilia67o+ 87oLuiJ Movimento Interestadual das ue,radeiras de oco /a,a6u+
"lmeida' "++/+ 2999+ B" )ace aos o,Cetivos do ,raQ?HQ912+ "valia67o inde*endentedo *roCeto de )ortalecimento institucional do gru*o de tra,al>o amanico % gta %
,raQ?HQ912+ Mimeo+
"lmeida' "++/+ 299H+ erras tradicionalmente ocu*adasJ *rocessos de territorialia67o+In Terras tradicionalmente ocupadas+ PPB8"%&F"M' Manaus' 299H+
"nderson' "+ /+ 1??9+ Alternatives do Deforestation. Steps Toward Sustainable se of
the Amazon !ain "orest + olum,ia &niversity Press' Ne\ ]ork+
/ourdieu' P+ 1?@?+ " )or6a do direitoJ -lementos *ara uma sociologia do cam*o Cur:dico+In Poder sim,5lico+ P* 29?%2A4+ 87o PauloJ Di)el+
/reton' V+ 299A+ a*ital social y etnodesarrollo en los "ndes+ entro "ndino de "cci5nPo*ular W ""P+ uitoJ ""P+
arval>o' +M+ 2999+ "gricultura e<trativismo e garim*o na l5gica cam*onesa+ Master
t>esis *resented to t>e Pu,lic Policies^ Master Program at t>e &niversidade Federaldo Maran>7o+ 1@9 *+ 87o Lu:s' M"J &FM"+
o>en' S+ L+ 1?@A+ 8trategy or identityJ Ne\ t>eoretical *aradigms and contem*orarysocial movements+ Social !esearch #$' 4 .1?@A' HH3WK1H+
Diegues' "++ org+ 299@+ Introdu67o+ In " -cologia Pol:tica das Brandes NBstransnacionais onservacionistas+ P*+ ?%21+ 87o PauloJ N&P"&/Q&8P+
-sco,ar' "+ 1??A+ -ncountering Develo*mentJ >e Making and &nmaking o) t>e >irdorld+ PrincetonJ Princeton &niversity Press+
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Figueiredo' L+D+ 299A+ Do es*a6o dom;stico ao es*a6o *ú,lico W lutas das 0ue,radeirasde coco ,a,a6u no Maran>7o+ Master t>esis *resented to t>e Núcleo de -studosIntegrados so,re "gricultura Familiar at t>e &niversidade Federal do Par#+ 1?@ *+/el;mJ &FP"+
Be))ray' + 1??A+ %hroni&ues de la servitude en Amazonie br'silienne+ _art>ala' Paris+
Lago' $++ 2994+ /a,a6u livre e ro6as orgUnicas W a luta das 0ue,radeiras de coco ,a,a6udo Maran>7o em de)esa dos ,a,a6uais e em ,usca de )ormas alternativas de gest7odos recursos naturais+ Master t>esis *resented to t>e Núcleo de -studos Integradosso,re "gricultura Familiar at t>e &niversidade Federal do Par#+19? *+ /el;m' P"J&FP"+
L;na' P+' Be))ray' +' "raúCo' $+ 1??H+ L^o**ression *aternaliste au ,r;sil .avant%*ro*os+ (usotopie .1??H' 19AW19@+
Mour7o' L+ 1?KA+ P7o da erra+ Master t>esis *resented to t>e Braduate Program in8ocial "nt>ro*ology at t>e &niversidade Federal do $io de Saneiro' Museu
Nacional+ $io de SaneiroJ PPB"8%$S+
Mour7o' L+' "lmeida' "++/+ 1?K4+ uest=es "gr#rias no Maran>7o ontem*orUneo+&n*u,lis>ed Manuscri*t+ 87o Lu:s+
liveira' S+ P+ 1??@+ &ma -tnologia dos `ndios MisturadosJ 8itua67o olonial'erritorialia67o e Flu<os ulturais+ Man# 4.1J4K%KK+
Paulilo' M+I+ 2994+ ra,al>o )amiliarJ uma categoria es0uecida de an#lise+ -studosFeministas' Florian5*olis' 12.1J 3H9' Caneiro%a,rilQ2994+
Picard' S+ 1??@+ "maonie ,r;silienne J les marc>ands de r!ves+ ccu*ations de terres'ra**orts sociau< et d;velo**ement+ ParisJ L^armattan+
Porro' N+M+ 1??K+ >anges in *easant *erce*tions o) develo*ment and conservation+Master t>esis *resented to t>e Braduate 8c>ool o) t>e &niversity o) Florida+BainesvilleJ &F+
Porro' N+M+ 2992+ $u*ture and resistanceJ gender relations and li)e traCectories in t>e ,a,a6u *alm )orests o) /rail+ " doctoral dissertation *resented to t>e graduatesc>ool o) t>e &niversity o) Florida+ 3H4*+ BainesvilleJ &F+
8c>erer%arren' I+ 2992+ A atualidade dos movimentos sociais rurais na nova ordemmundial + orte -ditora' 87o Paulo' **+ 243W2AK+
8>irais>i Neto' S+ 299H+ Leis do /a,a6u LivreJ Pr#ticas Sur:dicas das ue,radeiras deoco /a,a6u e Normas orrelatas+ ole67o radi67o e rdenamento Sur:dico+ManausJ &F"MQFunda67o Ford+
8>irais>i Neto' S+ 299@+ Eommoditia67o do con>ecimento tradicionalJ notas so,re o *rocesso de regulamenta67o Cur:dica+ In on>ecimento tradicional e ,iodiversidadeJ normas vigentes e *ro*ostas+ 1T+ Volume+ "lmeida' "++/+ org+ **+AK%@3+ ManausJ Programa de P5s Bradua67o da &niversidade -stadual do
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"maonasQ Programa de P5s Bradua67o em 8ociedade e ultura da "maniaQFunda67o FordQ Funda67o &niversidade do "maonas+
Veiga' I+' "l,aladeCo' + 2992+ " )orma67o do territ5rio a nvel local e a emerg!ncia da
a67o coletiva+ an#lises das trocas sim,5licas em duas coletividades locais da regi7ode mara,#' amania oriental+ Agricultura "amiliar. )es&uisa* "ormação e
Desenvolvimento. +,mero tem-tico/A %onstrução (ocal dos Territ0rios da
Agricultura "amiliar 1Amaz2nia Oriental3. )artes $ e 4 5 Organizaç6es sociais e
saberes locais frente 7 ação de desenvolvimento 8' 3 .2992' 41WKK+
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