View
214
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
Contribuição da cooperação brasileira na promoção da soberania e segurança alimentar e
nutricional e do direito humano à alimentação em África – o caso de Angola
Hélder Marcelino
Maria de La-Salette Morgado
Textos para Discussão 4
Fevereiro - 2015
Apoio
UFRRJ
Centro de Referência em
Segurança Alimentar e Nutricional
2
CERESAN - O Centro de Referência em Segurança Alimentar e Nutricional é um núcleo de estudos, pesquisa e capacitação voltado para congregar pesquisadores, técnicos, estudantes e outros profissionais interessados nas questões relacionadas com a segurança alimentar e nutricional no Brasil e no mundo. O CERESAN possui
sedes na UFRRJ/CPDA e na UFF/MNS, tendo como coordenadores: Renato S. Maluf (UFRRJ) e Luciene Burlandy (MNS/UFF). (www.ufrrj.br/cpda/ceresan). OXFAM - A Oxfam é uma confederação internacional de 17 de organizações que atuam em mais de 90 países. Ao longo dos seus 50 anos de história no Brasil, a Oxfam contribuiu para o fortalecimento do terceiro setor no país, tem apoiado organizações de base comunitária em áreas rurais, e defendido os direitos humanos e a justiça econômica.
3
A PROMOVER A PAZ E O
DESENVOLVIMENTO RURAL
CONTRIBUIÇÃO DA COOPERAÇÃO BRASILEIRA NA
PROMOÇÃO DA SSAN E DO DHAA EM ÁFRICA. O CASO
DE ANGOLA1
Hélder Marcelino
Maria de La-Salette Morgado
ADRA – Associação para o Desenvolvimento Rural e o
Ambiente / Angola
1 Documento elaborado no âmbito do projeto CERESAN/OXFAM intitulado Fortalecendo o papel do Brasil nos espaços internacionais para uma agenda global pelo direito humano à alimentação e a erradicação da fome, 2014/2015.
4
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ADRA – Acção para o Desenvolvimento Rural e Ambiente
AECID - Agência Espanhola de Cooperação Internacional e Desenvolvimento
AKZ – Angolan Kwanzas
ASDI - Agência Sueca para o Desenvolvimento Internacional
BI – Bilhete de Identidade
CAADP – Programa Compreensivo para o Desenvolvimento Agrícola em África
CACS - Conselhos de Auscultação e Concertação Social
CERESAN – Centro de Referência de Segurança Alimentar e Nutricional
CONSAN – Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional
CPLP – Comunidades de Países de Língua Portuguesa
DHAA – Direito Humano a Alimentação Adequada
EC – ECHO - Ajuda Humanitária e Protecção Civil da Comissão Europeia
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agro-pecuária
ENACRE – Estratégia Nacional de Comércio Rural e Empreendedorismo
ENSAN – Estratégia Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
ESAN – Estratégia de Segurança Alimentar e Nutricional
EU – European Union (União Europeia)
FAO – Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação
FIDA - Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrário
FMI – Fundo Monetário Internacional
GSA - Gabinete de Segurança Alimentar
IBEP – Inquérito sobre o Bem-estar da População
5
IIA – Instituto de Investigação Agronómica
IIV – Instituto de Investigação Veterinária
INSAN – Insegurança Alimentar e Nutricional
JICA - Agência de Desenvolvimento Internacional do Japão
LECAC – Linha Especial de Crédito Agrícola de Campanha
MAAP - Mecanismo Africano de Avaliação pelos Pares
MINADER – Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural
MINAGRI – Ministério da Agricultura
MOSAP - Projecto de Agricultura Familiar Orientado para o Mercado
NEPAD - Nova Parceira para o Desenvolvimento de África
ODM – Objectivos de Desenvolvimento do Milénio
OFDA – Escritório dos Estados Unidos da América para Assistência aos Desastres no
Estrangeiro
OGE – Orçamento Geral do Estado
ONG – Organizações Não Governamentais
OSC – Organizações da Sociedade Civil
OXFAM - Organização de Cooperação
PAANE - Programa de Apoio aos Actores não Estatais
PALOP – Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa
PAPAGRO – Programa de Aquisição de Produtos Agro-pecuários
PDMPSA – Plano de Desenvolvimento de Médio Prazo do Sector Agrícola
PESNORTE – Programa de Pesca
PIB – Produto Interno Bruto
PIDESC – Plano de Integração dos Direitos Económicos, Sociais e Civis
6
PMIDRCP - Programas Municipais Integrados de Desenvolvimento Rural e Combate à
Pobreza
PRODECA - Programa de Desenvolvimento de Culturas Alimentares
RNSAN – Rede Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
SADC – South African Development Comunity
SAN – Segurança Alimentar e Nutricional
SIDA – Sindrome de Imuno Deficiência Adquirida
SISAN – Sistema de Informação de Segurança Alimentar e Nutricional
SSAN – Segurança e Soberania Alimentar
TCMA – Taxa de Crescimento Média Anual
UFRRJ – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
UNACA – União Nacional das Associações de Camponeses de Angola
UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância
USAID – United States Agency for International Development
USD – United States Dólares
UTCAH - Unidade Técnica de Coordenação das Ajudas Humanitárias
VIH – Virus de Imuno Deficiência Humana
7
ÍNDICE
I. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 8
II. O CONTEXTO DA SEGURANÇA E SOBERANIA ALIMENTAR E NUTRICIONAL EM
ANGOLA ........................................................................................................... 9
III. ANÁLISE DOS PROGRAMAS PÚBLICOS DE APOIO A SAN EM ANGOLA ....... 19
IV. PRINCIPAIS ACTORES ............................................................................ 24
4. 1 Mapeamento das organizações da sociedade civil, organismos internacionais e
outros actores actuantes no ramo da SAN e do DHAA .................................... 24
4. 2 Tipologia e mapeamento das organizações da sociedade civil em Angola .. 29
4. 3 Organizações internacionais presentes em Angola no quadro da SAN e do DHA
................................................................................................................... 37
V. A POLÍTICA NACIONAL DE PROMOÇÃO DA SSAN E DO DHAA EM RELAÇÃO A
ESAN DA CPLP ................................................................................................ 41
VI. A PRESENÇA DO BRASIL EM ANGOLA E A SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A
PROMOÇÃO DA SSAN E DO DHAA .................................................................... 43
VII. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 45
VIII. BIBLIOGRAFIA .................................................................................... 47
8
I. INTRODUÇÃO
Este texto tem enquadramento no projecto de fortalecimento do papel do
Brasil nos espaços intenacionais para uma agenda global pelo direito humano à
alimentação e a erradicação da fome, implementado pelo Centro de Referência de
Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) em parceria com a OXFAM. Neste sentido,
foram recomendados estudos de caso com o objectivo específico de aprofundar a
compreensão sobre a concepção e implementação da cooperação brasileira
relacionada com a soberania e segurança alimentar e nutricional (SSAN) e o direito
humano à alimentação adequada (DHAA) no continente africano sem deixar de
analisar o contexto no qual elas estão enquadradas.
Este documento refere-se ao estudo de caso realizado em Angola e analisa em
primeiro lugar, o contexto da SSAN no país, os programas públicos de apoio a SAN,
os principais actores, a presença do Brasil, entre outros aspectos.
9
II. O CONTEXTO DA SEGURANÇA E SOBERANIA
ALIMENTAR E NUTRICIONAL EM ANGOLA
Em 2013, o PIB (Produto Interno Bruto) de Angola cresceu 5,1%, um nível
abaixo dos 7,1% esperados. Para o ano 2014, o FMI prevê para Angola, um
crescimento económico de 5,3%. De forma geral, o ambiente macroeconómico tem
evoluído no sentido da estabilidade e equilíbrio tendo em conta que os níveis de
inflação têm variado pouco e baixaram para um dígito e o défice orçamental
controlado (Muzima & Mazivila, 2014).
A despeito da estabilidade macroeconómica a economia rural continua com
imensas dificuldades. Estas devem-se, em parte, ao fraco acesso das populações ao
crédito para financiar a actividade agrícola, à necessidade de recuperação das
infra-estruturas produtivas, nomeadamente os perímetros irrigados. Os pequenos e
os médios agricultores não conseguem utilizar as potencialidades de irrigação que o
país oferece. Há ainda carência de tecnologia e sustentabilidade dos sistemas de
produção. Segundo a Missão de Inquéritos Agrários de Angola, entre 1971 e 1972
existiam cerca 1,2 milhões de unidades familiares com uma superfície média de 3,9
hectares. Nessa altura, o sector familiar era responsável pela maioria da produção
comercializada de milho (88%), de mandioca (100%), de feijão (94%), de
amendoim (100%) e de batata (71%), tendo ainda, um peso significativo na
produção do café (30%), arroz (52%), e 21% de algodão. O sector moderno
integrava cerca de 6.500 empresas com uma média de 700 hectares, dos quais quase
90% estavam sem utilização (Pacheco, 1997). Não existem dados actualizados que
tenham resultado de um censo agrário, porém, certamente o quadro hoje é
diferente.
O insuficiente investimento público tem estado na base do
sub-aproveitamento do potencial que o sector agrícola representa. Este potencial
traduz-se na disponibilidade de recursos naturais como a água, terra arável e um
clima propício para a agricultura.
10
Angola é o 16.º país com maior potencial agrícola do mundo, mas actualmente
a área cultivada não ultrapassa os 10% dessas terras, ou seja, 5,2 milhões de um
total de 58 milhões de hectares em 2010/2011. A produtividade por hectare é uma
das mais baixas da África Sub-sahariana. O país vê-se na necessidade de importar
alimentos, incluindo cereais e feijão.
Quadro 1: Relação área cultivada, produção, cobertura e necessidades de
importação, 2012/2017
Produtos
Área
cultivada,
ha
Produção
(ton)
Cobertura
%
Necessidades
de importação
(ton)
Metas
2012-2017
ton/ano
Cereais 2.142.143 1.408.826 69 676.017 2.500.000
Leg/Oleaginosas 1.126.622 472.380 87 134.361 1.000.000
Raízes e
Tubérculos
1.342.804 16.219.865 233,8 o *21.500.000
Hortícolas 406.857 5.188.006 - - -
Frutas 176.446 3.388.993 - - -
Café e Palmar 49.439 2 10.758 - - -
Total 5.244.311 26.688.828 - - -
Fonte: Instituto de Desenvolvimento Agrário
Os esforços empreendidos pelos diversos sectores associados à produção
agrícola têm contribuído pouco para a redução das importações de alimentos,
principalmente, no domínio dos cereais (milho) nas duas últimas campanhas (2012 e
2013) e leguminosas nas três últimas campanhas (2011, 2012 e 2013). Ainda assim,
em 2012 as quantidades de cereais e de feijão importadas não foram suficientes para
suprir todas as necessidades alimentares do país.
As famílias que dependem directamente da produção agrícola têm
dificuldades de obter resultados que lhes permitam satisfazer as suas necessidades
alimentares por um período que ligue duas campanhas agrícolas sem entrar em crise
de alimentos. Por exemplo, um estudo realizado pela ADRA (2012) em quatro
províncias de Angola, mostrou que uma larga maioria da amostra de 960 agregados
11
familiares teve colheitas cuja duração não ultrapassou os três meses. Outra franja
dessa amostra, não menos importante, não chegou a ter colheitas naquela
campanha agrícola porque consumiu a sua produção ainda no estado fresco2 (ver
gráfico).
Gráfico 1:duração das colheitas da campanha agrícola 2012.
Fonte: ADRA, 2012
Recorde-se que Angola ascendeu à independência a 11 de Novembro de 1975
como resultado da luta dos angolanos liderados por três movimentos de libertação
nacional, por um lado, e por outro, da implantação de um regime democrático em
Portugal cujo marco principal é o 25 de Abril de 1974, sem deixar de considerar toda
a conjuntura política internacional que determinava o fim da colonização no mundo.
Entretanto, os movimentos políticos que lutaram para libertar o país da
colonização do seu povo, não conseguiram entender-se a ponto de trazerem para o
país, um clima de paz e estabilidade. Neste sentido, o país mergulhou numa guerra
civil que só viria a terminar em 2002.
2 Os produtos não chegaram a secar para serem recolhidos e preparados para armazenar. Por exemplo, o milho não chega a secar para ser debulhado e transformado em farinha. Consumiu-se, assando ou fervendo as espigas frescas.
12
Durante esse período, o país viu as infra-estruturas herdadas do período
colonial destruídas, assim como a desarticulação dos sistemas de produção de
alimentos, devido ao abandono das zonas rurais pelas populações que procuraram
mais segurança em algumas cidades. Esta conjuntura, embora ultrapassada com o
fim do conflito armado, continua a ter influência nos níveis de produção
agro-alimentar que Angola tem conseguido nos últimos anos.
Apesar da persistência dos constrangimentos, se a base de comparação for o
ano em que terminou o longo conflito armado, isto é, em 2002, nota-se que a
agricultura tem vindo a apresentar uma dinâmica significativa. Por exemplo, entre
2001 e 2007 a sua Taxa de Crescimento Média Anual (TCMA) foi de
aproximadamente 38% o que é explicado pelo estado de letargia e paralização em
que se encontrava o sector até aquele ano, ou seja, o ponto de partida era
extremamente baixo. Esse aumento deveu-se à expansão das terras cultivadas e não
a um aumento da produtividade na medida em que os investimentos feitos no
melhoramento dos solos, das sementes, das técnicas agrícolas, etc., tem ficado
aquém do desejado.
Nos útlimos anos, vários programas de apoio ao desenvolvimento agrário
foram concebidos no âmbito do Plano de Desenvolvimento de Médio Prazo do Sector
Agrícola (PDMPSA). A implementação deste plano teve início em 2013 e o seu
término está previsto para o ano 2017, tendo como objectivo geral, promover a
transformação sustentável da agricultura de subsistência para uma agricultura
comercial orientada para o mercado, visando a segurança alimentar e a dinamização
da agro-indústria nacional, o combate à fome e à pobreza, com foco na agricultura,
na pecuária, nas florestas e em outros recursos naturais. É nesta vertente que se
insere o Projecto Pungo Adongo em implementação na região de Capanda, província
de Malanje, contando com a presença da empresa ODEBRECHT.
Na sua vertente agrícola3, o PDMPSA tem como referências específicas, quer a
agricultura familiar, considerada como principal agente empregador do meio rural e
que garante o sustento directo de cerca de 38% da população angolana, quer a
agricultura empresarial na qual se justificam investimentos de larga escala para a
operacionalização das intenções de revitalização da agricultura e da agro-indústria de
3 Para além da vertente agrícola, o PDMPSA engloba a pecuária, florestas e outros recursos naturais.
13
grande dimensão. Os programas articulados no âmbito do PDMPSA são entre outros
os seguintes:
Programa de Fomento e Apoio a Produção Animal
Programa de Crédito Agrícola de Campanha
Programa de Promoção do Crédito e Seguro Agrícola
Programa de Aquisição de Produtos Agro-Pecuários
Programa de Desenvolvimento Socio-Económico das Comunidades Rurais
Programa de Desenvolvimento da Agricultura Familiar
Programa de Promoção de Polos Agro-industriais e Fazendas de Larga Escala
Programa de Gestão e Desenvolvimento Sustentável dos Recursos Florestais
Programa de Recuperação e Desenvolvimento do Sector do Café
Programa de Reabilitação e Construção de Infra-estruturas de Apoio ao
Regadio
Programa de Reestruturação do Sistema de Investigação Agrária
Programa de Formação e Difusão de Informação do MINAGRI
Programa de Impantação de Centros de Formação e Treinamento
Agro-pecuário, Florestas e de Mecanização Agrícola
Programa de Apoio à Gestão dos Perímetros Estratégico e Legal do Sector
Programa de Sanidade Animal e Saúde Pública Veterinária
Programa de Sanidade Vegetal; Programa de Relançamento da Cultura do
Algodão
Programa de Mecanização Agrícola.
Esta quantidade de programas e a sua multidisciplinaridade mostra a
preocupação das instituições responsáveis pelo reforço do papel da agricultura na
diversificação dos pilares que suportam a economia, na redução das importações e
na promoção da segurança alimentar e nutricional. A despeito das intenções, as
dotações orçamentais atribuídas ao sector agrícola e ao desenvolvimento rural têm
evidenciado uma visão diferente e surpreendetemente decrescente em termos
relativos. Nos últimos sete anos o Orçamento Geral do Estado atribuiu à agricultura,
4,5% (2008), 4,1% (2009), 2% (2010), 1,4% (2011), 1,2% (2012), 1,1% (2013) e
0,8% (2014). Porém, em termos absolutos, só houve uma redução no período de
14
2009 até 2013, pois desse ano a 2014, registou-se um aumento na ordem dos 12%.
Só que, por cada aumento de valores globais do orçamento atribuído ao sector
agrícola, vão aumentado os valores a gastar com o pessoal e outras despesas
administrativas. Por exemplo, 44% do orçamento atribuído em 2013 foi para pagar o
pessoal e outros. Em 2012 a percentagem foi de 55%. De qualquer modo, em termos
de valores percentuais, o país está muito aquém dos 10% assumidos pelos ministros
da agricultura da SADC como contribuição mínima do orçamento do governo para
a agricultura e o desenvolvimento rural. Este compromisso consta da Declaração de
Maputo de 2003 aquando do evento que adoptou oficialmente o Programa
Compreensivo para o Desenvolvimento Agrícola em África (CAADP).
Gráfico 2: Variação do orçamento atribuído ao Ministérito da Agricultura (2005-2014)
Fonte: MINADER, 2013
No quadro seguinte pode-se ver o valor orçamental atribuído à agricultura em
2014, comparado aos sectores da defesa, da segurança e ordem interna e da
recreação, cultura e religião.
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
792878851113008099048
20030570565
27188815432
54421459828
22062956420
48219530152
39517336023
53387701469
59925438833
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
anos valores absolutos
15
Tabela 2: Orçamento atribuído à agricultura comparado a três sectores (2014)
Função Valor / Kz %
Defesa 672.996.182.033,00 9,27
Segurança e Ordem Pública 521.127.738.705,00 7,18
Agricultura, Silvicultura, Pesca e Caça 59.925.438.833,00 0.83
Recreação, Cultura e Religião 85.228.868.159,00 1,17
Fonte: Elaboração própria a partir do OGE, 2014
Os valores acima apresentados têm reflexo no grau de execução dos
programas, ou seja, muitos dos programas concebidos não chegam a ser
implementados, outros são freqüentemente interrompidos sem conhecerem um
desfecho baseado numa avaliação dos resultados.
De acordo com o MINADER, a produção de carnes controlada pelo Instituto
dos Serviços de Veterinária ronda as 24.985 toneladas, insuficientes para cobrir o
território nacional. Por isso, o país gasta cerca de 35 milhões de dólares americanos
por trimestre com a importação de carne.
Quadro 3: Evolução da produção de carnes e projecções para 2015
Espécie
2010 2011 Projecção
2015
Produção
controlad
a (ton)
Diferen
ça (ton)
Crescimento
(%)
Produção
controlad
a
(ton)
Diferença
(ton)
Crescimento
(%)
Produção
(ton)
Bovinos 8.402 2.085 33 10.005 1.603 19,08 12.406
Caprinos
e Ovinos
397 397 118 458 61 15,31 568
Aves 10.156 2.197 28 13.659 3.503 34,49 16.937
Suínos 801 128 19 863 62 7,73 1.070
TOTAL 19.756 4.470 39 24.985 5.229 19,15 25.584 Fonte: Instituto dos Serviços de Veterinária
Ao nível das famílias rurais, o acesso aos alimentos por via da compra está
condicionado ao rendimento que cada uma pode obter a partir das suas actividades
económicas. Neste sentido, as famílias com pouca produção tendem a ser mais
16
vulneráveis à agressividade do mercado condicionando assim, o seu consumo. Para
além das dificuldades de acesso físico e dos problemas estruturais dos próprios
mercados (que são gerais) apresentam pouco conhecimento e um nível organizativo
insuficiente para articular os diferentes elos das respectivas cadeias de valor, a
montante e á jusante. Os dados preliminares do censo da população e habitação
realizado em Angola (Maio de 2014) apontam para existência de mais de 9 milhões
de angolanos vivendo no meio rural, isto é, cerca de 37,7% da população angolana.
Não existem dados estatísticos disponíveis para uma análise detalhada sobre
o acesso aos alimentos no país. Não obstante, considerando que o acesso das
pessoas aos alimentos está associado ao nível de rendimento, pode-se deduzir que o
acesso também está associado à pobreza, sendo verdade que quanto mais severa for
a pobreza, maiores serão as dificuldades de acesso aos alimentos. Neste sentido,
pode-se recorrer aos dados do Inquérito sobre o bem-estar da população (IBEP,
2008), segundo os quais, a proporção da população angolana que vive abaixo da
linha nacional de pobreza é de 36,6%. (a linha nacional de pobreza considerada é de
AKZ 4.793,00 e em Dezembro de 2009, 1 dólar americano tinha uma equivalência de
AKZ 88.600,00).
Segundo o mesmo inquérito, as receitas médias mensais por pessoa no meio
rural de Angola andam a volta de AKZ 5.967,00 calculados a partir da média entre a
renda dos mais pobres (AKZ 1.230,00) e os menos pobres (AKZ 16.383,00) para além
dos outros quintís. A distribuição dos AKZ 5.967,00 segundo as fontes de rendimento
do agregado familiar rural é a seguinte: receitas laborais (49%), receitas não
laborais (14%) e auto-consumo ou auto-abastecimento (37%). Repartindo o valor da
receita média mensal por pessoa no meio rural pelos dias do mês dará uma receita
diária de AKZ 198,9 (menos de dois dólares americanos).
17
Fonte: IBEP, 2010
O valor da despesa média mensal por pessoa no meio rural é de AKZ 4.061,00.
Se este valor for comparado ao da receita média mensal por pessoa, haverá uma
diferença de AKZ 1.906,00 que em condições normais poderia ser entendida como
poupança. Porém, não se pode acreditar que uma pessoa possa cobrir todas as suas
despesas diárias com AKZ 135,36/dia (4.061/30 dias). Tendo em conta a paridade
entre o AKZ e o USD, mantendo os outros factores inalterados AKZ 135,36 equivalem
a USD 1,20.
19
III. ANÁLISE DOS PROGRAMAS PÚBLICOS DE APOIO A SAN
EM ANGOLA
Conforme referido, existe uma visão mais ou menos clara sobre os principais
estrangulamentos dentro do sistema de segurança alimentar e nutricional que
integra as dimensões da produção agro-alimentar, o abastecimento alimentar, o
acesso e consumo de alimentos e a promoção da segurança alimentar e nutricional
através das políticas públicas. Porém, a atitude dos tomadores de decisão sobre as
acções prioritárias tem apontado para a priorização de outros sectores em
detrimento da promoção da segurança e soberania alimentar. Isto ficou
demonstrado com a apresentação dos dados relativos à variação decrescente das
dotações orçamentais atribuídas à agricultura nos últimos anos.
Nas linhas que se seguem, procede-se à caracterização resumida de alguns
dos instrumentos de política pública voltados para a intervenção nos eixos
fundamentais da promoção da segurança alimentar e nutricional previstos na
ENSAN, nomeadamente, o aumento da disponibilidade e diversificação de alimentos
nas famílias, o aumento da renda familiar rural através da comercialização dos
excedentes de produção, a diminuição dos níveis de desnutrição da população,
garantia das condições de sanidade e a qualidade dos alimentos e da água para
consumo, bem como a melhoria da coordenação institucional das acções de
promoção da segurança alimentar em curso no país, tendo como referência, a Linha
Especial de Crédito Agrícola de Campanha (LECAC), o Programa de Aquisição de
Produtos Agro-pecuários (PAPAGRO) e a Promoção de Polos Agro-industriais e
Fazendas de Larga Escala.
Transversal a quase todos os eixos identificados, a Linha Especial de Crédito
de Campanha, no valor de US$150 milhões prevista para o ano 2010/2011, concede
crédito individual a pequenos e médios agricultores e a grupos (associações e
cooperativas), desde que estas tenham um membro com Bilhete de Identidade (BI).
Trata-se de um mecanismo simplificado e relativamente acessível. Prevê uma taxa de
juro de 5%, substancialmente inferior às normalmente praticadas pelo mercado
através de bancos comerciais (mais de 15%), graças ao facto de o Estado subsidiar
o diferencial através de um fundo governamental atribuído aos bancos operadores
20
que serve de garantia aos empréstimos, e destina-se por exemplo à compra de
insumos como bois para tracção animal, sementes, fertilizantes e outros factores de
produção, em montantes não superiores a cinco mil dólares por agricultor.
Essa Linha de Crédito tem uma abordagem participativa e para isso estabelece
a criação de Comités Locais de Pilotagem em cada município chefiados pelos
respectivos administradores municipais e com representantes das autoridades
tradicionais, instituições religiosas, Estações de Desenvolvimento Agrário, UNACA
(União Nacional das Associações de Camponeses de Angola) e ONGs (Organizações
Não Governamentais) ligadas ao sector. Estes Comités analisam e aprovam as
candidaturas para o crédito apresentadas no nível dos municípios. Os bancos
operadores assinam um acordo com o Comité de Coordenação do Crédito Agrícola,
composto pelos Ministérios de Economia, Finanças e Agricultura que orienta e
coordena todo o processo.
Os beneficiários dos créditos têm de apresentar aos bancos facturas
pró-forma de fornecedores locais relativas aos bens financiados, que permitem a tais
fornecedores receber os valores acordados, directamente dos bancos, pelo que se
tornam actores relevantes do processo.
O Programa de Aquisição de Produtos Agro-Pecuários (PAPAGRO) foi
concebido com o objectivo de operacionalizar a Estratégia Nacional de Comércio
Rural e Empreendedorismo – ENACRE, com vista a assegurar a aquisição regular dos
excedentes das explorações agrícolas familiares, por forma a garantir o escoamento
da sua produção para os principais centros de consumo. Enquadra-se no eixo relativo
ao aumento da renda das famílias rurais através da comercialização dos excedentes
de produção.
Na sua concepção foi considerado o princípio da transversalidade. Em termos
operacionais, o PAPAGRO arrancou com a construção de pontos de recolha da
produção agrícola familiar, localizados em locais próximos das áreas de maior
produção. Estes pontos de recolha chamam-se AGROMERCA’s e as primeiras foram
inauguradas em Novembro de 2013. A ideia é que a partir das AGROMERCA’s
instaladas nos pontos de referência seleccionados no país, os produtos são
transportados para o Centro Logístico de Distribuição de Viana (Luanda) onde são
seleccionados e canalizados para os consumidores finais (famílias) e/ou aos hotéis,
21
restaurantes e cafés. As estruturas referidas funcionam e adquirem os produtos com
fundos públicos.
O Ministério do Comércio enquanto entidade responsável pela coordenação
das acções do PAPAGRO reconheceu através do seu plano operacional de
descentralização do PAPAGRO que durante sua implementação tem havido
algumas dificuldades. Essas dificuldades justificam que o referido plano irá observar
a descentralização enquanto princípio que deve nortear a formulação e
implementação de políticas públicas de promoção da segurança alimentar e
nutricional visando a superação das referidas dificuldades.
Em síntese, a Linha Especial de Crédito Agrícola, o Programa de Aquisição de
Produtos Agro-pecuários, assim como outros programas governamentais ligados à
promoção da segurança alimentar e nutricional, fazem parte de um conjunto de
linhas de acção previstas no quadro da ENSAN, aprovada pelo Executivo em
Novembro de 2009, mas cuja implementação não tem sido suficientemente
consistente por falta da coordenação institucional prevista. De modo geral, uma
parte significativa dos programas previstos na ENSAN foi executada, inclusive outros
que não estavam ainda planificados. Contudo, o período de vigência da ENSAN
terminou em 2013, mas nunca foi submetida a uma avaliação estruturada.
O objectivo geral da ENSAN é assegurar o acesso permanente da população
angolana a uma alimentação suficiente, saudável e nutritiva, sem prejuízo para a
satisfação de outras necessidades básicas. Em termos específicos, a ENSAN
pretende:
Aumentar e diversificar a produção agro-pecuária e pesqueira.
Garantir a disponibilidade e estabilidade da oferta de produtos alimentares.
Melhorar as condições de acesso aos alimentos.
Diminuir os níveis de desnutrição da população.
Criar e implementar sistemas nacionais e locais de alerta rápido e sistemas de
monitorização da SAN.
Garantir a segurança sanitária e a qualidade dos alimentos e da água para
consumo.
22
Estes objectivos específicos estão desdobrados em propostas de políticas
estruturadas em três níveis, nomeadamente, o nível estrutural, nível específico e
nível local. Neste sentido, em cada um dos níveis, os objectivos específicos
incorporam linhas de acção que se inserem nos diferentes subsistemas de segurança
alimentar e nutricional: produção agro-alimentar, abastecimento agro-alimentar,
consumo e acesso agro-alimentar e promoção da segurança alimentar e nutricional
através de políticas públicas.
Em 2008, os recursos aplicados aos programas relacionados à SAN,
totalizavam USD 286 316 914 430,00. 86% deste valor estava destinado aos
programas virados para o subsistema de abastecimento agro-alimentar porque na
altura, este programa contemplava uma componente importante de infra-estruturas
que deu lugar a rede pública de super-mercados “Nosso Super”. Para o subsistema
de produção agro-alimentar, foram alocados 4% e para o consumo e acesso foram
alocados 10% do valor global.
A promoção de Polos Agro-industriais e Fazendas de Larga Escala está
prevista na ENSAN e tem contado, nos últimos anos, com uma contribuição
significativa, em termos de investimentos, da Gesterra, uma empresa constituída por
capitais públicos e criada através da Resolução 09/04 do Conselho de Ministros da
República de Angola. A Gesterra é tutelada pelo Ministério da Agricultura e tem como
objecto social, a gestão de terras aráveis que constituem reserva estratégica do
Estado4 e de projectos agro-industriais e pecuários. A referida empresa tem sob sua
tutela mais de 10 fazendas de larga escala, entre as quais se insere a Fazenda Pedras
Negras de Pungo Andongo (Capanda), que conforme referido antes, conta com a
presença da ODEBRECHT na sua implementação, especificamente, actuando como
gestora da produção agro-industrial, responsável pela construção e operação das
fábricas de fuba e de racção animal, e pela capacitação de pessoas. Para além da
Fazenda Pedras Negras (Projecto Pungo Andongo, em Cacuso, Malanje com 10.000
hectares) a Gesterra implementa outros projectos tais como: Fazenda Agro-industrial
de Sanza Pombo, província do Uíge com 5.000 hectares, Fazenda Agro-industrial do
4 Neste caso e tendo em conta que em Angola não existem terras desocupadas, ainda mais sendo aráveis, supõe-se que o Estado se tenha valido de um princípio da lei de terras, segundo o qual, a terra é propriedade originária do Estado. E nessa qualidade pode expropriar os titulares do seu uso para fins de utilidade pública mediante indemnização justa.
23
Longa, província do Uige com 1.500 hectares, Fazenda Agro-industrial de Camacupa,
província do Bié, com 3.000 hectares, Fazenda Agro-industrial do Cuimba, província
do Zaire, 1.500 hectares, Fazenda Agro-industrial de Manquete, província do
Cunene, 5.000 hectares, Fazena Agro-industrial de Camaiangala, província do
Moxico, 5.000 hectares, Projecto de Desenvolvimento Agro-industrial da Quizenga,
Malanje com 5.200 hectares, Projecto de Desenvolvimento Agro-industrial do Cubal,
província de Banguela, com 2.600 hectares; Projecto de Desenvolvimento
Agro-industrial do N’zeto, província do Zaire, com 2.600 hectares, Projecto de
Desenvolvimento Agro-industrial do Negage, província do Uige, com 2.200 hectares
e o Projecto de Desenvolvimento Agro-industrial do Luena, província do Moxico, com
2.200 hectares. Todos esses projectos prevêm a produção de cereais, hortícolas,
ovos, construção de infra-estruturas de apoio a produção e gestão, produção de
rações e de tubérculos, dependendo apenas das condições climáticas de cada região.
O quadro institucional legal previa a coordenação das acções por via da
institucionalização do CONSAN (Conselho Nacional de Segurança Alimentar a
Nutricional) como órgão máximo, de natureza consultiva e instância de concertação
e negociação política, e a RNSAN (Rede Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional) que funcionaria como uma estrutura de concertação e articulação da
execução do Plano de Acção de SAN, nos níveis comunal, municipal e nacional.
Nenhum dos dois órgãos foi constituído, o que dificultou significativamente a
monitoria da implementação da ENSAN por parte dos actores envolvidos.
24
IV. PRINCIPAIS ACTORES
4. 1 Mapeamento das organizações da sociedade civil, organismos
internacionais e outros actores actuantes no ramo da SAN e do DHAA
Dos mais de 800 milhões de pessoas no mundo que não possuem alimentos
suficientes para terem uma vida saudável, cerca de 200 milhões vivem na África
subsaariana – região onde se localiza Angola e os outros Países Africanos de Língua
Oficial Portuguesa (PALOP), cujos dados apontam para cerca de 37% da população.
Na vertente internacional, de acordo com os Objectivos de Desenvolvimento
do Milênio (ODM) tem sido preocupação do governo angolano, ajustar os seus
programas e planos de desenvolvimento a esse quadro de referência para o
desenvolvimento.
Para o efeito, a ENSAN está alinhada com os ODM uma vez que os seus
objectivos estratégicos resumem-se nos seguintes:
Erradicar a pobreza extrema e a fome
Alcançar o ensino primário universal
Reduzir a mortalidade infantil
Melhorar a saúde materna
Garantir a sustentabilidade do meio ambiente
Combater o VIH/SIDA, malária e outras doenças
Para o alcance das metas propostas nestes objectivos estratégicos, o governo
angolano implementa um conjunto de acções das quais se destacam os Programas
Municipais Integrados de Desenvolvimento Rural e Combate à pobreza (PMIDRCP),
Programa de Municipalização dos Serviços de Saúde, Programa Água para Todos,
Programa de Merenda Escolar, Programa de Luta contra a Malária e Poliomielite,
Programa de redução da mortalidade infantil, estas últimas resumidas em intensas
campanhas de vacinação por todo o território nacional.
Apesar destes esforços, complementados pela intervenção de Organismos
Internacionais, a demanda da população é ainda muito alta a julgar pela explosão
25
demográfica resultante do regresso ao país de um número considerável de famílias
deslocadas de guerra, o que se reflecte na exiguidade dos recursos e serviços
colocados à disposição dos cidadãos.
No plano regional, Angola tem contribuído para a prossecução dos objectivos
e compromissos assumidos neste âmbito, em particular com as prioridades de
redução da fome e pobreza no âmbito das agendas da Nova Parceira para o
Desenvolvimento de África (NEPAD) e da Comunidade para o Desenvolvimento da
África Austral (SADC).
Apesar de algumas correntes defenderem que a integração dos países nestas
comunidades tem como desvantagem a perda de parte da sua soberania para o
órgão supranacional, a mesma proporciona vantagens competitivas entre Estados
membros e grupos de interesse regionais, através dum processo de
empreendedorismo inovador e dinâmico e o aumento da interdependência política
e económica, contribuindo desta forma para a promoção da paz e da estabilidade
regional.
Por outro lado, a integração contribui ainda para uma conjugação de esforços
visando derrubar barreiras para facilitar as relações políticas, o comércio livre com a
união aduaneira ou alfandegária, a livre circulação de pessoas e bens dentro do
espaço regional, a harmonização de políticas económicas, monetárias, fiscais,
cambiais e sociais.
Dentre os vários objectivos da SADC, um deles é promover o crescimento
económico e desenvolvimento socio-económico sustentáveis e equitativos que
garantam a erradicação da pobreza, melhorando o padrão de qualidade de vida dos
povos de África Austral, dando apoio aos socialmente desfavorecidos, desenvolvendo
valores, sistemas e instituições políticas comuns para a promoção a paz e da
segurança.
No entanto, o Estado Angolano apesar de ser membro desta organização
apresenta alguns desvios no cumprimento das normas da SADC principalmente no
domínio dos direitos humanos, da justiça social, do ensino e educação, da saúde e do
combate á corrupção
Por sua vez, a NEPAD enquanto visão e quadro para a renovação do
continente africano, baseada no entendimento compartilhado de que é indispensável
26
erradicar a pobreza em África e posicionar os países africanos no caminho do
crescimento económico e desenvolvimento sustentáveis, confronta-se com grandes
desafios como a erradicação da pobreza e a promoção do desenvolvimento
socioeconómico estando esta organização essencialmente direccionada para a
realização deste duplo objectivo.
Angola, no quadro da integração regional, tem cumprido eficazmente com os
objectivos da NEPAD, evidenciando a consolidação da paz e estabilidade política,
bem como o nível de crescimento e gestão económica.
A afirmação é do representante do Mecanismo Africano de Avaliação pelos
Pares (MAAP) em Angola, frisando que após o alcance da paz definitiva, o país tem
se engajado em promover a democracia e a boa governação bem como
implementação de estratégias para a redução da pobreza.
Perante esta realidade, várias são as convenções, tratados e acordos
internacionais ractificados pelo governo angolano na senda do compromisso de
definir e implementar um conjunto de medidas que contribuam para a garantia da
Segurança Alimentar e Nutricional dos cidadãos.
A garantia desse direito implica o envolvimento de todos os extractos da
sociedade, cabendo ao Estado o papel fundamental de criação de condições para que
os cidadãos através das Organizações da Sociedade Civil possam participar na
formulação, implementação e monitoria de políticas públicas de Segurança Alimentar
e Nutricional.
O fim do conflito armado e a saída da fase de emergência determinou uma
mudança importante na orientação e na presença das entidades internacionais e um
forte crescimento dos investimentos em infra-estruturas sociais como escolas,
hospitais e universidades.
As organizações internacionais deixaram de prestar assistência humanitária às
populações e passaram a actuar numa perspectiva de desenvolvimento através de
recursos financeiros colocados à disposição de Angola no âmbito da cooperação
internacional. Surgem então as Agências de Cooperação Internacional para o
Desenvolvimento como a Agência Espanhola de Cooperação Internacional e
Desenvolvimento (AECID), a Agência Sueca para o Desenvolvimento Internacional
(ASDI), Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID)
27
Agência de Desenvolvimento Internacional do Japão (JICA) e outras, apoiando
projectos de fortalecimento da governação democrática, ampliação dos serviços de
saúde, melhoria do ambiente económico complementando os recursos cedidos pelo
Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial que intervêm no Orçamento Geral
do Estado.
Esta nova fase de desenvolvimento de Angola implicou também uma nova
dinâmica no domínio das Organizações da Sociedade Civil, registrando-se uma
viragem no papel das ONGs em relação ao período de emergência, pois as novas
demandas exigiram deste grupo uma nova forma de intervenção, segundo um
estudo realizado pelo Programa de Apoio aos Actores não Estatais (PAANE) em
parceria com o Ministério do Planeamento de Angola em 2010 financiado pela União
Europeia.
Estiveram na base destas mudanças as seguintes razões:
A necessidade de acompanhar duma forma estratégica os processos de
crescimento económico do país e a definição e implementação das políticas públicas
de desenvolvimento no concernente à localização dos projectos de investimento,
selecção das prioridades e monitoramento da sua implementação.
Responder às demandas de gestão dos projectos sociais, económicos e
ambientais nas áreas onde o Estado não consegue chegar. Neste acto é importante
realçar a mudança institucional marcada pelo processo eleitoral, a entrada em vigor
da nova constituição e a progressiva desconcentração e descentralização das funções
públicas com particular destaque para a instituição dos Conselhos de Auscultação e
Concertação Social (CACS), enquanto um espaço de diálogo entre os cidadãos e a
governação.
Intervenção nas dinâmicas de acesso aos serviços pelos cidadãos e de
integração social, pois que mesmo nos casos em que os serviços básicos são
disponíveis, por vezes são objecto de conflitos ou de situações críticas vinculadas à
falta de qualidade, de condições mínimas para uma prestação eficaz, as formas de
prestação informal dos mesmos e a competição entre os diferentes actores no uso
dos recursos.
A permanente existência de grupos vulneráveis.
28
A relativa falta de recursos humanos em quantidade e qualidade com grande
repercursão sobre o conhecimento e informação, embora nos últimos anos esta
vertente conheça uma evolução significativa com a definição de cinco regiões
académicas o que impulsionou a abertura de novas universidades públicas, a
expansão do ensino médio para as sedes municipais e a chegada às províncias das
universidades privadas.
A intervenção do ensino universitário privado em Angola contribuiu para o
aumento da consciência crítica dos cidadãos que se formam nessas instiuições
académicas e não só, pelo facto dos seus curriculuns contarem com uma
componente de workshops e debates de caris nacional e internacional, dando a
oportunidade de outros cidadãos terem acesso ao conhecimento e informação aliado
ao facto de que muitos oradores desses espaços são convidados de outros países
com abordagens mais democráticas e realidades diferentes.
Esta situação tem contribuído para o reforço do posicionamento das
Organizações da Sociedade Civil que encontram nestas instituições um aliado na
abordagem crítica sobre o desempenho do governo angolano.
O CACS surge ao abrigo do Decreto 02/07 da legislação angolana que deu
lugar à lei 17/10 que regula a organização e funcionamento dos órgãos da
Administração local do Estado. Ambos surgem no processo de desconcentração e
descentralização administrativa e financeira dos municípios, desafio assumido pelo
governo angolano em 2007.
O CACS é um órgão que tem como objectivo apoiar a Administração Municipal
na apreciação e tomada de medidas de natureza política, económica e social no
território do município. É presidido pelo Administrador Municipal e composto pelos
seguintes órgãos: i) Administrador Adjunto, ii) administradores comunais, iii) chefes
de repartições municipais, iv) representantes dos partidos políticos e coligações com
assento no parlamento, v) representante das autoridades tradicionais, vi)
nrepresentante do sector empresarial público e privado, vii) representantes das
associações de camponeses, viii) representantes das igrejas reconhecidas por lei, ix)
representantes das Organizações Não Governamentais, x) das Associações
Profissionais e do xi) Conselho Municipal da Juventude. Por outro lado a lei prevê
29
que o Administrador Municipal pode convidar sempre que achar conveniente outras
entidades não contempladas na lista anterior.
Segundo a legislação, o conselho deve reger-se por regulamento interno e
reunir de quatro em quatro meses em sessão ordinária e extraordinária, sempre que
o Administrador o convoque, embora isto não seja ainda um facto. Poucos são os
Conselhos que possuem regulamento próprio e a irregularidade do quadro das
reuniões é bastante visível.
4. 2 Tipologia e mapeamento das organizações da sociedade civil
em Angola
De acordo com o estudo do PAANE sobre o Mapeamento das Organizações da
Sociedade Civil Angolana, Angola apresenta uma tipologia de Organizações
Nacionais, bastante variada. O substracto legal que legitima estes agrupamentos de
cidadãos previstos na Constituição da República de Angola é a lei 06/12, lei das
associações que estabelece o regime jurídico geral da constituição, organização e
funcionamento das associações privadas. Esta lei estabelece no seu capítulo I, artigo
2º a liberdade de associação no país, definindo as associações como a união de
pessoas singulares ou colectivas cujos objectivos não prossigam fins
contrários à legislação.
Na vertente sociológica, estas associações surgem da necessidade dos
cidadãos unirem-se em defesa dos seus direitos e dos seus interesses, dando solução
aos inúmeros problemas que enfrentam, como a defesa das suas terras, do acesso
aos serviços sociais básicos, aos meios de produção e principalmente para
abrangência dos programas públicos no domínio da agricultura e do
empreendedorismo.
Organizações do primeiro nível
Este grupo encerra os núcleos e comitês de cidadãos para a gestão de
serviços ao nível local, organizações permanentes principalmente a nível rural
para a gestão de campos de cultivo ou cooperação em actividades a eles
relacionadas, as organizações não permanentes para a realização de trabalhos
comunitários, grupos permanentes ligados a entidades de nível regional ou
30
nacional, mas com autonomia no seu funcionamento e na tomada de decisão,
associações culturais e desportivas com base voluntária que realizam
actividades de utilidade pública, grupos informais criados por voluntários e
particularmente compostos por jovens no marco de diferentes campanhas de
sensibilização em colaboração com entidades nacionais e internacionais e grupos de
cidadãos que se subordinam à autoridade dos líderes tradicionais.
Estas organizações de base, além da sua grande diversidade possuem também uma
dimensão considerável em termos de qualidade e actuam a nível local comunitário.
Organizações do segundo nível
O segundo nível inclui organizações constituídas formalmente e caracterizadas
por uma estrutura definida comprometidas em trabalhar no apoio às populações ou
entidades do primeiro nível. Enquadram-se aqui as ONGs nacionais que prestam
apoio e financiamento a outras organizações de base, bem como assistência às
populações, as associações profissionais, os sindicatos, as fundações
privadas e entidades vinculadas às igrejas. Este nível de organizações é mais
visível em Angola e as maiores estão concentradas na capital do país com Antenas
nas províncias; em algumas províncias a presença das OSC locais apresenta-se de
certa forma precária por falta de capacidades e de financiamento, enfrentando
alguns problemas com a Administração Pública.
Organizações do terceiro nível
Este nível inclui as redes e as organizações de coordenação criadas por
organizações de nível mais baixo em função de lógicas e temáticas para as que
actuam no mesmo sector, ou zonas geográficas, as que actuam no mesmo local.
Estas redes e organizações têm funções de coordenação, de comunicação interna ou
pública, de tutela de interesses e de prestação de serviços.
Com base em estudos realizados, para este grupo foram identificadas as
redes locais no nível da comunidade urbana ou rural que veiculam recursos entre as
organizações a partir de entidades nacionais e internacionais como os núcleos de
associações e ligas de organizações, as redes temáticas ou sectoriais ao nível
nacional ou regional que por vezes veiculam recursos ou prestam assistência técnica
e a coordenação de associações em função de áreas específicas de acção como
31
rede terra, rede criança, rede SIDA, educação e outras que contribuem para a
promoção da SAN.
No actual contexto de Angola a Segurança Alimentar é trabalhada por
organizações dos três níveis. As do primeiro e segundo níveis desencadeam acções
com destaque para a vertente produtiva, prestando apoio às famílias do meio rural
no acesso aos insumos agrícolas através de iniciativas de crédito e de mecanismos de
solidariedade enquadrando-se neste eixo as pessoas de terceira idade, as viúvas e as
pessoas com deficiências. Por outro lado, exercem uma grande influência sobre o
processo de vínculo com a terra, a única garantia de permanência dos camponeses
nas zonas rurais, assim como de produção de alimentos.
A Estratégia Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional como
política de combate à fome e redução da pobreza
Em 2009 o governo de Angola apresenta publicamente a Estratégia Nacional
de Segurança Alimentar e nutricional (ENSAN), uma política para dar resposta de
forma permanente aos problemas de insegurança alimentar.
A sua formulação da foi coordenada pelo Ministério da Agricultura através do
Gabinete de Segurança Alimentar (GSA). Para o efeito, foi constituída uma equipa
técnica interministerial composta por representantes dos seguintes Ministérios: i)
Ministérios da Agricultura; ii) Ministério da Assistência e Reinserção Social,
iii)Ministério do Comércio, iv) Ministério da Educação, v) Ministério da Família e
Promoção da Mulher, vi Ministério das Pescas, vii Ministério do Planeamento, viii)
Ministério da Saúde, ix) Ministério do Ambiente e x) e Ministério das Finanças.
Nesta altura não houve a participação da sociedade civil na concepção da
estrutura base desta política, o que se concretizou apenas na fase posterior, a de
consulta pública, cujos contributos foram incorporados no processo de redacção final
do documento.
Após apreciação pelo Conselho de Ministros, a ENSAN foi submetida a um
processo de consultas públicas que incluiu a realização de seminários provinciais e
regionais para discussão do documento. Este processo contou com o apoio técnico
da FAO – Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação e com o
32
financiamento da AECID – Agência Espanhola de Cooperação Internacional e
Desenvolvimento. Nesta fase, a sociedade civil foi convidada a participar.
Em termos estratégicos pretendeu-se promover a coordenação e articulação
de todas as iniciativas ligadas à segurança alimentar e nutricional, estimulando a
mais ampla e diversificada participação dos intervenientes a todos os níveis,
facilitando o diálogo e a concertação social, participando na mobilização de
financiamentos e promovendo sinergias em prol do combate à insegurança alimentar
e vulnerabilidade no país.
Neste capítulo, a ENSAN prevê a participação das organizações da sociedade
civil nas seguintes vertentes:
Formulação de políticas e programas locais de SAN promovendo o
envolvimento das populações assistidas em todas as fases de implementação e
execução dos programas; Estabelecimento de redes de solidariedade e segurança
alimentar e nutricional a todos os níveis, com especial atenção ao nível local inclusive
na gestão dos programas;
Apoio ao Estado na promoção do Direito Humano à Alimentação Adequada
(DHAA);
Apoiar ao Estado na identificação de pessoas vulneráveis à INSAN e pessoas
com graves problemas de desnutrição na preparação de cadastros e erradicação de
vulnerabilidades;
Participação activa e prioritariamente na monitoria e avaliação de programas e
projectos de SAN;
Participação no reforço da capacidade institucional;
Apoio ao Estado na edificação de infra-estruturas locais;
Apoio na educação do cidadão sobre boas práticas agro-pecuárias,
alimentação e nutrição, formas alternativas para o aumento dos rendimentos,
armazenamento e comercialização da produção alimentar assim como na
alfabetização de adultos;
Apoio ao Estado a planificar e intervir em situações de emergência;
Estabelecimento de mecanismos para angariamento de fundos destinados a
implementação de programas de SAN.
33
Apesar da timidez na implementação da Estratégia, importa salientar que
estas organizações implementam um conjunto de acções enquadradas nas
seguintes vertentes:
Agricultura – Sendo a mais importante fonte de produção de alimentos, no domínio
da agricultura são desencadeadas acções de disseminação de boas práticas de
produção agricola através da metodologia das Escolas de Campo, apoio no acesso
aos inputs agrícolas e incentivos ao associativismo e cooperativismo como forma de
solucionar de forma colectiva os problemas dos camponeses e pequenos
agricultores.
Terras - é trabalhada em rede, através da advocacia junto das instituições afins para
que as comunidades rurais vejam as suas terras legalizadas através do acesso ao
conhecimento sobre a legislação fundiária em uso no país dado o valor que esta
representa no domínio da produção de alimentos e da estabilidade social das
populações.
Educação - Apoio à expansão da rede escolar através da construção de escolas,
capacitação de professores e distribuição gratuíta de material escolar. Está ainda
contemplada neste vertente a alfabetização que tem contribuído para a inclusão no
sistema de ensino de um grande número de cidadãos.
Saúde - Apoio à expansão da rede sanitária através da construção de novas
infra-estruturas e reabilitação de outras, campanhas de vacinação, controle de
grandes endemias como VHI e malária, capacitação dos profissionais do ramo.
Criança - estabelecimento de parcerias com o governo em projectos que visam a
inclusão da criança, garantia dos direitos fundamentais como educação, saúde,
habitação e registo civil, à luz da implementação dos 11 compromissos da criança,
uma política do governo angolano.
34
Água e saneamento - Ampliação da rede de água potável e do sistema de
saneamento, fazendo chegar este recurso às populações mais vulneráveis. No
entanto o quadro é ainda bastante dramático.
Ambiente - A intervenção nesta linha tende a reduzir os impactos negativos sobre o
ambiente, resultantes da situação de pobreza das famílias resultado da longa guerra
civil que o país viveu e no actual contexto sobre a ganância e lucro fácil. Esta
intervenção resume-se em acções de reflorestação, recuperação de áreas
degradadas, protecção da fauna e da flora, redução da exploração desenfreada de
inertes.
Monitoria e influência sobre as políticas e programas públicos - Na senda da
implementação do Programa de Combate à pobreza e outros complementares, estão
criados espaços de diálogo e concertação com os cidadãos. As Organizações da
sociedade civil intervêm neste domínio apoiando os grupos de cidadãos para
participação nestes espaços defendendo os seus interesses, através dos seus
legítimos representantes.
Governação local - Capacitação dos quadros da Administração pública e apoio à
formulação de programas. Estímulo ao surgimento de organizações comunitárias em
prol da defesa dos interesses dos cidadãos.
Estas Organizações e Redes actuam directamente no processo de articulação
e desenvolvimento, principalmente em torno de conferências locais e nacionais
algumas por iniciativa própria, outras de forma concertada com instituições do
governo e académicas, envolvendo altas individualidades do aparelho governativo
apesar de existirem poucas evidências de vinculação com o processo de
descentralização do Estado em curso no país, reduzindo assim a sua capacidade de
influência.
A ENSAN contempla cinco eixos estratégicos i) incremento, diversificação e
sustentabilidade da produção agro-pecuária e pesqueira, ii) fortalecimento e
consolidação da capacidade organizativa e produtiva a nível familiar e associativo nos
35
sectores agro-pecuário e pesqueiro, iii) fortalecimento da protecção social à criança
e a grupos vulneráveis, das competências familiares, e da educação alimentar e
nutricional comunitária, iv) fomento da investigação científica aplicada em toda a
cadeia alimentar e nutricional, v) Sistema de Informação de Segurança Alimentar e
Nutricional (SISAN). Grande parte das acções implementadas pelas OSC estão
alinhadas com estes eixos apesar que, após o período de conflito armado, no seio
deste grupo há maior tendência para um trabalho na linha de cidadania, boa
governação e direitos humanos, onde o direito à alimentação se enquadra, embora
sendo pouco evidenciado.
Actualmente não existe uma perfeita coordenação da intervenção das OSC
pelo governo, papel assumido até ao fim da guerra pela Unidade Técnica de
Coordenação das Ajudas Humanitárias (UTCAH). Apesar da existência deste órgão
afecto ao Ministério da Assistência e Reinserção Social, actualmente o seu papel
pouco se enquadra na actuação das OSC, dada a mudança do seu foco para uma
perspectiva de apoio ao desenvolvimento e menos de ajuda humanitária.
A coordenação das acções destas organizações com os respectivos Ministérios
são estabelecidas directamente entre ambos, sendo mais evidentes no domínio da
saúde, educação, agricultura, família e promoção da mulher, que ao nível local se
estabelecem com as Direcções Provinciais.
Por outro lado, esta fraca articulação entre as OSC contribui para uma
actuação em rede de certa forma desestruturada. Algumas iniciativas neste domínio
têm sido possíveis graças ao engajamento de um reduzido número OSC. Em 2013, a
ADRA uma ONG angolana com foco de trabalho no desenvolvimento rural, organizou
com apoio da FAO, um Fórum Nacional de Segurança Alimentar e Sociedade Civil
que contou com a participação de entidades brasileiras e permitiu analisar as políticas
e iniciativas em curso para a promoção da SAN, avaliando-se a participação da
Sociedade Civil na implementação das políticas públicas a partir de experiências de
Angola e do Brasil.
Este evento produziu encaminhamentos que destacam a necessidade dum
processo mais interactivo entre os actores da sociedade civil que intervêm no
domínio da SAN, de acordo com os pontos seguintes:
36
A necessidade de existir uma partilha e divulgação das suas experiências que
devem ser estudadas para que possam subsidiar a discussão das políticas
públicas;
A implementação de iniciativas de promoção de alfabetização funcional como
um elemento de fortalecimento da agricultura familiar na perspectiva da
inclusão social e cidadania;
O desenvolvimento de parcerias com as Estações de Desenvolvimento Agrário
enquanto estruturas públicas de apoio à agricultura familiar;
O reforço do trabalho no âmbito da nutrição, a partir dos conhecimentos das
comunidades locais;
O reforço da parceria e o intercâmbio internacional com organizações da
sociedade civil de outros países particularmente da Comunidade de Países de
Língua oficial Portuguesa (CPLP) e da Comunidade para o Desenvolvimento da
África Austral (SADC).
Em Angola têm sido desenvolvidas iniciativas, aos diferentes níveis, que
configuram espaços de participação social de que são exemplos mais
paradigmáticos, os fóruns municipais, os quadros de concertação municipal e mais
recentemente a institucionalização dos Conselhos de Auscultação e Concertação
Social nos municípios e províncias. Estas experiências podem ser úteis para a
dinamização do processo de construção social das políticas públicas de Segurança
Alimentar e Nutricional no país, tendo em linha de conta a intersectorialidade. Assim,
as organizações da sociedade civil e o Executivo necessitam estabelecer pontes de
diálogo, no âmbito das políticas públicas de Segurança Alimentar e Nutricional e
Desenvolvimento Rural, definindo os mecanismos de coordenação, os temas
prioritários e os planos de acção.
A Estratégia Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (ENSAN)
representa uma oportunidade para a efectivação da perspectiva da construção social,
ao prever um quadro de governação aos níveis nacional, provincial e municipal.
Neste sentido, este fórum propõe um debate sobre o grau de implementação desta
estratégia, extraindo as necessárias lições para as iniciativas futuras.
37
4. 3 Organizações internacionais presentes em Angola no quadro da
SAN e do DHA
O potencial da sociedade civil global para influenciar a tomada de decisões
sobre questões globais cruciais foi em larga medida ampliado nos últimos anos em
função da evolução do contexto internacional e mais recentemente pelas revoltas
ocorridas em vários países árabes. O culminar de desenvolvimentos históricos
complexos mostraram que as redes sociais constituem uma força que os líderes
mundiais e as instituições globais ignoram por sua conta e risco.
Após o período de emergência bastante marcado pela intervenção das
Agências das Nações Unidas com destaque para o Programa Alimentar Mundial
(PAM) e o Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) no quadro de ajudas
humanitárias, actualmente Angola registra a intervenção de organizações
internacionais numa perspectiva de apoio ao desenvolvimento.
Na sua essência, a ENSAN prevê a participação das organizações
internacionais como parceiros relevantes na implementação desta política, nas
seguintes dimensões:
Assegurar a assistência técnica e mobilização de recursos financeiros para a
implementação de diversos programas;
Apoiar na formulação de estratégias e programas no âmbito da SAN;
Auxiliar no reforço das capacidades institucionais;
Assegurar o fortalecimento de informação dos sistemas de aviso prévio para a
tomada de decisão atempada;
Apoiar os programas de mitigação de alívio em situações de choques ou crises
relacionadas com INSAN;
Participar na monitoria e avaliação de programas e projectos de SAN;
Apoiar a construção, reabilitação e manutenção de infra-estruturas;
Apoiar as iniciativas de boa governação, descentralização e implementação
dos princípios dos direitos humanos.
38
No entanto, apesar deste preceito, o quadro actual conta com a participação das
seguintes agências e organismos internacionais em todas as esferas de
desenvolvimento, destacando-se no domínio da SAN os seguintes:
Fundo das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), cujos
projectos e programas são dirigidos às vertentes de Agricultura e Segurança
Alimentar apoiando acções na linha da produção agrícola através da metodologia das
Escolas de Campo, Recursos Naturais (Terra e Água) combate a pragas e doenças,
realização de estudos sobre estatísticas agrícolas e recursos naturais (terra e água).
Banco Mundial, apoiando projectos de grande dimensão na vertente da agricultura
dos quais se destaca o Projecto de Agricultura Familiar orientado para o mercado
(MOSAP) avaliado em cerca de 40 milhões de dólares, Projecto de Desenvolvimento
Institucional do sector das águas com mais de 120 milhões de dólares, Projecto de
reforço dos serviços de saúde com incidência à mulher grávida e à vacinação e o
Mattchin Grants, Projecto de apoio ao Desenvolvimento Local através da geração de
empregos incentivando a agro-indústria.
Fundo das Nações Unidas para a Infância, UNICEF, com intervenção em
programas assistenciais e de monitoria ligados à criança principalmente à primeira
infância, cujos projectos têm particular incidência para a inclusão social da criança,
igualdade de género, educação, protecção de desenvolvimento da criança, VIH Sida
e monitoria de políticas públicas voltadas para a criança.
Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrário, FIDA – actualmente,
a sua intervenção resume-se apenas no cofinanciamento do Projecto de Agricultura
Familiar Orientada para o Mercado (MOSAP). Dos 40 milhões de dólares previstos
para a sua implementação, o FIDA participa com 8,2 milhões. A instituição já havia
participado em projectos agrícolas e de pesca, nomeadamente o PRODECA (culturas
alimentares) e PESNORTE (pesca artesanal), implementados nos período de conflito
armado o que condicionou a sua interrupção e reactivação em 2002.
39
União Europeia - A Delegação da UE na República de Angola através do Fundo
Europeu para o Desenvolvimento actua em três Sectores Operacionais:
Comércio, economia e apoio institucional que gere projectos de cooperação
relacionados com o Comércio, Economia e Apoio Institucional aos Ministérios de
Angola.
Desenvolvimento social e infra-estruturas que faz a gestão de acções nas áreas
da Educação, saúde, água e saneamento, infra-estruturas, para além de cultura
e energia.
Desenvolvimento rural e segurança alimentar: desenvolvendo actividades de
cooperação para o desenvolvimento, referentes ao desenvolvimento rural,
segurança alimentar e recursos naturais.
A estes organismos juntam-se as agências de cooperação internacional e
desenvolvimento de países da Europa, América e Ásia que no âmbito das suas acções
de cooperação apoiam projectos e programas de desenvolvimento económico, social
e institucional. No entanto, muitos destes países contribuem para o processo de
desenvolvimento no âmbito da sua responsabilidade social resultante dos acordos de
exploração assinados com o governo angolano.
Na definição dos seus programas e projectos, grande parte destes organismos
contempla intervenções de emergência em casos de catástrofes naturais ou
humanas, no domínio da assistencia alimentar, sanitária, produtiva prestando da
assistencia directa às populações afectadas.
A título de exemplo, em 2013, aquando da ocorrência duma seca prolongada
no Sul de Angola, após um apelo do Governo Angolano, as principais contribuições
foram financiadas pela Ajuda Humanitária e Protecção Civil da Comissão Europeia,
EC-ECHO (40%), para a implementação de actividades de emergência na área da
nutrição, desenvolvidas pela UNICEF e World Vision, pela Ajuda Americana,
USAID/OFDA e FFP (56%) no apoio às intervenções na área da segurança alimentar,
nutrição e água e saneamento. Do apelo feito pela UNICEF em Junho de 2013 no
40
valor de 14,4 milhões de dólares para a resposta humanitária ao impacto prolongado
da seca, apenas foram recebidos 4,1 milhões. Estes dados constam dum relatório de
Angola sobre a seca.
41
V. A POLÍTICA NACIONAL DE PROMOÇÃO DA SSAN E DO
DHAA EM RELAÇÃO A ESAN DA CPLP
Angola é um Estado membro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
(CPLP), entidade de carácter multi-regional, envolvendo países como a República
Federativa do Brasil, a República de Cabo Verde, a República da Guiné – Bissau, a
República de Moçambique, a República Portuguesa, a República Democrática de São
Tomé e Príncipe e a República Democrática de Timor Leste.
Nessa qualidade, em 2009 engajou-se na formulação da sua Estratégia
Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional e respectivo Plano de Acção que inclui
também um quadro institucional que visa facilitar a coordenação e o diálogo político
com elevada participação social. Este engajamento, a par dos processos internos de
outros países da comunidade, serviu de base para a formulação da Estratégia de
Segurança Alimentar e Nutricional da CPLP que reconhece o Direito Humano a
Alimentação Adequada como um princípio a ter em conta em todas as suas fases.
Analisada a implementação da ENSAN constata-se que uma parte dos
programas inicialmente previstos como instrumentos de referência para articular as
intervenções do nível nacional no nível local, acabou por não ser financiados. Foram
iniciados outros programas importantes pelo executivo angolano, tais como o
Programa de Crédito Agrícola de Campanha, o Programa de Promoção do Comércio
Rural, o Programa de Aquisição dos Produtos Agro-pecuários e outros. Entretanto, a
coordenação deste programas não tem sido feita conforme previsão da ENSAN.
Em termos de legalidade do DHAA, Angola ainda não ratificou os instrumentos
internacionais relacionados com o direito à alimentação designadamente o protocolo
adicional ao PIDESC, embora considere através da sua Constituição, no seu artigo
13.º que os acordos internacionais regularmente aprovados ou ratificados vigoram
na ordem jurídica angolana após a sua publicação oficial e entrada em vigor na
ordem jurídica internacional e enquanto vincularem internacionalmente o país.
Note-se que a Constituição da República de Angola aprovada em 2010 é omissa
quanto ao direito a alimentação. Além da omissão, ainda não existem iniciativas
legislativas tendentes a incorporar este direito para estar conforme a ESAN – CPLP.
42
A monitoria da situação de insegurança alimentar é também uma das
fraquezas do quadro institucional relativo à promoção, respeito e protecção do direito
a alimentação, em Angola. Devido ao seu peso político e económico, Angola tem
condições de desempenhar um papel central no relançamento da Estratégia de
Segurança Alimentar da CPLP, basta que para o efeito haja vontade política de
engajar os recursos necessários, as instituições e a sociedade civil no processo.
43
VI. A PRESENÇA DO BRASIL EM ANGOLA E A SUA
CONTRIBUIÇÃO PARA A PROMOÇÃO DA SSAN E DO DHAA
O Brasil possui uma representação diplomática em Angola que assegura a
implementação dos acordos de cooperação estabelecidos de forma bilateral. Do
ponto de vista econômico, a principal referência da presença do Brasil no país
africano é a implantação da construtora ODEBRECHT que já dura pelo menos três
décadas, contribuindo, por via do seu core business, a criação de postos de trabalho
e, consequentemente, rendimentos para algumas famílias angolanas. Para além da
Odebrecht estão também presentes as empresas brasileiras que actuam no ramo de
infra-estruturas como a Queiroz Galvão, Camargo Correia e Andrade Gutierrez. A
contribuição das referidas empresas para a promoção da segurança alimentar é
indirecta porquanto o seu trabalho principal está virado para projectos de engenharia
civil e a actuação dessas no âmbito da sua responsabilidade social tem, igualmente,
pouco reflexo directo na SSAN e no DHAA.
Por meio do reforço das suas parcerias com as instituições do sector público de
Angola, as empresas brasileiras estão alargando o seu campo de actuação, marcando
sua presença no ramo da exploração de minerais, agro-indústria e outros.
Entre 2003 e 2012, os governos de Angola e do Brasil firmaram 62 projectos
de cooperação técnica, científica e tecnológica, investindo um valor total de US$
2.689.415,68 para 54 destes projectos. Prioritariamente foram privilegiadas as áreas
da saúde com 16 projectos e da educação com 13 projectos.
De acordo com Kraychete et all (2013), actualmente, a cooperação Brasileira tem a
característica de aplicação de recursos públicos, totalmente a fundo perdido, sem
contrapartida e com 100% de concessionalidade, actuando a partir da transferência
de recursos técnicos sem ceder recursos financeiros e assumindo a forma bilateral.
Porém, com a intervenção da ODEBRECHT no projecto Pedras Negras em
Pundo Andongo, referido nas linhas anteriores fica claro que para além de fundos
públicos, tem havido também a alocação de fundos privados na sequência dessa
estratégia de cooperação. Outro exemplo que se pode mencionar é a iniciativa
conjunta formalizada em Roma, em 2014, através de um acordo tripartido assinado
44
entre a FAO, Angola e Brasil. Mediante este acordo, as três partes acordaram em
trabalhar em conjunto para reforçar a segurança alimentar no país africano por meio
da promoção da investigação agrícola e veterinária, engajando a Empresa Brasileira
de Pesquisa Agro-pecuária (EMBRAPA) na assistência técnica a mais de 100
pesquisadores angolanos, afectos ao Instituto de Investigação Agronómica (IIA) e ao
Instituto de Investigação Veterinária (IIV), sendo 60 e 45 respectivamente.
Trata-se de um projecto que será facilitado pelo Fundo das Nações Unidades
para Agricultura e Alimentação (FAO) com a duração de dois anos. Angola
comprometeu-se em cobrir 2,2 milhões de dólares de custos de financiamento e o
Brasil a prestar uma contribuição em espécie de 875 mil dólares com o trabalho de
especialistas da EMBRAPA. No âmbito dessa cooperação será desenvolvida uma
estratégia nacional para a inovação agrícola, além da formação dos técnicos, já
referida.
A cooperação Angola – Brasil tem se desenvolvido de uma forma
descentralizada e sem um marco que regule a sua implementação e
institucionalidade administrado por um órgão específico. Também, a ausência da
figura de cooperante ou expatriado tem sido uma característica particular, fazendo
com que os quadros angolanos e brasileiros responsáveis pela implementação das
acções previstas sejam aqueles que já estão vinculados à outras instituições. Estas
podem ser duas razões que, entre outras, podem estar na base da pouca eficácia dos
compromissos assumidos mutuamente.
Considerando que a cooperação entre Angola e o Brasil tem sido tratada como
um monopólio estatal, existe uma reivindicação das organizações da sociedade civil
de ambas as partes por uma maior participação nesta cooperação, o que abriria
certamente, um espaço de cooperação que vai para além da área técnica e alcançar
a área do desenvolvimento, onde se incluiria a questão da segurança e soberania
alimentar e nutricional.
45
VII. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Devido ao seu peso político e económico, Angola tem condições de
desempenhar um papel central no relançamento da Estratégia de Segurança
Alimentar da CPLP, basta que para o efeito haja vontade política de engajar os
recursos necessários, as instituições e a sociedade civil no processo. Contudo, a
concepção do PDMPSA que articula um conjunto de programas como se estivesse a
substituir a ENSAN transmite a ideia de possibilidade de haver uma transferência do
papel que deveria ser exercido pela ENSAN para o PDMPSA ou para um outro
programa, embora em ambos os casos, não estejam a funcionar quaisquer órgãos de
coordenação institucional que observe o princípio da participação e da
multisectorialidade.
A listagem dos programas que constituem o PDMPSA mostra uma tendência
do governo angolano de investir em programas de desenvolvimento agro-industrial
na medida em que, a quantidade de programas voltados para a agricultura familiar
não ultrapassa os 25%. Uma análise aos orçamentos marginais dos programas,
certamente permitiria constatar a grande diferença de investimento feito aos dois
sectores. Por isso, considera-se difícil a participação das organizações da sociedade
civil em eventuais espaços de coordenação desses programas devido à sua natureza
e tipos de actores envolvidos.
O Brasil tem vindo a participar dos esforços de promoção da Segurança e
Soberania Alimentar e Nutricional em Angola através de vários acordos de
cooperação que permitem dar uma abrangência temática diversificada a essa
cooperação que se tem traduzido em acções no domínio da agro-indústria, da
agricultura familiar, da articulação institucional, da formação, da investigação e da
assistência técnica. Não obstante, a falta de instrumentos de regulação e a ausência
de pessoas especificamente vinculadas à gestão dos programas podem estar na base
da falta de eficácia de grande parte destes. Possivelmente, a implantação de uma
Agência de Cooperação para funcionar junto da Embaixada do Brasil em Angola,
poderia minimizar essa lacuna, ou seja, deste modo, seria mais fácil trabalhar juntos
para que os acordos se cumpram e para que haja um processo de monitoria mais
próximo dos outros actores.
46
Angola dispõe de uma diversidade de organizações da sociedade civil que se
articuladas em plataformas de discussão e influência sobre políticas públicas podem
contribuir mais significativamente para que o país tenha uma política nacional mais
ajustada à realidade das comunidades. A referida articulação poderia servir de
motivação para que as organizações internacionais presentes em Angola e actuantes
no domínio da SAN e do DHAA possam encontrar uma base que sirva de substrato
para suportar os acordos firmados de forma bilateral e/ou bilateral.
47
VIII. BIBLIOGRAFIA
Acção para o Desenvolvimento Rural e Ambiente (2014), Projecto de Apoio a
Estratégia Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Estudo sobre a
implementação da Linha Especial de Crédito Agrícola de Campanha, Luanda.
Comunidade de Países de Língua Portuguesa (2012). Estratégia de Segurança
Alimentar.
Constantini, G. e Mavela, A. (2010). Mapeamento das Organizações da Sociedade
Civil Angolanas, Luanda.
Diário da República de Angola I Série Nº12, Janeiro 2012
Food Security Network et all (2007). Seminário internacional sobre Direito à
Alimentação e Desenvolvimento Rural – Documento Síntese. Lubango, Angola.
Gabinete de Segurança Alimentar de Angola (2009). Estratégia Nacional de
Segurança Alimentar e Nutricional. Luanda.
JMJ Angola (2009), Estudo sobre o Diálogo entre Redes e autoridades locais, Luanda.
Kraychete et all. (2013). Cooperação Sul-Sul Angola e Brasil: um primeiro estudo de
caso, Bahia – Brasil.
Organização das Nações Unidas para Alimentação e a Agricultura (2015). Angola,
Brasil e FAO assinam acordo de cooperação Sul-Sul. Disponível em www.
Fao.org/news/story/pt, consultado aos 26 de janeiro de 2015.
Reis, Márcio Carneiro dos (2008), Análise da Estratégia Nacional de Segurança
Alimentar e Nutricional. Rio de Janeiro, Brasil.
48
República de Angola, Instituto Nacional de Estatística. Inquérito sobre o Bem-estar
da População (2009). Principais Resultados Definitivos, Luanda.
República de Angola, Ministério da Agricultura (2013). Análise do Sector
Agro-pecuário, Luanda.
República de Angola. Conselho Nacional da Criança (2013). Relatório do grau de
cumprimento dos 11 compromissos da criança, Luanda.
Recommended