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8/3/2019 Curso de Comércio Exterior
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Ricardo faro
~
Fatima Faro .
CURSODE ..
COMERCIO "EXTERIOR
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A Evolucao Recente do
Cornercio Exterior Brasileiro
1.1 Introducao /
A Teoria Macroeconornica nos ensina como deve ser 0 comportamento dos
govemos nacionais em relacao a capacidade produtiva e demanda agregada de
seus respectivos pafses. Em qualquer lugar do mundo, 0objetivo macroeconomico
dos gestores publicos concentra-se na busca pelo alcance do pleno emprego, com
uma distribuicao justa de renda e indices inflacionarios baixos. Para esse efeito,
como instrumento de polftica economica, utilizam-se das politicas fiscal, moneta-
ria, de rendas, comercial e cambial.
De uma forma natural, a politica economica tende a refletir 0 pensamento
politico partidario dominante, considerando, evidentemente, a conjuntura e os in-
teresses nacionais previamente estabelecidos. Os efeitos gerados pelas iniciativas
adotadas no infcio de cada gestae presidencial podem ser c1aramente demonstra-
dos pelos agregados macroeconomicos. Indicadores como 0PIBe 0PNBrevelam
como esta 0 grau de desenvolvimento da nacao e seu respectivo comportamento
em relacao aos demais players da comunidade intemacional.
Nesse contexto, 0exerdcio das praticas de comercio surge justamente como
urn mecanismo capaz de apontar as solucoes e os caminhos viaveis para 0estabe-
lecimento de urn eixo solido e concreto, que suporte a implementacao de medidas
validas para promover 0 crescimento de urn pais e, consequentemente, venha a
gerar melhorias significativas de cunho economico e social aos seus habitantes.
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4 Curso de Cornercio Exterior • Faro e Faro
1.2 Do processo de substituicao de importacoes it crise da decada
de 80
A partir da Proclamacao da Republica, 0Brasil passou a apostar na especiali-
zacao da producao como forma de possibilitar uma alavancagem substancial das
trocas intemacionais. Na verdade, tratava-se de uma iniciativa bastante previsi-vel, haja vista que tal acao ja havia sido testada anteriormente por outros pafses
republicanos.
Acima de tudo, esses movimentos simbolizaram 0 rompimento com os mo-
delos economicos anteriormente praticados, ou seja, 0 extrativismo colonial que
caracterizou de forma inequfvoca as acoes mercantilistas da coroa portuguesa,
que pouco evoluiu durante a estada da "Familia Real" no Brasil Colonia, alem do
protecionismo adotado durante 0 Imperio, que fora implementado de mane ira a
oferecer as condicoes mfnimas para que 0Estado recem-criado pudesse comandar
a economia desse novo pais sem muitos sobressaltos ou crises extremas.
No seculo XX,a evolucao do comercio exterior brasileiro foi bastante influen-
ciada num primeiro momenta por dois grandes acontecimentos intemacionais:
a depressao dos anos 30 e a Segunda Guerra Mundial - fatos que acabaram por
desenhar estagios distintos para a trajetoria de nossas trocas economicas.
Na primeira fase republicana, ou seja, ate a crise de 30, nossa economia se
revelou dependente das exportacoes de algumas commodities, nao apenas cafe,
mas tambem algodao, borracha, acucar e ouro, aspecto que voltaremos a comen-
tar, num outro contexto, quando da abordagern acerca da evolucao da estrutura
organizacional de fomento, apoio e controle dessa atividade economica,
Essa dependencia expressiva acabou por contribuir para elevacao dos nfveis
de vulnerabilidade extema da economia, uma vez que a performance comercial
das commodities era reflexo direto da respectiva capacidade de absorcao dessesprodutos pelo mercado intemacional, observando-se uma oscilacao dos precos
justamente em decorrencia desse aspecto.
Ha registros de que, por exemplo, em alguns momentos a nossa producao de
cafe teria sido superior a demanda mundial pelo produto, sobretudo em virtude
da politica de superprotecao a essa cultura, que fora implementada pelo govemo
brasileiro devido ao seu alto poder de geracao de negocios.
AGrande Depressao deixou evidencias de que 0pais nao poderia ser dependen-
te direto ou indireto das exportacoes de urn unico produto agricola. A superprote-
c;aoao segmento cafeeiro mostrou-se insustentavel e a economia intema clamava
por mudancas, E nesse momenta que ocorre a ruptura do modelo primario expor-
tador como base para 0desenvolvimento economico. 0processo de urbanizacaoe de industrializacao motivado pela exploracao do cafe precisava ser revisto.
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A Evolucao Recente do Comercio Exterior Brasileiro 5
Com vistas a contomar e ate mesmo superar todos os constrangimentos exter-
nos gerados pela fragilidade economica provocada pelo modelo agroexportador,
e, ainda, reverter os indicios de economia subdesenvolvida, a Revolucao de 30
acontece, dissipando os vinculos anteriormente existentes com a elite oligarquica
da Republica Velha. A Nova Republica surge como uma grande proposta de al-
teracao politica, mostrando que poderiam ser economizados esforcos para gerar
poupanca e investir numa meta prioritaria dentro de urn projeto nacional desen-
volvimentista: a industrializacao plena da economia brasileira.
omodelo que se desenhava recebeu a denominacao de Processo de Substitui-
~ao de Irnportacoes (PSI). Consistiu na crenca de que 0 estrangulamento extemo
era necessario, isto e, caberia haver urn processo amplo de industrializacao, procu-
rando, com isso, reduzir drasticamente as compras extemas, com vistas a alcancar
o crescimento economico. Inicialmente, a demanda de outros setores permaneceu
sendo atendida pelas importacoes que posteriormente tambem foram substituidas
por intermedio de urn aporte maior de investimentos no segmento secundario,obedecendo a seguinte sequencia: bens de consumo leve, bens de consumo dura-
veis, bens intermediaries e bens de capital.
A construcao nacional, uma forte caracterfstica do PSI, tinha como objetivo
principal 0 alcance de indices desejaveis de desenvolvimento a partir da consoli-
dacao de uma industria de base, tornande o setor extemo refem desse modelo,
uma vez que esse mecanismo, a rigor, implicava urn esforco muito grande no sen-
tido de superar a tendencia especializada que 0pais demonstrou relativamente a
exportacao de produtos primaries.
A ideia de nacionalizacao dos gestores brasileiros, empregada em diferentes
estilos ate 1964, trouxe prejuizos para 0desempenho do setor extemo, que mos-
trou desequilihrios por urn born tempo, alem de contribuir para a desestabilizacao
da economia intema. 0Programa de A~aoEconomica do Govemo (1964-1966),
elaborado por Otavio Gouveia de Bulhoes e Roberto Campos (entao Ministros da
Fazenda e Planejamento, respectivamente), continha metas estabilizadoras que
buscaram eliminar os focos intemos de estrangulamento que inibiram 0 cresci-
mento economico brasileiro.
Essas iniciativas, entretanto, engendraram maior liberalizacao das importa-
r;6es e urn rapido crescimento da divida publica, conjugados a urn expressivo ar-
rocho salarial.
A reforma do setor extemo contemplou a adocao do sistema de minidesva-
lorizacoes a partir de 1968, maior flexibilidade a lei de remessas de lucros ao ex-
terior e a renegociacao da divida extema, culminando com a assinatura de urn
acordo de garantias para 0capital estrangeiro, que assegurou uma aproximacao
a politica extema norte-americana de alianca para 0 progresso. As politicas vol-
tadas para 0 setor extemo ficaram a deriva ate a introducao do modelo de pro-
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6 Curso de Comercio Exterior • Faro e Faro
mocao de exportacoes que vigorou de 1968 ate 1974, epoca da primeira grande
crise do petr6leo.
o periodo do milagre economico brasileiro (1968/1973) comportou-se como
uma etapa da hist6ria da economia brasileira que se caracterizou por apresentar
as maiores taxas de crescimento economico jamais registradas (taxa media de
10% a.a.). Nessa fase, observaram-se de forma representativa uma retomada do
investimento publico em infra-estrutura, aumento do investimento produtivo das
empresas estatais, aumento da demanda por bens duraveis, crescimento acirrado
da construcao civil, e, finalmente, 0crescimento das exportacoes brasileiras.
As nossas vendas extemas, em particular, apresentaram umaperformance ex-
tremamente favoravel em decorrencia do crescimento do comercio mundial e da
adocao de uma politica extema que ostentou melhorias nos termos de troca, in-
centivos fiscais e tambem no que diz respeito a legislacao tributaria, com destaque
para as questoes aduaneiras.
o crescimento da dfvida extema apresentou uma elevacao substancial entre
os anos de 1977 a 1979, gerando deficits cada vez maiores na conta de transa-
coes correntes do Balance de Pagamentos do Pais. Todavia, a politica comercial
se mostrava ineficiente para reverter 0quadro que se avizinhava.
As profundas transformacoes no cenario extemo, ocorridas no inicio da decada
de 80, trouxeram a tona a vulnerabilidade extema experimentada pela economia
brasileira na decada de 30.
o Pais podia sentir a deterioracao da situacao fiscal e os efeitos dos desequi-
librios extemos que decorreram das duas crises do petr6leo. Essas tensoes ocor-
reram sob a forma de choques de oferta. Soubemos ate resistir satisfatoriamente
ao primeiro choque (1973), uma vez que ostentavamos elevadas taxas de cresci-
mento. Os efeitos gerados pelo segundo choque (1979), no entanto, foram muito
mais devastadores. Este cenario exigia urn aprofundamento da abertura politica.
o discurso desenvolvimentista e de comb ate a inflacao do ultimo govemo
militar trouxe, na figura do entao Ministro da Fazenda Antonio Delfim Neto (em
substituicao ao Ministro Mario Henrique Simonsen), a tentativa de reedicao do
milagre economico do fim da decada de 60. Entre as medidas adotadas, figura-
ram a maxidesvalorizacao de 30% da moeda e a eliminacao de alguns incentivos
fiscais as exportacoes, alem da eliminacao dos dep6sitos previos sobre as importa-
coes e a revogacao da Lei do Similar Nacional, com vistas a viabilizar a execucao
de urn melhor controle sobre 0desempenho do comercio exterior brasileiro, por
intermedio da adocao de uma politica cambial e tarifaria.
Tais iniciativas resultaram no acirramento da crise intema como reflexo do
recrudescimento da crise economica intemacional, fomentada nao apenas pela
segunda crise do petr6leo, como tambem em decorrencia da elevacao das taxas
de juros intemacionais, estimuladas pelo aumento da taxa de juros norte-ameri-
cana.
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A Evolucao Recente do Cornercio Exterior Brasileiro 7
A5 acoes implementadas mostraram-se ineficazes e agravaram a aceleracao
mflacionaria. Juntos, os efeitos experimentados pela economia brasileira foram
capazes de provocar a deterioracao das contas extemas, com aprofundamento dosaldo credor da nossa divida extema, induzindo 0Pais a perda de divisas, exigin-
do urn ajuste. Os resultados que se seguiram foram: recessao em 1981 e 1983. 0
ano de 1982, por sua vez, revelou urn crescimento economico bastante timido.
Todavia, em meio a situacao ca6tica que se formava a partir da presenca de ciclos
recessivos e de crescimento reprimido, a polftica de comercio exterior adotada foi
capaz de reverter 0 saldo deficitario da balanca comercial, batendo recorde em
superavit em 1983.
Credita-se 0sucesso dessa medida a implantacao do II Plano Nacional de De-
senvolvimento (II PND), que possibilitou a criacao de urn ambiente extremamente
favoravel para 0 desenvolvimento de setores com competitividade extema com-
ovada, contribuindo, sobremaneira, para eliminar os -possiveis desequilfbriosdo Balance de Pagamentos. No entanto, a geracao de superavit pelo aumento das
exportacoes nunca se revelou suficiente para con tomar 0 desajuste das contas
intemas.
A partir de eptao, 0Pais experimentou uma sucessao de pIanos de estabiliza-
¢oeconomica: Plano Cruzado (1984), Plano Bresser (1987), Plano Verao (1988),
Plano Collor (1990) e Plano Real (1994). 0 principal objetivo de todos esses pla-
consistia basicamente na busca do controle inflacionario, base para que 0Pais
retomasse 0 crescimento e desenvolvimento economico.
A maioria dos pIanos introduziu medidas de desvalorizacao ou valorizacao da
moeda nacional, caso particular do Plano Real. A5 polfticas comerciais mostraram-se
fracas e urn tanto amadoras - sob 0ponto de vista de alguns analistas -, haja vista
que a economia mundial se movimentava para assimilar 0 fenomeno da globaliza-
c;ao em seus varies segmentos.
Entre todos esses pIanos, a "Era Collor" (1990-1992) nao sera lembrada ape-
nas por introduzir urn componente heterodoxo, 0 confisco de ativos, mas, sobre-
do, por ativar 0processo de integracao regional do Cone Sul, como tambern por
prover a abertura da economia brasileira.
1.3 Aabertura comercial
o govemo Collor teve la suas imperfeicoes, mas tambem contribuiu para uma
mudanca de cenario no Pais. Esse govemo acreditava a epoca que a economia
mundial convergia para urn comportamento mais integrado de seus mercados, nurn
ritmo muito intenso. Isto posto, junto com os demais govemantes da Argentina,
Paraguai e Uruguai, ousou trabalhar para a criacao do MERCOSUL.
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8 Curso de Cornercio Exterior • Faro e Faro
Com efeito, era possfvel observar em nfvel mundial quao inflamados eram
os fluxos financeiros e comerciais intemacionais. Urn maior entendimento e uma
maior absorcao da globalizacao, combinados com 0fim da Guerra Fria, contribui-
ram substancialmente para a decisao generalizada da grande maio ria dos pafsesna busca de urn grau maior de abertura de suas economias.!
o Brasil nao poderia se distanciar dessa onda, pois 0 cresc-imento dos fluxoscomerciais e financeiros em escala mundial era evidente e 0 grau de abertura
das nacoes bastante elevado. Durante muito tempo mantivemos uma reserva demercado, e, na realidade, essa decisao do passado se refletiu nos indicadores decrescimento e desenvolvimento economico,
o fato e que somente por intermedio da intemacionaliza~ao da economia e
possfvel a urn pais como 0Brasil reduzir seus respectivos nfveis de vulnerabilidadeextema e melhorar os fluxos comerciais com 0 resto do mundo.
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1 0 grau de abertura de uma economia e medido pela soma do volume de importacoes mais ex-portacoes dividido pelo PIB.
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Entidades Intervenientes no
Comercio Exterior
1A evolucao do processo organizacional do comercio exterior
brasileiro
Rei quem afinne que 0 comercio exterior entre 0 Brasil e 0 resto do mundo
- efetivamente comecado no inicio do seculo XIX,a partir da decretacao da
~er1:ur,a dos portos as nacoes amigas ern 1808 por D. Joao VI, uma iniciativa
inclusive, de forma muito particular atendeu aos interesses da Inglaterra,
quem Portugal firmou dois acordos: urn Tratado de Arnizade e Alianca e urn
• de Comercio e Navegacao,
Essa e urna meia-verdade e por que? Embora anterionnente aquele periodo nao
- OOto fazer qualquer referencia acerca da participacao brasileira no comercio
iiIIfnlacional, uma vez que a legislacao vigente a epoca detenninava que todo e
~~(Uer fluxo de mercadorias e bens destinados ao Brasil, ou mesmo originados
procedentes da Colonia, transitasse por Lisboa, apos 1808 tal atividade per-
lBiilDfre1ra sob a coordenacao da coroa portuguesa.
ooomercio exterior, na realidade, vinculava-se aos negocios, envolvendo urn
reduzido de mercadorias, contemplando basicamente produtos primaries*..a i l - dssimo valor agregado, fruto do extrativismo, aspecto que contribuiu para
- fosse exigida a implantacao de uma grande estrutura destinada especifi-
ca:~CIe a fonnular politicas e exercer 0 controle dessa atividade.
quadro pennaneceu praticamente intacto, nao vindo a sofrer alteracoes
J l l l ! !c f ! : m c : l a s ou transformacoes de grande relevancia, mesmo ern face do advento
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10 Curso de CornercioExterior· Faro e Faro
da independencia brasileira, em 1822. A partir de entao, nao obstante havermos
conquistado a soberania nesse sentido, 0 fato e que atravessamos urn longo pe-
riodo de adaptacao a essa realidade, uma vez que permanecemos dependentes
dos neg6cios portugueses, em virtude de as empresas comerciais estabelecidas no
Pais continuarem sob a administracao lusitana.
Fruto da alternancia de poder, esse perfodo de transicao serviu como apren-
dizado para a aquisicao da autonomia necessaria ao Estado para se estruturar de
maneira a gerir 0comercio exterior e conduzir as negociacoes intemacionais cada
vez mais descolado da influencia portuguesa.
Os primeiros reflexos positivos dessa iniciativa comecaram a ser observados
ainda no seculo XIX,com a exploracao do cafe em grande escala, que nos impul-sionou a lideranca nas exportacoes desse produto.'
Ao ingressarmos no seculo XX,nossas exportacoes, entretanto, nao demons-
traram ter folego suficiente para possibilitar ao Pais a sustentacao de urn maior
poder de fogo no mercado extemo, e por que? Como ja tivemos a oportunidade
de ressaltar, dependiamos expressivamente da venda de commodities. A expan-
sao dos neg6cios da especie vinculava-se diretamente a capacidade de consumo
extemada pelo mercado, nao estando 0 Brasil no controle dessa variavel. Uma
supersafra, como de fato foi registrado, poderia comprometer a performance ex-
portadora, em virtude da possibilidade de reducao extrema dos precos praticados
nas vendas desses produtos.
Alguns anos mais tarde, observou-se uma representativa expansao do mer-cado domestico, justificada em parte por urn maior adensamento populacional
nos grandes centros de concentracao demografica. Esse fenomeno, em combina\
c;aocom os efeitos decorrentes da grande crise econornica que abracou 0mundo
por volta dos anos 30, provocou a necessidade de produzirmos intemamente as
mercadorias, produtos e bens que passamos a ter dificuldade em obter no cena-
rio intemacional.
Contribuiu para isso, tambem, 0 fato de que 0nosso desenvolvimento indus-
trial estava fortemente atrelado ao sucesso da performance exportadora, utilizan-
do-se do mecanismo cambial como urn dos principais pilares de sustentacao do
incremento dessa atividade.
Assim, como os precos intemacionais dos produtos primaries que consti-tuiam a porcao esmagadora das nossas vendas extemas cairam drasticamente,
aspecto que tambern ja evidenciamos, talvez nao tenhamos tido outra alterna-
tiva a dinamica de trabalho baseada na politica de substituicao de importacoes,
com 0 intuito de provocar resultados favoraveis na nossa balanca comercial, que,
1 Ja em 1830, 0Brasil era apontado como 0maior produtor mundial. As vendas extemas de cafe,
isoladamente, correspondiam a cerca de 50% das exportacoes globais brasileiras. Naquele periodo,
entretanto, ainda era grande a participacao portuguesa no controle desse mercado.
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Entidades Intervenientes no Comercio Exterior 11
fundamentalmente, concentrava as suas acoes num forte e efetivo controle dasoompras intemacionais.
Nesse contexto, no dia 20 de dezembro de 1934, foi criado 0Conselho Federal /'
de Comercio Exterior, institufdo com a responsabilidade de promover as nossas
exportacoes, estimular a elevacao do consumo intemo da producao domestica,
como tambem analisar 0 impacto das importacoes em relacao a producao nacio-
nat e 0 seu respectivo consumo, de maneira a apontar altemativas para 0desen-
volvimento dos neg6cios extemos do interesse brasileiro.
Urn pouco mais a frente, com a pretensao de instalar no Pais uma estrutura
capaz de imprimir 0ritmo adequado a essas atividades, em 1941 foi estabelecida
no ambito do Banco do Brasil a Carteira de Exportacao e Importacao (CEXIM),
objetivando especificamente promover acoes de incentivo e suporte a exportacao,
como tambem garantir 0 fiel cumprimento das diretrizes apontadas para 0 curso
das importacoes brasileiras. ./
\ A ideia era de que a CEXIMviesse a operar como uma caixa de ressonancia
das politicas aplicaveis ao segmento, bus cando assegurar 0 sucesso do modelo
posto em pratica pelas autoridades brasileiras para a construcao de uma platafor-
ma desenvolvimentista. A opcao pelo Banco do Brasil como 0elo da corrente go-
vemamental responsavel pela gestae do comercio exterior afigurava-se a escolha
mais natural possivel, em virtude da expertise acumulada no suporte ao cambio,
alem da capilaridade de sua rede que, no decorrer dos anos 40, ja alcancava as
principais cidades do Pais de entao, reunindo, portanto, as condicoes ideais para
o apoio a essa atividade.
Em 23 de fevereiro de 1948, foi editada a Lei nQ262, que exigia 0 licencia-
mento previo das importacoes e exportacoes brasileiras, instrumento legal que
posteriormente foi regulamentado pelo Decreto nQ24.697-A, de 23 de marco de
1948, concedendo privativamente a CEXIMa autorizacao para licenciar tais ope-
racoes em nome do govemo federal.
No entanto, aquela entidade aparentemente fora alvo sistematico de uma
abordagem corporativista, realizada por representantes dos setores da sociedade
que figuravam como urn dos principais formadores da base de sustentacao go-
vemamental.
Ha relatos de que, em virtude das politicas extremamente restritivas aplica-
das as importacoes, esses intervenientes teriam buscado influenciar as decis6es da
CEXIM,procurando flexibilizar as exigencias e obter privilegios ou favorecimentonos processos de licenciamento das compras extemas. As suspeitas nesse sentido
teriam ganho algum destaque em relacao as operacoes vinculadas ao setor auto-
motivo, destinadas a promovera recomposicao e a renovacao da frota nacional.
Verdade ou nao, 0 fato e que esses movimentos, mais do que prejudicar 0al-
cance de resultados economicos substanciais, poderiam contribuir para que fosse
construida uma imagem negativa do govemo junto a populacao brasileira, vindo,
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12 Curso de Comercio Exterior • Faro e Faro
\
eventualmente, a se refletir em paises que figuravam como grandes parceiros no
comercio intemacional, em virtude de uma hipotetica falta de transparencia, ou
mesmo devido a ausencia de credibilidade dos nossos govemantes, 0que de cer-
ta forma poderia comprometer 0 relacionamento comercial do Brasil para com
essas nacoes.
De qualquer maneira, apenas como ilustracao, e importante lernbrar que, no
que diz respeito ao setor automotivo, naquela epoca apenas montavamos os vei-
culos, sem que produzfssemos qualquer tipo de partes ou pe<;as.A implantacao em
definitivo da industria automobilfstica genuinamente nacional ocorreria apenas na
segunda metade dos anos 50.0 Brasil, portanto, era extremamente dependente
das fabricas estrangeiras que, em virtude do seu comprometimento com 0esforco
de guerra no periodo de 1939 a 1945, apresentavam uma certa dificuldade em
abastecer os mercados intemacionais cujas demandas estavam reprimidas.
Independentemente disso, a CEXIMoperava sem se movimentar no mesmo
compasso da Carteira de Cambio do Banco do Brasil, muito embora essas duas es-
truturas fossem partes integrantes da mesma instituicao financeira. Essa atuacao
desarticulada abriu margem para que eventualmente fossem emitidas licencas de
importacao sem a correspondente cobertura cambial, ja que, em muitos casos, os
licenciamentos concedidos superavam 0 orcamento cambial previsto, gerando,
dessa forma, atrasos comerciais na liquidacao dos compromissos assumidos com
as compras extemas.
Esses atrasos tambem teriam sido influenciados pela aplicacao de uma taxa de
cambio que nao refletia a paridade real que mereceria ser observada na correlacao
entre a moeda nacional e as moedas estrangeiras que estavam sendo utilizadas no
curso dessas operacoes. 0 fato e que esse procedimento descompassado adotadopor essas Carteiras, alem das demincias que foram veiculadas na imprensa, pro-
curando demonstrar a existencia de irregularidades nos licenciamentos das ope-
racoes de compra e venda extema, ganharam corpo, reverberando de tal forma ~
junto a sociedade que acabaram por inviabilizar a continuidade dos trabalhos da
CEXIM.Assim sendo, de maneira a combater os efeitos gerados pelo suposto com-
prometimento da sua gestae, 0 govemo interveio, promulgando a Lei nQ2.145,
de 29 de dezembro de 1953, extinguindo-a e promovendo a sua correspondente
substituicao pela Carteira de Comercio Exterior, a CACEX.
Nao se tratava de uma acao meramente topica. As autoridades brasileiras bus-
caram com isso, a partirda identificacao das suas fragilidades, corrigir suas defi-
ciencias e combater os eventuais desvios ou excessos porventura detectados.
Por que a CACEXnao foi estabelecida como urn departamento autonomo ou
outra estatal, desvinculada do Banco do Brasil? Talvez 0 govemo federal tivesse
alguma dificuldade em implantar uma nova estrutura que contemplasse uma rede
de atendimento capaz de coordenar essa atividade economica e assistir 0territorio
nacional de forma integral, ja nos primeiros instantes apos a sua instalacao.
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Entidades Intervenientes no Cornercio Exterior 13
No entanto, e preciso lembrar que, acima de tudo, 0Banco do Brasil desde
o momento de sua criacao, em 1808, se mostrara uma relevante ferramenta na
execucao das politicas piiblicas de comercio exterior e de carnbio, Alem disso, 0
principal problema enfrentado a epoca residia na substituicao do modele ate en-
tao vigente por urn aparelho estatal bern mais complexo, responsavel por uma
multiplicidade de acoes, que pudesse operar apoiado numa base consistente e
adequada para a gestae dessa atividade, restabelecendo-se, dessa forma, 0 con-
trole do comercio exterior.
o Banco do Brasil institucionalmente nao fora colocado sob suspeicao, As
operacoes que se supoem terem sido irregulares nao macularam a credibilidade,
transparencia e etica pro fissional presente na sua cultura organizacional, valores
que ate hoje sao defendidos como urn dos seus principais ativos.
Quando da sua instituicao, a CACEXfoi creditada a missao de licenciar as ex-
portacoes e importacoes brasileiras e prom over 0financiamento de tais operacoes
qu~do necessario, de acordo com 0grau de essencialidade desses itens, e segundo
criterios preestabelecidos nesse sentido. Tambem cabia a essa entidade a execucao
do controle fiscal de precos, pesos e medidas das mercadorias e bens objeto das
transacoes comerciais, de forma a evitar possfveis fraudes cambiais.
Essas alteracoes estruturais nos alicerces de sustentacao desse setor se mos-
traram beneficas ao Pais, principalmente no cenario vivido nas decadas de 60 e
70, epoca do "Milagre Brasileiro", cuja politica industrial entao aplicada preconi-
zava 0desenvolvimento dos setores produtivos a sombra de mecanismos de pro-
tecao que dificultassem a aproximacao de produtos e bens de origem estrange ira
ao mercado interno.ACACEXaprendeu a pensar 0comercio exterior, avaliar as potencialidades dos
segmentos em que nos mostravamos competitivos, ou onde tfnhamos capacidade
de desenvolver vantagens comparativas na exportacao. Ao mesmo tempo, soube
instituir mecanismos de controle efetivo das importacoes, capazes de oferecer as
respostas que interessavam ao governo federal, de maneira a subsidiar as inicia-
tivas voltadas para 0 alcance de superavits na Balanca Comercial.
Apos 1966, com 0estabelecimento do Conselho de Comercio Exterior (CON- /
CEX),2institufdo com 0proposito de coordenar as acoes de fomento a esse seg-
mento economico, apontando as diretrizes que mereceriam ser observadas na
busca por uma maior participacao brasileira no mercado internacional, a CACEX
passou a operar como sua Secretaria Executiva, ganhando musculatura e poten-cializando 0 seu papel como elemento indutor dessa atividade.
A sua importancia nesse cenario cresceu de forma natural com a propria ele-
vacao quantitativa e qualitativa das transacoes registradas no comercio exterior
brasileiro. A Carteira atuava com a forca de uma agencia reguladora, sendo res-
2 LeinQ5.025, de 10 dejunho de 1966.
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14 Curso de Cornercio Exterior· Faro e Faro
ponsavel, inclusive, pela gestae dos incentivos fiscais existentes e alocados ao se-
tor, e, em conjunto com outras entidades governamentais, passou a adotar uma
postura bastante agressiva na promocao das exportacoes e na formacao de uma
cultura exportadora.
A CACEX,por fim, concentrava uma alcada diretiva e operacional bastante
expressiva, aspecto que na opiniao de muitos entices demonstrava 0 seu poder,
em alguns casos superior ao de muitos ministerios e outros orgaos publicos que
intervinham fortemente nos rumos do comercio exterior. Entretanto, na segunda
metade da decada de 80 comecaram a ser percebidos os primeiros sinais de que
novas mudancas poderiam ser implementadas na estrutura publica de apoio e fo-
mento ao setor. Alguns movimentos evidenciavam que as negociacoes acerca daliberalizacao do comercio de bens e services iri~m avancar fortemente.
Alem disso, os paises passaram a buscar uma maior integracao, procurando
se associar em blocos economicos que pudessem operar como plataformas facili-
tadoras do acesso a novos mercados, e dessa forma viessem a contribuir para urn
maior dinamismo das relacoes economicas internacionais.
Esse cenario, portanto, indicava que 0Brasil muito provavelmente viria a so-
frer uma forte pres sao, sendo impelido a reavaliar as suas respectivas politicas in-
dustrial e de comercio exterior ate entao em pratica, que nao mais poderiam ser
executadas com base na adocao de mecanismos protecionistas, combinados com
o controle severo das importacoes, sob pena de 0Pais ficar fora da nova ordem
mundial que se avizinhava.
Nesse sentido, 0modele organizacional em vigor poderia se apresentar disso-
nante 0suficiente, de mane ira a nao permitir a sua adequacao as novas exigencias
do comercio internacional e, dessa forma, vir a limitar 0seu poder de resposta as
demandas do mundo globalizado.
Os anos 90 foram muito significativos nesse sentido, porque, em ultima ana-
lise, representaram uma rnudanca de rota, servindo como pano de fundo para 0
fortalecimento do processo gradual de abertura comercial, alern de outros aeon-
tecimentos relevantes, tais como 0 surgimento do MERCOSULou mesmo a con-
solidacao do processo de unificacao da Europa.
Com a transicao de poder, em 1990, 0 entao Presidente Fernando Collor de
Mello (1990-1992), no refluxo desses movimentos, promoveu a desregulamen-
tacao do comercio exterior, extinguindo a CACEXe com isso se venda obrigado
a redefinir toda a estrutura de suporte ao segmento. Quando da implementacao
dessas medidas, 0mercado se viu urn tanto atonito, principalmente porque per-
dera sua principal referenda ..Muitos intervenientes acreditavam que talvez essas
alteracoes estruturais fossem equivocadas e que, eventualmente, viessem a pre-
judicar de alguma forma 0desenvolvimento dessa atividade.
o governo federal inicialmente procedeu a unificacao de ministerios, e, para-lelamente a isso, implantou em 1993 0 Sistema Integrado de Comercio Exterior
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Entidades Intervenientes no Cornercio Exterior 15
(SISCOMEX), urn mecanismo totalmente informatizado que integrava as operacoes
de licenciamento, tratamento de dados estatisticos, acompanhamento e controletanto das exportacoes e importacoes brasileiras, como tambem do cambio, Com
isso, suspendeu-se a adocao de alguns procedimentos extremamente burocraticos
e anacronicos que eram empreendidos pela CACEX.
Dessa forma, as autoridades brasileiras conseguiram reduzir os efeitos cola-
terais que de forma circunstancial poderiam comprometer 0 andamento dos ne-
gocios externos de nosso interesse, decorrentes nao apenas da extincao daquela
Carteira, mas sobretudo em virtude da falta de intimidade dos setores produtivos
com a nova organizacao do aparelho estatal de fomento e controle.
Urn pouco mais tarde, com 0Brasil ja sob 0 comando do Presidente Itamar
Franco (1992-1994), acompanhando a dinamica das negociacoes intemacionais,
essa estrutura administrativa ganhou contomos que poderiamos classificar comodefinitivos, uma vez que poucas alteracoes foram processadas a partir de entao.
Quanto ao Banco do Brasil, em principio nao seria de todo ilogico afirmar
que, em virtude da desativacao da Carteira de Comercio Exterior, a sua partici-
pacao no segmento se reduziria, uma vez que a empresa perdera a amplitude
de comando que a credenciava a interferir incisivamente na gestae desse setor,
aspecto que, inclusive, de forma recorrente compunha a retorica dos criticos do
modelo CACEX.
Todavia, a empresa jamais deixou de ser utilizada como uma ferramenta no
apoio a essa atividade, ate porque, tratando-se de uma instiruicao financeira con-
trolada pelo govemo federal, seria urn absurdo total descartar a sua experiencia
na area, que fora acumulada ao longo de toda a sua historia,
o Banco do Brasil tern trabalhado no sentido de consolidar as suas acoes no
setor, conciliando a busca dos negocios de seu interesse com as iniciativas de cunho
institucional, vinculadas a execucao de politicas public as que, no entendimento
de nossas autoridades, devam permanecer sob a sua execucao, a exemplo do Pro-
grama de Financiamento as Exportacoes (PROEX), que e conduzido com recursos
publicos alocados para esse efeito, no Orcamento Geral da Uniao,
2.2 A estrutura administrativa do comercio exterior
o comercio exterior brasileiro esta alicercado hoje numa base que, a rigor,
compreende 0Conselho Monetario Nacional; 0Banco Central do Brasil; a Camara
de Comercio Exterior; 0Ministerio do Desenvolvimento, Industria e Comercio Ex-
terior; alem dos Ministerios da Fazenda e das Relacoes Exteriores; e ainda outros
orgaos auxiliares, tais como 0proprio Banco do Brasil e a Agencia de Promocao
de Exportacoes e Investimentos - a APEX-Brasil.
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16 Curso de Cornercio Exterior' Faro e Faro
2.2.1 Conselho Monetcirio Nacional
o Conselho Monetario Nacional (CMN) eo colegiado responsavel por apontar
as diretrizes gerais a serem consideradas na formulacao das politicas monetaria,
cambial e crediticia. Atua tambem como urn organismo regulador das instituicoes
financeiras estabelecidas sob a jurisdicao brasileira, no que se refere as suas res-
pectivas condicoes de constituicao, funcionamento e fiscalizacao,
Integrado pelo Ministro da Fazenda, a quem cabe a sua Presidencia, 0CMN e
composto ainda pelo Ministro do Planejamento, Orcamento e Gestae e pelo Pre-
sidente do Banco Central do Brasil.3
Tal organismo, em ultima analise, comandao Sistema Financeiro Nacional, composto, alem de si proprio, pelo Banco Central
do Brasil, Banco do Brasil, BNDES e demais estabelecimentos bancarios situados
no Pais.
No conjunto de outras acoes relevantes, tal organismo procura adequar os
meios de pagamento as exigencias da economia, bus cando resguardar 0valor da
moeda nacional e assegurar 0 equilibrio do balance de pagamentos. Responsabi-
liz a - se, tambem, pelo monitoramento da atuacao das instituicoes financeiras, de
maneira que suas iniciativas venham a apresentar urn comportamento normal,
nao comprometendo 0born andamento do mercado financeiro.
Na execucao de suas atividades, 0CMN e assessorado pela Comissao Tecnica
da Moeda e do Credito, composta por integrantes de alto nivel do govemo brasi-leiro. Os normativos que regulamentam a atuacao do Conselho preveem, ainda,
o funcionamento de diversas comissoes consultivas, entre as quais a de Normas e
Organizacao do Sistema Financeiro, a de Valores Mobiliarios e de Futuros e a de
Endividamento Publico e de Politica Monetaria e Cambial.
2.2.2 Banco Central do Brasil
I t G
o Banco Central do Brasil, institufdo pela Lei nQ4.595, de 31 de dezembro
de 1964, constitui-se no principal executor das politicas formuladas pelo CMN,
responsabilizando-se pelo cumprimento, acompanhamento e controle quanta a
execucao e observancia plena dos dispositivos regulamentares que disciplinam as
politicas de credito, monetaria e cambial, aplicadas no ambito do Sistema Finan-
ceiro Nacional.
Autarquia tambem conhecida como 0banco dos bancos, 0Banco Central foi
criado pelo govemo federal para atuar como autoridade monetaria em lugar da
Superintendencia da Moeda e do Credito (SUMOC), Banco do Brasil e Tesouro Na-
cional, que ate entao, de forma compartilhada, ocupavam-se dessa finalidade.
3 ASecretaria Executiva do CMN e exercida pelo Banco Central do BrasiL
2..2.3
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Entidades Intervenientes no Comercio Exterior 17
A SUMaC, que desde a sua criacao, em 1945, entre outras funcoes, exercia 0
controle monetario, responsabilizando-se pela supervisao dos bancos comerciais e
formulacao da politica cambial, havia side instituida como uma ferramenta desti-
nada a conceber as condicoes ideais que permitissem ao govemo federal instalarurn banco central. .
a Banco do Brasil, por outro lado, como a principal instituicao finance ira sob
controle estatal, em face da sua parcela de responsabilidade como autoridade
monetaria, controlava 0 recebimento dos depositos compulsorios e voluntaries
dos bancos comerciais, alern de executar a politica de comercio exterior e realizar
operacoes cambiais de interesse do govemo.
Por sua vez, 0Tesouro Nacional constituia-se no orgao responsavel pela emis-
sao de papel-moeda.
a Banco Central do Brasil, portanto, foi criado em decorrencia da implantacao
de urn grande projeto govemamental destinado a promover urn reordenamentodas funcoes do Estado no sistema financeiro, iniciativa que observou como 0 pri-
meiro passo nesse sentido, a propria transformacao da SUMaC nessa autarquia
federal.
A partir desse momento, tal projeto pas sou a ser implementado de forma
gradual e progressiva ate 1988. Essa longa marcha culminou com a transferencia
paulatina das funcoes do Banco do Brasil, enquanto autoridade monetaria, para
aquele novo orgao. Ao mesmo tempo, no decorrer de toda essa movimentacao,
foram repassadas ao Tesouro Nacional as demais atividades ate entao sob a exe-
cucao daquela empresa, consideradas atipicas de urn banco comercial."
A conclusao desse projeto veio a consolidar inequivocamente 0papel do Ban-
co Central nesse novo cenario, destacando-se, nesse caso, entre as atribuicoes desua cornpetencia, 0controle e a contratacao do credito sob todas as suas formas,
como tambem 0 controle e regulacao dos services de compensacao de cheques e
de outros papeis, alem da regulacao, monitoramento, fiscalizacao e controle das
mstituicoes financeiras estabelecidas no Pais e a fiscalizacao, monitoramento e
controle do mercado de cambio e do fluxo de capitais estrangeiros.
2.2.3 Camara de Comercio Exterior (CAMEX)
A Camara de Comercio Exterior (CAMEX)e urn orgao componente da estru-
tura de apoio ao govemo federal, que foi estabelecido com0
objetivo de desenvol-ver e implementar as politicas aplicaveis ao comercio exterior de bens e services,
incluindo 0 turismo.
4 Como exemplo nesse sentido poderiam ser mencionados 0 fomento e a gestae da divida publica
federal.
\
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18 Curso de Comercio Exterior • Faro e Faro
Idealizada para funcionar como urn conselho, a CAMEXe presidida pelo Mi-
nistro do Desenvolvimento, Industria e Comercio Exterior e integrada ainda pelo
Ministro Chefe da Casa Civil da Presidencia da Republica; das Relacoes Exteriores;
da Fazenda; da Agricultura, Pecuaria e Abastecimento; do Planejamento, Orca-
mento e Gestae; e do Desenvolvimento Agrario."
Atuando na coordenacao dos orgaos publicos e demais entidades governa-
mentais intervenientes no comercio exterior, a CAMEXe responsavel por apontar
as diretrizes a serem observadas na implementacao e manutencao de urn processo
permanente de insercao competitiva do Pais na economia internacional.Embora 0Conselho de Ministros constitua-se no orgao maximo deliberativo
da CAMEX,de maneira a executar as funcoes de sua competencia, a Camara se
utiliza de uma estrutura composta por uma Secretaria Executiva, dois comites: 0
Comite Executivo de Gestae (GECEX) e 0 Comite de Financiamento e Garantia
das Exportacoes (COFIG), e ainda por urn orgao de assessoramento, 0Conselho
Consultivo do Setor Privado (CONEX).
o Comite Executivo de Gestae (GECEX), que e integrado por representantes
de alto nivel da administracao publica federal direta e indireta, como tambem de
outros organismos intervenientes no comercio exterior, basicamente se ocupa da
analise e avaliacao acerca de todo e qualquer aspecto relevante na conducao das
politicas aplicaveis ao comercio exterior, de forma a subsidiar 0Conselho de Mi-nistros no tratamento dessas quest6es.
Ao Comite de Financiamento e Garantia das Exportacoes (COFIG) cabe a res-
ponsabilidade pelo enquadramento e acompanhamento das exportacoes finan-
ciadas por intermedio do Programa de Financiamento as Exportacoes (PROEX
- mecanisme sob a gestae do Banco do Brasil), como tambem daquelas operacoes
conduzidas ao amparo do Fundo de Garantia as Exportacoes (FGE).
Na realidade, 0COFIG veio a ser estabelecido em substituicao a dois outros
colegiados distintos: 0Comite de Credito as Exportacoes (CCEx) eo Conselho Di-
retor do Fundo de Garantia a Exportacao (CFGE), que eram responsaveis, respec-
tivamente, por deliberar a respeito de assuntos envolvendo 0PROEXe a prestacao
de garantia as exportacoes pela Uniao, por intermedio do FGE.
Esse Comite e integrado por representantes dos ministerios que comp6em 0
Conselho de Ministros da Camara e ainda pela Secretaria do Tesouro Nacional do
Ministerio da Fazenda." Participam ainda do COFIG, quando convocados, e sem
dire ito a deliberacao, 0Banco do Brasil (relator das operacoes PROEX),0BNDES
5 Quando a pauta dos assuntos a serem discutidos assim 0 recomendar, ou mesmo a criterio do
Presidente da Republica, poderao ser convidados a participar tambem das reuni6es do Conselho de
Ministros representantes das entidades intervenientes no comercio exterior, integrantes da Admi-
nistracao Publica Federal.
6 0 Ministerio da Fazenda, portanto, possui dois assentos nesse Comite.
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Entidades Intervenientes no Comercio Exterior 19
(curador do FGE), 0 IRBBrasil Resseguros e a Seguradora Brasileira de Credito a
Exportacao - SBCE (relatora das operacoes conduzidas ao' amparo do FGE).
o CONEX,contemplando ate 20 representantes da iniciativa privada, e res-
ponsavel por assessorar 0GECEXna conducao dos assuntos afetos a sua esfera
de competencia, e, por sua vez, a Secretaria Executiva atua na linha de frente,
assistindo diretamente ao Conselho de Ministros, sendo responsavel por acompa-
nhar a implementacao das acoes, em convergencia com as diretrizes fixadas pelo
Conselho de Ministros e pelo GECEX.
2.2.4 Ministerio do Desenvolvimento, Industria e Comercio Exterior
(MDIC)
Compete ao MDICa implementacao da polftica de desenvolvimento da indus-
tria, do comercio e dos services. Sua missao reside na busca, em conjunto com os
setores produtivos domesticos, pela construcao de urn Pais competitivo, capaz de
responder adequadamente a s demand as e exigencies do mundo globalizado, de
maneira a proporcionar a elevacao significativa nos nfveis de qualidade de vida
da populacao.
No contexte das iniciativas convergentes para esses fins, 0comercio exterior
ganha urn destaque particular, em virtude da sua elevada contribuicao para 0de-
senvolvimento economico e social do Pais. De forma a assegurar 0 sucesso dessemodelo, 0MDIC atua fortemente em dois campos especificos: a capacitacao e
qualificacao do setor produtivo e sua correspondente habilitacao para enfrentar
os desafios do comercio internacional.
Nesse sentido, ao mesmo tempo em que 0Ministerio se ocupa do desenvol-
vimento de programas de apoio ao comercio exterior e das negociacoes interna-
cionais do comercio de bens e services, dedica-se, tambem, a formular polfticas
espedficas de apoio as empresas do segmento MPE (micro e pequenas), respon-
sabilizando-se, ainda, pela conducao de outros temas relevantes, tais como a pro-
priedade intelectual e transferencia de tecnologia, ou ainda a metrologia, norma-
lizacao e qualidade industrial.
Para a execucao das atividades de sua competencia, 0MDIC encontra-se es-
truturado em cinco secretarias: Secretaria Executiva (SE); Secretaria do Desenvol-
vimento da Producao (SDP); Secretaria de Comercio e Services (SCS); Secretaria
de Tecnologia Industrial (ST!); e Secretaria de Comercio Exterior (SECEX).
A Secretaria Executiva (SE), entre outras funcoes, e responsavel por assistir
diretamente 0Ministro de Estado na coordenacao e supervisao das demais secre-
tarias e entidades componentes e/ou vinculadas ao Ministerio.
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20 Curso de Cornercio Exterior • Faro e Faro
A Secretaria do Desenvolvimento da Producao (SDP) ocupa-se da implemen-
tacao de acoes que privilegiem 0desenvolvimento produtivo dos setores domes-
ticos industriais, comerciais e de services.
A Secretaria de Tecnologia Industrial (ST!) cabe a adocao dos procedimentos
identificados com a inducao, desenvolvimento e incorporacao da tecnologia ao
produto nacional, de maneira a torna-lo competitivo tanto no mercado domestico
quanta no cenario intemacional.
Ja a Secretaria de Comercio e Services (SCS) coordena a execucao das acoes
comprometidas com a modernizacao do setor do comercio e services, buscando
adequa-lo as novas tendencias e comportamentos, de maneira a ampliar 0 seu
nivel de atividade.
Por sua vez, a Secretaria de Comercio Exterior (SECEX) comporta-se, por as-
sim dizer, como 0 carro-chefe do MOIC na gestae do comercio exterior. Respon-
sabiliza-se diretamente pela orientacao e a aplicacao de politicas e programas,
ocupando-se da sua competente regulamentacao, regulacao, acompanhamento e
controle, encontrando-se estruturada em quatro departamentos: DECEX,DEINT,
DECOMe DEPLA.
o Departamento de Comercio Exterior (DECEX) e a dependencia da SECEX
encarregada por tomar operacional esse segmento. Responsabiliza-se, entre ou-
tras atividades, pela elaboracao e implementacao dos dispositivos regulamentares
do comercio exterior brasileiro, particularmente quanta ao seu aspecto comercial.
Essa iniciativa envolve desde a gestae do Sistema Integrado de Comercio Exterior
(SISCOMEX),7os respectivos licenciamentos das exportacoes e importacoes bra-
sileiras e, ainda, observada a competencia particular de outras entidades interve-
nientes no segmento, realiza a competente fiscalizacao dos precos, pesos, medidas,
classificacao, qualidades e tipos dos itens transacionados.
Ao Departamento de Negociacoes Intemacionais (DEINT) compete, fund a-
mentalmente, a coordenacao, no ambito da SECEX, dos trabalhos destinados a
preparar a participacao brasileira nas negociacoes acerca do comercio de bens e
services.
oDepartamento de Defesa Comercial (DECOM) e responsavel pela coordena-~ao das atividades vinculadas ao combate do comercio desleal, fruto da abordagem
de empresas estrangeiras ao mercado brasileiro, que porventura estejam causando
dana a industria nacional, e, conseqiientemente, venham gerar algum prejuizo
ao desenvolvimento dos setores produtivos. Essas iniciativas envolvem nao so a
abertura do processo de investigacao nesse sentido, como tambem a adocao das
medidas corretivas que se fizerem necessarias, objetivando neutralizar os efeitos
7 Na verdade, a gestae do SISCOMEX e compartilhada pelo DECEX,BACENe MF/SRF, que res-
pond em em relacao aquele Sistema, respectivamente, quanto as questoes de ordem comercial,
cambial e fiscal.
2.2.5
politica econon
aspectos llll.~J.""
e poupanca
cadacao e
comercial".
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Entidades Intervenientes no Cornercio Exterior 23
2.2.8 Banco do Brasil S.A.
Como ja tivemos a oportunidade de registrar, o- Banco do Brasil perrnanece
ocupando urn lugar de destaque no suporte ao comercio exterior, nao obstante
as mudancas e alteracoes que foram promovidas na estrutura organizacional de
apoio e fomento ao setor, geradas a partir da dissolucao da CACEX,e da substan-
cial abertura do mercado brasileiro aos neg6cios de terceiros paises.
A empresa tern empreendido esforcos no sentido de atuar na defesa dos in-
teresses piiblicos para 0 segmento, ern combinacao corn as iniciativas pr6prias
da sua atuacao como urn banco comercial. Essa dualidade que caracteriza a sua
intervencao no comercio exterior, envolvendo objetivos aparentemente distantes
entre si, ou seja, a busca pela rentabilidade ern contraponto a execucao de politi-
cas publicas, nao tern prejudicado a dinamica operacional do setor.Sem perder 0 foco nos neg6cios, 0BB tern sido habil 0 suficiente para tam-
bern oferecer solucoes que atendam aos anseios de nossas autoridades, mediante
a difusao do credito e acoes de incentivo, formacao, habilitacao e capacitacao do
exportador, iniciativas que efetivamente tern contribuido para a consolidacao da
competitividade brasileira no cenario internacional.
2.2.9 Outras entidades intervenientes no comercio exterior
A base de apoio as operacoes de comercio exterior nao se esgota apenas com
a participacao no segmento dos orgaos governamentais e demais entidades ja
mencionadas.
Outros empreendedores tern contribufdo de forma substancial para 0desen-
volvimento dos neg6cios do setor, a exemplo das associacoes de classe voltadas
para a defesa dos interesses dos setores produtivos, tais como a Associacao de
Comercio Exterior do Brasil (AEB), a Confederacao Nacional da Industria (CN!),
as federacoes estaduais e camaras de comercio, ou mesmo 0Banco Nacional de
Desenvolvimento Economico e Social (BNDES).
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Entidades Intervenientes no CornercioExterior 21
danosos eventualmente observados. 0 DECOM tambem acompanha os proces-sos que porventura sejam instaurados no exterior contra as empresas brasileiras,
prestando a assistencia e assessoria cabivel, ern conjunto corn outras entidades
govemarnentais e representantes da iniciativa privada."
Por sua vez, 0Departamento de Planejarnento e Desenvolvirnento do Comer-
cio Exterior (DEPlA) responde pela elaboracao e acompanhamento da execucao
das politicas e programas aplicaveis ao segmento, tratando-se do orgao responsa-
vel pela coleta, analise e sistematizacao dos dados e informacoes estatfsticas de
comercio exterior.
2.2.5 Ministerio da Fazenda (MF)
Ern linhas gerais, 0Ministerio da Fazenda ocupa-se da implernentacao da
politica economica idealizada pelo Govemo Federal. Dessa forma, entre outros
aspectos interfere ern quest6es relacionadas a moeda, ao credito; a capitalizacao
e poupanca popular; aos precos ern geral e tarifas publicas administradas; a arre-
cadacao e fiscalizacao tributaria; as negociacoes economicas e financeiras inter-
nacionais; e ao controle e fiscalizacao do comercio exterior.
No que diz respeito ao comercio exterior, ern particular, sua intervencao e for-
temente evidenciada pela atuacao de duas secretarias espedficas: a Secretaria da
Receita Federal (SRF) e a Secretaria de Assuntos Intemacionais (SAIN).
A SRF atua na fiscalizacao aduaneira das mercadorias, produtos e bens que
ingressam no Pais ou que sao enviados ao exterior, responsabilizando-se, ainda,
pela cobranca dos direitos aduaneiros (tributos) porventura incidentes ness as
operacoes.
A SAIN, por outro lado, e a dependencia responsavel pelo acompanhamento
das negociacoes intemacionais economicas e financeiras, sobretudo no que diz
respeito nao s6 as dividas, como tambem aos creditos brasileiros, mantidos junto
a entidades oficiais ou mesmo privadas, no exterior.
A SAIN e 0 brace do Ministerio da Fazenda na formulacao das politicas de
credito e garantia as exportacoes brasileiras, suportadas ern recursos piiblicos. No
ambito da CAMEX,atua como a Secretaria-Executiva do Comite de Financiarnen-to e Garantia as Exportacoes (COFIG). Alem disso, essa Secretaria responde ern
nome do MF no que diz respeito as quest6es que competem aquele orgao, relativas
a participacao brasileira no MERCOSULcomo tambem junto aos demais blocos
economicos e organismos reguladores do comercio intemacional.
8 0 DECOMvoltara a ser abordado novamente quando do exame espedfico do tema "defesa
comercial".
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22 Curso de Cornercio Exterior • Faro e Faro
2.2.6 Ministerio das Relacoes Exteriores (MRE)
oMinisterio das Relacoes Exteriores concentra a sua intervencao no comercio
exterior fundamentalmente em duas frentes de trabalho: a prornocao comercial
das exportacoes brasileiras e as negociacoes intemacionais, contemplando temas
de interesse da polftica extema brasileira.
A promocao comercial e conduzida de forma a contribuir para urn processo
continuo de expansao e diversificacao dos negocios brasileiros no exterior, median-
te a assistencia as empresas interessadas na internacionalizacao de suas ativida-
des. 0 MRE apoia a participacao das empresas domesticas em feiras, congressos
e eventos intemacionais e coordena, em conjunto com outras entidades interve-
nientes no segmento, a realizacao de viagens e missoes empresariais. Alem disso,coleta e sistematiza os dados relativos as oportunidades comerciais no cenario in-
temacional, disponibilizando informacoes gerais acerca de mercados selecionados,
objetivando, dessa maneira, orientar as acoes do empresariado brasileiro.
No que diz respeito ao cumprimento das agendas intemacionais com foeo no
comercio, 0MRE atua na defesa dos interesses brasileiros, com destaque para 0
processo de integracao regional e a insercao competitiva gradual e progressiva
do Pais, mediante a discussao de temas como, por exemplo, 0 acesso a mercados,
defesa comercial, ou mesmo os investimentos e fluxos intemacionais de capital.
2.2.7 Agencia de Promocao de Exportacoes e Investimentos (APEX-Brasil)
AAPEXsurgiu em 1997, como uma tentativa de estabelecimento de urn novo
modelo a ser utilizado como instrumento de polftica comercial das exportacoes
brasileiras. Institufda originalmente como uma gerencia especial do Service Brasi-
leiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), a partir de 2003 passou
a operar como urn service social autonomo, vinculado ao Ministerio do Desenvol-
vimento, Industria e Comercio Exterior (MDIC).
AAPEXcoordena as acoes institucionais do govemo brasileiro voltadas para a
promocao do produto nacional no exterior, de maneira a contribuir para a expansao
da base exportadora, conquista e consolidacao dos mercados onde somos atuantes,
realizando acoes de marketing e promovendo missoes e viagens, com0
intuito decolocar frente a frente 0 exportador brasileiro e seus parceiros comerciais.
AAPEXatua, ainda, na atracao de investimentos estrangeiros no pais, buscan-
do direciona-los, fundamentalmente, para os setores produtivos exportadores.
2.2.9
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Parte II
Fundamentos do Comercio Exterior
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3
Classificacao Fiscal de Mercadorias
3.1 Sistema Harmonizado (SH)
Tente imaginar a seguinte negociacao: urn comerciante atacadista do RioGrande do SuI procura urn parceiro comercial no Rio Grande do Norte para ven-
der toda a sua producao de bergamotas.
Certamente, 0comerciante gaucho vai enfrentar alguma dificuldade no pro-
cesso de comunicacao e por conseguinte na propria venda, porque 0negociante
potiguar provavelmente jamais ten! ouvido falar antes de bergamotas, que na ver-
dade nao passam de urn tipo de tangerina comum no Rio Grande do SuI.
Veja que estamos mencionando urn pais que, embora de dimensoes continen-
tais, e dotado de uma grande diversidade cultural e de costumes, de qualquer
forma observa uma forte harmonia entre todos esses elementos, principalmente
quanta ao idioma, nao obstante sofrer influencias regionais, 0que e natural.Mas, mesmo assim, toda essa unicidade de fatores nao se revelaria forte 0
suficiente para, no exemplo ja mencionado, evitar urn certo ruido, urn desenten-
dimento inicial entre os dois comerciantes.
Tente agora imaginar nao essa situacao especifica, mas a totalidade das transa-
~6es observadas no mercado extemo, envolvendo povos diferentes em tudo, habi-
tos, gostos, crencas, costumes, cultura e lingua. E bern provavel que a comunicacao
entre os negociantes fosse emperrada, caso, hoje, nao existisse uma sistematica
que qrientasse e sustentasse adequadamente essas relacoes de comercio.
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28 Curso de Comercio Exterior • Faro e Faro
A ausencia de urn mecanismo com esse objetivo certamente contribuiria para
tomar os govemos incapazes de estabelecer mecanismos de controle ideais sobre
essa atividade, inabilitando-os a promover 0 comercio intemacional a contento,
alem de limitar a sua capacidade para 0 desenvolvimento de polfticas de apoio ao
setor, de acordo com seus proprios interesses.
Assim, objetivando disciplinar essa atividade, permitindo que 0comercio mun-
dial fosse realizado de forma estruturada, organizada e integrada, foi criada uma .
ferramenta denominada Sistema Harmonizado de Designacao e de Codificacao
de Mercadorias, ou simplesmente Sistema Harmonizado (SH).
Trata-se de urn metodo de ordenacao de produtos e classificacao de mercado-
rias, observando uma convencao intemacional estabelecida nesse sentido.
Por intermedio desse sistema, e possivel nao apenas identificar e descrever
as mercadorias (levando-se em consideracao suas caracteristicas genericas ate 0
maior nfvel de detalhamento possfvel), mas sobretudo referencia-las em todos os
aspectos inerentes ao comercio exterior, ou seja, fiscais, cambiais, comerciais, tri-
butarios, estatisticos e ate mesmo polfticos, oferecendo condicoes para 0 desen-
volvimento das relacoes de comercio entre as nacoes.
o Sistema Harmonizado foi implantado no comercio intemacional pelo entao
Conselho de Cooperacao Aduaneira CCCA), estabelecido em Bruxelas, na Belgica,
hoje conhecido como Organizacao Mundial de Alfandegas (OMA), urn organismo
intemacional independente, que busca atuar como elemento facilitador para a ob-tencao sistematica da melhoria, eficacia e eficiencia dos processos alfandegarios ,
empreendidos por seus paises-membros.
o SH e composto por uma codificacao de seis digitos, descrevendo minucio-
samente as particularidades que urn produto possa apresentar, no que diz res-
peito a sua respectiva materia constitutiva, isto e, a sua origem (animal, mineral
ou vegetal), emprego e aplicacao, Obedece a urn ordenamento numerico logico
e crescente, de acordo com 0nivel de sofisticacao que possa ser observado nesse
item, objeto de classificacao,
e origem
l\xlemos
Capitulos
acessorios -,
3.1.1 Estrutura do SistemaHarmonizado (SH)
o SH esta organizado em 21 secoes e 96 capfrulos, de acordo com 6 regras
gerais de interpretacao, 0 sistema foi concebido de forma a permitir atualizacoes
constantes, a medida que urn novo produto, qualquer que seja ele, venha a ser
c1assificado.
Na verdade, 0 SH preve 99 capfrulos. 0 Capitulo 77 esta reservado para urn
eventual uso no futuro, caso necessario. Ja os Capitulos 98 e 99 estao reservados
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Classlficacao Fiscal de Mercadorias 29
para usos especiais pelas partes contratantes (paises que aderiram a Convencao
Intemacional sobre 0 SH).l
A classificacao das mercadorias obedece.a seguinte ordem: capitulo - posicao
- subposicao, Cada pais e soberano para estabelecer outras subdivis6es, a partir
do SH, de forma a melhor adapta-lo a sua politica de Cornercio Exterior.
No SH, a Secao I - animais vivos e produtos do reino animal -, por exemplo,
corresponde aos Capitulos 1 a 5. A Secao II - produtos do reino vegetal- diz res-
peito aos Capitulos 6 (plantas vivas e produtos de floricultura), 7 (produtos hor-
ticolas, plantas, raizes e tuberculos, comestiveis), alem dos Capitulos 8 a 14, este
ultimo utilizado na classificacao das materias para entrancar e outros produtos
de origem vegetal, nao especificados nem compreendidos em outros capfrulos.
Podemos citar como exemplo, ainda, a Secao XV- metais comuns e suas obras
(Capitulos 72 a 83) -, ou mesmo a Secao XIX- armas e municoes: suas partes e
acessorios -, itens constantes do Capitulo 93.
3.2 Nomenclatura Comum do MERCOSUL(NCM/SH)
Os pafses do MERCOSULentenderam ser necessaria a adocao de urn sistema
de classificacao fiscal de mercadorias que pudesse ser utilizado especificamente
para orientar as relacoes de comercio intrabloco, envolvendo os Estados-partes,
A ideia central dessa iniciativa concentrava-se na busca por vantagens e be-
neficios rmituos, com a eliminacao paulatina de direitos alfandegarios e de res-
tricoes nao tarifarias, alem de disciplinar a adocao de politicas comuns aplicaveis
it importacao procedente de pafses nao associados. Alem desses aspectos, com a
implementacao dessa sistematica de classificacao fiscal, os paises do MERCOSUL
procuraram acelerar a integracao economica da regiao, adotando uma tarifa ex-
tema comum, a TEC, considerando, para todos os efeitos, os pressupostos do Sis-
tema Harmonizado.
A Tarifa Extema Comum (TEC) e observada pelas nacoes do bloco nas im-
portacoes oriundas de players nao integrados ao MERCOSUL,sujeitando tais ope-
racoes as mesmas aliquotas de imposto de importacao. A sua aplicacao assegura
condicoes de competitividade identicas aos empreendedores estabelecidos em cada
Estado-parte, uma vez que a tributacao aplicavel as suas respectivas aquisicoes
extemas observa patamares equivalentes.
No entanto, em funcao de aspectos politicos e economicos, a TECadmite algu-
mas excecoes para determinados produtos, a fim de que alguns setores produtivos,
geralmente vinculados ao segmento de bens de capital, informatica e telecomuni-
1 No caso do Brasil, 0Capitulo 99, por exernplo, e utilizado especificarnente na exportacao, para
o registro de operacoes especiais.
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30 Curso de Cornercio Exterior • Faro e Faro
cacoes (haja vista as suas caracteristicas especfficas), promovam sua adequacao
paulatina a esse mecanismo.
Consubstanciada nesse entendimento, foi estabelecida ern 1995 a Nomencla-
tura Comum do MERCOSUL- NCM/SH, entrando ern vigor a partir de janeiro de
1996. ANCMe composta por oito digitos. Os seis prirneiros formados pelo Sistema
Harrnonizado, correspondem, respectivamente, ao capitulo, posicao e subposicao,
e os demais contemplam os desdobramentos decorrentes da respectiva posicao do
produto no ambito do MEliOSUL (item e subitem).
o codigo 0401.3o.21,lPor exemplo, descreve 0produto creme de leite UHT
(ultra high temperature), n~ concentrado nem adicionado de acucar ou de outros
edulcorantes, corn urn teor, empeso, de materias gordas, superior a 6%:
a) capitulo 04 - leite e latidnios; ovos de aves; mel natural; produtos co-
mestiveis de origem animal, nao especificados nem compreendidos ern
outros capitulos;
b) posicao 0401-leite e creme de leite, nao concentrados, nem adiciona-
dos de acucar ou de outros edulcorantes;
c) subposicao 0401.30 - corn teor, ern peso, de materias gordas superior
a 6%;
d) item 0401.30.2 - creme de leite;
e) subitem 0401.30.21- UHT (ultra high temperature).
3.3 Nomenclatura Brasileira de Mercadorias (NBM)
Anteriormente a aplicacao da NCM, 0Brasil se utilizava de urn mecanismo
proprio, tambem baseado no Sistema Harrnonizado, que apresentava 4 digitos de
desdobramento, alern dos 6 digitos especificados no SH.
ANBMesteve ern vigor ate dezembro de 1995. Corn 0advento da NCM/SH, foi
estabelecida urna tabela de correlacao entre as duas listas de classificacao, de modo
a possibilitar a identificacao dos respectivos codigos ern ambos os sistemas.
Tal correlacao de codigos refere-se aqueles da NCMatualrnente ern vigor e seus
correspondentes NBMvalidos quando da implantacao do novo sistema. Entretan-
to, apenas 1/3, aproxirnadamente, dos codigos NCM/NBM tern correlacao direta
entre si, haja vista que diversos codigos ja foram suprirnidos ou desdobrados.
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Classificacao Fiscal de Mercadorias 31
3.4 Regras gerais para interpretacao da NCM
A classificacao fiscal das mercadorias deve ser efetuada observando integral-
mente as instrucoes constantes das regras gerais para interpretacao do sistema
harmonizado, alem das regras gerais complementares e demais notas explicati-
vas, que foram formuladas originalmente pelo Conselho de Cooperacao Aduaneira
(eCA), e ratificadas pelo Comite Brasileiro de Nomenclatura.f
3.5 Competencia quanto a classificacao fiscal de mercadorias
A competencia quantaaclassificacao fiscal de mercadorias
eexercida pelaSecretaria da Receita Federal (SRF) do Ministerio da Fazenda, por intermedio
da Coordenacao-Geral do Sistema Aduaneiro e da Superintendencia Regional da
Receita Federal.
As duvidas que porventura envolvam a classificacao fiscal de urn produto
podem ser dirimidas mediante a formalizacao de consulta a Secretaria da Recei-
ta Federal, observando algumas exigencies e procedimentos padronizados nesse
sentido, previstos na norma que regulamenta 0 assunto.
2 Orgao Colegiado integrante da estrutura do Ministerio da Fazenda responsavel por assuntos
diretamente ligados a aplicacao da NCM.
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