Delimitação de Áreas de Preservação Permanente (APP’s) para o Subsistema Veredas no Oeste...

Preview:

Citation preview

Delimitação de Áreas de Preservação Permanente (APP’s) para o Subsistema Veredas no Oeste baiano

Objetivos

As delimitações de Áreas de Preservação Permanente-APP’s realizadas apenas por sensoriamento remoto, sem trabalhos de campo podem resultar em interpretações equivocadas quanto à existência e aos limites destas Áreas. Esta é uma das razões importantes para que sejam realizadas visitas de campo com o objetivo de identificar e interpretar melhor a situação real de cada área de estudo, analisando a vegetação, o tipo de solo, a ocorrência de lençol freático e a dinâmica hídrica na formação de nascentes e dos cursos d’água, sejam perenes ou intermitentes.

É de fundamental importância que se aprofundem as pesquisas e o conhecimento científico sobre as APP’s, particularmente no caso em tela, em ambientes de vereda, determinando assim seus reais limites, para que estes ecossistemas sejam preservados de acordo com a lei, como Áreas de Preservação Permanente, evitando que a sua forma original seja alterada (Figura 01).

Figura 01 – Antiga vereda, transpassada por estrada de propriedade rural

O trabalho em tela visa contribuir na elaboração de uma nova metodologia mais adequada com a finalidade de caracterizar e estabelecer os reais limites das Áreas de Preservação Permanente para o subsistema Veredas para o Oeste da Bahia.

Metodologia

Como ponto de partida, tomou-se por base a legislação do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), Resolução n° 303, de 20 de março de 2002, que define como nascente “o local onde aflora naturalmente, mesmo que de forma intermitente, a água subterrânea”, e vereda como o “espaço brejoso ou encharcado que contém

nascentes ou cabeceiras de cursos d’água,onde há ocorrência de solos hidromórficos, caracterizados predominantemente por renques de buritis do brejo (Mauritia flexuosa) e outras formas de vegetação típica”. Esta Resolução também classifica as áreas de estudo como APP como sendo o espaço “ao redor de nascente ou olho d’água, ainda que intermitente, com raio mínimo de cinqüenta metros de tal forma que proteja, em cada caso, a bacia hidrográfica contribuinte” e “em vereda e em faixa marginal, em projeção horizontal, com largura mínima de cinquenta metros, a partir do limite do espaço brejoso e encharcado”. Assim sendo, o método de verificação da concordância da APP nos mapas com o ponto real foi estabelecido partindo da análise visual do local, observando-se o sentido de escoamento das águas, a presença da vegetação típica Buriti ou Buritirama (Mauritia aculeata), dando maior atenção ao exemplar mais afastado que indicaria o final da APP, e a coloração do solo classificando-o como hidromórfico glei húmico ou glei pouco húmico. Em seguida o procedimento consistia em perfurar o solo com um trado holandês a fim de verificar o nível da água a partir da amostra de perfil do solo, na qual conforme a profundidade aumenta, a cor altera (caso estivesse próximo ao lençol freático, a água encheria o ponto perfurado). Valendo ressaltar que devido aos solos de determinadas regiões possuírem o caráter mais argiloso, portanto alterando a velocidade do fluxo, a metodologia necessária à verificação do nível de água consistiria na utilização de um piezômetro, e os dados somente verificados após vinte e quatro horas. Porém a acessibilidade limitada das áreas fez com que fosse realizada somente uma verificação rápida.

Se ao final dos procedimentos os resultados fossem positivos ao caso de uma APP, partiria-se do princípio que a legislação especificando um raio mínimo de 50 metros, uma faixa de vegetação de 100 metros daria uma boa proteção, e se fosse o caso, recuperação da área.

Resultados obtidos

Foram verificados seis pontos de controle no primeiro caso (Fazenda Campo Grande), visto que dependeria de cada caso devido ao tamanho da área estudada ser determinante na quantidade de pontos. Nos dois casos seguintes, as verificações foram mais exatas quanto à cor do solo, presença da vegetação e lençol freático próximo à superfície (aflorado, em alguns pontos).Analisando o primeiro caso, no ponto 01, a presença do renque de buritis, o solo hidromórfico glei-húmico e parcialmente encharcado, caracterizava uma vereda bem definida, a qual teve a construção de uma estrada transpassando-a.

A metodologia utilizada em todos os pontos verificados mostrou-se satisfatória quanto ao objetivos que esperavam ser alcançados, porém uma variável que foi considerada desde o início do trabalho e que alterou significativamente os resultados obtidos foi a escassez das chuvas no último ano. Assim sendo o nível do lençol freático teve um déficit considerável, o que poderia mascarar o verdadeiro nível de uma área onde não verificou-se a ascensão ou vestígios de água subterrânea, por exemplo.

As áreas em questão representavam um problema tanto para os proprietários rurais quanto para o ciclo de aporte de água, pois nas épocas de chuva as parcelas

cultivadas que encontravam-se num curso d’água preferencial eram “varridas” pela água fluvial. (Figura 02)

Figura 02 – Parte da plantação em um curso preferencial de águas

Conclusões

Um problema, de veras considerável, encontra-se na falta de concisão da legislação, aonde o agricultor vem a pagar multas por áreas que (como visto em alguns casos) não são APP, e também áreas que funcionam como fluxo preferencial de águas, estas que não são protegidas efetivamente por lei e que viriam a melhorar a qualidade da APP, e o proprietário não tem o conhecimento se pode plantar ou não, e que uma vez plantada, a natureza se vingará.

Ao mesmo passo que agricultores mesmo com o conhecimento da legislação, passam por cima, literalmente, do limite das APP’s, muitas das vezes ocasionando a degradação da área

É necessário que faça-se uma revisão da resolução, revendo tais pontos, onde uma área desta característica poderia vir a substituir uma porcentagem da reserva legal obrigatória, contemplando o interesse das duas partes.

O trabalho ainda dá abertura a uma verificação mais detalhada, na qual pode-se considerar o teor de matéria orgânica, o teor de alumínio e de carbono nas veredas, o que poderia ser determinante em situações de antigas veredas que sofreram antropização e não conseguiram readaptar-se por si só.

Referências Bibliográficas

BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº 313, de 20 de março de 2002. Dispõe sobre Área de Preservação Permanente. Diário Oficial [da] Republica Federativa do Brasil, Brasília, DF , 22 nov. 2002.

MELO, D. R. de. AS VEREDAS NOS PLANALTOS DO NOROESTE MINEIRO; Caracterizações pedológicas e os aspectos morfológicos e evolutivos. Mar.1993.218f. Dissertação (Mestrado)- Departamento de Geografia e Planejamento Regional do IGCE, UNESP, Campus de Rio Claro, Rio Claro, São Paulo, 1992

RIBEIRO, J. F; WALTER, B. M. T. Fitofisionomias do Bioma Cerrado. In: SANO, S. M.; ALMEIDA, S. P. Cerrado: ambiente e flora. Planaltina: EMBRAPA, 1998. p. 89-166.

RAMOS, M. V. V. et AL VEREDAS DO TRIANGULO MINEIRO: SOLOS, ÁGUA E USO. Ciênc. Agrotec., Lavras, v. 30, n. 2, p. 283-293, mar./abr., 2006.

WALTER, B. M. T. FITOFISIONOMIAS DO BIOMA CERRADO: SINTESE TERMINOLOGICA E RELAÇÕES LOFRISTICAS. Mar. 2006 Tese (Doutorado) – Departamento de Ecologia do Instituto de Ciências biológicas da Universidade de Brasília, Brasília, Distrito Federal, 2006

Delalibera, H. C.; Weirich Neto, P. H.; Lopes, A. R. C.; Rocha, C. H. Alocação de reserva legal em propriedades rurais: Do cartesiano ao holístico. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v.12, p.286292, 2008.  

Recommended