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CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REVISÃO DE COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
COMISSÃO ESPECIAL - PL 203/91 - POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOSEVENTO: Audiência Pública N°: 000792/01 DATA: 23/08/01INÍCIO: 9h37min TÉRMINO: 13h01min DURAÇÃO: 3h24minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 3h30min PÁGINAS: 87 QUARTOS: 22REVISORES: IRMA, LUCIENE FLEURY, LEINE, CLÁUDIA CASTRO, PATRÍCIA MACIELSUPERVISÃO: ANA MARIA, MYRINHA, NEUSINHA, YOKOCONCATENAÇÃO: LÍVIA COSTA
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃOCLAUDIO JOSÉ MARINHO LÚCIO – Secretário de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente dePernambucoJOÃO ANTÔNIO FUZARO – Assistente-Executivo da Diretoria de Controle da PoluiçãoAmbiental da Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental — CETESBIBSON GABRIEL MARTINS DE CAMPOS – Secretário Municipal de Meio Ambiente de CuritibaMAURÍCIO ANDRÉS RIBEIRO – Coordenador do Conselho Nacional do Meio Ambiente -CONAMA
SUMÁRIO: Debate sobre as diretrizes para uma política nacional de resíduos.
OBSERVAÇÕESHá intervenção inaudível.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 000792/01 Data: 23/08/01
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O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) – Declaro abertos os trabalhos da
presente reunião de audiência pública.
Informo aos Srs. Parlamentares que foi distribuída cópia da ata da 7ª reunião
ordinária desta Comissão Especial, realizada no dia 16 de agosto de 2001.
Indago ao Plenário se há necessidade da leitura da ata.
O SR. DEPUTADO CLOVIS VOLPI – Sr. Presidente, em função de termos
conhecimento da ata, solicito a dispensa de sua leitura.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) – Está dispensada a leitura da
ata.
Em discussão a ata. (Pausa.)
Não havendo quem queira discuti-la, em votação.
Os Srs. Deputados que a aprovam permaneçam como se encontram.
(Pausa.)
Aprovada.
A presente reunião destina-se a ouvir os Srs. Claudio José Marinho Lúcio,
Secretário de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente de Pernambuco; Ibson Gabriel
Martins de Campos, Secretário Municipal de Meio Ambiente de Curitiba; João
Antônio Fuzaro, Assistente-Executivo da Diretoria de Controle da Poluição Ambiental
da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental, CETESB, que comparece
em substituição ao Sr. Dráuzio Barreto; Maurício Andrés Ribeiro, Coordenador do
Conselho Nacional do Meio Ambiente, CONAMA, substituindo o Sr. José Carlos
Carvalho, sobre assuntos referentes à Política Nacional de Resíduos.
Convido os Srs. convidados a comporem a Mesa. (Pausa.)
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 000792/01 Data: 23/08/01
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Faremos alguns esclarecimentos iniciais, para melhor andamento dos
trabalhos. Estas são as regras da audiência pública: cada convidado terá vinte
minutos para sua exposição, não podendo ser aparteado. Encerradas as
exposições, os Deputados interessados em interpelar os convidados deverão fazê-lo
estritamente sobre o assunto da exposição, pelo prazo de três minutos, tendo cada
expositor igual tempo para responder. Aos Deputados são facultadas a réplica e a
tréplica pelo igual prazo de três minutos. Os Deputados que desejarem participar dos
debates deverão inscrever-se junto à Secretaria.
Inicialmente, passo a palavra ao Sr. Claudio José Marinho Lúcio, Secretário
de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente de Pernambuco
O SR. CLAUDIO JOSÉ MARINHO LÚCIO – Bom dia a todos. Cumprimento
os Srs. Deputados na pessoa do Presidente desta Comissão, Deputado José Índio.
Transmito meus agradecimentos, em nome do Governo de Pernambuco, ao
Deputado Joaquim Francisco, que nos dá a honra, através do seu convite, de vir
partilhar com V.Exas. nossa experiência na Política de Resíduos Sólidos do Estado
de Pernambuco.
Vou apresentar alguns slides, que me auxiliam na apresentação.
(Projeção de slides.)
O Governo de Pernambuco, recentemente, aprovou um conjunto de leis
importantes para a Política de Resíduos Sólidos no Estado. Aprovou a política
propriamente na Assembléia Legislativa, de maneira fácil, com pequena alteração de
redação, o que demonstra que fizemos um processo discutido com a Assembléia
Legislativa, organizações da sociedade civil e órgãos governamentais ligados ao
assunto.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 000792/01 Data: 23/08/01
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Trata-se da quinta Política de Resíduos Sólidos do País. Apenas cinco
Estados possuem-na. É um fato relevante fazer essa referência. Mais uma vez,
agradeço ao Deputado Joaquim Francisco por permitir fazê-lo na presença de
V.Exas.
No caso de Pernambuco, a Política de Resíduos Sólidos foi formalizada por
legislação atual no contexto da implementação da Agenda 21. O Governador Jarbas
Vasconcellos decidiu orientar a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente,
que está ao meu encargo, para implementar a Agenda 21. Nós o fizemos através de
alguns programas.
Destacarei a Gestão de Resíduos Sólidos, entre outros, que nos levou à
aprovação da legislação que institui a Política de Resíduos Sólidos. Mas há outros
programas, como o de Combate à Desertificação e Convivência com a Seca —
V.Exas. sabem que na Região Nordeste esse é um problema grave —,
Desenvolvimento e Conservação Florestal, Educação Ambiental e Proteção do Meio
Ambiente, Saúde e Meio Ambiente.
Estamos em fase final de elaboração de um atlas de conservação da
biodiversidade muito rico. Igualmente, estamos trabalhando com os aspectos
ambientais, como o impacto das obras rodoviárias, em especial, porque o Governo
do Estado decidiu duplicar a BR-232, que liga Recife a Caruaru. Esse trabalho vem
sendo feito de forma criteriosa em relação aos impactos ambientais.
Outro elemento da política estadual de meio ambiente na implementação da
Agenda 21 de grande relevância é o da gestão ambiental, a parte institucional. Nós
temos o Conselho Estadual de Meio Ambiente, o CONSEMA, muito ativo.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 000792/01 Data: 23/08/01
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Para este fórum estamos encaminhado questões fundamentais da política
ambiental no Estado de Pernambuco. Ele é muito representativo. Há 35
representantes das diversas entidades governamentais e não-governamentais. Há
representante, por exemplo, da própria Assembléia Legislativa. Por esse fórum
passou a Política de Resíduos Sólidos. Eu credito a esse fato a aprovação muito
fácil, na Assembléia Legislativa, da nossa Política, que já havia sido muito bem
discutida no âmbito do CONSEMA.
Temos um Fundo Estadual de Meio Ambiente em operação. Nesta semana,
tivemos reunião ordinária do Conselho Estadual de Meio Ambiente. Nela, já
aprovamos dois projetos de pesquisa na área de meio ambiente, com recursos
desse Fundo. Já são quatro, hoje, com esses dois aprovados.
Faço referência especial, uma vez que nesse fórum se discute a questão dos
resíduos sólidos, à Lei do ICMS socioambiental — e darei mais detalhes sobre ela —
, que tem sido de fundamental importância para a implementação da Política de
Resíduos Sólidos do Estado de Pernambuco.
Além disso, na gestão ambiental, temos ainda a implementação do Programa
Nacional de Meio Ambiente II, com o Ministério de Meio Ambiente, que no Estado de
Pernambuco é um dos primeiros a iniciar essa segunda fase do PNMA, além de um
programa com recursos do Banco Mundial na Zona da Mata, o PROMATA.
Nas políticas públicas, demos destaque especial à Política de Controle à
Desertificação, ao Plano de Desenvolvimento Florestal e da Conservação da
Biodiversidade e à Política Estadual de Resíduos Sólidos. Portanto, V.Exas. podem
ver, pelo negrito dessa apresentação, que temos, em várias instâncias, tratado da
questão dos resíduos sólidos.
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Como se parcializa a nossa Política? Aos que conhecem Pernambuco, é
redundante falar que somos um Estado comprido. Um reitor da Universidade Rural,
certa vez, falou que o nosso Estado não tem norte nem sul, só tem oeste. É
comprido, com oitocentos quilômetros, sendo 180 de costa. Portanto, é um Estado
que não tem norte nem sul.
Então, V.Exas. imaginem o que é administrar um Estado com grande
concentração econômica, que corresponde a 60% da economia estadual e
institucional numa única localidade, a Região Metropolitana de Recife. Dividimos o
Estado em onze microrregiões de desenvolvimento e para cada uma delas
atribuímos ações do Governo Estadual.
No que diz respeito ao meio ambiente, V.Exas. podem perceber que o PMNA
II está localizado, como intervenção, em duas regiões: na do Araripe, onde se
encontram 95% das reservas de gesso do País e onde existe um problema
ambiental sério porque o combustível dessa indústria é a caatinga, o que gera
conflito entre a indústria e o meio ambiente; e na região do Agreste Central, na Bacia
do Ipojuca, onde há um problema de poluição dos recursos hídricos pelos resíduos
sólidos da densa malha urbana do agreste, que nos leva a concentrar os
investimentos do PMNA II. Esse já é um ponto de contato da ação com a Política de
Resíduos Sólidos.
Na Zona da Mata, o Governador decidiu investir na implantação de aterros
sanitários na cidade de Goiana e na Área de Proteção Ambiental de Guadalupe, no
litoral sul, por serem consideradas aéreas prioritárias neste momento para
investimento em relação aos resíduos sólidos. Temos ainda programas de educação
ambiental e de combate à desertificação.
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A Política Estadual de Resíduos Sólidos, tendo em vista esse contexto da
política de meio ambiente que se dá segundo a Agenda 21, tem, portanto,
compromisso com o desenvolvimento sustentável dos assentamentos humanos por
meio da mudança nos padrões de produção e consumo de uma sociedade, que é
desigual. Isso é o que orientou a Política de Resíduos Sólidos. Os componentes,
portanto, têm um forte viés da Agenda 21, da nossa prática e da experiência
institucional em tratar a gestão pública, com um sabor pernambucano particular.
Num fórum qualificado como este, talvez o mais interessante seja exatamente
trazer esse sabor, uma vez que aqui se discute uma política nacional. No nosso
caso, demos ênfase, na Política de Resíduos Sólidos, ao fortalecimento da gestão
institucional, no entendimento de que instituições frágeis na gestão ambiental não
conseguem implementar, por melhor que sejam, a legislação.
Capacitação e sistema de informação.
Optamos por capacitação desses organismos gestores e, em especial, das
Prefeituras. Para se chegar à Política de Resíduos Sólidos, o Governo do Estado,
com o apoio do Ministério do Meio Ambiente, fez um levantamento minucioso em 72
das 184 cidades-sedes dos Municípios do Estado. Estamos completando agora esse
estudo com o levantamento de 100% delas. Temos hoje o conhecimento de um por
um desses Municípios. A Política Estadual de Resíduos Sólidos, portanto, está
embasada nesse diagnóstico.
As constatações são terríveis em alguns casos. No Estado de Pernambuco
existem mais de duzentos lixões, e não temos nenhum aterro sanitário que seja
digno desse nome, nem mesmo na Região Metropolitana de Recife. Famílias
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residem em 35% desses lixões, e número equivalente ou superior corresponde às
crianças que ali trabalham.
Portanto, a questão da educação ambiental e da inclusão socioeconômica do
catador cidadão — vemos o catador não como problema, mas como uma realidade
— passou a ser um ponto nevrálgico da Política de Resíduos Sólidos. A nossa
legislação inclui educação ambiental, fundamental para isso; fomento a pesquisas
tecnológicas — sabemos que lixo é riqueza, resíduos sólidos podem ser reciclados e
há empresas interessadas nisso; e instrumentos econômicos e fiscais de apoio à
política.
Sr. Presidente, agora convirjo, se me permite, para o final da minha
intervenção. Talvez a principal legislação que hoje dá apoio à nossa política seja a
lei, de dezembro do ano passado, referente ao ICMS socioambiental. Conseguimos
a aprovação, pela Assembléia, da alteração do critério de distribuição da cota-parte
do ICMS aos Municípios, condicionando essa distribuição a algumas variáveis
socioambientais. Isso já se efetivará a partir de 2002. Nós, portanto, redefinimos em
Pernambuco os critérios de redistribuição de um quarto dos 25% de ICMS que vão
para os Municípios.
Esse critério está associado a algumas variáveis socioambientais, e parte
dele permanece ainda relacionada ao valor agregado, continuando aí o critério
habitual da distribuição do ICMS: 10% dos 25% permanecem associados ao valor
agregado com pequenas modificações. A partir daí existem cinco critérios
associados a outras variáveis. V.Exas., por favor, acompanhem-me no raciocínio.
Em termos reais, grosso modo, cada ponto percentual corresponde a 5 milhões de
reais/ano. Portanto, quando nos referimos a 3%, estamos falando de 15 milhões de
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reais. Quinze milhões reais da cota-parte do ICMS vão ser distribuídos, a partir de
2002, aos Municípios, segundo tenham melhor ou pior arrecadação dos seus
impostos municipais, ISS e IPTU. Um por cento desses recursos, portanto 5 milhões
de reais, vão ser distribuídos aos Municípios, segundo tenham ou não legislação de
proteção ambiental e unidade de conservação. Vinte e cinco milhões de reais, 5%
dos recursos, vão ser distribuídos aos Municípios segundo tenham ou não aterros
sanitários, um sistema de coleta, destino final e tratamento dos resíduos sólidos
urbanos.
Chamo a atenção, então, para este número: 25 milhões de reais. Raciocinem
comigo, por favor. Uma cidade como a de Garanhuns, cuja população está em torno
de 90 mil habitantes, deve gastar por ano, com seu sistema de coleta e destino final,
algo em torno de 600 a 800 mil reais. Estamos falando de valor significativo, 25
milhões de reais/ano, que vão ser distribuídos às administrações municipais
segundo tenham ou não aterros sanitários certificados pelo órgão de gestão
ambiental do Estado, a CPRH.
Embora hoje ainda não exista nenhum aterro certificado, nem mesmo nas
cidades de Recife ou de Jaboatão, estamos falando de recurso que vai ser
distribuído gradualmente a partir de 2002.
Se considerarmos a hipótese bastante razoável de que dez Municípios no ano
que vem terão aterros sanitários num sistema qualificado de coleta e destino final,
contaremos com a distribuição de 2,5 milhões de reais por Município.
Façam uma comparação com Garanhuns e vejam que isso é um incentivo
significativo para que os Municípios tenham uma Política de Resíduos Sólidos. Esse
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fato é tão objetivamente significativo que vou ilustrar esse caso logo mais com uma
notícia de jornal que apanhei há pouco na Internet.
Três por cento dos recursos, para completar o quadro socioambiental, vão ser
distribuídos aos Municípios, segundo tenham taxa maior ou menor de mortalidade
infantil, e os 15 milhões restantes, segundo exista um número maior ou menor de
alunos matriculados no ensino fundamental.
Ouçam, por favor, esta notícia de jornal. Alguns devem ter acompanhado que
há conflito do lixo hoje na Região Metropolitana de Recife. Na cidade de Jaboatão
está localizado o aterro, ainda não sanitário, controlado, para onde vai toda ou
quase toda a produção de resíduos sólidos de Recife e de Jaboatão. O Prefeito
Rodovalho interditou, na semana do dia 16 de agosto, o lixão de Jaboatão dos
Guararapes, causando um caos. Com 200 caminhões enfileirados, houve
literalmente uma batalha campal. Em que se baseou o Prefeito? Nas condições
sanitárias e também na visão de que ele, o Prefeito responsável pelo Município de
Jaboatão, deveria dar à cidade um tratamento diferenciado, por ser a depositária do
lixo da região metropolitana. Isso ainda hoje não está formalmente bem definido. O
Prefeito, à tarde, recuou, estabelecendo um prazo para a Prefeitura de Recife aceitar
uma proposta de gerenciamento compartilhado. Além disso, o que aconselhou o
Prefeito? No dia 18 de agosto, o Jornal do Commercio publicou a seguinte matéria,
sob a manchete "Prefeitos já admitem parceria": "João Paulo e Fernando Rodovalho
revelam interesse em descobrir a melhor forma de repartir os R$ 25 milhões anuais
do ICMS ambiental, a ser instituído em 2002".
Boa parte desse conflito, então, pode ser creditado ao fato de que o Prefeito
Rodovalho recebeu a importância do ICMS socioambiental para a sua cidade.
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Mesmo que o aterro sanitário localizado ali não estivesse formalmente constituído —
como nossa legislação especifica detalhadamente — por meio de consórcio entre as
duas Prefeituras, ele, o Prefeito, e ela, a Prefeitura, não seriam beneficiados com a
distribuição dos recursos do ICMS.
Para concluir, Sr. Presidente, se me permite, considero esse exemplo
significativo e ilustrativo da capacidade de indução do mecanismo fiscal para a
definição concreta de uma política de gestão ambiental. V.Exas. têm em mãos cópia
de uma análise que fizemos — considerem uma contribuição do nosso Estado — do
documento preliminar da política nacional de meio ambiente. Em vermelho, neste
quadro que trata dos princípios, da gestão e dos programas da política nacional,
estão os pontos que acrescentamos, coisas típicas de Pernambuco, e em preto as
convergências. Portanto, o que está em preto aqui está na política e na nossa lei,
mas qualificado pelo ICMS socioambiental. Há um incentivo para os Municípios que
se dispuserem a licenciar em seus territórios instalações que atendam a programas
de tratamento e disposição final de resíduos; no entanto, isso é muito específico na
legislação nacional. No nosso caso, o ICMS socioambiental implica tratamento
especial para os Municípios e incentivo financeiro e fiscal.
No caso de princípios, V.Exas. vão perceber que na nossa legislação —
enviei cópia de todo esse material ao Deputado Joaquim Francisco — há incentivos
a programas estaduais que priorizem o catador como agente de limpeza e a coleta
seletiva, a integração das políticas de erradicação do trabalho infantil e a
erradicação de lixões. O Município que tiver nos seus lixões crianças trabalhando
não poderá ser beneficiário da redistribuição do ICMS socioambiental. Essa é uma
forma dura, mas correta, de impedir que isso aconteça.
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Chamo a atenção, em vermelho, para a gestão. Estamos dando ênfase
especial aos serviços de limpeza urbana dos óleos, lubrificantes e assemelhados.
Acrescentamos os critérios de gerenciamento de resíduos sólidos. Há incentivos a
consórcios que envolvam a iniciativa privada, privilegiando a comercialização de
resíduos recicláveis. Nossa política estabelece incentivos, via redução de ICMS,
para as empresas que trabalhem com produtos reciclados.
Em relação aos programas, temos alguns ligados a indústrias recicladoras,
recuperação de áreas degradadas, acompanhamento da saúde das pessoas que
trabalham nos lixões, com ênfase especial às mulheres que trabalham nesses locais,
tendo em vista que há residentes; portanto, trata-se de uma política com a cara de
Pernambuco, já que o Governo do Estado também se considera responsável por
definir uma política junto aos Municípios e às organizações da sociedade civil.
Faço uma observação final, Sr. Presidente, que é quase uma ingerência. A
legislação proposta por V.Exas. está extremamente extensa, com quase 170 artigos,
enquanto a nossa tem 30 artigos, em que levantamos todas essas questões de
definição e de como vai ser o Plano de Gerenciamento de Resíduos para a
regulamentação da lei. Portanto, nossa legislação, cuja cópia está com o Deputado
Joaquim Francisco, tem 31 artigos, e a regulamentação, essa, sim, ainda em
processo, está com sessenta e poucos artigos. Minha sugestão, se me permitem o
Relator e o Presidente, é de que se retire muito do que tenha a ver com a
especificação do tipo de resíduo. Isso faz com que a legislação fique muito extensa,
muito detalhada, segundo a nossa experiência.
Muito obrigado pela atenção.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) - Nós é que agradecemos, Sr.
Secretário, a exposição. Apenas cinco Estados de certa forma têm algum plano em
relação ao lixo. Ainda não chegamos a uma dimensão exata do problema, mas pelo
menos já houve um início.
Reitero que cada expositor terá vinte minutos, e os Deputados que
eventualmente queiram fazer qualquer tipo de interpelação aos expositores terão
três minutos para fazê-lo, havendo o direito de réplica e tréplica pelo mesmo tempo.
Na seqüência da audiência, para racionalizarmos o debate, sugiro que os Deputados
façam suas interpelações depois das exposições.
O SR. DEPUTADO CLOVIS VOLPI - Sr. Presidente, peço a palavra pela
ordem.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) - Tem V.Exa. a palavra.
O SR. DEPUTADO CLOVIS VOLPI - Os três minutos depois deveriam ser
multiplicados por quatro, porque se formos cada um fazer comentários...
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) - É possível, não há problema.
O SR. DEPUTADO CLOVIS VOLPI - Sem problemas?
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) - Lógico, até porque há a mesma
necessidade. Tudo bem.
Passamos a palavra ao Sr. Ibson Gabriel Martins de Campos, Secretário
Municipal do Meio Ambiente de Curitiba. (Pausa.)
Estamos com um pequeno problema técnico. Em função disso, passaremos a
palavra ao terceiro convidado e posteriormente o Sr. Ibson fará sua exposição.
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Convidamos para usar da palavra o Sr. João Antônio Fuzaro, Assistente-
Executivo da Diretoria de Controle de Poluição Ambiental da CETESB, São Paulo.
(Pausa.)
O SR. JOÃO ANTÔNIO FUZARO - Sr. Presidente, Srs. Deputados, senhoras
e senhores, em nome da CETESB e representando o Presidente da empresa, Sr.
Dráusio Barreto, agradecemos a oportunidade e sentimo-nos muito honrados por
participar de forma ativa da análise dessa proposta.
O Estado de São Paulo tem vivido problemas bastante difíceis no que diz
respeito a resíduos sólidos, um tema dos mais antigos e frágeis da nossa legislação.
Talvez pelo fato de termos uma das legislações mais antigas do País sobre controle
da poluição ambiental, legislação essa que data de 1976, haja apenas dois artigos
que tratem de resíduos sólidos. Então, com dispositivos tão limitados, é muito difícil
o controle da poluição num Estado do porte de São Paulo.
Em termos de resíduos industriais, a situação mostra que o potencial poluidor
é de uma vastidão tamanha que nos assusta. Atualmente, são 110 mil fontes
potencialmente poluidoras, nas quais estão incluídas não só as indústrias como
também os condomínios ou qualquer empreendimento que cause algum tipo de
poluição ambiental. Dessas 110 mil fontes, quase 1.500 são consideradas
prioritárias, principalmente em função da geração de resíduos perigosos. Embora o
percentual de resíduos perigosos seja pequeno, ainda é um problema bastante
grave para nós.
Diversos programas foram empreendidos para a resolução dos problemas
ligados a resíduos industriais, programas internacionais e outros dentro do próprio
Estado, buscando equacionar o quadro. Hoje, apenas para se ter uma idéia da
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grandeza do problema, temos cerca de 26 milhões de toneladas de resíduos por
ano, das quais 535 mil são de resíduos perigosos. A indústria química destaca-se
como uma das maiores fontes geradoras de resíduos, seguida pelos sistemas de
transportes e pela indústria metalúrgica. Embora tenha havido um esforço bastante
grande por parte da CETESB, esse quadro é de difícil inversão.
No que diz respeito a Municípios, temos provavelmente um dos maiores
adensamentos populacionais. São cerca de 645 Municípios, com 34 milhões de
habitantes, que geram aproximadamente 20 mil toneladas de resíduos. Refiro-me
apenas aos domiciliares, porque, se forem somados os entulhos, os inertes e tantas
outras fontes, esse número será triplicado. Estamos tentando inverter esse quadro.
No Estado, os resíduos têm uma configuração bastante peculiar, mas há uma
absoluta dificuldade de respostas às ações empreendidas. Ora, com problemas tão
grandes, é de se imaginar que a maior parte deles seja equacionada, já que a
CETESB vem atuando nesse campo há cerca de 30 anos. O fato é que ainda não
temos respostas à altura das ações empreendidas, além de elas não terem
continuidade, principalmente no que diz respeito aos Municípios. A interferência
política — negativa, nesse caso — acaba rompendo a continuidade das ações;
então, muitas vezes, os ganhos auferidos numa administração são revertidos para a
situação anterior poucos anos depois.
Temos realizado, desde o início da década de 90 até a atualidade, encontros
que intitulamos "Cidades Sustentáveis", tentando conscientizar as administrações
municipais. Nesses encontros, levamos aos Prefeitos o quadro do Estado e
procuramos envolvê-los nas responsabilidades e possibilidades de atuação; enfim,
procuramos orientá-los sobre como poderiam encaminhar soluções dentro do que
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disponham de recursos e dentro da legislação. Buscamos atuar nos Municípios mais
frágeis, que são justamente os pequenos, oferecendo cursos regionais e assistência.
Quando começamos esse trabalho, apenas cerca de 4% ou 5% dos Municípios
estavam em situação adequada.
Os dispositivos oferecidos pela legislação não nos dão prazo de ação, de
modo que os Municípios irregulares são penalizados sistematicamente, de forma tal
que os recursos acabam sendo exauridos em multas. A proposta firmada entre a
CETESB, a Secretaria de Meio Ambiente e as Prefeituras possibilita o
estabelecimento de um cronograma em que o infrator, juntamente com o órgão
ambiental, decide prazos e metas para a recuperação ambiental. Então, durante
esses últimos anos, promovemos a transformação de lixões em aterros,
desativando-os quando necessário ou adequando-os.
Temos cerca de oito regiões consideradas prioritárias no Estado, mas na
verdade só conseguimos atuar só quatro delas. Estamos elaborando planos
diretores de resíduos; já temos um na Baixada Santista, com cerca de 1,5 milhão de
habitantes e 9 Municípios, e outro na região metropolitana de São Paulo, já bastante
avançado, com 39 Municípios, o que representa aproximadamente a metade da
população do Estado. Há ainda duas regiões do litoral norte que são muito frágeis
em termos de ecossistema, além do entorno da Rodovia Fernão Dias, que é um
indutor de crescimento, e isso fatalmente afetará as cidades, no que diz respeito à
política de uso dos recursos naturais. Esses planos diretores devem encaminhar
soluções aos Municípios no que diz respeito aos aspectos locacionais, alternativas
tecnológicas, fontes de financiamento e dispositivos legais.
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Para os Municípios pequenos, temos duas ações voltadas à desativação de
lixões em Municípios com população menor ou igual a 25 mil habitantes, que, no
caso da realidade paulista, geram aproximadamente 10 toneladas/dia cada um. Para
esses Municípios conseguimos recursos do Ministério do Meio Ambiente, além de
um programa de Governo que abrange 281 Municípios. Temos 645 Municípios, mas
469 têm população menor ou igual a 25 mil habitantes. Desses, cerca de 70% estão
em situação irregular. No início de 2000, conseguimos recursos do Governo que
estão sendo repassados aos Municípios para projetos de desativação de lixões e
implantação de aterros em vala. Hoje, temos cerca de 100 aterros em vala
implantados dentro desse programa.
Finalmente, vimos realizando inventários estaduais para avaliação da
situação dos Municípios. Nosso inventário adota critérios não muito usuais no resto
do País, porque eles acabaram nascendo na própria CETESB. São dois índices: o
de qualidade de aterros e resíduos e o de usinas de compostagem. Ao invés de
classificar os aterros em sanitários, controlados e lixões, que são termos muito
vagos e possibilitam a utilização muito forte do subjetivismo pelo avaliador,
estabelecemos notas. Temos planilhas com cerca de 40 itens que foram avaliados
em todos os locais municipais de destinação, para os quais são atribuídas notas.
Dependendo da faixa de nota, conseguimos avaliar se a situação do
empreendimento é adequada, controlada ou inadequada. Dentro dessa classificação
— como eu havia dito aos senhores, avaliando apenas a quantidade de resíduos —,
começamos em 1997 com 11% do total de resíduos gerados em situação adequada
e estamos com cerca de 55%, no inventário de 2000. Em termos de Municípios, a
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estatística é um pouco diferente. Começamos com 4% ou 5% e hoje estamos com
cerca de 30% e 31% dos Municípios em situação considerada adequada.
Se somados os Municípios em situação adequada e controlada — há uma
diferenciação bastante tênue em alguns casos, porque a nota apresenta diferenças
muito pequenas — conseguimos mais de 50% encaminhados para uma situação
adequada em termos ambientais. A proposta do então Governador Mário Covas era
de que até o final deste mandato 80% dos Municípios estivessem enquadrados
nessas duas condições: adequada e controlada. E estamos trabalhando nesse
sentido.
Como eu havia dito, para um Estado tão problemático em termos ambientais,
precisamos de uma legislação muito mais abrangente, e a nossa é muito limitada.
Daí surgiu a necessidade do estudo de uma política estadual de resíduos. Desde de
1997 vimos trabalhando nessa política, que foi amplamente discutida dentro da
própria casa com as ONGs e o Ministério Público, e submetida ao nosso CONSEMA
em audiências públicas para as quais foram convidados técnicos, políticos e
autoridades do Brasil todo. Chegamos a uma proposta final, que hoje se encontra na
Assembléia para aprovação. Está em tramitação há cerca de um, dois anos, mas
infelizmente não foi aprovada ainda. Ela está fundamentada no princípio da
responsabilidade, no que coincide muito com a proposta do Deputado Emerson
Kapaz, que responsabiliza o pós-consumo, pelos danos econômicos e sociais, além
da adoção do princípio poluidor/pagador.
Temos ainda como princípios: a precaução, em que se promove o
estabelecimento de padrões sustentáveis de produção e consumo; a prevenção da
poluição, mediante a utilização de práticas saudáveis, ambientalmente falando; a
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não-geração ou a minimização de resíduos; o direito do consumidor à informação,
que é algo muito importante, ainda não atingido em nosso País — além,
evidentemente, do acesso da sociedade à educação ambiental. Esse é um problema
que praticamente todos os Estados enfrentam. Temos buscado soluções
tecnológicas, mas nossas administrações municipais, nossos órgãos de controle
acabam de certa forma não dando tanta ênfase a essa questão, com poucas
exceções. Privilegiamos ainda o princípio da sustentabilidade, que também é muito
importante, considerando a necessidade do gerenciamento integrado entre os
diversos Poderes e as iniciativas privadas, os diversos segmentos da sociedade, a
cooperação interinstitucional, a participação social, a regularidade, a continuidade, a
universalidade dos sistemas e a gradação de metas.
Pela própria experiência que temos, reconhecemos que dentro da realidade
Brasil é muito difícil que se atinjam as metas internacionais ou aquelas já alcançadas
pelos países ricos ou desenvolvidos. Então, dentro da nossa realidade, é importante
que se graduem, sim, as metas, para que dentro de prazos bem definidos se possa
inverter o quadro do País.
Nossa política é mais enxuta do que a proposta apresentada atualmente. Ela
tem cinco títulos, sobre os quais não tecerei detalhes porque acabaria estourando o
tempo disponível. Basicamente, os itens apresentados são os mesmos do relatório
atual; apenas adotam linhas mais gerais, nas quais se tem como meta o
estabelecimento de diretrizes para o Estado. A proposta atual que está sendo
analisada na CETESB ainda não foi formalizada, em termos de posicionamento. O
documento, como é multidisciplinar, está sendo avaliado pelas diversas equipes e
será apresentando formalmente a esta Casa brevemente.
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Nossa análise antecipada coincide com a do representante de Pernambuco.
Tememos o grande número de artigos em função das especificidades. Alguns dos
vetos e aprovações já estão regulamentados em resoluções do próprio CONAMA. Já
está em vigor uma resolução para pneus, pilhas e baterias, e a Resolução nº 5
regulamenta os resíduos de serviços de saúde; também já temos um grupo técnico
para embalagens e uma legislação em elaboração para mineradores. Então,
gostaríamos que esses dispositivos fossem considerados.
Preocupam-nos também algumas restrições ou direções que são dadas, por
exemplo, para a escolha de alternativas tecnológicas ou para a avaliação de áreas.
Os dispositivos, os estudos de impacto ambiental e os relatórios de impacto
ambiental são normalmente muito mais abrangentes. Como é muito difícil
contemplar todo o universo de possibilidades, tememos que a política perca um
pouco o foco quando for levada às diferentes realidades do nosso País.
Finalmente, com relação às embalagens, em especial, gostaríamos que as
recomendações fossem mais direcionadas aos produtos utilizados nas embalagens
e não tanto aos produtos envasados. Com relação às metas, ao invés de descermos
a detalhes de cervejas, refrigerantes, alimentos, gostaríamos que estivessem
focadas no vidro, no plástico, no metal ou na combinação desses materiais, pois, no
nosso entendimento, essa seria uma aproximação mais objetiva.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) - Agradecemos ao Sr. João
Antônio Fuzaro a exposição.
Resolvido o problema técnico, ouviremos agora o Sr. Ibson Gabriel Martins de
Campos, Secretário Municipal de Meio Ambiente de Curitiba. (Pausa.)
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O SR. IBSON GABRIEL MARTINS DE CAMPOS - Sr. Presidente, Sras. e
Srs. Deputados, desculpem o transtorno relativo à apresentação.
Em nome do Prefeito Municipal de Curitiba, Sr. Cássio Taniguchi, quero
agradecer o convite que recebemos para falar um pouco sobre o trabalho que a
cidade tem desenvolvido em relação à questão de resíduos.
A problemática do lixo no meio urbano é bastante complexa. Nós sabemos
dos problemas que são gerados em relação à poluição da água, do solo, do ar,
principalmente em relação aos recursos hídricos, que hoje estão sendo
considerados um dos principais problemas que precisam ser resolvidos por nossa
geração, além dos problemas ocasionados também por animais transmissores de
doenças altamente comprometedoras da saúde pública.
Curitiba tem um programa de gerenciamento de resíduos que contempla as
seguintes questões:
- Coleta domiciliar — hoje, a coleta domiciliar feita no Município é toda
destinada para o Aterro Sanitário da Caximba, localizado dentro no Município de
Curitiba. Temos um programa de coleta de resíduos recicláveis, sendo uma parte
desse material destinada à Unidade de Valorização de Resíduos, que é
administrada pelo Instituto Pró-Cidadania e todos os recursos são convertidos para
ações sociais; outra parte é comercializada, em depósitos particulares, e outra parte
é destinada também para obras sociais.
- Coleta hospitalar — temos ainda a coleta hospitalar, realizada pelo
Município. É uma coleta diferenciada, e o material é destinado para a vala séptica,
com todo um processo de segregação implantado nessas unidades. São 69 grandes
geradores, de onde o lixo reciclável é retirado, o lixo não-contaminado é destinado
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para o aterro sanitário e o lixo contaminado, esse, sim, é destinado para a vala
séptica, reduzindo significativamente o volume de lixo destinado para tratamento
especial.
- Coleta de resíduos vegetais — é realizada em toda a cidade, com a poda da
arborização, tanto pública como de particulares, destinada ao Aterro de Resíduos
Vegetais. Trata-se de um aterro especial, onde esse material é reaproveitado. Parte
dele é transformado em material lenhoso e reaproveitado em 34 unidades
denominadas "piás ambientais", que são unidades de atendimento para crianças na
faixa de 4 a 12 anos. Nessas unidades, por meio do uso de fogão à lenha,
produzimos alimentação para as crianças e aproveitamos então toda essa matéria-
prima que nos chega gratuitamente. Estamos tentando implementar o programa com
o aproveitamento do material em decomposição, talvez até em parceria com a
SANEPAR, com uso do próprio lodo do esgoto, pensando-se em uma compostagem,
ou seja, um composto desses produtos.
- Coleta de resíduos tóxicos — mesmo a legislação sendo clara em relação a
que essa coleta não é responsabilidade dos órgãos públicos, mas sim dos seus
geradores, por uma questão de conscientização da população, e até provocando
uma mudança cultural, nós implantamos um sistema de coleta, há aproximadamente
três anos, e todo o material coletado vai para a Central de Tratamento de Resíduos
Tóxicos, a CTRI, que é privada. Assim, o Município faz o recolhimento, paga por
esse tratamento, mas as pessoas são orientadas para que em suas casas façam um
segregação de pilhas, de resto de tintas ou vernizes de uma reforma, de
medicamentos vencidos de uso estritamente domiciliar, porque há todo um controle
rigoroso de entrada desses materiais para recebimento por parte do Município.
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Enfim, é um programa especial. A população é alertada para o fato de que, não indo
para o aterro sanitário esse material, evitamos inclusive a contaminação pelo próprio
chorume originado nesse local.
- Realização de campanhas educacionais — fizemos campanhas para
conscientizar a população em relação ao lixo cortante, ou seja, latas, vidros etc., a
fim de que houvesse preocupação com a embalagem e o condicionamento
adequado, enfim, com a necessidade de se enrolar em um jornal o pedaço de vidro
antes de colocá-lo nas embalagens, porque muitos dos operadores do sistema no
momento da coleta vinham-se ferindo. Então, era necessária a mudança desse
conceito. Tivemos bons resultados em relação a isso.
O plano de coleta domiciliar em Curitiba é realizado por setores. Os
caminhões fazem a coleta de lixo em algumas regiões diariamente e em outras
forma alternada. Há também coletas diurnas e noturnas. Há todo um
acompanhamento específico do setor, para termos um mapeamento dos aumentos
quantitativos de cada local.
Paralelamente à coleta do lixo domiciliar, temos o Programa de Compra do
Lixo. Trata-se da aquisição, por parte do Município, do lixo gerado pela população
nas regiões carentes, nas regiões de difícil acesso, nas áreas de ocupação, nas
áreas próximas a mananciais, nas áreas invadidas, enfim, em áreas onde, por
dificuldade de coleta dentro do sistema convencional, o Município instala caçambas
estacionárias, por intermédio da associação de moradores. Faz-se então a aquisição
desse lixo, que é pago com cestas básicas. Os microprodutores da região de
Curitiba e da região metropolitana são envolvidos nesse programa. Realiza-se assim
uma permuta do lixo, ou seja, quantidades de lixo por quantidades de alimentos.
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Com isso, o lixo que não seria coletado de uma forma racional e que poderia ir para
o fundo de vales, para terrenos baldios, criando problemas ambientais e de saúde, é
recolhido. Temos tido excelentes resultados com esse sistema. Por exemplo, os
benefícios para a saúde já são bastante significativos, pois os próprios postos de
saúde do Município deixam de gastar com medicamentos e atendimentos médicos.
Bom, ali há um mapa dos pontos onde hoje nós fazemos esse trabalho.
Falemos da disposição final dos resíduos coletados, os resíduos domiciliares.
Eles são dispostos no Aterro Sanitário da Caximba, onde é feito todo um processo
de pesagem dos caminhões, com controle de tara, na entrada e saída, para o
pagamento da empresa que nos presta esse serviço. Quer dizer, é um serviço
terceirizado; a empresa CABA é quem realiza o serviço no Município de Curitiba.
Temos a geração de aproximadamente 33 mil toneladas de lixo pelo
Município, só que Curitiba recebe ainda nesse aterro sanitário o lixo de mais 13
Municípios da região metropolitana. Portanto, são 55 mil toneladas de lixo que são
depositados nesse aterro, sendo 33 mil toneladas geradas pelo próprio Município.
Para a preparação desse aterro sanitário, como V.Exas. podem observar, é
feita primeiramente uma drenagem das águas nascentes e existentes; é feita toda
uma impermeabilização, com manta, cobertura de argila, implantação do tubo de
drenagem para o líquido gerado pela decomposição do lixo e também implantação
da drenagem para os gases. Portanto, essa é uma fase de preparação da etapa de
ampliação do aterro. Todo esse líquido percolado é destinado para um tratamento
em três lagoas existentes, aeróbias e anaeróbias, para diminuir o DBO e o DQO, a
fim de que esse efluente seja lançado no corpo d’água receptor.
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Esse é o nosso aterro sanitário. É claro que ele já está um pouco mais
avançado do que isso. Inclusive hoje sua vida útil já está bastante comprometida,
mas temos ainda uma previsão de utilizá-lo até o final de 2002. Ou seja, daqui a um
ano e quatro meses, aproximadamente, nós não teremos mais esse espaço para a
disponibilização do lixo de toda essa região, mas já estamos fazendo um estudo que
também iremos apresentar aos senhores.
Paralelamente à coleta domiciliar, temos o programa do lixo que não é lixo, ou
seja, a coleta do material reciclável. Então, são coletas diferenciadas. A coleta do
lixo domiciliar ou lixo orgânico é feita com caminhões compactadores, da forma
como nós apresentamos, e o lixo reciclável é coletado separadamente, nas periferias
da cidade. Em dias alternados há a coleta do lixo domiciliar. Então, por exemplo, o
lixo orgânico é coletado na segunda, na quarta e na sexta-feira; o lixo reciclável, na
terça, na quinta e no sábado. Existem alternâncias dessas datas. E nas áreas
centrais a coleta é feita diariamente, em horários diferenciados, para que a
população possa dispor do seu lixo de forma que não haja confusão na coleta.
Portanto, o plano de coleta do lixo que não é lixo é diferenciado do plano do lixo
orgânico, com setores e horários diferenciados, para que haja um melhor
aproveitamento. Se em determinadas regiões há mais geração de lixo reciclável,
tem-se a possibilidade de remapear essas áreas em relação à coleta do lixo
orgânico.
Nós temos todo um trabalho realizado com os coletores informais de materiais
recicláveis. Hoje eles são em torno de 2.700 coletores, e são os grandes
responsáveis pela coleta do lixo reciclável do nosso Município. Enquanto os
coletores formais de lixo recolhem aproximadamente 70 toneladas por dia, os
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coletores informais coletam aproximadamente 370. Isso significa dizer que nós
temos toda uma política voltada para que não haja conflito entre a coleta formal e a
informal. Os catadores, sabendo dos horários previstos para a coleta formal por
parte do Município, antecipam-se a essa coleta. Nós procuramos manter a coleta de
forma organizada, para que não estourem as embalagens, gerando problema de
espalhamento de lixo, porque muitas vezes eles coletam aquele material mais nobre,
mas acaba acontecendo que nem todo o material é levado pelo coletor. Hoje
existem "n" coletores, não só no sistema convencional, mas já utilizando também
veículos, que fazem a coleta das embalagens como um todo e fazem um processo
de triagem particular, comercializando a partir daí esse material.
O Programa Câmbio Verde é um programa semelhante ao Programa de
Compra do Lixo, só que com o cunho de aquisição do lixo reciclável. Então, da
mesma forma, em locais em que ainda temos dificuldade para fazer a coleta do lixo,
mas onde temos como trabalhar a consciência da população, e não só a questão de
acesso, incluindo também as populações mais carentes, para que elas tenham
consciência da necessidade de separar o lixo e também entendam que esse material
pode ter um valor agregado, nós fazemos a coleta de todo o lixo reciclável, com
permuta por alimentos. Ou seja, da mesma forma como fazemos com a compra do
lixo, fazemos também só a do com o lixo reciclável, por meio do Câmbio Verde. Isso
envolve a Secretaria do Meio Ambiente, a Secretaria Municipal de Abastecimento, a
Fundação de Ação Social — enfim, todas as entidades que trabalham com pessoas,
que trabalham com a questão social, que trabalham com a agricultura estão
envolvidas nessa atividade.
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Esses seriam então, hoje, os pontos do Câmbio Verde implantados no
Município com a intenção de retirar esse material, praticamente dando uma cesta
básica para as famílias, usando sempre os alimentos da época, para não encarecer
esse processo. Dentro desse princípio, procuramos sempre usar, dentro do próprio
CEASA, sobras de alimentos, ou seja, aqueles alimentos que poderiam naquele
momento ter um preço muito aquém do preço de mercado, para serem utilizados
nessa troca.
Aqui vemos a unidade de valorização — apenas para ilustração sobre o que
nós fazemos —, a triagem dos materiais para posterior comercialização e a
caracterização dos resíduos depositados na usina: em torno de 16% de plástico,
1,5% de tetra pak (em Ponta Grossa já existe uma unidade que está fazendo
aproveitamento desse material), 15% de vidro, 21% de metais, 29% de papel e 15%
de rejeitos, que são destinados ao aterro sanitário. Não há uma orientação sobre
segregação específica de determinadas embalagens, mas sim praticamente do
material seco e do úmido, porque alguns produtos que não tinham mercado
industrial no início do programa hoje já estão sendo aproveitados.
Dessa forma, a proposta era implantar algo que fosse de fácil assimilação por
parte da população e viesse a viabilizar, na seqüência, o aproveitamento desse
material sem termos que ficar mudando o sistema, o que dificultaria o entendimento
por parte da população de Curitiba. Com isso trouxemos um grande número
empresas, e foram geradas novas atividades industriais, empresas recicladoras, que
se estabeleceram próximo a Curitiba e criaram um novo mercado.
Feita a coleta de resíduos vegetais, o material é levado para um depósito
específico, como já havia dito. E também conforme eu havia comentado
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anteriormente, com relação aos resíduos sólidos do serviço de saúde já há uma
segregação nos próprios hospitais. Com o apoio do Município, separa-se o
reciclável, o comum e o infectante. Os especiais ainda são de responsabilidade dos
geradores, que o acondicionam e fazem a sua destinação.
No programa de coleta de resíduos perigosos, o caminhão fica nos terminais
de transporte do Município, e há uma parceria com a população. A finalidade do
programa não é apenas recolher uma grande quantidade de material, até porque
não é essa a atribuição do Município, e tudo isso acarreta custos. Queríamos
conscientizar a população e torná-la co-responsável pelo processo. As pessoas têm
de separar esse material nas suas residências e levá-lo até os pontos de
recolhimentos nos dias preestabelecidos. Em postos de saúde e outros locais são
afixadas programações informando qual o dia do mês em que estará sendo feito o
recolhimento naquele local; na data marcada, o caminhão estará estacionado no
local determinado e as pessoas então levarão o material. Há um controle sobre esse
resíduo. Só aceitamos pequenas quantidades, para evitar que farmácias, empresas
ou outros grandes geradores usem o sistema para descartar seu material.
Nessa coleta são recolhidos os seguintes materiais: baterias (7,54%); pilhas
(6,84%); inseticidas; produtos químicos; uma grande quantidade de lâmpadas;
medicamentos vencidos; tintas; toner; embalagens de agrotóxicos. Esses são alguns
exemplos, para termos mais ou menos uma idéia do perfil desse material.
Houve um problema técnico. O computador travou. Peço-lhes um minuto.
(Pausa.)
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Sr. Presidente, eu trouxe algumas transparências, mas aqui não há um
retroprojetor. Então, mesmo sem o material visual, para não atrasar os trabalhos,
descreverei as ações dos demais programas.
Dentro da grande preocupação que temos em Curitiba com o meio ambiente,
criamos uma equipe para limpeza dos rios, basicamente com a finalidade de
trabalhar o problema dos recursos hídricos. Esse programa, denominado Olho
D'Água, tem aproximadamente 260 pontos de monitoramento no Município e
envolve a comunidade local, as escolas, os grupos de escoteiros, as associações de
bairros. O monitoramento contempla algumas coisas muito simples, como a
qualidade da água, fazendo uma avaliação das suas características e também das
do entorno, como o lançamento de lixo nos rios, a erosão das margens, a existência
ou não de vegetação. Avaliamos essas questões, envolvemos a população e
fazemos um grande trabalho de educação ambiental, porque um dos grandes
objetivos da atual administração é iniciar um processo de inversão da má qualidade
da água dos rios urbanos. Curitiba pretende investir fortemente nisso, e já fazemos
esse trabalho desde a gestão anterior. Iniciamos o programa em meados de 1997, e
ele vem tomando corpo, envolvendo a comunidade, grupos governamentais e não-
governamentais. Entendemos que esse é um caminho muito interessante, já que as
pessoas participam de uma forma muito ativa do programa. Temos algumas
propostas para melhorar a qualidade da água, mas sem um trabalho amplo de
educação ambiental, com a participação da população, isso não será possível.
O trabalho de educação ambiental abrange todos os programas que já
citamos anteriormente: Câmbio Verde, Compra do Lixo, todos com cunho educativo.
Não fazemos a pura e simples troca do lixo pelo alimento, mas buscamos envolver a
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comunidade. Assim, no momento em que o programa for retirado da região, a
comunidade terá consciência para atuar em conformidade com os interesses
ambientais.
Ainda temos atividades de limpeza de feiras livres, varrições manuais e
mecanizadas, limpezas especiais de vias públicas, calçamentos, meios-fios, domos
e pontos de ônibus, e raspagens dos cartazes de postes. São equipes especiais que
fazem esse serviço para manter uma boa qualidade de vida para a nossa cidade.
São vários os serviços desenvolvidos.
Por estar chegando ao fim a vida útil do nosso aterro sanitário, atualmente
estamos trabalhando em cima do sistema de gerenciamento integrado de resíduos
sólidos urbanos da região metropolitana. Como os demais Municípios, Curitiba está
desenvolvendo um trabalho para solucionarmos o problema em âmbito
metropolitano, e não apenas local, a partir de 2002.
Curitiba não dispõe de espaços físicos para implantar um aterro sanitário.
Com certeza, nosso próximo aterro será em algum Município da região
metropolitana. Dessa forma, estamos concebendo um consórcio intermunicipal que
está trabalhando com três focos principais: criar uma concessão integral para coleta,
transporte e destinação final dos resíduos domiciliares, incluindo o reciclável; manter
o sistema de segregação e ampliá-lo para os Municípios circunvizinhos; e aumentar
a quantidade de material a ser reindustrializado, que seria um lote. Alguns
Municípios vão participar desse processo, mas os demais serviços não podem ser
transformados em concessão, ou seja, não poderão ser repassados para a tarifa, em
função da não-individualidade. Serviços como o de varrições mecanizadas e
manuais, limpeza e todos os demais que apresentei ficarão fora do processo de
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concessão e serão trabalhados de forma diferenciada, até porque cada Município
tem uma característica diferente. Alguns Municípios prestam determinado serviço,
outros não.
Em um outro lote, vai-se trabalhar a contratação pura e simples, e numa
terceira etapa haverá contratação para a região metropolitana — ainda não foi
estabelecido de que forma — para a coleta do resíduo hospitalar. Entendemos que
todos os Municípios da região metropolitana devem ter uma solução única, por meio
desse consórcio. A concessão integral vai abranger em torno de 88% dos resíduos
sólidos gerados, e a contratação ficará responsável por aproximadamente 12% dos
resíduos. Dessa forma, passaremos para um processo de cobrança de tarifas. Não
teremos mais o pagamento da empresa prestadora de serviços por meio da
arrecadação de taxa feita pelo Município. Enfrentaremos, entretanto, grande
dificuldade, porque essa é uma questão polêmica, e desconhecemos um sistema de
concessão puro que agregue todo o sistema.
Devido à exigüidade do meu tempo, deixarei de comentar a proposta
apresentada pela Comissão, mas nas respostas às perguntas procurarei fazer algum
comentário sobre o material entregue a V.Exas. Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) - Esta Comissão agradece ao
Secretário Municipal do Meio Ambiente de Curitiba, Sr. Ibson Gabriel Martins de
Campos, a exposição.
O SR. DEPUTADO IVAN VALENTE - Sr. Presidente, o problema que o
expositor teve é resultante das privatizações feitas no Paraná. Lá nem computador
funciona.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) - Com a palavra o Coordenador
do Conselho Nacional do Meio Ambiente — CONAMA, Sr. Maurício Andrés Ribeiro,
pelo prazo de até vinte minutos.
O SR. MAURÍCIO ANDRÉS RIBEIRO - Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Deputados membros desta Comissão Especial que analisa a política nacional de
resíduos, demais participantes, em nome do Secretário-Executivo do Ministério do
Meio Ambiente, Sr. José Carlos Carvalho, agradeço o convite formulado ao
Ministério para comparecer a esta audiência pública, que me parece da maior
pertinência e importância, dada a prioridade da gestão dos resíduos sólidos dentre
os problemas ambientais brasileiros atualmente.
Antes de falar especificamente sobre as ações do Conselho Nacional do Meio
Ambiente em relação aos resíduos sólidos, farei uma introdução conceitual, que
ajudará a entender o espírito que norteou essas ações e as resoluções com as quais
o CONAMA vem trabalhando.
Nesta audiência tivemos o relato das experiências estaduais de São Paulo e
Pernambuco, de iniciativas e ações municipais, como no caso de Curitiba, e cabe-
me agora falar sobre as iniciativas de âmbito nacional. Inicio situando esse tema
dentro de um contexto global.
Em 1992 a Conferência do Rio de Janeiro aprovou a Agenda 21. Quatro dos
quarenta capítulos do documento referiam-se aos resíduos, mostrando assim a
importância desse tema para vários outros países, que também têm tomado
iniciativas muito importantes nesse campo.
Poderíamos ir mais além, do ponto de vista conceitual.
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Em relação à biodiversidade, a espécie humana é a única que produz
resíduos sólidos na forma de lixo. O homo sapiens poderia ser chamado também
de "homo lixus", aquela espécie da natureza que produz lixo em todas as atividades
que realiza, como a industrial, a agrícola, a de mineração e outras ligadas à
produção e ao consumo.
Um outro aspecto para o qual chamo a atenção é a necessidade da inserção
do tema "resíduos sólidos" dentro da concepção do próprio ciclo econômico de
produção e de consumo. Para se produzir alguma coisa, extrai-se o recurso da
natureza, agrega-se energia e transforma-se o produto industrialmente, gerando-se
então bens necessários para consumo humano. Mas esse processo também gera
resíduos. Sabemos que hoje o lixo é um problema global e até espacial. Há poluição
na estratosfera e também nos mares.
Existem convenções internacionais tratando de assuntos ligados a resíduos
de forma global, mas também poderíamos investigar o tema no âmbito local,
partindo de cada indivíduo, pois, no momento em que o cidadão vai ao
supermercado fazer suas compras, ele também está, dessa forma, contribuindo para
o ciclo do consumo, que gera resíduos. Parece-me que esses conceitos gerais são
importantes para situar essa questão como o problema amplo e abrangente que é,
um problema com o qual todos os países hoje estão preocupados. Felizmente, o
Congresso Nacional teve essa iniciativa que balizará o debate dessa questão.
A partir da Rio-92, o CONAMA resolveu dar um enfoque especial à questão
dos resíduos sólidos.
O Conselho Nacional do Meio Ambiente foi criado há vinte anos pela Lei nº
6.938/81. Aliás, no dia 31 de agosto próximo, o CONAMA e o Sistema Nacional do
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Meio Ambiente, que foi criado pela mesma lei, estarão comemorando 20 anos de
atividade. Em 1998, o CONAMA relacionou uma série de temas que deveriam ser
objeto de atuação prioritária dos conselheiros e passou a trabalhar sobre eles. Isso
gerou alguns resultados, na forma de resoluções. Nesses 20 anos, o CONAMA
gerou 280 resoluções sobre vários temas, como Agenda Verde, Biodiversidade de
Florestas, Agenda Azul — que versa sobre as águas —, e também a chamada
Agenda Marrom, sobre prevenção e controle da poluição ambiental, que inclui a
questão dos resíduos sólidos.
A partir de então, formaram-se grupos de trabalho, que geraram alguns
produtos, dentro da Câmara Técnica de Controle Ambiental do CONAMA. Um deles
foi uma proposta de diretrizes para uma política nacional de resíduos sólidos, que foi
aprovada no plenário no CONAMA dia 30 de junho de 1999, definindo algumas
questões muito amplas sobre os objetivos a serem alcançados com uma política
dessa natureza, seus princípios e fundamentos, diretrizes, instrumentos e uma série
de enfoques estruturais.
Essa proposta não chegou a ser publicada como uma resolução do
CONAMA, porque houve o entendimento jurídico de que aquilo não deveria ser
matéria de resolução, mas sim de projeto de lei a ser aprovado pelo Congresso
Nacional. De qualquer forma, é uma contribuição conceitual e teórica importante
para balizar essas questões. E dentre os projetos de lei analisados pela Comissão
Especial existe um muito semelhante à proposta elaborada pelo CONAMA.
Além disso, o CONAMA definiu naquele momento alguns procedimentos
especiais para certos tipos de resíduos que mereceriam tratamento diferenciado.
Entre eles estão pilhas e baterias, objeto da Resolução nº 257/99, que atribui uma
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responsabilidade compartilhada dos produtores com o recolhimento dos resíduos
depois do ciclo de vida do material. Em junho de 1999 foi aprovada uma resolução
sobre o que fazer com os pneus depois de seu uso, o que fazer para a disposição
final desses produtos.
O co-processamento de resíduos também foi objeto de resolução aprovada
no ano de 2000, que dá um destino final a certos resíduos industriais — alguns deles
perigosos dentro do próprio processo produtivo, como, por exemplo, nas
sementeiras —, para que se possa queimá-los como energéticos para a produção do
cimento. O CONAMA regulamentou essa tecnologia, esse processo de
reaproveitamento dos resíduos através do co-processamento. Além disso, instituiu
uma série de grupos de trabalho.
Esses são alguns dos produtos já aprovados desde 1999. Recentemente, na
reunião do CONAMA, em julho deste ano, foi aprovada uma nova resolução sobre a
disposição final de resíduos dos serviços de saúde, atualizando a Resolução nº 5, de
1988, que regulamentava esse tema.
Isso é apenas para mostrar alguns dos resultados que vêm sendo obtidos.
Apenas a título de informação, o CONAMA é um colegiado com 75 membros,
do qual participam todos os Ministérios, todos os Governos Estaduais,
representantes de Municípios, de organizações não-governamentais e do setor
produtivo. É desse conjunto de atores que surgem e são aprovadas essas
resoluções.
O CONAMA funciona através do seu Plenário e das suas Câmaras Técnicas
especializadas. A Câmara Técnica de Controle Ambiental é a que se tem dedicado
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aos temas ligados à gestão de resíduos. Tem formado esses grupos específicos
para tratar dos resíduos que merecem tratamento especial.
Ainda a título de informação, temos hoje funcionado e trabalhado com
especialistas, representantes de ONGs, de Governos, de Municípios, grupos de
trabalho sobre simplificação de normas para aterro sanitário. Hoje, muitas
Prefeituras têm dificuldade para implantar aterros devidamente licenciados
ambientalmente em função de alguns critérios que estão sendo trabalhados pelo
CONAMA para simplificar os processos de licenciamento e facilitar então que os
Prefeitos tenham melhor condição de licenciar seus aterros, para dar um destino
final adequado aos resíduos.
Existe um grupo de trabalho sobre embalagens e resíduos de embalagens —
e o depoimento do Dr. Fuzaro aponta o enfoque importante que deve ser dado a
esse assunto —, que aplica o princípio da co-responsabilidade do produtor, no
sentido de que compartilhe também com as Prefeituras os custos da destinação final
das embalagens. Há também as iniciativas para reduzir a geração daqueles
resíduos. Todos os países que trabalham com essa questão de resíduos sólidos de
forma consistente têm priorizado a não-geração dos resíduos, a integração da visão
dos resíduos como um dos momentos dos ciclos de vida dos materiais. E a questão
das embalagens é um tema muito importante, porque o volume e o peso das
embalagens na composição do lixo urbano têm aumentado de forma bastante
expressiva.
Há outro grupo de trabalho que trata do inventário de resíduos industriais,
tema também importante, porque as indústrias geram resíduos perigosos que devem
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ser objeto de tratamentos especiais. É preciso haver clara visão da quantidade, do
peso e do tipo de resíduos gerados por segmento industrial.
Um tema que está sendo objeto de um grupo de trabalho do CONAMA diz
respeito aos resíduos de lâmpadas fluorescentes, lâmpadas à base de mercúrio, que
também geram alguns tipos de problemas. Agora, com a crise energética, esse tema
veio à tona com muita força, porque o consumo desse tipo de produto está
aumentando.
Outro tema que também está sendo tratado por um grupo de trabalho são os
resíduos da construção civil. A atividade da construção civil nas cidades brasileiras
gera grande quantidade grande de resíduos de tijolos, de materiais plásticos, metais
etc., e muitos deles podem ser reciclados, reaproveitados, retrabalhados. Àquilo que
não pode ser reciclado deve ser dada a destinação final adequada.
Um outro tema que também tem sido objeto de atuação de um grupo do
CONAMA é a incineração de resíduos. Existe um grupo trabalhando sobre a
tecnologia da incineração e sobre como ela pode ser normatizada de forma a ser
realizada sem os problemas da contaminação atmosférica que se pode gerar no
processo da queima dos resíduos.
Essas iniciativas do CONAMA nesse campo transformam o tema dos
resíduos sólidos na bola da vez, vamos dizer assim, dentro do próprio CONAMA, um
grande tema na Agenda Marrom, a agenda de controle e prevenção da poluição,
que está sendo objeto de atenção.
Acredito que todas as iniciativas que já foram e vêm sendo tomadas agora
pelo CONAMA podem ser complementadas e podem ser muito beneficiadas por
esse grande guarda-chuva, essa referência legal que vai ser a política nacional de
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resíduos sólidos originária do Congresso Nacional. De fato, ela será a grande
referência para que, daqui para a frente, o CONAMA possa trabalhar
regulamentando e normatizando aspectos específicos e tornando mais operacionais
as ações necessárias, para poder dar um tratamento adequado a essa questão.
Era o que eu tinha a apresentar.
Toda essa documentação está também na página do próprio CONAMA na
Internet.
O Ministério do Meio Ambiente coloca-se à disposição desta Comissão para
contribuir para que essa questão seja equacionada no Brasil de forma adequada.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Clovis Volpi) - Após ouvirmos a exposição do
Sr. Maurício Andrés Ribeiro, Coordenador do Conselho Nacional de Meio Ambiente
— CONAMA, passamos a palavra ao nosso Relator, Deputado Emerson Kapaz.
O SR. DEPUTADO EMERSON KAPAZ - Sr. Presidente, demais membros da
Mesa, Srs. Deputados, senhoras e senhores presentes, primeiro, cumprimento os
expositores pela clareza e pela contribuição que estão dando ao trabalho desta
Comissão, em especial ao da Relatoria. Vou buscar esclarecimentos sobre as
exposições que ouvi e fazer algumas indagações sobre alguns pontos que, além do
que já vimos fazendo na Comissão, acredito sejam facilitadores do processo de
aperfeiçoamento do relatório preliminar que anunciamos há alguns dias.
Mais uma vez, quero comentar o relatório preliminar. Ouvi as observações
feitas pelo Dr. Claudio Marinho e pelo Dr. João Fuzaro no sentido de que ele é muito
extenso para o que se imagina como política nacional. Nosso objetivo foi dar uma
abrangência mais ampla para depois tentar, com isso, chegar ao que imaginamos
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ser uma política nacional de resíduos enxuta e bem feita. É o que queremos hoje
para o Brasil, e a demanda nessa direção é muito forte.
Vou fazer algumas indagações específicas sobre as exposições, não muito
longas, para poder permitir que os outros Deputados também possam expressar
suas dúvidas.
Primeiramente, quanto à exposição feita pelo Dr. Claudio Marinho, gostei
demais de saber que Pernambuco está avançando nessa questão.
Fiquei muito impressionado com a política estadual já aprovada; isso é importante
para complementar a política nacional e vai ao encontro do que queremos fazer
aqui. E tenho algumas perguntas a fazer sobre dois aspectos específicos. Primeiro,
como funciona o Fundo Estadual de Meio Ambiente, o FEMA? De onde vêm os
recursos? Para que ele serve? Qual a origem da aplicação desses recursos? E
como é a sua interação com a política estadual de resíduos?
O segundo aspecto é o ICMS socioambiental. Estive discutindo com o
Secretário da Receita, Sr. Everardo Maciel, sobre como incentivar a reciclagem.
V.Sas., no caso do ICMS, tomaram um caminho interessante, o de um ICMS verde
— imaginamos poder chamá-lo assim.
Na nossa visão, por exemplo, estamos propondo a idéia de uma empresa
exclusivamente recicladora, que obedeceria a regras da Receita Federal para
isenção total de impostos na área federal. Na área estadual, vamos ter de negociar
isso com os Estados, e na área municipal há o ISS e os impostos municipais.
Do ponto de vista de Pernambuco, que já tem ICMS socioambiental, seria
possível imaginar que uma empresa exclusivamente recicladora fosse também
recebida pelo Estado de Pernambuco com uma eventual isenção de ICMS? Isso terá
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de ser negociado nos Estados. Em âmbito federal, temos um compromisso do
Secretário da Receita de isentar. Essa empresa exclusivamente recicladora seria um
grande mecanismo de aproveitamento do material reciclado e poderia trazer,
também aos Estados, essa política mais forte.
Com relação à exposição feita por João Fuzaro, da CETESB, eu queria um
esclarecimento mais profundo sobre o funcionamento desses mecanismos de
aterros em valas. Foi dito que em grande parte dos Municípios eles estão sendo
implementados. Como se dá a operação desses aterros? Como eles funcionam?
Como isso está sendo apresentado aos Municípios? Eles têm apoio para isso? Que
tipo de apoio eles recebem?
Na exposição do Dr. Ibson, de Curitiba, para nós ficou claro o grande exemplo
de implantação de uma coleta seletiva municipal. Gostaria que o S.Sa nos
esclarecesse mais sobre o assunto.
No nosso relatório, abordamos a questão da coleta municipal para mais de
100 mil habitantes, com especificidade. Para nós, seria muito importante saber mais
detalhes sobre o mecanismo de financiamento da coleta em Curitiba. Como a taxa é
cobrada? De quem é cobrada? É geral ou não? Há tarifa? No caso de concessão,
como são os mecanismos de tarifa de cobrança? Como é a integração que existe na
coleta feita, tanto do lixo orgânico como do lixo seco? E com relação aos catadores?
Segundo a exposição feita pelo Dr. Ibson, dos 2.700 catadores, 280, se não
me engano, são cooperados. E o restante? Além desses 280 cooperados, qual a
integração dos outros catadores com essa política de coleta seletiva já implantada?
Eles recebem remuneração ou não?
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Temos um desafio no nosso relatório: fazer a integração desses sistemas de
catadores autônomos com os sistemas de coletas a serem implementados nos
Municípios — e isso foi muito bem destacado pelo Dr. Ibson. O sistema de retorno
dos catadores autônomos, em termos de reciclagem, é muito maior do que a coleta
normal e oficial feita pela Prefeitura. Se for possível, gostaria de ouvir um
detalhamento dessa integração, porque ela nos vai ajudar no aperfeiçoamento
desse sistema dentro do relatório.
Quanto à exposição do Dr. Maurício Ribeiro, o importante para nós, com
relação a essa política nacional, é receber do CONAMA o maior número de
subsídios possível. Temos detalhes sobre o assunto quanto à construção civil no
relatório. Os senhores estão estudando construção civil ou incineração? Poderíamos
começar a receber algum material sobre isso para, do ponto de vista do próprio
relatório, avançarmos na direção do que eventualmente o CONAMA futuramente vai
implementar ou já esteja em fase de implementação. Temos muitos capítulos que,
em alguns casos, até pelas observações feitas, podem estar abordando pontos que
o CONAMA regulamenta, mas que acredito serem importantes na política nacional
de resíduos.
É importante ouvir o CONAMA. Quanto ao caso de pneus ou pilhas e baterias
também, mesmo havendo regulamentações, há alguns pontos que achávamos
importante serem fixados numa política nacional.
Eram essas as observações que a relatoria queria fazer neste momento, Sr.
Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) - Vou começar passando a
palavra ao Secretário Municipal de Recife, Dr. Claudio José Marinho Lúcio.
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O SR. CLAUDIO JOSÉ MARINHO LÚCIO - Obrigado ao Relator, Deputado
Emerson Kapaz, pelas perguntas que me permitem esclarecer um pouco mais nossa
política.
O Deputado pergunta sobre o Fundo Estadual de Meio Ambiente. O FEMA foi
feito à imagem e semelhança do Fundo Nacional de Meio Ambiente. Eles têm regras
de funcionamento muito parecidas. Em breves palavras, eu diria que funciona com
receitas das multas ambientais e tem a prática de condições paritárias para análise
competitiva de projetos que são apresentados segundo as prioridades de política de
meio ambiente do Estado, entre as quais naturalmente está incluída a questão dos
resíduos sólidos. Portanto, é uma fonte financiadora potencial para projetos nessa
área.
Cada proposição passa por uma análise da Comissão Paritária, com
consultores ad hoc recrutados. Quero fazer um registro da mobilização muito grande
que há entre os pesquisadores e os professores das nossas universidades,
profissionais de maneira geral, que tratam da questão ambiental e fazem esses
pareceres à imagem e semelhança também da prática dos comitês assessores do
CNPq, CAPS, etc., que dão contribuição muito relevante ao nosso Fundo Estadual
de Meio Ambiente.
Parte do processo se dá através da comissão de pareceristas, mas a parte
final fatalmente passa pelo Conselho Estadual de Meio Ambiente — CONSEMA —,
que aprova os projetos.
Os recursos ainda não são em grande valor, mas é um fundo cuja operação
iniciou neste ano. Acreditamos que, na medida em que crescer a consciência e
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aumentarmos nossa capacidade de gestão ambiental, também teremos maior fluxo
de recursos.
Em relação ao ICMS socioambiental e à questão das empresas recicladoras,
eu gostaria de fazer uma distinção. Preliminarmente, as empresas recicladoras são
estimuladas na política referente à priorização que deve ser dada aos incentivos
fiscais a empresas e a consórcios municipais que envolvem empresas. Na legislação
do ICMS socioambiental, o incentivo a essas empresas é indireto, é feito através dos
Municípios. O ICMS socioambiental, em Pernambuco, está dirigido a incentivar a
gestão ambiental descentralizada em relação a resíduos sólidos. É um incentivo ao
Município. O Município passa a receber mais ou menos recursos da sua cota-parte
de ICMS se tiver ou não uma política de coleta e destino final de resíduos sólidos.
O que estamos percebendo é que há um interesse muito grande dos
Municípios — e, em perspectiva, pelo menos 50 dos nossos 184 Municípios já
fizeram contatos com a nossa Secretaria — em se consorciarem com empresas
porque há um estímulo explícito na legislação. Esse consórcio dependerá da
viabilidade econômica da reciclagem, naturalmente correlacionada com o tamanho
dos Municípios.
O incentivo, então, é feito indiretamente. Vamos criar uma base financeira
mais sólida para que os próprios Municípios possam se consorciar e buscar
parceiros privados.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) - Agora, passo a palavra ao Dr.
Ibson para seus esclarecimentos.
O SR. IBSON GABRIEL MARTINS DE CAMPOS - A coleta do lixo reciclável
hoje está sendo feita dentro do serviço contratado com recursos do próprio
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Município. Mas acho importante focarmos o que estamos imaginando como nova
etapa. O material que V.Exas. receberam tem a definição de objeto da concessão,
que irá contemplar a continuidade da coleta seletiva. A empresa terá de realizar nos
demais Municípios, da mesma forma como realiza em Curitiba, a coleta do lixo tanto
orgânico como reciclável, ou no sistema atual ou em outro sistema que seja viável
para financeiramente, mas que venha ao encontro dos interesses do Município.
Conseqüentemente, esses valores já estarão incluídos dentro do valor da
tarifa. Os usuários estarão pagando o seu lixo da mesma forma que pagariam o de
uma coleta sem segregação. Ocorre que a empresa terá um custo a mais, porque
numa coleta tradicional, em que o lixo orgânico e o inorgânico estão sendo coletados
juntos, há uma única coleta, e esse material vai todo para o aterro, para um lixão ou
algo que o valha. Com a forma diferenciada, deve-se ter uma estrutura à parte que
estará contemplada dentro do novo sistema.
Portanto, dentro desse princípio, os recursos financeiros estão garantidos.
Hoje, o usuário recolhe dentro das taxas de coleta cobradas pelo Município. Do lixo
comum em relação ao lixo reciclável, porque, para nós, indistintamente, se é
segregado ou não, todo ele é lixo domiciliar, paga-se esse valor.
O SR. DEPUTADO EMERSON KAPAZ - Separado. Não está embutido o
IPTU?
O SR. IBSON GABRIEL MARTINS DE CAMPOS - Não, ele paga um valor de
taxa e dentro da taxa de limpeza pública já está considerado o valor dessa atividade.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) - Mas existem impedimentos.
O SR. IBSON GABRIEL MARTINS DE CAMPOS - Não, no nosso
entendimento, o lixo é domiciliar. A única caracterização diferenciada é que Curitiba,
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em vez de separar o lixo domiciliar de forma única, recolhe-o de forma segregada.
Mas o lixo tem uma característica exigida pela legislação.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) - Falei em impedimento, porque
na situação de São Paulo, em determinada ocasião, foi feito o desdobramento da
taxa de recolhimento e de IPTU e houve problemas com a Justiça.
O SR. IBSON GABRIEL MARTINS DE CAMPOS - Hoje, ainda não temos
problemas, mas sabemos que a taxa está sendo bastante questionada.
Entendemos que, com esse novo processo de tarifação, se isso vier a acontecer, já
teremos equacionado o problema. Vamos sair do processo atual, até porque o
Prefeito entende que, pelos vários questionamentos existentes, o Ministério Público
tem sido muito contundente em relação ao assunto. Várias ações estão sendo
julgadas em âmbito nacional, não em Curitiba. Sabemos que, se para um desses
casos realmente houver um parecer, um posicionamento que venha desarticular o
processo adotado hoje, irá atingir todos os demais Municípios. É óbvio que há a
questão de precaução, e já estamos trabalhando nessa linha.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) - Concedo a palavra ao Sr. João
Fuzaro.
O SR. IBSON GABRIEL MARTINS DE CAMPOS - Essa seria uma das
questões que os senhores levantaram. Uma outra abordagem seria com relação ao
sistema de coletores dos catadores de lixo reciclável. Hoje, parte dos catadores
estão cooperados. Existe um trabalho da Fundação de Ação Social com todos os
coletores para que haja melhor orientação para essas pessoas. Na prática, o que
ocorre é que esse mercado, por ser informal, e claro que não há interesse por parte
da população em atuar nessa área, tem uma grande rotatividade. São pessoas que
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estão desempregadas ou que não têm outra opção de vida e acabam buscando
nesse mercado sua subsistência.
A proposta apresentada pela Comissão exige das próprias empresas ou, pelo
menos, sugere que elas trabalhem com embalagens geradas, pois são as
responsáveis pela grande quantidade de lixo coletados nos Municípios. Não se pode
apenas responsabilizar essas empresas, pois que não sabemos se elas terão como
se estruturar fisicamente para atuar nesse campo. Talvez um outro enfoque poderia
ser dado pensando-se, sim, em arrecadar recursos via algum fundo ou algo em que
se investisse nos Municípios para uma melhor estruturação dessa atividade. Com
isso seriam criadas cooperativas locais com recursos que poderiam dar assistência
e estruturação para que eles pudessem efetivamente sair das mãos dos
exploradores, que são os depósitos existentes, e pudessem ter uma estrutura
independente com uma agregação de valor em relação àquilo que hoje eles
ganham.
O SR. DEPUTADO EMERSON KAPAZ - Dr. Ibson, V.Sa. disse que a CAVO
é a empresa que coordena o sistema de coleta. Ela não tem nenhuma integração
com a coleta feita dos catadores, não tem nenhuma integração dos dois sistemas.
O SR. IBSON GABRIEL MARTINS DE CAMPOS - A integração é que todos
os catadores de Curitiba, via de regra, em função até do próprio relacionamento com
a Fundação de Ação Social, sabem dos horários exatos das nossas coletas. Existe
todo um roteiro de coleta. Então, a integração é: os coletores passam em horários,
antecipando-se à coleta formal, e recolhem todo o lixo do seu interesse.
Geralmente, o lixo coletado pelo Município é o que tem menor valor, e esse
lixo é destinado para as usinas de controle. Por que a usina da FAS funciona como
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reguladora. Ela não quer competir com o mercado, recebe uma quantidade de lixo,
faz a separação e comercializa. Mas são os depósitos que recebem a maior parte do
lixo arrecadado pelo Município. Pagam por esse lixo e o recurso arrecadado é
passado, então, para a FAS, que reinveste esse recurso junto com os próprios
catadores.
Para otimizar recursos para uma nova estrutura de limpeza pública, quero
dizer que o que estamos imaginando é uma outorga, ou seja, um repasse de
recursos, a criação de um fundo em que o consórcio venha receber da
concessionária valores que ela possa utilizar nos demais serviços que não podem
ser contemplados na concessão e não poderão ser cobrados através do sistema
tarifário, que são aqueles que não podem ser mensurados, não podem ser divisíveis.
Dessa forma, estamos visualizando a criação desse fundo para que parte do
recurso seja levantado, a fim de que os Municípios tenham suporte para dar conta
das demais atividades existentes de limpeza pública. Assim mesmo, entendemos
que parte dos valores terão de ser levantados via impostos. Ocorre que a grande
dificuldade em atuarmos com impostos é que vamos sobrevalorar esses recursos,
porque, na cobrança do imposto, um percentual terá de ir obrigatoriamente para a
saúde e para a educação. Conseqüentemente, o contribuinte estaria pagando um
valor acima daquele que efetivamente estaria sendo destinado para aquele serviço
executado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) - Concedo a palavra do Sr. João
Fuzaro.
O SR. JOÃO ANTÔNIO FUZARO - Tecnologicamente, optamos por aterros
em vala, porque, ao longo da história, quando iniciamos as ações nos Municípios,
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chegamos a implantar cerca de 30 ou 40 aterros convencionais que são construídos
em camadas, com células, impermeabilizações, enfim, da forma convencional como
todo mundo tem mentalmente desenhado. Observamos que, devido à pequena
quantidade de resíduos gerados pelos Municípios desse porte, depois de alguns
meses os aterros se transformavam em lixões. O menor trator de esteiras que
expomos no mercado tem capacidade de alterar cerca de 20 ou 30 toneladas/hora.
Esses Municípios não geram essa quantidade durante o dia, e, ao cabo de algumas
semanas ou meses, os tratores eram desviados para outras obras e os aterros se
perdiam.
A alternativa de construção em valas foi um aperfeiçoamento do que as
Prefeituras já vinham fazendo. As Prefeituras escavavam valas longas, estreitas, e
os resíduos eram colocados dentro. Ora, a filosofia de aterro é bem clara: não gerar
danos ao meio ambiente, gerar áreas superficiais pequenas para que o impacto
ambiental seja pequeno. Portanto, uma área de exposição dos resíduos também
reduzida. Os aterros em vala, então, desde que bem localizados e operados
adequadamente, atendem à filosofia dos aterros. E como equipamentos básicos são
utilizadas as retroescavadeiras, máquinas que quase todas as Prefeituras do nosso
Estado têm.
Essa foi a opção tecnológica.
Em relação à ação junto aos pequenos Municípios, como eu disse, dos 645,
temos 469 com menos de 25 mil habitantes. E o inventário de 1977 demonstrava
que cerca de 78% dos Municípios estavam em situação irregular. Praticamente em
todos eles foram assinados termos de conduta, e os inadimplentes eram justamente
aqueles que deveriam encerrar as atividades e implantar novos empreendimentos.
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Os Municípios pequenos têm uma dificuldade muito grande na implementação de
um novo empreendimento, justamente devido à falta de conhecimento técnico, à
falta de recursos para o financiamento do projeto, da pesquisa diária e da
implantação da própria obra.
Essa foi a nossa proposta ao Governador do Estado, para que proveja, por
meio de dois decretos, recursos para os pequenos Municípios. São cerca de 25 a 30
mil reais por Município. Há necessidade de contrapartida das Prefeituras, que devem
realizar parte das obras, enquanto uma parte é financiada. Esses recursos devem
ser suficientes ao financiamento dos projetos, topografia, sondagem e início de
implantação das obras. Cercamento de área, acessos e posse da área são questões
que ficam a cargo da própria Prefeitura.
Era o que tinha a dizer.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) - Passo a palavra ao Sr. Maurício
Andrés Ribeiro.
O SR. MAURÍCIO ANDRÉS RIBEIRO - O Deputado Emerson Kapaz levantou
a questão sobre o recebimento de material e de subsídios do CONAMA pela
Comissão Especial, para que se avance numa direção convergente. Vejo isso com o
maior interesse para o CONAMA, e poderia ser feito de várias formas do ponto de
vista operacional.
Primeiro, em relação às resoluções já editadas, não há problema, elas já são
de domínio público e estão, inclusive, na Internet. Todos os grupos de trabalho e
câmaras técnicas do CONAMA são abertos à participação de todo interessado. Em
alguns deles inclusive, alguns assessores do Congresso Nacional têm participado,
recebem convites com a antecedência necessária para que participem e monitorem
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o processo de gestação daquela norma, daquela resolução que está sendo
elaborada. Então, uma das formas que vejo de viabilizar essa sugestão seria
encaminharmos convite para as reuniões dos grupos de trabalho e as pessoas que
quisessem participar serão muito bem-vindas. Uma outra forma também de
integração do Ministério e do CONAMA com esta Comissão no Congresso Nacional
seria por meio da Secretaria de Qualidade Ambiental, pois que a equipe técnica
daquela secretaria é que está dedicada a esse tema dos resíduos sólidos dentro da
estrutura do Ministério e sempre tem em todos os grupos de trabalho, seus técnicos
participando e monitorando o assunto. Então, são apenas sugestões de
operacionalização da sua proposta.
Era o que tinha a dizer.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) - Antes de passar a palavra aos
Srs. Deputados, esclareço que esta reunião está sendo gravada para posterior
transcrição. Peço a todos que falem ao microfone para efeito de identificação junto à
Taquigrafia.
Passo a palavra ao Deputado Clovis Volpi.
O SR. DEPUTADO CLOVIS VOLPI - Quero cumprimentar os expositores,
fazer uma explanação genérica e depois algumas perguntas individualizadas. Essas
explanações vão servir de subsídio para que o relatório final seja transformado em
uma lei próxima da ideal. Fundamentalmente é isso. Parece-me que é uma
preocupação de todos os expositores, com exceção do representante do CONAMA,
até porque não lhe cabe isso. Há uma preocupação com a educação ambiental. Isso
é fundamental, com alguns expositores já fazendo, outros por fazer e outros visando
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alguma técnica que pudesse melhorar a situação em algumas cidades. Depois vou
tentar contradizer isso em relação ao que vem sendo feito.
Em função dessa preocupação com a educação ambiental, em Pernambuco,
não tivemos nenhuma preocupação com o lixo industrial nas exposições. Todos
ficamos de certa forma preocupados com o lixo gerado nas residências. E temos
outras obrigações até muito piores ou mais perigosas do que o próprio lixo:
vislumbrar um pouquinho o que é lixo industrial e quais são, entre os lixos gerados
pela indústria, os mais perigosos. Por se tratar de uma Comissão de análise de
resíduos sólidos, os efluentes que são gerados pela indústria podem se tornar lá na
ponta um sólido. E como vamos fazer com esse sólido? Ele vai para o aterro ou para
o aterro industrial? Como vamos trabalhar essa questão? Não vi por parte dos
Secretários nenhuma discussão em relação ao assunto nas suas exposições. Tenho
essa preocupação.
Vou fazer algumas perguntas para o Sr. Claudio José Marinho Lúcio, que é o
Secretário do Estado de Pernambuco. Essa lei criada pelo Governo e aprovada pela
Assembléia me surpreende, porque não sei quantos Municípios há hoje no Estado
de Pernambuco e quantos estão abaixo da linha de 25 mil habitantes para chegar
depois aqui em São Paulo.
O SR. CLAUDIO JOSÉ MARINHO LÚCIO - Cento e oitenta e quatro.
O SR. DEPUTADO CLOVIS VOLPI - Mais da metade com certeza. Só para
falar do assunto que abordamos, vamos esquecer o industrial, porque também não
sei qual é o parque industrial de Pernambuco, nem sei quais os produtos gerados
ou industrializados ou que matéria-prima serve para outros Estados, com exceção
da área do gesso — e V.Sa. citou a região de Araripe.
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Tenho uma filosofia, e disse aqui para o Ministro do Meio Ambiente, quando
estávamos juntos, que toda e qualquer educação ambiental não pode começar, em
hipótese alguma, pela região metropolitana de uma cidade. O começo não é por ali,
ali é o fim. O começo sempre será por cidades com menos de 25 mil habitantes,
porque é mais fácil conduzir, é mais fácil processar, é mais fácil catar, é mais fácil
instruir, tudo é mais fácil.
E em Pernambuco, se vamos ter 25 milhões para uma ordem de mais de 50%
que poderiam se enquadrar nesse caso, acredito que deveríamos ter no relatório, e
vou lutar para que isso seja inserido, um tratamento diferenciado do lixo orgânico
nas cidades menores. Poderíamos começar até por lá, porque há outros processos.
Faço um adendo aqui à questão genérica, pois que há tantos outros
processos de viabilização e tratamento do lixo que não só o aterro em vala. E há um
defeito nesse projeto. Acompanhei um pouco no interior como se faz. Há muitos
outros projetos, solução final com a produção de implementos agrícolas, há muitas
outras coisas a serem feitas e com tecnologia nacional que não temos incentivado
para que isso aconteça dentro dos Municípios. Não há incentivo para isso. Creio que
poderíamos partir por Pernambuco, fazer uma descoberta; talvez nas universidades
de Pernambuco haja alguém fazendo um estudo em relação à separação, à coleta.
Nessa operação, Secretário, não acredito que custe mais do que 30 mil reais
montar um equipamento desse, dar emprego para os catadores e tirá-los dos lixões.
Se fizermos uma subdivisão desses lixões que existem por lá e dermos emprego, a
parte física da implementação será muito barata. Precisamos de instrutores para
isso, precisamos de vontade, de instrutores e de financiamento. E V.Sas. têm
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disponibilizados aproximadamente 25 milhões por ano de ICMS para as cidades que
aderirem a esse plano.
Vou fazer uma sugestão que ela vai para o nosso relatório final: que isso se
processe com o conhecimento de técnicas para que seja iniciado por lá. Acho um
absurdo, de repente, esse recurso todo ficar em dada região metropolitana. E região
metropolitana tem amparo econômico das empresas. Não há uma empresa no
mundo que se vá interessar por uma cidade em Pernambuco para catar uma ou
duas toneladas de lixo por dia. A empresa não tem interesse; ela vai ter interesse em
Curitiba, em São Paulo, região metropolitana de São Paulo, nas cidades que têm
mais de 100 mil habitantes. A preocupação tem de ser dos órgãos governamentais.
Essa tem de ser a nossa preocupação, caso contrário não vamos resolver o
problema. Não me vou estender mais, mas tenho esse pensamento, que servirá
depois para um pré-relatório final, no qual vamos discutir esses casos.
Em relação ao lixo industrial, no caso de São Paulo, creio que existe maior
rigor. No que diz respeito às notas dos aterros, pergunto: por exemplo, existe um
aterro que tem nota 5. O que significa isso? E se ele tem nota 5, qual é a
implementação que a CETESB faz para que ele vá para a nota 8, 9 ou 10? Qual é o
controle disso? Sei que há notas e sei que alguns têm nota, por exemplo, 5, mas
eles continuam lá. É o caso do Aterro de Itaquaquecetuba, que deve ter uma nota,
do meu ponto de vista, até abaixo que 5. Mas não sei que nota ele tem e qual é a
gestão que o órgão, a CETESB ou a Secretária de Meio Ambiente está fazendo para
que ele melhore e se isso é possível.
Acho importante a questão do aterro em vala, principalmente no Estado de
São Paulo — não sei os outros Estados. As cidades com menos de 25 mil habitantes
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são normalmente de produção agrícola, são cidades pequenas. Não há na região
metropolitana e em nenhuma região produção industrial. São cidades pequenas que
têm produção agrícola. Embora o aterro em vala, a meu ver, seja bom, do ponto de
vista de aparência, toda vez que se abre uma vala é feita uma análise de solo para
que ele possa ser considerado impermeabilizante do aterro, senão, vamos ter, por
pequena que seja, uma produção de chorume. Algumas cidades que fazem esse
aterro vão para perto do rio. O Prefeito diz assim: “Oh, põe lá pertinho, lá naquela
coisa.” Eu vejo um monte de lago, um monte de riacho que estão fazendo lá depois
de aprovado. Tenho essa preocupação. Conheço duas que estão fazendo isso.
Quero saber se há análise do terreno, o projeto de 25 mil. Lá dá quanto para a
cidade: 20 ou 25 mil? Acho que poderíamos também, por serem cidades
eminentemente agrícolas, encampar algum processo de produção e outras
alternativas.
Em relação à CETESB, vou fazer uma pergunta que é uma curiosidade: por
que há tantas dificuldades para se aprovar novas tecnologias de tratamento de
resíduos industriais? E por que há necessidade de que o empreendedor, que cria
uma nova tecnologia, primeiro monte o equipamento ou a planta — e isso
normalmente custa 1 milhão de dólares a 2 milhões de dólares — para depois ser
aprovado? Conheço casos de pessoas com empreendimentos de 2 a 3 milhões
parados que não conseguem, em hipótese alguma, desenvolvê-los. Talvez tenham
feito no lugar errado e não fizeram contato. Isso pode ter acontecido, não sei de
detalhes, mas em relação a novas tecnologias há muita dificuldade de análise. E
ninguém deve fazer investimentos, do meu ponto de vista, para implantar primeiro a
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estrutura física, a planta, para depois receber o alvará de funcionamento. Não se
encontra empreendedor para isso.
Faço esse questionamento porque conheço dois ou três casos de pessoas
que se arrependeram, e, ao contrário disso, sei que em função daquela planta
algumas indústrias dizem que fazem o tratamento dos seus efluentes, levam para
empresas que dizem que fazem o tratamento do seu efluente e nós sabemos da
recuperação de alguns metais. E, pessoalmente, creio que V.Sas. também sabem
que isso vai ser feito dentro de parâmetros.
Em relação ao CONAMA e também aos outros órgãos, precisamos começar a
trabalhar, segundo meu ponto de vista — e já disse isso aqui da outra vez —, com
parâmetros. Precisamos de parâmetros de deposição de metais, parâmetros para
tratamento disso, números que viabilizam tecnologias que possam alcançar aqueles
parâmetros e trabalhar mesmo com tabelas. Esperamos que isso seja inserido em lei
para que as empresas possam dimensionar aquilo que produzem aos parâmetros
não só de tendência nacional, mas algumas até internacionais, porque esses
parâmetros muitas vezes são contestados pelos órgãos de liberação de licenças e
pelos técnicos e inviabilizam, às vezes, volto a dizer, novas tecnologias de
tratamento. Acho que essa pergunta é genérica para todos, a fim de que possamos
ter uma idéia sobre parâmetros.
Em relação à Curitiba, é claro que gostei do que vi, da reação daquela cidade.
Curitiba tem uma relação com o resto do País muito diferenciada também, mas, volto
a dizer: como funciona nas cidades pequenas?
O processo de concessão, abordado por V.Sa., é muito difícil de acontecer. E
não deve nem estar inserida em nosso relatório a concessão de direito do cidadão
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pagar coleta, porque ele vai acabar não pagando, embora o valor seja muito claro.
Creio que, em relação àquela teoria de que isso seja transformado numa taxa — e,
às vezes, há questões jurídicas para se cobrar isso —, temos de achar sempre um
valor real médio para o País a fim de que seja cobrado. Se o cidadão produz meio
quilo de lixo orgânico doméstico por dia, mais ou menos, creio que esse valor no
final é muito pouco e todos poderiam contribuir com isso.
Então, em relação à Curitiba, não ficou claro para mim, Sr. Ibson. V.Sa. disse
que teríamos três propostas para implementação de um novo aterro. Quais seriam
as três propostas para que possa anotar, porque eu me perdi um pouquinho quando
fui presidir os trabalhos devido à ausência do Deputado José Índio. Em relação ao
CONAMA, ficou apenas aquela parte genérica dos parâmetros. Como poderíamos
trabalhar com a questão dos parâmetros?
Não fui extenso, não é, Sr. Presidente?
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) - Em absoluto, foi claro.
Os demais Deputados que se inscreveram farão os seus questionamentos,
depois os Secretários responderão.
Com a palavra o Deputado Ivan Valente.
O SR. DEPUTADO IVAN VALENTE - Sr. Presidente, Srs. Deputados,
senhores convidados, infelizmente não vou poder ficar para a resposta, porque
tenho uma viagem marcada.
O SR. DEPUTADO CLOVIS VOLPI - V.Exa. me gozou, porque queria falar da
sua viagem.
O SR. DEPUTADO IVAN VALENTE - Não gozei V.Exa. V.Exa. falou demais,
por isso não posso ouvi-lo.
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O SR. DEPUTADO CLOVIS VOLPI - Quando se fala demais, corretamente e
se faz questões, tudo bem. O duro é quando se fala demais e se fala bobagem, aí
fica ruim.
O SR. DEPUTADO IVAN VALENTE - Uma questão que me tem preocupado
muito, e ouvi os Secretários comentarem, é a seguinte: há três princípios que estão
citados na proposta da CETESB que realmente são princípios gerais:
responsabilização pós-consumo — e isso vale para qualquer um dos debatedores —
, responsabilização por danos causados pelos agentes econômicos sociais e adoção
do princípio do poluidor pagador. Uma questão que me parece importante é a
seguinte: em relação a todas as denúncias que têm aparecido aí, e já são bastantes,
e todo levantamento que existe, quero que o debatedor da CETESB explique a
existência de uma lista de mil depósitos de resíduos industriais e tóxicos no Estado
de São Paulo. Há uma lista.
O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO - Há uma lista de cinco mil áreas
contaminadas.
O SR. DEPUTADO IVAN VALENTE - Na Comissão?
O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO - Na Comissão Especial que
investiga áreas contaminadas.
O SR. DEPUTADO IVAN VALENTE - Exatamente. Estou entrando com um
requerimento de informações a V.Sas., em São Paulo. Gostaria que a CETESB
respondesse a esse ofício. Quero saber se existe essa lista e quero ver o
levantamento. Temos essa informação. É muito grave essa situação e a fonte
poluidora realmente não contribui hoje, em termos gerais, para o resgate do meio
ambiente e da saúde pública. Esse é um dos pontos centrais de um relatório e de
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uma política nacional de gerenciamento de resíduos sólidos. Quero saber o
seguinte: como funciona hoje nos Municípios e nos Estados essa questão? Há
cobrança de uma taxa que está embutida, às vezes, no IPTU. A política moderna de
quem consome mais, deve pagar mais, é difícil medir isso. Como se pretende
trabalhar essa questão, tanto do ponto de vista do cidadão quanto do ponto de vista
da pessoa jurídica, da empresa? Isso não está muito claro. E, também, como se
coaduna a política de resíduos sólidos? É uma questão para resolvermos aqui,
Deputado Emerson Kapaz, com a lei de crimes ambientais, que já existe. Já há uma
lei de crimes ambientais, e agora estamos falando em responsabilização e punição.
Essa é uma questão importante.
Em minha opinião, a questão do lixo é de tamanha gravidade, particularmente
nas áreas urbanas, mas também em algumas áreas rurais, que deveria estar na mão
do Estado, já que atinge a saúde pública, a defesa do meio ambiente e o bem-estar
geral da população. Essa é minha posição.
O lixo virou uma atividade extremamente lucrativa. É só verificar o que
acontece por aí. Não tenho certeza se é um serviço que deva ser terceirizado. Acho
que deveria ficar na mão do Estado, porque envolve a saúde e a segurança da
população e a responsabilização de agentes públicos e privados. Sendo assim, é
por demais importante para o conjunto da população para que fique na mão do setor
privado.
Tenho minhas dúvidas, mas gostaria de ouvi-los sobre isso, inclusive o
Conselho Nacional de Meio Ambiente.
Obrigado.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) – Passamos a palavra ao
Deputado Luciano Pizzatto.
O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO – Obrigado, Sr. Presidente.
Agradeço a gentileza aos expositores que estão discutindo essa bela
proposta do Deputado Emerson Kapaz, que esta Comissão, sem dúvida, ainda
poderá aprimorar e muito.
O que cumpre acrescentar ao exposto aqui sobre a situação em diversos
locais do País é que esta Comissão está tratando de resíduo, e resíduo não é lixo;
resíduo pode ser lixo. O fundamental é termos em mente essa ótica, porque se
considerarmos resíduo como lixo, o tratamento da norma, da lei que vamos fazer é
totalmente diferente daquele que pretendemos fazer, qual seja, uma política de
resíduos que leve em consideração todo o processo industrial, comercial, de
subsistência de grande parte da sociedade e uma série de outras variáveis que
estão inseridas no contexto do resíduo.
Não há dúvida de que a questão do resíduo como lixo na área urbana, cuja
reciclagem direta seja impossível... Hoje todo lixo pode ser reciclado, podemos
transformar todo o lixo orgânico de uma cidade em tijolos, como é feito na Inglaterra.
O custo de energia é que é discutível, pois gerar o plasma para formação desse
tijolo talvez nos custe muito mais do que todo o processo. Mas hoje não há mais
nada que possamos considerar lixo no sentido de absolutamente descartável para a
sociedade. O que temos é um descarte momentâneo, mais longo ou menos longo.
Talvez um descarte para ser incorporado em cinco, dez, quinze ou vinte anos, ou um
descarte para cem, duzentos, trezentos anos. É uma questão somente de escala.
Como, infelizmente, nossa escala de vida é de sessenta, setenta ou oitenta anos,
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algo insignificante em relação ao universo, acabamos considerando as questões
numa ótica muito mais drástica do que efetivamente deve ser feito.
Creio que a lição que estamos tendo aqui é a de olhar o processo: como o
resíduo pode ser diminuído em termos de sua deposição final na forma de lixo e
quanto pode ser aumentado na forma de matéria-prima, porque esse, sim, é o
processo racional, até mesmo para diminuir a pressão sobre as fontes de matérias-
primas, especialmente as naturais, as renováveis e as não-renováveis, no caso de
metais e outros.
Segundo essa ótica, mesmo considerando o posicionamento dos demais
Deputados, creio que a iniciativa privada tem responsabilidade e interesse muito
grandes. A questão do interesse é fundamental, porque, se não houvesse interesse
da sociedade, o Brasil não teria, por exemplo, índice de reciclagem de latas de
alumínio mais alto do que os Estados Unidos. Isso ocorre, em primeiro lugar, porque
é fonte de renda para as pessoas pobres — e uma bela renda! —; em segundo,
porque há interesse de toda a sociedade brasileira. Se não houvesse, não teríamos
esses índices excepcionais. Em algumas regiões, inclusive na temporada de praia —
como ocorre lá no Sul, porque não vivemos à beira do mar e temos uma temporada
de praia —, os catadores de lata brigam para garantir seu direito de buscar a latinha
e, com ela, conseguir, às vezes, renda para o ano inteiro. Imaginem as
conseqüências disso em relação à otimização e diminuição de custos da siderurgia,
da exploração do alumínio in natura etc. Então, esse interesse precisa ser discutido
profundamente na Comissão. E a proposta que vamos depois discutir e aprimorar
tem de considerar o resíduo por essa ótica.
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Olhando com essa visão ampla, eu gostaria muito de pedir uma opinião
rápida dos quatro expositores sobre as dificuldades que todos encontram na
aplicação de suas propostas frente às legislações municipais e estaduais. Temos
dificuldades nas leis orgânicas do Município, nas Constituições Estaduais e outras.
Eu gostaria de uma opinião rápida sobre as suas dificuldades na região e na área
em que trabalham.
Especificamente ao representante do CONAMA pergunto se uma legislação
daquele órgão, não existindo lei federal, revoga uma lei estadual, considerando o
que determina a Constituição brasileira no seu princípio da legislação concorrente, o
qual determina que a norma do Estado substitui ou complementa a norma federal e
que, não existindo uma lei federal, obviamente se aplica a lei estadual. Eu gostaria
de saber se uma resolução do CONAMA revoga uma lei estadual. Isso é muito
importante em função de alguns conflitos.
O terceiro questionamento é sobre a normatização que está sendo feita.
Refiro-me ao que já foi dito aqui sobre a questão dos parâmetros. Fico abismado
com os procedimentos adotados por técnicos de órgãos públicos, os quais exigem
que o engenheiro de determinada empresa vá lá explicar ou mudar o tamanho da
engrenagem, o tipo de chaminé que ele usa etc., quando isso nada tem a ver com o
processo de fiscalização e controle do Poder Público. O que o Poder Público tem de
fazer é fixar o tipo de emissão que ele aceita e permite, os parâmetros — isso foi
muito bem observado aqui — que a sociedade brasileira aceita.
Se esses parâmetros são atingidos apenas com o uso de um monte de lixo e
uma caixa de fósforo, o cidadão atingiu o parâmetro. Se a queima ao ar livre atingir o
parâmetro exigido pela legislação, ótimo. Se, em contrapartida, forem necessários
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filtros eletrostáticos ou qualquer outra fórmula que exija bilhões de dólares de
investimento, esse é um problema do empreendedor. Ele tem de atingir o parâmetro.
Não cabe mais ao tecnocrata discutir a forma da estrutura física, a não ser que haja
outra discussão arquitetônica ou de parâmetro de construção da Prefeitura, de
posturas etc. Não havendo isso, creio que cabe ao órgão público e ao órgão
normatizador e regulamentador da lei que iremos fazer, e até mesmo nessa lei,
determinar os parâmetros de qualidade ou de emissões que a sociedade brasileira
deseja ou aceita.
Não podemos legislar sobre o tipo de tecnologia porque até o início do século
XIX a tecnologia evoluía a cada trezentos anos; no século XX evoluiu a cada década
e no século XXI evolui a cada segundo. Tanto que o art. 2º da proposta que dispõe
sobre o comércio eletrônico que apresentei nesta Casa determina que o juiz, ao
julgar uma causa, deverá levar em consideração a tecnologia utilizada naquele
momento, porque não há lei feita pelo Congresso que consiga dizer qual tecnologia
de informática existirá daqui a meia hora — e uma lei demora cinco anos para ser
feita. O mesmo não pode acontecer nas normas que estamos elaborando, tanto
nesta Comissão quanto no CONAMA, nas secretarias etc. Creio que temos de nos
limitar a parâmetros, a características, a condições, a princípios e não
especificamente ao tipo da atividade.
Vou dar somente um exemplo final sobre isso. Sou engenheiro florestal e,
quando fui Diretor do IBAMA, enfrentei uma briga imensa para conseguir mudar uma
característica em relação a plano de corte de floresta plantada. Trata-se do pedido
para cortar uma floresta de pinus ou eucalipto que se plantou para esse fim, e ainda
assim é preciso pedir ao Governo permissão para cortar. É o mesmo que plantar
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feijão e pedir ao Governo autorização para colhê-lo. Mas o técnico do IBAMA —
IBDF na época — só aceitava o plano de corte se o engenheiro florestal pedisse um
corte de 40% da área. Se fosse mais, ele não aceitava; se fosse menos, ele não
aceitava. Ora, quanto vai ser cortado é uma decisão do engenheiro. Podem ser 20,
30, 40, 50, 60% ou um corte total. Mas se não estivesse dentro dos critérios — e aí
não se trata mais de limites e padrões de emissões, mas do critério, formulário,
tamanho, tipo de página etc. — não se aprovava. Essa não é uma legislação que
realmente traga benefícios ao profissional da área e à sociedade brasileira e
estimule o desenvolvimento de tecnologia. Nós, que tratamos dos resíduos,
devemos tomar esse cuidado.
Quanto à questão da privatização ou não do sistema, acho que Curitiba teve
uma grande lição nessa última eleição. A administração da cidade que era
considerada a Capital ecológica do Brasil sentiu que a sociedade, mesmo admirando
seu trabalho, não via a cidade só como Capital ecológica, mas, sim, como um ente
que precisava ter maior preocupação com a questão social, o que levou a Prefeitura
até a mudar o seu slogan de Capital ecológica para Capital social. Sendo assim,
todas as discussões sobre Curitiba hoje relacionam-se ao problema social.
Quando propomos aqui um modelo para discussão segundo o qual o
contribuinte vai ter de pagar por sua efetiva emissão de resíduos, o que estamos
seguindo é o princípio do poluidor pagador, aceito por todos. E por que não ser
aceito para o lixo? Quando estipulamos uma taxa média do lixo para ser paga, por
exemplo, junto com o IPTU, não estamos fazendo com que o rico subsidie o pobre,
estamos fazendo com que o pobre subsidie o rico. É a inversão absoluta dos
princípios sociais deste País e a quebra absoluta do princípio do poluidor pagador.
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Acredito ser por isso que Curitiba está propondo que quem polua ou emita resíduo
pague proporcionalmente a essa emissão. Esse é o sistema e o modelo que creio
estar em discussão em Curitiba. Eu gostaria até de um esclarecimento do Dr. Ibson
sobre se realmente é essa a visão. Ou seja, estamos aplicando em Curitiba o
conceito do poluidor pagador, estamos aplicando em Curitiba um modelo social em
que o rico deixa de ser subsidiado pelo pobre.
Por último, gostaria de uma opinião do representante da CETESB. Presido o
grupo especial que investiga algumas áreas contaminadas em São Paulo,
especialmente Paulínia, e agora estendemos para o aterro Mantovani, Mauá e
outras áreas. A informação que recebemos inicialmente — embora exagerada, não
deve estar muito longe da realidade — é de que São Paulo deve ter em torno de 5
mil áreas contaminadas. Isso nos leva a pensar o seguinte: São Paulo foi o maior
pólo industrial. São Paulo é inteligência nossa em termos de desenvolvimento. São
Paulo é o nosso paradigma em organização empresarial. Sou empresário, tenho
quinze empresas; portanto, admiro os empresários e a nossa Federação das
Indústrias do Paraná, assim como admiro a Federação das Indústrias de São Paulo.
Mas como foi que isso aconteceu? Quem levou esse lixo, essa contaminação a 3
mil, 4 mil, 5 mil ou 10 mil pontos em São Paulo? Onde estavam a responsabilidade
social e a capacidade de fiscalização do Estado de São Paulo, que tem o melhor
sistema implantado de fiscalização, controle e monitoramento ambiental do País e é,
no mínimo, o que tem maiores recursos para enfrentar também os maiores
problemas? O que foi que aconteceu? Por que tudo isso passou despercebido?
Se existem 4 mil, 5 mil ou 30 mil áreas contaminadas, é porque a indústria
gera resíduos contaminantes. Que solução está sendo adotada neste momento?
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Onde está sendo colocado esse resíduo? Espero que não esteja mais sendo
depositado ilegalmente, de maneira contaminante. Qual é a norma que a CETESB
está adotando para assegurar que essas toneladas de resíduos diários estejam
sendo corretamente depositadas, controladas, guardadas ou recicladas? Eu gostaria
de ouvir uma resposta muito sincera do representante da CETESB.
A respeito do questionamento feito a todos os convidados, solicitaria um
comentário do representante de Pernambuco apenas sobre as diferenças sociais e
econômicas que temos na Região Nordeste frente às propostas que estão sendo
apresentadas. Pergunto se o senhor acredita que haja um óbice social na
implementação da legislação e se nós, Deputados, deveríamos pensar um pouco
mais nas diferenças sociais e regionais ao fazermos uma norma, seja lei de crimes
ambientais, seja o Código Florestal, seja qualquer outra — que isso sirva de alerta
ao Deputado Emerson Kapaz —, ou se o senhor acha que o Brasil pode enfrentar de
maneira igual as normas que estamos fazendo.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) – Concluída a fase de
intervenção dos Srs. Deputados, inicialmente passamos a palavra ao Sr. Claudio
José Marinho Lúcio para suas respostas.
O SR. CLAUDIO JOSÉ MARINHO LÚCIO – Obrigado, Sr. Presidente, Srs.
Deputados, por nos permitirem, com suas perguntas, dar esclarecimentos sobre
nossas exposições.
Começo pelas questões levantadas pelo Deputado Clovis Volpi, que são
muito relevantes. Eu gostaria de abordar as três: a da educação, a do resíduo
industrial e a dos pequenos Municípios.
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Em relação à educação ambiental, V.Exa. deve ter percebido que há forte
preocupação com esse aspecto na política de meio ambiente adotada no Estado de
Pernambuco. É um dos componentes fundamentais da nossa política de resíduo
sólido e está não só na política, mas também nos programas. Temos programas de
educação ambiental que atingem desde o órgão de gestão ambiental até a escola
pública. Qual é a evolução que fazemos nesse item, na política de resíduos sólidos?
Uma evolução importante. Faz parte da política a determinação de que o currículo
dos cursos da escola pública — é bom mencionar este dado aqui para o caso
nacional — inclua a educação ambiental como obrigatória. Isso faz parte da nossa
política. Aliás, estou deixando com o Relator, Deputado Emerson Kapaz, cópia da
legislação, que, acredito, responderá melhor às perguntas, porque não podemos
detalhar tanto. Este é um item para o qual eu chamaria a atenção: a educação
ambiental como parte da política.
Segundo item: lixo ou resíduo industrial. Há todo um artigo no Plano de
Gerenciamento de Resíduos Sólidos em que temos grandes convergências com a
política nacional, mas há uma especificidade na política de Pernambuco que eu
apontaria para o Deputado Clovis Volpi. Definimos que, nos poucos artigos que
deveríamos ter na política, pelo menos na questão do lixo industrial, faríamos
constar uma listagem. Chamo a atenção, quando V.Exa. tiver acesso à legislação,
para o art. 20, no qual listamos a obrigatoriedade da apresentação de um plano de
gerenciamento de resíduos sólidos.
No Ato das Disposições Constitucionais Transitórias damos um prazo de nove
meses às empresas e às indústrias e de um pouco mais aos pequenos Municípios,
aqueles com menos de 50 mil habitantes, para apresentarem aos órgãos de gestão
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ambiental seu plano de gerenciamento de resíduos sólidos. No caso das empresas,
temos uma listagem daquelas que merecem atenção especial da política. Então, há
um capítulo, há algo sobre isso, porque é relevante. V.Exa. tem toda a razão.
Mesmo em um Estado com industrialização não comparável à de outros Estados há,
é claro, problemas de poluição, de lixo, de resíduo industrial.
A terceira questão refere-se aos pequenos Municípios. Segundo nossa ótica,
V.Exa. tem uma proposta muito interessante. Quero informar, então, Deputado
Clovis Volpi, o seguinte: além de a questão dos pequenos Municípios estar coberta
na política, através de incentivos aos consórcios, ela está muito mais explícita na
legislação do ICMS socioambiental. Um Município de pequeno porte — e V.Exa. já
disse isso sobejamente — não vai ter condições de fazer sem parcerias econômicas
etc. Se ele consorciar-se com outros três ou quatro, começa a aparecer no mapa
daqueles que fazem análise de viabilidade econômica. Nos cinqüenta Municípios a
que me referi, cujos Prefeitos e Secretários já nos procuraram, há uma clara
intenção de ganhar em escala para virarem interlocutores do ponto de vista
econômico e, por outro lado, do ponto de vista operacional, poderem, de fato, fazer a
gestão ambiental dos resíduos: coleta e destino final. Então, há um incentivo na
própria legislação para que isso aconteça. Esse incentivo ocorre da seguinte forma
— e aqui entro na questão do lixo orgânico a que V.Exa. se refere; sobre a
regulamentação, também deixei cópia com o Relator: pela legislação do ICMS
socioambiental, o Município é estimulado a ter aterros sanitários e usinas de
compostagem. Aqueles que têm usinas de compostagem têm de tê-las — na
regulamentação está claro — associadas a um aterro sanitário. Isso para não
aparecer um sabido que faz a pequena usina de compostagem, não tem o aterro, e
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com isso se qualifique. Então, ele tem a usina de compostagem, mas se o vizinho
tem o aterro sanitário e com ele está consorciado, ele está estimulado a fazer isso.
Isso significa uma divisão de tarefa entre pequenos Municípios: aqueles que têm
uma base agrícola, por exemplo, em que uma usina de compostagem tem uma
utilização imediata no mercado local, vão estar estimulados a tê-las em consórcio
com outros. Então, há todo um mecanismo de estímulo à utilização desses tipos de
equipamentos.
Ao Deputado Ivan Valente, que já saiu, quero falar sobre uma discussão que
foi depois secundada pelo nobre Deputado Luciano Pizzatto, do Estado do Paraná,
que é a questão da privatização. Há privatizações e privatizações. O nobre
Deputado Luciano Pizzatto, sendo empresário, já trouxe alguns outros elementos
para a discussão, que é importante. A privatização feita com órgãos reguladores
fortes é distinta da feita com órgãos reguladores fracos, com legislações frágeis. O
que estamos constituindo no País neste momento, em alguns Estados — naqueles
cinco, pelo menos — e nessa legislação nacional, é um ambiente institucional forte
do ponto de vista da política e da legislação. Precisamos ter, no entanto, instituições
fortes para implementá-lo. E isso significa que elas têm de ser sustentáveis:
Municípios, órgãos gestores estaduais ou outros. A sustentabilidade desses órgãos
não se dá hoje, neste País, sem uma discussão pública e privada.
O ICMS socioambiental que criamos é uma redistribuição difícil de fazer, mas
que conseguimos fazê-la na base fiscal. Vejam: criam-se recursos. o Deputado
Clovis Volpi refere-se aos 25 milhões, que são extremamente significativos. A
manchete que eu trouxe representa isso. Os principais Prefeitos estão mobilizando-
se e percebendo a oportunidade. E é uma indução criada por V.Exas. os
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legisladores. V.Exas. têm o poder de fazê-lo. Vejam que o mais difícil é criar o que
está proposto na lei, que é um fundo. A redistribuição fiscal, por exemplo, do FPM —
vejam que, se fizermos uma correlação, isso significa uma redistribuição de ICMS, a
quota municipal. V.Exas. têm o FPM, que é um instrumento. Por que não trabalham
a redistribuição dentro do FPM segundo critérios desse tipo? Seria algo similar ao
que fizemos e não a criação de um novo fundo. Não que eu não apóie integralmente
a criação de fundos; são importantes, mas com eles é muito mais difícil captar
recursos, porque é preciso criar esses recursos. Com a Lei de Responsabilidade
Fiscal, mais ainda. Então, a questão é: já que não podemos fazer o que seria
conveniente do ponto de vista de gestão pública, aquela história para responder a lei
fiscal de base zero, em que zerássemos as distorções que temos e depois
redistribuíssemos, já que nunca vamos poder fazer isso, empregamos uma margem
pequena: 3% dos recursos do ICMS, que hoje correspondem a 75 milhões de reais
em Pernambuco, vão ser, a partir de 2002, redistribuídos segundo critérios
socioambientais. Então, o trabalho na margem tem um simbolismo importante.
Minha proposta é que se considere também esse elemento. Mas a
sustentabilidade é fundamental: criação desses recursos ou de recursos na
interação público-privada, em que os interesses dos investidores têm de ser levados
em conta. Se tivermos instituições reguladoras e legislação forte, podemos ter uma
relação público-privada de benefício para o País. Caso contrário, teremos riscos.
A quarta observação que tenho diz respeito ainda às perguntas do Deputado
Luciano Pizzatto. S.Exa. pergunta a respeito das dificuldades da legislação local.
Não as tivemos. Credito isso, repito — já o disse na apresentação —, ao espaço de
discussão democrática para o qual levamos a discussão da nova legislação, seja no
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Conselho Estadual de Meio Ambiente, seja em diversos workshops que fizemos
com o envolvimento de Deputados etc. Quando a legislação chegou à Assembléia,
repito, apenas um artigo teve sua redação refeita, sem grandes modificações. O
consenso em relação a ela já era grande. Parte do sucesso tem a ver com a redução
dos artigos, as minúcias etc. Tem a ver com a redução porque essas minúcias não
foram perdidas na regulamentação: todas estão recuperadas. Então, vamos discutir
a listagem, o mergulho, a distribuição percentual por produto, que vejo aqui na
proposta preliminar, como diz o Deputado — e é bom que haja para mostrar que é
importante —, mas vamos transferi-los para a regulamentação, que não dá tanto
problema na legislação.
Finalmente, reporto-me à questão dos parâmetros. Acho que o Deputado
Luciano Pizzatto tem toda a razão em relação à discussão desse assunto. Se não
modernizarmos os órgãos de gestão ambiental ou de gestão de qualquer outro
setor, vamos continuar com dificuldades em todas as áreas.
No que se refere à área ambiental, temos esse problema. Temos ainda não
uma legislação, mas normas internas nos órgãos estaduais — de que posso falar —
de gestão ambiental que estão muito mais voltadas ao processo. Se conseguirmos,
na legislação, de forma bastante objetiva e direta, definir exigências em relação a
resultados, como propõe o Deputado, melhor para todos. Sei que é extremamente
difícil, porque vai impactar a cultura de gestão pública, mas é um caminho que
precisamos trilhar necessariamente. Se formos olhar a questão de resíduos sólidos,
especialmente nesse caso, os parâmetros em relação a resultados é fundamental.
Acho que com isso encerro essa questão, menos no que diz respeito às
diferenças regionais. Acho que sim, que tem de haver algo, mas não uma
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qualificação na legislação que diga que na região tal deve ser isso e aquilo. Não, o
problema do resíduo lixo tem dimensão nacional, ele não tem qualificações. A
indústria que está em São Paulo está em Pernambuco, produzindo e poluindo o
mesmo tanto. Então, ela tem de ser regida por uma legislação que a contemple aqui
ou lá.
No entanto, algumas questões regionais que incluímos na política, como o
aspecto da educação ambiental do catador, por exemplo, dos residentes dos lixões,
são diferenciadas. Aí é preciso atenção especial, e não sei como fazer isso na
legislação nacional. Quer dizer, talvez se devesse dar uma tonalidade mais genérica
às questões da responsabilidade social. Mas sou contra a regionalização da
legislação. É como se tivéssemos cidadãos de primeira e segunda categorias. Na
realidade, sofremos com a poluição do mesmo jeito que sofre o cidadão de São
Paulo.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) – Com a palavra o Dr. João
Fuzaro.
O SR. JOÃO ANTÔNIO FUZARO – Sr. Presidente, dividi os assuntos em
grandes grupos e vou tentar seguir a ordem do que os Deputados questionaram.
Com relação à educação ambiental, a Secretaria de Estado e Meio Ambiente
tem uma coordenadoria que só cuida de educação ambiental, a CEAM. Ela vem
atuando diretamente nos Municípios ou através dos núcleos de educação ambiental.
Então, há, sim, uma atuação, mas os resultados demoram mesmo para surgir. A
história mostra que a população ansiava por água tratada. Mas resíduo não é uma
coisa prioritária ainda, infelizmente, em termos de população. É um anseio da
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comunidade e daí o resultado ser a coleta. A população deseja a coleta. No caso do
Estado de São Paulo, em todas as cidades há coleta. Portanto, 94% da população
urbana tem o serviço de coleta. A média é de 70% no Brasil.
Com relação a aterros em valas, de fato essa não é a melhor tecnologia. Ela
foi implantada porque tentamos caminhos de tecnologias melhores, e não surtiram
tão bom resultado quanto parece. Se for bem implantado e bem operado, atende,
sim, às condições ambientais. E com relação à análise de solo, o licenciamento
ambiental garante que as áreas sejam devidamente analisadas tanto pelos técnicos
da CETESB quanto do Departamento Estadual de Proteção dos Recursos Naturais,
que avaliam os recursos naturais, como, por exemplo, as matas, os rios, as
nascentes e outros. Os solos também são analisados. É feita a sondagem do solo,
na qual se determina o nível do lençol freático, porque essa seria a condição mínima
para se escavar uma vala, e o coeficiente de impermeabilidade do solo. Então, sem
essa segurança não é feito o aterramento em valas.
No Estado de São Paulo há grandes regiões com formação de arenito. Há
uma norma brasileira que determina que os aterros não podem ser implantados
antes de serem avaliados os coeficientes de impermeabilidade. Só que excluiríamos
metade do País se fôssemos adotar essa norma. Essa é uma questão muito
delicada para ser tratada de maneira tão genérica.
Quanto às novas tecnologias, comentadas pelo nobre Deputado, por que não
aproveitar a vocação dos Municípios no que diz respeito à atividade agrícola?
Concordamos também e essa é uma meta da Secretaria de Ciência e Tecnologia,
em cumprimento à determinação do Governo do Estado.
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As Prefeituras não têm demonstrado — e desculpem-me se parecer um tanto
rude nessa observação — capacidade ou habilidade de operar um simples aterro em
vala. E um empreendimento de tratamento de resíduos, como seria o caso de uma
usina de compostagem, requer estruturação. Então, a implantação de um aterro
sanitário fundamenta-se, primeiro, como já disse o representante de Pernambuco,
no seguinte: todas as alternativas tecnológicas geram rejeitos e estes rejeitos têm de
ir para o aterro sanitário. Essa é a primeira questão.
A segunda questão: uma Prefeitura que não tem uma equipe técnica
estruturada para acompanhar um cronograma de obras, com recursos financeiros e
com pessoal técnico habilitado para interpretar e avaliar a grandeza de um projeto
não consegue implementar unidade nenhuma. O Ministério do Meio Ambiente
financiou 120 usinas no País, mas 100 estão fechadas.
No Estado de São Paulo não é diferente. Tínhamos, em meados de 1990,
cerca de 34 usinas operando e hoje temos 14. As outras estão fechadas. Isso ocorre
porque as Prefeituras fundamentam-se em observações dos vendedores, que
evidentemente são falaciosas, e depois de algum tempo as pessoas percebem que
lixo não dá lucro. Essa é a grande questão. No mundo, todo lixo custa dinheiro — e
custa muito. E quanto melhores forem a tecnologia e a proposta, torna-se mais caro
para os Municípios. No caso do Estado de São Paulo posso afirmar, com toda a
segurança, que isso extrapola o restante do País, porque as Prefeituras não sabem
sequer o quanto gastam e muito menos o quanto arrecadam. Essa foi uma das
constatações feitas no encontro Cidades Sustentáveis. Ora, se não há uma receita
definida, como manter em operação algo que vai custar três vezes o custo do próprio
aterro?
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Portanto, não há dificuldades na implantação de novas tecnologias no que se
refere ao tratamento de resíduos. Apenas alguns questionamentos são
fundamentais. Isso porque nós, órgão de controle ambiental, somos sempre
cobrados e questionados sobre o que é feito. Tanto que, por incrível que pareça, há
o procedimento no sentido de que o órgão de controle seja penalizado se houver
poluição no Município ou na indústria. Então, a pessoa denuncia e assume a própria
culpa, e o órgão de controle é o culpado. Então, se há algum aterro licenciado do
lado de um rio, por favor, nobre Deputado, informe-me porque esse gerente vai ter
de responder por isso.
Novas tecnologias no campo industrial também requerem cuidados. Gostaria
que V.Exas. tivessem uma permanência dentro de um órgão de controle durante
algum tempo para verificar as propostas apresentadas. São propostas que vêm com
selo alemão, japonês, americano. Na verdade, são lixo tecnológico dos outros
países que tentam empurrar para o nosso. E se não tivermos critério em termos de
exigências técnicas, iremos enfrentar problemas muito graves, não só ambientais,
mas também financeiros. O processo de licenciamento ambiental deve assegurar
que haja avaliação da compatibilidade entre o empreendimento e o local. Isso deve
ser avaliado na fase do relatório ambiental preliminar, do EIA-RIMA.
A confirmação de que aquele empreendimento é viável não é apresentada
após a implantação do empreendimento, mas muito antes disso. Ele deve ser
apresentado enquanto projeto, antes que se obtenha licença ambiental de
instalação. Então, se o empreendimento não consegue demonstrar no papel a
viabilidade tecnológica, com segurança pode-se dizer que será um empreendimento
de risco depois das paredes edificadas. Então, exigimos o quê? Não damos o
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alvará, senão após a implantação. A licença prévia avalia as questões do EIA-RIMA,
a compatibilidade entre o empreendimento e o local. A licença de instalação é a
confirmação de que há coerência técnica na proposta apresentada em âmbito de
projeto. E, finalmente, se o projeto for implantado da maneira como foi previsto no
papel, ele obtém a licença de funcionamento. Por isso é um caminho longo.
Deputado — tenho certeza de que V.Exa. concordará comigo —, é muito
mais fácil segurar um empreendimento antes de ele ser implantado do que remediar
depois de implantado. Remediar é muito difícil. Mesmo que se identifique o
responsável é muito difícil obter a recuperação efetiva da área e a devolução dos
recursos perdidos aos implicados.
Quanto ao IQR, as notas significam uma fotografia instantânea, não são uma
avaliação do crivo legal da situação do empreendimento. A grande falha do IQR —
posso falar com toda a honestidade — é não poder avaliar o risco. Por exemplo, foi
citado o aterro de um consórcio que atende a 1 milhão e 300 mil pessoas, que tinha
nota 8, e seis meses depois desmoronou. Isso ocorreu porque não é possível fazer
raios X de cada empreendimento e verificar que houve má condução. E foi o que
aconteceu. Havia uma falha na drenagem, que não podia ser detectada.
Externamente o aterro era muito bem operado — temos fotos —, havia o
acompanhamento da obra. Infelizmente, o aterro veio a romper. Então, o IQR é uma
foto instantânea. Uma nota boa deve espelhar um empreendimento de aspecto
adequado e com os requisitos mínimos legais atendidos.
Com relação às gestões que a CETESB faz de caso a caso,
independentemente da nota, o IQR é dividido em três grupos de informações:
localização, infra-estrutura e operação. Para cada um desses grupos são adotadas
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ações diferenciadamente. É evidente que temos dispositivos legais que nos
possibilitam atuar junto aos empreendimentos de forma diferenciada.
Temos hoje, de acordo com nosso inventário, finalizado em dezembro de
2000, aproximadamente trezentos empreendimentos em situação considerada
inadequada, com nota abaixo de 6. Mas temos cerca de 440 termos de ajustamento
de conduta assinados. Ora, como pode um empreendimento que tem nota adequada
ter um termo de ajustamento de conduta? É porque algum dispositivo legal ou
técnico não está sendo observado. Portanto, temos, sim, ações diferenciadas em
cada um dos aterros, independentemente da nota. A nota mostra avanços.
Observando os inventários do Estado de São Paulo, nota-se que, em 1997,
tínhamos um IQR médio de 4. Hoje temos um IQR médio de 6. É ruim? Sim, mas
dois pontos percentuais em um Estado é uma conquista bastante significativa em
face das limitações de recursos e da própria efetividade do resultado da ação legal.
O Deputado perguntou quais são as dificuldades de atuação que o órgão de
controle encontra. Uma delas é a efetividade da lei. A lei faculta-nos autuar, mas
multar o Município significa, no final da linha, multar o munícipe e não o Prefeito. A
Lei de Crimes Ambientais não foi aplicada uma única vez, não penalizou um único
Prefeito, e ela exige requisitos, um rito que não é tão fácil de atender. Por isso ainda
não foi aplicada contra um Prefeito.
Se os Prefeitos fossem apenados como pessoa física, com toda certeza, eles
estariam tomando mais cuidado. Hoje, a Lei de Responsabilidade Fiscal chama a
atenção dos Prefeitos porque, uma vez destinado um recurso, vai ter de ser usado
para aquele fim. Isso nos dá algum alento, alguma possibilidade de melhores
resultados.
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Posso adiantar também que metade do Estado de São Paulo já foi multado
mais de uma vez. Mas a multa dos Municípios, como, por exemplo, alguns da
Região Metropolitana, chega a 128 mil UFESPs. Isso equivale a 1 milhão e 200 mil
reais, aproximadamente. A próxima multa vai ser dobrada, como determina a lei.
Então, será na casa dos 2,5 milhões, 5 milhões, 10 milhões. Não adianta, a
Prefeitura não vai pagar. Contamos com o efeito moral, com a pressão política sobre
os segmentos responsáveis. É o nome da administração municipal que muitas vezes
responde pela mudança efetiva de um quadro.
Temos dificuldades com relação às regiões metropolitanas e à autonomia dos
Municípios. É muito difícil viabilizar uma solução metropolitanizada. Chegamos a ter
cerca de vinte consórcios no Estado de São Paulo. Hoje temos aproximadamente
setenta Municípios consorciados e mais ou menos treze consórcios sedes de
Município, entre usinas de compostagem e aterros sanitários. Esses consórcios só
se viabilizam quando temos um Município-sede muito grande e o vizinho representa
muito pouco em termos de produção. Temos efetivamente apenas dois Municípios
consorciados com estatuto de consórcio em todo o Estado, porque a autonomia
municipal cria empecilhos à ação. São eles o Várzea Paulista, constituído por seis
Municípios, o maior sendo Jundiaí, e Itaquá, que também atende a seis Municípios .
(Intervenção inaudível.)
O SR. JOÃO ANTÔNIO FUZARO – Não, ainda precisa do aterro conjunto de
Várzea Paulista. Eles têm até 31 de dezembro para adequar a situação, mas por
enquanto todos dependem do aterro conjunto. Isso no Estado todo, porque os outros
faliram. São muitos os empecilhos criados pelas divergências político-partidárias,
inclusive a própria opinião pública. Se o Deputado acompanhou, no Plano Diretor da
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Região Metropolitana da Baixada Santista, o aterro de Cubatão deveria centralizar
metade da Baixada Santista, proposta do próprio Prefeito, um aterro de oitenta anos
de vida útil. E a Câmara dos Vereadores criou uma lei impedindo que a...
O SR. DEPUTADO CLOVIS VOLPI – A Lei Orgânica?
O SR. JOÃO ANTÔNIO FUZARO –. ...solução se efetivasse. Exato,
Deputado. Então, temos dificuldades nesse campo.
Com relação ao equipamento, à tecnologia e ao parâmetro, os
empreendedores devem atender ao que determina a legislação vigente no que diz
respeito aos padrões ambientais a serem atingidos. Em algumas situações só há um
tipo de solução tecnológica. Daí por que, às vezes, o técnico diz: “Você tem de
colocar um ciclone ou um filtro eletrostático”. Não existe outra tecnologia para aquilo.
Mas as exigências da CETESB não são centradas na tecnologia, a não ser que seja
cometido algum equívoco do técnico que atende. Têm de ser atendidos os
parâmetros, mesmo porque, a título de exemplo, o próprio Decreto nº 8.468 institui
que os incineradores devem ter uma quarta câmara, que é um queimador a gás na
base da chaminé. E há muito tempo não adotamos isso, porque hoje temos
tecnologias muito melhores do que essa.
Finalmente, com relação às áreas contaminadas, essa é uma dura realidade.
Esse número não existe na CETESB. Infelizmente, não disponho desses dados.
Gostaria de ter uma lista das áreas contaminadas, mas não a temos. Há um projeto
feito pela CETESB, junto com a GTZ, entidade autônoma da Federação alemã, para
o desenvolvimento de critérios de avaliação de áreas contaminadas. Foram
avaliadas cerca de trezentas áreas potencialmente poluídas — não quer dizer que
sejam trezentas áreas poluídas. E nem são resíduos tóxicos. Estamos falando de
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resíduos perigosos: inflamabilidade, toxicidade. Enfim, as outras características
estão sendo consideradas, e não só toxicidade, que é um aspecto que caracteriza
um resíduo como perigoso. Então, essa listagem não existe na CETESB. Mas esse
número, se existir, é muito pequeno. A Alemanha tem 240 mil áreas contaminadas e
os outros países, como os Estados Unidos, têm número semelhante a esse. A
Europa toda tem números ainda maiores do que esse. Os países socialistas têm
números maiores. Isso é conseqüência da história.
Quando começamos a trabalhar na CETESB, há 25 anos, a preocupação era
realizar coleta nos Municípios, porque, na década de 70, as populações haviam
migrado da zona rural para a zona urbana, e a preocupação era remover o lixo da
frente das casas. Hoje a preocupação é a destinação final, uma vez que a coleta já é
feita. E lixo industrial foi tratado dessa forma, não se sabia que era perigoso. Afinal
de contas, a título do exemplo de Mauá, benzeno é um dos principais poluentes.
Benzeno tem 40% de benzina. E quem nunca usou benzina para tirar graxa, mancha
de óleo de roupa ou de algum móvel em casa? Qual foi a dona de casa que não
usou isso como solvente? O benzeno faz parte dos solventes utilizados dentro de
casa. Então, as pessoas não tinham cultura com relação a ascaréis, a benzeno, a
substâncias perigosas. Por isso temos problemas graves. Hoje essas áreas estão
vindo à tona.
A CETESB não tem um cadastro dessas áreas e, à medida que os problemas
vão surgindo, cada uma vai requerer uma ação. Infelizmente, o tempo de resposta
do órgão público é sempre longo. Não se consegue uma resposta imediata. No caso
de Mauá, demoramos quatro meses para ter um posicionamento.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) – Já há tecnologias que detectam
isso?
O SR. JOÃO ANTÔNIO FUZARO – Sim, e essas tecnologias são aplicadas.
As áreas são mapeadas. A maior dificuldade que encontramos é quando o passivo é
atribuído a uma massa falida. Temos responsáveis que não têm competência
econômica nem tecnológica para recuperar o passivo criado por eles. Esse é um
problema de todas as áreas industrializadas do Brasil e do mundo. Aplicamos a lei e
as normas à medida que os problemas vão surgindo. Não existe um padrão a
adotarmos. Infelizmente, não temos esse padrão.
Acho que falei sobre todos os aspectos.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) – Vou precisar me retirar.
Agradeço aos expositores a presença.
Vou acompanhar as demais respostas por meio das notas taquigráficas.
Solicito ao Relator, Deputado Emerson Kapaz, que dê continuidade à
audiência pública.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Emerson Kapaz) – Passo a palavra ao Dr.
Ibson.
O SR. IBSON GABRIEL MARTINS DE CAMPOS – Gostaria de avalizar as
palavras de João Fuzaro em relação ao licenciamento de novas tecnologias e à
questão da fiscalização ambiental. Os órgãos têm uma atribuição bastante árdua e
temos de cumprir nossas obrigações. Sabemos das dificuldades, mas mesmo com
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toda rigidez com que, via de regra, agimos, temos dificuldades para obter sucesso
em todas essas ações.
Em relação ao uso alternativo de tecnologias hoje existentes, realmente
poderíamos usar alternativas tecnológicas muito mais avançadas que teoricamente
nos trariam maiores benefícios. Mas as tecnologias, via de regra, chegam para
serem vendidas, comercializadas e com custos fora da realidade brasileira, e os
Municípios ainda não conseguem absorvê-las.
Como exemplo, recebemos na Secretaria várias visitas de grupos com
diversas tecnologias, inclusive com recurso internacional para implantá-las, com
planilhas nos demonstrando que essas tecnologias são auto-sustentáveis. Em um
período de cinco a oito anos o investimento é pago. Faço sempre a observação de
que pago hoje um preço para tratar o lixo no aterro sanitário. São 2.200 toneladas
por dia de toda a Região Metropolitana de Curitiba. Se o negócio é tão bom,
implantem, gerenciem, tratem, e disponibilizo a matéria-prima. Não se interessam.
Então, digo que pago o aterro sanitário, não disponibilizo gratuitamente. Da mesma
forma, não se interessam. Então, os papéis são facilmente manipulados. Os
números podem ser manipulados numa planilha e, com pequenas alterações, torná-
los positivos. É muito difícil, na política atual, que o órgão governamental venha a
continuar atuando em relação à questão de operação de sistemas. No nosso
entendimento, até já respondendo a questões levantadas, o órgão de Governo tem
de ser o gestor da política, tem de gerenciar o sistema, mas, em hipótese alguma,
pode operar o sistema. Curitiba já operou o sistema. E, em função de todas as
dificuldades que tem uma estrutura pública para fazê-lo, mostra-se muito mais viável
ter uma equipe técnica capacitada para acompanhar e direcionar a condição que se
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quer para o processo. Deve existir uma empresa com capacidade e que esteja em
condições de executá-lo. Essa é a nossa linha de pensamento.
Em relação às considerações feitas sobre a educação ambiental, a Secretaria
de Meio Ambiente do Estado tem realizado um trabalho de educação em todos os
Municípios do Paraná. São 399 Municípios paranaenses em que a Secretaria de
Estado tem atuado. Nesses Municípios há em torno de 140 aterros sanitários em
fase de implantação, feitos pela SUDERSA, que é um ente da própria Secretaria
Estadual.
Há poucos anos, o Estado do Paraná não tinha aterros sanitários. Se estamos
falando hoje em tecnologias diversas, o que diríamos, então, se nenhum tipo de
tratamento primário existisse. Na prática, tínhamos lixões em quase todo o País,
que recebiam esse material sem nenhum tipo de tratamento de área, sem nenhuma
preocupação maior. Hoje, podemos afirmar que o Brasil está preocupado com isso,
que está avançando no que é possível diante da nossa realidade financeira e de
nossas dificuldades. Mesmo não sendo adequadamente um tratamento perfeito, o
aterro sanitário é aquilo que financeiramente ainda se mostra como uma alternativa
mais viável. É claro que todas as demais alternativas são bem-vindas, mas elas têm
de avançar a tal ponto que se tornem financeiramente viáveis.
Deputado, Curitiba tinha a proposta de três aterros. No material que lhes foi
distribuído há a concepção do sistema. Não seriam três aterros, seria um consórcio
e, dentro desse consórcio de Municípios, teríamos três propostas de trabalho a
serem executadas. Então, teríamos uma concessão integral de serviços para o
Município de Curitiba, São José dos Pinhais, Fazenda Rio Grande, Mandirituba e
Contenda, contemplando coleta, transporte, tratamento e destinação final de
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resíduos sólidos domiciliares, onde continuaríamos ainda com sistemas de
segregação e também aqueles trabalhos realizados hoje via Câmbio Verde, compra
do lixo, estendendo isso para os demais Municípios.
Um outro lote seria a contratação, uma terceirização de serviços para outros
Municípios que não querem a concessão, mas apenas o tratamento do resíduo;
querem apenas uma área para dispor seus rejeitos. Em uma terceira etapa, seria
feita a contratação do serviço referente aos resíduos hospitalares para todos os
Municípios da região metropolitana. Então, a idéia que está sendo apresentada é
essa.
Há ainda uma quarta etapa, que não está contida aqui, que seria a dos
resíduos de construção civil, porque há toda uma preocupação com o tratamento de
caliças. Curitiba tem uma legislação própria que determina que esse material tem de
ser coletado em caçambas. São em torno de oitenta a cem empresas cadastradas
no Município. Deve haver uma destinação específica. As áreas de disposição têm de
estar licenciadas pelo Município, que, em função de já ter uma história em relação à
sua equipe, ao seu porte, tem convênios com o órgão estadual de meio ambiente e
com o órgão federal. Toda a questão de licenciamento e fiscalização ambiental é
realizada pelo Município e não pela estrutura de Estado. O Estado delegou-nos essa
incumbência.
O Deputado Luciano Pizzatto pediu esclarecimento sobre a questão do
princípio poluidor-pagador do novo modelo que Curitiba e Região Metropolitana
estão propondo. Esse modelo visa ter abrangência, pensando-se nas questões
sociais, e a sua cobrança é feita por meio de tarifa. Perguntou-se como seria feita a
cobrança. Tive a impressão de que isso não ficou bem claro. Mesmo se for uma
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concessão, seria por meio de tarifa, de acordo com o que a legislação de concessão
permite. É estabelecida, inclusive, com uma tarifa básica. Essa é a intenção com que
o consórcio vem trabalhando.
Hoje, se pensarmos no valor que uma concessão dessas deverá onerar para
os Municípios participantes, teremos uma tarifa média de 10 reais por mês,
aproximadamente, para cada usuário do sistema.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Emerson Kapaz) – Dez reais por residência?
O SR. IBSON GABRIEL MARTINS DE CAMPOS – Dez reais por
unidade/residência, sem a outorga, que seria aquele recurso para ser repassado ao
fundo. Esse é um valor, na nossa ótica, elevado para as populações carentes,
populações de menor renda.
Dentro dessa ótica, estamos estudando uma tarifa básica, talvez 50% desse
valor. Teremos um sistema de escalonamento de tarifas com as demais tarifas com
pesos progressivos, o poluidor ou gerador maior de resíduos pagaria taxas maiores
para subsidiar essa tarifa básica. Estamos fazendo uma pesquisa de campo, com
medições dos quantitativos gerados em vários pontos da cidade, para que
possamos estabelecer o que é um número plausível para as pessoas de menor
renda e, com certeza, diferenciar os valores de cobrança, pagando mais aqueles
que geram um valor maior.
As demais abordagens feitas já foram respondidas. Estaria apenas reforçando
ou repetindo. Portanto, não vejo necessidade de fazer comentários.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Emerson Kapaz) – Convido o Deputado
Clovis Volpi para assumir a presidência dos trabalhos.
Com a palavra o Dr. Maurício Andrés Ribeiro.
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O SR. MAURÍCIO ANDRÉS RIBEIRO – Farei uma retificação. Foi
mencionada a existência de 120 usinas financiadas, 100 delas hoje fechadas. Não
foi financiamento do Ministério do Meio Ambiente.
Quanto à pergunta do Deputado Ivan Valente sobre modelos de
gerenciamento, tendo em vista a diversidade de tipos de resíduos existentes e a de
tipos de Municípios, com escala desde pequenos Municípios até grandes regiões
metropolitanas, seria importante o princípio da diversidade de modelos gerenciais.
Não se deve criar nenhuma camisa-de-força, mas deixar uma pluralidade de
possibilidades para que cada administrador ou gestor possa utilizar a forma mais
adequada para sua realidade.
Em relação à questão levantada pelo Deputado Luciano Pizzatto se uma
resolução do CONAMA revoga leis estaduais, gostaria apenas de dizer que o
CONAMA é órgão consultivo e deliberativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente
— SISNAMA. De acordo com a Lei nº 6.938, que criou o CONAMA e o SISNAMA, os
órgãos estaduais são órgãos seccionais desse sistema. Há um dispositivo no art. 6º,
§ 1º, da Lei nº 6.938 estabelecendo que os Estados, na esfera de suas
competências e nas áreas de sua jurisdição, elaborarão normas supletivas e
complementares e padrões relacionados com o meio ambiente, observados os que
forem estabelecidos pelo CONAMA. Parece que está claro na Lei nº 6.938 essa
situação.
No art. 14 do decreto que regulamenta essa lei e que trata do Sistema
Nacional do Meio Ambiente há dois dispositivos que gostaria de deixar registrados
em resposta ao Deputado. Primeiro: “Caberá aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios a regionalização das medidas emanadas do SISNAMA, elaborando
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normas e padrões supletivos e complementares”. Depois: “As normas e padrões dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios poderão fixar parâmetros de emissão,
ejeção e emanação de agentes poluidores, observada a legislação federal. Isso
responde, em linhas gerais, a questão levantada.
Sobre as questões formuladas pelo Deputado Clovis Volpi, há uma Câmara
Técnica de Educação Ambiental no CONAMA, responsável pela análise do decreto
de regulamentação da lei da Política Nacional de Educação Ambiental. No CONAMA
há esse enfoque da educação ambiental sendo trabalhado.
Sobre os parâmetros, que seria muito importante ser trabalhado na legislação,
o CONAMA tem trabalhado com padrões de qualidade ambiental, padrões de
emissão. Várias resoluções do CONAMA fixam esses padrões, que se tornam
referência para os processos, por exemplo, de licenciamento ambiental pelos
Estados, e outras ações de fiscalização. E tem trabalhado também com limites.
Gostaria de dar um exemplo prático: a Resolução nº 257, do CONAMA, que cuida
de pilhas e baterias, define uma série de limites, tais como peso de mercúrio, de
cádmio, de chumbo etc, que são permissíveis em cada um dos produtos. As
empresas têm de se adequar, e já o vêm fazendo, a esses limites e padrões. De
fato, são relevantes as questões técnicas ligadas à definição de parâmetros claros
para balizar a ação das empresas, dos Governos, dos órgãos de fiscalização etc.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Clovis Volpi) – Gostaria de fazer algumas
observações para servir de subsídio ao relatório final.
Dr. João Fuzaro, entendo perfeitamente o controle sobre essas questões de
novos empreendimentos ou novos equipamentos para que se possa fazer o
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tratamento, principalmente de resíduos industriais. Por que, muitas vezes, não são
aceitos os testes de laboratórios? Vamos falar de tratamento de resíduo galvânico.
Pode haver no mercado nacional ou internacional determinado equipamento para a
diminuição do percentual de metais no efluente. Mas para montar uma planta
daquelas gasta-se muito dinheiro. Então, são feitos testes de laboratórios, inclusive
por institutos credenciados. Esses testes têm a possibilidade de baixar os índices de
teor de metal. Os testes de laboratório não são levados em consideração ou têm
dificuldade de ser entendidos pelos técnicos? Isso não é uma crítica, é um zelo.
Pergunto até que ponto poderíamos ter esses testes de laboratório levados em
consideração para a futura implantação de uma planta. Essa é uma questão que me
preocupa muito.
Gostaria que todos os Secretários de Estado acompanhassem os trabalhos
desta Comissão. Vamos receber alguns técnicos e cientistas, que, com certeza,
apresentarão trabalhos desenvolvidos e experimentados em universidades e que
não encontram respaldo do Poder Público do Estado ou de alguns Municípios, até
pela falta de credibilidade e pela dificuldade de entendimento.
Sei que os Prefeitos têm dificuldades de entender essa questão ambiental.
Eles gostam de fazer creche, escola. Não gostam de cuidar do ambiente. É um
processo natural, cultural.
Esta Comissão poderá apresentar algumas soluções para outros Estados e,
por exemplo, uma nova tecnologia nos parâmetros do CONAMA. E, quem sabe, o
dinheiro vai ser melhor aproveitado.
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Conheço a resolução do CONAMA que trata de alguns parâmetros. Estou
falando isso não é no sentido de defender o empresário, não. Pode-se diminuir o
índice de metais no tratamento.
Estive em Franca e vi alguns tratamentos dos efluentes metálicos daquela
região. Vi, sim, uma grande enganação no tratamento de efluentes metálicos,
porque a água é limpa, mas não está tratada. Joga-se direto no rio. Aliás, o
encanamento joga no rio. Fiquei abismado com aquilo.
Por recomendação, contratamos o SENAI ou o IPT — não sei qual deles
agora, e não bebi aquela água — para fazer algumas análises e comparar a água in
natura e depois de tratada. E o índice do tratamento de determinados metais era
maior depois de tratada. E eles indicaram isso. Então, fico me perguntando se
estamos fazendo a coisa certa. Queremos ajudar nisso. Às vezes, a aparência da
água que está sendo jogada é de que é limpa, parece que se pode beber, mas ela
foi limpa apenas na aparência.
Essa é a preocupação da Comissão.
Agradeço aos convidados, aos expositores e aos Parlamentares a presença.
Convoco para o próximo dia 28, às 14h, reunião desta Comissão Especial,
que definirá um plano de resíduo sólido para o País.
Está encerrada a reunião.
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