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CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
COMISSÃO ESPECIAL - ESTATUTO DO DESPORTOEVENTO: Audiência Pública N°: 001467/01 DATA: 28/11/2001INÍCIO: 14h49min TÉRMINO: 18h10min DURAÇÃO: 3h21minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 3h27min PÁGINAS: 83 QUARTOS: 21REVISORES: ANDRÉA MACEDO, LIZ, MARIA TERESA, TATIANA, WALDECÍRIA
SEM SUPERVISÃOCONCATENAÇÃO: MÁRCIA
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃOHERALDO PANHOCA – Advogado de atletas;MARCO POLO DEL NERO – Presidente do Tribunal de Justiça Desportiva de São Paulo;MARCÍLIO KRIEGER – Advogado especialista em legislação desportiva
SUMÁRIO: Exposição e debate acerca dos temas “Relações trabalhistas no esporte”, “Visãodos juristas acerca do projeto” e “Justiça Desportiva”.
OBSERVAÇÕESHá intervenções inaudíveis.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Estatuto do DesportoComissão Especial - Estatuto do DesportoNúmero: 001467/01 Data: 28/11/01
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Declaro aberta a 6ª
reunião desta Comissão Especial destinada a apreciar e proferir parecer ao Projeto
de Lei nº 4.874, de 2001, que institui o Estatuto do Desporto.
Esta reunião foi convocada para ouvir, em audiência pública, o Dr. Heraldo
Panhoca, advogado de atletas, que falará sobre o tema “Relações trabalhistas no
esporte”; o Dr. Marcílio Krieger, advogado especialista em legislação desportiva, que
falará sobre a “Visão dos juristas em relação ao projeto”; e o Dr. Marco Polo Del
Nero, Presidente do Tribunal de Justiça Desportiva da Federação Paulista de
Futebol, que falará sobre o tema “Justiça Desportiva”.
Com muito prazer, convido os senhores citados para comporem a Mesa.
Informo que também foi convidado o Dr. Carlos Miguel Aidar, Presidente da
Seccional São Paulo da OAB. S.Sa., porém, comunicou-nos de que precisou
resolver problema familiar na manhã de hoje. Tal contratempo o impediu de
comparecer a esta audiência pública.
Antes de conceder a palavra aos nossos convidados, esclareço a S.Sas. que
as sessões ordinárias da Câmara dos Deputados estão passando por período de
grande turbulência. Encontra-se em tramitação projeto de lei que está mobilizando a
opinião pública e, por isso, todos os Deputados têm algo mais a fazer durante o
horário normal de trabalho das Comissões. Por isso, começaremos a presente
reunião com pequeno número de presentes; certamente, com o passar do tempo,
haverá mais Parlamentares presentes. Algumas das audiências públicas marcadas
para o turno da manhã estão terminando neste momento; inclusive, está sendo
encerrada a reunião da Comissão de Economia, Indústria e Comércio, da qual
participo. Outros Deputados estão saindo para almoçar somente agora.
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Para que tenhamos bom ordenamento dos trabalhos, esclareço a adoção dos
seguintes critérios estabelecidos pelo Regimento da Casa: os senhores convidados
disporão de um prazo máximo de vinte minutos para sua exposição e não poderão
ser aparteados durante esse tempo; terminadas as exposições, iniciam-se os
debates; os Srs. Deputados interessados em interpelar os convidados deverão
inscrever-se previamente junto à Secretaria; cada interpelante deverá fazer sua
formulação em três minutos; e serão permitidas réplica e tréplica pelo mesmo prazo
de três minutos.
Dando início às exposições, concedo a palavra ao Dr. Heraldo Panhoca,
advogado de atletas, que exporá o tema “Relações trabalhistas no esporte”, assunto
objeto de apreciação do projeto de lei que institui o Estatuto do Desporto.
O SR. HERALDO PANHOCA – Sr. Presidente, nobre Relator, dignos
Parlamentares, Drs. Marco Polo e Marcílio Krieger, companheiros de militância na
atividade desportiva neste País, demais presentes, é um prazer retornar a esta
Casa.
Em 1996, tivemos oportunidade de ajudar e oferecer sugestões para a
Resolução nº 01, de 1996, que começou a surtir efeito entre os anos de 2000 e
2001. Foi nessa oportunidade que o Direito Desportivo saiu dos arquivos das
federações e passou para o Poder Judiciário. Em 1997, a convite do Ministério do
Esporte e Turismo e em virtude de nossa experiência na lida diária com os atletas,
tivemos oportunidade de contribuir com a formatação da atividade profissional.
Tivemos o prazer de ver caracterizado o vínculo de trabalho para atletas de todas as
modalidades, e não apenas para os profissionais ligados ao futebol, como até então.
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Para nossa surpresa, no dia 22 deste mês, recebemos os três projetos
apensados. Pasmem os senhores, mas o que está sendo proposto é um odioso
retrocesso. Jamais tantas conquistas dos atletas foram jogadas fora ou estão na
iminência de sê-lo. Foram necessários cem anos para se conseguir a
profissionalização e o respeito ao cidadão brasileiro, atleta de qualquer modalidade.
Em primeiro lugar, é necessário dizer que verificamos situação bastante
atípica, pois levaram o art. 217 da Constituição Federal ao pé da letra. Fizeram uma
lei para o profissional e outra para o não-profissional — ou seja, passou a haver dois
projetos distintos, quando bastava apenas dar tratamento dicotômico, como previsto
na própria Constituição. Em segundo lugar, ao se somar os três projetos, teremos
quatrocentos artigos de lei. Talvez a lista telefônica possa completar os casos
omissos. Se analisarmos a situação, veremos que, caso sejam retirados os artigos
relativos ao jogo do bingo da Lei Pelé, ficaremos com apenas cinqüenta artigos,
número suficiente para criar a revolução gerada.
Esta Casa sentiu os efeitos da Lei Pelé durante os trabalhos da CPI. Se não
fosse essa lei, as CPIs relativas a esse assunto não teriam existido. Nota-se,
portanto, a validade da Lei nº 9.615. Ao meu ver, esse foi um dos grandes tratados
de Justiça e de Direito Desportivo feitos neste País, principalmente por causa do
equilíbrio entre as partes.
Dentro dos vinte minutos de que disponho, devo discorrer sobre o atleta. Por
isso, inicio minha exposição com uma conceituação. Observa-se que, por força de
muito escrever, o que acarreta maior número de erros, há seis denominações para
clubes: clubes, associações, associações atléticas, entidades, entidades de prática
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desportiva e entidades de prática desportiva profissional. É preciso sistematizar tais
definições e reuni-las em apenas uma.
Num segundo momento, o projeto afirma que o desporto de rendimentos,
também chamado de desporto, abrange atividades das associações. Dessa maneira,
elide-se algo já previsto, uma vez que associação é entidade dirigida ou regida pelo
Código Civil. Nesse caso, estaríamos impedindo de funcionar as demais
associações, possuidoras de direito adquirido, por se tratar de sociedades
comerciais ou aquelas permitidas em lei para administrar. Então, é infeliz tal
definição. O retrocesso é muito grande. Temos de considerar o fato de que essa
legislação é de 1976; por isso, a cópia foi feita dessa forma.
Em outro local, o projeto define o não-profissional. Como disse, o não-
profissional possui lei própria, embora seja repetitiva.
Em função dos arts. 15 e 16, há outro contra-senso. O art. 17 afirma que
“para efeitos desta lei, considera-se não-profissional o desporto de rendimentos
organizado sem finalidade lucrativa”. Entretanto, o artigo acima afirma que o
desporto profissional — e, nesse ponto, voltamos ao ano de 1896 — é a atividade
individual ou coletiva de prática de exercício, e não de modalidade. Srs. Deputados,
inexiste desporto profissional; existe o praticante profissional de determinada
modalidade.
Essa confusão manteve o Brasil parado no tempo por cem anos. O basquete,
o voleibol e o tênis eram considerados esportes amadores. Ora, isso é sofisma.
Temos que o atleta define a forma de prática, pois o esporte é único e regido por
regras internacionais de prática que esta Casa e nossa Constituição não podem
mudar. O único privilégio que a entidade internacional de administração do desporto
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possui é a imutabilidade de sua regra em qualquer continente. Todas as outras
normas emanadas dessas entidades somente serão válidas no País se não
estiverem em confronto com nossa Constituição ou outras normas. Então, a
autonomia dessas entidades cinge-se à regra, e é isso o que define o esporte como
único — e jamais como profissional ou amador. É o praticante que possui essa
qualidade.
Conseguimos corrigir isso na Constituição; e mantivemos tal diferenciação na
Lei Zico, ampliada e melhor esclarecida pela Lei Pelé. Hoje, vemos que os três
projetos apresentados na forma de Estatuto regridem a uma situação de, no mínimo,
quinze anos. Trata-se, portanto, de grande retrocesso.
Em uma segunda situação, o projeto afirma que para o desporto profissional,
embora ele não exista, a renda e a receita, até mesmo para efeitos de tributação,
vêm da publicidade, da transmissão da imagem do evento e da bilheteria. Depois, o
projeto afirma que, no caso do desporto não-profissional — e aí percebe-se que
assim são caracterizados o basquete, o voleibol e todos os outros esportes
amadores -, havendo renda, este não pode ser considerado não-profissional.
Ocorre, portanto, a situação de o basquete não poder vender sua imagem para a
televisão ou ter bilheteria, enfim, há grande confusão porque foram feitos projetos
separados.
Há necessidade de se juntar os projetos e definir as coisas. O esporte é
único, o atleta que recebe é profissional e o atleta que pratica o esporte por prazer é
não-profissional. Isso é o que diz a Constituição em seus arts. 5º, inciso XIII, e 217.
Passo agora às considerações sobre os contratos.
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Quanto aos clubes formadores de atletas, deve-se dizer que, desde os
primórdios, a questão da formação tem sido exaustivamente debatida. A partir da
Constituição e do Estatuto da Criança e do Adolescente, a grande preocupação é
mostrar que atleta é o cidadão a partir de 14 anos. Até então, o jovem é considerado
educando, por força da Constituição e do próprio Estatuto da Criança e do
Adolescente.
Nesse momento, surge o clube formador. Esse não pode ser definido como o
clube que retira a criança da rua, mesmo que com efeito meritório. Trata-se daquele
clube que desenvolve a atividade dessa criança a partir dos 14 anos, preparando-a
para a vida e para o desporto. Essa conquista foi alcançada por meio de artigo da
Lei Zico que não havia sido implementado, e foi retomada pela Lei Pelé com a
denominação de semiprofissional — aliás, tal termo foi muito criticado. Entretanto,
independentemente do termo, semiprofissional indicava o atleta de 14 a 18 anos que
mantinha contrato de vínculo com aquela agremiação para ser formado.
Dentre as obrigações do semiprofissional havia a de escolaridade – ou seja, a
garantia de que, ao buscar um adolescente de 14 anos, aquele clube lhe daria
condições de ter atividade educacional, mesmo que referente ao ensino fundamental
ou médio, o que lhe ofereceria uma segunda oportunidade de profissionalização. A
lei também obrigava o atleta a se profissionalizar aos 18 anos. O projeto original
dizia que a profissionalização deveria ocorrer aos 20 anos; posteriormente, isso veio
a ser corrigido. Uma das medidas provisórias acabou estendendo a classificação de
não-profissional até os 20 anos, levando em conta o fato de que é com essa idade
que a fisiologia do corpo humano alcança maturidade e a pessoa pode se tornar
profissional. Então, o não-profissional, o aprendiz, o estagiário ou aquele em
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formação deve voltar a estar incluído na faixa etária entre 14 e 20 anos e voltar a
receber gama de ensinamentos. Em troca disso, o adolescente dará depois ao clube
seu primeiro contrato de trabalho. Esse é o estágio profissional a que todos somos
submetidos — só que ao inverso. Não se pode esperar do atleta que ele se forme na
universidade para, depois, fazer estágio. No caso do atleta, a situação é o contrário:
ele se forma no estágio para, depois, ser profissional, ou seja, ele é trabalhado. É
por isso que se trata de situação inversa à do estágio do médico, do advogado ou de
qualquer outro universitário. Nesse sentido, a Lei nº 9.615 protegia o atleta em
formação, assim como também estava protegido o interesse do clube formador.
Aquele clube que deteve o atleta em formação por, no mínimo, dois anos e que
comprovou o fato de ele ter sido formado às suas expensas tinha o direito de
receber o primeiro contrato de trabalho.
Hoje, vemos que há uma situação para o não-profissional e outra para o clube
formador do profissional. Esses mecanismos precisam ser incorporados àquilo que
era o projeto original e que se trata de norma vigente. Temos de voltar, uma vez que
voltar ao bom não é prejuízo; isso significa apenas reconhecer que a tentativa de
mudança é válida, mas que somente deve ocorrer se for para melhorar a situação.
Como está disposto, a situação fica pior do que está.
O projeto também contém violações ao direito individual. Em um dos casos, o
projeto afirma que o contrato de trabalho referido no caput não poderá ser recusado
nem rescindido unilateralmente pelo atleta. Ora, é desnecessário dizer que a
garantia constitucional do profissional não está sendo atendida — e essa é a maior
crítica. É preciso vetar tal artigo pois este não terá qualquer conseqüência.
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Como estou indo pela ordem, verifico que há novamente uma mistura. Neste
ponto, há a questão da transmissão de imagem do evento desportivo. De acordo
com os projetos em estudo, esta Casa novamente nos lembra de que, no Brasil,
esporte é apenas futebol. Isso é lamentável. Conseguimos mudar esse pensamento
em 1988, na Constituição, e com a Lei Zico; e conseguimos manter o entendimento
na Lei Pelé. Entretanto, quando estudamos três novos projetos, verificamos que
novamente voltamos a legislar somente para o futebol.
O SR. DEPUTADO SILVIO TORRES – Dr. Heraldo Panhoca, V.Sa. pode
dizer a qual artigo se refere?
O SR. HERALDO PANHOCA – Refiro-me ao § 2º do art. 74. Estou seguindo
a ordem dos artigos para não me perder.
Estou falando sobre atletas, e como o direito de arena é direito do atleta...
O SR. DEPUTADO SILVIO TORRES – Mas V.Sa. está falando sobre o
projeto?
O SR. HERALDO PANHOCA – Sim, estou falando sobre o atleta no contexto
do projeto.
O SR. DEPUTADO SILVIO TORRES – Pois não. Somente desejava me
localizar no projeto.
O SR. HERALDO PANHOCA – Estou fazendo comparação entre os três
projetos, que infelizmente recebi apenas no dia 22. Prometo, depois, elaborar melhor
trabalho que este que faço nesta primeira exposição.
Quanto ao direito de arena, tivemos o cuidado de alcançar todas as
modalidades desportivas, até por que hoje, a partir da globalização, a imagem
passou a ser o grande mote do espetáculo. É a imagem que gera a possibilidade de
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que tenhamos grandes espetáculos. Novamente, o texto do projeto, no § 2º do art.
74, diz que o disposto nesse artigo não se aplica a flagrantes do espetáculo ou
evento desportivo para fins exclusivamente jornalísticos ou educativos, cuja duração,
no conjunto, não exceda a três minutos.
Será que nossa última campeã, Daniele Hypólito, não merece receber direito
de imagem por seu trabalho? Ela tem 30 segundos para seu espetáculo de solo, e
acabou de nos trazer a quarta medalha. Entretanto, a lei brasileira diz que seu
espetáculo será transmitido de graça por quem o desejar. Nem o clube, detentor do
direito, nem a própria atleta, terão participação, porque o projeto está dando três
minutos. Parece-me lógico que os Srs. Deputados lembraram-se apenas do futebol,
cuja partida tem 90 minutos de duração — os três minutos, portanto, seriam somente
5%. Já havíamos corrigido essa distorção na Lei Pelé; basta fazer a cópia. Não há
necessidade de alterar o percentual de 3% do tempo da competição. Um fundista de
cem metros percorre essa distância em 8 segundos; para alcançar os três minutos, o
atleta teria de correr a vida inteira de graça. Por outro lado, os canais de televisão e
os cinemas vão enriquecer em função de sua imagem, porque nada precisarão
pagar.
Quando digo que é retrocesso, Deputado, está aqui, esta lei é cópia de um
artigo de 1972, no primeiro dia da televisão em cores no Brasil. Não tínhamos
Internet nem transmissão por satélites. Então, temos de evoluir, e a Lei Pelé já foi a
grande demonstração disso. Precisa ser melhorada? Ótimo, vamos melhorar, mas
jamais regredir. Estamos voltando no tempo. Três minutos é para futebol, vôlei,
talvez até para basquete, mas jamais para outras modalidades. A Constituição dá
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tratamento isonômico a todos os atletas, haja vista que, a partir do art. 217, o
esporte passou a ser direito de todos, inclusive na exposição da sua imagem.
O art. 77 do projeto, que tem o número mais baixo, diz que o atleta é
considerado profissional quando pratica o desporto como atividade principal. Essa
expressão “principal” precisa ser eliminada, porque ele poderá participar com
remuneração e, como qualquer outro profissional, ter vários empregos. Se ele
trabalhar naquilo que estamos vendo, projeto de dissídio coletivo, vindo de São
Paulo, para as divisões está propondo piso de 200 reais, ele vai precisar ter vários
empregos para sobreviver neste País.
Estou trazendo projeto de dissídio, no qual estão propostos 350 reais para a
primeira divisão, 250 reais para a segunda e 200 reais para a terceira, como o piso
salarial do atleta de futebol. Se, como vejo na lei, a atividade principal não for esta —
porque com 200 reais, dificilmente, ele a terá como atividade principal —, corremos o
risco de estar jogando grande atleta na vala comum do não-profissional ou do
amador, como é dito. Então, há necessidade de que a expressão “principal” saia e
que ele trabalhe com remuneração, aliás, o que já é repetição desde 1976, quando
tivemos a primeira lei do atleta de futebol, que pode ser nesse aspecto seguida por
todos. Não atividade principal, mas atividade remunerada, como está na CLT.
Quanto ao contrato de trabalho, temos duas situações atípicas. A primeira é
que na última legislação aprovada, depois alterada na Lei Pelé, foi retirada a
obrigatoriedade de se registrar o contrato de trabalho junto a qualquer entidade. Na
época, houve consenso na Câmara dos Deputados, porque ia para a confederação
daquela modalidade declaração segundo a qual, por exemplo, eu, como atleta, e
Zezé Perrella, como Presidente do Cruzeiro, firmamos contrato de trabalho que
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estabelece que vou ser profissional por um período xis. Ponto pacífico. Bastava uma
ficha demonstrando a manifestação de vontade. A Lei nº 9981 novamente retroagiu
no tempo e obrigou que a única profissão do atleta tivesse o contrato de trabalho
registrado em uma entidade que não é parte e não tem nenhuma relação com esse
vínculo.
Hoje estamos vendo que foi ampliada: a federação estadual também vai ter
de registrar esse contrato. Se desse pelo menos solidariedade quando da disputa na
Justiça do Trabalho, até aceitaria, mas não, ela cria obstáculos administrativos, a
relação atleta/clube fica maculada e ela não será responsável. Por que registrar?
Então, vamos estender pelo princípio da isonomia. O bancário registra na
FEBRABAN, o outro registra no SESI e assim sucessivamente. São contornos
desnecessários.
Quanto ao tamanho do prazo no contrato de trabalho, não há nenhum
problema. Três meses a cinco anos já é normal. É só manutenção.
Só para respeitar meu tempo, Sr. Presidente, embora tenhamos muito mais
críticas e sugestões a fazer, vou ceder em respeito aos demais colegas e aguardar a
ocasião das perguntas, a fim de alcançar os pontos finais.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) - Muito obrigado, Dr.
Heraldo Panhoca.
Na seqüência, concedo a palavra ao Dr. Marcílio Krieger, advogado
especialista em legislação esportiva, que exporá a visão dos juristas em relação ao
projeto. Tem a palavra V.Sa.
O SR. MARCÍLIO KRIEGER - Muito obrigado, Sr. Presidente Jurandil Juarez,
Deputado Gilmar Machado e demais Deputados presentes, especialmente o
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conterrâneo Carlito Merss e Aldo Rebelo, com quem já tive o prazer de estar na
Comissão Parlamentar que tratava das questões Nike e CBF, o Presidente disse que
falaria sobre a visão dos juristas.
Não concordo com a metade das considerações do Dr. Heraldo. Por aí não é
possível falar acerca das posições dos juristas.
Em certos momentos de discussão, costumo dizer que Deus fez o mundo em
seis dias. No sétimo dia, do alto do Monte Olimpo, admirava, junto com querubins e
serafins, a beleza e o ordenamento do universo, tudo funcionando perfeitamente, a
natureza florescente. Então, Rafael, ao perceber que Deus estava sorrindo e não
havia motivo para tal, perguntou-lhe: “Por que estás sorrindo, Senhor?” Ele lhe
respondeu: “Está tudo em paz, todos gostando, mas amanhã vou colocar dois
advogados lá embaixo e vocês vão ver a confusão que vai dar.” O bom é que você
junta dois juristas e tem três belas posições a serem defendidas.
Isso é evidência. Não pensem que isso é apenas no Brasil, mas também no
mundo. É forma de colocarmos nossa divergência. No caso do Dr. Panhoca, não é
divergência de fundo, mas questões pontuais. Se discutisse com o Dr. Panhoca a
respeito de concordar com esse ou aquele artigo, perderíamos precioso tempo e
desmereceríamos algumas questões fundamentais. Por exemplo, o empenho da CPI
da Nike e CBF em tentar entender e melhorar a “encrenca”, no caso, o futebol
brasileiro, ou o desporto brasileiro; o empenho da própria CPI do Senado no mesmo
caminho e o de que todos aqui presentes, desportistas, direta ou indiretamente
envolvidos na questão do desporto, temos em melhorar o padrão do desporto
brasileiro.
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Fiz algumas notas às quais dei visão geral, dizendo que se trata de alguns
conceitos que precisamos ter claros para, a partir daí, enxugar as questões que, por
exemplo, o Dr. Heraldo levantou e que são evidentes. Como são três Deputados,
portanto, três assessorias ou três cabeças diferentes que pensaram, embora todos
queiram confluir para um mesmo objetivo. Na medida em que não estão claros
alguns conceitos que são essenciais, corremos o risco de querer dizer algo e
estarmos dizendo exatamente o oposto.
Então, vejam bem. Não necessariamente nessa ordem, mas trago alguns
conceitos fundamentais para trabalharmos em uma legislação desportiva.
1) A importância do desporto para o desenvolvimento integral do cidadão —
aquilo a que a Constituição se refere: que desporto é dever do Estado, mas temos
de deixar claro por que é importante o desenvolvimento integral do cidadão através
do desporto;
2) A integração de cada um na sociedade e o desporto como meio de
despertar a consciência individual para a busca de objetivos e a necessidade da
socialização nessa busca de objetivos;
3) A aceitação da derrota como fator de conhecimento da suas limitações e
muitas vezes de objetivo mal traçado.
O desporto se presta a essas três virtudes fundamentais. A primeira, para o cidadão
não ser maria-vai-com-as-outras, mas ter objetivo na vida: conquistar, como a nossa
atleta, a medalha de ouro na competição; realizar o salto mais longo da história;
fazer a maior quantidade de gols; conquistar o maior número de cestinhas, enfim,
objetivos que vão ser traçados. Esses objetivos, mesmo nos atletas individuais,
jamais serão obtidos individualmente, como, por exemplo, o caso do conterrâneo do
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Deputado Carlito Merss e meu, o Guga, que jamais conseguiria qualquer resultado
se não fosse, pelo menos, o trabalho do Lari Passos.
É uma evidência, portanto, que o desporto leva necessariamente à
socialização. Uma lei de desporto tem que ter esse aspecto, até para a
conscientização do cidadão brasileiro, tão falto de consciência política do trabalho
comunitário. Daí decorre o desporto como uma manifestação cultural.
Quanto à identidade de um povo e o desporto favorito, por que o futebol dos
grandes times no Brasil está em crise? Engraçado, se olharmos os grandes times
brasileiros de hoje, o Flamengo, o Corinthians, o Vasco, o São Paulo — com sete ou
oito derrotas —, o Cruzeiro, verificamos que, apesar das grandes contratações, dos
grandes investimentos, não estão dando certo. Por quê? Sem avançar muito nesse
assunto, digo que os clubes brasileiros investiram mal, ou seja, não tinham objetivos.
A identidade cultural do povo brasileiro hoje, assim como o futebol, está em baixa
exatamente porque seus referenciais estão em baixa, como o modelo político
brasileiro hoje está em baixa. Ou seja, que pode fazer alguma coisa deve fazê-la.
Acima do Executivo, na divisão tripartite do poder e da unidade que eles
devem ter, está exatamente o Legislativo, porque representa efetivamente
população e pode mudar a cara do País. Os outros dois são estáticos.
O segundo aspecto, é o papel do Estado no fomento ao desporto. A partir do
momento que decidirmos investir efetivamente na socialização desse cidadão,
vamos definir as prioridades do desporto. Queremos formar atletas, ter áreas de
lazer, ou dois ou três grandes clubes de futebol.
O projeto da FIFA, em termos de futebol, é para o Brasil ter 16 clubes. Há
uma lógica cartesiana nisso: com 16 clubes existem 16 clubes jogando 15 vezes. Ele
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não joga contra si mesmo. Existe um calendário, feito pelo Ministro do Desporto com
o pessoal da CBF e outros, que atendia aos reclames da FIFA. Dessa forma, unifica-
se o calendário de futebol mundial. É isso o que o Brasil quer, mas temos de definir
essa prioridade. Vamos dar prioridade ao futebol ou ao desporto como um todo?
Temos de definir essa prioridade, e não vai ser muito complicado.
Na medida em que se estabelecerem as prioridades, a aplicação dos recursos
também será estabelecida. Socializaremos o desporto através das escolas, o
Ministério do Esporte trabalhará juntamente com o Ministério da Educação na
distribuição de verbas. Hoje, simplesmente o Ministério da Educação dá verbas, por
exemplo, para fazer piscinas que não sejam olímpicas. Não se pode treinar uma
equipe olímpica, porque a piscina não tem a medida olímpica. Está cheio disso no
Brasil. Recurso no Brasil existe em quantidade suficiente.
As manifestações desportivas são o desporto educacional — dividido em
escolar, médio e universitário —, o desporto de participação e o desporto de
rendimento. Essa é uma questão de sigla ou de denominação. O Dr. Heraldo falou
que os vários projetos têm nomes diferentes. É só uma questão de unificar os
nomes. Cada um gosta de batizar de uma forma, mas, na verdade, temos: o
desporto praticado na escola primária — que não pode ter as características de
competitividade, mas tem de ludismo; o desporto praticado no ensino médio — e
prepara o cidadão para se entrosar na vida; o desporto universitário — a exemplo do
desporto americano, em que o cidadão realmente é competitivo, embora não-
profissional, pois ele faz parte da educação da formação do cidadão; o desporto de
rendimento e, obviamente, o desporto de recreação.
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Sobre as estruturas, precisamos ter claro outro aspecto. Existem duas
grandes estruturas no desporto: a estrutura federada e a não-federada. Temos que
entender que estrutura federada é federada e fim de papo! Não tem conversa, tem
que ser assim! Começa na FIFA, passa pela CBF, pela federação paulista, mineira
ou catarinense, vai para o clube de futebol e, eventualmente, na liga municipal. Não
se pode — já dizia isso na Comissão da Nike — romper essa linha, porque ela não
nos pertence. É a FIFA que aceita a CBF, não é a CBF que manda uma cartinha à
FIFA dizendo que é sócia dela. “CBF, enquanto você cumprir a minha regra, você é
minha filiada”. Isso é mal? Não tem nada de errado. É uma estrutura federada, e
funciona dessa forma.
Existe uma divergência em relação a uma frase do o Dr. Panhoca. Defendo
por exemplo que todo atleta de futebol — todo — esteja registrado na CBF. Essa é a
única forma de sabermos se o atleta tem condições de jogo porque está centralizada
a sua filiação. Se vai ser cobrado ou não é outra conversa.
Entramos em outro ponto que é o aspecto não-formal: a grande discussão
que se trava no País sobre a questão das ligas e a frustração que houve, inclusive,
com o decreto. Vi três versões prévias do decreto, antes da versão oficial. Fiquei
surpreso com a versão publicada, porque a versão que eu conhecia era muito
melhor. A versão publicada não acrescentou rigorosamente nada a não ser confusão
ao texto que está no art. 16 e no art. 20 da lei, rigorosamente nada! O que diz o
decreto? Diz que os clubes podem querer a liga. Sim, mas ali já está dizendo!
Temos de perder o costume, Srs. Deputados, de fazer decreto
regulamentador no Brasil para repetir o que a lei já diz. O art. 20 da lei diz: “Os
clubes podem criar ligas, mas a federação não pode exigir a filiação da liga”. A liga
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se filia se quiser. Está lá. É o mesmo artigo que diz isso. E termina: “O clube e as
ligas podem fazer o campeonato que quiserem, desde que aceito pela federação”.
Isso é óbvio, mas é assim. É assim na Itália, na França, na Inglaterra, na Alemanha,
nos Estados Unidos e até em Portugal. Se em Portugal dá certo, por que não vai dar
certo aqui? É um negócio impressionante a briga hoje na Europa. Disse isso uma
vez e dois portugueses ficaram bravos, mas morei em Portugal, e lá eles falam:
“Vamos para a Europa.” Não dizem: “Estamos na Europa.” Esse é um comentário à
parte, não tem nada a ver com desporto.
Trava-se grande discussão hoje na Espanha, pátria ideológica da maioria das
pessoas que pensam em desporto no Brasil hoje. Juntamente com a Itália, a
Espanha é o país onde toda a legislação desportiva está mais avançada, até pela
referência do futebol. Há uma grande briga entre a direção da liga e a direção da
Real Federação Espanhola de Futebol. A liga deveria ser um apêndice e ter
independência, porque realiza o campeonato espanhol. Quem realiza o campeonato
espanhol tem mais poder de mando do que quem apenas convoca os jogadores
para a seleção, e os melhores jogadores espanhóis são estrangeiros. Portanto, a
seleção espanhola pena para ir à Copa do Mundo. Só o Barcelona, por exemplo,
tem oito jogadores da Holanda, e é um dos melhores times. E a maioria dos atletas
do Porto são estrangeiros.
São essas duas estruturas que temos de colocar claramente na legislação: a
estrutura formal e a não-formal. A liga é uma estrutura não-formal e todas aquelas
competições de entidades escolares são não-formais, porque prescindem de uma
legislação única internacional. O grupo escolar Santa Terezinha de Brusque pode
realizar competições de atletismo, de salto em distância, salto com vara, futebol,
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vôlei e basquete com regras próprias, porque ele não vai participar de nenhuma
competição com outro clube, mas, no momento em que for participar com o grupo
escolar de Joinville, as regras têm que ser as mesmas para não ocorrer o mesmo
que aconteceu em 1980 entre a Inglaterra e a Alemanha, em 1890. Quando um time
da Alemanha foi jogar com um time inglês passaram duas horas discutindo como
faziam quando a bola saía fora, se pegavam com a mão ou com o pé. Passaram
algumas horas discutindo algumas regras mínimas. Foi aí que surgiu a regra do
jogo. Essa é outra conversa.
Com relação ao Estado e à organização do desporto, entro em uma questão
que é chave, na qual tenho insistido muito. Temos de esclarecer: confundem-se
duas palavras cujos conceitos são completamente diferentes, e um depende do
outro. São dois conceitos, duas questões essenciais para entender o papel do
Estado na organização do desporto. O art. 1º da Constituição da República
Federativa do Brasil diz:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada
pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de
Direito e tem como fundamentos:
I — a soberania (...)
Quem tem soberania é soberano e quem é soberano é o povo, e o povo
somos nós, que elegemos os Constituintes. Nós dissemos: “Façam uma
Constituição que nos represente.” E os senhores fizeram. Então, quem tem a
soberania? Quem tem o poder de decidir o que deve ou não ser feito? É o povo,
estratificado na Constituição, através exatamente do princípio consagrado na Carta
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Magna de 1988. Como é soberano, o povo brasileiro pode dizer o que quer e o que
não quer, se quer fazer um Estado democrático de Direito em uma república
federativa ou não, em uma república monárquica ou não, em uma república unitária
ou não, se quer uma república federativa com três Poderes, com o Poder Judiciário
dividido em três grandes linhas: a Justiça Federal, o STJ, o Supremo Tribunal
Federal, a Justiça do Trabalho etc. Isso foi o povo que fez.
Porque ele tem essa soberania, ela dá, voltando agora ao desporto, a
autonomia para que as entidades desportivas se organizem e planejem suas
competições. O limite da autonomia é o limite dado pelo poder. Tenho dois filhos que
atualmente são adultos, um está na universidade e o outro, formado. Quando
crianças, eles andavam soltos em casa, mas não se tirava nenhum objeto de cima
da mesa nem se tapava a tomada para não colocarem o dedo. Só era dito: “Não
pode tirar isso de cima da mesa!” Na primeira vez em que o meu guri tirou, fiz este
gesto: peguei a mão dele e disse: “Não poderia tirar e você tirou?” Fiz isso e ele
chorou desesperadamente porque tinha sido agredido. Não foi uma surra, foi isso
para marcar o limite. Disse: “Bom, da próxima vez, não mexa.” A autonomia que ele
tinha de andar dentro de casa era total, desde que respeitasse as regras que impus
para não ter que ficar tirando copo, vaso e objetos de cima da mesa.
Essa é a autonomia que têm os clubes, as ligas e as entidades de se
organizarem respeitando — agora entra o primeiro ponto que citei — a questão da
organização cultural. O desporto é uma manifestação cultural e, como tal, tem que
ser respeitado. As entidades desportivas não podem alterar toda a estrutura de
desporto ao seu bel-prazer. Mas não é preciso deixar de marcar uma partida ou
outra. Na medida em que o fizerem — disse isso em algumas oportunidades,
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Deputado —, o Ministério Público pode intervir porque estará interferindo na
organização da cultura brasileira, ou seja, o patrimônio cultural brasileiro estará
sendo ferido. Entendo assim e digo, mais uma vez, em alto e bom som: pelo menos
estes clubes: o Flamengo e o Vasco, para ficar nos dois, devem alguns milhões de
reais a atletas, aos patrocínios não pagos, ao Fisco, ao INSS e ao FGTS. O
Ministério Público deveria intervir porque o patrimônio cultural brasileiro está sendo
afetado, a imagem desses clubes está sendo afetada e a imagem do brasileiro está
sendo afetada, da mesma forma como ocorre com a devastação da Floresta
Amazônica, que também é patrimônio cultural.
Falei da questão dos recursos, e termino, Sr. Presidente, trazendo
rapidamente duas questões que me parecem chave nessa história: o clube-empresa
e a Justiça Desportiva, que o Dr. Marco Polo vai falar com mais vagar. O clube-
empresa dentro dessa visão é conceito que deve ficar claro. Deve-se preservar o
direito de os clubes permanecerem como sociedades civis sem fins lucrativos. A
soberania lhes dá esse direito, essa autonomia de escolha. Eu, soberano, vou dizer:
“Cara pálida, se você quer ser sociedade civil sem fins lucrativos, tudo bem, você
tem seis meses, a partir de hoje, para pagar o que deve ao Fisco, sob pena de
responsabilidade dos atuais dirigentes e a possibilidade de eles fazerem regressão
com dirigentes passados. Seis meses!”
Se eu, pessoa física, como já me aconteceu, trocar um valor e, em vez de
1.210 reais, colocar 1.120 reais como imposto a pagar, a Receita Federal me manda
uma carta corrigindo, multando e me obrigando a atualizar. E eu não tenho como
não pagar. Por que um time que deve 50 milhões de reais para a Receita Federal
fica enrolando e se dá o direito de não pagar? Tem seis meses para pagar e fim de
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papo, ou se transforma em clube-empresa, como foi exatamente na Espanha. A
partir daí, ele passa a ter um compromisso. Porque para se transformar não é o cara
dizer: “Vamos nos transformar em clube-empresa.” Ele vai dizer o seguinte: “A dívida
que tenho, vou pagar em vinte anos, e vou fazer através de bilheteira, xis por cento,
negociação de passe de jogador, que é uma outra conversa, através de uma parte
do dinheiro de publicidade, que vou repassar aos cofres públicos. Ele vai fazer um
orçamento, vai entregá-lo e assumir o compromisso de saldar dessa forma. Para que
vocês tenham claro, assim é na Espanha!
Em junho deste ano, todos os clubes espanhóis apresentaram ao Conselho
Nacional de Desporto um orçamento, Deputado, explicando por que o orçamento
que eles apresentaram não foi cumprido. O Real Madrid está devendo 100 milhões e
não fechou as portas nem foi para a Segunda Divisão porque a FIFA e a UEFA
assumiram o compromisso de honrar suas dívidas, decorrentes da compra do Figo
etc. Então, os clubes apresentaram um plano de saneamento para não caírem na
Segunda Divisão, dizendo como iam pagar a dívida remanescente e se
comprometendo a não contratar mais valores. O Cruzeiro, por exemplo, contratou
um milhão de jogadores e não teve depois um time para colocar em campo, e não
pagou. Não sei se é o caso do Cruzeiro...
O SR. DEPUTADO ZEZÉ PERRELLA – O senhor me citou. O Cruzeiro nunca
deu calote em ninguém. O senhor se expressou muito mal. Fui eu que contratei. Não
devo um centavo à Receita Federal, não devo um centavo ao jogador.
O SR. MARCÍLIO KRIEGER – Mas os jogadores... Ah, bom, fez um acordo...
O SR. DEPUTADO ZEZÉ PERRELLA – Fez acordo não.
O SR. MARCÍLIO KRIEGER – Retiro o Cruzeiro.
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O SR. DEPUTADO ZEZÉ PERRELLA – Pode retirar, porque não devo um
centavo a ninguém.
O SR. MARCÍLIO KRIEGER – Deputado, peço desculpas, mas já estou
terminando.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Peço a V.Sa. que conclua.
Quero observar a disposição regimental de que o orador não pode ser interpelado
no momento da exposição.
O SR. MARCÍLIO KRIEGER – Para terminar, Sr. Presidente, no caso da
Justiça Desportiva, há uma experiência informal em São Paulo, que deve ser
conhecida nos demais Estados. A Justiça Desportiva atua como órgão de mediação
entre atleta e clubes. Ou seja, o atleta não recorre diretamente à Justiça do
Trabalho, mas à mediação previamente, desafogando a Justiça do Trabalho e
obtendo resultados mais eficientes, mais rápidos e mais efetivos.
Muito obrigado, Sr. Presidente. Desculpe-me por me ter alongado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Obrigado, Dr. Marcílio
Krieger. Concedo a palavra ao Dr. Marco Polo Del Nero, Presidente do Tribunal de
Justiça Desportiva da Federação Paulista de Futebol, que falará sobre o tema
“Justiça Desportiva”. Tem a palavra V.Sa.
O SR. MARCO POLO DEL NERO – Ilustre Deputado Jurandil Juarez, Sr.
Relator, Deputado Gilmar Machado, ilustre Deputado Presidente de clube, sofredor,
gostaria de pedir a V.Exas., antes de expor o meu trabalho sobre Justiça Desportiva,
a permissão de fazer duas ou três considerações sobre a manifestação do Dr.
Panhoca.
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O Dr. Panhoca é um dos mais brilhantes advogados de São Paulo, e muito o
respeito porque o vi militar na Justiça Desportiva de São Paulo. Conheço seu
trabalho na justiça trabalhista, mas discordo frontal e totalmente de tudo aquilo que
disse nesta audiência. Durante todo o tempo — e temos conhecimento —, S.Sa.
disse: “Nós fizemos a Lei Pelé.” Os senhores ouviram e está registrado em ata. “Nós
fizemos.” Realmente S.Sa. fez a Lei Pelé. E isso está levando o caos ao futebol
brasileiro.
E também não é verdade, ilustre advogado, que a CPI se fundamentou na Lei
Pelé, a CPI fundamentou-se na Constituição Federal e no Regimento Interno da
Câmara dos Deputados, não foi a Lei Pelé que deu amparo ao surgimento da CPI.
O Pelé e o Carlos Miguel Aidar disseram que não eram os responsáveis pela
Lei Pelé. Mas a Lei Pelé deu prejuízo aos clubes, impediu divisas ao País e
promoveu um benefício muito grande aos empresários. Vou dar um exemplo
recentíssimo de quanto a Lei Pelé prejudicou o futebol: O Ronaldinho gaúcho estava
sendo vendido por 50 milhões de dólares. Esse dinheiro viria para o Brasil. Desse
valor, 42,5 milhões seriam do Grêmio e poderiam se reverter em favor do clube, dos
seus departamentos amadores; 42 milhões de reais entrariam em divisas para o
Brasil. E os grandes advogados — um grande advogado como o Dr. Heraldo
Panhoca, a quem muito respeito como advogado —, conseguem, lá na Justiça
Trabalhista, a liberação do passe.
Então, sabem o que acontece? O Grêmio recebe 5 milhões, o Ronaldinho
gaúcho recebe 30 milhões, muda seu domicílio fiscal para a França, o Brasil não vê
divisas, o clube só recebe uma ninharia e os empresários ficam cada vez mais bem
sucedidos.
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Era isso que gostaria de expor. Agora permito-me voltar a minha pauta.
Estive vendo a proposta muito bem encaminhada, Deputado Silvio Torres.
Mas gostaria que V.Exas. ouvissem também os clubes e os Presidentes de
Tribunais, porque eles sabem das dificuldades. Somos dirigentes amadores,
amamos o futebol, estamos lá no dia-a-dia, estou há quinze anos no Tribunal de
Justiça Desportiva. Há pouco tempo, fizemos um simpósio de estudos e foram
convidados: Wellington Cunha Cerqueira, Presidente do TJD da Bahia, se não me
engano, oito anos Presidente do Tribunal; José Pereira Antero, do TJD do Rio de
Janeiro, Presidente há 23 anos; José Luiz Cartilho Gomes, membro de muitos anos
também do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro; José Roberto Dutra, do TJD do
Paraná — que me parece o mais recente —, tem três anos de vivência na Justiça
Desportiva; Antônio Augusto Tadeu Bandeira, do TJD do Rio Grande do Sul, há 33
anos no TJD; Osmando Almeida, do TJD de Minas Gerais, muitos anos lá; José
Adilson Alexandre Simas, do TJD de Santa Catarina; João Elídio de Lima Filho, João
Elídio, Consultor Jurídico do Ministério do Esporte Turismo e um membro do STJD
de São Paulo, Luiz Roberto.
Esse grupo de pessoas trabalhou na redação de uma legislação, Código de
CBDF, e já o remetemos ao Ministro Carlos Melles. Ele não está muito distante
deste. Tenho a impressão de que está um pouco mais aperfeiçoado.
Qual o grande problema do TJD? Falam tanto mal dos TJDs do Rio de
Janeiro, não falam mal do TJD de Minas, nem de São Paulo. São Paulo julga 2.500
processos por ano. Provavelmente todos os TJDs do Brasil, juntos não julguem 2
mil. Bem, também conhecemos as dificuldades que os clubes têm em enfrentar o
Tribunal de Justiça Desportiva do Rio de Janeiro.
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Então, nossa proposta é que a Justiça seja denominada também arbitral,
porque é uma Justiça arbitral. O título pouco importa, mas digamos que fosse Justiça
Arbitral Desportiva. Então, teríamos o Superior Tribunal Arbitral de Justiça
Desportiva, o Tribunal Arbitral Nacional de Justiça Desportiva — depois vou explicar
a diferença —, os tribunais arbitrais de Justiça Desportiva e as Juntas Arbitrais de
Justiça Desportiva.
O Superior Tribunal, com jurisdição em todo o território nacional, terá
obrigatoriamente sua sede em Brasília, de acordo com o projeto. Também entendo
que pode ser em Brasília, no Rio de Janeiro, na Bahia, em qualquer lugar, o
importante são os homens. Como Brasília é sede de tantas coisas importantes,
também pode ser sede do TJD do Futebol, que é o quarto PIB do Brasil. Constituído
de nove membros, denominados julgadores efetivos, sendo dois indicados pela
entidade de administração do desporto nacional, dois indicados pelo sindicato de
classe dos clubes em nível nacional, dois indicados pela Ordem dos Advogados do
Brasil, por seu conselho federal, dois indicados pelo Sindicato dos Atletas
Profissionais de Futebol em nível nacional e um indicado pelo sindicato dos árbitros
de futebol profissional em nível nacional.
Todos os segmentos do futebol profissional estão envolvidos nesse Tribunal.
Segundo o § 1º, “sua composição obrigatoriamente deverá ser de bacharéis
de Direito” — isso também está no projeto —, “representados por nove Estados
diferentes”. Não podemos deixar o País nas mãos do Rio de Janeiro ou, se vier para
Brasília, nas mãos só dos brasilienses. Cada membro do Tribunal será
representando por um membro de um ex-tribunal de um Estado diferente. Essa é a
nossa proposta.
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Os membros escolhidos deverão ser originários de tribunais arbitrais de
justiça de cada Estado com o mínimo de um mandato completo. Por quê? Para
conhecer o processo, como ele funciona, e dar celeridade, se não, não consegue
funcionar.
O Superior Tribunal apenas julgaria os processos em grau de recurso. E
teríamos o Tribunal Arbitral Nacional de Justiça Desportiva com jurisdição em todo o
território nacional. Sua sede seria obrigatoriamente em Brasília, constituída de onze
julgadores efetivos, sendo dois indicados pelas entidades de administração de
desporto, dois indicados pelo sindicato de classe dos clubes de nível nacional, dois
indicados pelo sindicato de classe dos árbitros em nível nacional, dois indicados pelo
sindicato de classe dos atletas profissionais e três indicados pela Ordem dos
Advogados do Brasil, por seu Conselho Federal.
O Tribunal Nacional poderá constituir em seu âmbito câmaras desportivas.
Por quê? Porque, na medida em que tenha que julgar um número muito grande de
processos — digamos, uns mil e quinhentos processos por ano —, pode transformar
os seus onze membros em três Câmaras, o que dá celeridade ao julgamento. Isso é
muito importante para quem conhece o julgamento de 2.500 processos por ano.
Os Tribunais Arbitrais de Justiça Desportiva, com jurisdição e sede nos
territórios de cada Federação, são constituídos de onze julgadores efetivos, sendo
dois indicados pelo Administração de Desporto, dois indicados pelo Sindicato dos
Clubes, dois indicados pelos atletas, dois indicados pelos órgãos de classe dos
atletas e três indicados pela Ordem dos Advogados do Brasil. Quando a legislação
Pelé mudou e criou a presença da OAB na Justiça Desportiva, eu falei que não daria
certo. Depois, recebi os três membros da Ordem dos Advogados do Brasil. Agora,
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importa dizer aos senhores que são nossos melhores julgadores. É importante que
venha gente de fora. Sou favorável à presença deles.
Também há as Juntas Arbitrais de Justiça Desportiva, com jurisdição no
território das ligas municipais, que poderão ser constituídas de cinco julgadores, não
mais que isso, porque não há necessidade. Eles julgam aqueles campeonatos de
dez clubes das cidades. Não há necessidade de mais de cinco julgadores, porque é
difícil arrumar até cinco. Temos visto participar de tribunais — e agora mesmo eu
desliguei uma série de ligas porque estavam irregulares — gente que não é bacharel
em Direito, que pratica absurdos dentro das ligas. Então é importante um grupo mais
ou menos fechado, de cinco pessoas, das quais duas são indicadas pela entidade
de administração de desporto, uma pelo sindicato ou órgão de classe dos clubes de
futebol profissional, uma indicada pelo sindicato ou órgão de classe dos árbitros e
uma indicada pela Ordem dos Advogados do Brasil, subseção de cada localidade. A
Ordem dos Advogados do Brasil precisa estar presente sempre. Normalmente, quem
é indicado pela OAB deve ser um conselheiro, que exerce a cidadania de uma
maneira muito forte, impedindo que os outros pares torçam — ainda que sejam
torcedores. Se chegou a ser conselheiro é porque tem uma visão mais moderna da
atividade, como jurista. Então a presença deles é sumamente importante.
No mais, eu entendo que o CBDF, Código Brasileiro Disciplinar de Futebol —
eu estive conversando com o Dr. Marcílio sobre isso —, é um dos códigos mais bem
feitos que conheço. Ele tem toda a legislação. Tudo o que se imaginar ele possui:
impugnação de partida, inquérito, jurisdição e competência, processo ordinário, a
parte penal. A parte penal merece alguns reparos em relação às penas, pois
algumas estão desatualizadas. Há casos de agressões de jogadores, durante uma
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partida de futebol, que não merecem suspensão de apenas duas a quatro partidas,
mas de duas a seis, como é o caso das vias de fato, por exemplo. Na primeira vez é
aplicada ao jogador a suspensão de duas partidas, na terceira, três partidas, e na
quarta, quatro partidas, mas há jogador que é suspenso e continua batendo toda
semana, então deve haver uma posição mais séria, mais grave.
Em São Paulo, talvez pelo poderio do Estado em relação a receitas, o
regulamento do campeonato prevê penas que variam de mil a 100 mil reais. Quando
um técnico de futebol que ganha 300 mil reais, por exemplo, fala besteira ou age de
forma antidesportiva, ele pode ser multado em 20, 30, 50 e até 100 mil reais, porque
ganha muito bem. Ele não pode ser multado em mil reais. Nosso Tribunal costuma
analisar a situação financeira do punido: determinado jogador suporta uma punição
de 10 mil reais porque ganha 150 mil reais por mês? Sim. Mas um outro que recebe
salário mínimo não pode receber a mesma pena. Nós podemos reduzir a pena deste
outro de 200 para 25 reais, se for o caso.
Contra os 2.500 processos que o Tribunal de São Paulo julga por ano, há, no
máximo, três recursos ao Tribunal Superior de Justiça Desportiva. E obtivemos
sucesso, pois foram mantidas as decisões.
Penso que os senhores já entenderam bem a situação do CBDF. É um código
bem feito, que merece ser mantido. Minha grande preocupação é realmente com os
Tribunais Superiores, o Tribunal de Recursos e o Tribunal Nacional, em que deve
haver um membro de cada Estado, originário dos Tribunais.
Era o que tinha a expor.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez ) – Muito obrigado, Dr. Marco
Polo.
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Passemos ao debate. Há uma lista de inscrição. Não sei se todos que têm
interesse já se inscreveram. Vamos fazer, então, a chamada para o debate, pela
ordem das inscrições.
Com a palavra o primeiro inscrito, Deputado Zezé Perrella.
O SR. DEPUTADO ZEZÉ PERRELLA - Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Deputados, Dr. Marco Polo, Sr. Relator, Deputado Gilmar Machado, Dr. Heraldo
Panhoca, Dr. Marcílio Krieger, gostaria de, primeiramente, pedir desculpas pela
maneira intempestiva como interrompi nosso convidado. Talvez eu tenha agido na
posição de um torcedor, e não como Presidente do Cruzeiro ou como Deputado.
Tenho sobre o Dr. Marcílio as melhores informações e referências, apesar de o estar
conhecendo pessoalmente agora. Fico triste, porém, com o fato de o senhor não ter
as mesmas referências do Cruzeiro e de minha pessoa, mas vamos ter tempo de
nos conhecer melhor.
Com relação ao que V.Sa. abordou com muita propriedade, talvez eu seja o
mais árduo defensor da moralidade no futebol. Apesar de alguns órgãos da
imprensa brasileira incluir meu nome ao citar a “Bancada da Bola”, o Deputado
Jurandil Juarez é testemunha de que “eu me dei ao luxo” de não participar daquela
Comissão porque eu não achava legítimo julgar a mim próprio, participar de uma
Comissão em que o meu clube e todos os clubes do Brasil estariam sendo
investigados. Talvez por culpa da imprensa, que divulga determinadas informações
sem checar a veracidade, terminamos por cometer determinados equívocos.
A título de informação, o Cruzeiro pagou 20 milhões de reais de Imposto de
Renda, em quatro anos. A maioria dos clubes do Brasil tem hoje liminares na
Justiça. Desde 1998 tem de ser recolhido o Imposto de Renda sobre o lucro dos
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clubes, mas como a maioria deles não recolhe, entram com liminares. O Cruzeiro
sempre recolheu, pelo menos na minha gestão. Quando negociamos os jogadores
com o exterior precisamos pagar impostos. Sempre tivemos esse cuidado. Tanto é
que fomos investigados pela CPI do Senado e não se apurou absolutamente nada
contra o Cruzeiro. Na ocasião, quebraram o sigilo dos vinte maiores clubes do Brasil.
Eu não entrei no Tribunal contra a quebra de sigilo, nem minha nem do clube,
porque estávamos tranqüilos, já que não tínhamos o que temer, já que sempre
procuramos agir com transparência. Talvez tenham quebrado nosso sigilo, na
ocasião, porque não tenha havido muito critério ou embasamento de todos os
presidentes de clubes. A maioria deles entrou na Justiça contra isso.
Destaco que o senhor está correto nessas considerações. Para esclarecer,
com relação a esses atletas, nós negociamos o jogador por 18 milhões de dólares.
Obviamente o Cruzeiro tinha que fazer alguns investimentos para o Campeonato
Brasileiro. Como se criou aquela expectativa e eu me via obrigado a montar um
supertime em função dessa venda, contratamos apenas três jogadores, cujos
passes pertenciam a eles próprios: o Alex, o Edmundo e o Rincón. Não deu certo,
mas eu rescindi os contratos, pagando a eles o que lhes era devido. Dr. Heraldo
Panhoca, acho que nunca houve uma ação contra o Cruzeiro, porque eu nunca
deixei de pagar aos jogadores. Sempre pago no dia 5, rigorosamente. Mas acho que
a situação do Cruzeiro é o que menos importa aqui.
Não vou nem fazer perguntas especificamente, vou me dirigir a todos. Agora
se está constituindo a liga, e eu briguei — sempre brigo por isso — para que se
incluísse no estatuto a obrigatoriedade de os clubes, para fazerem parte da liga,
estarem em dia com suas obrigações tributárias, com seus atletas. Alegaram que se
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isso acontecesse não haveria liga. Então, eu sugeri que se desse um tempo para
que os clubes se adequassem. Porque, na realidade, há um calote generalizado
entre os clubes. V.Sa. tem toda a razão!
Eu sempre procurei fazer futebol com o dinheiro que tenho, apesar de todas
as dificuldades de se fazer futebol em Minas Gerais, contra o poderio de São Paulo.
Particularmente, acho um crime ao futebol brasileiro a liga regional Rio - São Paulo.
E denunciei isso! Precisamos de uma liga brasileira forte para não causar
disparidades no futebol brasileiro. Vamos virar o quintal do Rio de Janeiro e de São
Paulo! Para V.Sa. ter uma idéia a liga Sul - Minas irá receber em torno de 20
milhões. O Cruzeiro entrou na liga Sul - Minas apesar de não pertencer à Região
Sul. Minas Gerais deveria estar na liga Sudeste ou na Rio - São Paulo. Mas, nos
colocaram na liga do Sul. Com todo respeito ao Sul, geograficamente Minas Gerais
está localizada na Região Sudeste. E entramos mesmo porque não tínhamos outra
opção. Estamos muito bem acompanhados com os clubes do Sul. Não falo com
relação a isso, mas com relação até a valores. Paga-se hoje quatro vezes mais para
a liga Rio - São Paulo do que para a liga Sul - Minas. Logo, clubes como o
Fluminense e o Botafogo terão, ao final do exercício, uma renda de televisão
superior a do Cruzeiro, Atlético, Grêmio e Internacional, por ordem de 7 a 8 milhões
por ano. Dessa forma, teremos dificuldade financeira de competir com esses clubes.
Sempre conseguimos competir com igualdade, talvez, porque os mineiros têm
alguma competência.
Eu brigo e brigarei sempre para que haja uma liga nacional de primeira,
segunda e terceira divisão. Essa é a luta de todos nós. Que a liga seja obrigada a
colocar nos seus estatutos informações de que elas estão em dia com os jogadores,
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os parceiros da liga, enfim, com o Governo. Os clubes, Dr. Marcílio, tiveram
oportunidade de fazer isso quando surgiu o REFIS, que foi dado a todas as
empresas e também aos clubes de futebol. Paga-se, se não me engano, 2,5% ou
3% sobre o faturamento bruto indiferentemente do valor da sua dívida. O REFIS se
paga até em 3 mil anos. A maioria dos clubes teve essa oportunidade, mas não fez.
O Cruzeiro tinha uma pequena pendência, não em decorrência de sonegação. O
Cruzeiro era responsável solidário por um bingo que sonegou imposto. Conseguimos
até mudar isso no relatório do Maguito. Entretanto, aproveitamos o REFIS e
compusemos as nossas dívidas. A maioria dos clubes deveria ter feito isso na
época, mas não o fez. Talvez, a solução, agora, seja a criação de um REFIS
específico como pré-requisito para participar da liga.
O SR. DEPUTADO SILVIO TORRES – Apenas quero esclarecer que o REFIS
incide 1,2% sobre a alíquota.
O SR. DEPUTADO ZEZÉ PERRELLA – Então, veja bem. Se um clube fatura
um milhão de reais por mês, um clube de porte médio apura até dois milhões em
média. Isso daria trinta e poucos mil por mês. Ou seja, muito menos do que o salário
de qualquer jogador. Com relação à lei do passe, diziam que era uma lei
escravocrata, eu entendia que era preciso se fazer, mas não tive coragem de
defender uma lei que está acabando no mundo. Mas isso provocou no Brasil uma
situação interessante. Os jogadores brigavam para ter passe livre. Com isso,
conseguíamos pagar os salários dos cinqüenta, setenta, oitenta mil jogadores com o
que obtínhamos da venda de outros jogadores. Com o produto dessas vendas,
pagávamos os altos salários. Depois, os altos salários acabaram, inclusive no
Cruzeiro. Hoje, os clubes que querem nossos jogadores estão ligando para as
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federações e os procuradores do jogador para levá-lo de graça, como foram os
casos do Juninho paulista, do Ronaldinho gaúcho, e vários outros.
Conseqüentemente, nosso produto de exportação será em menor escala, uma vez
que o leque de jogadores que ficará livre agora será algo de impressionar. Desse
modo, constatamos que a lei do passe não beneficiou os atletas nem os clubes. Isso
realmente ocorreu. Pode ser que, com o passar do tempo, essa situação ainda se
normalize. Mas sempre consegui manter um padrão alto de salários dentro do que
pagava a maioria dos clubes brasileiros. Eu conseguia concorrer com os clubes
brasileiros sem ficar devendo e sem endividar meu clube, exatamente, porque eu
conseguia fazer boas vendas. Por exemplo, o Fábio Júnior foi negociado por 15
milhões de dólares, Geovani, 18 milhões de dólares, Evanilson 7 milhões de dólares,
Alex 7 milhões de dólares. Foram vários. O clube brasileiro que mais vendeu talvez
seja o mais sacrificado em função do passe. Mas, digo a V.Sas. que a função de um
clube de futebol, às vezes, não é só futebol.
Somos criticados. Vejam V.Sas. que eu fui criticado há pouco tempo pela
imprensa. O Cruzeiro tem 200 escolas de futebol espalhadas pelo Brasil há seis
anos. Agora estão dizendo que as escolas foram montadas em função do meu
projeto de Deputado. O Cruzeiro é o único clube do Brasil que tem escola própria
dentro do clube. Estamos formando, no dia 7 de dezembro, a primeira turma de 50
jogadores. Então, temos uma preocupação também com o social. O projeto do
Deputado Sílvio Torres é um avanço. Sou autor de um projeto também que fala
especificamente de futebol. Acho que o futebol merece uma legislação própria. Não
quero dizer que não deva haver uma legislação para os outros esportes; mas, o
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futebol é tão complexo que ele merece legislação própria. Esse também é o
pensamento do Presidente Almir Pazzianoto.
Então, Sr. Presidente, como membro desta Comissão, quero dar minha
contribuição. Tenho conversado muito com o advogado Heraldo Panhoca. Não estou
aqui para defender interesses do clube, mas do futebol. Meu mandato termina no
final do ano que vem e vou ficar fora do futebol. Digo aos V.Sas. que apenas quem é
presidente de um clube sabe as incompreensões por que passamos. Ganhamos 14
títulos em seis anos e meio — o clube brasileiro que mais títulos ganhou —, ainda
assim estou sendo julgado agora porque fiz um mal campeonato brasileiro, de uma
maneira até dura pela imprensa. Futebol é paixão. O papel da imprensa deveria ser
o de credora dos clubes caloteiros. Ela deve denunciar quando o clube estiver
devendo a um jogador. Também não quero fazer críticas à imprensa. Os clubes que
dão calote deveriam ser denunciados. O jogador, às vezes fica com medo de falar.
Você só fica sabendo que o jogador tem dinheiro para receber do clube no dia em
que ocorre uma crise técnica ou no dia em que o time perde, porque tudo é
acobertado. Isso deveria ser melhor fiscalizado.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Com a palavra o Deputado
Aldo Rebelo.
O SR. DEPUTADO ALDO REBELO – Em função do ambiente que estamos
vivendo na Casa e por economia processual, sugiro a V.Exa. que chame por bloco
dois ou três Deputados, para que a reunião possa andar mais rápido.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – A Presidência acata
sugestão de V.Exa. Só tem cinco inscritos, por isso, concedo imediatamente a
V.Exa. a palavra, em razão de ser o próximo inscrito.
O SR. DEPUTADO ALDO REBELO - Sr. Presidente, quero registrar a
generosidade do Dr. Heraldo Panhoca, que me presenteou com uma foto de quando
fomos condecorados pelo Tribunal Superior do Trabalho.
Sou nordestino da Zona da Mata, que conheceu, em meados do século
passado, uma transição, na sua economia, que foi a passagem do engenho do
açúcar para as modernas usinas produtoras de açúcar. Centenas de engenhos
foram transformados em grandes usinas, o que ocasionou um salto na produção de
açúcar naquela região.
Imagino a razão pela qual o futebol brasileiro não consegue fazer a transição
para um futebol globalizado, altamente capitalizado. Nossos engenhos, nossos
clubes não estão se transformando em usinas. Os donos dos engenhos estão se
transformando apenas em plantadores de cana-de-açúcar e exportando a produção
para grandes usinas que se formaram lá fora. Nossos clubes estão em dificuldades
financeiras, enquanto os grandes clubes europeus fazem grandes contratações,
grandes negócios. Nós não conseguimos fazer isso.
O que está errado? Onde reside o problema? O problema não está no
torcedor, porque esse continua, como sempre, apaixonado, abnegado, dedicado.
Acho que houve uma tentativa de transição com a Lei Pelé, mas, na minha opinião,
fracassou completamente. É indiscutível o fracasso da Lei Pelé pelo fracasso do
próprio futebol. Se ela tentava transformar o futebol brasileiro num futebol rico, com
clubes fortes econômica e financeiramente, com patrocinadores, o objetivo não foi
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alcançado. O não alcance do objetivo é a demonstração do fracasso do meio, do
instrumento.
Não teria um diagnóstico definitivo nem profundo para explicar as razões do
fracasso da Lei Pelé. Como diria o conterrâneo dos Deputados Olimpio Pires e Zezé
Perrella, o grande Guimarães Rosa, às vezes, não temos certeza, mas
desconfiamos de muitas coisas. Desconfio que o fracasso deveu-se a entrega, a um
ente abstrato, do ponto de vista legal, mas muito concreto do ponto de vista da vida
prática, que é o mercado, do destino da resolução desse desafio e dessa transição.
Como era moda, uma ideologia, entregar tudo ao mercado (as telecomunicações, o
setor de petróleo e tudo o mais), também o futebol integrou-se a essa ideologia
mercantilizante. E creio que, como nas outras coisas, ela não resolveu. O mundo
ficou mais desigual, mais problemático, e o futebol também.
Portanto, acho que é preciso fazer o movimento “A César o que é de César, a
Deus o que é de Deus”. Ao mercado o que é do mercado e, aquilo que deva ser
regulado, ao Estado, no sentido do Poder Público. E aqui lembro Getúlio Vargas. O
Brasil tinha ligas regionais, Deputado Zezé Perrella. Eram as ligas da época: a de
São Paulo, a do Rio de Janeiro. O Brasil não conseguia formar uma seleção. Houve
necessidade de intervenção de Getúlio Vargas para que se organizasse o futebol
brasileiro como um ente nacional, com direitos e deveres.
Creio que o papel do Estado não é o de gerir futebol, mas de promovê-lo, em
primeiro lugar. As escolinhas de futebol, por exemplo, deveriam ser grupos
escolares, cada um deles com campo de futebol, já que no País o futebol tem tal
importância. E futebol não apenas no sentido lúdico, a que se referiu o Dr. Krieger,
mas também no sentido de formador da personalidade, do cidadão; que ensina ao
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jovem suas potencialidades e seus limites, o respeito às regras, o espírito coletivo —
e ao mesmo tempo a exploração das suas potencialidades individuais —, além de
também a vencer e a se comportar bem diante de uma derrota.
O que pode mais ensinar o homem? Disse o célebre escrito argelino-francês
Camus que tudo que aprendeu na vida, aprendeu debaixo de uma trave, como
goleiro de futebol. A grande escola da vida foi um campo de futebol. E isso não é
valorizado.
Na outra ponta, além da promoção, o Estado deveria ficar na fiscalização. Se
entregarmos o futebol brasileiro aos empresários apenas, respeitosamente... O
mundo é capitalista, o País é capitalista e não estou querendo mudar isso no futebol.
Quando mudar tudo, também mudamos no futebol. É capitalista, tudo bem. O
empresário tem por objetivo obter lucro e, se não cumpri-lo, sai do mercado. A
empresa, a Coca-Cola, a fábrica de refrigerantes, de cigarros, de remédios, de
comida, vão atrás do lucro, até porque, se não obtiverem lucro, serão suplantadas
pelas outras. No futebol, também. Se é empresa, se é negócio, o principal objetivo
será lucro. E a paixão? E o sentido cultural? E o sentido educativo? E o sentido
formador? Quem vai cuidar? As empresas não cuidam disso, senhores. Não cuidam
disso. Os negociantes, com todo respeito que a palavra mereça, não cuidam disso;
não é da sua natureza nem do seu objetivo.
Então, é preciso que os amantes do futebol, mais do que o mercado, e que
têm compromisso com esse conteúdo do futebol, com essa natureza mais
duradoura, mais profunda, mais democrática, mais popular, mais educativa,
pedagógica, preservem-no. O futebol brasileiro foi um achado, um encontro, uma
reinvenção no País de algo tão bonito, tão democrático, democratizador no sentido
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social de promover o encontro das pessoas. Vão ao estádio o empresário, o
desempregado, o rico, o belo, a fera, o artista, o famoso, o anônimo. O futebol
brasileiro promove essa democratização social, cultural. E acho que isso não pode
ser posto em risco.
Lamentavelmente, só tenho essas desconfianças e queixas. Mas quem
acompanha de perto, quem conhece os meandros, a história, os mecanismos do
funcionamento dessa estrutura, ao mesmo tempo, tão problemática mas que
mostrou-se também tão resistente e saudável, tem obrigação de apontar os
caminhos para além das suas obrigações imediatas. Como advogado, tenho grande
identidade pelo espírito libertário da profissão, como o Dr. Panhoca. Agora, quero
ver, além do advogado, o cidadão, que vê o esporte como esse patrimônio. Acho
que isso precisamos ver em todos os que prestarão sua contribuição a essa
Comissão. O torcedor vai continuar pagando, comprando sua camisa, seu chaveiro,
seu ingresso e amargando a tristeza nas derrotas e comemorando a vitória dos seus
times e da nossa seleção. E precisa ser recompensado com o mínimo que ele
merece, que é o respeito e a preservação disso, que pertence, acima de tudo, ao
torcedor.
Quero registrar que defendo a isenção fiscal. Sou um defensor de imposto.
Doutrinariamente, ideologicamente, defendo o Estado e os impostos. Agora, no caso
dos clubes, defendo sua isenção, porque acho que é um patrimônio e não uma
empresa, mesmo que seja gerido com essa responsabilidade. Mas defendo também
que se preste contas. Se uma empresa multinacional como a Ford vai à Bahia se
instalar com 1 bilhão de dólares de incentivos do Estado, porque o Estado não pode
incentivar o Cruzeiro, o Palmeiras ou o Corinthians, desde que prestem contas
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desse recurso público indireto? E digam: “Formamos tantos jovens; protegemos,
pusemos na escola, prestamos assistência, construímos instalações, centros de
treinamento, abrimos para a comunidade...” Se prestam contas, acho que devem
receber incentivos. Se for empresa mesmo, vai ter de distribuir dividendos com o
torcedor, com o sócio. A não ser que os clubes se dividam também em uma parte
empresarial e outra comunitária, e esta última não pague tributos para investir na
ação comunitária. Já existe uma estrutura instalada, dirigentes, meios, médicos,
treinadores. Basta aproveitá-la. Acho que isso poderia ser feito também. Porém,
enfrentamos a dificuldade da não-prestação de contas e a falta de seriedade, às
vezes, das administrações, com honrosas exceções, das quais temos aqui a
presença do Deputado Zezé Perrella para corroborar.
Mas penso que este é um debate, e não uma opinião definitiva, o qual vamos
realizando sob a Presidência do nosso estimado Deputado Jurandil Juarez.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Agradecemos ao
Deputado Aldo Rebelo as considerações.
Embora não tenha havido nenhuma indagação levantada especificamente aos
expositores, se algum deles desejar fazer uso da palavra, poderá fazê-lo por 3
minutos, conforme determina o Regimento Interno, ou melhor, começarei
concedendo a palavra na mesma ordem de exposição.
Com a palavra o Dr. Heraldo Panhoca.
O SR. HERALDO PANHOCA – Meu caro Deputado Zezé Perrella dizia que
as ligas poderiam não trazer transparência, apesar de sua proposta almejar isso.
Pasme, Deputado. A entidade de prática desportiva que estiver com pagamento de
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salários dos atletas em atraso por prazo superior a quatro meses, não poderá
participar de qualquer competição. Hoje, 3 meses de atraso de salário dá rescisão
do contrato. Mas isso foi retirado desse projeto com dano para o atleta e em
benefício da entidade. Ela pode continuar sonegando, pode não pagar salários e só
vai ficar impedida, mas aí o regulamento determina que a Federação pode dar
ordem, como existe. Então, Deputado, é mais um ponto nesse projeto que precisa
ser repensado.
O Deputado Aldo Rebelo disse que a Lei Pelé não era tão boa assim, mas é
preciso lembrar a Lei nº 9.981, em cima de uma medida provisória, lei de conversão.
O Senador Maguito Vilela e o Deputado Eurico Miranda que mudaram toda a Lei
Pelé no seu contexto de seriedade. A Lei nº 9.981 foi um retrocesso e já disse isso
aqui, no ano passado, chamando a atenção dos senhores. Então, não foi o projeto
original da Lei Pelé; muito pelo contrário. Foi a Lei nº 9.981 que deteriorou e trouxe o
caos.
Só para citar, em 1998, na vigência plena de todo o apogeu da Lei Pelé,
chegando e trazendo capital, fomos a Winipeg — quando todos os atletas brasileiros
eram considerados profissionais, recebiam por isso, pagavam suas contribuições
previdenciárias e tinham seguridade social — e trouxemos 22 medalhas de ouro.
Passa-se um ano. Aprova-se a Lei nº 9.981, em 17 de julho. Estávamos embarcando
para a Olimpíada de Sydney. Naquela semana, reúnem-se no Palácio do Planalto o
Presidente Fernando Henrique Cardoso, o Presidente do Comitê Olímpico Brasileiro,
Carlos Nuzman, e todos nossos atletas, à exceção dos do futebol, oferecendo-lhes
um texto de lei dizendo: “De hoje em diante, vocês não são mais profissionais. A
conquista que os senhores tiveram com a Lei Pelé, a Lei Maguito Vilela, ou Maguito-
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Miranda, tenha o nome que tiver, os derrotou.” Sabem qual foi o resultado disso?
Medalha zero! Essa foi a nota que o atleta brasileiro deu à lei. E, na seqüência,
tivemos outro episódio, pois, ao se eliminar a responsabilização do dirigente, ao
retirar o Ministério Público, que estava lá — e na Maguito Vilela foi retirado —
também tivemos essa situação.
E pasmem, Srs. Deputados, principalmente os dois aqui presentes, que
diuturnamente cuidaram de uma CPI, dizer que a Lei Pelé é um retrocesso é
lamentável. Os senhores perceberam que a evasão fiscal; a fraude em passaportes;
a fraude em certidão de nascimento do atleta, para valorizar o passe, passavam por
um triângulo uruguaio. E, se hoje o Ronaldinho Gaúcho trouxe para o Grêmio, de
Porto Alegre — já respondendo à afirmação que fez nosso advogado paulista, Dr.
Marco Polo —, 5 milhões de dólares, foi o justo valor, pois a FIFA o estabeleceu. E
se ele recebeu 30, é porque ele vale. E, com absoluta certeza, esses 30 serão
tributados no Brasil, diferentemente daquilo que os senhores levantaram no Paraná,
com Lucas; no Paranaense, com o Juan Figer, e assim sucessivamente. Não foi a
Lei Pelé que proporcionou evasão fiscal; foi a índole de alguns dirigentes.
Sobre cidadania, o senhor disse que eu talvez, como advogado, fosse, mas
talvez deixasse a desejar como cidadão. Entendi assim; se não foi assim, peço
desculpas, mas vou responder. Cada artigo do projeto de lei – a Lei Pelé não é
minha, mas dos senhores... Ela foi aprovada por unanimidade na Câmara dos
Deputados e no Senado Federal, e sancionada com 4 vetos pelo Presidente da
República. Então, ela não é minha, mas do Brasil. Se tive o condão de auxiliar a
fazê-la é porque tinha competência para isso. E se ela foi aprovada por
unanimidade, sinto-me feliz. E mais feliz ainda porque teve de ser destruída depois,
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pois estava moralizando. No seu engenho, se eu não colocar seu açúcar na
televisão; se eu não colocar seu açúcar globalizado, ele não vai vender. A Colômbia
tem 3 pés de café; o Brasil tem 1 milhão. Em todos os canais de televisão do mundo,
vejo o café da Colômbia, mas o do Brasil não aparece. Então, temos que nos
adaptar.
A cidadania é quando adotamos norma igual. E, graças a Deus, existe o
Deputado para fazer a lei, mas existe também o advogado e o magistrado para fazê-
la ser cumprida. Neste projeto que hoje está apresentado em 3 versões não há
sanção. E, se não houver sanção, Deputado, não teremos nenhuma dessas normas
sendo cumprida. Todas as sanções que colocamos na Lei Pelé foram retiradas,
exatamente porque, se for feito um artigo de lei sem sanção, ela fica inócua. É a lei
que não pegou. E a Lei Pelé pegou, tanto que precisou ser destruída.
Quanto ao incentivo fiscal, também concordo. Porém, não no profissional. A
Coca-Cola não precisa de dinheiro do Governo para aparecer na televisão; a FIAT,
na camisa do time do Zezé Perrella, também não precisa. Entretanto, o Estatuto da
Criança e do Adolescente, junto com a renúncia fiscal do Ministério da Fazenda,
colocam 600 milhões em renúncia fiscal, por ano, para atendermos o jovem atleta e
o jovem em formação, de zero a 17 anos, 11 meses e 29 dias. Fizemos isso como
proposta e os senhores — e vou até mudar o discurso — aprovaram no
semiprofissional, que foi destruída pelo Maguito Vilela, quando destinávamos 1% do
imposto das empresas e 6% das pessoas físicas à formação de atletas. E a Lei nº
9.981 retirou essa possibilidade. Não há necessidade de se fazer nenhum
malabarismo. Tudo isso já está previsto, basta seguir o que foi proposto em tão boa
hora.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Agradecemos ao Dr.
Heraldo as considerações.
Concedo a palavra ao Dr. Marcílio Krieger.
O SR. MARCÍLIO KRIEGER – Sr. Presidente, quero passar às suas mãos um
trabalho que intitulei “Questões Propostas”, uma síntese do que falei anteriormente.
Embora não tenha definido os conceitos, coloquei os tópicos fundamentais.
Há 3 questões que gostaria de tocar rapidamente em relação ao que foi
falado pelos Deputados Zezé Perrella e Aldo Rebelo: as ligas, o REFIS e a Lei do
Passe.
Começo pelo REFIS. Acho que deveria ser discutida, dentro da conceituação,
uma forma de os clubes se adequarem legalmente aos compromissos que devem ter
para com a sociedade brasileira, não só através do pagamento devido dos impostos
e demais obrigações fundiárias e previdenciárias, mas principalmente quanto a essa
história do dinheiro em relação ao empresário, que é o ponto seguinte, a Lei do
Passe.
Falou-se, e na ocasião cheguei a colocar em debate na Comissão em que se
discutia o projeto da Lei Pelé, sobre o fim da Lei do Passe. Eu defendia que bastaria
tirar 5 palavras do art. 11 de uma lei de 1976 que dizia que passe é o valor devido,
por um empregador ao outro, pela cessão do contrato de trabalho do atleta, mesmo
após seu término. Pensava que, se excluída a expressão “mesmo após o seu
término” estaria resolvida a questão, pois conceituava passe como uma indenização
pela cessão do contrato de trabalho. O problema — e toda a carga emocional que se
levantou neste País — estava no fim da escravidão; o início da libertação do atleta
com o fim da Lei do Passe. E o que vimos? No dia 26 de março, do ano da graça de
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2001, ficou claríssimo, e quem não sabe comece a consultar os jornais para ver, o
início da era do feitor de escravos do senhor empresário, que, em geral, não tem
formação cultural alguma e é o cidadão que se arroga inclusive papel de advogado,
porque ele é Procurador — Procurador é, pela lei do Estatuto da Ordem dos
Advogados, missão específica de advogado.
Não citarei nomes, mas V.Exas. saberão de quem falo. Não tenho provas,
mas há um clube que, no começo de 2001, lançou quatro juvenis no time principal
para testar e fez um contrato de 600 reais, um pouco mais, um pouco menos, com
cada um deles e os quatro estouraram no time principal nas duas, três primeiras
partidas. O clube quis, então, assinar novo contrato, já dentro da previsão da nova
lei que lhe assegurasse o direito de um valor substancial no caso de cláusula penal
de cessão desses atletas que irão estourar no exterior, sim, dentro de seis meses,
um ano. E qual foi a surpresa? Os quatro, menores de idade, já tinham um
empresário atrás deles. E sabem V.Exas., inclusive, de quem estou falando. Um
desses jogadores é um que está brilhando no campeonato brasileiro.
E isso é uma praga pelo Brasil afora. O empresário, hoje, é a figura que está
mandando no futebol, acho eu, com o conluio de grande parte de dirigentes de
futebol, porque não é possível que um atleta de 17 anos vá assinar um contrato,
com o empresário do lado, que ganhará... Disse-me um repórter do Jornal do
Comércio, do Nordeste, e depois confirmado por outro de São Paulo, se não me
engano, Jornal da Tarde — dois repórteres diferentes que estão levantando a
matéria — que há casos de contratos com empresário, Sr. Presidente, de 20% ao
mês. Um escândalo. Quer dizer, o que faz o empresário? Não faz nada. Por isso, eu
falava antes da necessidade da conceituação. Vamos conceituar clube-empresa.
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Na minha opinião, hoje, e não é porque está aqui o Deputado Perrella, o
Grêmio faz um trabalho semelhante ao que faz o Cruzeiro com as divisões de base.
O Ronaldinho é fruto disso. Esses clubes são clube-empresas no sentido de que
formam o cidadão, formam o atleta. A escolinha do Carpegiani, do Zico, formam o
atleta e o cidadão, só que, na hora de o clube retirar o investimento que aplicou
nesse cidadão, ele dança. Está aí S.Exa., o senhor empresário, com a conivência da
sociedade brasileira. A lei tem de conceituar para, inclusive, impedir esse tipo de
coisa e punir o clube que faça contrato, porque, se é menor de 18 anos, pode estar
lá o empresário, mas estará o pai ou a mãe, ou seja, o responsável por ele. Contudo
é importante porque a questão da Lei do Passe esteja vindo a público com mais
freqüência.
A questão das ligas. Falei há pouco que o decreto que vi publicado — podem
até ter me passado uma dessas cópias fajutas... Nessa proposta, Deputado, só teria,
na minha opinião, sentido falar-se em liga nacional, até para aliviar a CBF, porque eu
acho que ela e a estrutura federada no Brasil, hoje, não têm condições de
resolverem sozinhas sair da fossa em que se meteram. É necessário auxílio externo
que viria por uma estrutura tipo ligas e que daria transparência ao torcedor e ao
investidor do campeonato. Transparência que, na Copa João Havelange, não foi
obtida, até porque foi fajuta também, porque ela começou contra e não a favor. Ela
começou contra a participação do Gama e não a favor do futebol brasileiro. Enfim,
como seria, na minha concepção, a liga? Seriam, pelo menos, três ligas nacionais
criadas, sim, pelo poder que lhe é dado pela soberania do povo brasileiro. O
Governo, através de lei feita pelo Congresso, cria a liga nacional da 1ª, 2ª e 3ª
Divisões. Claro que os clubes seriam, mais ou menos, os que estão aí. Além disso,
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criaria, por lei, as ligas regionais. Quais seriam? Por oposição de idéias, qual foi a
graça feita? Sabem quem está fazendo as ligas no País? A CBF. Se não sabiam,
saibam. A CBF está patrocinando as reuniões das ligas; ela as está criando.
E aí a briga de poder interno dentro do esporte federado levou-nos a uma
situação curiosíssima: dois dos investigados por V.Exas. na outra CPI uniram-se e
deram um golpe que pouca gente percebeu. Qual a maior economia do Brasil hoje?
A do interior do Estado de São Paulo. Qual é a segunda maior economia do Brasil?
A do ABC. Qual é a terceira maior economia? A do Rio de Janeiro. As três maiores
economias do País uniram-se para fazer uma liga de futebol. Isso é brincadeira. O
normal, dentro da divisão brasileira, dentro da própria divisão geopolítica brasileira e
da divisão aceita por todos nós, em pequenas variações, qual seria? Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande formam uma liga, que são Estados homogêneos, com
pequenas diferenças. Minas, Rio, Espírito Santo formam uma liga. Bahia para cima
forma uma liga. Maranhão, Pará etc. formam a do Norte e o Centro-Oeste, uma liga.
Então, temos unidades economicamente semelhantes entre si, capazes de tirar
proveito e vender para aquele público o produto chamado futebol. E São Paulo não
ficaria a par, porque teríamos duas ligas em São Paulo, no mínimo. Há a liga do
interior e a da capital. Ou uma liga só com as duas maiores economias do País. Não.
Nesse silêncio dos inocentes, no vazio criado pela frustração havida com a não
aprovação do relatório da CPI da NIKE, o não início efetivo ainda da CPI e por certa
frustração pela espera de que vamos fazer, os vivos se avivam e criam a liga Rio–
São Paulo. Claro, do ponto de vista da Rede Globo, para qualquer televisão, é uma
maravilha, porque se têm ali os clubes de maior expressão no Brasil. Mas, com
injustiças, porque, como são eles que criam, clubes como São Caetano estão
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esperando que o Botafogo de Ribeirão Preto ou o Quinze... Isso é coisa de maluco.
Quer dizer, isso é coisa de irresponsáveis que continuam a passar para a liga a
irresponsabilidade do futebol brasileiro.
Sr. Presidente, Srs. Deputados, a nova lei de desporto deverá conceituar,
inclusive, a questão das ligas, definindo os critérios, num documento a parte, num
anexo, dos clubes da 1ª, 2ª e 3ª Divisões. E não é difícil. A CBF tem. Aquela reunião
da CBF com os clubes e o Ministro produziu um documento que já é o
encaminhamento de quais serão os clubes da 1ª, 2ª e 3ª Divisões.
Por último, só uma questão fundamental que o Dr. Marco Polo falou de
passagem: temos de pensar na Justiça Desportiva, que é a única com capacidade
efetiva de entender, num momento de transição, contrato de trabalho entre atleta e
clube. A Justiça do Trabalho entraria para dirimir as eventuais não concordâncias
havidas na Justiça Desportiva.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Muito obrigado, Dr.
Marcílio Krieger.
Com a palavra o Dr. Marco Polo.
O SR. MARCO POLO DEL NERO – Sobre a arbitragem no futebol entre
atletas e clubes, outrora, eram os tribunais desportivos que julgavam litígios entre
atletas e clubes. O Panhoca está aí para testemunhar, os julgamentos eram
resolvidos no período de 30 a 40 dias. Os clubes pagavam ou ficavam suspensos. A
suspensão significava que, apesar de serem obrigados a jogar, perdiam cinco
pontos em cada partida. É evidente que houve alguns casos demorados, mas
menos de 1% da totalidade.
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Então, o Tribunal de Justiça Desportiva foi fundamental, mormente na época em
que o mundo inteiro adota a arbitragem. O Brasil agora começou a adotar a
arbitragem, que é uma lei de 1996. Ora, a Lei Pelé vem e tira dos Tribunais
Desportivos a possibilidade de eles julgarem os litígios entre atletas e clubes. Foi um
retrocesso muito grande, mas espero que esta Comissão possa analisar o assunto
com maior profundidade porque esse fato ocorre no mundo inteiro. A própria FIFA
fala que os litígios terão de ser resolvidos por arbitragem.
Sobre a liga nacional, gostaria de dizer o seguinte: primeiro, o torneio Rio—São
Paulo tem 40 ou 50 anos de existência e é como se fosse uma liga criada a pedido
de um Ministro. Agora, o Presidente Perrella diz que recebeu 20 milhões de clubes
grandes, Cruzeiro, Atlético, Inter e Grêmio, contra 10 clubes de expressão no eixo
Rio–São Paulo, e a Globo queria pagar só 50 milhões. Percebam V.Exas. que não
está muito distante dos 20 milhões. No Sul e em Minas Gerais são quatro e na liga
Rio–São Paulo cerca de 10 clubes de expressão. Assisti à negociação, houve um
assembléia geral e a Globo queria pagar 55 milhões, mas o negociador bateu pé,
brigou e disse que não haveria liga se não pagassem o que queriam, e acabaram
pagando 65 milhões. Não há muita distância entre os 20 milhões e os 65 milhões
para o eixo Rio–São Paulo.
Ilustre Deputado, não há necessidade de criarmos uma liga nacional. Temos
a CBF. Se ela não está bem — e parece que estão apurando o caso — devem se
voltar contra a diretoria da CBF e realizar assembléia para retirada de seu
Presidente. Isso está previsto. E não criar uma liga se já temos a CBF, que pode ter
a 1ª, 2ª e 3ª divisão. Não vejo sentido nisso. Acho muito mais prático, em assembléia
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geral, destituir os membros que estão lá, se for o caso, e a CBF mesmo tratará
disso, porque é órgão filiado à FIFA, que não permite a criação da liga nacional.
Deputado, V.Exa. foi muito feliz e até o estou convidando para participar de
uma palestra com 107 clubes de São Paulo, porque foi o sindicato das associações
de futebol do Estado de São Paulo que pediu a um Deputado Federal, meu colega
de turma, do PDT, José Roberto Batochio, que entrasse com um projeto de lei de
isenção fiscal, que já está em tramitação. Mas estou percebendo que V.Exa.
entende do assunto e gostaria que participasse dessa palestra.
E lhe darei detalhes. Toda a dívida dos clubes brasileiros não ultrapassa 600
milhões de reais. Tenho dados de que o futebol é o quarto produto interno bruto do
País. O futebol e seus derivados trouxeram 7 milhões de impostos em 1998 para o
Brasil, perto de 500 milhões de débitos, por isso o projeto. Existe uma justificativa
nesse projeto demonstrando todos esses dados. Não sei se V.Exa. o conhece. Vou
pedir a V.Exa. que seja nosso padrinho.
Uma lei denominada Maguito — provavelmente esta será Silvio Torres —
restabeleceu a ordem dentro dos clubes. Por exemplo, o atleta amador, na Lei Pelé,
podia ficar um ano, 11 meses e 29 dias trabalhando no clube, recebendo
alimentação, preparando sua musculatura, preparando-se psicologicamente para o
futebol profissional e, antes de completar dois anos, um empresário o levava embora
com uma simples carta dizendo que ele não ficaria mais no clube. Isso não ocorre na
Lei Maguito.
Com o surgimento da Lei Pelé, os clubes pararam de investir nos
departamentos amadores e hoje em dia eles estão procurando acabar com todos os
departamentos amadores, considerando que estão cada vez mais sufocados, e
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quem fazia o esporte olímpico no Brasil eram os clubes. Percebam V.Exas. que na
Olimpíada de Atlanta, ganhamos três medalhas de ouro, tivemos um número maior
de medalhas, porque o efeito da lei ainda não havia atingido o esporte olímpico, os
clubes. Posteriormente à Lei Pelé, ocorreu exatamente o contrário do que disse meu
colega Panhoca, na Olimpíada de Sydney não tivemos grandes sucessos e a
próxima será pior ainda, porque os clubes estão fechando seus departamentos
olímpicos.
Não preciso citar aqui os males causados pelos empresários em relação ao
futebol, porque o assunto foi esgotado. Eles são um mal para o futebol. Temos de
rever essa situação breve, breve, porque, do contrário, levaremos o futebol à
falência.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Pela ordem de inscrição,
concedo a palavra ao Deputado Clovis Volpi.
O SR. DEPUTADO CLOVIS VOLPI – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,
Sras. e Srs. Convidados, fiz parte da Comissão que tentou reformular a Lei Pelé,
quando se estudava a Lei Maguito. E travamos grandes embates, embora a Lei
Maguito tenha se preocupado mais em encontrar solução para o bingo do que para
o esporte — é bom que se diga isso. Inclusive um desprestígio aos que discutiam o
esporte. O mote para execução daquela lei não era o esporte, e, sim, o bingo.
Meu objetivo naquele momento era travar discussão sobre o esporte, até
porque, quando se falava em clubes–empresas, pensávamos em times como o
Corinthians, o Palmeiras, o Cruzeiro, o Atlético e esquecíamo-nos dos clubes
pequenos. Durante onze anos, fui presidente de um clube de segunda divisão de
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São Paulo chamado Grêmio Esportivo Mauaense. E, na época, perguntava como
alguma empresa ia se interessar pelo meu clube ou pelo São Joanense, de São
João da Boa Vista, ou por um clube da A3, da B1A ou da B1B?
Nenhuma empresa tem interesse num clube que não pode oferecer qualquer
divulgação do seu produto, da sua mercadoria ou até do seu jogador. Ao elaborar
aquela lei nunca pensamos nisso.
Na época, discutíamos apenas a questão do futebol, e não o esporte como
um todo. Na elaboração desse estatuto também vamos acabar discutindo só futebol.
Por isso, concordo com a idéia de separarmos o futebol dos outros esportes. Não
tem como se fazer uma lei do desporto. Precisamos de uma legislação para o futebol
e outra para os esportes olímpicos, coletivos e individuais. São formas totalmente
diferentes.
Discutimos esse fato na época e acho que vamos cair nessa mesmice aqui.
Talvez não nesta reunião, mas, com certeza, durante a discussão do estatuto.
Temos essa preocupação que as empresas não tiveram em relação aos times
pequenos, como não têm até hoje. E o que aconteceu com os clubes menores?
Pequenos empresários sonhadores, que dispunham de pequeno recurso financeiro,
iam a um clube pequeno, que às vezes treinava em campo da Prefeitura,
começavam a injetar seu dinheiro na esperança de descobrir um bom jogador,
vendê-lo para o exterior e, assim, recuperar o patrimônio investido e até ganhar
algum dinheiro nessa transação. Era isso o que acontecia e é isso o que está
acontecendo. São pequenos empresários que dão 20 ou 30 mil por mês, formam um
timeco qualquer e dali pensam em pinçar alguns jogadores para colocar no Cruzeiro
ou no São Paulo com a intenção de aumentar seu faturamento.
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Esse é o pior amadorismo que pode existir. Na minha opinião, melhor teria
sido deixar na mão dos dirigentes amadores. Virou uma câmara de comércio muito
ruim e mal estruturada.
Nesse estatuto — e o Deputado Gilmar Machado também participou da
elaboração daquela lei — precisamos definitivamente reservar um capítulo para
tratar só de futebol. E, quando se falar em futebol, esquecermos que ele é composto
apenas por clubes como Flamengo, Vasco, Corinthians e Palmeiras, mas também
por clubes pequenos do interior dos Estados. Vejam o caso do Itabaiana que está
morrendo à míngua, com cavalo pastando em seu campo. Precisamos achar uma
forma de minimizar esse conceito de futebol–empresa.
Este País tem 36 bilhões no REFIS e 3 bilhões e 600 serão agora
patrocinados pelo reflorestamento das florestas nacionais. Com 600 milhões
saldávamos nossas dívidas. Sou favorável a que os clubes tenham nas suas
receitas algumas isenções e que elas sejam revertidas para outro tipo de atividade
esportiva dentro do clube. Essa é uma forma de financiamento tal como a antiga
bolsa de estudo, que também acabou com o advento da tributação das
universidades.
Lembro isso ao Relator e ao Presidente e aproveito esta oportunidade para
voltar à proposta de reavaliarmos a Lei Pelé e a legislação que a sucedeu. Sempre
há tempo para isso. Nada há nada que perdure nesse mundo globalizado, cheio de
informações e de mudanças de conceitos. Se conseguirmos fazer algumas revisões
que possam melhorar a Lei Pelé, com certeza melhoraremos a atividade esportiva
olímpica do País e o futebol.
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As diferenças de opinião são normais, até porque precisamos estudar o
assunto um pouco mais. Depois da elaboração de um relatório preliminar, os juristas
poderiam voltar a esta Comissão para dizer se o que estamos fazendo está correto.
Então, faço esse lembrete e peço ao Relator a apresentação de um relatório
preliminar para discutirmos a questão. Cito o exemplo do Deputado Emerson Kapaz,
Relator da matéria sobre resíduos sólidos, que apresentou imediatamente um
relatório preliminar para trabalharmos em cima. As coisas lá estão andando bem
melhor do que se esperava.
Faço esse lembrete sobre a Lei Maguito, que não busca aprimorar o esporte.
(Intervenção inaudível).
O SR. DEPUTADO CLOVIS VOLPI – Aliás, parabenizo o Deputado Gilmar
Machado por aquela lei alternativa, que deveremos votar antes do final deste ano,
que acabou definitivamente com essa discussão sobre bingo. Vamos ter agora lei
específica para tratar do assunto, quer dizer, desvinculamos o bingo do futebol, dos
clubes profissionais, que não tinham mais qualquer interesse no assunto. Foi uma
guerra, mas o Deputado Gilmar Machado, que também relatou a matéria, conseguiu
acertar. E agora o projeto vai ao plenário. Os líderes inclusive assinaram um acordo
ontem para que possamos votá-la.
Espero que façamos isso aqui, separemos as matérias. E aí teremos um
trabalho muito bonito na área de futebol, principalmente na área do esporte
profissional. Os outros problemas vão sendo acertados vagarosamente.
Em relação à exposição feita por V.Sas., não tenho absolutamente qualquer
questionamento a fazer, até porque tenho acompanhado um pouco a evolução da
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discussão jurídica entre atleta e clube. Acho que estamos nos aprimorando. Não se
faz democracia sem aprimoramento. Isso é ótimo.
Cumprimento V.Sas. que nos abrilhantaram com suas palestras.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Obrigado, Deputado
Clovis Volpi.
Seguindo a ordem de inscrição, concedo a palavra ao Deputado Olimpio
Pires.
O SR. DEPUTADO OLIMPIO PIRES – Sr. Presidente, Deputado Jurandil
Juarez, Sr. Relator, Deputado Gilmar Machado, Sr. Marco Polo Del Nero, Sr.
Heraldo Panhoca, Sr. Marcílio Krieger, a situação não é fácil. Se fosse, já teria sido
resolvida.
Temos aqui a presença de três advogados dos mais conceituados no mundo
desportivo e cada um tem sua opinião. O que tentaremos fazer aqui é colher o
melhor de cada um. O futebol brasileiro está em crise? Está. Está bom? Não.
Com a globalização assistimos a jogos do Bayern ou do Boca Juniors na
televisão com freqüência. O futebol evoluiu e talvez a legislação não tenha
acompanhado essas mudanças. O que temos de fazer é montar uma estrutura que
seja condizente com o futebol que tínhamos e hoje não temos mais.
O Sr. Marcílio Krieger falou sobre a crise no futebol. Queria saber o motivo
dessa crise. É o empresário? São os dirigentes? É a CBF? É esse conjunto? O
empresário, por exemplo, é um homem que hoje está aqui, amanhã na Itália, depois
na Espanha. E eles estão vendendo os nossos melhores jogadores ainda com
quatorze, quinze, dezesseis anos. Por isso, acontecem casos como o do
Ronaldinho, que estamos pagando para ver.
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Temos de achar uma solução para o problema. O Sr. Heraldo Panhoca falou
sobre a Lei Pelé, Lei Maguito, Lei Zico, mencionando que participou da discussão de
todas elas. Então, V.Sa. tem muito a ver com isso.
O SR. HERALDO PANHOCA – Exercício de cidadania. Esta Casa é do povo.
Eu sou povo, estarei aqui todas as vezes que me convocarem e voltarei sempre.
Esse é um direito assegurado pela Constituição Federal. E serei incisivo sempre no
meu ponto de vista, respeitando o de todos os outros.
O SR. DEPUTADO OLIMPIO PIRES – Isso é bom. São pessoas como V.Sas.
e como nós que podem mudar o esporte. Às vezes falam da bancada da bola, mas
dentre os Deputados que a compõem existem os que querem o bem do futebol.
Muitos deles participaram da CPI da Nike e hoje estão aqui querendo ver o futebol
brasileiro voltar àquilo que era. E precisamos de pessoas como V.Sas. para nos
ajudar a consertar o futebol brasileiro. Não é possível que não encontremos uma
solução.
Então, esta Comissão deve voltar a analisar aquilo que V.Sa. gostaria de ver
implantado, mas que foi modificado. O Sr. Marco Polo Del Nero falou sobre a justiça
em São Paulo. Na realidade, o futebol paulista está hoje bem acima da média dos
times dos outros Estados.
(Intervenção inaudível.
O SR. DEPUTADO OLIMPIO PIRES – Não estou me referindo a clube, estou
falando de federação, de estrutura.
V.Sa. mencionou o valor das multas de jogador e treinador. Acho que ela
deveria ser proporcional ao seu salário. Uma multa de 10% no salário de um jogador
que ganha 600 mil corresponde a 60 mil reais. Mas, na realidade, aquele que ganha
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600 vai sofrer muito mais do que o que ganha 300. São sugestões que podemos
incluir na legislação.
V.Sa. disse que atualmente o futebol representa o quarto PIB do Brasil. Como
seria se o esporte fosse bem administrado? Não digo que estivéssemos em primeiro
ou segundo lugar, mas poderíamos estar no terceiro.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – São 17h. Não demora
muito, e a Ordem do Dia começará a esquentar. Proponho que terminemos essa
rodada de intervenções, passemos a palavras aos componentes da mesa e,
finalmente, ao Relator.
Com a palavra o Deputado Silvio Torres, autor do projeto que estamos
discutindo.
O SR. DEPUTADO SILVIO TORRES – Sr. Presidente, Sr. Relator, dignos
convidados, sentimo-nos honrados ao ouvir pessoas que tanto podem contribuir com
o trabalho que estamos desenvolvendo nesta Casa.
Em primeiro lugar, ressalto que o Estatuto do Desporto não é obra de minha
autoria. Ele foi resultado de diagnóstico feito durante nove meses com base nos
problemas, defeitos, crimes, desvios que encontramos no futebol brasileiro. Por ser o
esporte de maior importância e de maior envolvimento da população, ele acaba
refletindo nos outros esportes, apesar das suas diferenças.
Quando tentamos estabelecer por meio do meu projeto de lei normas gerais
para o esporte, certamente estamos pensando mais no futebol do que nas demais
modalidades. Achamos que, se estabelecêssemos regras para o futebol, elas
acabariam de uma forma ou de outra prevalecendo para os outros esportes. Mas
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essa não é uma discussão acabada, assim como o estatuto não é um produto final.
Ele é uma proposta de estabelecer regras atualizadas e permanentes para o esporte
brasileiro. Uma tarefa dificílima, sem dúvida alguma, mas urgente e necessária,
porque temos de recuperar o atraso e preparar o futuro.
Sabemos o quanto essa falta de normas legais claras, transparentes e
calcadas na realidade do esporte brasileiro, especialmente na do futebol, permitiu
tanto desvio, roubalheira, desorganização e desestímulo aos investidores e àquele
que é a base de tudo, o torcedor. Sem ele, que é matéria-prima, nada é possível
fazer.
O estatuto não é de autoria individual. Assino como autor por ter sido Relator
da matéria, mas da sua elaboração participaram todos os membros da CPI, que
acompanharam as discussões sobre a legislação esportiva, sub-relatada pelo
Deputado José Rocha, e a assessoria muito bem preparada da Câmara dos
Deputados. Tive o privilégio de assinar o projeto, assim como o assinaram os
Deputados Jurandil Juarez, Dr. Rosinha, Aldo Rebelo, Olimpio Pires, dentre outros.
Ao terminar investigações profundas, nunca antes realizadas no futebol
brasileiro, conseguimos tirar delas algumas idéias para serem discutidas com o
Congresso Nacional e com a sociedade de uma forma geral. Não estamos
apresentando fatos consumados nem impondo qualquer coisa. Consideramos que
isso é uma contribuição para a realização de um objetivo concreto, que pode e deve
ser construído em parceria com todos aqueles que vão participar aqui das
audiências públicas.
Agora, não podíamos partir apenas de uma lei, Lei Pelé ou Lei Maguito, ou
de um setor da justiça desportiva. Tentamos dar unicidade ao conteúdo, porque
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consideramos fundamental a existência de um estatuto para disciplinar as regras do
esporte brasileiro e, se puder, do próprio futebol separadamente. Essa questão
ainda não está definida.
Em primeiro lugar, deixo claro que V.Sas. têm legitimidade para criticar aquilo
que encontrarem de incorreto ou de diferente da visão que têm sobre essas
questões. O meu primeiro pedido é que os que tiverem disponibilidade deixem por
escrito para Comissão suas críticas e sugestões para que depois possamos analisá-
las com mais calma e atenção. Evidentemente, uma reunião como esta é insuficiente
para discutirmos tantos problemas.
Não tenho muitas perguntas a fazer, até porque algumas delas já foram aqui
formuladas.
Gostaria de saber a opinião do Dr. Marco Polo Del Nero sobre o
financiamento dos tribunais de Justiça Desportiva, que hoje são totalmente
dependentes das federações ou da CBF. Gostaria que V.Sa. nos respondesse até
que ponto este fato impede a autonomia dos tribunais e se isso é uma regra em São
Paulo e não em outro lugar, ou em lugar nenhum.
Não sei se perdi alguma explicação dada pelo Dr. Marcílio krieger sobre o
conceito de ligas e federações. V.Sa. acha que as federações devem prevalecer
sobre as ligas ou elas devem ser autônomas e as federações apenas normatizarem
as competições organizadas pelas ligas?
Pergunto ao Sr. Heraldo Panhoca onde faltam sanções no nosso projeto? Em
que áreas do esporte V.Sa. acha que faltam sanções, além daquelas já previstas no
Código Penal ou Civil? Que idéia V.Sa. tem do direito de imagem para os outros
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esportes que não seja o futebol? Como se daria a regulamentação para os demais
esportes? Também gostaria de ouvir a opinião de V.Sa. sobre piso salarial.
E mais, Dr. Marco Polo Del Nero, como deve ser o código disciplinar para o
futebol e para os outros esportes, deverá ser apenas um?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Concedo a palavra ao Sr.
Deputado Dr. Rosinha.
O SR. DEPUTADO DR. ROSINHA – Sr. Presidente, demais Pares, alguns
dos senhores já são quase nossos amigos pessoais de tanto nos encontrarmos nos
debates. Cada vez que participo de um evento deste, mais aprendo e gosto de atuar
na área.
O Dr. Marco Polo Del Nero disse, e eu já sabia, que a FIFA não permite ligas
nacionais e outras coisas mais. O Dr. Marcílio Krieger e o Heraldo Panhoca
poderiam comentar o seguinte fato: uma entidade de caráter privado, como é a FIFA,
tem de respeitar a soberania dos países. Nós soberanamente podemos decidir a
maneira e o modo de organizar nosso esporte. Soberamente ela tem de aceitar. Se
isso não acontecer, podemos, com a potência que temos, teoricamente, criar outras
federações de futebol. Não existe apenas uma federação de automóvel, existem três
ou quatro de boxe, e assim por diante.
Se vamos discutir um projeto de lei, e a grande maioria entende que devemos
dispor de determinado modelo de organização, aceite ou não a FIFA, é esse o
modelo que iremos seguir.
Gostaria que os militantes do Direito, já que sou médico, tecessem
comentários a respeito do assunto.
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Outra questão que vejo com muita preocupação é a seguinte: na CPI
investigamos essa maneira escravocrata de alguns empresários agirem em relação
a alguns atletas. Em Pernambuco, alguns empresários tinham uma espécie tutela de
meninos de oito ou nove anos por cerca de dez anos. A ruptura não era tão simples,
por volta de 5 milhões de dólares se quisesse romper o contrato que havia sido
assinado com as impressões digitais de seus pais.
Uma lei do MEC poderia disciplinar essa situação. Particularmente acho que
esse tipo de empresário mais prejudica do que contribui para o esporte. Na minha
opinião, devemos aniquilar esse tipo de comportamento no futebol. Que tipo de
legislação poderíamos ter para proibi-lo?
Investigamos um senhor e descobrimos todo tipo de mentira e de falcatrua. O
cidadão está aí, lavando dinheiro, ficando rico, mandando dinheiro para suas contas
no exterior. Alguns dos atletas que passam em suas mãos são verdadeiras vítimas.
Como poderíamos trabalhar essa questão?
O Dr. Heraldo Panhoca se referiu bastante à Lei nº 9. 615. O Deputado Gilmar
Machado, o Deputado Clovis Volpi e eu participamos daquele debate. Naquele
momento, muitos projetos nossos não foram aceitos. Aquela lei define alguns itens
que têm de ser debatidos.
Em relação à indenização de formação de atleta ou indenização de promoção
do atleta, que são figuras novas, o Dr. Marcílio Krieger falou que não temos de
pensar no clube, no Cruzeiro, no Vasco ou no Flamengo. Temos de fazer uma lei
para o Brasil. Pensar em clubes muitos pequenos, que, algumas vezes, gastam na
formação atleta. Um dia ele vai embora, e o que fica para aquele clube? Como
vamos tratar dessa questão?
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Na Lei Pelé foi definida a obrigatoriedade do clube-empresa e depois houve
alteração na mudança da Lei Maguito. Onde podemos chegar? As pessoas brincam
comigo e perguntam para quem eu torço. Respondo que torço para o Nacional de
Rolândia, cidade em que nasci. Clubes com esse não têm como ser empresa. Eles
já estão quase no futebol amador. Como poderíamos trabalhar essa questão?
Quando se fala sobre a isenção de impostos, conforme afirmou o Deputado Aldo
Rebelo, se é empresa, não deve ser isentada de impostos. Deverá pagá-los. A
empresa tem sócios, tem bolsa de valores, mercado e obterá lucro. Como vamos
trabalhar essa questão revertendo-a para a comunidade? Se hoje os Governos
tivessem responsabilidade e estimulassem o esporte de maneira geral, muitas
dessas gangues de adolescentes não existiriam.
O Deputado Gilmar Machado e eu somos autores de projeto de lei que propõe
a criação de fundo público nacional de investimento e estímulo ao esporte de
maneira geral. Como trabalho na área de saúde, tomei como modelo o fundo
nacional de saúde, que repassa dinheiro para os fundos estaduais e municipais.
Esses fundos possuem gestão democrática. Onde podemos buscar dinheiro?
Dependendo da isenção de uma empresa dessas poderemos remeter para lá.
Estamos colocando o percentual de contrato assinado entre os grandes
clubes de futebol e os meios comunicação. Percentual dos contratos de patrocínio
de empresas com clubes de futebol profissional. Retira-se do futebol profissional e
remete-se para o amador. A idéia não é nova. Após ler o Le Monde Diplomatice,
de língua espanhola, soube que o futebol retira percentuais dos contratos de
profissionais dos grandes clubes e os remete para clubes amadores. Gostaria de
ouvir comentário a esse respeito.
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Sobre o projeto em tramitação a Comissão de Educação, que analisa o
mérito, proferiu parecer favorável, a de Finanças emitiu parecer contrário. Não
entendi bem, porque não estamos aqui para analisar finanças privadas, mas
públicas e não se reduziu absolutamente em nada as finanças públicas.
As questões por mim abordadas versam sobre o futebol, mas o projeto de lei
abordará também o desporto nacional. Peço a opinião de cada um dos senhores
sobre o futebol e o desporto de maneira geral.
Ouvimos o Dr. Marco Polo, Presidente do Tribunal de Justiça Desportiva de
São Paulo. A Lei diz que os tribunais desportivos ou os conselhos desportivos
poderão ser constituídos de bacharéis de direitos, mas, geralmente, essas
instituições não trabalham com esses profissionais. Lá se encontram grupos de
estudantes. O mesmo acontece até na CBF, que, ainda recentemente, contratou
estudantes de direito para o Tribunal.
(Intervenção inaudível.)
O SR. DEPUTADO DR. ROSINHA – Em relação a essa questão de notório
saber jurídico existem pontos interessantes. Para Conselheiro do Tribunal de Contas
do Paraná, por notório saber jurídico, foi indicado um veterinário.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Concedo a palavra ao Sr.
Deputado Carlito Merss.
O SR. DEPUTADO CARLITO MERSS - Sr. Presidente, Sr. Relator, nobres
convidados, Dr. Marcílio Krieger, como torcedor de futebol, acompanhei vários
debates, pela televisão, sobre os problemas do Joinville e Figueirense. Estou aqui
para aprender. Sou suplente desta Comissão, não acompanhei o dia-a-dia da CPI,
mas a situação do esporte tem chamado muito minha atenção.
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Dr. Marcílio, em relação aos conceitos, precisamos, de uma vez por todas,
entender o que significa o esporte para um País tropical em que a facilidade de
adaptação a esportes é algo impressionante, basta ver que o futebol foi trazido da
Inglaterra e, apesar de toda incompetência, dos interesses, da forma como muita
gente enriqueceu não só com o futebol, mas com outros esportes, ele é ainda uma
grande manifestação cultural. No sábado passado, o time da minha cidade estava
disputando a quarta colocação da segunda divisão, ganhou de três a zero. No
domingo, o outro time, o Caxias, perdeu. Percebemos o que isso significa em uma
cidade operária, o que significa uma derrota do Flamengo, no Rio de Janeiro, ou
uma derrota do Internacional, em Porto Alegre, do Corinthians, em São Paulo, do
Atlético, em Minas Gerais. O que deve estar acontecendo hoje em Recife com a
possibilidade de os dois times caírem. Não é justo que pessoas tão mal caráter
administrem essas situações.
Em relação ao conceito de manifestação cultural, abordadas pelo Dr. Krieger,
considero falta de respeito ao povo brasileiro, que uma emissora, por ter muito
dinheiro, investido na década de sessenta pelo grupo Time Life — estamos
discutindo ingresso de capital internacional no setor de telecomunicações, mas isso
já existe há muito tempo, por isso essa emissora tornou-se a maior do Brasil —
marque um jogo de futebol para às 9h45, depois da novela. Isso é um crime.
Gostaria de ouvir a opinião dos três convidados sobre o assunto, principalmente do
Dr. Marcílio, porque, do ponto vista cultural, isso não é correto. As pessoas precisam
acordar cedo, no outro dia, para trabalhar. É correto que durmam sete ou oito horas.
Como é possível que o interesse econômico se sobreponha à maior manifestação
cultural do Brasil? Isso não é só uma mercadoria, como um sapato, uma calcinha ou
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uma Coca-Cola, significa muito mais na cultura do País. É preciso que haja regras.
O futebol não pode ser tratado como uma mercadoria qualquer.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Concedo a palavra ao Sr.
Deputado Gilmar Machado.
O SR. DEPUTADO GILMAR MACHADO - Sr. Presidente, como Relator desta
matéria, complementarei minha fala com o que entendemos importante. Essa é uma
maneira de garantir a participação de todos, sem que o Relator tente monopolizar o
trabalho da Comissão, porque esse não é o objetivo. Como mineiro, prefiro ouvir
mais e falar menos.
Peço desculpas aos convidados pela minha grande movimentação. Na hora
do almoço, fechamos um acordo para encerrar a greve das universidades.
Infelizmente, o Ministro criou alguns problemas que estamos tentando administrar,
porque sou também Relator da área de educação, cultura, desporto, ciência e
tecnologia e turismo, da Comissão de Orçamento. Peço desculpas, mas estou
recebendo todas as perguntas feitas. Agradeço ao Dr. Marcílio a contribuição que
recebi por escrito. Examinaremos toda a gravação da reunião e acolheremos as
contribuições dos convidados.
Gostaria de formular uma pergunta para cada convidado.
Dr. Heraldo, no projeto de lei, há a figura do atleta profissional autônomo,
gostaríamos que V.Sa. nos ajudasse na definição e no trabalho que estamos
desenvolvendo.
Os Deputados Dr. Rosinha e Silvio Torres já questionaram o financiamento da
Justiça Desportiva. A autonomia financeira é fundamental. Sem ela, dificilmente,
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será possível desenvolver o trabalho. Gostaria de saber do Dr. Marcílio e do Dr.
Marcos Paulo como pode ser resolvida essa questão.
Dr. Marcos Paulo, V.Sa. disse que, em São Paulo, mais de 2.500 pessoas
são processadas e multadas. Quanto isso representa e como esses recursos são
aplicados? A autonomia poderia ser alcançada com esses recursos? E mais: como
vamos criar um Estatuto do Desporto que atende todas as modalidades desportivas,
não seria possível criar-se uma Justiça Desportiva com câmaras definidas por área,
por modalidades? O que o Sr. Marcílio Krieger pensa em relação a essa questão?
Finalmente, não querendo abusar da boa vontade dos senhores, uma vez que
foram convidados para tratar de um tema específico, outra questão que considero
importante, além do assunto relativo ao empresariado, é a segurança nos estádios e
nas praças desportivas. Como juristas, de que forma os senhores vêem essa
questão que o projeto de lei trata, do art. 156 ao 164? Qual a contribuição que os
senhores poderiam dar com relação a isso?
Agradeço ao Sr. Presidente por esta contribuição, penitenciando-me desde já
pela minha saída. Posteriormente, estarei colhendo as respostas, porque toda a
reunião está sendo gravada e, ao mesmo tempo, fazendo contato com os senhores,
se me permitirem, para trocarmos alguma informação sobre aquilo que for acolhido.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Muito obrigado, Sr. Relator
Gilmar Machado.
Seguindo a mesma ordem observada anteriormente, vamos partir para as
respostas.
Com a palavra o Dr. Heraldo Panhoca.
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O SR. HERALDO PANHOCA – Começarei por aquelas questões mais vivas
na memória.
Sobre os recursos ao Tribunal de Justiça Desportiva, posso afirmar aos Srs.
Deputados que também sou Presidente de dois Tribunais de Justiça Desportiva, um
de Vôlei, indicado pela Ordem dos Advogados, outro de Handebol, indicado pela
entidade. Portanto, também exerço essas atividades. Voltando aos recursos,
teríamos duas situações.
A parte profissional poderia funcionar de acordo com o sistema existente hoje
na Justiça, ou seja, quem vai ao Judiciário paga. Haveria, por processo, uma
determinada verba que o clube ou o atleta — aquele que estiver em curso — teria de
pagar para se defender. Já o destino das multas estava previsto na legislação
anterior, tanto que, no art. 57 da Lei nº 9.615, está dito que as penalidades
disciplinares pecuniárias serão aplicadas aos atletas pelas entidades, pela
administração ou pelos órgãos da Justiça Desportiva.
O Código de 1976, reformado até 1985, prevê a aplicação de multa ao atleta
profissional. Isso não ocorre ao atleta não-profissional, porque teríamos de apenar o
prazer. O Código prevê que o Tribunal pode aplicar as multas. A única diferença é
que, nos tribunais dos demais esportes, com exceção de 1998 para cá, não havia a
possibilidade de aplicação da multa, porque o atleta era considerado amador.
Posteriormente, sim. No tribunal que trabalho como Presidente, pergunto ao atleta:
Você é profissional ou não? Você recebe salário ou não? Se ele afirmar que sim,
este testemunho servirá amanhã como prova judicial para reconhecimento do
vínculo e o atleta também será apenado de forma pecuniária, porque a lei assim o
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permite. No futebol já é mais fácil saber se o atleta é ou não profissional, porque
essa informação já vem escrita na própria súmula.
A multa tem de ser recolhida para a FAAP, que é uma entidade legal. A Lei nº
6.354, de 1976, diz que toda multa aplicada pelo clube poderá incidir sobre 40% do
salário do atleta e deverá ser recolhida à FAAP. O que é a FAAP? Uma entidade que
recebe destinação de verba governamental, portanto fiscalizada pelo Tribunal de
Contas, que deveria — não sei se faz, porque não a conheço — cuidar da
recuperação dos atletas, especialmente daqueles envolvidos com droga, que são os
apenados pelo dopping, e a lesão daqueles que, terminado o contrato de trabalho,
continuam lesionados. Por que? Em função da tipicidade do contrato do atleta, que
tem prazo determinado. No dia que se encerra o contrato, o atleta não tem mais
vínculo com o clube, mesmo que ele esteja lesionado por acidente de trabalho,
diferentemente da nossa. Hoje recebi este Projeto de Convenção Coletiva — quem
sabe, depois, o Dr. Marco Polo possa falar mais a respeito disso — em que o
Sindicato dos Atletas de São Paulo e o SINDIBOL, presidido pelo Dr. Marco, buscam
exatamente uma estabilidade acidentária posterior ao término do contrato, no caso
de o atleta continuar lesionado, sendo que, no caso do trabalhador normal, há a
garantia de 12 meses, conforme a Lei 7.801, não sei bem. Portanto, há essa
necessidade. Verba existe, a multa pode ser aplicada, mas é preciso ver o destino.
Se o destino for a FAAP, esta instituição deverá prestar contas à sociedade. Se o
destino da multa do Tribunal ficar a federação, esta é quem deverá prestar contas;
caso contrário, a meu ver, será apropriação indébita; se a lei disser que a multa deve
ir para a FAAP e ela não for, esta se constituirá apropriação indébita desse
numerário.
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Vejamos a questão levantada pelo Deputado Dr. Rosinha sobre clube
formador e multa rescisória. É constante da legislação e foi mantido na proposta do
Deputado Silvio Torres exatamente isso: “a indenização pela formação pura e tão
somente do contrato de trabalho”, o que é normal. Pega-se o valor da remuneração,
que pode ser como a nossa aqui hoje, a proposta anual, mensal, e multiplica-se por
um determinado valor.
O SR. DEPUTADO DR. ROSINHA – Isso eu conheço. Gostaria de saber
quanto à manutenção ou não disso, talvez eu não tenha sido claro.
O SR. HERALDO PANHOCA – Nada mais salutar do que, num contrato de
trabalho, a cláusula penal ser recíproca. Acabou! O que não se pode ter na cláusula
penal é mais um passe, mais um vínculo. O que existe hoje? Essa cláusula penal
que estipula 150 vezes após o término do contrato é odiosa e inconstitucional. Isso
não vai prevalecer, tanto que a “Lei Maguito” hoje estipula 6 meses após o término
do contrato. Quando findar o contrato, acabou. O que não pode é haver extensão ao
contrato. Dentro do contrato, a parte que der causa paga a outra. Isso é exercício de
igualdade. Quer dizer, não há por que se retirar a cláusula penal, até em benefício
do clube, que o Deputado Zezé Perrella diz usar muito bem, porque faz a cláusula
penal, e, durante a vigência, com a concordância do atleta, ele vende, como vendeu
por 18 milhões um atleta. Ele já era livre do passe. Só que, na negociação, o atleta
também ganhou. Portanto, a legislação traz isso. O que não pode ocorrer é tentar
ser unilateral e a negociação ser após o término do contrato.
Sobre clube formador, os Srs. Deputados aprovaram, se não me engano, no
dia 20 de dezembro de 2000, não remetendo...Aí é que vem a diferença da
especialização: os senhores se preocuparam em criar um benefício muito grande à
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formação do jovem trabalhador. Na Lei nº 10.096, se não me engano — vamos usar
a memória dos redatores da Casa —, os senhores suprimiram alguns pontos da CLT
e fizeram com que a formação profissional, a partir dos 14 anos, quando os nossos
“esses” não tiverem a capacitação para aquela atividade, as sociedades civis que a
tiverem poderão supri-la como os benefícios. Inconscientemente, os senhores
acertaram na mosca. O nosso jovem, ao ir para qualquer dos nossos clubes, poderá
receber todo incentivo da Escola de Formação de Atletas com os benefícios dos
incentivos fiscais e do Estatuto da Criança e até de repasse dos “esses”, porque
essa lei diz que o SENAI e o SESC, não tendo capacitação para ministrar futebol, o
clube pode substitui-los. É lógico que a lei não se referiu ao clube, mas, sim, à
entidade da sociedade aparelhada para tal.
Portanto, os senhores já fizeram o benefício. Basta que os clubes — nesse
aspecto acredito que o Deputado Zezé Perrella saiu na frente de todo mundo,
porque ele já criou a Escola de Formação de Atletas, talvez até antes da lei; ele já
tem esse benefício...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Para concluir, Dr.
Panhoca.
O SR. HERALDO PANHOCA – ... e temos inclusive induzido as Prefeituras a
manter esses projetos em função dos clubes das cidades. Então, resolveríamos,
porque seria, de certa maneira, ruim dar incentivo fiscal para quem não paga
imposto; entretanto, para quem cuida da criança é salutar e já existe. Nós temos leis
demais — os senhores sabem disso. Basta pôr em prática as que são boas.
Para concluir, respondendo às duas indagações anteriores, a atividade do
empresário de futebol hoje nos faz lembrar uma época em que vigorava o ágio, no
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final dos anos 80, no Plano Cruzado, quando se ia a uma revenda de automóvel
para comprar um veículo zero quilômetro e não se o encontrava. Entretanto, ao sair
da revenda, o famoso “boqueiro” se aproximava e dizia: “Com 4 mil de ágio, eu levo”,
tanto que se criou um imposto em cima desse ágio. Hoje ocorre exatamente isso: o
pai leva o garoto para jogar futebol, sem passe, diz que ele é bom de bola, e o clube
lhe responde: “Não temos vaga”. Dois dias depois, com procuração assinada a um
“boqueiro”, esse passe é vendido ao clube. Sem a conivência do mau dirigente, não
existe empresário. E digo mais, pasmem: a CBF lançou agora uma norma dizendo
que nenhuma transferência, nenhum contrato será registrado se não contiver a
assinatura de um advogado, do pai e da mãe, ou de um empresário reconhecido por
ela. O Dr. Marco Polo Del Nero poderá informar melhor a respeito disso, porque,
parece-me, o sindicato que ele preside em São Paulo está fazendo um curso para
formação de empresários. Portanto, a entidade de administração está contribuindo
para a formação de um grupo de empresários que fatalmente será, sim, predador de
atletas.
O SR. DEPUTADO DR. ROSINHA – Só um aparte. O senhor disse que temos
muitas leis, o que é verdade. Seria demais estabelecermos, nesta relação do clube
com o atleta, a proibição da intermediação de empresários?
O SR. HERALDO PANHOCA – Não, porque o direito de trabalho é
constitucional. É a manifestação de vontade do pai. Ele inclusive pode transferir para
o pai poder em juízo. Quer dizer, não há como.
O SR. DEPUTADO JOSÉ ROCHA – Permita-me uma intervenção. Hoje, para
quem precisar emplacar um veículo, existe a Associação de Emplacadores de
Veículos.
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O SR. HERALDO PANHOCA – Sim.
O SR. DEPUTADO JOSÉ ROCHA – A pessoa pode diretamente emplacar o
veículo ou fazê-lo através de uma associação.
O SR. HERALDO PANHOCA – A única coisa ilegal é exigir que isso seja feito
por determinada pessoa ou instituição, uma vez que a atividade é pública. Nós,
como advogados, seguimos a prerrogativa do art. 133: ninguém pode ir a juízo se
não for por nosso intermédio. Ninguém pode receber um medicamento se não for
por um profissional e assim sucessivamente. Com relação aos empresários, isso
também é lícito. O problema é o desvio de conduta. Isso ocorre no momento em
que, conforme o exemplo dado, levo o meu filho ao clube e ele não é aceito, mas, no
momento seguinte, ao ser apresentado pelo empresário, as contas do clube são
movimentadas para comprar o passe do atleta. Aí encontra-se o elemento penal.
Com relação à última pergunta levantada pelo Deputado Silvio Torres, o art.
94 da Lei Maguito diz o seguinte: “é opção os artigos tais e tais.... para os atletas
das demais modalidades”, ao passo que a Constituição diz ser direito do trabalhador
escolher o trabalho. O atleta não pode fazê-lo, porque a lei, ferindo a Constituição,
diz que é uma opção. Encontramos aí exatamente o porquê de o nosso esporte ter
ido à bancarrota. As confederações das demais modalidades costumam utilizar,
durante 6, 7 meses, os 18 melhores atletas em detrimento do clube, por uma
solicitação nossa, porque a grande diferença minha em relação a alguns dos
senhores, e não a todos, é que milito o dia todo com o atleta, o qual me traz
exatamente todas as seqüelas que sofre no clube. Por isso viemos falar sobre a
relação empregado/empregador, atleta/clube.
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Quando vemos que o direito já conquistado de um atleta está sendo retirado,
surge em nós uma irresignação! Se esse direito estivesse sendo ampliado,
melhorado, ou se se estivesse tornando equânime aquilo que não o era, estaríamos
aplaudindo. Todavia, quando esse direito é pura e simplesmente suprimido, temos
de criticar. Então, o que temos? Normalmente, o patrocinador vai ao clube... No
esporte olímpico, como disse o Deputado Clovis Volpi, o Movimento Olímpico é um
comitê de marketing esportivo e não um administrador de atividades. O Comitê
Olímpico Internacional e o Comitê Olímpico Brasileiro são administradores de
marketing muito competentes — não vamos tirar-lhes essa competência —, mas
eles não administram nenhum esporte e por isso não podem ditar nenhuma regra.
No entanto, continuamos dizendo: esporte olímpico, esporte amador...É um sofisma,
com o qual precisamos acabar, porque o esporte é único. O que acontece com o
patrocinador? Ele banca 12 meses de determinado atleta naquele clube, e a Seleção
usa os melhores desportistas por 6 a 7 meses, parando o Campeonato Regional de
Minas Gerais, limitando o Campeonato de São Paulo de Vôlei a dois meses, porque
os atletas estão em torneios caça-níqueis da Seleção.
Eu disse, da outra vez que aqui estive que, no ano passado, ocorreram 172
campeonatos mundiais de vôlei de praia em que o Brasil foi campeão em 1 ano. Que
seriedade há nisso? Só participaram desses campeonatos os atletas dos clubes. Daí
os patrocinadores irem embora! Desculpem-me a franqueza, mas ninguém é
palhaço! Eu pago 12 meses para ter a Paula, o Oscar, o “A”, o “B”, o “C” ou o “D” na
minha equipe com o meu patrocínio. Por isso eu pago aquele vale. Só que vem a
Seleção e tira... Nós incluímos isso lá, e os senhores aprovaram na Lei Pelé. No
entanto, a Lei Maguito veio e retirou esse item. De forma iluminada, o projeto do
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Deputado Silvio Torres restaura isso, quer dizer, quem convoca paga. Ao convocar o
atleta e pagar por ele, tenho condição de, como clube, colocar outro desportista no
lugar e continuar prestigiando não só o campeonato como o meu patrocinador.
Portanto, esta é a realidade. A entidade de administração hoje é a grande predadora
do clube, como célula-mãe, e do atleta, como agente do espetáculo.
O SR. DEPUTADO JOSÉ ROCHA – Quando o atleta vai para uma Seleção,
ele volta muito mais valorizado.
O SR. HERALDO PANHOCA – Só que ele perde o emprego.
O SR. DEPUTADO JOSÉ ROCHA – Pelo contrário, o atleta não perde o
emprego. Se ele volta valorizado, ele melhora o emprego. Nisso aí há um equívoco
muito grande. Qualquer atleta que participe de uma Seleção volta mais valorizado
para o seu clube e para os demais.
O SR. HERALDO PANHOCA – E como fica a situação dos outros 460 que
ficaram sem emprego?
O SR. DEPUTADO JOSÉ ROCHA – Então, o senhor não defende o atleta.
O SR. HERALDO PANHOCA – Eu defendo o atleta.
O SR. DEPUTADO JOSÉ ROCHA – O senhor não está defendendo o atleta,
na medida em que, ao ser convocado pela Seleção, o senhor considera que ele está
sendo prejudicado. Pelo contrário, o atleta está sendo valorizado.
O SR. HERALDO PANHOCA – Eu digo para o senhor o seguinte: faz 6 anos
que o atleta Oscar abandonou a Seleção e, no entanto, ele continua ganhando e
sendo um grande expoente, sem necessitar da Seleção.
O SR. DEPUTADO JOSÉ ROCHA – Quem o projetou foi a Seleção. O Oscar
foi projetado pela Seleção. Sem ela, ele não seria nada.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Deputado José Rocha,
permita que o Sr. Heraldo Panhoca conclua, dado que o nosso tempo está bastante
adiantado.
O SR. HERALDO PANHOCA – Apenas para reafirmar: todo esporte é
coletivo, com exceção de algumas atividades. Sem o conjunto, não se faz. Não
adianta nos lembrarmos apenas dos 18 melhores do Brasil. Portanto, temos de fazer
o Clube Seleção, como um clube, e fazer o campeonato com os demais. Aí, sim, eu
seleciono. No momento em que paro a atividade de todos, quem paga é o
empresário do comércio, da indústria, de serviços, que coloca sua imagem.
Para exemplificar, vou citar um caso. Várias empresas, em 1998, fizeram com
que houvesse no Campeonato Paulista de Basquete e no Campeonato Paulista de
Vôlei catorze equipes em um e dezesseis no outro respectivamente. No ano
seguinte, quando a Lei Maguito retirou, tínhamos todas as da segunda divisão que
subiram, porque as da primeira foram embora, e a grande maioria dos atletas
migraram para outros centros, porque acabou o desporto em São Paulo. O
patrocinador foi embora. Ele pagou doze e recebeu seis.
A Seleção pode e tem o direito de usar, mas, se ela indenizar, porque recebe
do Banco do Brasil e da Caixa Econômica aproximadamente 10, 12, 15 milhões por
ano. Ela tem mecanismo para manter essa equipe em evidência, mas deve também
deixar que o clube e os demais atletas possam circular.
O SR. DEPUTADO JOSÉ ROCHA – Isso no caso de o patrocinador do clube
não ser da Seleção; do contrário, ele estaria ganhando muito dinheiro!
O SR. HERALDO PANHOCA – Mas só cabe um patrocinador. Não posso
admitir que o desporto tenha um patrocinador apenas. Temos de prestigiar quem
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investe, porque é o clube que forma o jogador; a Seleção o pega pronto. Só pega o
melhor. Então, teria de ter ônus com o clube. Observem que agora não vejo só o
caso do atleta, mas também o do clube. Sem o bom empregador, não tenho...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Dr. Heraldo Panhoca,
peço-lhe que conclua.
O SR. HERALDO PANHOCA – Está concluído com o meu agradecimento a
todos. Fico à disposição e vou oferecer um trabalho exatamente fazendo as críticas,
os aplausos, os elogios e as contribuições a cada um dos 450 artigos. Como só
recebi isso no dia 22, seria impossível fazer um trabalho mais aprofundado.
Continuo à disposição. Agradeço a todos.
O SR. DEPUTADO JOSÉ ROCHA - Sr. Presidente, peço a palavra pela
ordem.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) - Tem V.Exa. a palavra.
O SR. DEPUTADO JOSÉ ROCHA – O Dr. Heraldo Panhoca recebeu isso
muito antes. Quando concluí o meu relatório, que tem o meu projeto de lei que está
sendo analisado, V.Sa. o recebeu há uns quatro meses.
O SR. HERALDO PANHOCA – Tanto que fiz as críticas em cima do projeto
de V.Exa. Quanto aos outros dois, sequer anotei, porque recebi no dia 22.
O SR. DEPUTADO JOSÉ ROCHA – Então V.Sa. deveria ter feito a ressalva
de que recebeu o meu há quatro meses.
O SR. HERALDO PANHOCA – Fiz as críticas em cima dele, tanto que fui
chamado a atenção por V.Exa.
O SR. DEPUTADO JOSÉ ROCHA – V.Sa. deveria ter feito agora a ressalva
de que recebeu o meu há mais tempo.
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O SR. HERALDO PANHOCA – Sim, sim.
O SR. DEPUTADO PAULO ROCHA – V.Sa. não fez a ressalva.
O SR. HERALDO PANHOCA – Estou fazendo, tanto que estou dizendo que
fiz as considerações em cima dele.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Dando continuidade ao
debate, concedo a palavra ao Dr. Marcílio Krieger, para responder às indagações
dos Deputados.
O SR. MARCÍLIO KRIEGER – Obrigado, Sr. Presidente. Vou tentar
responder rapidamente, porque meu avião sai daqui a pouco.
É possível fazer uma única lei para todos os desportos? Respondo que sim.
Vou louvar-me num exemplo. Eu poderia citar o projeto do Deputado José Rocha,
mas vou ater-me ao projeto do Deputado Silvio Torres. Dentre os vários títulos, há,
por exemplo, o que se refere ao desporto universitário, ao desporto escolar, ao
desporto de rendimento, ao desporto de competição etc. Lembrando a observação
do Deputado Carlito Merss, essa é uma questão de conceituação.
Compete à União e, no caso, ao Congresso Nacional — portanto a V.Exas. —
elaborar uma lei geral sobre desporto. Não pode ser uma lei sobre futebol, sobre
desporto olímpico ou sobre modalidades não olímpicas; tem de ser uma lei geral
sobre desportos. Isso é perfeitamente possível, tanto o é que já existe. Os vários
projetos tratam, de forma mais ampla ou menos ampla, das várias modalidades e
dos vários modos.
O problema está em que, quando se fez basicamente a Lei Pelé, fez-se um
resumo muito grande. Não nos esqueçamos de que o Projeto Pelé ingressou nesta
Casa em outubro, e, em março, a lei já estava sancionada e publicada no Diário
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Oficial. Foi um recorde. Falando em recorde, remeto-me a uma outra questão
rapidamente.
Há duas palavras que dizem a mesma coisa: record, sílaba tônica “re”, vinda
do inglês, e record, sílaba tônica “cor”, do francês. A palavra desporto tem origem
no francês, e a palavra esporte, no inglês. Ambas querem dizer a mesma coisa,
embora se tenha discutido muito qual a melhor. Na minha opinião, a palavra
desporto dá sentido mais amplo; esporte é mais localizado, mais setorizado. Pode-
se usar qualquer uma das duas, sem nenhum problema.
Existe a questão da crise. Por meio dela, tentarei responder aos
questionamentos suscitados pelos Deputados Carlito Merss, Dr. Rosinha etc. Vejam
bem, a crise não é necessariamente má. É um fenômeno que afeta todos os seres
vivos. É da crise que a semente vira planta e as pessoas saem de determinado
estágio para um melhor, superior. Às vezes, dá-se a rebordosa, e há involução. Qual
é a origem da crise do desporto? O Dr. Heraldo Panhoca fez ainda agora uma
referência. Há cinco anos, o basquete era de transmissão obrigatória na televisão, e
o vôlei levava multidões aos estádios; hoje em dia, jogos de basquete e vôlei
ocorrem de vez em quando. Vão os mesmos aficionados, em geral com a camisa do
mesmo patrocinador; vão lá, porque, se não há cachê, ganham uma camisa amarela
etc. No futebol, qual é o problema?
Na minha opinião, houve, ao longo dos últimos anos, fruto dos tempos da
outra senhora, da ditadura, uma total falta de princípios normativos sociais, culturais
e, especialmente, ideológicos. Todo mundo começou a tratar o desporto como coisa
de segunda, terceira linha, e os espaços foram sendo ocupados por quem não tinha
nada a perder e muito a ganhar. E essas pessoas, ao longo dos últimos anos,
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passaram a dominar as várias modalidades esportivas, especialmente no futebol.
Essas pessoas são as mesmas que ainda hoje usam o discurso de que não querem
a profissionalização, não querem o clube empresa, mas sistematicamente usam a
seguinte frase: “Eu me dedico ao meu clube, deixo o recesso do lar, minha família.”
O “cara” não tem lar nem família, mas utiliza o desporto como forma de ganhar
dinheiro e a família como forma de acobertar sua falta de princípios, que, nesse
momento, parece-me, fruto, volto novamente a frisar, dos levantamentos feitos tanto
pela CPI da Nike, da CBF, quanto pela CPI do Senado, do Futebol, que mostraram
que existe algo de podre no reino da Dinamarca, e as pessoas de bem, com
consciência ideológica e posições políticas claras começam a tomar conhecimento
da situação e consciência de que é necessário fazer alguma coisa.
Então, aquele estágio da permissividade: “O juiz está roubando; ainda bem
que é para nós”... Ainda ontem eu escutava: “Não, o juiz roubou”. Há uma frase
sensacional hoje em dia. Você pergunta: “Como está a situação?” Respondem: “A
situação está boa, pelo menos para nós que estamos no poder”. Ou seja, é
exatamente esse quadro que está sendo desnudado na sociedade brasileira. Temos
de tomar uma posição, e ela já está sendo tomada. O fato de quatro projetos, juntos,
pretenderem dar nova roupagem ao desporto já noticia que, embora a noite esteja
escura e muito escura, a madrugada está muito próxima, pois quanto mais escura a
noite, mais próxima a madrugada. Portanto, isso não me preocupa muito. É claro
que há pessoas que estão levando dinheiro; em outras atividades, também, mas
elas estão sendo desnudadas e vão “dançar”.
O Deputado Silvio Torres me perguntou sobre liga e federação. Novamente,
Deputado, a questão é conceitual. Ou seja, toda estrutura federada é fundamental
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no desporto que tem regras e normas a serem cumpridas. Por quê? Porque essas
regras e normas foram criadas e são propriedade de determinada entidade, seja a
Federal Internacional de Atletismo, seja a Federação Internacional de Basquete, de
Vôlei; no caso do futebol, a FIFA.
No meu próximo livro há uma passagem sobre isso. O futebol é subproduto
da Revolução Industrial. Com a Revolução Industrial, a burguesia mercantil começa
a ganhar muito dinheiro. Qual é a primeira preocupação dos ascendentes sociais,
em qualquer lugar do mundo e em qualquer momento histórico? Que os filhos
tenham educação. Qual era a melhor educação que havia na Inglaterra naquele
momento? As escolas inglesas. Portanto, para as escolas inglesas, onde estudava a
aristocracia, foram os filhos da burguesia mercantil. Só que colégios que tinham 500
internados passaram a ter 5.000. Como se coordena uma massa de 5.000 jovens
em plena flor da idade, 17, 18 anos? Acordam às 6h30min da manhã, tomam café,
vão às aulas, saem ao meio-dia, almoçam, descansam. A partir das 16h estão livres.
Tomam o chá das 17h e estão livres. Das 17h às 20h fazem o quê? Foi quando um
professor de uma escola de Cambridge descobriu que todos os alunos gostavam de
determinada modalidade de desporto — outra história muito interessante —, o
haspartum, dos romanos, e o epyskiros, dos gregos. Esse desporto consistia em
impulsionar a bola, e, aí — alguns técnicos brasileiros e clubes e a nossa terra têm
de aprender isso —, eles pegavam a bola e levavam para a cidadela adversária. A
bola era impulsionada com a mão, o rúgbi, ou com o pé, o futebol. Ele começou a
aplicar as duas modalidades nos colégios ingleses. Por volta de 1848, sedimentam-
se as duas versões: futebol e rúgbi. As escolas inglesas disseminaram, no seu
âmbito, as regras das escolas londrinas. Um detalhe: os das escolas londrinas não
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podiam jogar com os do País de Gales, Irlanda e Escócia, porque as regras eram
diferentes. Então, em 1860, houve a unificação de todas as regras. Posteriormente,
no final do século, essas regras foram corporificadas no que hoje é a regra do jogo,
as dezessete regras.
Contei tudo isso, Deputado Silvio Torres, para dizer que a FIFA, criada em
1904, associou-se ao International Board formado pelos quatro países da Grã-
Bretanha, que eram os donos da regra. Tinham o futebol de todo o mundo.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Dr. Marcílio Krieger,
desculpe-me interrompê-lo.
Como já foi aberto o painel, peço a V.Sa. que seja o mais breve possível, pois
temos de ir ao plenário votar.
O SR. MARCÍLIO KRIEGER – Para terminar, a FIFA garante a unidade do
futebol dos 204 países que lhe são filiados. Essa estrutura federada é fundamental
para que haja unidade do desporto, qualquer que seja a modalidade.
A atividade da liga é muito mais leve, pois não precisa de estrutura pesada.
Na minha opinião, no futebol, tem de ser preservada a CBF. As federações
devem ficar com os registros dos jogadores.
Em função dos acontecimentos, prometo mandar à Comissão algumas
anotações sobre os demais temas.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Agradeço-lhe a gentileza.
Passo a palavra ao Dr. Marco Polo Del Nero, pedindo-lhe brevidade diante
das circunstâncias.
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O SR. MARCO POLO DEL NERO - Sr. Presidente, o ilustre advogado
Heraldo Panhoca disse que o basquete e o vôlei contavam com grande público
antigamente, mas hoje isso não ocorre mais. Isso é evidente. Hoje o basquete é
disputado não pelo Palmeiras e pelo Corinthians, mas pela Pirelli e a Motorola. Não
há público mesmo, é mais difícil.
O atleta não deveria receber para jogar na Seleção Brasileira. É uma honra
servir à Seleção do País. Ele não deveria receber nada!
Vou tentar responder às perguntas.
O SR. DEPUTADO SILVIO TORRES – Seria o prêmio...
O SR. MARCO POLO DEL NERO – Se for campeão, recebe um prêmio,
nada mais do que isso. É obrigação servir ao nosso País! Está aqui V.Exa. servindo
ao País como Deputado, lutando para ser eleito. Eu sou um modesto dirigente
amador. Nunca ganhei um tostão no futebol, nem pretendo ganhar. Dirijo futebol
desde 1970. Alguém tem de fazer alguma coisa. O jogador ganha 100 mil, 200 mil
por mês e pode fazer muita coisa.
Vou responder aos Deputados Silvio Torres e Dr. Rosinha a respeito dos
recursos necessários. Acho interessante 1% das rendas de bilheteria e tal,
arrecadação proveniente de custas processuais, excelente; 2% para o Estado de
São Paulo é pesado. Imaginem V.Exas. eu receber 2% de 65 milhões?! É muito
dinheiro, 1 milhão e 300 mil! O Tribunal vai ter um prédio só para si e vai arrumar
sede em Chicago. Aí V.Exas. vão correr atrás do Presidente do Tribunal. É muito
dinheiro. Perturba. Isso não tem nada a ver. Acho que aqui o percentual de 2% não
compensa, não. Mas aqui, em multas aplicadas aos atletas, poderia ficar uma parte
para o tribunal; 20% a 30% seria interessante.
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As multas aplicadas pelo nosso tribunal a Federação envia para a FAAP; só
que ela não redistribui aos outros Estados. Por exemplo, o Marco Aurélio, que é
Presidente do Sindicato dos Atletas de São Paulo, entrou com ação na Justiça, aqui
em Brasília, para tentar receber da FAAP o que tem de direito, 80%. A FAAP fica
com os 100%.
Agora, a relação Tribunal de Justiça Desportiva, Presidência, com a
Federação, não posso falar nada de São Paulo, porque minha relação com o
Presidente é ótima e respeitosa. Ele nunca me pediu nada em favor de qualquer
clube, e, se pedisse, eu não o atenderia. Recebo muitos pedidos de Presidentes de
clubes. Dizem-me: “Marco Polo, veja o que você pode fazer”. Respondo-lhes: “Vou
ver o que posso fazer, Presidente, mas não posso prejudicar o outro e favorecer o
senhor. Vou aplicar a lei. Venha assistir ao julgamento. Veja como vamos fazer”.
Acho que respondi à pergunta de V.Exa.
Quanto a ficarem juntos o CBDF e o Código Desportivo Amador, penso que
não vai dar certo. A história da legislação nos mostra que já houve essa união. Ficou
implantada um ano e um mês. A assessoria de V.Exa. deve saber mais sobre isso.
Tiveram de mudar imediatamente, fazer códigos separados, porque não estava
dando certo. Acho que tem de ser um código separado, pois o futebol é
completamente diferente dos outros esportes.
A outra pergunta do Deputado Dr. Rosinha se refere a empresário e clubes.
Aqui há algo muito sério. Analisando por que o futebol decaiu, concluo que isso
ocorreu por uma série de razões, mas há uma que considero a mais grave. Estou no
futebol há trinta anos e, como também fui diretor de futebol, sei como funcionam os
departamentos. Naquela época não existia isso que agora existe. Se o presidente do
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clube mandar um rapazinho treinar nos juniores da sua associação, o técnico vai
experimentar o jogador durante um, dois, três meses, porque é o presidente que
está indicando, e depois vai dizer que já tem jogador igual a ele. Não é que ele tenha
jogador igual àquele, mas ele está acertado com um empresário! O jogador que o
presidente indicou não serve. O presidente é obrigado a respeitar o técnico; senão,
ele vai ter de mandar embora. Esse é o câncer que ainda não sei como consertar.
Mas é um câncer muito sério, porque colocamos brutamontes nos campos,
jogadores fabricados, e, às vezes, um craque não tem oportunidade, porque está
sem empresário, sem a negociação. E não é só lá em cima, não, onde V.Exas.
apuraram qualquer coisa de técnicos famosos, mas lá embaixo. Este é o grande
problema: não consegue subir.
O SR. DEPUTADO SILVIO TORRES – O exemplo vem de cima.
O SR. MARCO POLO DEL NERO – Bom, começou lá em cima.
O Deputado Gilmar Machado falou sobre autonomia. Já discorri sobre o fato.
Quanto à segurança nos estádios, a Federação Paulista de Futebol tem feito
de tudo para isso: dá vídeo para a Polícia Militar fiscalizar e ver qual torcedor briga
no estádio; estamos procurando colocar agora um ingresso identificado; proibimos
as torcidas organizadas, embora não possamos puni-las eternamente. Sou favorável
à volta das torcidas organizadas, desde que haja um monitoramento sobre elas, mas
precisam voltar, senão, vamos puni-las eternamente; não pode.
Tenho a impressão de que são essas as solicitações que me fizeram e que já
fiz todas as considerações a respeito.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Muito obrigado, Dr. Marco
Paulo Del Nero.
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Quero pedir desculpas, porque um debate como este não deveria ter limite de
tempo. No entanto, há a questão da votação; regimentalmente somos obrigados a
interromper as reuniões no momento da votação e, em especial, o fato de ser uma
votação que tem um tema candente como o que estamos vivenciando no dia de
hoje.
De qualquer maneira, quero fazer um registro que julgo da maior importância:
na abertura das nossas audiências públicas, tivemos o calor que esperávamos para
essa tarefa que nos foi confiada. Cada um de nós, Deputados Federais, é um
especialista em generalidades, e não poderia ser diferente na questão do esporte,
muito embora uns tenham maior, outros, menor vivência, mas todos nós, com
certeza, temos menor vivência do que qualquer um dos senhores que estiveram hoje
conosco, dando-nos a honra de contribuir para esse trabalho. Tenho certeza de que
torno claro um pensamento do Deputado autor do nosso principal projeto, que foi o
Relator da nossa CPI, que não tem a pretensão, como não tenho na Presidência,
como não tem o Relator Gilmar Machado, de que a proposta apresentada seja a
última. Ao contrário, ela é, no máximo, um esqueleto que foi possível montar com a
experiência vitoriosa da CPI. Diria que talvez as pessoas que trabalharam contra a
aprovação do relatório na nossa CPI hoje estejam arrependidas, até amargando o
fato de terem trabalhado contra, porque, entre outras coisas, era e foi um relatório
resultante do trabalho realizado. Mesmo as pessoas que negaram o relatório tinham
a consciência de que haviam participado da construção dele.
O que se pretendeu naquele momento foi uma tomada de decisão política que
nada tinha a ver com a CPI. Daí, e porque era legítimo e refletia a realidade da CPI,
ele ter tido a conseqüência que está tendo nos dias de hoje: todas as repartições
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ligadas ao Ministério Público no Brasil, com poucas exceções — a Receita Federal,
a Polícia Federal o Banco Central — estarem debruçadas no relatório e tomando
providências, até mesmo aquelas pessoas que, por razões que não podemos
declinar, até porque não sabemos, se recusaram a vir depor na CPI.
Quero citar o caso mais recente do empresário Edson Arantes do
Nascimento, o jogador Pelé, que poderia ter esclarecido muitas coisas que hoje são
apresentadas com a maior abertura, e os jornais que tratam do assunto estão
buscando subsídios nos relatórios e nos depoimentos prestados na CPI, pois esses
relatórios parciais e os depoimentos realizados desvendaram esse caso com muita
clareza.
Por isso, considero exitosa essa nossa primeira audiência pública. Tivemos
outras reuniões regulares, com aprovação de regimento, de plano de trabalho e dos
requerimentos, mas hoje começamos essa etapa vitoriosa. Com a contribuição que
tivemos hoje e com o fato de o Relator e os componentes da Comissão já terem
conduzido os trabalhos, vamos produzir, pode ser que não o mais completo, o
melhor, o perfeito instrumento de modificação, de modernização do esporte no
Brasil, mas, com certeza, será o melhor possível, aquele que democraticamente
receberá a participação e a contribuição de todos aqueles que tiverem alguma coisa
a dizer. Mesmo os que não puderem vir aqui, estaremos abertos a receber as suas
contribuições, e o resultado será um trabalho muito melhor do que esses outros que
tivemos. Sem querer julgar os outros, estamo-nos apropriando dessas experiências.
Ao contrário de se pretender que vamos acabar com a Lei Pelé, a Lei Zico, a Lei
Maguito e outras, vamo-nos apropriar das experiências e, modestamente, utilizar
tudo aquilo que de bom foi produzido para que correspondamos e — como
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Deputados e não mais como pessoas especialistas em generalidades, mas já
experientes com essa nova modalidade de trabalho que adotamos – possamos
produzir, sim, aquilo que a sociedade brasileira espera de nós.
Dizendo isso, agradeço penhoradamente aos Drs. Heraldo Panhoca, Marcílio
Krieger e Marco Polo Del Nero a presença e a contribuição dada.
Convoco a próxima reunião para o dia 4 de dezembro, terça-feira, às
14h30min, com a seguinte pauta: deliberação de requerimentos .
Está encerrada a presente reunião.
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