View
227
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
Quando há cem anos a secção orien-
tal do Liceu Passos Manuel foi criada
nos claustros do Mosteiro de São Vi-
cente de Fora, tornando-se pouco tem-
po depois autónoma com o nome de
Liceu Central de Gil Vicente, ninguém
terá pensado que se celebraria, um dia,
o seu centenário.
O lema escolhido para o liceu, Enten-
dey minha verdade1, acompanhou-o ao
longo dos tempos e foi, por isso, o pre-
ferido para as celebrações desta efe-
méride.
Entendey minha verdade. E qual se-
ria a verdade de Gil Vicente? O que foi
que nos transmitiu de tão importante?
Talvez a intemporalidade de uma ver-
dade nascida da análise perspicaz que
lhe permitiu fazer uma crítica minucio-
sa da sociedade do século XVI? Talvez
que, na realidade, seja mais fácil
“corrigir os costumes, sorrindo”? Talvez
que a cultura seja indispensável ao
crescimento individual? Talvez que tu-
do isto seja possível apenas com o do-
mínio da língua e um trabalho meticu-
loso com as palavras?
Acredito que este tem sido o trabalho
que ao longo deste século se tem feito
neste espaço eminentemente humanis-
ta, de relações duradouras, de aprendi-
zagens, de razão e emoção, de constru-
ção partilhada de saberes: o trabalho
com a palavra que torna os nossos jo-
vens mais fortes, mais ousados, mais cu-
riosos, mais seguros e sobretudo livres.
E é com a(s) palavra(s) que se fazem
os textos que, ano após ano, publicamos
na Babel, sempre com o mesmo prazer, o
mesmo entusiasmo e sobretudo um
enorme orgulho em acompanharmos o
crescimento dos alunos.
Há cem anos nasceu uma escola. Hoje
festejamos a sua longa vida. Amanhã
outros recordar-se-ão dos que, antes de
si, ajudaram a transmitir a essência do
saber. Entendey minha verdade – a de Gil
Vicente, ou a do Liceu Gil Vicente?
1 - Gil Vicente, Auto da Lusitânia, 1531
Maria do Rosário Pinto
Coordenadora do
Departamento Curricular de Línguas
EDITORIAL
escola gil vicente | agrupamento de escolas gil vicente
Revista de Línguas
Publicação Plurilingue
Número 12
maio de 2015
BABEL
SUMÁRIO Editorial 1
Textos em Português: Narrativas curtas
Narrativa de 1ª pessoa
Ensaios descritivos
Textos expositivos
Cartas à língua portuguesa
Poemas
2
Textos em Francês: Fan de...
Je me présente
La pub, ça me plaît!
Pub vacances
Blog de mode
Voyage d’étude - Géographie
Visite au Musée Arpad Szenes-
–Vieira da Silva
Concours d’écriture
Les 100 ans du Lycée Gil Vi-
cente
9
Textos em Inglês/Francês: Gil Vicente - My first memo-
ries/Mes premières mémoires
Gil Vicente - My school rou-
tine/Mon quotidien scolaire
Gil Vicente - My school in the
future/Mon lycée dans l’avenir
Gil Vicente - The students –
Who we are
What makes a good school?
To be ignorant of the past is to
remain a child
Meet a young volunteer
We care about human rights -
10º VAS
Proverbs and sayings - 10º VAS
20
Vencedores do Concurso
Literário Fazedores de
Histórias
30
Departamento Curricular de
Línguas
DESTAQUE
Vencedores do Concurso Literá-rio Fazedores de Histórias
Dia a dia a gaivota evoluia e o gato também
reparava que todos os dias ela estava com mais
vontade de conseguir.
Um dia a gaivota ia de novo tentar voar e o
que aconteceu é que ela começa a bater as asas
enquanto corria, depois saltou e bateu as asas
com tanta força que começou a voar.
O gato ficou tão contente que, quando ela
regressou, lhe fez uma festa.
Gonçalo Cardoso, nº 14, 7º 6ª
[Supervisão: Dr.ª Manuela Nunes]
B A B E L
assim, ele sentia-se nervoso.
Até que um dia, subiram até ao telhado do prédio mais alto da cidade
e Zorbas disse para a gaivota:
- Não te esqueças, atiras-te e assim que chegares ao chão, começas a
bater as asas.
- Ok. – disse a gaivota, confiante.
Ela atirou-se e, assim que chegou perto do chão, começou a bater as
asas.
Tinha conseguido!
Bárbara Alves, nº 1, 7º 4ª [Supervisão: Dr.ª Manuela Nunes]
Texto 1
Passados alguns meses, a gaivota já era adulta e queria deixar de viver
com Zorbas e com os seus amigos. Só havia um pequeno problema, ela não
sabia voar! E Zorbas também não, pois era um gato e os gatos não sabem
voar.
- Que hei de eu fazer, Colonello? Eu não sei voar, e a gaivota já quer
aprender a voar! - disse Zorbas.
- Porque é que não contratas alguém?
- Não posso, prometi que era eu!
Zorbas leu bastantes livros e ambos ensaiaram muito mas, mesmo
Página 2 B A B E L
C o m o é q u e o g a t o Z o r b a s t e r á e n s i n a d o a g a i v o t a a v o a r ?
N A R R A T I V A S C U R T A S desaparecido! Foi então que o Sargento começou a farejar, farejar, fare-
jar... e de repente começou a correr em direção a uma gruta ao fundo da
praia. O Francisco e o Diogo foram atrás. Para sua surpresa dentro da gruta
estavam os seus pertences e muitas outras coisas. Ouviram um barulho e
esconderam-se atrás de uma rocha: eram os ladrões!!! O Sargento saltou
para a frente da gruta e mostrou os seus dentes de uma forma feroz. Foi
quando o Francisco aproveitou para chamar a polícia. Quando esta chegou
prendeu os ladrões. Mas o Sargento não parava de saltar de alegria pois,
afinal os polícias eram seus velhos companheiros... Sim, porque afinal o
Sargento era um deles, era um velho cão polícia!
Matilde Froes, nº 16, 5º 1ª
[Supervisão: Dr.ª Ana Cristina Tavares]
A Aventura dos Três
Numa tarde, dois jovens escuteiros foram acampar para a Praia das
Maçãs. Quando já tinham montado a tenda foram passear para conhecer
melhor o lugar. Quando se aperceberam estavam perdidos.
Ouviram então um latido vindo de trás das dunas. Era um cão, um
pouco velhote mas com um ar amigável e brincalhão que também parecia
andar perdido. No pescoço trazia uma medalha com o seu nome: Sargento.
O Sargento e os escuteiros, o Francisco e o Diogo, formaram logo nesse
momento uma equipa. Depois de tanta brincadeira até se esqueceram que
estavam perdidos! Quando deram por si, estavam novamente perto da
tenda.
Mas algo estava errado, a tenda estava aberta e as suas coisas tinham
onde ela pudesse bater as asas e planar.
Quando chegaram à praia (cheia de gente, por sinal), encontraram
uma duna perfeita, a gaivota subiu lá para cima e Zorbas deu-lhe algumas
indicações: ela deveria bater as asas fortemente mas, ao mesmo tempo,
graciosamente. Depois de muito cair de bico no chão e de retirar o excesso
de areia, a gaivotinha começou a bater as asas desajeitadamente e ia subin-
do, depois começou a planar, chocando com muitas coisas, mas conseguiu
manter-se no ar. Estava finalmente a voar!
Fatou Fall, nº 6, 7º 4ª
[Supervisão: Dr.ª Manuela Nunes]
Texto 2
Era verão, estava um dia ensolarado e toda a gente parecia divertir-se.
Bem, toda a gente, não. Na verdade, um gato grande, preto e gordo, estava
nervoso, pois iria ensinar - ou tentar - uma gaivota a voar.
O gato (chamado Zorbas) pensava em como poderia ensinar uma gai-
vota a voar. Já tinha visto muitas aves a voar, mas nunca tinha pensado em
ensinar uma ave a fazer o mesmo.
Zorbas deu um longo miado chamando a gaivota, que apareceu a cor-
rer, caindo algumas vezes no chão. A gaivota já sabia para onde iriam. Iriam
para a praia mais próxima. Talvez lá encontrassem uma duna de areia de
Zorbas foi buscar um saco, amarrou-o nas asas da gaivota e disse:
- Lança-te para a frente e bate as asas, depois deixa-te planar. O saco
vai ajudar a moderar a intensidade do vento.
Ela assim o fez e conseguiu.
Zorbas disse então:
- Na vida é preciso arriscar, cair e saber levantar. Só assim, nos é permi-
tido olhar para o horizonte mais além e alcançar os nossos sonhos.
Soraia Pinto, nº 19, 7º 4ª
[Supervisão: Dr.ª Manuela Nunes]
Texto 3
Passado uma semana, Zorbas resolveu ensinar a pequena gaivota a
voar (sem ajuda de qualquer outra ave).
Foi ter com a pequena gaivota e disse-lhe:
- Querida, chegou a hora de fazer aquilo que tinha prometido a tua
mãe... Ensinar-te a voar.
Zorbas levou a gaivota nas costas, para cima de um rochedo.
Assim que chegaram, a pequena gaivota olhou para baixo e o medo
apoderou-se dela.
- Mamã tira-me daqui! Por favor!!!
Texto 4
Depois da pequena gaivota nascer, Zorbas pôs mãos à obra. Foi logo
estudar como é que se voava e ensinou à gaivota algumas coisas. Ela foi
aprendendo mas mesmo assim não conseguia voar. Zorbas estava triste.
- Nunca vou conseguir ensiná-la a voar - disse Zorbas.
A gaivota que ouviu respondeu:
- Claro que vais, tu és capaz de tudo, se quiseres.
O gato, mais alegrado, voltou ao trabalho para explicar à gaivota como
se voava. Construiu até umas asas com madeira e pano mas, como era de
esperar, ela acabou estatelada no chão.
Fonte: google.imagens
B A B E L Página 3 B A B E L
- Estás errado. Em
igualdade, vivemos
bem e trabalhamos em
prol uns dos outros. –
continuou Bola de
Neve.
- Um dia ainda
haverá privilégios só
para os porcos, vais
ver! – exclamou Napo-
leão.
Finda a discussão,
foram-se os dois embo-
ra da casa e, naquela
noite, Napoleão come-
çou planear o seu golpe
contra a igualdade.
João Carita, nº 12, 8º 1ª
[Supervisão: Dr.ª Maria
João Queiroga]
Napoleão estava numa das reuniões convocadas por Bola de Ne-
ve, às quais raramente assistia, e ouviu o seu companheiro defender a
igualdade entre os animais e a pronunciar-se contra uma política de
privilégios, mais favorável a Napoleão.
Depois da reunião, Bola de Neve foi para o seu humilde recanto na
quinta, enquanto Napoleão se dirigiu para a antiga mansão do Sr. Reis,
agora proibida. Uns minutos depois, Bola de Neve ouviu um ruído e
levantou-se para ver o que se passava. Era um som agudo, como o
ranger de uma porta, irritante para os ouvidos. Viu Napoleão a entrar
na mansão e seguiu-o secreta e sorrateiramente para não ser ouvido.
Ao entrar na mansão, Bola de Neve observou a sala: era grande,
com troféus de animais, boa e cara mobília, que o Sr. Reis comprara
com os lucros da quinta; mas tinha tudo um ar pesado de soberania.
Sentado numa poltrona, viu Napoleão a deliciar-se com a comida que
pertencera ao Sr. Reis: geleias e bebidas alcoólicas, proibidas pelos
Sete Mandamentos do Reino Animal.
- Napoleão, não devias entrar aqui! É proibido! – exclamou Bola de
Neve.
- Nós, porcos, mais inteligentes do que os outros animais, devía-
mos ter privilégios, como dormir aqui, em camas suaves, ter acesso a
comida e a bebida de boa qualidade! – respondeu Napoleão.
A p r o p ó s i t o d e A Q u i n t a d o s A n i m a i s , d e G e o r g e O r w e l l
N A R R A T I V A S C U R T A S
Vinde provar o ferro da minha espada!
- Meu amo, estais bem? – perguntou Sancho.
- Estou melhor que nunca! Perdemos uma batalha, mas a guerra
não está perdida! Inimigos não faltam! Que não nos falte a nós a cora-
gem de os vencer.
E foi assim que terminou mais uma terrível batalha do valoroso D.
Quixote e do seu criado Sancho Pança. Novos inimigos os esperavam
na sua longa caminhada. Unidos por uma especial amizade, seguiram
viagem. De um lado, a firmeza e a coragem de quem quer ver o que
não se vê, e do outro, uma boa dose de realismo.
Bárbara Santos, nº 3, 8º 2ª
[Supervisão: Dr.ª Maria João Queiroga]
As ovelhas
Estava uma manhã radiosa quando D. Quixote e Sancho Pança
acordaram. Na véspera, tinham enfrentado moinhos de vento e esta-
vam agora preparados para seguir viagem. Puseram-se a caminho e ao
fim de alguns minutos chegaram a um prado onde se via, ao fundo, um
rebanho.
D. Quixote exclamou:
- Parece que temos companhia, meu caro Sancho! Quem havia de
dizer que íamos encontrar aqui um tão bom número de soldados! Faz-
-te às armas, meu fiel Sancho, porque hoje a peleja vai ser dura.
- Mas… onde estão os soldados, meu amo? A única coisa que vejo
é um rebanho de ovelhas.
- Não sejas tolo. Aqueles soldados têm uns casacos grossos de
inverno e festejam aos gritos.
- Mas, senhor… O que pensa serem soldados são, na verdade,
ovelhas! Os casacos grossos são o seu pelo e os gritos são o seu balido!
- Meu bom Sancho, não sabes o que dizes! Mas eu perdoo-te.
Os soldados, com os seus fartos casacos, as suas pernas magras e
vozes finas, até tinham umas caras simpáticas, mas as suas atitudes
eram ameaçadoras. Já as ovelhas, umas pretas e outras brancas, con-
forme a sua raça, nada mais faziam do que balir.
D. Quixote, com a espada em riste, avançou a galope sobre os
soldados. Sancho Pança, logo atrás do seu amo, no passo picado do
seu burro, tentava evitar uma catástrofe. As ovelhas fugiam em ondas.
D. Quixote desenhava círculos uns atrás dos outros. De repente, proje-
tado pelo seu cavalo, caiu com estrondo no solo. Reergueu-se e gritou:
- Estais a fugir, seus covardes?! Afinal onde está a vossa coragem?
A p r o p ó s i t o d e D . Q u i x o t e d e l a M a n c h a , d e C e r v a n t e s
Fonte: google.imagens
Fon
te:
goo
gle.
imag
ens
N A R R A T I V A D E 1 . ª P E S S O A
B A B E L Página 4 B A B E L
essa ilusão. As chamas tinham ocupado na verdade a casa de André
Juliano. Os bombeiros chegaram finalmente, e entre eles vinha mestre
Poupa, o herói bombeiro que entre tantos incêndios que havia comba-
tido e a que tinha sobrevivido era capaz de actos que até os mais atléti-
cos considerariam sobrenaturais, esta sim é a definição de herói: é
aquele que, com as mesmas bases que o homem comum, consegue ir
além de todos os outros.
Os vizinhos que ainda não se haviam apercebido do incêndio co-
meçaram a vir para a rua para observar o desenrolar deste aconteci-
mento desastroso que, mesmo depois de extinto, deixará pequenas
brasas na memória dos espectadores. Entre eles estava Chico Biló, cuja
expressão facial dava a entender que o grande mestre Poupa estava
morto.
Mestre Poupa avançou e chamou André Juliano, também o chamei
e André Juliano dobrou-se e escondeu a face nas mãos papudas.
- Vá lá salvar o velho, disse a mestre Poupa. Então este avançou
contra o fumo que saía da casa e desapareceu, os bombeiros tentavam
domar as chamas que pareciam ter vida, a sua luminosidade demons-
trava o seu vigor.
A velha que eu tinha visto no elétrico estava como que receosa e
curiosa ao fundo da rua a observar o incêndio. Comecei a caminhar
para ir falar com ela, mas os vizinhos começaram a gritar quando viram
os bombeiros transportar uma velha na estreita cama de ferro e o pai
de André Juliano, ambos mortos. Fiquei transtornado e quase a cho-
rar, a contrastar com a minha tristeza ouviam-se as chamas a enruga-
rem a madeira e faziam-na estalar. O cheiro a pinho era o dos que mais
predominava na atmosfera e poderia até ser de madeira a ser queima-
da numa festa um num churrasco, porém tratava-se apenas deste
holocausto que era tudo menos alegre e que o cântico das chamas
teimava em contrariar.
No meio dos gritos dos vizinhos, e das chamas, lembrei-me de que
ia falar com a velha e voltei a olhar para onde ela estava e estava exac-
tamente igual como se fosse uma estátua. Quando já me chegava par-
to dela para lhe falar, ouvi novamente os vizinhos a gritar e só rezei
para que quem viesse a seguir não fosse mestre Poupa, no entanto foi
quem os bombeiros trouxeram já morto para o exterior, fiquei tão
triste, a minha avó não dizia nada apenas observava agora já não o
incêndio, pois o seu olhar e pensamento tinham-se concentrado na
velha que tanto me intrigava. Avancei, passei mesmo em frente à
porta de entrada do edifício em chamas e o fumo instalou-se na minha
garganta como uma lapa numa pedra, o incêndio extinguiu-se, e como
em todos os fogos desde pequenas fogueiras até incêndios florestais
quando se extinguem produzem um enorme fumo branco que neste
caso se pôs entre mim e a velha e quando se dissipou esta havia desa-
parecido. A nuvem de fumo que de certo modo salvou a velha era o
último suspiro em sentido figurado daquele incêndio que devorou
aqueles três.
Henrique Sousa, nº 14, 10º C
[Supervisão: Dr. Nuno Soares]
Embora os meteorologistas tivessem dito que aquele dia iria ser
quente, no interior da igreja, sentia-se uma clima ameno. Quando saí
da igreja, andei poucos metros ao longo da Avenida Almirante Reis e
entrei na estação de metro dos Anjos. Saí na estação do Martim Moniz,
onde passeei até escurecer. Já era noite, corri até ao Hotel Mundial
onde estava parado um elétrico da carreira vinte e oito e perguntei ao
maquinista se este iria seguir de volta para a Almirante Reis ou se ia
para a Estrela. - Para a Estrela, disse-me, avancei até à paragem onde
aguardei cerca de sete minutos. Observava os pombos que por ali
passavam, que, com o cinzento do seu corpo, marca já de nascença
que passava de geração em geração, contrastava com o branco dos
edifícios à minha frente, construídos no tempo em que eu considerava
que os cães eram da minha altura mas que ainda estão por vender, vai-
se lá saber porquê.
O elétrico avançou do Hotel Mundial até à paragem onde eu e
outras tantas pessoas entraram, e milagrosamente havia lugares dispo-
níveis, não havia crianças de colo aos berros a gritar: mãe quero leite,
bolachas, tenho sede, entre tantos outros defeitos que eles têm sem-
pre tendência a apontar aos pais; não existiam os velhos que ocupam
os lugares todos do elétrico todos os dias e que nem vão a lado ne-
nhum, não, esta viagem era uma que acontecia muito raramente, em
que os passageiros podiam descansar. Ia uma velha no elétrico que se
assemelhava às bruxas dos contos infantis e que, como olhava para
mim de um modo estranho, eu fiz uma figa e repeti três vezes ‘leva o
que deixas’ não fosse esta por artes mágicas desconhecidas rogar-me
uma maldição.
O elétrico prosseguia a sua viagem sempre a parar a cada cinquen-
ta metros que avançava, porque existiam sempre condutores que deci-
diam parar os automóveis em cima da linha do elétrico, deveriam estes
julgar que os elétricos eram apenas para lazer dos turistas, no entanto
enganavam-se, nós, os pobres que não tínhamos possibilidades de
pagar automóveis, tínhamos de nos locomover neste transporte que já
havia chegado ao seu centésimo aniversário.
Quando saí do elétrico, avancei até à casa da minha avó, mas esta
estava à porta com uma expressão mista entre indignação e medo,
estava tão mergulhada nos seus pensamentos que só me viu quando já
estava ao seu lado.
- É fogo!, disse-me, e desceu a calçada do Menino de Deus até ao
cruzamento com a Rua dos Cegos. Espreitou, no entanto nem uma
única chama se via, apenas o fumo que ascendia aos céus no pátio
Dom Fradique, que a qualquer homem que conhecesse as passagens
bíblicas daria a entender que Deus parecia estar a gostar daquele holo-
causto, pois o fumo de Abel também ascendeu aos céus quando o
Senhor aceitou com bom grado as suas ofertas.
Decidimos avançar mais alguns metros e vimos que o incêndio não
se localizava no pátio Dom Fradique, pois embora o fumo subisse desse
lugar - que já havia visto tantas gerações e que agora não via nenhuma
porque já todas partiram e não existiram nenhumas para voltar a habi-
tá-lo - na verdade era empurrado pelo vento nessa direcção criando
N a r r a t i va d e 1 ª p e s s oa , i nc l u i n d o o m ot i v o d o f o g o d e « M e s t r e P o u pa B o m b e i r o », d e O F o g o e a s C i n z a s , d e Ma n u e l d a F o n s e c a
B A B E L Página 5 B A B E L
E N S A I O S D E S C R I T I V O S Ela tinha vários cães, uns pequenos, outros grandes. Era louca por
animais. Mas era ainda uma loucura maior quando ela os levava lá
à escola... Toda a gente queria pegar neles e fazer festinhas.
Nós tínhamos o nosso grupo de amigos. E sabem que mais?
O André também fazia parte desse grupo. Quando estávamos
todos juntos, éramos umas bombas atómicas. Toda a gente repa-
rava em nós. O André e a Marta tinham o mesmo tom de pele. Era
incrível!
Mas as pessoas crescem, seguem novos rumos e afastam-se.
O grupo desfez-se e cada um de nós fez outros amigos. No entan-
to, guardá-los-ei para sempre na minha memória.
Catarina Grilo, nº 4, 8º 2ª
[Supervisão: Dr.ª Maria João Queiroga]
Eu sempre gostei da escola, de fazer amizades novas, de
aprender mais e melhor. Mas digamos que eu gostava ainda mais
do meu colega André…
Ele era alto, demasiado alto para a sua idade, parecia uma
girafa. O seu cabelo era loiro como os raios do sol e via-se que era
sedoso e macio. A sua pele era morena, o que encantava qualquer
um. Os seus lábios eram tão carnudos e vermelhos que mais pare-
ciam uma cereja já madura. Os olhos eram grandes e de um casta-
nho esverdeado. Ele era uma caixinha de surpresas…
A Marta era, sem dúvida, uma das minhas melhores amigas.
O seu cabelo era de meter inveja! Era preto, forte e muito compri-
do. O seu narizinho era do tamanho de um amendoim. Era boche-
chuda e cheiinha, mas era lindíssima, de uma beleza inexplicável.
pouco se importava com isso.
Eu e a Tânia éramos mais próximas. Claro que também gosta-
va da Catarina, sem dúvida alguma, mas eu conhecia a Tânia há
mais tempo. A Tânia era simpática, amiga de todos, inteligente e
divertida. A Catarina era mais esgrouviada e maluca, mas no bom
sentido. Fazia-me rir e foi assim que ficámos amigas.
Durante o intervalo, íamos sempre para o pátio correr feitas
três baratas tontas, e jogávamos à apanhada e a outros jogos.
Éramos amicíssimas! Ficámos amigas para sempre.
Daniela Santos, nº 7, 8º 2ª
[Supervisão: Dr.ª Maria João Queiroga]
A escola do 1º Ciclo onde eu andei era grande, tinha dois
andares e várias salas. Os miúdos, e eu também, parecíamos bara-
tas tontas, sempre a correr de um lado para o outro. Eu era a mais
nova, tinha poucos amigos, mas estes já bastavam (mais vale só
que mal acompanhado...).
Tinha duas amigas que eram bastante responsáveis e solidá-
rias. Eram mais velhas do que eu e muito mais extrovertidas. Uma
era a Tânia e a outra era a Catarina. A Tânia era magra, baixa,
tinha o cabelo liso e ondulado, louro e de um brilho reluzente. A
Catarina era um pouco rechonchuda (como eu), mas com as ma-
çãs do rosto mais bochechudas do que as minhas; o cabelo dela
era curto e encaracolado, louro, e estava sempre em pé, mas ela
T E X T O S E X P O S I T I V O S
Na cena do Fidalgo do Auto da Barca do Inferno, apresentam-
-se três personagens: o Diabo e o Anjo, que simbolizam o mal e o
bem, respetivamente, e um Fidalgo vaidoso e egocêntrico, acom-
panhado pelo moço obediente, que carrega consigo uma cadeira
“d’espaldas”. As personagens encontram-se no cais de embarque,
onde o Fidalgo, após morrer, se prepara para entrar numa das
barcas.
Para tentar convencer o Anjo a embarcar na barca do Paraíso,
o nobre defende-se, referindo que é “fidalgo de solar”, que tem
uma mulher que reza por si e uma amante que se quer suicidar.
Porém, o Anjo e o Diabo acusam-no de tirania sobre o povo, da
vida de prazeres que vivera e da sua vaidade.
O passageiro, contrariado, acaba por embarcar na barca do
Diabo e, com esta condenação, Gil Vicente faz uma crítica ao mo-
do como a Nobreza exercia a sua autoridade e também às infideli-
dades tão características na Corte.
Cláudia Esteves, nº 3, 9º 5ª
[Supervisão: Dr.ª Maria João Queiroga]
A p r o p ó s i t o d a c e n a “ O F i d a l g o ” , d o A u t o d a B a r c a d o I n f e r n o , d e G i l V i c e n t e
Na obra Auto da Barca do Inferno, composta por Gil Vicente,
encontramos, relativamente à cena do Fidalgo, três personagens:
o próprio Fidalgo (usando uma capa e trazendo uma cadeira
“d’espaldas“), o Diabo e o Anjo. Estas três personagens encon-
tram-se na margem de um rio onde estão presentes duas barcas.
Nesta cena, o Anjo e o Diabo julgam o Fidalgo com base nos
pecados cometidos por esta personagem em vida. As duas forças
espirituais acusam o Fidalgo de vaidade, de exercer tirania sobre o
povo e de levar uma vida cheia de prazeres. O Fidalgo protesta,
afirmando que tem uma amante que se quer suicidar, uma mulher
que reza por si e que provém de uma família nobre e antiga.
No final, o Anjo não aceita o Fidalgo na sua barca e, assim, ele
dirige-se para a barca do Diabo.
Com esta cena, Gil Vicente faz uma crítica a Nobreza, princi-
palmente à forma como esta classe exercia a sua autoridade sobre
os mais desfavorecidos.
Luís Carvalho, nº 11, 9º 5ª
[Supervisão: Dr.ª Maria João Queiroga]
B A B E L Página 6 B A B E L
T E X T O S E X P O S I T I V O S A p r o p ó s i t o d a c e n a “ O F i d a l g o ” , d o A u t o d a B a r c a d o I n f e r n o , d e G i l V i c e n t e
Na cena “O Fidalgo”, da peça Auto da Barca do Inferno, estão
presentes um nobre, que demonstra ser vaidoso, arrogante e
presunçoso, o Diabo, que evidencia ser sarcástico, e o Anjo, que,
tal como o nome indica, demonstra a sua serenidade. Esta cena
decorre na margem de um rio, onde estão duas barcas: uma des-
locar-se-á ao Inferno e a outra ao Paraíso.
O Fidalgo é acusado de vaidade, de ter exercido tirania sobre
o povo e de ter levado uma vida de prazeres.Perante estas acu-
sações, o Fidalgo defende-se, argumentando que a sua amante se
quer suicidar e que a sua mulher reza por si. Defende-se ainda
com o seu estatuto social, o que demonstra que o Fidalgo se acha-
va superior aos outros.
Como consequência dos pecados cometidos ao longo da sua
vida, a personagem é condenada ao Inferno. A crítica que Gil Vi-
cente pretende fazer é à Nobreza e ao modo como esta classe
social exercia a sua autoridade.
Sara Alves, nº 20, 9º 5ª
[Supervisão: Dr.ª Maria João Queiroga]
O Fidalgo, o Diabo e o Anjo são as três personagens que parti-
cipam nesta cena. O Fidalgo encontra-se na margem de um rio,
enquanto o Diabo e o Anjo estão nas suas respetivas barcas. A
personagem a ser julgada é vaidosa, arrogante, ingénua, presun-
çosa e exerce tirania sobre as pessoas que a rodeiam. O Diabo
gosta de gozar com as pessoas, é persistente e recorre bastante
ao uso da ironia e do sarcasmo. O Anjo é exatamente o oposto:
calmo e justo são duas das suas características.
A acusação que o Diabo utiliza contra o Fidalgo é o facto de
este ter vivido uma vida de prazeres. Já o Anjo acusa-o de ter
exercido tirania sobre o povo e de ter sido bastante vaidoso du-
rante a sua vida. Para se defender destas acusações, o Fidalgo
afirma que a sua amante se quer suicidar e que a sua mulher reza
por si; utiliza também o seu elevado estatuto social como defesa.
O destino do Fidalgo acaba por ser o Inferno e a crítica que o
autor pretende fazer com esta condenação é direcionada à Nobre-
za e ao modo como esta classe exercia a sua autoridade sobre os
mais fracos.
Maria Mafalda Sousa, nº 13, 9º 5ª
[Supervisão: Dr.ª Maria João Queiroga]
Fonte: google.imagens
A propósito da representação do Auto da Barca do Inferno , de Gil Vicente, pela Associação Cultural Kids
No dia 6 de janeiro, todas as turmas do 9º ano da nossa
escola visitaram o colégio Pedro Arrupe para assistirem à repre-
sentação da peça Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, ence-
nada por António Feio.
Eu, pessoalmente, gostei da peça, achei-a engraçada, juvenil,
interessante. Não conheço completamente a obra, mas considero
uma ótima ideia ver a peça antes de a analisarmos na aula; é uma
espécie de introdução à leitura e à compreensão do texto vicenti-
no.
Penso que os atores desempenharam bem o seu papel, mos-
traram paixão ao fazê-lo e nunca se enganaram. O cenário, a meu
ver, era simples, fácil e rápido de mudar. Os figurinos não eram
muito luxuosos, mas eram elaborados, ou seja, notava-se que foi
preciso trabalho para os executar.
Com o Auto da Barca do Inferno, Gil Vicente faz uma crítica à
sociedade da época. O dramaturgo critica a forma de viver das
pessoas, apresentando-nos vários tipos sociais e várias profissões
ou ocupações. As personagens, depois de mortas, deparam-se
com duas barcas: a do Inferno e a do Céu. Como pecaram em vida,
tiveram de partir na barca do Diabo, com destino ao Inferno.
Gostei da peça, da encenação, do cenário, dos figurinos e da
obra, a qual estou ansiosa para começar a estudar.
Sofia Salvador, nº 21, 9º 5ª
[Supervisão: Dr.ª Maria João Queiroga]
C A RTA S À L Í N G UA P O RT U G U ESA
B A B E L Página 7 B A B E L
ber palavras como “Sim”, “Mãe” e tantas outras. Estavas comigo
aí e estás comigo agora.
Obrigada por me ajudares a perceber o que dizem os poetas,
os professores e até os senhores do talho; obrigada pelos vários
dialetos que nunca me deixam aborrecida; obrigada pelos provér-
bios bons que tens para oferecer.
Desculpa pelas abreviaturas nos mails e mensagens; desculpa
por quando não estudo para a tua disciplina; desculpa quando
recorro ao inglês no meio de frases em português.
Língua Portuguesa, és a maior!
Um abraço apertado,
Carlota Cardoso, nº 3, 12º C
[Supervisão: Dr.ª Maria do Rosário Pinto]
Lisboa, 24 de setembro de 2014
Querida Língua Portuguesa,
Passaste por muito desde que nasceste, filha do latim. Neste
momento és grande e há tanta gente que te fala e se perde nas
tuas conjunções, metáforas e sinónimos. Eu sou uma dessas pes-
soas, e por isso te escrevo hoje esta carta.
A nossa relação só começou oficialmente em 1998, quando
disse a minha primeira palavra, mas já tinha reparado em ti antes.
Já estavas comigo mesmo antes de eu nascer, quando ouvia as
pessoas a falar lá fora.
Estavas comigo quando nasci e ouvi o médico dizer “Que bela
menina que aqui tem!”. Estavas comigo quando comecei a perce-
C a r t a s à l í n g u a p o r t u g u e s a n o â m b i t o d o d i a e u r o p e u d a s l í n g u a s
Considera-te especial. Podes não estar habituada, o que eu
verdadeiramente lamento e culpo-me em parte por isso, mas
percebo agora que te devo dar o mesmo valor que a Ciência tem
para mim.
Não só me deves acompanhar nesta carta, mas sempre. Espe-
ro que não seja tarde demais. Espero que ainda não tenhas desis-
tido de mim. Espero também que estejas disposta a ensinar-me,
para que possa vir a compreender-te. E, se um dia te tentarem
derrubar ou trocar, vou fazer os possíveis para te manter presen-
te, partilhando tudo o que estiveres disposta a ensinar-me.
Mais do que isto não consigo dizer. Agradeço apenas que me
tenhas dado um minuto da tua atenção, e que aceites o meu pedi-
do de perdão.
Querida Língua Portuguesa ajuda-me a ser melhor.
Patrícia Afonso, nº 21, 12º C
[Supervisão: Dr.ª Maria do Rosário Pinto]
Lisboa, 24 de setembro de 2014
Querida Língua Portuguesa,
Tenho andado ocupado com a Matemática, mas talvez deva
gastar um bocadinho do meu tempo contigo. Sei que o fazes comi-
go desde o primeiro dia em que me lembro de falar.
Nestes últimos anos sei que me tens sempre acompanhado e
nunca me deixaste. Apesar de te ignorar e de, nos momentos em
que estou mais frio, talvez até mesmo te desprezar, não o faço
por mal.
Pensando bem, acho que não mereces da minha parte uma
carta de amor, mas sim uma carta de perdão.
Escrevo. Pesam-me as palavras e percebo o quão cruel tenho
sido para contigo. Cais no meu esquecimento, tropeço em ti. Sei
que estás magoada, mas quero fazer esta carta contigo ao meu
lado. Deixo que me julgues, mas vou tentar não te dar motivos
para isso. Não haverá “tempos verbais incorretos” ou “erros de
pontuação”. Será apenas como tu gostas.
teu passado, pois eras diferente e não gostei. O que importa é o
futuro, os dias que estão para vir. Prometo que vou tentar não te
magoar e tentar que os outros também não o façam, porque ape-
sar de tudo o teu bem-estar é o mais importante.
Sabes uma coisa? Não te zangues comigo, mas eu conheci
outras línguas. A espanhola, a francesa e a inglesa… Até gostei da
inglesa, mas a verdade é que nenhuma delas é o que tu és, nenhu-
ma dela chega aos teus calcanhares. Só sei usar as tuas expres-
sões. Só consigo ‘’pensar em ti’’ . Só tu és melodia no meu ouvido.
É estranho. Com tantas línguas no mundo porque é que fui logo
apaixonar-me por ti? A isso só tu me sabes responder. A verdade
é que sem ti não saberia o que fazer. Talvez aprendesse outra
língua, mas não seria a mesma coisa. Tu tornaste-me o que sou
hoje. E olha bem no que me tornaste… Numa apaixonada por ti,
que não sabe viver sem ti…
Sara Ferreira, nº 18, 12º LH
[Supervisão: Dr.ª Maria do Rosário Pinto]
Lisboa, 24 de setembro de 2014
Querida Língua Portuguesa,
Em primeiro lugar, quero pedir-te desculpas. Eu sei que por
vezes te trato mal, dou ‘’pontapés’’ na tua gramática, o que te
deixa bastante embaraçada. Mas eu juro que não é por maldade…
São aquelas coisas do momento que se fazem sem pensar duas
vezes e das quais depois me arrependo.
É verdade que tu és importante para mim, estás sempre co-
migo. Não és só importante para mim, és importante para toda a
gente…
Eu sei que não és só minha, sei disso, ninguém precisa de mo
dizer. Mas sinceramente não me importo e até compreendo… Tu
és o elo de ligação de todos os portugueses e não só. És também
de todos os países nossos irmãos. Quando te conheci já assim era,
é por isso que eu te compreendo e não tenho ciúmes. Conheci--te
quando nasci, apaixonei-me logo que te ouvi. Não quis saber do
P O E M A S
B A B E L Página 8 B A B E L
Mudança
Como a doçura amarga da vida vivida muda do canto, da esquina, para o canto dos pássaros. Como fomos mudando de mala e de bagagem. Como fomos mudando do Flamengo para a Contemporânea. Como passámos de falcões a beija-flores. Como mudámos a forma de sentir e largámos emoções. Como andávamos de foguete e começámos a usar os binóculos enquanto andamos numa carroça. Como ficaram os limões e os cocos na árvore prontos a colher. Como a mudança passa de mão em mão e de coração em coração.
Beatriz Pinho, nº 10, 7º 6ª
[Supervisão: Dr.ª Manuela Nunes]
Quando me sento a escrever versos,
Escrevo versos num papel que está no meu pensamento,
E os meus pensamentos são todos sensações,
Porque quem ama nunca sabe o que ama.
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...
Não me importo com as rimas. Raras vezes
Penso e escrevo como as flores têm cor.
Sinto-me parte das cousas com o tato.
Sempre que penso uma cousa, traio-a,
Uma cousa que é visível existe para se ver,
O tamanho ou a duração não têm importância nenhuma,
São apenas tamanho e duração.
Sei que a pedra é real, e que a planta existe,
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram.
Se a ciência quer ser verdadeira,
Que ciência mais verdadeira que a das cousas sem ciência?
Para mim graças a ter olhos só para ver,
Eu vejo ausência de significação em todas as cousas.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Sou fácil de definir,
Amei as cousas sem sentimentalidade nenhuma
Além disso fui o único poeta da natureza.
O que ouviu os meus versos disse-me: Que tem isso de novo?
Tenho escrito bastantes poemas,
E todos os meus poemas são diferentes.
Ângela Correia, nº 2, 12º C
[Supervisão: Dr.ª Maria do Rosário Pinto]
Poemas com versos de Alberto Caeiro [os alunos foram convidados a fazer poemas à maneira deste poeta com os seus próprios versos]
Fonte: google.imagens
Aceita o Universo Como to deram os deuses. O que penso eu do Mundo? Sei lá o que penso do mundo! Há metafísica bastante em não pensar em nada. Pensar incomoda como andar à chuva. Não sei o que é a Natureza canto-a. Todas as opiniões que há sobre a natureza Nunca fizeram crescer uma erva ou nascer uma flor. Se eu me interrogasse e me espantasse, Não nasciam flores novas nos prados. Se eu já estiver morto, As flores florirão da mesma maneira. Eu amo as flores por serem flores, diretamente. Eu amo as árvores por serem árvores sem o meu pensamento. A realidade não precisa de mim. Sei a verdade e sou feliz.
Carlota Cardoso, nº 3, 12º C [Supervisão: Dr.ª Maria do Rosário Pinto]
Não tenho pressa. Pressa para quê?
Agora que sinto o amor
Não quero incluir o tempo no meu esquema.
Tenho escrito bastantes poemas
Cada poema meu diz isto,
Já não sei andar só pelos caminhos.
O amor é uma companhia
Penso em ti, murmuro o teu nome e não sou eu: sou feliz.
Amar é a eterna inocência
Amar é pensar.
Márcia Veiga, nº 16, 12º C
[Supervisão: Dr.ª Maria do Rosário Pinto]
B A B E L Página 9 B A B E L
P O E M A S
Quando é que passará esta noite interna, o universo,
Ó carinhosa do Além, senhora do luto infinito.
Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros
As estrelas pestanejam frio
Impossíveis de contar
Sinto na minha cabeça a velocidade de giro da terra,
E todos os países e todas as pessoas giram dentro de mim,
Quem me dera que houvesse
Um terceiro pra alma, se ela tiver só dois…
Um quarto estado pra alma, se são três o que ela tem
Cada alma é uma escada pra deus
Cada alma é um corredor-universo para Deus,
Boas maneiras da Alma…
Daniela Coelho, nº 6, 12º LH
[Supervisão: Dr.ª Maria do Rosário Pinto]
P o e m a s c o m v e r s o s d e Á l v a r o d e C a m p o s [ o s a l u n o s f o r a m c o n v i d a d o s a f a z e r p o e m a s à m a n e i r a d e s t e p o e t a c o m o s s e u s p r ó p r i o s v e r s o s ]
O que há em mim é sobretudo cansaço
Escuto-o, e no meu coração um grande pasmo soluça
Não sei: ao acordar já estava triste
Afinal
Que vida fiz eu da vida?
De nada me serviria sabê-lo
Pois o cansaço fica na mesma
Nunca serei nada
Começo a conhecer-me. Não existo
Quando olho para mim não me percebo
Não sou nada
Eu que me aguente comigo e com os comigos de mim!
Cansaço…
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade
Falhei em tudo
Estou cansado, é claro
Nunca serei nada
O que há em mim é sobretudo cansaço
Íssimo, íssimo, íssimo…
Sara Ferreira, nº 18, 12º LH
[Supervisão: Dr.ª Maria do Rosário Pinto]
Fon
te:
goo
gle.
imag
ens
F A N D E . . . Salut à tous! Je vous présente l’actrice et mannequin Sofia
Ribeiro. Sofia est portugaise et elle a 30 ans. Physiquement, Sofia
est grande et mince. Ses cheveux sont longs et bouclés. Elle a les
yeux marron. C’est une jeune femme intelligente et elle est très
belle. Sofia adore porter des robes blanches et des sandales à
talons.
Ana Pereira, nº 2, 7º 5ª
[Supervisão: Dr.ª Zelinda Pontes]
Bonjour! Je vais vous présenter l’actrice
Rita Pereira. Elle est portugaise et elle a 33 ans.
Physiquement, Rita est de taille moyenne et
mince. Elle a les cheveux longs, lisses et châ-
tains foncés. Ses yeux sont grands et marron.
Rita est une jeune femme sociable et calme.
Habituellement, elle aime porter des robes
noires et des chaussures à talons.
Beatriz Loureiro, nº 3, 7º 5ª [Supervisão: Dr.ª Zelinda Pontes] Il s’appelle David Beckham. Il habite en
Angleterre. C’est un footballeur anglais. Il
est de taille moyenne et mince. Il a les
cheveux châtains clairs et courts. Ses yeux
sont marron et ronds. Actuellement, il
porte une moustache et une barbe. Quand
il ne joue pas, il a l’habitude de porter un
costume noir, une chemise blanche et des
chaussures de ville. David Beckham est
sympathique, gentil et généreux.
Bruno Dionísio, nº 5, 7º 5ª
[Supervisão: Dr.ª Zelinda Pontes]
Bonjour tout le monde! Nous allons vous présenter Kevin Durant. Kevin est un joueur de basketball américain. Il est né le 29 septembre 1988 à Washington, en Amérique. Il a 26 ans. C’est le troisième plus jeune joueur de la NBA. Physiquement, Kevin est grand et fort. Il a les cheveux noirs, courts et frisés. Il aime porter une barbe. C’est un jeune homme gentil et sympa-thique. Habituellement, il porte des baskets et le maillot de son équipe, l’Oklahoma City Thunder.
David Santos, nº 6 e Diogo Santos, nº 7, 7º 5ª [Supervisão: Dr.ª Zelinda Pontes]
B A B E L Página 10 B A B E L
F A N D E . . . Salut! Je vous présente José Adelino Barceló de Carvalho, plus
connu comme Bonga. Bonga est né le 5 septembre 1943 à Kipiri
en Angola. Il a 72 ans. C’est un célèbre musicien angolais. Il a les
cheveux noirs et frisés. Ses yeux sont grands et marron. Il porte
une moustache et une barbe. C’est un homme grand et un peu
enrobé. Quand il chante, il porte un manteau blanc et un pantalon
noir. Bonga est amusant, gentil et sympathique.
Ruben Afonso, nº 17, 7º 5ª
[Supervisão: Dr.ª Zelinda Pontes]
Bonjour, je vais vous présenter Ricardo Filipe da Silva Braga. Il
a 28 ans. Il est né le 3 septembre 1986 à Porto, au Portugal. Il a
été considéré comme le meilleur joueur de football en salle portu-
gais. Il a été élu le meilleur joueur du monde en 2010. Ricardo
Braga est le premier et le seul joueur portugais à être distingué
avec ce prix. Il a commencé sa carrière au Gramidense. Il est passé
par d’autres clubs comme le Miramar, le Benfica, le Nagoya, au
Japon, le C.S.K.A à Moscou. Actuellement, il joue à L’Inter Futbol
Sala, en Espagne.
Guilherme Conde, nº 19, 7º 5ª [Supervisão: Dr.ª Zelinda Pontes]
J E M E P R É S E N T E
Je m’appelle Inês et j’ai douze ans. J’habite à Lisbonne, au
Portugal, et je suis portugaise. Je suis sympa, courageuse, organi-
sée et amusante, mais je suis un peu bavarde et agressive.
Dans ma famille, il y a ma mère, mon frère, moi, mes hams-
ters et deux poissons rouges. J’adore mon frère parce qu’il est
gentil, il a 15 ans.
Dans ma classe, il y a 20 élèves, 9 filles et 11 garçons. Mon
école est grande et moderne. J’aime la géo et le français parce
que c’est marrant, mais je n’aime pas les maths et l’histoire parce
que c’est ennuyeux.
Je me lève tous les jours à sept heures et demie, après, je
prends le petit déjeuner. Je vais à l’école à huit heures. Puis, je
déjeune à la cantine. Je rentre à deux heures à la maison. Après
les devoirs, je range ma chambre et, plus tard, je dîne avec ma
mère et mon frère. Après le dîner, je me couche à onze heures du
soir.
J’ai des loisirs sportifs, mais je préfère jouer au basket.
Inês Fidalgo, nº 9, 7º 1ª
[Supervisão: Dr.ª Inácia Pereira]
Je m’appelle Laura et j’ai douze ans. Je suis portugaise et
j’habite à Lisbonne. Je suis enthousiaste, communicative et im-
pulsive, mais je suis aussi impatiente et agressive.
Dans ma famille, il y a ma mère, mon père, mon frère, ma
grand-mère et aussi mon chien. Ils sont fantastiques.
J’aime le français et l’anglais parce que c’est intéressant et
amusant. Je n’aime pas les maths parce que c’est difficile. Les
cours commencent à 8h10 chaque jour de la semaine. Je me lève
à 7h00, après, je prends le petit déjeuner, je m’habille et je vais à
l’école. Je rentre à 14h10 et je déjeune à 14h30. Avant le dîner, je
regarde la télé et je me couche à 10h30.
J’aime faire du skate, écouter de la musique et marcher avec
ma famille. Je fais un sport que j’admire: l’équitation.
Au revoir, à bientôt.
Laura Marcelino, nº 12, 7º 1ª
[Supervisão: Dr.ª Inácia Pereira]
Bonjour, je m’appelle Lara et j’ai 12 ans.
Je suis très grande. Je suis un peu bavarde, mais sympa-
thique et gentille.
J’habite avec ma mère, mon père et ma sœur. J’adore mon
père, il est très cool et il parle français avec moi.
Dans l’école, j’ai mes amis. Mes matières préférées sont le
français et l’anglais.
Dans mes temps libres,
j’adore parler anglais, danser,
faire du skate et regarder la télé.
Lara Cândido, nº 21, 7º 2ª
[Supervisão: Dr.ª Inácia Pereira]
Salut. Je m’appelle Muhammad Hussnain Majid. J’ai 14 ans.
Je suis grand et mince. J’ai les cheveux courts et noirs et les yeux
marron. Je suis pakistanais, mais j’habite à Lisbonne, au Portugal,
avec ma famille. Je suis un bon élève à l’école. À l’école, j’aime
l’anglais parce que c’est très important, mais je n’aime pas la
physique-chimie parce que c’est très difficile. Mes loisirs sont
jouer au football, écouter de la musique et regarder la télé. Je
suis sympathique, bavard et gentil. Dans ma famille, il y a mon
père, ma mère, mon frère et moi. Je m’entends très bien avec
mon frère. Il s’appelle Moeez. Il a 8 ans. Son anniversaire est le 23
avril. Il est petit et mince. Il a les cheveux courts et noirs et les
yeux marron. Il est bavard et amusant.
Muhammad Majid, nº 9, 7º 3ª [Supervisão: Dr.ª Inácia Pereira]
B A B E L Página 11 B A B E L
J E M E P R É S E N T E
Bonjour, tout le monde !
Je m’appelle Bárbara et j’ai 12 ans. Je suis portugaise et j’ha-
bite à Lisbonne avec mes parents et mon petit frère. Je suis un
peu bavarde, calme et gentille, mais parfois je suis un peu ja-
louse.
Je suis une bonne élève à l’École Gil Vicente. Mon école est
très grande et belle. Elle a une belle vue sur le Tage et le Pan-
théon National où sont enterrées de grandes personnalités portu-
gaises. Le mercredi après-midi, j’ai des cours d’arts plastiques.
J’aime les arts plastiques parce que c’est très cool et j’adore des-
siner, mais je déteste les maths parce que c’est très dur et en-
nuyeux. Le lundi, le mardi matin et le week-end, je n’ai pas cours.
Pour aller à l’école, je me lève tous les jours à 7h00. Je
prends une douche, je prends mon petit déjeuner et je fais mon
lit. Puis, je vais à l’école. J’ai des cours de 8h10 à 17h30. Je rentre
à la maison à 19h00. Je fais mes devoirs et j’étudie. À 20h30, je
dîne avec ma famille. Je me couche à 22h30. Le week-end, je fais
mon lit, je range ma chambre et je fais le déjeuner.
Ma famille est très cool. Ma mère est très sympathique, mais
parfois elle est sévère. Elle m’aide à faire les devoirs et participe
aux tâches ménagères. Elle fait de merveilleux desserts. Mon
père est très cool. Il fait la cuisine et parfois il fait son lit. Mon
petit frère est très sympathique, mais jaloux. Il met la table.
Dans mes temps libres, j’adore écouter de la musique, faire
du ballet, faire des photos, nager et dessiner. Je n’aime pas jouer
au football et faire du skate.
Bárbara Alves, nº 1, 7º 4ª [Supervisão: Dr.ª Inácia Pereira]
Salut!
Je m’appelle Fatou et je suis portugaise. J’ai douze ans et
mon anniversaire est le 9 juillet.
Je suis grande et mince et j’ai les yeux marron et les cheveux
noirs et courts. Je suis amusante, sympathique et bavarde.
J’adore ma famille et, dans ma famille, il y a mon père, ma mère,
ma sœur et moi. J’aime ma petite sœur parce qu’elle est amu-
sante, intelligente et sympathique.
Mon école est grande et bien équipée et les cours commen-
cent à 8h10. J’aime les arts parce que c’est intéressant, mais je
n’aime pas les maths parce que c’est difficile.
Pendant la semaine, je vais à l’école, je fais mes devoirs et je
participe à des discussions. Le lundi et le jeudi, j’étudie la mu-
sique. Le week-end, je me repose et, parfois, je me promène avec
ma famille. J’aime bien lire, écrire et dessiner.
Fatou Fall, nº 6, 7º 4ª
[Supervisão: Dr.ª Inácia Pereira]
Fonte: google.imagens
Bonjour, tout le monde.
Je m’appelle Francisco, j’ai douze ans, mon anniversaire est
le 11 avril. Je suis petit et mince, j’ai les cheveux courts, lisses et
marron, et mes yeux sont verts. Je suis amusant, calme, intelli-
gent et travailleur, mais aussi sérieux.
Ma famille est super grande, mais j’habite avec ma mère,
mon père et mon frère. Mon frère s’appelle Victor, il a sept ans.
Son anniversaire est le 9 décembre. Il est amusant, extroverti et il
est parfois paresseux; il est un bon frère.
Mon école est grande et moderne. Elle a une cantine, un
gymnase, deux cours, une bibliothèque, deux terrains de sport…
mon école est fantastique! Le mercredi, le jeudi et le vendredi, je
me lève à sept heures vingt parce que mes cours commencent à
huit heures dix. J’adore les maths, la géographie et les arts plas-
tiques, mais je n’aime pas l’histoire, pourtant, je suis un bon
élève.
J’adore aller au cinéma, jouer à des jeux vidéo, jouer aux
cartes et faire du vélo, mais je n’aime pas faire du skate. J’adore
ma vie.
Francisco Lucas, nº 8, 7º 4ª [Supervisão: Dr.ª Inácia Pereira]
LA PUB, ÇA ME PLAÎT!
Salomé Gonçalves, nº 21, 8º 4ª
[Supervisão: Dr.ª Inácia Pereira]
B A B E L Página 12 B A B E L
L A P U B , Ç A M E P L A Î T !
Maria Helena Correia, nº 13, 8º 4ª [Supervisão Dr.ª Inácia Pereira]
Rita Moreira, nº 19, 8º 4ª [Supervisão Dr.ª Inácia Pereira]
B L O G D E M O D E Mon style est tranquille. Habituellement je porte des
vêtements confortables. Je n’aime pas porter des vêtements
à la mode, je préfère avoir mon propre style. En été, je porte
des robes, des sandales, des-t-shirts. En hiver, les vêtements
sont plus chauds : les sweats à capuche, les pulls, les panta-
lons, les vestes et des chaussures. Je pense que le plus im-
portant c’est de se sentir bien dans sa peau!
Madalena Pinto, nº 15, 8º 1ª
[Supervisão: Dr.ª Maria da Paz Vieira]
Je n’aime pas la mode. Pour moi, la mode est ridicule, car
on doit avoir la liberté de choisir ses vêtements. Mon style
est très simple et confortable. Je ne me préoccupe jamais
avec les vêtements. En été, je porte un t-shirt, un jean et des
baskets, c’est pratique ! En hiver, je choisis un sweat à ca-
puche, un pantalon et des bottes. Être à la mode, ce n’est
pas pour moi!
Marina Costa, nº 11, 8º 3ª
[Supervisão: Dr.ª Maria da Paz Vieira]
Pour moi, la mode est amusante, parce que nous pou-
vons varier notre propre style. J’aime la mode, mais je suis
décontractée, je n’exagère pas. En été, je porte des shorts,
des tops et des sandales. En hiver, je préfère les jeans, les
leggings avec un sweat ou un anorak. Je chausse toujours
des bottes et, parfois, je mets un bonnet. Je ne suis pas une
fan des robes mais, de temps en temps, je porte une robe.
C’est un peu bizarre!
Daniela Santos, nº 7, 8º 2ª [Supervisão: Dr.ª Maria da Paz Vieira]
Je pense que la mode n’est pas importante. Les vête-
ments de marque sont chers et, parfois, ils ne sont pas de
bonne qualité. J'aime avoir mon propre style, un style dé-
contracté. Habituellement je porte des jeans, un t-shirt, un
gilet et des tennis. J’adore les accessoires ! Je porte souvent
des bracelets, des colliers, des ceintures et une bague. En
été, je choisis les vêtements les plus légers. En hiver, je pré-
fère les pulls, le bonnet, l’écharpe et les bottes. Je me pro-
tège du froid!
Rasmi Ranabhat, nº 16, 8º 3ª [Supervisão: Dr.ª Maria da Paz Vieira]
B A B E L Página 13 B A B E L
V O YA G E D ’ É T U D E - G É O G R A P H I E L e s g r o t t e s d e M i r a d ’ A i r e , l a s o u r c e d e l ’ A l v i e l a , l ’ u s i n e d e R e n o v a
Après le déjeuner, nous sommes partis à l’usine de Reno-
va où nous avons pu voir comment le papier est recyclé et
comment produire toutes sortes de papier qui est utilisé
dans notre hygiène personnelle.
Après nos aventures, nous sommes rentrés dans l’autocar
où nous avons dormi pendant tout le voyage de retour à
Lisbonne.
C’était un voyage d’étude inoubliable!
Vasco Bizarro, nº 22 e Willian Souza, nº 23, 8º 4ª
[Supervisão: Dr.ª Inácia Pereira]
Le 19 mars, à 8:00 du matin, nous sommes partis en auto-
car, en direction des grottes de Mira d’Aire.
Quand nous sommes arrivés, les profs sont allés acheter
les billets pour visiter les grottes. À l’intérieur des grottes,
nous avons pu voir des stalactites, des stalagmites, des co-
lonnes, des galeries souterraines et, bien sûr, les roches.
Ensuite, nous avons vu la source de l’Alviela, certains pe-
tits cours d’eau à faible débit qui traversent quelques plages
et qui s’écoulent vers le Tage.
Après avoir visité les grottes et l’Alviela, nous sommes
partis dans un parc où nous avons déjeuné.
Ensuite, nous avons pu manger ou aller à un magasin de
papier acheter du papier hygiénique et des mouchoirs avec
toutes les couleurs.
Après, nous sommes rentrés à Graça. Pendant le voyage,
nous avons fait beaucoup de bruit, nous avons chanté, par-
lé, joué, cela a été très drôle.
J’ai aimé la visite, parce que… je ne sais pas, c’était une
visite différente, avec toutes les classes, cela a été drôle.
J’ai adoré tout, parce que tout était nouveau, je n’étais ja-
mais allé ni aux grottes, ni à la source de l’Alviela ni à l’usine
de Renova.
C’était une visite inoubliable.
Tatiana Almeida, nº 18 e Pedro Cerqueira, nº 16, 8º 5ª
[Supervisão: Dr.ª Inácia Pereira]
Le 19 mars, nous sommes allés aux Grottes de Mira d’Aire
avec toutes les classes de 8ème, et nous avons eu une visite
guidée. Nous avons vu des roches, des stalagmites et des
stalactites dans les galeries souterraines. Ensuite, nous
sommes allés en autocar à la source de l’Alviela et nous
avons vu un cours d’eau et les berges. Après, notre groupe
est allé aux grottes cachées et nous avons joué.
À l’heure du déjeuner, nous sommes allés au parc et nous
avons déjeuné ensemble, j’ai beaucoup aimé. Notre profes-
seur de Physique-Chimie a donné un chocolat à tout le
monde à la fin.
Après, nous sommes allés à l’usine de Renova et nous
avons vu le recyclage du papier, les bureaux et les machines
en train de travailler. Cela a été très intéressant.
Nous avons fait un voyage d’étude. Nous sommes partis
à huit heures du matin et nous avons voyagé en autocar
avec notre classe et nos professeurs de Géo et de Français.
Nous avons vu les grottes de Mira d’Aire et nous avons fait
une visite guidée dans les galeries souterraines. Nous avons
observé des stalactites et des stalagmites.
L’après-midi, nous sommes allés à la source de l’Alviela et
nous avons pris le déjeuner. Après, nous avons vu une plage
fluviale et une cascade. Nous avons aussi observé le cours
d’eau, l’affluent du Tage.
Ensuite, nous sommes allés à l’usine de Renova. Nous
avons observé le recyclage du papier et la fabrication de
produits divers, comme le papier hygiénique, les serviettes
et les lingettes.
Nous avons aimé la visite parce que nous nous sommes
amusés et nous avons fait des activités. Nous avons préféré
la source de l’Alviela parce qu’elle est très belle et naturelle.
Ana Loreti, nº 1, Neuza Amaral, nº 14 e Rita Moreira, nº 19, 8º 4ª
[Supervisão: Dr.ª Inácia Pereira]
VISITE AU MUSÉE ARPAD SZENES – VIEIRA DA SILVA Cette œuvre d’art était située au centre d’une salle au premier étage du musée Vieira da Silva. Son auteur est An-dy Warhol. Elle est constituée par un groupe de boîtes en bois, peintes à la gouache. Elles ont toutes les mêmes couleurs : le blanc, le bleu, le rouge et un peu de noir. Ces boîtes re-présentent la société de consommation et la culture de masse populaire. L’oeuvre appelle notre attention à cause de son format, sa dimension et sa disposition dans la salle. J’ai adoré cette oeuvre d’art, car elle est vraiment sur-prenante et originale. Elle est un symbole du Pop art, un mouvement artistique des années 50, fortement influencé para la culture américaine.
Ana do Mar, nº 3, 9º 2ª [Supervisão: Dr.ª Maria da Paz Vieira]
B A B E L Página 14 B A B E L
‘Brillo boxes’, Andy Warhol (1964)
Cette œuvre de Vieira da Silva est une peinture à l’huile
qui a des formes geométriques juxtaposées telles que le
rectangle, le carré et le cercle.
Il y a des tonalités de bleu et de gris qui sont, à mon avis,
sombres et tristes. Cette obscurité évoque une certaine
nostalgie.
Au centre, je vois un jouet pour un bébé qui contraste
avec la multiplicité de lignes courbes.
Cette peinture ne m’impressionne pas beaucoup, parce
qu’elle passe une image triste. Pourtant le désir d’être en-
fant est aussi présent et, moi, j’aime ça.
Beatriz Cardoso, nº 6, 9º 2ª
[Supervisão: Dr.ª Maria da Paz Vieira] ‘Composition’, Vieira da Silva (1936)
Voilà le premier tableau que nous avons vu dans notre visite au musée Arpad Szenes-Vieira da Silva ! C’est une peinture de Vieira da Silva. Dans ce tableau, elle a utili-sé l’huile sur toile. Cette peinture
m’a causé une impression à cause de la gestion de l’espace et de l’idée de profondeur. Il y a des groupes de carrés de différentes tailles et de différentes couleurs. Le jeu de formes et de couleurs multiplie les perspectives de l’œuvre d’art. À mon avis, le tableau est une bibliothèque ou une ville vue d’en haut. J’ai aimé cette toile, parce qu’elle est diffé-rente, originale et elle permet différentes interprétations.
Daniel Fonseca, nº 7, 9º 2ª
[Supervisão: Dr.ª Maria da Paz Vieira]
‘Amsterdam’, Vieira da Silva (1955)
Little Aloha est une peinture en acrylique de Roy Lichenstein, un artiste du Pop art, un mouvement artistique des années 50/60.
La peinture nous montre une belle femme avec une fleur blanche sur ses cheveux noirs. Ses lèvres sont rouges. Son regard est très séduisant.
Dans cette peinture, l’artiste a utilisé une technique spé-ciale : il a peint la peau de la femme avec des points très petits pour évoquer l’aspect d’une bande dessinée. C’était une technique à la mode dans cette époque.
À mon avis, Little Aloha est une belle peinture avec des couleurs fortes et attirantes.
Sara Cruz, nº 27, 9º 2ª
[Supervisão: Dr.ª Maria da Paz Vieira]
‘Little Aloha’, Roy Lichenstein (1962)
B A B E L Página 15 B A B E L
VISITE AU MUSÉE ARPAD SZENES – VIEIRA DA SILVA Le 27 février 2015, je suis allée au Musée Arpad Szenes –
- Vieira da Silva avec ma classe et mes professeurs de fran-
çais, portugais et géographie. Quand nous sommes arrivés
au musée, un homme très sympathique nous a montré le
musée et j’ai vu une peinture très belle qui s’appelle sim-
plement "Peinture". J’ai adoré cette œuvre d’art car il y a
des couleurs froides, vives et lumineuses avec des lignes et
des formes simples. Cette peinture est fantastique. J’ai ado-
ré tout dans cette œuvre d’art et j’ai adoré cette visite
d’étude.
Dullier Correia, nº 9, 9º 4ª
[Supervisão: Dr.ª Inácia Pereira]
Arp
ad Szen
es, P
eintu
re
Le 27 février 2015, mes copains, mes profes-
seurs et moi, nous sommes allés au Musée Ar-
pad Szenes – Vieira da Silva. L’exposition que
j’ai vue s’appelait "Sonnabend | Paris – New
York".
Nous avons pris le métro pour aller au mu-
sée. L’espace était grand et bien organisé. Cer-
taines œuvres étaient abstraites. D’autres
avaient beaucoup de couleurs, mais quelques-
unes étaient très simples et claires.
J’ai aimé l’exposition parce que c’était édu-
catif et ce n’était pas ennuyeux. J’ai aimé le plus
les sculptures avec des objets du quotidien.
Nuno Carvalho, nº 16, 9º 4ª [Supervisão: Dr.ª Inácia Pereira]
Le 27 février 2015, je suis allée avec ma classe et mes professeurs de français, portu-gais et géographie au Musée Arpad Szenes – Vieira da Silva. Pour aller au musée, nous sommes allés à Santa Apolónia et nous avons pris le métro, à direction de Rato. Nous sommes allés à un jardin très agréable où nous avons mangé. Pour être hon-nête, je suis habituée à des musées très grands, mais ce musée était petit. Pourtant, l’homme qui nous a montré le musée était très sympathique et il a rendu cette visite très amusante et agréable.
À mon avis, cette visite était merveilleuse et j’ai adoré la sculpture qui représente des marques et qui prouve que les marques ne sont pas tout.
Patrícia Sequeira, nº 18, 9º 4ª [Supervisão: Dr.ª Inácia Pereira]
‘Brillo boxes’, Andy Warhol (1964)
Fonte: google.imagens
Fonte: google.imagens
Fon
te:
goo
gle.
imag
ens
CONCOURS D’ÉCRITURE “À LA MANIÈRE DE…”
Les crayons
Mais à quoi jouent les crayons pendant les récréations ?
Le rouge dessine une souris, le vert un soleil,
Le bleu dessine un radis, le gris une groseille.
Le noir qui n’a pas d’idée fait des gros pâtés.
Voilà les jeux des crayons pendant les récréations.
Corinne Albaut
B A B E L Página 16 B A B E L
1er prix
Mais à quoi jouent les livres pendant les cours?
Les maths parlent français, Le français écrit en anglais,
L’anglais étudie les sciences, Les sciences jouent avec l’histoire,
L’histoire fait de la chimie, La chimie voyage avec la géographie.
Voilà les jeux des livres pendant les cours.
Bárbara Alves, nº 1, Filipa Cortez, nº 7 e Francisco Lucas, nº 8, 7º 4ª
2e prix
Mais que font les cahiers pendant la récré?
Le cahier d’anglais étudie le français, Celui de géographie voyage en Turquie.
Le cahier de musique va à la boutique, Celui de dessin dessine un dauphin.
Le cahier d’histoire garde notre mémoire, Celui de sciences ne fait pas de sens.
Voilà ce que font les cahiers pendant la récré.
João Soares, nº 16 e Laís Borges, nº 17, 7º 1ª
À l a m a n i è r e d e … C o r i n n e A l b a u t
3e prix
Mais à quoi joue le dictionnaire pendant les cours?
Les adjectifs décrivent la neige, Les adverbes dessinent la mer.
Les prépositions écoutent le vent, Les verbes observent les nuages.
Les articles imaginent les étoiles, Les pronoms aiment les noms.
Voilà les jeux du dictionnaire Pendant les cours.
Inês Fidalgo, nº 15 e Laura Marcelino, nº 12, 7º 1ª Corinne Albaut | Fonte: google.imagens
Sept jours sur sept
Sept jours dans la semaine,
pour porter tout ce que j’aime.
Lundi, mon bermuda gris,
mardi, mon pull canari,
mercredi, mon polo fleuri,
jeudi, mon T-shirt kaki,
vendredi, mon jean cramoisi,
samedi, mon jogging bleu nuit,
dimanche, ma casquette blanche.
Chic, des pieds à la tête,
sept jours sur sept!
Corinne Albaut
1er prix
Sept jours dans la semaine.
Pour m’imaginer comme j’aime.
Lundi, millionnaire pour acheter le monde entier,
Mardi, astronaute pour voyager dans la lune,
Mercredi, chanteur pour chanter comme Beyoncé,
Jeudi, agriculteur pour manger mes légumes,
Vendredi, cuisinier pour faire un grand gâteau,
Samedi, invisible pour voir et ne pas être vu,
Dimanche, je suis tout ce que j’aime.
Et voilà mes sept jours sur sept!
Bruna Machado, nº 2, Maria Helena Correia, nº 13 e Rafael Alves, nº 16, 8º 4ª
Corinne Albaut | Fonte: google.imagens
B A B E L Página 17 B A B E L
CONCOURS D’ÉCRITURE “À LA MANIÈRE DE…” À l a m a n i è r e d e … C o r i n n e A l b a u t
2e prix
Sept jours dans la semaine,
pour imaginer tout ce que j’aime.
Lundi, la mer pour nager,
Mardi, la montagne pour monter,
Mercredi, les étoiles pour admirer,
Jeudi, la voile pour voyager,
Vendredi, le parc pour me promener,
Samedi, la lune pour observer,
Dimanche, le lit pour dormir.
Content, de la mer à la montagne,
Pendant toute la semaine.
Inês Tavares, nº 11 e João Carita, nº 12, 8º 1ª
3e prix
Sept jours dans la semaine, Pour manger tout ce que j’aime. Lundi, du jambon avec du melon, Mardi, un gâteau, je ne bois pas d’eau, Mercredi, du poulet et un panaché, Jeudi, des champignons, c’est très bon, Vendredi, du poisson avec du citron, Samedi, du riz car c’est très petit, Dimanche, des raisins, mais je ne bois pas de vin. C’est tout ce que je prends Sept jours sur sept.
Jaskaran Singh, nº 12 e Vasco Ferreira, nº 19, 8º 5ª
Mention honorable
Sept jours dans la semaine Pour manger tout ce que j’aime. Lundi, un croissant et c’est parti, Mardi, de la bolognaise à midi, Mercredi, des fraises à la chantilly, Jeudi, pizza avec Amélie, Vendredi, de la salade et des brocolis, Samedi, cinéma, popcorns et Pepsi, Dimanche, du fromage et du jambon en [tranches. Bien alimentés comme des vedettes, Sept jours sur sept!
Beatriz Carvalho, nº 17, Fábio Évora, nº 18, Tatiana Araújo, nº 31 e Tiago Santos, nº 32
À l a m a n i è r e d e … M a u r i c e C a r ê m e
Ce qui est comique
Savez-vous ce qui est comique?
Une oie qui joue de la musique,
Un pou qui parle du Mexique,
Un bœuf retournant l'as de pique,
Un clown qui n'est pas dans un cirque,
Un âne chantant tout un cantique,
Un loir champion olympique.
Mais ce qui est le plus comique,
C'est d'entendre un petit moustique
Répéter son arithmétique.
Maurice Carême
1er prix
Savez-vous ce qui est magnifique?
Un cygne qui mange une figue
Un moustique qui boit une marguerite
Une oie qui fait de la photographie
Un chat qui fait des tours de magie
Un escargot qui fait du cyclisme
Un violoniste qui n’entend pas de la musique
Un mouton dans un piquenique.
Mais ce qui est le plus magnifique,
C’est de voir une personne honnête dans la politique.
Ana Ferreira, nº 1 e Sara Gomes, nº 23, 10º LH
2e prix
Savez-vous ce qui est détestable? L’hiver qui tue la belle nature, Le racisme qui sépare les personnes, Les catastrophes naturelles qui détruisent, La colère qu’il y a dans les personnes, Les enfants qui souffrent de l’esclavage, Les guerres qui dévastent l’union d’un peuple, Mais ce qui est le plus détestable, C’est quand il n’y a pas d’Internet, Oh! Que c’est pas chouette!
Cátia Magalhães, nº 6 e Jéssica Cordeiro, nº 10, 10º LH
3e prix
Savez-vous ce qui est magnifique? Une famille classique, Avec un père sympathique Et une mère qui fait de la gymnastique. Une fille antipathique, Qui aime les mathématiques, Un garçon dynamique, Qui est aussi romantique, Une tante très chic, Qui travaille dans une boutique. Enfin, une famille pratique, Où l’amour est automatique.
Madalena Estefani, nº 11 e Maria Sousa, nº 13, 9º 5ª
Maurice Carême
Fonte: google.imagens
1
La serviette de cuir
Quand je pars
pour le lycée je
porte toujours ma
serviette. Elle con-
tient les livres et
tous les autres ob-
jets dont je me sers
en classe. J’y mets
aussi mon goûter.
Aussitôt que nous entrons dans la classe nous sortons
nos affaires, en plaçant nos crayons et nos gommes sur les
bancs-pupitres. Le livre et le cahier de français y sont aussi.
Les autres livres sont en dessous.
Après la dernière classe, nous serrons tout cela dans la
serviette et nous retournons gaîment chez nous.
- A demain, monsieur le professeur!
- A demain, mes chers enfants!
LAPA, Rodrigues; REYS, Câmara,Le petit élève de Fran-
çais,Lisbonne, Édition des auteurs
LES 100 ANS DU LYCÉE GIL VICENTE
B A B E L Página 18 B A B E L
L e c t u r e s d ’ h i e r / C r é a t i o n s d ’ a u j o u r d ’ h u i
1
Le sac à dos coloré
Quand je pars pour le lycée, je porte
toujours mon sac à dos coloré. Il con-
tient les livres, les cahiers, les stylos, les
crayons, une calculatrice et tous les
autres objets que j’utilise en classe. J’y
mets aussi mon magazine préféré et
mon portable!
Quand nous entrons dans la salle de
classe, nous mettons nos livres, nos cahiers et notre trousse
sur la table avec un peu de bruit… Parfois, nous y mettons
aussi notre portable, mais les profs ne le permettent pas.
Quand les cours terminent, nous gardons toutes nos
affaires très rapidement dans notre sac à dos et nous sor-
tons de la salle, en courant.
Parfois, nous restons encore dix minutes à la récré pour
parler un peu et pour dire au revoir avant de rentrer à la
maison!
Anna Muninhas, nº 3, Débora Fonseca, nº 10 e Lara Cândido, nº
21, 7º 2ª
[Supervisão: Dr.ª Inácia Pereira]
2
Mes camarades
Notre classe a vingt-cinq élèves. J’aime tous mes cama-
rades et tous mes professeurs. Ceux-ci parfois me grondent
mais je les aime tout de même. Ils sont bons pour moi.
Le premier de la classe, celui qui attrape toujours de bons
points, est Georges. Il les mérite bien; c’est un écolier mo-
deste et intelligent.
Le dernier de notre classe, au dire de messieurs les pro-
fesseurs, est Jules; il n’a jamais obtenu de note au-dessus
de neuf. Il est toujours inquiet et n’est jamais attentif pen-
dant les leçons.
Le plus grand et le plus fort de toute la classe est Pierre.
C’est un robuste garçon de treize ans, aux larges mains de
campagnard. Dans la cour de récréation, il n’abuse pas de
sa force et protège surtout les plus faibles et les plus déli-
cats.
LAPA, Rodrigues; REYS, Câmara, Le petit élève de Fran-
çais,Lisbonne, Édition des auteurs
2
Mes camarades
Notre classe a vingt élèves: six garçons et quatorze filles.
Nous sommes bavards, amusants et très sportifs. Les pro-
fesseurs sont compréhensifs, gentils et tolérants. Ils aident
les élèves quand ceux-ci ont des difficultés.
Dans notre classe, il y a beaucoup d’élèves étrangers, de
différentes nationalités: dix népalais, une chinoise et deux
africains. Nous sommes tous amis et nous nous entendons
bien, mais la communication est parfois difficile entre les
élèves portugais et les étrangers.
Les élèves étrangers ont des problèmes avec la langue
portugaise, alors ils n’ont pas les meilleures notes. Comme
ils apprennent le portugais cinq fois par semaine, ils vont
réussir. Les élèves portugais les aident à mieux comprendre
les matières.
Le plus amusant de la classe est Rodrigo. Il est portugais,
mais il essaie de parler népalais avec les élèves de cette
nationalité. Quand il fait ça, c’est vraiment comique!
Dejina Gurung, nº 5 e Rasmi Ranabhat, nº 16, 8º 3ª
[Supervisão: Dr.ª Maria da Paz Vieira]
B A B E L Página 19 B A B E L
3
Ce que l’on fait en classe Quand les élèves entrent dans la salle de classe ils sou-haitent le bonjour à leur maître. Celui-ci se tient debout, près de la table. Après que tous les élèves sont entrés, le professeur leur fait signe de s’asseoir, en disant: - Asseyez-vous, mes enfants. La leçon commence. Les élèves sont attentifs, car mon-sieur le professeur n’aime pas les garçons distraits. On fait d’abord la lecture; puis le professeur interroge les élèves; le plus souvent on fait aussi des devoirs sur le ta-bleau noir ou sur les cahiers. Ceux qui vont au tableau noir se servent d’un bâton de craie pour y écrire et d’un torchon ou d’une éponge pour effacer. Ils tiennent la craie de leur main droite, le torchon de leur main gauche. Le professeur corrige l’un après l’autre les devoirs de ses élèves.
LAPA, Rodrigues; REYS, Câmara, Le petit élève de Fran-çais,Lisbonne, Édition des auteurs
LES 100 ANS DU LYCÉE GIL VICENTE L e c t u r e s d ’ h i e r / C r é a t i o n s d ’ a u j o u r d ’ h u i
3
Ce que l’on fait en classe Quand les élèves entrent dans la salle de classe la plu-part souhaitent le bonjour à leur professeur. Celui-ci com-mence à préparer le matériel, parfois l’ordinateur et le pro-jecteur. Il écrit le sommaire pendant que les élèves entrent en discutant sur ce qui s’est passé à la récréation. Entretemps, le professeur leur répète trois ou quatre fois de s’asseoir et de se taire et il essaie de commencer la le-çon. Elle commence finalement. Certains élèves sont atten-tifs, d’autres bavards… Et d’autres, dans la lune!... Parfois, le professeur ne fait pas attention et il essaie de continuer… On fait la lecture, des exercices, et les élèves peuvent parti-ciper s’ils le veulent. On corrige aussi les devoirs sur le ta-bleau blanc (ou gris?). Ceux qui vont au tableau gris se servent d’un feutre pour y écrire et d’une brosse (ou des mains!!) pour effacer. Ils tiennent le feutre de leur main droite ou gauche, et pour effacer ils utilisent la brosse qui n’efface pas et qui joue à cache-cache avec eux. Enfin, ils écoutent la sonnerie et ils courent!
Maria Ferreira, nº 11 e Melissa Silva, nº 13, 9º 4ª [Supervisão: Dr.ª Inácia Pereira]
(Projeto J’kiffe le français!)
4
Le bon écolier
L’an passé, cela va sans dire, J’étais petit; mais à présent Que je sais compter, lire, écrire, C’est bien certain que je suis grand. Maintenant je vais à l’école; J’apprends chaque jour ma leçon; Le sac qui pend à mon épaule Dit que je suis un grand garçon. Quand le maître parle, j’écoute, Et je retiens ce qu’il me dit ; Il est content de moi sans doute, Car je vois bien qu’il me sourit. CAUMONT
LAPA, Rodrigues; REYS, Câmara, Le petit élève de Fran-çais,Lisbonne, Édition des auteurs
4
Le bon écolier L’an passé, cela va sans dire, J’étais vraiment intelligent; Mais à présent, je suis distrait, Je comprends pas ce que je lis, C’est bien certain, j’suis super cool. Maintenant que je sèche les cours, La leçon? Je ne la sais pas! Le sac qui pend à mon épaule, Ça n’existe pas! On dit que je suis le garçon Le plus populaire de l’école. Quand le prof parle, je parle aussi, Quand il est distrait, je m’amuse. Quand il sèche le cours, c’est magique, J’suis super content, c’est parfait!
Dullier Correia, nº 9, Marizette Ribeiro, nº 12
e Nadilene Rocha, nº 15, 9º 4ª
[Supervisão: Dr.ª Inácia Pereira]
(Projeto J’kiffe le français!)
LES 100 ANS DU LYCÉE GIL VICENTE T a b l e a u x p o u r l ’ a p p r e n t i s s a g e d e s l a n g u e s – C r é a t i o n s d ’ a u j o u r d ’ h u i
B A B E L Página 20 B A B E L
Au bord de la mer Tableaux pour l’apprentissage des langues
Núcleo Museológico - Escola Gil Vicente
L’été dernier, je suis allée avec deux amies à Biarritz, au sud-ouest de la
France. Nous avons voyagé en avion pendant deux heures. Nous sommes res-
tées une semaine dans un camping.
Nous avons visité des monuments: une église et des grottes avec des sculp-
tures en pierre. Nous nous sommes promenées au bord de la mer et dans un
parc naturel. Nous avons pris un bateau, nous avons nagé et nous avons pêché
un grand poisson. Ce jour-là, notre dîner a été délicieux: nous avons mangé du
poisson grillé! Tous les jours, vers six heures de l’après-midi, nous allions aussi
au café.
Ce voyage a été très amusant et nous avons connu une ville très belle!
Dejina Gurung, nº 5 e Rasmi Ranabhat, nº 16, 8º 3ª [Supervisão: Dr.ª Maria da Paz Vieira]
(Projeto J’kiffe le français!)
À la campagne
Tableaux pour l’apprentissage des langues Núcleo Museológico - Escola Gil Vicente
JEU - Observe l’illustration et corrige les six erreurs du texte.
C’est samedi après-midi. À la campagne, il fait beau et tout le monde profite du plein air. Trois hommes travaillent, ils coupent le bois. Mais les autres se reposent ou jouent. Six enfants s’amusent à faire une ronde, mais deux garçons tombent par terre. D’autres enfants jouent aux gendarmes et aux voleurs. Ils portent des arcs et des flèches, un tambour, un fusil et une épée. Devant la maison, un garçon joue à la toupie et, à droite, deux hommes boivent du vin. Tout près, une femme prend des photos et deux garçons parlent sur le pont. Au fond, à gauche, un garçon grimpe sur un mur et une fille se balance sur une balançoire. On voit aussi une femme qui cueille des pommes et un homme qui creuse la terre. Au dernier plan, bien au fond, il y a un château et une tente de camping.
Solutions: 1. un garçon tombe par terre / 2. D’autres enfants jouent aux cowboys et aux indiens / 3. deux hommes boivent de la bière / 4. un garçon grimpe à un arbre / 5. une femme qui balaye le sol / 6. un château et un moulin
Dullier Correia, nº 9, Maria Ferreira, nº 11, Marizette Ribeiro, nº 12, Melissa Silva, nº 13 e Nadilene Rocha, nº 15, 9º 4ª
[Supervisão: Dr.ª Inácia Pereira] (Projeto J’kiffe le français!)
GIL VICENTE - MY FIRST MEMORIES / MES PREMIÈRES MÉMOIRES “On my first day at school I got lost because I didn’t know where the classroom was. When I entered the classroom I felt very embarrassed because I didn’t know anyone. But soon I started making new friends.”
Carolina Anacleto, nº 5, 10º LH
“The teachers are the only memories that I have. Some teachers stay in our mind or in our hearts, others don’t. Some are always ready to teach us even if they have had a bad day. Today I regret some mistakes that I made in the past. However, we can learn from our own mistakes and turn them into a lesson. That is what I’m trying to do!”
Jessica Cordeiro, nº 10, 10º LH [Supervisão: Dr.ª Teresa Neto]
“Je me rappelle d’un lycée en changement et d’assister aux classes dans des conteneurs. J’ai vu un lycée rempli d’histoires, mais un lycée en transformation pour conti-nuer cette histoire séculaire.”
Marta Alves, nº 18, 10º LH “Avant de venir au lycée, j’étais très enthousiaste et je voudrais commencer l’école le plus rapidement possible. Pour moi, l’école était énorme, et moi, j’étais très petite. Je me rappelle que le premier jour, j’ai joué au cache-cache avec mes amis. Nous nous sentions vraiment heu-reux.”
Raquel Silva, nº 21, 10º LH [Supervisão: Dr.ª Maria da Paz Vieira]
B A B E L Página 21 B A B E L
GIL VICENTE - MY FIRST MEMORIES / MES PREMIÈRES MÉMOIRES “I remember when I started being part of the school’s orchestra. Despite my great love for mu-sic, the rehearsals were two hours long, just at the end of the day and a bit boring for a ten-year old me . However, all the hard-working hours of prac-tise paid off: it became a big part of my life!”
Sara Gomes, nº 23, 10º LH
“Quand je suis entré, tout était nouveau pour moi. Le lycée était très différent de l’école primaire, il était grand, plus excitant, il y avait une autre dyna-mique. J’ai eu la perception que c’était le début d’une nouvelle étape. Le lycée était en reconstruc-tion, tout était en désordre, il y avait une grande agitation. Mais, moi, je me sentais enthousiasmé.”
Rodrigo Carvalho, nº 22, 10º LH [Supervisão: Dr.ª Maria da Paz Vieira]
GIL VICENTE - MY SCHOOL ROUTINE / MON QUOTIDIEN SCOLAIRE MY SCHOOL ROUTINE
“A school routine that provides you a good learn-ing environment, which allows the students to feel free to learn, to feel safe and to be themselves!”
Andreia Silva, nº 3, 10º LH
“A school which includes all the students and can
deal with all the differences among us every day.
At school we have a lot of Asian kids and many of
them don’t eat meat. In the canteen when they
ask just salad, a few lettuce leaves are put on their
plates… A vegetarian menu would be important
because of the variety of cultures. I think it would
help students from other countries to be integrat-
ed in our routines.”
Ana Ferreira, nº 1, 10º LH
“Teaching the students how to learn, stimulating our natural curiosity and creating the love for knowledge inside every one of us”.
Sara Gomes, nº 23, 10º LH [Supervisão: Dr.ª Teresa Neto]
MON QUOTIDIEN SCOLAIRE
“Mon quotidien scolaire n’est pas très désa-gréable. Habituellement je suis avec mes amis et je joue au basket ou au volley avec eux dans nos terrains de sport. Le pire c’est que j’ai beaucoup de contrôles et ça me fatigue. Quand j’ai des de-voirs à faire, je vais à la bibliothèque.”
João Simões, nº 12, 10º LH
“Le quotidien scolaire n’a pas beaucoup changé de-puis que je suis entré au lycée. Je connais les per-sonnes et les espaces, tout devient plus facile. L’école a une bonne ambiance et je pense que tous les élèves, même les étrangers, se sentent bien inté-grés.”
Rodrigo Carvalho, nº 22, 10º LH
“Mon quotidien me provoque la saturation. C’est une routine fatigante ! L’ambiance scolaire est tou-jours la même, calme et animée. Parfois il y a des disputes, mais après on s’entend.”
Carolina Anacleto, nº 5, 10º LH [Supervisão: Dr.ª Maria da Paz Vieira]
GIL VICENTE - MY SCHOOL IN THE FUTURE / MON LYCÉE DANS L’AVENIR “I imagine my school with lots of new technolo-gies like robots and holograms. There will be new subjects and many extra-curricular activities that we can choose. I also imagine simple things like new ways of teaching and a safer school.”
Andreia Silva, nº 3, 10º LH
“I imagine my school with better conditions, better facilities, more technology, more extra -curricular activities and more space for the stu-dents. The people will be funnier. In the future my school will be the school of dreams of the student in the present.”
Marta Alves, nº 18, 10º LH [Supervisão: Dr.ª Teresa Neto]
“Dans le futur, mon lycée aura des installations plus modernes. J'espère que la technologie soit très pré-sente à l'école: qui sait si les classes ne seront pas données par des robots? Je ne sais pas quoi dire, car il est étrange de penser comment sera le monde de nos petits-enfants quand nous sommes encore jeunes.”
Sara Gomes, nº 23, 10º LH “Pour moi, la technologie commandera tout. L’ambiance au lycée sera bien plus moderne. Il y aura, par exemple, des escaliers roulants pour que ce soit plus facile et rapide de monter et de des-cendre. Il y aura aussi des agents de police pour pro-téger les élèves. Mais l’enseignement sera toujours le même...”
Jessica Cordeiro, nº 10, 10º LH [Supervisão: Dr.ª Maria da Paz Vieira]
B A B E L Página 22 B A B E L
GIL VICENTE - MY SCHOOL IN THE FUTURE / MON LYCÉE DANS L’AVENIR “In the future I imagine a better school which will
play a very important role in the community. It
will continue to teach the same values that teach-
es today: freedom, equality, respect for human
Rodrigo Carvalho, nº 22, 10º LH
[Supervisão: Dr.ª Teresa Neto]
“Dans le futur, j’espère que ce lycée continue à
fonctionner avec de bons professeurs et des surveil-
lantes gentilles. Car je veux y revenir et affirmer,
avec fierté, que j’ai fréquenté ce lycée.”
Raquel Silva, nº 21, 10º LH
[Supervisão: Dr.ª Maria da Paz Vieira]
GIL VICENTE - THE STUDENTS – WHO WE ARE
te diferentes? As escolas são muito aquilo que os alunos
são, isto no fundo é um microcosmos particular, não é igual
à escola aqui mais próxima, esta escola tem condições mui-
to particulares que advêm da população que ela serve.
Há quanto tempo é diretor desta escola?
Desde 2008, mas estas coisas não se devem perpetuar, a
perpetuação das coisas muitas vezes perpetua os nossos
defeitos e as nossas virtudes, a perpetuação não é uma boa
estratégia, devem haver renovações, novas ideias.
Quais são os maiores desafios desta escola, além das bar-
reiras culturais?
Desafios temos vários. Para já temos os desafios desta di-
versidade imensa de alunos e só isso é um desafio enorme.
Depois há assim coisas mais concretas, como por exemplo
no primeiro ciclo não haver as instalações e tecnologias que
a nossa escola tem, com os alunos estrangeiros é complica-
do pois temos poucas ferramentas para aplicar e os alunos
com necessidades especiais são uma população que ainda
tem um peso grande. A ausência de funcionários também é
um dos grandes problemas que enfrentamos, o que depois
também afeta o funcionamento normal da instalação esco-
lar. Serão sempre aqueles eternos desafios, mas que na
verdade temos que fazer todos os possíveis para os ultra-
passarmos.
Ana Patrícia Fernandes, nº 1 e Sara Gomes, nº 23, 10º LH
[Supervisão: Dr.ª Teresa Neto]
O que é que gosta mais nesta escola?
O que é que eu gosto mais? Dos alunos.
Como se costuma dizer os alunos são a base de uma esco-
la.
São a base e a essência da existência da escola, ela existe
pois existem jovens que têm um projecto e que querem dar
asas a esse projecto. É por isso que existe a escola: para
além da questão mais complexa, tem a ver com a organiza-
ção das pessoas em países que se impõem, digamos, às
camadas mais jovens, uma coisa que a gente designa como
ponto de formação. O homem desde que passou, enfim, da
antiguidade para agora, vive em sociedade, e a sociedade
coloca-nos vários desafios e um deles é a da formação, ins-
trução e de educação. Não se aprende só na escola. A esco-
la fundamentalmente deve dar ferramentas aos jovens
para que depois eles possam com elas fazer o seu percurso,
descobrirem coisas que se calhar nunca lhes tinham passa-
do pela cabeça, aprender, isto é, enriquecer o seu conheci-
mento e desenvolver competências. Um dos grandes pa-
péis da escola passa muito pelas aquisições da formação
social, da socialização das pessoas, pois nós temos que
aprender a viver em sociedade. Ora, numa escola com, ima-
ginem, 1100 alunos, há 1100 pessoas diferentes. A varieda-
de é sempre enriquecedora: imaginem que vocês tinham
todos os mesmos interesses, as mesmas características, no
ponto de vista da formação não era enriquecedor. E depois
aparece isto dos professores, não é? O que é que fazem os
professores? Os professores são mais do que pessoas que
vão “acordar” os próprios alunos dos seus interesses, as
suas próprias capacidades, orientá-los, dar-lhes algumas
ferramentas, alguns saberes. Tudo se desenvolve aqui.
Quantas das vezes milhares de jovens entram aqui com
uma expectativa, aqui são abanados de várias maneiras e
depois quando saem daqui já querem coisas completamen-
E n t r e v i s t a a o D r . J o ã o C o r t e s , D i r e t o r d o A g r u p a m e n t o d e E s c o l a s G i l V i c e n t e
No âmbito das comemorações do centenário da Escola Gil Vicente, o Diretor do Agrupamento concedeu, amavelmente,
uma entrevista às alunas Ana Patrícia Ferreira e Sara Gomes da turma LH do 10º ano.
B A B E L Página 23 B A B E L
GIL VICENTE - THE STUDENTS - WHO WE ARE T h I s I s o u r c l a s s
Chemistry or Mathematics: they belong to the Science
course. Our classes compete a lot: will the “C (Science) vs.
LH (Humanities)” ever end?
Here we are! This is our class!
Class 10º LH
[Supervisão: Dr.ª Teresa Neto]
We are Portuguese students from a Languages and Hu-
manities course, tenth grade. We are twenty five: seven-
teen girls and eight boys. Some of us come from different
countries, like India, Brazil, Cap Vert and Guinea-Bissau.
Five different continents in our classroom: Europe, Africa
America and Asia. We are aged between fifteen and seven-
teen years old. We even have a set of twins in our class!
We’re all unique in our way: quiet and loud, tall and
short, pale- skinned and dark-skinned, blue-eyed and
brown-eyed, freckled, with braces, straight or afro-haired.
But there’s one thing in common: we all dream. One of us
wants to be a most famous DJ in the world, others want to
become cellists or writers, and there’s even a girl who
wants to be a housewife when she grows up.
We study English, French, History, Geography, Philoso-
phy and Physical Education. We don’t have subjects like
We are Portuguese students, aged between 16 and 18 .
Our school is named Gil Vicente (after the great Portu-
guese playwright). We attend a Science course, 11th grade.
We have to study Math, Biology, Geology, Chemistry, Phys-
ics, English, Portuguese and Philosophy.
We are twenty-eight students, five of us came from Ne-
pal and India. They can’t speak Portuguese yet but they are
learning! They must be very determined.
We are a fun and smart group of students. However, we
differ quite a lot! Some prefer math, others would rather
spend the day questioning the sense of life or…the latest
video games!
Class 11º C
[Supervisão: Dr.ª Teresa Neto]
B A B E L Página 24 B A B E L
GIL VICENTE - THE STUDENTS - WHO WE ARE T h I s I s o u r c l a s s
sonalities, some of us are very quiet and some are very talk-
ative, some are shy and others are very extroverted, basi-
cally we’re all very different. We are also a multicultural
class, some of us are from different countries like Mozam-
bique, Brazil, India and Russia.
Class 11º LH [Supervisão: Dr.ª Teresa Neto]
We are a 11grade class, 23 students, only 7 boys and 16
girls between 16 and 18 years old. Languages and Humani-
ties is our course and we have 7 subjects: Portuguese, Eng-
lish, Geography, History, Math, Philosophy and Physical
Education.
We get along pretty well although we have different per-
WHAT MAKES A GOOD SCHOOL? I never teach my students. I only attempt to provide the conditions in which they can learn | Albert Einstein
A good school gives you a good learning environment. What I want to say is that a school, to be good, needs to allow students to feel free to learn and to be themselves. A good school is a place where we feel safe and secure.
Andreia Silva, nº 3, 10º LH
A good school is an organized school, which is concerned with its community. It should have a good library, good sports facilities and good equipment. A good school pro-motes human rights values.
Rodrigo Carvalho, nº 22, 10º LH
A good school is a school free of racism or religious dis-crimination and where the students have pleasure in learn-ing. A good school has teachers that make the students love what they teach and take pleasure in learning.
Jessica Cordeiro, nº 10, 10º LH
[Supervisão: Dr.ª Teresa Neto]
A good school has music during the breaks, offers extra-curricular activities. In a good school the student associa-tion keeps their promises.
Marta Alves, nº 18, 10º LH
A good school should have a good staff, new technolo-gies, music during the breaks and these should be longer…
Lara Costa, nº 15, 10º LH
A good school must teach the students how to learn. It must stimulate our natural curiosity and create the love for knowledge inside everyone of us. A good school must have enough staff and modern technologies. It must teach im-portant values: equality, knowledge and help students achieve success.
Sara Gomes, nº 23, 10º LH
[Supervisão: Dr.ª Teresa Neto]
B A B E L Página 25 B A B E L
WHAT MAKES A GOOD SCHOOL? I never teach my students. I only attempt to provide the conditions in which they can learn | Albert Einstein
People are the most important. Students, teachers, as-sistants, all the staff are what makes a good school. The relationships between the members are very important. A smile is very important.
André Santos, nº 5, 11º C [Supervisão: Dr.ª Teresa Neto]
A good school provides a good integration in the world of work and stimulates our creativity and imagination. In a good school the students feel happy and they are not ashamed of their mistakes.
Vasth Graça, nº 20, 10º VAS [Supervisão: Dr.ª Teresa Neto]
TO BE IGNORANT OF THE PAST IS TO REMAIN A CHILD The National Public English Speaking Competition, held at the British Council in Lisbon, is an event that enables talented
young people to meet, demonstrate their command of English and learn more about other cultures. This year, the topic was: To be ignorant of the past is to remain a child. Contestants had to deliver a 5 minute prepared
speech. Two students from Escola Gil Vicente participated in this competition.
knowledge lingers on passing through generations, and it
grows more consistent, more refined with every man. Yes,
humanity is old, white-bearded, and wise.
As I’ve said, to be ignorant of the past is to remain a child.
To be ignorant of the others such as us, that came before us
is to remain a child. I assure you that we would do the same
mistakes, only to fall in the same holes as they did, not going
further into this adventure we all long for.
Neo Darwinism taught me one important thing; we
matter not as one, but as a whole. We, whether you like it
or not, are just hollow recipients made to carry this strange
gift of life that was passed on, from generation to genera-
tion, for eras on end. This is important, this gave me a pur-
pose! I want to learn as swiftly as I breathe, gather all the
knowledge I can possibly keep in my mind, to carry a part of
the human legacy, to have a part of all the human history on
my shoulders as you all do.
Children do not know their obligations, and that is ok,
because they will learn them. In this very same way, a per-
son that does not understand the minds and feelings and
discoveries of those who came before him, is destined to
remain nothing but a child, because he will never rise up to
the challenge before him. What challenge? To carry on that
knowledge, add something, anything to it, and pass it on…
I’m sixteen years old. I can only dream about the discov-
eries and sapience that lies ahead along my path, but I can
sleep safe and sound at night knowing that I know enough
history; I know enough lives lived to understand and cherish
our collective future.
José Gustavo Duarte Ferreira, nº 13, 11º C
[Supervisão: Dr.ª Teresa Neto]
Here is the speech delivered by José Gustavo Duarte Fer-
reira.
The Unity that Comes from Knowledge
To be ignorant of the past is to remain a child. To be igno-
rant of the others like us, that came before us is to remain a
child, for we will do the same mistakes, only to fall in the
same holes as they did, not going further into this adventure
we all longed for.
I do not want to say, think of all those uninspiring, mo-
notonous ideas that people often say about knowledge. My
knowledge, is nothing but a mere sparkle of stardust, on a
vivid planet that orbits endlessly around a fire coated sphere
in this immense galaxy. I can only see as far as where the
horizon is, I can only express myself with the small amount
of words I know, judge within the limits of my ideals. What
would a tinny, ever wandering sparkle of stardust make of
the immense universe around it? It would do nothing but to
imagine other sparkles floating in the vast darkness we all
reside in. I know nothing of this world, and I gasp for air eve-
ry time I understand how fantastic it is.
We humans are really amazing! Think about this: the un-
ending diversity of creatures that exist in this world is aston-
ishing. Reptiles, fish and birds, all dwell in these Great
Plains, deep oceans, and calm blue skies. There are millions
of species, some as small as ants, some as giant as whales,
and despite all this, we humans came to be, we managed to
rule the lands with an iron fist, paving roads, building sky
scrapers. Why? Lions are faster than us. Wolf fangs are
sharper than any of our gazes, and still we endure, because
we’ve grown, because we are intelligent, because our
B A B E L Página 26 B A B E L
TO BE IGNORANT OF THE PAST IS TO REMAIN A CHILD The National Public English Speaking Competition, held at the British Council in Lisbon, is an event that enables talented
young people to meet, demonstrate their command of English and learn more about other cultures. This year, the topic was: To be ignorant of the past is to remain a child. Contestants had to deliver a 5 minute prepared
speech. Two students from Escola Gil Vicente participated in this competition.
in pointless conflicts, and keep drawing blood, while ignorant of its consequences and of what it did in the past. Will this always be a part of our history, or will we recognize our igno-rance and stop it? Since our country was mentioned, it would be good to use it as a clear example of the human ignorance. In the beginning of the twentieth century, we got rid of the monar-chy, because our society was in shambles. We decided that Portugal would be a republic. Our country remained a mess, due to inefficiency of our presidents. During almost fifty years, we lived under a dictatorship. It didn’t solve anything, it just made everything worse. Now, in the twenty-first cen-tury, we should ask: are we any better? In a way, yes, but it seems we haven’t learnt anything from the past. Instead of getting better, our country seems to be on the bottom of a pit. There are many other examples in which we can testify the ignorance of our ways. We ignore the past, because we think it won’t happen again. But is this correct? It isn’t. Looking away from the past just means making the same mistakes, again and again. How can we grow up if we don’t recognize our errors? In conclusion, if we are ignorant of the past, we are doomed to commit the same mistakes that once broke our society into pieces. And by doing that, we’ll never learn how to solve the problems of our world.
Miguel Graça, nº 20, 10º C
[Supervisão: Dr.ª Isabel Sequeira]
Here is the speech delivered by Miguel Graça.
The Ignorance of Our Ways What is ignorance? Sophocles said once that “ignorance is generally the sister of evil”. What he meant with this is that being ignorant is the door from which our wicked ways prevail. He lived in the fifth century before Christ; yet, today, in 2015, in the twenty-first century, it’s as true as it was when he lived. As humans, we are volatile, self-destructive beings, who already made too many mistakes in the past. Those errors deeply influenced our society. We can find many examples of this in our history. The first one is deep within the economic world, the sphere that makes our world move. In 1929, this pillar of society suffered a blow with the Great Depression. People’s greed for money, for investments in the stock market, led to their own collapse. The creation of new laws for the control of the economy solved the problem. Yet, the next generation, that did not live to see the misery caused by the Great De-pression, craved for power. They revoked the same laws that once saved the economic world. There’s a phrase in the Jewish texts that says “the insatiable greed is one of the sad events that rush to the self-destruction of man.” That same greed led again to a crash in stock market, in 2008, due to the ignorance of the new generations. The second example is tied to the social and political world. In the last century, we fought in two world wars, and that radically changed our society. We vowed to never com-mit the same horrors, to keep the peace among people. There goes the famous saying: “Make love, not war”. How-ever, we are in 2015, and this motto seems to have pro-duced no results. Since the Second World War, we had the Cold War – that could have put us back in a state of chaos – the Portuguese Colonial War, the war in Vietnam, and in more recent days, the war in Ukraine. People keep fighting
My name is Vasth Graça, I´m 18 years old and live in Lisbon.
I am involved in the project Aproximar. I started when I was sixteen. We work with children in
need.
The aim of our project is to make children aware of the importance of values that we are losing
nowadays:
friendship, collaboration, sharing and humbleness. We play games, we talk and listen to the chil-
dren.
I believe we make a difference in these children’s lives.
Vasth Graça , nº 20, 10º VAS | [Supervisão: Dr.ª Teresa Neto]
M E E T A Y O U N G V O L U N T E E R
WE CARE ABOUT HUMAN RIGHTS - 10º VAS
B A B E L Página 27 B A B E L
[Supervisão: Dr.ª Teresa Neto]
B A B E L Página 28 B A B E L
PROVERBS AND SAYINGS - 10º VAS STOP DOMESTIC VIOLENCE
LET’S CHANGE MENTALITIES
Quanto mais me bates mais gosto de ti The more you hit me, the more I love you love
http://www.freewoodpost.com/2012/03/12/santorum-reaches-out-to-women-
with-know-your-place-campaign/
Entre marido e mulher não metas a co-lher
Never get between a man and his wife
There is always a way out
Mais vale só do que mal acompanhado
It is better to be alone than in bad
Longe de vista longe do coração
Out of sight, out of mind
[Supervisão: Dr.ª Teresa Neto]
A V I S I T T O O U R S C H O O L tures, make new friends and, of course, get a good oppor-
tunity to use the English language.
In the morning, at 9.00, our head teacher welcomed thir-
ty-eight Dutch students and three teachers with a warm
speech in José Saramago library, the old one which con-
tains a valuable book collection.
On the 14April 2015, Titus Brandsma lyceum, a school
from Oss, the Netherlands, visited Escola Gil Vicente. We
got in contact through the eTwinning project European
Schools in a Global World. As our school is celebrating its
100thanniversary,the aim of the project is to present our
school, share its history, learn about other schools in Eu-
rope, differences and similarities, learn about other cul-
B A B E L Página 29 B A B E L
A V I S I T T O O U R S C H O O L try and they showed us a video about their school. The
Dutch students sang a popular song!
At 12.30 we had lunch in the school canteen. On that day
the food tasted better than usual. After lunch, the Portu-
guese teachers offered some gifts to the Dutch students
and teachers.
At 2.30p.m.we started our walk through the historic
neighbourhoods. We visited Graça and Alfama, Castelo and
Mouraria (we have strong bonds with our neighbour-
hoods); we ended our visit at Praça do Comércio, Lisbon
downtown. We talked about our culture, Fado, the popular
parades (Marchas Populares) and our history. We walked
through medieval lanes, alleys and from different view-
points we admired the magnificent view of the city. When
we said goodbye, we promised to keep in contact. The
Dutch students and teachers told us how much they had
enjoyed the visit. It was possible thanks to the collaboration
of everyone! We felt proud of our school, our city and our
cultural identity.
In the end, all of us were tired but very happy. Every-
body had collaborated; we shared our culture, learned bout
new things and, the most important, we have made new
friends!
10º LH - Group work
[Supervisão: Dr.ª Teresa Neto]
The Dutch teacher thanked and offered a gift to our
school. Then we started our visit. The teachers involved in
the project and six students representing their classes guid-
ed the Dutch group.
First we went to the laboratories. In the Biology lab, we
watched the students doing an experiment. Then we
showed the sports facilities. After that, we visited the li-
brary/resource centre and we saw the exhibition about the
school´s patron, Gil Vicente, the most important Portu-
guese playwright, his works and epoch. The teacher who is
in charge of the library guided us and gave us all the infor-
mation we needed. After a short break, we went to visit
the museum centre where we could see antique scientific
instruments, maps and other objects. The teacher in charge
of the museum guided us; the same happened to the exhi-
bition about the history of our school along the corridor on
3rd floor.
The Portuguese students from classes 10LH, 11C,LH,GI
and the Dutch students joined together in the amphithea-
tre to get to know each other better, exchange experiences
and learn more about each other’s culture and life. We
asked questions about common stereotypes associated
with the Dutch. It was great fun! We showed them a Pow-
erPoint presentation made by the students about our coun-
Visiting the library
In the Biology lab
The Dutch and the Portuguese students
A short break after lunch
A magnificent view from Portas do Sol viewpoint: This is our city!
B A B E L Página 30 B A B E L
CONCURSO L ITERÁRIO
FAZEDORES DE HISTÓRIAS T E X T O V E N C E D O R | E S C A L Ã O A - M O D A L I D A D E 2
ções com os outros, que de outra maneira talvez ficassem para
sempre estranhos e desconhecidos.
Mais calmo, Bernardo e os seus companheiros começaram o
ensaio daquela tarde. Ensaiaram, então, o “Auto da Feira” de Gil
Vicente, uma crítica à sociedade renascentista, aos seus valores
mercantilistas e consumistas, o palco onde tudo se podia trocar,
até o bem, a paz e a verdade. Coincidência ou a realidade do pre-
sente?
– “Muitos... presumem saber
as operações dos ...céus,
e ...que morte hão de ...morrer,
e o que há de aconte....cer aos anjos e a Deus.”
Declamou Bernardo, ainda nervoso e a gaguejar, no papel de
Deus do Comércio, Mercúrio.
– Um chá de camomila fazia-te bem – sugeriu finalmente Fran-
cisco – Para acabar de vez com esse nervosismo.
E assim foi. Bernardo acabou por vestir a “máscara”. À noite,
continuava nervoso, era certo, mas tinha ganhado coragem e en-
trou no palco a sentir-se confiante:
– Olá a todos! – disse — Eu sou o Bernardo e eu e os meus
companheiros vamos apresentar o “Auto da Feira” de Gil Vicente.
Deu-se início ao espetáculo:
– “Muitos presumem saber
as operações dos céus,
e que morte hão de morrer,
e o que há de acontecer aos anjos e a Deus.”
Bernardo parecia feliz. Ou, pelo menos, um dos seus “eus” esta-
va certamente feliz - a peça que estreara tinha corrido bem.
Na manhã seguinte, ao ler o jornal “A Gazeta da Cidade” como
sempre fazia, ficou empolgado com a notícia de primeira página.
Lia-se:
“Melhor êxito de bilheteira, melhor espetáculo de 2015: “Auto
da Feira” de Gil Vicente interpretado por Bernardo... ”.
Estava em choque, quase que desmaiava: o contentamento e a
vaidade que sentia eram imensos. Saiu sem escovar os dentes,
tinha muita pressa para encontrar os amigos.
– Leram o jornal? – perguntou-lhes eufórico – Estamos na pri-
meira página!
– Sim, sim. Mas agora de volta ao palco, temos ensaio à nossa
espera. É que as “máscaras”, para serem eficazes, dão muito traba-
lho – avisou Pedro, sempre naquele seu estilo terra-a-terra.
Todos desataram a rir, bem dispostos e orgulhosos do sucesso.
– Vamos lá! – disse Bernardo. É que ele bem sabia o trabalho
que tinha pela frente. Sabia que não podia ficar nervoso a cada
novo papel. Que podia contar enfim com as suas “máscaras”, com
os seus “eus”.
David Peeters, nº 5, 6º 6ª [Revisão: Dr. Rui Pinto]
O Nervoso das Máscaras
Nascia um dia de sol lindo na cidade. Bernardo tinha acabado de
acordar. Estava agora a tomar o pequeno-almoço enquanto lia o
jornal, entretido.
Depois do duche, vestiu-se e correu feliz em direção à sua outra
casa, sempre de portas abertas a quem quisesse entrar, o Teatro.
Era ali, de facto, que Bernardo se sentia em casa, o teatro era a sua
vida. Enquanto ator, tinha já representado vários papéis e usado
inúmeras “máscaras” para compor as suas personagens. Ainda as-
sim, sempre que estreava um novo papel não podia deixar de ficar
nervoso, como se fosse uma nova pele que tinha de vestir, provo-
cando-lhe comichão por todo o corpo. E comichão sobretudo na
cabeça que ficava a pensar pensamentos sem fim, de tal forma que
certas noites nem conseguia dormir.
Ao chegar, cumprimentou André, João, Pedro e Francisco, seus
companheiros naquele e no Grande Palco da Vida.
– Olá, Bernardo – disse João – Estás pronto para a atuação desta
noite?
– Nem por isso – respondeu – Estou muito nervoso.
– Posso ajudar-te? – perguntou André – É que eu sei como: basta
pensares que a peça de hoje é como a própria vida, por vezes uma
tragédia, por vezes uma comédia. Não interpretarás o papel de
“filho” e nem o de “amigo”. Hoje serás “Mercúrio”, para os Roma-
nos o Deus do Comércio, da Venda e do Lucro. Serás o ator princi-
pal.
– Eu sei – disse Bernardo acanhado – é por isso que me sinto tão
mal. Estou realmente nervoso com este novo papel.
– Ora, ora! Todos nós, diariamente e consoante os contextos,
interpretamos diferentes “papeis”, até mesmo os de “comprador” e
“vendedor” – continuou Pedro desdramatizando o nervoso do ami-
go – Gil Vicente sabia-o bem, por isso escreveu o “Auto da Feira”,
para demonstrar que tudo se compra e tudo se vende.
– Sim – disse Bernardo hesitante – tudo se compra, tudo se ven-
de... Mas, não correremos o risco de, usando todas essas máscaras,
deixarmos de ser nós próprios?
– Penso que não – respondeu o amigo – se usares as tuas
“máscaras” na altura certa não cairás no ridículo nem na mentira.
Serás tu próprio e não uma farsa. Não podes é esquecer-te que so-
mos sempre atores, estamos sempre a entrar e a sair de cena. No
fundo, é possível que tenhamos vários “eus”.
– Estás a dizer, portanto, que o meu “eu” só estará completo na
companhia dos seus “eus” – concluiu Bernardo meio a brincar meio
a sério.
– Sim, para concluir, penso que é isso!
Os amigos riram-se com gosto, afinal, todos tínhamos vários
“eus”. E ainda bem que os temos. Pois são esses “eus” que encena-
mos, que nos permitem encontrar a coragem e a confiança quando
estas nos faltam. São esses “eus”, que nos levam a estabelecer rela-
para ser sincera, a confusão tomou conta de mim. Não espera-
va de todo que ele me fosse contar a história da sua vida, mas
decidi não intervir, e permanecer calada. O seu olhar, que se
encontrava pousado sobre o álbum, acabou por viajar até ao
meu, o que me fez de imediato esboçar um breve sorriso.
- Mais um dia de trabalho. Estava cansado, mesmo cansado.
Ansioso por chegar a casa, mas o meu pai tinha-me pedido para
ir fazer uma última entrega do dia e, por alguma razão, eu acei-
tei. De bicicleta, fui até à morada que me tinha sido indicada,
com a caixa que continha pequenos quadros, e quando cheguei,
pensei que estava enganado. - Uma gargalhada, algo raro no
meu avô, escapou-se-lhe e, por momentos, pude sentir o seu
entusiasmo ao contar tudo aquilo. - A casa era enorme, um
autêntico palácio. Um carro, considerado absolutamente luxuo-
so para a altura, estava estacionado no enorme jardim. Um lago
e uma casa de madeira pertenciam também àquela proprieda-
de e confesso que antes de sair da bicicleta, verifiquei a morada
que tinha sido apontada num papel. Achava estranho terem
encomendado algo ao meu pai, quer dizer, afinal de contas,
tudo o que ele fazia, eram simples quadros e havia pintores
muito melhores, que estariam dispostos a trabalhar para al-
guém assim. Queria despachar-me, então acabei por pousar a
bicicleta no chão, pegando antes na caixa que se encontrava
um pouco mais pesada do que parecia ser. Subi as pequenas
escadas, acabando então por chegar ao alpendre da casa. Não
tive sequer tempo de tocar à campainha, porque, quando es-
tendi a minha mão para o fazer, uma rapariga abriu com algu-
ma dificuldade a pesada porta, deixando assim que um agradá-
vel cheiro a comida preenchesse o ar. Era carne assada, se não
me engano, pelo menos cheirava a isso. Vários risos de pelo
menos quatro raparigas podiam ser ouvidos naquela altura,
mas apenas uma se encontrava à minha frente, a tua avó. - A
minha respiração prendeu-se por pequenos momentos ao ouvir
aquela palavra. Avó. Nunca a conheci e nunca ninguém me ti-
nha explicado o que acontecera, algo que sinceramente me
irritava. Sabia apenas que ela tinha falecido anos antes do meu
nascimento, mas mesmo assim, não sabia ao certo quantos. O
meu olhar cruzou-se com o do meu avô e as nossas expressões
rapidamente se alteraram. Ele sabia que este assunto me deixa-
va meio que irritada, porque sempre que perguntava algo sobre
ela, ignoravam-me.
- Continua, avô. Agora sim, não podes mesmo parar.
- Era muito mais baixa do que eu. Cabelo loiro, não muito
A Encomenda
- Avô, avô!! - A minha voz soou pelo jardim enquanto as mi-
nhas pernas se deslocavam o mais rápido que conseguiam até ao
banco onde ele se encontrava sentado. Era véspera de Natal e o
meu entusiasmo era óbvio, visto que no dia seguinte, ou seja, dia
vinte e cinco de dezembro, seria também a minha data de ani-
versário. Todos os anos acontecia a mesma coisa. A família reu-
nia-se toda na antiga casa - que tinha sido construída na cidade
de Potsdam pelos meus trisavós e que servia de lar ao meu avô
desde que este nascera - para festejarmos o Natal e também o
meu aniversário. Estava prestes a fazer quinze anos e, no ano
anterior, o meu avô tinha-me prometido que, quando os fizesse,
me contava uma história. Sendo curiosa como sou, mesmo já
tendo passado trezentos e sessenta e quatro dias, a promessa
que o meu avô me tinha feito não tinha sido esquecida e, por
isso, estava agora a sentar-me ao seu lado, depois de lhe dar um
abraço bem apertado, matando assim as saudades, para ouvir a
tão esperada história. Depois de finalmente me instalar, pude
reparar que ao colo do meu avô estava um álbum ou, pelo me-
nos, algo que se parecia com isso. Antes que pudesse dizer algo
mais, o meu avô olhou rapidamente para mim com um sorriso
nos lábios.
- Sei que a tua vontade é pegar neste álbum e pedires-me
que comece a contar a história, mas devo dizer que só no final
poderás ver as fotos que este álbum contém, está bem? - A sua
gasta, no entanto bonita voz, soou no seu típico tom baixo. O
meu avô era uma pessoa bastante calma e acho que era por isso
que gostava tanto de estar com ele. Todo o resto da minha famí-
lia passava a vida a falar, num volume que eu sempre considera-
ra alto demais. Era como se o silêncio fosse uma espécie de ame-
aça para eles, e, com o meu avô, nada disto acontecia. Podíamos
simplesmente estar horas um ao lado do outro, calados, que
nunca nos sentiríamos desconfortáveis ou sozinhos. Pessoas
capazes de fazer isto sempre me agradaram bastante e não havia
pessoa no mundo que eu estimasse mais do que o meu avô. De-
pois de deixar que uma pequena gargalhada escapasse pelos
meus lábios, assenti levemente, esperando então que o meu avô
começasse a falar.
- Outono de mil novecentos e trinta e oito, não te sei precisar
o dia, tinha eu os meus dezoito anos. Mais uma, que eu pensava
ser simples e fria tarde em Potsdam, mas que acabou por se
tornar o começo da minha vida como homem que sou hoje. -
Foram estas as primeiras palavras que o meu avô pronunciou e,
B A B E L Página 31 B A B E L
CONCURSO L ITERÁRIO
FAZEDORES DE HISTÓRIAS T E X T O V E N C E D O R | E S C A L Ã O C - M O D A L I D A D E 1
B A B E L Página 32 B A B E L
- Campos de concentração? - Interroguei, meio baralhada. -
Mas não eram só os judeus que iam para lá?
O silêncio do meu avô fez-me chegar finalmente à conclusão
de que ele era judeu. Bastava um simples olhar para perceber
que ele estava a afirmá-lo de forma silenciosa. Sabia muito bem
o que eram campos de concentração. Eu e o meu pai gostáva-
mos de falar de história e ele sempre me explicou as coisas de
forma aberta, para que eu entendesse. Sinceramente, pensar
que o meu avô poderia ter ido para lá foi algo que me deixou
completamente arrepiada. Nunca percebi o objetivo de Hitler,
quer dizer, perceber, até percebo, mas na minha cabeça, a mal-
dade é algo que não vale a pena. O facto de um homem conse-
guir matar tantas pessoas apenas pela sua escolha religiosa não
me é aceitável.
- Bem, acabei por receber a carta de recrutamento para
combater. Lembro-me que o meu primeiro pensamento foi
"como vou contar isto a Elizabeth?" - Elizabeth. O meu avô pro-
nunciou pela primeira vez o nome da minha avó, que até hoje
nunca soube qual era, até este momento. Tinha vontade de
interromper e começar a expressar o meu ponto de vista, algo
que gosto de fazer, ou então dizer que gostava realmente de a
ter conhecido, ou dizer também que o seu nome era um dos
meus favoritos, mas, ainda assim, a minha curiosidade sobre o
que iria acontecer a seguir impediu-me de o fazer.
- Não contei. Decidi deixar uma carta e arrependo-me disso
até hoje, mas não sei até que ponto não terá sido melhor, de-
testo despedidas. - Comecei a notar o olhar do meu avô a tor-
nar-se mais triste, o que me incomodou, mas quando a história
acabasse, fazia planos de fazer chocolate quente, uma das nos-
sas bebidas de eleição, que sabia que o animava sempre.
- Na noite anterior à minha partida, estive com ela até tarde
e todas as semanas trocávamos cartas um com o outro, en-
quanto eu combatia.
Não sei realmente como me aguentei naquele momento.
Apetecia-me gritar, gritar até ficar sem voz. A vida consegue ser
mesmo má. O meu avô na guerra e a minha avó sozinha a levar
com críticas dos seus pais a toda a hora. Que fantástico, melhor
não podia ficar. Aproximadamente cinco anos depois, a guerra
acabou. O meu avô voltou para casa e tudo voltou a ficar bem,
ou pelo menos eu assim pensei.
- Reencontrámo-nos. Ela estava igual, maravilhosa como
sempre, no entanto, as suas expressões não eram realmente as
melhores. Os pais tinham-na ameaçado que, se ela não deixas-
longo, mas também não muito curto, elegante e bonita. Muito
bonita, na verdade. Nenhum de nós disse uma única palavra
durante o que pareceu ser uma eternidade. Os risos do que eu
suponha serem as suas amigas continuavam a preencher aquele
constrangedor silêncio que se fazia entre nós, até que eu decidi
quebrá-lo. Trocámos poucas palavras e entrei para pousar a cai-
xa onde ela me indicou. Voltámos depois para a porta e acabei
por sair. Desejámos boa noite e, não sei como, consegui convidá-
la para sair comigo. Ela aceitou. A rapariga que vivia rodeada por
luxo aceitou sair com um simples rapaz que fazias as entregas do
pai. - Os meus ouvidos prestavam a máxima atenção a cada pala-
vra que o meu avô pronunciava, enquanto na minha mente, to-
dos aqueles cenários eram montados na perfeição. Era difícil
para mim conseguir criar uma imagem da minha avó, porque
nunca a conheci e até hoje só tinha visto uma foto sua. No en-
tanto, ela já era mais velha e as suas feições não eram as mes-
mas da sua juventude.
Não sei quanto tempo se passou, mas quando menos esperá-
vamos, o meu pai veio chamar-nos para irmos jantar e, por isso,
tivemos de fazer uma pausa. Durante o jantar, a minha mente
viajava pelos vários cenários de todas as aventuras que o meu
avô me tinha contado. O encontro no dia seguinte, as confusões
que a família da minha avó criou por ela andar com um "rapaz
pobre", o pedido de namoro que o meu avô lhe fez numa tarde
fria de inverno, os almoços divertidos, os dias e as noites que
eles passavam juntos e muitas outras coisas. Eu tinha a perfeita
noção de que a parte má, ou, pelo menos, a não tão agradável,
ainda estava por vir. Estava a sentir-me meio ridícula, mas a his-
tória deixava-me ansiosa. É como quando estamos a ver um fil-
me e queremos que duas pessoas fiquem juntas e que corra tu-
do bem, mas, tal como sabemos, isso não vai acontecer, porque
nem nos filmes é assim, muito menos na vida real. Depois do
jantar, que pareceu demorar uma eternidade, eu e o meu avô
fomos para a sala e sentámo-nos os dois num pequeno sofá. Na
minha mão encontrava-se o álbum que o meu avô me tinha ago-
ra dado para eu ver as fotos que eles tiraram juntos. Enquanto
eu passava as várias páginas, o meu avô continuava a contar
tudo o que aconteceu, até chegar finalmente ao ano de mil no-
vecentos e trinta e nove.
- Sabia que brevemente seria chamado. O país tinha entrado
em guerra e eu estava na idade perfeita para ir combater, por-
que essa era também a única forma que eu tinha de fugir aos
campos de concentração.
CONCURSO L ITERÁRIO
FAZEDORES DE HISTÓRIAS T E X T O V E N C E D O R | E S C A L Ã O C - M O D A L I D A D E 1
B A B E L Página 33 B A B E L
CONCURSO L ITERÁRIO
FAZEDORES DE HISTÓRIAS T E X T O V E N C E D O R | E S C A L Ã O C - M O D A L I D A D E 1
da, só queria tentar absorver todas aquelas palavras que ti-
nham sido ditas de forma demasiado rápida. Ouvi a minha mãe
a gritar da cozinha que faltavam dez minutos para a meia-noite
e sabia que brevemente o sossego iria acabar, porque começa-
riam todos a cantar os parabéns e a abrir as prendas. Limitei-
me a soltar um suspiro bem pesado acabando de ver o álbum,
pousando-o sobre uma pequena mesa que se encontrava no
meio da sala.
- Ainda bem que contaste tudo de forma rápida, porque não
me apetecia nada chorar dez minutos antes de fazer anos –
disse, olhando para o meu avô, gargalhando levemente.
- Agora já sabes quem foi a tua avó. Quando a maluqueira
passar, bebemos os dois um chocolate quente com marshmal-
lows, está bem? - Ele sussurrou como se de um segredo se tra-
tasse.
- Nem precisavas de perguntar. É óbvio que está mais do
que bem! - respondi também baixo, vendo depois todo o resto
da família a entrar na sala. O típico cheesecake foi pousado em
cima da mesa, as luzes apagadas e a tão conhecida canção foi
cantada por todos ali presentes. Quando tudo já estava mais
calmo, fui fazer o chocolate quente, ficando na cozinha a beber
com o meu avô aquele líquido com sabor a chocolate.
- Avô? - Murmurei, meio receosa sobre se perguntava ou
não o que pretendia.
- Sim, Anne? – Respondeu ele, limpando a boca ao guarda-
napo, enquanto me encarava.
- Como conseguiste ultrapassar tudo isto? - Dei levemente
de ombros, mastigando um marshmallow, tentando parecer
descontraída.
- Acho que ao longo dos anos me fui mentalizando que a
vida é um palco de teatro que não admite ensaios1, querida. -
Respondeu, acabando de beber o seu chocolate quente.
E foi assim. Foi assim que terminou toda aquela história,
que, no meio de muitas outras, se calhar não significa nada.
Maria Mafalda Sousa, nº 13, 9º 5ª
[Revisão: Dr.ª Maria João Queiroga]
1 Charlie Chaplin
se de estar comigo, eles iriam embora da Alemanha. Bem, como
é óbvio, nenhum de nós cedeu à ameaça que eles tanto pensa-
vam que iria resultar. Dei-lhe uma semana para fazer a mala e
arrecadar a maior quantidade de dinheiro que conseguisse. Dia
sete de junho de mil novecentos e quarenta e cinco, partimos
para Berlim. Arrendámos um apartamento, arranjámos trabalho
e reconstruímos a nossa vida.
- Finalmente algo bom, depois de todo esse tempo! - Não
resisti em dizer, animada com o facto de perceber que tudo esta-
va a melhorar.
- Não deites foguetes antes da festa, Anne. - Disse-me ele,
mostrando-me o seu sorriso, que eu considerava como algo qua-
se sábio. - A situação económica da Alemanha estava um caos e
eu fiquei desempregado. Passámos dificuldades e vivemos assim
até eu arranjar trabalho. Até lá vivemos do ordenado da tua avó
e de algum dinheiro que eu arranjava a consertar eletrodomésti-
cos e carros.
O meu avô fez uma pausa, respirou fundo várias vezes como
se possuísse dentro de si um enorme peso que necessitava de
expulsar ou controlar, para que este não desabasse e o aleijasse.
Nunca fui boa com atos, sempre preferi as palavras e sei que "os
atos contam mais do que as palavras", mas para mim, as pala-
vras são a única forma de eu demonstrar o quanto amo uma
pessoa ou exprimir os meus sentimentos. Sou péssima a dar e a
receber carinhos, nunca sei como reagir, e nunca sei o que fazer,
mas naquele momento não tinha lápis nem folha, e, por isso, a
única maneira que me veio à cabeça de demonstrar ao meu avô
que eu estava ali para ele foi agarrar-lhe na mão e sorrir-lhe de
forma bem carinhosa, para que aquele peso dentro de si, de
algum jeito, não pesasse tanto. Estivemos alguns minutos assim
e à medida que ele ia ficando mais calmo, eu ia largando a sua
mão.
- Em mil novecentos e quarenta e sete, a tua avó engravidou
e teve o teu pai. Foram os anos mais felizes e estáveis da nossa
vida. Dez anos depois foi-lhe diagnosticado cancro e não quero
estar com rodeios. Faleceu quando o teu pai tinha dez anos, e
agora aqui estamos nós.
Eu não queria chorar, não queria sorrir, não queria dizer na-
B A B E L Página 34 B A B E L
CONCURSO L ITERÁRIO
FAZEDORES DE HISTÓRIAS T E X T O V E N C E D O R | E S C A L Ã O C - M O D A L I D A D E 2
trar na sua sala. – Sim, no intervalo, encontramo-nos junto ao
bar. – A Ana falou alto à medida que caminhava pelo enorme
corredor, atrás do Filipe. Acenei-lhes de volta e bati levemente
à porta da sala 5, a sala onde iria ter a disciplina de Português. –
Entre. – A voz fina da professora ecoou e eu pude abrir final-
mente a porta, revelando então a minha turma nova. Desculpei
-me pelo atraso, uma das coisas que era habitual fazer, e entrei,
dirigindo-me ao meu lugar. Assim que me sentei, retirei os ma-
teriais necessários para a aula. Aproveitei então para olhar em
redor, observar cada cara nova. Cheguei a esta escola há menos
de um mês e ainda não tive a coragem de falar com qualquer
um deles. Nem mesmo com a chata da minha colega do lado,
que não para de falar ‘sozinha’. Acho que ela ainda não perce-
beu que não sou muito de conversas. Bom, espero que perce-
ba, caso contrário, terei de pedir à DT para mudar de lugar. –
Será que me podias emprestar o teu caderno para passar al-
guns apontamentos? – Ela quebrou o silêncio. Confesso que já
estava a demorar. – Claro, toma. – sussurrei, passando-lhe o
meu caderno, sem nunca desviar a minha atenção da professo-
ra, que apontava algo no seu bloco de notas. Fez-se novamente
silêncio na sala. Encostei as minhas costas à cadeira e fitei o
quadro por cerca de dez segundos, os quais devem ter parecido
mais que cinco minutos para a professora, pois só ouvi a sua
chamada de atenção e todos os olhos postos em mim. Pedi
novamente desculpa, desta vez pela minha distração e senti
uma leve cotovelada. – Estás bem? – A voz da miúda irritante
voltou a ouvir-se. Preferi não lhe responder e fingir estar atenta
ao que a professora escrevia no quadro, pois não queria mentir-
lhe em relação à maneira como me sentia hoje. Gostaria de lhe
responder que sim, que realmente estava tudo bem comigo,
mas não estava. Para não a preocupar ou sequer dar-lhe um
motivo para tentar ter uma conversa comigo, preferi não res-
ponder. Permaneci quieta e tentei concentrar-me apenas na
professora e no que esta explicava até ao final da aula. Assim
que tocou, voltei a arrumar as minhas coisas e saí da sala. Tal
como combinado, fui ter com os meus únicos amigos ao bar da
escola.
O tempo passou a correr e neste preciso momento encontro-
-me sentada no autocarro que me irá levar até à paragem perto
de casa. No regresso a casa é costume vir sozinha, pois a Ana e
o Filipe ainda têm aulas e por isso ficam mais tempo na escola.
A esta hora o autocarro vem quase sempre vazio. Quer dizer,
não vem totalmente vazio, pois um senhor já de alguma idade
Breve viagem à memória
‘Como será o dia de hoje?’ – sempre a mesma pergunta, a
pergunta que invadia a minha mente todas as manhãs. E por-
quê? Porque é que eu me dou ao trabalho de me questionar a
mim mesma, em vez de...simplesmente aproveitar e desfrutar do
meu dia? Seria ele bom? Ou talvez mau? Afinal, o que poderá
correr mal? A verdade é que todos temos azares na vida. Mas
quem não começa o dia sem criar uma única expectativa do ‘dia
perfeito’? Sem preocupações, stresses ou qualquer tipo de pro-
blemas?
Hoje acordei sem perceber como me sentia. Não diria que
estou feliz, mas também não me sinto irritada. Talvez…
aborrecida? Hum, não parece. A verdade é que cada dia que
passa tem sido uma verdadeira tristeza. É como se, todos os dias,
cada pessoa, ao levantar-se da sua cama logo pela manhã, colo-
casse uma ‘máscara’ diferente, dependendo de como se sente
no próprio dia. No meu caso, não vejo mais nenhuma máscara
para além da ‘famosa’ máscara da tristeza. Bom, talvez todas as
outras máscaras estejam presentes, mas a verdade é que apenas
consigo esticar o meu braço e apanhar aquela.
‘Mais um dia.’ – pensei assim que me levantei da cama. Custa
tanto ter de acordar cedo, sair do quente da cama e preparar-
mo-nos para a escola, principalmente quando sabemos que tere-
mos de ‘aturar’ gente que não queremos e que, cada dia que
passa, só teremos mais e mais com que nos preocupar. Enfim,
sempre a mesma rotina. Preparo-me para a escola e sigo o meu
caminho em direção à paragem do autocarro onde apanho al-
guns dos meus amigos. – Olá. – murmuro assim que chego perto
deles. É habitual cumprimentá-los com um ‘olá’, pois evito utili-
zar o típico ‘bom dia’, visto que os dias não começam da melhor
forma. – Bom dia. – eles quase que respondem em coro. Esboço
um pequeno sorriso e acabo por me sentar num dos lugares
vazios daquele autocarro. – Vamos chegar atrasados se este au-
tocarro não andar mais depressa. – ouvi o rapaz impaciente di-
zer, enquanto permanecia com o seu olhar fixo no relógio que
trazia no pulso. Olhei para a Ana, a namorada do tal rapaz, cujo
nome era Filipe. Vi-a revirar os olhos umas quantas vezes cada
vez que ouvia os resmungos do seu namorado, ao qual acabava
por esboçar um largo sorriso. Saímos apressadamente do auto-
carro assim que este parou em frente à paragem que se situava a
menos de dois minutos da escola. Demos uma pequena corrida
até à escola, onde entrámos, e seguimos até às respectivas salas.
– Bom, vemo-nos depois então! – O Filipe acenou antes de en-
B A B E L Página 35 B A B E L
CONCURSO L ITERÁRIO
FAZEDORES DE HISTÓRIAS T E X T O V E N C E D O R | E S C A L Ã O C - M O D A L I D A D E 2
levantar-te e sentar-te quando te apetecer porque as tuas per-
nas não vão permitir tal coisa. Não vais poder ouvir música alta
porque os teus ouvidos não aguentam, ou até mesmo passar
horas a olhar para um desses aparelhos. – Ele apontou para o
telemóvel que se encontrava na minha mão.
Baixei discretamente a cabeça e esbocei um pequeno sorri-
so. – Tenho de sair na próxima paragem, com licença. – Levan-
tei-me lentamente e passei pelo senhor, desejando-lhe um res-
to de boa tarde. – Obrigado, igualmente, jovem. – ouvi-o mur-
murar num tom quase impercetível.
Vários pensamentos invadiram a minha mente assim que me
despedi dele. Desci do autocarro e em alguns minutos já me
encontrava em casa. Não tenho bem a certeza se consegui ou
não dormir nessa noite, pois aqueles pensamentos ecoavam na
minha cabeça. Vários meses se passaram e todos os dias avista-
va aquele velho, sentado no mesmo lugar, que quase parecia
que lhe estava reservado. Tornou-se um hábito entrar no auto-
carro e sentar-me num dos lugares do fundo. Encolhia-me no
banco, colocava os fones e olhava pela janela, pois eu achava
que era uma boa maneira de evitar outra conversa com o ho-
mem.
Cerca de dois meses depois, vim a aperceber-me de que algo
faltava naquele autocarro. O senhor não aparecera mais, tal
como eu não precisei de me encolher mais no banco. O que
teria acontecido? Onde estará ele agora? Questionava-me to-
dos os dias. Tinha de me habituar a esta ausência.
Não demorou muito para que eu percebesse que ele não
voltaria. Por estranho que pareça, senti saudades de me tentar
tornar invisível naquele autocarro. Foi então que relembrei
aquilo que me dissera há uns tempos atrás.
Ainda hoje guardo esta lembrança comigo. Sempre que viajo
de autocarro e vejo um idoso, recordo uma lição que alguém
me tentou dar. Gostaria de poder voltar atrás no tempo e retri-
buir a atenção que me foi dada naquela altura. Embora não
tivesse deixado transparecer, aquelas palavras fizeram-me des-
pertar.
Cláudia Esteves, nº 3, 9º 5ª
[Revisão: Dr.ª Maria João Queiroga]
costuma vir sentado do lado da janela, num dos bancos ao pé da
porta de saída do autocarro. Por incrível que pareça, ele hoje
não está cá. Entretive-me a ouvir música até duas paragens mais
à frente, quando avistei o tal homem de idade entrar. Tentei não
ligar muito ao facto de ele estar cada vez mais próximo de mim.
Ao início, pensei que fosse uma mera impressão, mas com o
passar do tempo apercebi-me de que este se dirigia a mim – Boa
tarde, posso sentar-me aqui ao teu lado? – O olhar dele encon-
trou o meu por momentos e assenti levemente com a minha
cabeça, retirando de seguida os fones dos meus ouvidos. O se-
nhor sentou-se com alguma dificuldade e por fim deixou escapar
um pequeno suspiro. – Sabes o que eu te digo, filha…? Não des-
perdices a tua vida dessa maneira. – Demorei cerca de cinco
segundos para perceber que o senhor acabara de falar comigo. –
O que quer dizer com isso? – Não me contive, por isso acabei por
lhe perguntar. – Eu sei como te sentes. Frequento este autocarro
todas as tardes e não há um dia em que não te vejo por aqui
sozinha, sempre sozinha. – Senti o olhar dele novamente sobre
mim. – Como sabe que me sinto assim? O senhor apenas me
observa todas as tardes, tal como referiu. Não me conhece, nem
me lembro de alguma vez ter falado consigo. – Desviei a minha
atenção para ele. – Eu sei, tens toda a razão. Eu não quis ser
indelicado contigo, de jeito nenhum. Estou apenas a tentar aju-
dar-te, porque sabes uma coisa? Eu já fui jovem como tu e che-
gando a esta idade percebo as oportunidades que desperdicei. O
ser humano deve aproveitar a vida que tem. E não desperdiçá-la
sozinho ou triste com a vida. – Permaneci calada, sem saber o
que lhe responder. Ele continuou: – Todos os dias acompanho
cada sorriso, cada suspiro, cada lágrima de felicidade ou até
mesmo de dor que cada pessoa que costuma viajar neste auto-
carro carrega ou traz consigo. Nunca vejo ninguém assim como
tu...que raramente sorri, mesmo quando vem acompanhada de
amigos. – Permaneci novamente em silêncio após o ouvir falar.
Apesar de aquele homem não me conhecer, ele estava correto.
- Sabes, talvez passes muito tempo da tua vida assim. No futu-
ro, quando tiveres a minha idade e fores bem velhinha, aí não
vais poder aproveitar tanto a vida como agora. Não vais poder
BABEL - Publicação Plurilingue do Departamento Curricular de Línguas - Número 12
FICHA TÉCNICA
CONCEÇÃO | EDIÇÃO | ARRANJO GRÁFICO: Maria João Queiroga
SELEÇÃO DE IMAGENS: Professores que colaboraram neste número
COLABORARAM NESTE NÚMERO:
PROFESSORES - Ana Cristina Tavares, Inácia Pereira, Isabel Sequeira, Manuela Nunes, Maria da Paz Vieira, Maria do Rosário Pinto, Maria João Queiroga, Nuno
Soares, Rui Pinto, Teresa Neto, Zelinda Pontes
ALUNOS - Ana do Mar, Ana Ferreira, Ana Loreti, Ana Patrícia Fernandes, Ana Pereira, André Santos, Andreia Silva, Ângela Correia, Anna Muninhas, Bárbara
Alves, Bárbara Santos, Beatriz Cardoso, Beatriz Carvalho, Beatriz Loureiro, Beatriz Pinho, Bruna Machado, Bruno Dionísio, Carlota Cardoso, Carolina Anacleto,
Catarina Grilo, Cátia Magalhães, Cláudia Esteves, Daniel Fonseca, Daniela Coelho, Daniela Santos, David Peeters, David Santos, Débora Fonseca, Dejina Gurung,
Diogo Santos, Dullier Correia, Fábio Évora, Fatou Fall, Filipa Cortez, Francisco Lucas, Gonçalo Cardoso, Henrique Sousa, Inês Fidalgo, Inês Tavares, Jaskaran
Singh, Jéssica Cordeiro, João Carita, João Simões, João Soares, José Gustavo Duarte Ferreira, Laís Borges, Lara Cândido, Lara Costa, Laura Marcelino, Luís Carva-
lho, Madalena Estefani, Madalena Pinto, Márcia Veiga, Maria Ferreira, Maria Helena Correia, Maria Mafalda Sousa, Marina Costa, Marizette Ribeiro, Marta
Alves, Melissa Silva, Miguel Graça, Muhammad Majid, Nadilene Rocha, Neuza Amaral, Nuno Carvalho, Patrícia Afonso, Patrícia Sequeira, Pedro Cerqueira,
Rafael Alves, Raquel Silva, Rasmi Ranabhat, Rita Moreira, Rodrigo Carvalho, Salomé Gonçalves, Sara Alves, Sara Cruz, Sara Ferreira, Sara Gomes, Sofia Salvador,
Soraia Pinto, Tatiana Almeida, Tatiana Araújo, Tiago Santos, Vasco Bizarro, Vasco Ferreira, Vasth Graça, Willian Souza, e alunos das turmas 10º VAS, 10º LH, 11º
C , 11º LH
TIRAGEM A PRETO E BRANCO (FOTOCÓPIA): 20 exemplares PREÇO: 1 € TIRAGEM A CORES: 14 exemplares PREÇO: 5 €
PROPRIEDADE: Escola Gil Vicente | Agrupamento de Escolas Gil Vicente Rua da Verónica, 37 - 1170-384 LISBOA Tel. 21 886 00 41
Fax: 21 886 88 80 E - mail: direcao@aegv.pt Web: http://www.esec-gil-vicente.rcts.pt
A correção linguística e a revisão dos textos produzidos pelos alunos são da inteira responsabilidade dos respetivos professores.
Página 36 B A B E L
Fonte: google.imagens
Recommended