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Depois daquele acaso
Carol Nascimento ♥ Danielle Costa ♥ Gislaine Oliveira
Organização: Gislaine Oliveira
Autores: Carol Nascimento
Danielle Costa
Gislaine Oliveira
Edição e revisão: Carol Nascimento
Um projeto de: Fã Clube Oficial Loucos por Samanta Holtz
Capa Aléxia Macedo
A todos os amantes de Quero ser Beth Levitt ♥
Prefácio
Por Samanta Holtz
De todos os livros que lancei, aquele do qual os leitores mais pedem a
continuação é “Quero ser Beth Levitt”. Eu sempre pensava no assunto com carinho e
me sentia tentada a mergulhar novamente no mundo romântico e delicado de Amelie e
Chris, ao mesmo tempo em que experimentava um sentimento de imensa
responsabilidade: é uma história tão pura, singela e completa que eu tinha medo de
escrever algo “apenas por escrever”, para atender a uma demanda do público, mas sem
conseguir retratar de forma digna o que teria se seguido após a última página do livro.
E eis que esse fã-clube lindo, o Loucos por Samanta Holtz, surpreendeu-me com
um presente inesquecível: uma história criada por elas, pensada e planejada em cada
mínimo detalhe, que nos conta um pouco mais sobre o “felizes para sempre” do casal
literário que tanto amamos – além de outros personagens igualmente queridos! Como
ficou a vida das irmãzinhas do abrigo de meninas? Rosana se casou com o carteiro
Frederico? E a adorável professora Dalva, ela ainda é a melhor amiga de Amie? Como
Mary Jane levou a vida depois das gravações? E Diane, que fim levou?
Quando peguei esta história para ler, a cada página virada, meu coração se
enchia de amor. Amor por essas leitoras queridas, que dedicaram tanto tempo, empenho
e carinho em preparar essa surpresa incrível! E, principalmente: em perceber que elas
conseguiram o que eu temia não conseguir. Toda a pureza, doçura e simplicidade que
fazem de “Quero ser Beth Levitt” um livro único está presente em cada página de
“Depois daquele acaso”. Em cada personagem. Em cada acontecimento que elas tão
perfeitamente idealizaram.
Ao terminar a leitura, fechei este livro com um sorriso no rosto e uma certeza no
coração: elas conseguiram! Se eu tivesse que imaginar um futuro para Amie e Chris,
certamente seria tão mágico e encantador quanto o que esse amado grupo de fãs
escreveu nessas páginas!
Que este livro alivie a saudade dos nossos queridos personagens, da mesma forma como
fez comigo! E que você, assim como eu, possa se emocionar com cada detalhe do que
aconteceu depois daquele acaso...
Com amor,
Samanta Holtz
Sumário
Capítulo 1........................................................................................................... Pág. 5
Capítulo 2........................................................................................................... Pág. 10
Capítulo 3........................................................................................................... Pág. 16
Capítulo 4........................................................................................................... Pág. 23
Capítulo 5........................................................................................................... Pág. 29
Capítulo 6........................................................................................................... Pág. 37
Capítulo 7........................................................................................................... Pág. 42
Capítulo 8........................................................................................................... Pág. 46
Capítulo 9........................................................................................................... Pág. 55
Capítulo 10......................................................................................................... Pág. 61
Agradecimentos.................................................................................................. Pág. 74
♥
5 ♥
Capítulo 1
O salão para a recepção dos convidados era belíssimo. Amelie ficou encantada
com o requinte e a decoração perfeitamente planejada por Kate, a cerimonialista – que
além do nome parecido, lembrava Katia, com os mesmos passos apressados e olhos
atentos. Seus olhos brilhavam como os lustres de cristais dispostos em lugares
estratégicos para a melhor iluminação. A decoração contava também com arcos de
folhas verdes e flores remetendo ao campo que Amie tanto amava. As mesas
comportavam toalhas claras, louça fina e taças de cristal, além de um grande arranjo de
flores no centro, composto por dálias – a flor favorita de sua mãe. Seus olhos marejaram
ao se lembrar do seu jardim, em Lady Lake, onde Chris a pediu em casamento.
Os noivos notaram que mais ao fundo havia uma enorme mesa recheada de
doces finos onde reinava, no centro, um magnífico bolo de casamento. Seus cinco
andares eram todos brancos com arabescos e rendas de açúcar. No topo, uma graciosa
réplica do casal na pele de Edward e Beth nos trajes de baile.
A cerimônia e a festa foram fechadas para os convidados mais íntimos dos dois.
Optaram pela discrição naquele dia tão importante para ambos. Chris queria que Amelie
tivesse o casamento dos sonhos e assim foi. Era o mínimo que ela merecia.
Dalva e Tom conversavam alegremente com Rosana enquanto bebericavam uma
taça de champanhe. As meninas do abrigo alternavam entre suspiros apaixonados e
risadinhas, animadas com o casamento mais lindo que presenciaram em suas vidas.
Mary Jane também estava ali, além de Anita que conversava tranquilamente com a mãe
de Chris.
Os convidados cumprimentaram os noivos com emoção. Chris não se conteve ao
abraçar a avó, Felitsa, que também tinha os olhos marejados.
O auge da festa foi quando o som do violinista invadiu o ambiente. Kate ajeitou
os cabelos ruivos para trás e juntou as mãos num gesto ansioso. Finalmente a aguardada
valsa dos noivos iria começar. Dalva deu uma piscadela para Chris e ele meneou a
cabeça concordando, então ele estendeu a mão direita para Amie que a aceitou com
prazer.
–– Aceita dançar comigo, minha princesa?
Amie lembrou-se do filme em que Beth ouvia o mesmo pedido de seu amado e
aquiesceu. Ele encaixou uma mão firme em sua cintura e deixou que ela se apoiasse
♥
6 ♥
nele. Os olhos castanhos dele mergulharam fundo nos dela como se penetrassem sua
alma.
De repente, tudo se calou em volta deles como se dançassem bem longe dali.
Balançaram seus corpos ao som daquela doce melodia, enquanto sentiam suas almas se
fundirem.
Estavam destinados a ficarem juntos, Amie sabia disso desde que descobriu a
história do anel que Chris lhe contara, ou talvez até antes disso.
A noiva não conseguia parar de admirar a beleza de seu marido. Seus olhos
decoravam cada traço do rosto dele. Com os rostos colados, ela fechou os olhos e se
entregou ao momento. Sempre fora muito intensa e naquele instante sentia-se completa.
Ou mais do que isso. Sentia-se transbordando.
A respiração dela ofegava e ambos giravam pelo salão um tanto alheios aos
assovios e gritinhos provavelmente advindos das meninas do abrigo. Ou de Dalva e
Tom, pois sutileza não era muito o ponto forte dos dois.
Quando a música cessou, Chris a deitou em seu braço direito e a beijou
apaixonadamente. Amie apoiou-se nos ombros do amado e sentiu-se arrebatada com o
gesto, retribuindo com a mesma paixão.
Os aplausos incessantes trouxeram o casal de volta para a realidade e eles se
curvaram em agradecimento, sorrindo. Era apenas o início de suas vidas juntos.
***
Pouco depois da meia-noite, o casal se despediu dos amigos e familiares.
A carruagem usada no filme aguardava os noivos na entrada do salão. Chris
acenou para todos e agradeceu pelos votos de felicidade, inclusive de Mary Jane que o
abraçou e desejou que ele fosse o homem mais feliz do mundo. Ela o via apenas como o
grande amigo que ele sempre foi para ela, muito embora não houvesse sido tão fácil
aceitar que o coração de Chris nunca a pertenceu.
Ele havia enfim encontrado a pessoa perfeita para completar a sua existência e
ela agradeceu mentalmente por Amelie fazê-lo tão feliz.
Lohanne não sabia quando o veria novamente, portanto não se fechou como de
costume. Deixou as lágrimas caírem e borrarem a maquiagem enquanto via os recém-
casados entrarem na carruagem e rumarem para o final feliz que tanto lutaram para
conseguir.
♥
7 ♥
Só restava a ela não perder as esperanças de encontrar um amor que a fizesse se
sentir sob as nuvens algum dia. Ela agora acreditava mais do que nunca na força do
amor, pois vira de perto o quão grande era a sua força, quando verdadeiro; ele era capaz
de driblar os obstáculos por mais impossíveis que parecessem.
No silêncio do seu coração, fez uma prece silenciosa de que um dia pudesse
viver esse mesmo sentimento arrebatador.
Um amor para a vida toda.
***
Durante o trajeto até a suíte reservada ao casal na noite de núpcias, Amelie
sentiu-se ansiosa. Tentou esconder o nervosismo e as mãos que suavam, mas sem
sucesso. Chris notou a inquietação de sua amada e imaginou que seria por causa da
inexperiência e ingenuidade dela. O que ela não sabia, no entanto, era que seu jeito
tímido agregava um charme a mais à personalidade que ele tanto amava. A inocência e
doçura de Amie eram coisas que faziam dela apaixonante.
Amelie sentiu o rosto queimar ainda mais ao recordar de sua mala preparada por
Dalva. A amiga tinha insistido em fazê-la para Amie, assegurando de que não deixaria
passar nadinha. Ela aceitara crente de que o bom gosto e experiência da amiga lhe
seriam muito mais úteis do que os guias de viagem onde ela pesquisava o que era
necessário para montar uma mala para lua de mel.
A mala grande comportava roupas de todos os tipos, todas novas, que Dalva
acertara em cheio no gosto de Amelie. O nécessaire continha diversos itens de higiene
pessoal, maquiagens e cremes. Porém, o choque veio quando a menina decidira espiar a
mala de mão. Várias peças minúsculas saltaram diante dos seus olhos: lingeries. A
noiva olhou, exasperada, peça por peça, notando seus laços e rendas, procurando por
algo menos escandaloso. Encontrou somente mais peças pequenas, além de corset,
cinta-liga e baby doll esbanjando transparência. Boquiaberta com a ousadia de Dalva,
ela decidiu que deixaria tudo aquilo para trás, depois daria um jeito de comprar peças
menos extravagantes. Colocou a mala embaixo da cama sem o menor remorso em
desperdiçar o trabalho da amiga, mas a mesma descobrira os planos de Amie e acabou
colocando a maleta no porta-malas do carro junto com toda a bagagem.
Agora lá estava Amelie com as bochechas queimando de embaraço ao se
lembrar do que a esperava.
♥
8 ♥
Chris passou os braços pelos ombros dela, enlaçando-a em um abraço afetuoso.
–– Está tudo bem? – ele ergueu o rosto corado dela com a ponta do indicador.
–– Está... – disse com um fio de voz. Ele ergueu uma sobrancelha incentivando-a
a continuar. Ela enrubesceu um pouco mais. –– Só um pouco insegura com... Você
sabe...
Ele sabia. Entendia a importância que aquele momento significava para ela, até
mais do que o primeiro beijo. Afagou os cabelos soltos dela e assegurou-lhe de que não
havia o que temer e que ele respeitaria o tempo dela. Sentiu-a relaxar ao seu lado e
sorriu, em seguida apertou um caloroso beijo em seus lábios, deliciando-se com a
sensação das mãos delicadas dela entrelaçadas em seu cabelo.
Ela é tão perfeita, meu Deus...
Quando a carruagem parou em frente ao hotel, o condutor ajudou a noiva a
descer para que não tropeçasse na barra do vestido e em seguida abriu a porta para que o
noivo descesse também.
Amie e Chris adentraram a recepção do luxuoso hotel e confirmaram a reserva
feita. A recepcionista desejou-lhes felicidades e entregou para Chris o cartão de acesso
da suíte máster, avisando que suas malas já se encontravam no quarto. O casal
agradeceu e entrou no elevador rumo ao quarto onde se hospedariam naquela noite, já
que a viagem de lua de mel seria na manhã seguinte.
Chris carregou Amelie no colo desde o elevador até o quarto cumprindo a
tradição como manda o figurino. Ela soltou um gritinho de surpresa com o ato e ele se
divertiu com a reação dela.
Amelie ficou boquiaberta com o lugar. Se o quarto em Actown lhe pareceu uma
mansão, esse certamente pareceria um palácio.
Era enorme, todo em tons claros e delicados, com peças em madeira escura e
iluminação impecável, além da decoração digna de capa de revista. As cortinas de cor
creme balançavam com a brisa vinda da sacada. A cama estava envolta em pétalas de
rosas, o que a fez suspirar. Tudo parecia perfeito para uma noite romântica.
–– Amie, que tal fazermos um brinde à nossa nova vida? – Chris sugeriu ao
notar uma garrafa de champanhe que receberam como cortesia do hotel. Ele tirou a
bebida de dentro do balde de gelo e despejou um pouco em cada uma das duas taças.
Amie tomou o champanhe aos poucos, se deliciando com a sensação da bebida
borbulhante, mas mesmo assim a tensão que sentia não se dissipava totalmente.
♥
9 ♥
–– Acho que vou mesmo precisar disso aqui – ela disse com um sorriso tímido e
Chris riu descontraído. Ele havia se controlado muito até então para não assustar a
garota dos seus sonhos. Não queria desrespeitá-la, embora a desejasse muito.
–– Não se preocupe, deixe que eu me encarrego de deixar esta noite inesquecível
para nós dois – deu uma piscadela e sorriu de canto, arrancando um suspiro da noiva. –
Pode tomar o seu banho primeiro, eu vou em seguida – completou.
Amie estava com muita de vergonha, pois ninguém até então a havia visto
daquela maneira. Notando que ela precisava de espaço, ele deu um beijo na testa dela e
foi para a sacada a fim de dar a ela mais privacidade.
Ele se perdia em devaneios quando uma voz baixinha o despertou.
–– Chris? – ele voltou seus olhos para o interior do quarto, de onde vinha a voz
quase sussurrada de Amelie.
Ela sorriu para ele com o rosto corado e admitiu.
–– Não consigo desabotoar o vestido – ele riu e logo se prontificou a ajudar.
Conforme soltava cada um dos botões, ele beijava sutilmente a nuca dela
causando-lhe arrepios. Ao soltar o último, ele deixou que ela terminasse de se aprontar.
Após o banho de ambos, Chris a beijou com o todo o desejo que guardava dentro
de si e, a cada toque e carícia, Amelie percebia o quanto era plenamente amada por ele.
O nervosismo aos poucos deu lugar a novas sensações e a menina relaxou, permitindo-
se ser guiada pelo seu amado. Ele sabia o quanto ela era linda, mas constatar isso
daquela forma era inigualável. A luz da lua refletida sob a pele alva dela deixava-a
ainda mais irresistível.
Ao fim daquela noite, eles dormiram abraçados. Finalmente uma só carne, alma
e coração. Os braços fortes dele ao redor do corpo dela era um sonho do qual ela não
queria mais acordar.
♥
10 ♥
Capítulo 2
Após as filmagens do seu mais novo trabalho onde atuou como protagonista,
Mary Jane Lohanne aproveitava as merecidas férias a que tinha direito. Ela
compreendeu que era hora de dar descanso ao seu corpo e à sua mente depois de tantos
trabalhos emendados um no outro. Ainda não tinha decidido para onde iria viajar, então
naquela primeira semana livre decidira ficar em seu apartamento.
Aquele fim de tarde de sábado não parecia tão diferente dos outros. Jane estava
sentada no pequeno sofá de couro branco enquanto tragava um cigarro e encarava a
pintura de um quadro abstrato que ela recentemente comprara para alegrar o ambiente
de sua sala. De repente a solidão caiu com um pesar sobre seu coração. Sentiu-se muito
sozinha. De que adiantava tanto glamour se não havia quem a acalentasse quando o
mundo ruía ao seu redor?
Apertou a ponta do cigarro no cinzeiro. Preciso abandonar a droga desse vício.
Fechou os olhos e tentou se concentrar nos sons da cidade lá fora. Pôde
distinguir o som abafado de uma banda que tocava em um pub próximo dali.
Impulsionada pelo desejo de se sentir conectada a algo, levantou-se e saiu sem
pestanejar, como se algo a chamasse.
A banda ostentava os últimos solos marcando o fim do show daquela noite
quando ela chegou ao local. Os olhares curiosos e atentos não lhe passaram
despercebido. Não tardaria até que paparazzi invadissem o lugar.
Sentou-se próxima ao bar, mas rejeitou a oferta do garçom em trazer-lhe uma
bebida. Limitou-se a assistir as pessoas a sua volta, imaginando o que as teria levado até
ali. Talvez todos estivessem tão vazios quanto ela. Tirou um cigarro da bolsa e girou-o
nos dedos, ponderando.
Já chega disso, Jane! Ela pensou ao jogar a carteira toda de cigarros no lixo.
Duas ou três pessoas interromperam seus devaneios para pedir-lhe uma foto, as
quais ela pensou em recusar veemente. Pensou no que Chris faria naquele momento: ele
aceitaria com prazer e sorriria sincero para a câmera. Então, ela fez o mesmo e
experimentou um sentimento novo ao ver os sorrisos alegres e gratos nos rostos
daquelas pessoas. Sorriu mais uma vez, porém sozinha.
–– Seu sorriso é muito bonito, se me permite dizer... – Imaginou ser outro fã,
mas surpreendeu-se ao notar que conhecia aquele rosto de algum lugar.
♥
11 ♥
–– Posso me sentar aqui?
Lohanne ficou absorta nos olhos azuis esverdeados do rapaz. Ela notou que a
franja dos cabelos escuros lhe dava um belo charme. A voz doce e aveludada era
aprazível de se ouvir. A atriz ponderou as palavras dele por um instante e antes que
pudesse responder, ele emendou:
–– Vou considerar como um sim.
Ousado, ela pensou. Forçou a memória, mas não se lembrava de onde o
conhecia. Objetiva, resolveu perguntar.
–– Eu o conheço?
–– Eu espero que sim – ele sorriu. Notou que não havia copo sobre a mesa e
arriscou. –– Posso te pagar uma bebida?
–– Não – ela disse direta, resolveu ser educada e completou. –– Obrigada.
Ele murchou por um instante e ameaçou levantar.
–– Espere – ela pediu. Havia algo nele que a tirava o sossego... Mas o quê?
Ele a encarou por alguns segundos, curioso.
–– Preciso saber de onde o conheço.
–– Certo! – ele sorriu. –– Suponho que se lembre do elenco de Doce Acaso, não?
Dos figurantes, especificamente – reforçou a dica.
Mary Jane repassou na mente os figurantes de que se lembrava. De súbito uma
memória em especial invadiu suas lembranças.
–– Você veio falar comigo quando fui substituída pela Amelie... – os olhos dela
se arregalaram com a surpresa. Lembrou de como havia sido rude com o rapaz na
ocasião. Estava tão cega de raiva naquele dia...
Depois dessa, outras tantas lembranças vieram. Recordou-se das vezes que o
rapaz a elogiou pela brilhante atuação, ou quando ele tentou chamá-la para sair, todas
tentativas frustradas. Lembrou, por fim, do nome dele.
–– Nicholas Paz – anunciou ela.
–– Pode me chamar de Nick.
Conversaram por tempo suficiente para que os paparazzi entendessem tudo de
forma equivocada. Mary Jane precisou contatar seus seguranças para poder sair do
local.
Nick anotou o número do seu telefone em um guardanapo de papel e o entregou
para ela com uma piscadela. Ela garantiu que não telefonaria e, numa nuvem de
pessoas, ela saiu às pressas deixando-o para trás.
♥
12 ♥
No outro dia, após uma longa noite de sono, Mary Jane despertou com o sol
invadindo o quarto. Enquanto tomava um café forte, abriu o notebook sobre a cama e
começou a ler alguns dos tabloides que falavam sobre ela.
Novo affair de Mary Jane?
Lohanne está namorando?
A estrela de Actown e o também ator Nicholas Paz estão juntos?
As matérias eram muitas e todas recheadas de equívocos, exageros e mentiras.
Revirou os olhos para uma que dizia: "Os olhares apaixonados não mentem. Será que
vem romance por aí?". Encarou a foto e por um segundo pensou ter visto um brilho
diferente em seu olhar, mas logo a impressão se dissipou. Aquilo não era possível, era?
Mal o conhecia...
Um tanto irritada, sentiu a cabeça latejar. Procurou pela bolsa em busca de um
analgésico. A constatação óbvia veio após longos minutos procurando pela bolsa que
não estava naquele apartamento. Procurou seu celular no bolso da jaqueta e junto dele
encontrou um pequeno papel rabiscado com uma sequência de números.
Ligarei apenas para pedir que me devolva o que me pertence. Ele que não vá
pensando que estou dando mole, pensou enquanto digitava os números no teclado do
celular de forma apressada.
Ligou e a voz sonolenta do outro lado disse:
–– Sentiu saudades mais cedo do que eu imaginava – escutou um riso abafado
que a fez revirar os olhos de raiva. Bufou impaciente.
–– Você está com a minha bolsa?
–– Bom dia para você também.
Impaciente ela respirou fundo e tentou não ser rude, algo que há algum tempo
vinha praticando.
–– Bom dia, Nicholas. Deixei minha bolsa no pub ontem. Você a viu?
–– Sim. Está comigo. Posso devolver para você hoje, ao meio dia, no Palace?
–– Palace é um restaurante.
–– Estou convidando-a para almoçar comigo.
Ela estacou diante da proposta e sua primeira atitude seria negar furtivamente,
no entanto não acreditou nas palavras que escaparam de seus lábios.
–– Eu aceito.
E antes que pudesse corrigir, ele completou:
–– Será um prazer.
♥
13 ♥
Encerrou a ligação e se jogou no sofá. Como nunca havia acontecido antes, ela
sentia-se como uma adolescente em seu primeiro encontro.
Céus... É só um almoço, Mary Jane! Vamos, se acalme e pense direito...
Não sabia o que vestir tampouco se deveria mesmo ir. Sequer sabia o motivo de
tal preocupação. Afinal, não iria apenas buscar sua bolsa?
Ao meio dia, lá estava ela. Encontrou-o à sua espera e se dirigiu até ele. Por
algum motivo, os passos sempre tão firmes naquele dia pareciam menos confiantes, mas
ela não deixou transparecer.
O almoço estendeu-se à medida que ela se soltava. Aos poucos se sentia mais
confiante e astuta. Ele exalava calmaria e confiança, o que dava a ela liberdade para se
abrir. Aos poucos ele foi driblando os espinhos daquela bela mulher. Ela sequer notava,
mas estava deixando-o adentrar cada vez mais em seu ser. Era a primeira vez em anos
que se sentia assim.
Ela ria e discursava sobre um assunto qualquer quando Nicholas finalmente
segurou a mão dela na sua. Como se houvesse levado um choque, ela se calou. Retraiu-
se novamente e despediu-se às pressas. Ela não queria ceder assim tão fácil, estava
rápido demais. Precisava de espaço e de tempo. Mas então... Por que parecia tão difícil
partir?
Os dias se passaram com inúmeros pedidos de desculpas por parte dele.
Temendo tê-la afugentado para sempre, ele sentia no coração um pesar que aumentava
conforme os dias passavam sem sinal de resposta de Mary Jane. Respeitando o espaço
dela, Nicholas decidiu se afastar, embora aquilo lhe custasse muito esforço.
Mary Jane lutava com dezenas de sentimentos em conflito, alguns que ela sequer
reconhecia. Quando Nicholas deixou de procurá-la, ela sentiu saudade, embora tentasse
esconder o sentimento de si mesma. Aquele rapaz realmente havia mexido com ela e, no
fundo, ela sabia disso.
Dias depois se deparou com uma foto dos dois em uma revista que uma senhora
lia no saguão do Palace.
–– Como é bonito o seu namorado... – a mulher que lia a revista disse para ela.
–– Ele não é meu namorado – ela respondeu tentando não soar grosseira.
–– Aqui diz que é – ela mostrou-lhe a manchete. Mary Jane encarou a foto que
acompanhava a notícia e sentiu uma pontada no estômago.
♥
14 ♥
A imagem captara a forma como Nicholas olhava para ela com admiração
enquanto ela ria com vontade. Reconheceu o momento anterior ao toque gentil das
mãos. Instantaneamente ela entendeu o quanto aquilo a assustara.
Estivera tão perto de desnudar-se para alguém que mal sabia quem era, mas que
parecia conhecer a vida toda. Sua mente estava repleta de dúvidas. Já tinha apostado
tantas fichas no amor e não havia dado certo, será que agora o jogo iria mudar e
favorecê-la? Será que o amor batia à sua porta e ela não enxergava isso?
A ligação entre eles de repente tornara-se quase palpável de tão real. Permitiu
que os sentimentos e sensações recém afloradas percorressem seu corpo,
impulsionando-a a tomar uma atitude. Precisava vê-lo, precisava sentir de novo a
conexão de suas almas e tirar a prova de que tudo aquilo era verdadeiro. Tomada por
algo inexplicável, ela dirigiu até o hotel no qual ele se hospedava.
Lembrou-se que no dia em que se encontraram, ele havia mencionado onde
estava hospedado, antes dela sair correndo escoltada pelos seguranças.
Sem pensar muito nas suas atitudes, apenas sendo levada pelo momento, ela
decidiu encontrá-lo. Nunca saberia o rumo daquela história se não decidisse tentar.
Ao chegar à porta do quarto dele, bateu várias vezes, porém não obteve resposta.
Frustrada, ela decidiu dar meia volta e ir embora. Talvez o que sentira fora apenas um
equívoco...
O elevador abriu as portas e ela entrou de cabeça baixa. Não queria olhar no
espelho e ver sua expressão visivelmente abatida.
Não notara que havia alguém ali muito surpreso em vê-la.
–– Mary Jane?
Ela ergueu os olhos e viu Nicholas parado a poucos centímetros dela. Ele estava
com uma regata branca e uma calça de moletom cinza, o que denunciava que
provavelmente havia saído para correr. Naquele momento ela o achou extremamente
sexy.
–– O que faz aqui?
–– Há algo em você que me tira o sossego – ela revelou.
–– E você veio aqui para...? – ele sorriu maroto e deu um passo para mais perto
dela, olhando-a nos olhos.
Mary Jane observou os braços de Nicholas que agora exibiam músculos
tonificados e não pôde negar que ele a atraía de forma surreal. Ele era realmente lindo,
charmoso e parecia enxergar algo nela que ela mesma não via.
♥
15 ♥
Nicholas percebeu que ela o estudava com atenção e resolveu provocá-la ficando
a poucos centímetros de sua boca. Ele baixou os olhos para a boca dela e prendeu o
corpo dela entre ele e o elevador, deixando sua respiração fora do ritmo.
Mandando todo o bom senso para o espaço, ela agarrou o rosto dele com as
mãos e o presenteou com o melhor beijo que ele já provara; devorador e arrebatador
como Lohanne era. A sensação dos lábios dele contra os dela causou em Mary Jane algo
que não sentia há algum tempo; desejo e paixão. O melhor de tudo era sentir toda aquela
entrega totalmente correspondida. Nick a apertou contra seu peito e isso fez Jane flutuar
antes de afastá-lo.
E se tudo for apenas um engano? Ela cogitou.
Encurralada contra o espelho do elevador, Mary Jane tentou desviar o olhar. No
entanto, era tarde demais para fingir que não acontecia nada entre eles.
–– Olhe nos meus olhos e diga que não sente nada – ele suspirou rendido. – Se
me disser, eu juro que nunca mais procurarei por você.
Ela o encarou com o olhar profundo de quem estava prestes a contar um segredo.
A intensidade daquele olhar feroz o fez vacilar um instante.
–– O que quer que eu diga? Que você me enlouqueceu? E que não paro de
pensar em você? Que nunca me senti assim antes? – ela o soterrou de perguntas que, na
verdade, eram respostas aos próprios sentimentos.
Nick sorriu e afagou o rosto dela com o polegar. Ela fechou os olhos e se
permitiu sentir aquele carinho.
–– Jane, eu só queria que você admitisse para si mesma algo que eu já sabia –
ele disse com a voz suave.
Com a calma característica de Nick, ele tocou os lábios dela de leve. Ela o puxou
para mais perto e ele intensificou o beijo. Beijou-a com toda a paixão guardada por
muito tempo, apreciando o leve roçar das unhas dela em suas costas.
Finalmente conseguira tocar o coração de Mary Jane e prometeu a si mesmo que
faria por merecer aquilo. Ela nunca mais estaria sozinha se dependesse dele.
O que seria um dia comum de férias para dois atores, foi preenchido com
descobertas, sensações e sentimentos que os dois descobriram juntos.
A história dos dois agora estava nas mãos cuidadosas do tempo e do destino.
♥
16 ♥
Capítulo 3 A viagem foi um pouco cansativa para Amelie, mas cada segundo foi
recompensado quando ela finalmente viu a iluminada Miami estender-se à sua frente.
Durante o trajeto até o resort onde se hospedariam por duas semanas inteiras, Amie
contemplava a cidade naquela noite fresca, sentindo os cabelos esvoaçarem quando
decidiu abaixar o vidro do carro. O aroma característico do litoral trouxe a ela boas
sensações e ela mal podia esperar para conhecer tudo.
Chris garantiu que faria de tudo para que ela vencesse o trauma de nadar, pois
queria que ela aproveitasse ao máximo todas as atrações do local. Sabia que não seria
nada fácil fazê-la entrar na água outra vez depois de tudo que aconteceu, mas também
queria levá-la à praia e já havia preparado um cronograma para fazerem na região. Não
queria prendê-la o tempo todo dentro do quarto, mesmo que a ideia de estar a sós com
ela não fosse ruim.
–– Chris, o clima aqui é tão agradável! – ela disse enquanto contemplava a vista
dos arredores do hotel.
–– Tem razão. E é lindo, não é? – ela concordou com um aceno de cabeça,
hipnotizada pela paisagem que se desdobrava à sua frente.
Quando Amie pensava que nada mais a surpreenderia, Chris dava um jeito de
provar o contrário. Ela mal pôde acreditar no que seus olhos viam quando chegaram ao
resort. Era tão magnífico que ela não sabia nem o que dizer. Eles foram direto para o
bloco de hospedagem, que era imenso. A recepcionista, perfeitamente trajada em seu
uniforme azul claro, sorriu abertamente para o casal por trás do balcão de mármore. Ela
conversou com Chris mais tempo do que Amelie gostaria, mas Chris pareceu não notar
a simpatia exacerbada da moça. Ela entregou o cartão de acesso do quarto e o casal
rumou para lá de mãos dadas.
Amelie surpreendeu-se outra vez ao abrir a porta. Ainda maior que a suíte da
noite de núpcias, esse quarto ainda possuía uma pequena sala com portas de vidro com
vista para a praia e uma pequena cozinha integrada ao espaço. A suíte ficava mais ao
fundo, tão esplêndida que Amie ficou sem ar.
–– Uau, Chris! Você já esteve aqui? – Amie quis saber.
♥
17 ♥
–– É a terceira vez que me hospedo nesse hotel, mas é a primeira vez que venho
acompanhado – ele sorriu de canto para ela. – É um dos meus favoritos aqui em Miami.
Especialmente porque é perto da praia.
Amie olhou para o chão assim que ouviu aquelas palavras. Já tinha subentendido
que ele iria levá-la até o mar... E por mais que desejasse aquele contato com a natureza,
ainda sentia um tremendo medo devido ao trauma.
–– Eu ainda não superei os meus medos, Chris – ele tocou o rosto dela
gentilmente com seu polegar direito e olhou carinhosamente para ela.
–– Não há o que temer, pois eu estarei contigo. Prometo que nada de mal irá te
acontecer. Eu partirei daqui muito mais feliz com a certeza que o meu amor te ajudou a
progredir na cura do trauma. Confie em mim, minha querida.
–– Eu confio em você com todo o meu coração – ela disse e Chris deu um beijo
carinhoso em sua testa.
Os dois não se importavam com mais nada ao redor deles, pois seus corações
pulsavam no mesmo ritmo. O ritmo do mais puro amor que poderia existir.
***
Os pombinhos resolveram passear pelo The Ritz – Carlton Key Biscayne1 e
conhecer melhor as dependências do resort. Se ela havia ficado de queixo caído com
Actown, o que poderia dizer daquele lugar? Era simplesmente magnífico e a vista para a
praia era maravilhosa!
Provavam um drink colorido em uma mesinha branca próxima à piscina quando o
celular de Chris vibrou anunciando uma mensagem. Ele sorriu travesso para Amie como
quem planeja algo.
–– O que você está aprontando? – os olhos dela brilharam de curiosidade.
–– É surpresa. Desculpa, mas terei que colocar essa venda em você – ele tirou o
acessório do bolso e antes que ela protestasse, ele cobriu seus olhos para que tudo saísse
de acordo com o plano.
–– Chris, eu vou cair! – ela riu. – Não estou vendo nada.
–– Eu vou guiá-la. Eu garanto que valerá a pena!
Chris orientou Amie para que não tropeçasse nos degraus da escada do hotel.
Ambos entraram em uma BMW preta e seguiram para o destino que Chris tanto
ansiava.
1 Resort localizado em Miami, Flórida.
♥
18 ♥
O carro os levou até um porto e o iate alugado por Chris já estava lá conforme
ele havia pedido. O barco branco com dois andares era belíssimo e imponente. Amie
ficaria boquiaberta quando o visse.
–– Preparada, querida? – Chris retirou o acessório de Amelie e ela ficou
completamente maravilhada. Estava encantada com cada detalhe daquela luxuosa
embarcação.
–– Uau! Eu... Chris, ele é lindo! Aonde vamos?
Chris a levantou e a girou no ar, Amelie abriu os braços e se deixou levar pelo
momento. Ele a beijou apaixonadamente e ela correspondeu com todo o amor que tinha
para lhe dar.
–– Quero que conheça um lugar especial para mim. Tenho certeza que será
inesquecível. Pedirei para que Heitor dê a partida agora mesmo. Espere aqui.
Enquanto Amie tentava absorver cada detalhe daquela surpresa, Chris foi até a
cabine para falar com o piloto do iate. Heitor era muito experiente no que fazia, portanto
Chris estava certo de que o passeio até Bill Baggs Cape State Park2 não teria nenhum
problema.
Chris encontrou Amie hipnotizada pela vista e a admirou por alguns segundos
antes de chamá-la.
O casal dirigiu-se até a cozinha do iate onde jantaram à luz de velas e brindaram
a felicidade com um excelente vinho tinto escolhido criteriosamente por Chris.
Pouco tempo depois, Heitor avisou-os de que haviam chegado até a ilha.
Amelie estava extasiada com a magnitude daquele lugar, especialmente com o
farol que ela tanto queria conhecer.
–– Esse lugar é tão lindo que merecia ser eternizado em uma pintura. Eu sabia
que você ia adorar esse lugar, Amelie. É romântico e inspirador, não é? E a vista do alto
no farol é extraordinária! Venha, vou te mostrar – ele entrelaçou a mão na dela,
guiando-a pelo caminho que já conhecia.
Amelie fotografava tudo com a câmera que havia ganhado de Anita. Ela não
queria perder nenhum detalhe sequer. Não sabia quando ela e Chris poderiam fazer uma
viagem assim novamente devido as agendas lotadas dos dois.
A noite estava agradável e o vento fazia os cabelos soltos de Amie esvoaçarem
no ar, o que só deixava Chris ainda mais encantado pela beleza natural dela.
2 Parque no sul da Baía de Biscayne, em Miami, Flórida. O lugar conta com diversas atrações além da praia e do farol.
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19 ♥
A menina ficou um bom tempo observando a ilha do alto, quando de repente
Chris a puxou para um abraço e a apertou contra si.
–– Você me faz muito feliz, Amie. Agora estou completo e nada no mundo pode
pagar isso. Eu amo você.
–– O que você me proporciona é impagável, Chris. Sonhei a vida toda com esse
amor e a cada dia eu te amo ainda mais.
Ela sorriu docemente e acariciou o rosto de seu amado. Ela se sentia em um
conto de fadas que felizmente era real. Ele era seu Edward e ela seria sua Beth para
sempre.
***
Naquela manhã Amelie decidiu acompanhar Chris até a praia, mas não garantiu
que iria entrar na água. Era mais provável que ficasse apenas tomando sol e uma
refrescante água de coco.
Ela revirou os olhos quando o viu tirar o short azul marinho e se jogar no mar
alegre como uma criança. Divertiu-se vendo as caras e bocas que ele fazia em sua
direção, obviamente a desafiando a entrar.
Sua atenção, no entanto, voltou-se a um rapaz que a chamava ao seu lado.
–– Desculpe... Você é a Amelie Wood, não é? – perguntou um jovem moreno de
olhos escuros e cabelos cacheados queimados de sol que segurava uma prancha de surf.
–– Sim, sou eu – ela sorriu ao se dar conta de que agora seu sobrenome mudara.
O rapaz a acompanhou no sorriso. – Amelie Martin, na verdade.
–– Martin. Certo. Eu sou muito fã do seu trabalho tanto como atriz quanto como
bailarina. É um prazer conhecê-la! – ele beijou a mão dela e Amie sorriu nervosa.
–– Ah, obrigada. E você, como se chama?
–– Natan. Sou surfista – apontou para a prancha. – Que sorte encontrar você
aqui! Será que podemos tirar uma foto? – pigarreou ele abaixando-se perto dela na areia
fina.
–– Claro! – Amie gesticulou com as mãos para o alto. – Claro que posso tirar
uma foto com você. Sou muito grata pelo carinho que recebo dos meus fãs – Natan tirou
o Iphone do bolso do short laranja e fez a foto dando um beijo no rosto de Amelie.
–– Obrigado! Você é tão gentil quanto eu imaginava. E seja muito bem-vinda a
Miami. Espero te rever algum dia – deu uma piscadela para ela e acenou antes de
♥
20 ♥
desaparecer da vista de um marido bastante enciumado que acabara de sair de um banho
de mar.
Chris cruzou os braços e arqueou as sobrancelhas encarando Amelie na tentativa
de fazê-la se sentir culpada por dar tanta atenção a um estranho atirado demais para seu
gosto. Ela não conteve o riso e deu uma gargalhada.
–– Do que está rindo? – perguntou confuso.
–– Isso tudo é ciúmes de um fã? – provocou ela.
–– Fã? Até parece!
–– Chris, não precisa ficar enciumado. Você está acostumado com fãs melhor do
que eu. Só quis ser gentil com o rapaz – ela deu de ombros.
–– Ele não queria apenas uma foto, estava jogando o charme dele de surfista em
você – retrucou.
–– Vou me lembrar disso quando alguma funcionária do hotel demorar mais que
o necessário como pretexto para ter um tempinho extra com o ídolo – Amie provocou.
Chris deu um sorriso e sentou-se ao lado dela na esteira.
–– Admito que fiquei bastante enciumado vendo aquele moleque dando em cima
de você. Esqueci-me que além de minha esposa, também é uma celebridade! – brincou
ele. Chris iria continuar a tagarelar quando ela o calou com um beijo demorado.
Ao fim do dia, o casal quis curtir a presença um do outro de forma mais
reservada. Chris solicitou que o quarto fosse perfeitamente arrumado da forma que
Amelie merecia.
Os dois haviam curtido o dia todo fora e, ao chegar ao quarto, Amie ficou
surpresa.
Ela avistou algumas pétalas de rosas que forravam o chão formando uma trilha
até o banheiro. O quarto estava iluminado somente com as velas decorativas e a luz da
lua que entrava pela janela aberta. Amie seguiu a trilha com Chris logo atrás. O
ambiente estava bastante romântico e convidativo com uma banheira cheia, pétalas e
sais de banho a disposição, além de velas perfumadas, um champanhe, duas taças e
alguns morangos.
Chris pediu que ela esperasse um minuto e desapareceu no quarto, voltando
quando uma melodia suave invadiu o local.
Amie mal conseguia falar diante do gesto romântico de Chris. Ela tentou
pronunciar algo em agradecimento, mas não foi necessário. Apertou-o em um beijo
♥
21 ♥
apaixonado e deixou-se levar no embalo da música e do seu amor, entregando-se nos
braços do seu amado.
***
Amie abriu seu exemplar de Doce Acaso na página que havia parado. Ela estava
sentada na sacada do quarto lendo sob a luz das estrelas. Vestia a camisa de Chris e o
cabelo preso em um coque frouxo.
Observou a capa do livro e suspirou. Sentia-se realizada. Graças a ele tudo
aquilo estava acontecendo, por isso ela não poderia deixar de levá-lo na viagem.
Apertou-o contra o peito e agradeceu à sua mãe por aquele presente. Uma pequenina
borboleta azul passou por ela e pousou em seu joelho. Ela soube, então, que a mãe havia
ouvido o agradecimento.
–– Acordada ainda? – Chris surgiu ao lado dela com o cabelo bagunçado,
fazendo-a rir.
–– É que o céu está tão estrelado – ela evidenciou olhando para cima em direção
as estrelas.
–– Tem razão – ele juntou-se a ela no pequeno sofá da varanda e pousou a
cabeça no ombro dela. Ela passou as mãos pelos cabelos escuros dele e ele fechou os
olhos.
Passaram longos minutos assim até que Chris quebrou o silêncio com uma frase
nada romântica.
–– Amie... Eu estou faminto.
Ela gargalhou e levantou-se pedindo que ele esperasse ali. Ele estranhou o
barulho na cozinha, mas se manteve firme na promessa de que não sairia dali. Algum
tempo depois, Amie apareceu com uma taça grande cheia de um doce amarelo.
–– Pelos velhos tempos! – ela anunciou. Ele provou uma colherada e arregalou
os olhos.
–– Meu Deus, Amie! De onde você tirou mousse de maracujá a essa hora da
madrugada? – ele riu e mergulhou a colher novamente no doce, preparando outra
colherada.
–– Eu o fiz graças às regalias dadas ao Sr. Martin. Consegui os ingredientes
facilmente – ela confidenciou.
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22 ♥
Desfrutaram da sobremesa madrugada adentro enquanto riam e conversavam.
Chris deu colheradas do doce na boca de Amie que se encheu de alegria ao ver que um
simples gesto o deixara tão feliz.
Ambos não poderiam estar mais felizes. O amor que existia entre eles era fruto
de um feliz e doce acaso.
Ou destino.
♥
23 ♥
Capítulo 4 Conforme os dias iam se passando, Amelie se via ainda mais conectada à alma
de Chris, além do que ela poderia imaginar. A lembrança do pôster com a marca de
beijo colado na parede do quarto, em Lady Lake, parecia uma lembrança muito distante
do momento que ela estava vivendo ao lado do seu amado. Aos poucos começava a
compreender o que significava tornarem-se um só, assim como sua mãe era
profundamente ligada ao seu pai e lhe falava que um lar feliz é constituído de
companheirismo, respeito, compreensão mútua e muito amor.
Chris era o único capaz de enxergar quem realmente ela era por dentro e o amor
dele era demonstrado todos os dias, não apenas com o “eu te amo”, mas com as atitudes
que tanto a encantavam.
Uma das surpreendentes atitudes dele era justamente o empenho para que ela
perdesse parte dos seus medos relacionados ao seu trauma. Chris era obstinado e
paciente e não desistiria até conseguir o que desejava.
Na primeira semana de lua de mel Chris convenceu Amelie a entrar no mar após
o pôr do sol, com o pretexto de que a vista para o horizonte era muito mais bonita de
onde ele estava do que da areia. Ela titubeou algumas vezes com medo de que uma onda
a pegasse em cheio, mas ele lhe garantiu que era um ótimo nadador e jamais deixaria
que ela se afogasse. Ela se deu por vencida e deixou que Chris segurasse sua mão de
forma protetora, caminhando ao lado dele até alcançarem o mar.
Quando Amelie sentiu a água gelada tocar em sua pele, um arrepio percorreu por
seu corpo. Ela não sabia se era pela água gelada ou pelo medo. Olhou para Chris que
notou seu olhar assustado e passou seus braços em volta do corpo dela tranquilizando-a
até a sensação se dissipar. Aos poucos a sensação da água em seus tornozelos se tornou
agradável, mas ela deixou um grito escapar quando uma onda atingiu a sua cintura.
–– Chris, aqui está bom, por favor. Não posso passar daqui... – disse ela olhando
fixamente para ele. Chris a puxou para mais perto de si e encostou a cabeça dela em seu
peito. Ela fechou os olhos e sorriu por estar ali ouvindo as batidas do coração dele. O
calor do corpo dele fazia a garota esquecer-se da gélida água do mar.
–– Tudo bem, meu amor. Até aqui está ótimo, você está indo muito bem. Não
quero te amedrontar. Veja só, não parece que o sol está perto de nós? É uma vista
espetacular! – ele apontou para o sol que pouco a pouco imergia no horizonte.
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24 ♥
–– Eu só vim por você, mas admito que você está certo! De fato o pôr do sol
daqui é muito mais bonito. Obrigada por me proporcionar essa experiência – ela
ofereceu um olhar agradecido para ele, mas titubeou por poucos segundos antes de
continuar.
–– Mas eu estou congelando agora... Podemos sair?
–– Está bem! Eu só queria te mostrar que a coragem está dentro do seu coração.
Basta procurá-la e dar uma oportunidade para que ela seja mais forte que seus medos. É
como andar de bicicleta depois de vários tombos... – Amie estava completamente
absorta em suas palavras. Ficava encantava quando ele compartilhava com ela seus
conhecimentos dessa maneira.
–– Amie, no começo tememos que as quedas voltem a acontecer, mas é preciso
acreditar que podemos pedalar de novo como antes. E a sensação que sentimos depois
de pedalar na bicicleta e ver que não caímos é incrível. É libertadora! A vida é feita de
erros e acertos, é um ciclo de aprendizado. Cair faz parte, mas levantar também. Tudo
que estou fazendo é apenas dar o empurrão com rodinhas, até que você perceba que
pode andar sem elas – ele pensou por um segundo e sorriu. – Ou melhor, nadar sem
bóias braçais! – Chris olhava afetuosamente para Amelie enquanto lhe transmitia os
sentimentos que desejava, pois sabia que não faria nenhum milagre, mas estava convicto
de que até o fim da viagem Amelie sentiria menos medo da água e, com o tempo, quem
sabe o trauma fosse apenas uma lembrança de dias tempestuosos em sua vida.
–– Eu nem sei o que dizer depois de palavras tão lindas como essas, Chris.
Quando penso que já me demonstrou seu amor de maneiras grandiosas, você me
surpreende desse jeito. Hoje foi a primeira vez que fiquei minutos na água e me senti
segura. Você é o meu porto seguro. É o caís onde o barco da minha vida sempre vai
atracar. Obrigada!
Chris a carregou em seus braços e a levou para o lugar que reservaram na praia
assim que chegaram. Cobriu-a com um roupão, pois ela tremia de frio e beijou sua testa
carinhosamente.
— Estou louca por um banho... – ela fez uma pausa enquanto fechava o roupão
escuro. – Qual a programação para hoje à noite?
–– Depois do banho e de jantarmos, eu prefiro ficar no quarto com você
assistindo a um bom filme. Estou um pouco cansado por causa daquela partida de tênis
contra aquele hóspede do hotel.
–– Aquela que você perdeu? – Amie zombou cutucando o braço dele.
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25 ♥
–– Eu o deixei ganhar! – ele se defendeu entrando na brincadeira. – Sabe como
é... Eu não podia rejeitar o pedido de um fã para jogar contra mim.
–– Claro... – ela provocou.
–– Está duvidando de mim? – Chris perguntou com as duas mãos na cintura,
fingindo estar ofendido.
–– É que você está me parecendo meio molenga – brincou.
–– Molenga, é? – ele a pegou no colo.
–– Chris, eu vou cair! – Amie protestou gargalhando, mas ele fingiu não ouvir.
–– Vou te carregar daqui até o hotel – ele disse sorrindo.
Voltaram para o hotel onde Chris só soltou Amie ao entrar no quarto. Assim que
ela pôs os pés no chão, entrelaçou os dedos no cabelo dele e o beijou com paixão.
–– Você é o melhor marido do mundo.
***
Depois de um banho relaxante, Amie e Chris estavam renovados. Ela também
estava cansada porque se dedicou a treinar na academia por duas horas na manhã
daquele dia enquanto ele ainda dormia.
Naquela noite Chris se aventurou em preparar um estrogonofe de frango para
Amelie e ela achou o prato feito por ele uma verdadeira delícia.
–– Antes de qualquer coisa, o senhor está me saindo um excelente chef, meu
amor. A comida está aprovada! – os elogios de Amie deixaram Chris envaidecido.
Jantaram na varanda que Amie tanto amava enquanto uma brisa macia os
tocava. Ao fim do jantar Chris se dispôs a lavar a louça.
–– Você vai pedir revanche ao Ramirez? Ou vai se conformar que o tênis não é
muito a sua praia? – perguntou Amie enquanto bebericava um pouco de vinho tinto
encostada na pia ao lado do marido.
–– Aquele espanhol é mesmo bom nesse esporte. Tenho que admitir que nisso
não sou talentoso – brincou ele. – Meu talento é atuar e, é claro, te arrancar sorrisos e
suspiros de paixão – disse ele com um sorriso maroto.
Chris tirou o avental que usava relevando seu peitoral nu. Em seguida
aproximou-se de sua esposa, segurou o rosto dela delicadamente e a beijou. Ela
envolveu o corpo dele com seus braços e retribuiu o beijo do seu amado.
Enroscados no sofá, os dois assistiram a uma comédia-romântica, cobertos pelo
edredom branco e macio. Entre uma cena e outra havia beijos, carinhos e afagos. O
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26 ♥
casal apreciava o delicioso sabor da paixão que muitas vezes é avassaladora e aos
poucos se solidifica em algo que ambos conheciam bem: o amor.
***
Os últimos dias daquela inesquecível viagem finalmente chegaram. Amelie
aproveitou para fazer compras no Shopping de Miami, pois queria levar lembranças
para suas amigas e presentear a mãe de Chris, que agora com muita alegria era sua
sogra.
Chris ainda levou sua amada para conhecer o Hard Rock Café, um local perfeito
para a nostalgia musical, pois possui diversos objetos interessantes como a famosa
jaqueta vermelha do Michael Jackson, um dos vestidos da Shakira, uma guitarra que
pertenceu a um dos integrantes do Metallica e até mesmo um disco de platina do
Guns’N’Roses. Amelie ficou fascinada com tudo que viu e aprendeu sobre muitos
artistas. Amava ouvir Chris lhe contando entusiasmado sobre todas aquelas coisas.
Ela apreciou o local de exposição dos objetos e ficou deslumbrada com o
ambiente. Fotografava tudo que lhe era interessante sobre aquela viagem inesquecível.
Não via a hora de poder mostrar tudo às irmãzinhas!
Diversas vezes o casal foi abordado por fãs que os reconheciam e pediam fotos e
autógrafos que os dois atendiam com muito prazer. Só resolveram deixar o local quando
um pequeno alvoroço começou a se formar, pois sabiam que seria muito difícil sair sem
a ajuda dos seguranças a quem eles deram folga durante a lua de mel.
Aquelas duas semanas foram mágicas e ficaram gravadas no coração de Amelie.
Enquanto ambos almoçavam em um dos restaurantes do hotel após uma manhã
recheada de atividades, Amie já se sentia saudosa de Miami.
Uma lágrima rolou solitária em sua face.
Chris estava terminando de cortar um steak au poivre vert, quando viu os olhos
de Amie tristes e ficou atônito de preocupação.
–– O que houve, meu amor? Aconteceu alguma coisa?
–– Não é nada que você precise se preocupar...
–– Se algo te tira a paz, então é motivo para me preocupar, sim.
–– Às vezes eu me pergunto o que fiz para te merecer… Você é tão incrível, às
vezes ainda não acredito que tudo isso é real e que você escolheu a mim para dividir
tudo isso... Estou vivendo um sonho!
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27 ♥
–– Você me conquistou com o seu coração puro. Eu ficaria uma vida inteira para
descrever suas qualidades e ainda não bastaria. Mas quero saber o motivo dessas
lágrimas. Eu fiz algo que te magoou?
–– Não, claro que não! É que a viagem foi muito especial e eu já começo a sentir
saudade de tudo que vivemos aqui. Adorei tudo, inclusive passear de bicicleta com você
e fazer piquenique no jardim hoje – ela listou.
–– Sei que terei pouco tempo para nós dois quando eu voltar a trabalhar, mas
sempre vou arrumar um jeito para estarmos juntos. Nem que para isso precise fugir de
vez em quando e fazer algumas loucuras. Em nome do amor vale tudo! O amor é
insano, contraditório muitas vezes, mas é necessário para preencher de sentido a nossa
existência, não é?
–– Não sabia que além de tudo, você também podia ser poeta – sorriu encantada.
–– Eu sou o que você quiser. Ainda terá muita coisa para conhecer sobre mim.
Temos uma vida a compartilhar e desnudaremos as nossas almas conforme os anos se
passarem. Seremos transparentes um para o outro. Apenas o coração poderá enxergar o
que os olhos não veem – ele sorriu de orelha a orelha ao notar o olhar apaixonado dela,
seguido de um suspiro.
O casal prosseguiu a refeição onde o melhor tempero era o amor. Ambos eram
como livros que iam sendo lidos cada vez mais avidamente. A conexão que tinham
ficava ainda mais forte a cada dia que se passava.
O dia de retorno para a casa chegara e Amelie estava absorta em cada momento
especial da viagem enquanto o avião decolava. Ela dava adeus a Miami, um lugar
maravilhoso em que viveu dias intensos de muito amor e paixão.
Lembrou-se da imensa felicidade que sentira na última semana, pois conseguira
ficar com Chris na piscina por muito mais tempo. Ela estava superando o medo. As
lembranças do trauma vinham com força, mas ali estava o grande amor da sua vida e ele
era tudo que ela precisava para ter apoio e progredir.
No dia em que ela mergulhou na água e não sentiu tanto medo como antes,
ficou em êxtase. Era um passo em direção à vitória.
Chris a instruiu que trocasse os momentos tristes por recordações felizes quando
mergulhasse e ela o fez por várias vezes até que finalmente se sentiu melhor.
Agora podia usufruir de um banho de piscina com o homem mais lindo do
mundo sem ficar apavorada. Ela sentiu-se mais próxima da sonhada liberdade e passou
a sonhar com o dia em que finalmente voltaria a nadar.
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28 ♥
O pavor de voos quis tomar conta de Amelie quando o avião pegou impulso e
decolou. Mesmo depois de várias viagens no grande pássaro metálico, ela ainda não
tinha se acostumado ao momento da decolagem. A mão dela suava e ela ofegava, mas
Chris segurou na mão de sua esposa e sussurrou em seu ouvido que fizesse o exercício
de respiração para relaxar e lhe disse que podia apertar a mão dele até o medo passar.
Ela o fez até que se sentiu segura, mas preferiu não soltar da mão dele quando
viu uma aeromoça passar perto dele com um olhar provocativo e um sorriso largo
demais nos lábios vermelhos. Amelie beijou seu marido discretamente como se quisesse
assegurá-la de que aquele homem a pertencia. A aeromoça revidou com um olhar
invejoso e empinou o nariz antes de se retirar para a cabine. Chris não entendeu a razão
pela qual Amelie abafou um riso de repente, mas ela garantiu que explicaria o motivo
outra hora.
Os dois voaram de volta para a casa provisória em Leesburg onde morariam por
um determinado tempo. Chris tinha planos maiores para sua amada esposa, incluindo a
casa que ele projetava com ela, passando para o papel o sonho de ambos.
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29 ♥
Capítulo 5
Numa manhã de sábado, semanas após a volta da lua de mel, Amie e Chris
decidiram visitar as meninas do abrigo. As garotinhas, como sempre, vibraram na
presença dos dois e algumas se derreteram ainda mais por Chris.
Amie mostrou a elas as fotos dos lugares que visitou ao lado do marido e contou
sobre os passeios e surpresas de Chris e até como ele a fizera superar o trauma de água.
Elas ouviam tudo com os olhinhos brilhando, mas o auge daquela manhã foi
quando Amie distribuiu para elas algumas lembrancinhas que trouxera para cada uma.
Em meio a sorrisos e agradecimentos, o celular de Amie vibrou com a chegada
de uma mensagem de sua nova assessora, Mara. Dizia:
Cheque seu email. Encaminhei para você uma mensagem importante.
Preferi deixá-la ver com os próprios olhos em vez de passar o recado.
Estou ansiosa pela sua resposta! Ou melhor... Estamos!
Curiosa, Amie pediu licença e perguntou à Rosana se poderia usar um dos
computadores do abrigo – que foram adquiridos durante a reforma que Chris havia
custeado.
Ao ver o remetente ela já sentiu o coração pular no peito. Respirou fundo e
começou a ler.
Cara Amelie Martin,
Primeiramente, gostaria de felicitá-la pelo seu casamento com Chris Martin.
Em seguida, quero apresentá-la meu novo projeto para um espetáculo. Nele, eu
não vejo ninguém mais do que a talentosíssima Amelie. Devo dizer que seria
uma honra tê-la nos solos da minha peça. Prefiro tratar os detalhes e o roteiro
pessoalmente, se não lhe for incômodo.
A VAM está com as portas abertas para você. Aguardo seu retorno.
Atenciosamente,
Wallace Ritchie.
Coordenador Artístico da Companhia de Música e Dança VAM – Voz, Música e
Ação.
♥
30 ♥
Ela não pôde conter um gritinho de felicidade e, ao ouvi-lo, Chris e as meninas
apareceram logo atrás com expressões onde se notava um misto de susto e confusão.
Amie mostrou o email e a sala de informática foi tomada por uma euforia coletiva.
–– Chris, eu vou voltar a dançar! – ela o abraçou com os olhos cheios de
lágrimas. – Eles me querem no espetáculo como solista!
–– É claro que querem, amor. Você é fantástica! – Chris a abraçou e a girou no
ar por tamanha empolgação em ver sua amada realizando um de seus sonhos mais
almejados.
Depois felicitações e despedidas, o casal partiu.
Os dias se arrastaram lentamente diante da ansiedade de Amie para encontrar
Wallace e saber mais sobre o espetáculo. A reunião aconteceu numa quarta-feira tão
ensolarada quanto o humor da bailarina. O céu limpo e azul parecia trazer um bom
presságio para Amie e ela sequer podia conter a expectativa de voltar aos palcos.
Ao seu lado estava Anita que conseguira abrir um espaço em sua agenda lotada
– já que sua carreira estava em ascensão em Saint Paul – para auxiliar Amie com o
contrato.
Tudo correu bem e, com o coração cheio de felicidade, Amelie finalmente
assinou o contrato.
–– Amelie Martin, é um prazer tê-la em nosso elenco nesse projeto – Ritchie
estendeu a mão direita para ela que aceitou com um largo sorriso.
–– O prazer é todo meu. Voltar para os palcos significa muito para mim.
Obrigada!
–– Te vejo nos primeiros ensaios que começam na próxima semana. E não se
esqueça dos eventos de divulgação, está bem? Sua presença é imprescindível!
O coordenador artístico virou-se para Anita sorrindo mais do que o normal. A
advogada estava mais bonita do que nunca, mas pareceu não notar a investida de
Wallace.
–– Senhorita Lewiss... – ofereceu a mão para Anita e ela apertou em um gesto
muito profissional. –– Foi um prazer.
–– Ajudar Amelie é sempre um prazer para mim – disse.
Despediram-se de Ritchie e, ao sair, Amie abraçou Anita grata pela amiga salvá-
la mais uma vez.
Meu anjo da guarda!
♥
31 ♥
–– Anita, muito obrigada! Nem sei como te agradecer por tudo isso. Mesmo com
tão pouco tempo livre você concordou em me ajudar. Você é única!
–– Você sabe que pode contar comigo sempre, querida. O que eu disse para
Wallace é verdade. É sempre um prazer te ajudar. Se precisar de mim, não hesite em me
ligar.
A advogada partiu rumo a Saint Paul deixando para trás uma jovem
transbordando gratidão pela vida.
***
Amie acordou cedo no dia seguinte. Tinha uma missão: escolher roupas novas
para os eventos do espetáculo. Precisava de alguns acessórios de bailarina para os
ensaios também. É claro que com o sucesso de Doce Acaso, alguns estilistas ficaram
animados com a ideia de desenhar seus looks, mas nenhum tinha o estilo delicado e
simples de Amelie.
Chris levou-a até o shopping que Mary Jane costumava frequentar e rumou para
a gravação dos comerciais de uma campanha publicitária de uma importante marca de
roupas masculinas. Ele estava engajado em projetos de curta duração para melhor
aproveitar os momentos com sua esposa, um gesto que Amie admirava muito, pois ela
sabia o quanto ele gostava de atuar.
Ela caminhou pelo shopping até encontrar uma loja grande de fachada escura,
com altas paredes de vidro e uma vitrine muito tentadora. Os manequins brancos
ostentavam vestidos que deixaram Amie boquiaberta.
Entrou na loja sem hesitar. Os vestidos faziam exatamente o seu estilo e ela tinha
certeza de que lhe cairiam muito bem. Parecia até que tinham sido feitos para ela.
–– Olá! Posso ajudá-la? – uma vendedora simpática se aproximou. Usava um
uniforme perfeitamente alinhado e os cabelos negros presos em um coque elegante.
–– Olá! Esses vestidos são tão lindos, eu gostaria de provar, por favor.
–– Nossos modelos são únicos, então tenho apenas os dos manequins. E temos
mais alguns desta mesma desenhista também – a moça guiou Amelie para uma arara
onde mostrou outros modelos tão belos quanto os que estavam expostos. Amie escolheu
três, inclusive um do manequim.
O primeiro era rosa claro com decote coração, saia godê e todo coberto de renda
floral. Amie deu uma volta em frente ao espelho encantada com o que via.
♥
32 ♥
O que vestiu em seguida era um amarelo plissado sem mangas e decote canoa.
Era leve e delicado, sem muitos detalhes e Amie amou a sensação do vestido roçando
delicadamente em sua pele.
O terceiro foi o que Amelie vira na vitrine, um azul royal justo, com decote reto,
coberto por renda de arabescos. A perfeição com a qual ele se ajustava ao seu corpo era
louvável.
–– Nossa! Esse azul está deslumbrante em você – ressaltou a vendedora.
–– Obrigada! Estou tão encantada com todos eles...
Indecisa, Amie permitiu-se levar os três. Afinal, não sabia se encontraria em
outro lugar vestidos que combinassem tanto com ela. A vendedora tentou esconder a
satisfação em receber o cachê um tanto gordo pela venda, mas seu sorriso um pouco
mais amplo a denunciava.
–– Recebemos recentemente essa coleção. É de uma jovem estilista. As peças
nos agradaram bastante. Apesar de ela ser iniciante no ramo, mostrou-se talentosa e
promissora – a vendedora anunciou enquanto Amie pagava suas compras. – Aliás, ela
está procurando possíveis modelos para fotografarem com a próxima coleção dela. É
para uma revista, eu acho. E já que esses caíram tão bem em você, eu lhe darei o cartão
dela – a moça sorriu e entregou as sacolas para Amie.
–– Verei o que posso fazer. Obrigada!
Para finalizar seu produtivo dia de compras, Amie comprou dois pares de
sapatilhas, calças legging e algumas blusinhas mimosas para os ensaios. Cansada e com
fome, escolheu uma pequena mesa em um restaurante de comida francesa. Fez seu
pedido e, enquanto aguardava, tirou da sacola o cartão da estilista. O cartão continha
poucas informações. Número de telefone e email estavam no verso. Na frente lia-se
apenas:
D. Anne
Estilista
Alta costura
Amie analisou e decidiu ligar. Talvez pudesse ajudar a pessoa por trás daquelas
peças tão lindas. Discou os números e esperou a ligação se completar.
–– Alô? – a voz do outro lado atendeu.
–– Olá! – Amelie respondeu. –– Você é a D. Anne?
♥
33 ♥
–– Sim, sou eu. Em que posso ajudar? – aquela voz lhe parecia familiar, mas
Amelie não queria fazer suposições, então preferiu ir direto ao assunto.
–– Bom... É que acabei de adquirir três peças da sua coleção. A vendedora me
deu seu cartão, pois disse que estava à procura de modelos. Você já encontrou?
–– Na verdade, ainda estou procurando. Com quem eu falo?
–– Amelie Martin.
A voz do outro lado calou por um instante e pigarreou.
–– Amelie? Do filme? – a mulher limpou a garganta. – É você de verdade?
–– Sim... – Amie estranhou a reação da mulher, mas prosseguiu. – Acabei de sair
da loja. Estou almoçando no Rosé. Se quiser conversar pessoalmente, estarei à sua
espera – a estilista hesitou, mas acabou aceitando ir ao encontro.
Amie já havia almoçado quando a mulher chegou. Ela usava uma saia preta curta
e botas de salto fino na mesma cor, além de uma blusa verde escura, colete e óculos
escuros. Os cabelos pretos e curtos desenhavam o formato do rosto dela. À medida que
ela se aproximava, seu passo vacilava. Amie tentou conter o formigamento em suas
mãos. Estava inquieta, mas não sabia o motivo. A mulher tirou os óculos ao se sentar e
encarou-a permitindo que Amie a reconhecesse.
–– Olá, Amelie.
De súbito, Amie compreendeu seu nervosismo. O nome quase familiar no cartão
e a voz no telefone se materializaram em sua frente na pele de alguém que ela conhecia
muito bem.
–– Diane? – de repente sentiu-se acuada. Tinha assuntos a tratar com Diane, mas
não imaginava que seria tão cedo e de forma tão repentina.
–– Surpresa, não é? Mas eu precisava vir, Amie. Não pelos vestidos, mas para
me desculpar por tudo. É a primeira oportunidade que tive para falar com você desde
que tudo aconteceu.
–– Diane, eu... Eu nem sei o que dizer – Amelie tentou dizer, mas Diane a
interrompeu.
–– Amie, por favor, me escute até o fim – implorou.
Oscilando entre a curiosidade e a preocupação, Amie remexeu-se na cadeira,
inquieta. A ex-assessora aproveitou o silêncio para prosseguir. Seus olhos cintilavam
com algo que Amie imaginou ser culpa. E arrependimento.
–– Eu preciso do seu perdão. Eu fui cega pela ganância e egoísmo e saber que
feri alguém tão bondosa como você me entristece tanto! – ela fez uma pausa antes de
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34 ♥
continuar. – Estou tentando recomeçar, descobri uma nova paixão, que é desenhar e
costurar. O fato de saber que você comprou meus vestidos e que estamos aqui, agora,
me faz acreditar que tudo isso é por algum motivo.
–– Tem razão – ela suspirou e ponderou por um tempo, chegando à conclusão de
que em seu coração não havia espaço para rancor. – Eu a perdoo, Diane. Tudo o que
aconteceu está no passado. E no fim das contas você acabou me ajudando, mesmo de
um jeito meio torto. Contribuiu para as investigações e disso não me esqueci. Eu sabia
que havia bondade em você. Eu estou muito feliz, não tenho motivos para guardar
mágoas de você, nem de ninguém.
–– Obrigada, Amelie. Ouvir isso de você significa muito para mim. Você não
merecia passar por aquilo. É a pessoa mais pura que já conheci na vida e a mais incrível
também.
–– Eu lhe proponho que coloquemos uma pedra nesse assunto. Iremos esquecê-
lo, está bem? Todo mundo merece uma segunda chance na vida. E eu desejo que você
alcance o sucesso por seus próprios méritos. O potencial de brilhar está dentro de quem
acredita que sonhos podem virar realidade.
Diane se emocionou com as palavras ditas por ela e finalmente sentiu seu
coração leve. Era como ter tirado de suas costas todo o peso carregado por todo aquele
tempo. Respirou fundo e prosseguiu a conversa.
–– Então... Gostou mesmo dos vestidos?
–– São maravilhosos! Parecem que foram feitos para mim!
–– É porque foram inspirados em você.
–– Em mim? – Amie perguntou surpresa. – Por quê?
–– Depois de tudo o que aconteceu, eu sabia que precisava me reerguer de
alguma forma. Comecei a pesquisar alguns cursos e me lembrei de um hobbie do início
da minha adolescência. Decidi arriscar corte e costura e me dei bem. Progredi muito
rápido e uma mulher notou que eu tinha talento.
–– Concordo com ela! – Amie afirmou.
–– Obrigada! Bom, aí ela me pediu para desenhar uma coleção. Eu desenhei,
mas ela disse que eu poderia fazer melhor, algo diferente. Então me lembrei de você, do
seu jeito meigo e das propostas de estilistas que você negou. Desenhei tudo inspirado na
sua personalidade. Ela amou! Custeou toda a produção e colocou as peças na loja dela.
Eu estava procurando por pessoas para fotografar com minhas peças, para eu poder
lançar meu nome na moda.
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35 ♥
–– Nossa! Estou honrada por ter sido sua inspiração, Diane. De verdade, eu nem
imaginava algo assim na minha vida... – Amie falou com um misto de sentimentos
dentro de si. Surpresa, emoção, até mesmo gratidão.
Ela sentia que as palavras de Diane eram verdadeiras, que de fato se arrependera
e estava mudada. Talvez o destino tivesse se encarregado de fazer tudo da forma que
deveria ser para que Diane se reencontrasse e se reconstruísse. Tudo estava agora em
seu devido lugar. Amie queria ajudar, daria um empurrão para que ela voltasse aos
holofotes que tanto amava, mesmo que não mais como atriz. Então, teve uma ideia.
–– Desenhe para mim – pediu.
–– O quê? Quer que eu desenhe para você?
–– Uma coleção inteira. Quero ajudar você e... Seus vestidos são os mais lindos
que já provei! Você aceita? – Amie cruzou os dedos e pediu ao universo que fizesse o
que deveria ser feito.
–– Amie... Depois de tudo o que eu fiz, ainda quer me ajudar? – Diane
perguntou confusa, com a voz carregada de emoção. Amelie segurou a mão dela e a
encarou nos olhos.
–– Estou te oferecendo uma chance de recomeço. Acredito em você e na sua
mudança. Você também merece brilhar, Diane.
–– Não há dúvidas de que você tem um coração imenso. Obrigada! – ela limpou
o canto dos olhos onde algumas lágrimas ameaçavam escorrer.
As duas se abraçaram para concretizar o perdão mútuo antes de rumarem cada
uma para seu destino.
Mais tarde naquele dia alguns tabloides começaram a especular sobre uma
possível reconciliação.
***
Passaram-se meses desde o encontro das duas. Diane desenhou para Amelie que,
em paralelo aos ensaios do balé, fotografou para ela. Com a ajuda de Amie, a carreira da
jovem estilista estava prestes a ascender. Os eventos promocionais do espetáculo prestes
a ter início, agora contavam com a delicadeza das roupas assinadas por D’Anne.
Revistas e tabloides falavam do renascimento da ex-atriz agora como estilista da
famosa Amelie Martin. A suposta rivalidade entre elas teve fim quando as duas posaram
juntas em diversas fotos e afirmaram que já haviam superado adversidades passadas.
♥
36 ♥
Diane sentia-se imensamente grata pelo ato de Amelie. Jamais imaginara que a
vida seguiria tal rumo e ela devia fazer por merecer aquela chance. Seu caminho agora
estava iluminado pela luz do coração puro de Amelie.
Não entregaria nunca mais o seu coração à ganância, pois aprendera com Amie
que o segredo da felicidade era manter o coração puro.
♥
37 ♥
Capítulo 6
Já fazia um bom tempo desde que Amelie pisara em um palco pela última vez.
Dos bastidores ela ouvia as pessoas conversando cada vez mais alto, um sinal de que o
auditório estava lotado para assistir à apresentação.
As mãos suavam e o coração batia mais rápido. Estava prestes a começar.
Luísa, a figurinista, dava os toques finais na produção de Amie, ajeitando a tiara de
flores e posicionando as asas nas costas da bailarina. Gary pincelou os olhos de Amelie
uma última vez com a maquiagem e anunciou que ela estava pronta. Chris entrou na
sala reservada para camarim de sua esposa e notou o nervosismo dela.
–– Já faz muito tempo que não me apresento para tanta gente!
–– Vai dar tudo certo, amor – Chris sussurrou para ela enquanto a abraçava forte
tomando cuidado para não estragar o figurino. – A dança é a sua vida, você vai brilhar
como sempre. E você está linda!
–– Gostou do vestido? – perguntou mais calma, girando na ponta dos pés. O
vestido azul cintilou sob a luz forte do camarim. Amie interpretaria uma fada no
musical intitulado “Jardim de Flora”.
As meninas do balé começaram a se alvoroçar diante da presença de Chris, mas
todas mantiveram a postura e o respeito à Amie. Chris beijou a esposa pela última vez e
deixou-a no camarim.
Amie acabara de amarrar as sapatilhas quando uma ilustre presença a
surpreendeu.
–– Amelie? – Mary Jane bateu na porta que estava aberta. – Posso entrar?
–– Claro! Entre.
A ex-rival entrou com a postura mais relaxada do que a pose austera da qual
Amelie se lembrava. Ela usava um longo vestido verde escuro, com decote reto e uma
fenda lateral. Os cabelos estavam curtos e soltos com algumas madeixas cor de cobre.
Contrariando todas as expectativas, Mary Jane se aproximou de Amelie e a
apertou em um abraço. Levou alguns segundos para que ela compreendesse o ato e
retribuísse.
–– Amelie, obrigada por me fazer acreditar no amor novamente – Lohanne disse
com um grande sorriso no rosto. A princípio a garota não compreendeu a atitude, mas
respondeu-a com a mesma bondade de sempre.
♥
38 ♥
–– Eu fico feliz em te rever, Mary Jane. E se você está feliz, isso é tudo que
importa.
Naquele momento um sentimento muito puro tomou conta de Amie. Uma
lágrima escorreu por seu rosto e ela não se importou. Sentia-se plena. Mary Jane estava
diante dela sendo uma pessoa completamente diferente, renovada, mas Amie não sabia
o motivo. Antes que ela pudesse perguntar, Lohanne saiu deixando no ar seu perfume e
um questionamento.
O silêncio se instalou por trás das cortinas. Amie ouviu os primeiros acordes da
música e então a cortina se abriu.
–– Brilhe! – foi tudo o que Wallace disse antes que ela entrasse no palco.
Ela fez os primeiros passos da coreografia e então a magia aconteceu. De repente
o mundo se resumia a ela e a música, como se fossem uma só. Sentia-se dançando junto
às notas musicais que dançavam no ar. Ela era a própria melodia. Seu corpo
movimentava-se no palco em uma sessão de giros, saltos e passos perfeitamente
sincronizados.
Sammy, a voz daquele musical, entoava a canção com sua voz de soprano em
um palco menor, mais acima de onde Amie dançava dando vida à personagem Flora.
O primeiro solo estava completo e as outras bailarinas entraram para dar
continuidade. Em alguns momentos, de frente para plateia, ela olhava para Chris na
primeira fila. Ele sorria para ela com uma expressão cheia de orgulho. Algumas fileiras
atrás, ela viu Mary Jane sentada de mãos dadas com um rapaz.
Virou-se em um refinado movimento digno de uma bailarina experiente e fez
sua última sequência de giros antes de finalizar a apresentação com um perfeito e
gracioso arabesque.
As pesadas cortinas se fecharam diante dela e a voz de Sammy cessou quase ao
mesmo tempo, finalizando o musical com um agudo perfeitamente afinado. Pôde ouvir
a multidão explodir em aplausos e aclamações. Espiou pela fresta da cortina e viu o
público de pé aplaudindo fervorosamente. As bailarinas se abraçaram e parabenizaram
umas às outras. Wallace sorria impressionado com o desempenho de suas bailarinas e a
reação positiva do público.
Amelie foi muito elogiada e se desvencilhar da multidão que formava um círculo
ao seu redor não era uma tarefa nada fácil. Respirou aliviada quando Matthew, seu
segurança particular, abriu caminho para ela.
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39 ♥
Após trocar de roupa no camarim, viu que seu marido estava acompanhado por
Mary Jane e um rapaz na entrada do teatro. Apreciou o sorriso de Lohanne de mãos
dadas com aquele homem. Seus olhos brilhavam quando se encontravam com os dele.
Amelie reconheceu Nicholas assim que se aproximou.
–– Amie, antes de tudo eu quero dizer que estou muito orgulhoso! Minha esposa
é a bailarina mais linda e talentosa do mundo! – disse alto o suficiente para atrair a
atenção dos paparazzi. – Parabéns, meu amor! – ele a abraçou e selou seus lábios nos
dela. O instante foi capturado por uma dezena de câmeras atentas.
–– Ah, meu amor, muito obrigada! Você já me viu dançar tantas vezes, mas
sempre parece que está vendo pela primeira vez – ela sorriu tímida e contente pela
reação de Chris. Ele sorria de orelha a orelha com os olhos brilhando de admiração.
–– Ele tem razão. Você faz a dança parecer tão fácil. Meus parabéns, Amelie –
Mary Jane disse e, um tanto receosa, abraçou Amie. A bailarina retribuiu com prazer,
deixando a ex-rival mais relaxada. Chris assistia a cena com orgulho da esposa e da
amiga estarem se aproximando, mesmo que aos poucos.
Os fotógrafos de plantão registraram a novidade com uma enxurrada de
“cliques”.
–– Você foi incrível mesmo, Amelie. Nunca apreciei tanto assistir a um
espetáculo de balé como esse. Já te vi dançar no set de Doce Acaso, mas sua
apresentação hoje foi incrível. Aliás, é um prazer rever vocês – elogiou com um sorriso
simpático.
–– Obrigada, Nicholas! É um prazer revê-lo também.
–– Lembra do que eu te disse no camarim? – Jane perguntou e Amie fez que sim
com a cabeça. – Então esse é o Nick, meu namorado.
Ela o encarou com os olhos brilhando e ele a surpreendeu com um caloroso beijo
diante das câmeras. Os flashes se voltaram diretamente a eles enquanto jornalistas os
bombardeavam de perguntas.
Amanhã eles terão muito assunto para encher uma revista... Amie pensou com
um risinho preso nos lábios.
Amie compreendeu que a razão do agradecimento com o qual Jane a
surpreendera no camarim era em razão do que ela estava vivendo. Mary Jane havia
encontrado alguém e aberto o coração para o amor entrar. Abriu um largo sorriso feliz
pelo novo casal.
♥
40 ♥
O tumulto em volta deles dificultava a conversa, mesmo estando em uma área
um tanto privada. Mary Jane bufou irritada com o assédio e todos concordaram. Nick
sugeriu que fossem para outro local mais reservado.
–– Aqui perto tem um restaurante ótimo! Jantem conosco. Quero que conheçam
melhor o Nick. Achei que essa seria a ocasião perfeita para isso. Por favor, aceitem! –
pediu Mary Jane.
–– Não vejo razão para recusar esse convite. Confesso que estou curiosa para
saber como você a conquistou, Nicholas. Aposto que fácil não foi! – Brincou Amie e
Mary Jane a cutucou com o cotovelo, entrando na brincadeira.
–– Concordo! – Chris gargalhou.
–– E vocês têm razão! – Nick provocou.
–– Ei! Eu estou aqui, gente! – Jay protestou de brincadeira.
O quarteto entrou no carro prateado que os aguardava. No caminho para o
restaurante os quatro ficaram conversando sobre a apresentação de balé, como também
sobre o último filme de Lohanne. Os seguranças de Chris seguiram o carro para evitar o
assédio dos fãs e da imprensa.
Chegando ao local, o garçom os levou até uma área reservada para clientes
ilustres e celebridades. Eles engataram em conversas animadas, especialmente Chris e
Nicholas que comentavam sobre a maratona até cruzar a linha de chegada do coração de
suas amadas. Chris o achou divertidíssimo e se deu por vencido ao notar que conquistar
Mary Jane havia sido muito mais difícil.
Amelie e Mary Jane bebiam vinho enquanto conversavam sobre o quanto suas
vidas haviam mudado desde o filme da X-Ray. A bailarina contava entusiasmada sobre
a viagem para Miami e apesar de Jay já ter estado lá muitas vezes, ouvir pela
perspectiva dela fazia com que percebesse detalhes que ela mesma não tinha visto sobre
a cidade e suas atrações incríveis.
Os pratos escolhidos por Amelie e Mary Jane eram compostos por salada e
grelhado, pois as duas precisavam manter a dieta à risca para seus trabalhos. Já Chris
resolveu experimentar o espaguete da casa e Nicholas o acompanhou, pois era um
amante de massas.
–– Nick, qual dos dois tomou a iniciativa primeiro? Você roubou um beijo dela?
– Amie apoiou os cotovelos na mesa e colocou as mãos nas maças do rosto com uma
expressão sonhadora e apaixonada, imaginando uma cena romântica.
♥
41 ♥
Nicholas conteve o riso, bebeu um gole de vinho, pigarreou, respirou fundo e
mirou Mary Jane que lhe devolveu um sorriso travesso.
Conhecendo a amiga de longa data, Chris entendeu a reação dos dois e imaginou
que fora Jay quem havia dado as cartas naquele jogo.
–– Houve uma química muito forte entre a gente – ele disse e limpou a garganta,
tímido. – Ela foi até meu apartamento e nos encontramos no elevador, onde ela me
beijou. Pensei que ela fosse arrancar um pedaço de mim... – ele riu ao dizer a última
frase. Chris gargalhou e Amie abafou o riso com o guardanapo.
–– Eu mereço... – Jay revirou os olhos e tentou não rir para manter a pose. Nick
a encarou e sorriu apaixonado com a lembrança.
–– Isso me encheu de esperança, mas precisava que ela confirmasse que havia
algo entre a gente. Enfim, aqui estamos nós, iguais a dois adolescentes apaixonados pela
primeira vez. Como dois bobos, porém completamente felizes.
–– Nick, eu fico muito contente que a Jay tenha encontrado alguém que a ame
como ela merece. Ela é uma grande mulher, meio turrona e teimosa algumas vezes –
Chris brincou. – Mas é especial da sua maneira. É uma amiga muito querida a quem
quero muito bem. E saber que já existe alguém para cuidar dela e protegê-la me deixa
aliviado. Desejo muita felicidade aos dois.
–– Vocês formam um casal muito bonito – Amie completou. – Também estou
feliz por vocês.
Naquela noite o tempo pareceu voar para os quatro. Os dois casais se divertiram
bastante e apreciaram a companhia uns dos outros. Depois do jantar eles se despediram
e prometeram manter contato.
Mary Jane e Nicholas pediram um carro para o hotel em que estavam
hospedados no centro da cidade. Chris e Amelie foram com seu motorista para a casa
que alugaram em Leesburg. Ela estava tão cansada que dormiu com a cabeça no ombro
do marido. Ele ajeitou uma mecha do cabelo dela que caía sobre o rosto e esticou o
braço para abraçá-la, para que ela se acomodasse melhor em seu peito. E assim
permaneceram durante o trajeto para a casa provisória enquanto a casa projetada por ele
não ficava pronta.
♥
42 ♥
Capítulo 7 Anita Lewiss chutou os saltos para longe ao entrar em seu apartamento e
caminhou descalça até a cozinha. Finalmente a semana chegara ao fim e ela estava
exausta. Escolheu uma garrafa de um caro vinho tinto e uma taça, enchendo-a enquanto
voltava para a sala. Jogou-se no sofá e apoiou os pés sobre a mesa de centro. Serviu-se
de um pouco mais do vinho e o degustou de olhos fechados, sentindo-o descer pela
garganta. Jamais se imaginou bebendo algo tão caro, mas graças à ascensão de sua
carreira, agora podia se permitir desfrutar de alguns luxos.
Encarou a pasta sobre a mesinha de vidro à sua frente e ponderou se deveria
terminar a noite revirando aquele caso. Estava lutando com afinco para conseguir
colocar aquele crápula atrás das grades por tempo suficiente para não se preocupar mais
com o que ele poderia fazer a outras mulheres.
O rosto de David Joey a encarou de volta assim que ela abriu a pasta amarela.
Verme...
Desde o escândalo dos bastidores de Doce Acaso, outras denúncias foram feitas
contra David. Anita tomou a frente de todos os processos possíveis contra ele. Aquilo
era mais do que trabalho, era pessoal. Em cima do caso ela assumia sua melhor postura
profissional e agia dentro da lei, mas somente as paredes do seu quarto eram
testemunhas do quanto aquele caso mexia com ela. O que Amelie havia sofrido não
poderia ficar impune e ela cavou o mais fundo que pôde no passado de David,
encontrando muitos casos nos quais podia trabalhar. E ela venceu todos eles.
A causa ganhava força à medida que outras atrizes revelavam o assédio sofrido
por trás das câmeras durante trabalhos com o ex-ator. Eram muitos relatos e Anita
sentiu o estômago revirar.
A próxima audiência seria dali a poucos dias e ela queria ter conteúdo o
suficiente para conseguir prendê-lo por mais tempo. Já havia ganhado outros processos,
inclusive o de Amelie, mas a cada caso em que ela trabalhava, mais o queria fora das
ruas. Estava lutando agora por uma jovem atriz que sofrera nas mãos dele, dando tudo
de si para ajudá-la a se sentir segura outra vez.
Analisou as provas que tinha, inclusive a carta que mantinha na manga: um
vídeo de uma câmera de segurança que flagrara um David monstruoso e agressivo
maltratando a atriz que implorava para que ele a soltasse.
♥
43 ♥
Anita fechou o notebook com força, enojada.
Você vai apodrecer com o Thomas, pensou enquanto virava o último gole do seu
vinho de uma só vez.
***
A quarta-feira amanheceu cinzenta e Anita temeu que aquilo fosse um mau
agouro. Passara os últimos dias reunindo informações e provas de sua nova cliente.
Entre casos novos e antigos, cada relato mostrava um homem cruel, frio e calculista.
O caso de Amelie havia sensibilizado muita gente, mas ainda havia muito mais a
ser descoberto e a sujeira que Anita estava prestes a expor no Tribunal bastaria para
garantir que David não pisasse nas ruas tão cedo.
A advogada tomou um banho demorado e se maquiou para esconder as olheiras
causadas pelas noites em claro. Vestiu um terninho preto por cima da camisa de seda
azul e uma saia lápis, além dos saltos de ponta fina.
No carro, ela sorriu para seu próprio reflexo no retrovisor, certa de que venceria
o processo. Tinha material o suficiente para incriminá-lo mais uma vez.
–– Julia, me auxilie – ela pediu em voz alta para a mãe de Amie, onde quer que
ela estivesse. – Amelie e todas as mulheres merecem que a justiça seja feita.
Subiu as escadas do Tribunal a passos firmes e confiantes. A mesma postura foi
mantida enquanto adentrava o local. Fez uma prece silenciosa e esperou que a vida
tomasse o rumo certo: o da justiça.
O julgamento transcorreu como ela esperava. Tudo estava indo bem graças ao
seu trabalho árduo. O réu foi interrogado e logo o debate entre acusação e defesa
começou.
Anita estudara o advogado de David e sabia seus métodos. Trabalhou
incansavelmente em seus argumentos que, como ela esperava, deixaram-no sem
resposta. Por vezes ela aproveitou do nervosismo dele perante uma profissional tão
afiada e emendou outros questionamentos, além apresentar novas provas que o juiz
ouviu com muito interesse. Com um sorriso ameaçador nos lábios carmim, ela
apresentou sua última cartada: o vídeo. Viu Moura, o advogado de David, desmoronar
com a jogada triunfal dela e não teve dúvidas.
Venceria o caso.
Ao fim daquela incansável discussão, o juiz leu os quesitos que seriam postos
em votação e houve a reunião onde foi decidido o destino do ator.
♥
44 ♥
–– Pela contagem dos votos proferidos pelo Conselho de Sentença, declaro o réu
culpado – ele anunciou. Anita observou David trincar o maxilar e cerrar o punho. Sua
têmpora pulsava com o ódio que ele nem tentou disfarçar. Ela sorriu vitoriosa. O juiz
prosseguiu. – Deverá cumprir mais onze anos de reclusão em regime fechado. Declaro
encerrada essa seção – e bateu o martelo cujo barulho ecoou pela sala imersa em
completo silêncio.
A advogada sentiu que os pulmões ardiam e notou que prendia a respiração por
um bom tempo. Encheu-os de ar e soltou lentamente, aliviada. Vencera mais um caso.
Ela tinha certeza de que outros crimes cometidos por David apareceriam, era apenas
uma questão de tempo. Somando todos os processos, o resultado era o ex-ator atrás das
grades por anos, o que deixava Anita mais tranquila sabendo que ele não machucaria
outras mulheres.
Ela deixou o local com um peso a menos nas costas. Agora precisava voltar para
casa e pensar em uma proposta tentadora recebida na semana anterior.
No caminho para o apartamento ela contemplou o pôr-do-sol que imergia na
linha do horizonte. Após aquele espetáculo natural, sua decisão estava tomada.
Mal adentrou a sala de estar e já foi se despindo. Precisava de um banho
relaxante. Jogou as roupas em qualquer lugar sem se importar. Estava radiante pela
vitória. Deixou a banheira enchendo com água morna enquanto servia uma taça com seu
vinho favorito.
O sabor da vitória!
Riu alto e ouviu a própria risada ecoar pelo apartamento. Decidiu abandonar a
taça e levou a garrafa à boca, sentindo o líquido queimar sutilmente a garganta.
Anita saiu da banheira apenas quando sentiu os pés menos dormentes pelas
horas de salto alto. Enrolou-se no roupão branco e estirou-se em sua cama grande e
macia, sentindo o edredom fofo abraçá-la.
Seu notebook estava aberto sobre a cama. A tela mostrava o email de uma
conhecida produtora de filmes. No fim, havia um número de telefone. Sem hesitar,
Anita pegou seu celular e discou os números.
–– Alô – a voz de uma mulher disse do outro lado.
–– Suzanna? Aqui é a Anita, advogada.
–– Ah! Olá. Tudo bem? – a representante jurídica da produtora mudou o tom de
voz para um som mais afável.
–– Tudo ótimo. Liguei para dizer que já tenho minha resposta.
♥
45 ♥
–– Estou ouvindo – a mulher não disfarçou a expectativa.
–– Eu aceito. Integrarei o time jurídico da X-Ray.
Anita mal podia conter o misto de sensações que passeavam por ela no momento
em que aceitou aquela proposta grandiosa. A produtora de filmes havia proposto a ela
algo inimaginável. Um cargo alto e um salário ainda maior.
Com os últimos problemas enfrentados pela X-Ray, como o caso de David e a
quase perda dos direitos do filme Doce Acaso, eles estavam em busca de alguém com
vocação e lucidez para lidar com possíveis conflitos futuros. O nome da advogada
estava em alta no meio artístico devido aos casos que vencera, onde até fora apelidada
de invicta.
Anita agora integrava o time da X-Ray. Nem podia acreditar que sua carreira
havia deslanchado daquela maneira. Mentalmente agradeceu a mãe de Amelie por
indiretamente colocá-la naquele caminho.
Naquele momento a advogada prometeu a si mesma que não decepcionaria
aqueles que acreditaram nela.
♥
46 ♥
Capítulo 8 –– Olha só o que eu trouxe para você – Diane puxou para o quarto uma arara
com vários vestidos pendurados.
–– Ah! Eles estão prontos! – Amie exclamou ao ver mais uma coleção da amiga
desenhada exclusivamente para ela.
Amie levantou da poltrona laranja para ver as peças mais de perto. Diane tirava
os cabides da arara, um por um, descrevendo o modelo em seguida. Era impossível
negar o talento de Diane. Os modelos pareciam conter a pura essência de Amelie e
chegar a tal nível não era uma tarefa fácil para muitos estilistas.
–– E então? Qual deles vai usar hoje? – Diane quis saber.
–– Não consigo decidir! São todos tão lindos...
–– O que acha deste? – ela pegou o cabide de um curto azul marinho. Era de saia
godê e com renda na parte de cima. Com a outra mão fisgou da arara um curto rosa
claro todo em renda, mangas longas e decote fechado, mais ajustado ao corpo. – Ou
este?
Amie pegou um modelo marsala de renda floral e decote ombro a ombro.
–– Esse é um dos meus favoritos – Diane disse.
–– São todos perfeitos...
–– Mas...?
–– Quero algo especial… Não que esses não sejam! Mas após minha
apresentação de hoje darei uma das notícias mais importantes da minha vida – Amie
disse encarando o chão. Diane suspirou rendida. Não importava qual o teor da notícia,
queria ver Amelie radiante.
–– Para sua sorte, eu tenho uma surpresa – ela pegou uma mala branca com o
nome do seu ateliê escrito em dourado e colocou sobre a cama. De dentro ela tirou um
belíssimo longo de saia de seda verde. A parte de cima era toda de pedrarias que
formavam um elegante arabesco e um discreto decote coração. Amie deu um gritinho de
êxtase ao ver o modelo.
–– Diane! Eu não acredito... Ele é magnífico!
–– É meu primeiro longo. Gostou mesmo?
–– Eu amei, vou usá-lo hoje com certeza! – Amie a abraçou, grata pelas peças
incríveis feitas para ela.
♥
47 ♥
***
As cortinas se fecharam mais uma vez diante de Amelie.
Após o sucesso do espetáculo da VAM, fora convidada para estrear outros solos.
Aceitou a maioria dos projetos a fim de seguir os passos da mãe na carreira que tanto
amava.
Apresentou-se em todos que pôde, inclusive nos espetáculos extras que tiveram
que fazer graças ao sucesso de bilheteria. Grande parte do dinheiro recebido a jovem
bailarina destinou a instituições de caridade, certa de que outras pessoas precisavam
mais do que ela. Seu desejo de permitir que outros sonhos se realizassem impulsionou-a
a doar grandes quantias de dinheiro a diversos projetos para crianças e jovens carentes,
inclusive de outros países.
No entanto, naquele dia tinha algo para revelar ao público. Ouviu-os aplaudir
incessantemente e tentou absorver ao máximo aquela sensação.
Chris a levou para o apartamento alugado ao lado do Teatro para que pudesse
tomar um banho e se aprontar para a after party que aconteceria em um salão privado
perto dali. Amie colocou o vestido de Diane e viu Chris deslumbrado pela forma como
aquela peça desenhava suas curvas e lhe davam a aparência de uma mulher poderosa e
ao mesmo tempo delicada, como Amie de fato era. Finalmente prontos, o casal rumou
para a festa onde Amelie daria a notícia de suas vidas.
A entrada do salão exibia um grande tapete vermelho e muita luz, onde Amelie
foi clicada ao lado de Chris por uma grande massa de fotógrafos. Uma moça se
identificou como representante de uma importante revista de moda e quis saber de quem
era o vestido magnífico que Amie usava na ocasião. No ato ela entendeu que Diane
estava destinada a brilhar e entregou para a moça o pequeno cartão da amiga que ela
carregava na clucth prateada.
O interior do salão estava ainda mais grandioso. Tão iluminado quanto o lado de
fora, mas dessa vez com belos lustres altos. A música era apenas uma melodia de fundo
tocada por uma orquestra elegante. Garçons serviam champanhe para os convidados em
taças de cristal e no fundo do salão havia uma grande mesa repleta de aperitivos dos
mais diversos.
O evento estava no auge. Era uma elegante confraternização e todo o elenco
estava lá, além de vários famosos e jornalistas credenciados. Amie soltou-se do abraço
de Chris e dirigiu-se ao palco baixo do salão.
♥
48 ♥
A timidez quase a fez desistir, mas ela tomou fôlego e reuniu toda a sua coragem
antes de alcançar o microfone. Pigarreou sutilmente e deu uma última olhada em seu
amado antes de começar.
–– Com licença. Eu gostaria de falar um instante – ela chamou a atenção de
todos. Chris estava com uma expressão confusa, mas ela o chamou para o palco. Amie
sorriu docemente para ele e pegou em sua mão.
As câmeras focaram no casal quase instantaneamente.
–– O que você está aprontando? – ele sussurrou para ela.
–– Este homem ao meu lado é o amor da minha vida. É com quem escolhi viver
para sempre. Eu sou muito grata por ele ter me escolhido também – ela voltou os olhos
para ele. –– Eu te amo. Você me surpreende todos os dias.
–– Também amo você – os olhos dele brilhavam.
–– Hoje eu decidi surpreendê-lo – ela sorriu para os demais convidados que
pediam com fervor para que ela revelasse a surpresa. A curiosidade era quase palpável.
Amie apertou a mão de Chris e o fitou com paixão.
–– Chris, uma vida não é o suficiente para amá-lo. E desse amor, um novo se
gerou. Já te amei como ídolo... – os dois riram com a lembrança trocada do pôster com a
marca de batom no quarto de Amelie. – Como namorado. Como marido... E agora te
amo como o pai dos nossos filhos. Christopher Martin, você vai ser papai – ela sorriu e
ele a abraçou com lágrimas correndo pelo rosto. O público explodiu em comentários,
assovios e exclamações. Chris sentia-se fora de órbita.
O casal se abraçava em meio a sorrisos e lágrimas. Tudo em volta deles se
silenciou e por um momento só havia os dois no mundo. Ou melhor: os três. Chris a
puxou para mais perto de si e beijou-a com todo o amor que transbordava de seu
coração.
–– Eu amo você, Amelie. Obrigada por realizar os meus sonhos. Obrigada por
ser você a mãe dos meus filhos.
–– Há mais uma coisa que eu gostaria de dizer – Amie respirou fundo antes de
continuar. Chris sentiu que ela estava tensa e acariciou a mão dela com o polegar,
mesmo sem saber o motivo da tensão dela. – Assim como minha mãe se despediu da
carreira dela para cuidar de mim, hoje eu me despeço da minha. Há um pequeno ser
dentro de mim que precisa da minha total atenção.
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49 ♥
Alguns convidados da festa choravam copiosamente diante das notícias,
especialmente os colegas de elenco. Era um misto de sentimentos percorrendo todos os
presentes, inclusive o casal que se olhava no palco.
Chris surpreendeu-se com a decisão dela e orgulhou-se da mulher decidida e
forte que ela era. Os jornalistas rabiscaram seus blocos com rapidez e os flashes não
paravam. Amie voltou a atenção aos presentes e prosseguiu com a voz amena.
–– Peço com carinho que não lamentem. É um momento mágico que encerra
minha carreira de bailarina para iniciar a de mãe.
Uma moça que vestia um terninho preto e segurava um pequeno gravador de voz
se aproximou. Ela felicitou o casal e emendou uma pergunta. Quis saber como seria
para Amelie parar de dançar já que amava tanto os palcos. Amie prontificou-se a
responder.
–– Pensei que, quando precisasse parar de dançar, essa seria a decisão mais
difícil do mundo. Mas não é. Não quando se tem motivos nobres, motivados unicamente
pelo amor. Demorou, mas eu finalmente entendi.3
A jornalista acalentou a resposta a agradeceu com um aceno de cabeça. Não
havia melhores palavras do que aquelas, tampouco melhor sentimento. O amor mais
uma vez surpreendera a todos.
O casal posou para dezenas de fotos e na maioria delas Chris aparecia pousando
gentilmente a mão sobre o ventre de Amelie.
***
Mary Jane quase engasgou com a xícara de café.
–– Vocês querem que eu o quê?
–– Que seja a madrinha do nosso bebê – Chris pediu novamente.
Estavam sentados na ampla sala da casa de Mary Jane. O casal prometera a ela
uma visita e lá estavam para fazer um pedido tão especial. Amie alisou, por cima do
vestido laranja-claro, a barriga já protuberante no auge dos sete meses.
–– Por favor, Mary Jane – Amie segurou as mãos dela nas suas. – Significa
muito para nós dois.
–– Céus... É claro que eu aceito! Mas por que eu? Eu nem gostava de você – ela
perguntou para Amie.
3 Trecho retirado de “Quero ser Beth Levitt”, página 543. HOLTZ, Samanta. Editora Novo Século, 2013.
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50 ♥
–– É a melhor amiga do Chris. E agora minha também. Tivemos um passado não
muito amigável, mas é exatamente onde ficou tudo isso. No passado. Você faz parte da
nossa família, Jay. Quero que nosso filho tenha o prazer de ser seu afilhado.
–– É um menino? Oi, pequeno! – ela disse com a voz embargada. Pousou a mão
sobre a barriga de Amelie e sentiu-o remexer-se lá dentro ao som da voz dela. Uma
pequena lágrima brilhou no canto do olho dela.
–– É, sim. Vai se chamar Walters – disse Chris em tom zombeteiro.
–– Você pirou? – ela disse indignada. Chris gargalhou e Amie não se conteve.
–– Às vezes não sei o que se passa na cabeça dele – Amie sorriu.
–– Ele é louco – Lohanne concordou.
***
Mary Jane estava sentada ao lado de Amelie no sofá enquanto Chris tomava
banho. A presença de Jay na casa deles era cada vez mais frequente, especialmente no
último mês de gravidez da amiga, mesmo com a rotina corrida de uma agenda lotada.
Amie estava com ambas as mãos sobre a enorme barriga que esticava o vestido
azul, sentindo os movimentos ininterruptos.
Inquieto igual ao pai... Pensou sorridente. Mary Jane notou o gesto e indagou
curiosa:
–– Qual a sensação? Quer dizer... A sensação de um mini ser humano na sua
barriga?
–– É... – Amie começou a responder, mas fez uma careta. – Ai!
–– O quê? O que ai quer dizer? Ai que felicidade ou ai que estranho?
–– Quer dizer que... Ai! Estou tendo contrações... CHAME O CHRIS!
–– Christopher! – Mary Jane chamou enquanto levantava às pressas. Esmurrou a
porta do banheiro e gritou. – Acho que seu filho vai nascer! Amelie está tendo
contrações.
–– Ah meu Deus... Já estou indo!
–– CHRISTOPHER! – Amie berrou da sala, apressando-o. Ele apareceu
estabanado, com os cabelos molhados. Usava uma calça jeans escura e segurava uma
camiseta branca nas mãos que vestiu rapidamente para pegar Amelie no colo.
–– Eu ainda posso andar, Christopher...! – tentou argumentar no breve intervalo
de uma contração, mas uma nova onda de dor a fez mudar de ideia. – Está bem, retiro o
que eu disse. Podemos ir mais rápido, por favor?
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51 ♥
Mary Jane correu pegar as malas de Amie e do bebê enquanto Chris carregava a
esposa até o carro. Ele dirigiu até o hospital com a esposa e a amiga no banco de trás.
Amie apertava a mão de Mary Jane entre uma contração e outra, cada vez mais
frequentes e mais fortes.
–– Chris, mais rápido! – ela fez uma careta quando Amie apertou a mão dela
mais uma vez. –– Você é bem forte, Amie.
No local, após passar pela recepção e finalmente levarem Amie até a
maternidade, Chris estava apreensivo. Um som zombeteiro e abafado o tirou de seus
devaneios. Olhou para o lado e viu Mary Jane tentando abafar o riso.
–– O que foi?
–– Você reparou que sua camisa está do avesso? – ela não se conteve quando viu
a expressão dele ao notar que vestira a camiseta do lado errado. Ele também não se
segurou e gargalhou junto, aliviando a tensão.
Uma enfermeira apontou no local fazendo-os se calar de imediato.
–– Senhor, ela está preparada. Está chamando por você.
Chris encarou Mary Jane.
–– Você vem? – ele perguntou. Ela fez que não com a cabeça.
–– Esse momento é de vocês – disse ela. Chris pensou em insistir, mas a amiga
tinha razão. Acenou com a cabeça e desapareceu atrás da enfermeira pelas enormes
portas brancas.
Chris segurou a mão de sua amada durante todo o processo. Tentou acalmá-la e
incentivá-la como quando eles se conheceram, no teste para o elenco de Doce Acaso.
Olhava fixamente nos olhos dela e conversava baixinho próximo ao ouvido dela quando
um som agudo invadiu seus ouvidos. Viu as lágrimas nos olhos de Amelie ao ouvir o
primeiro choro do bebê e não conteve as próprias.
A enfermeira colocou-o sobre Amelie e Chris se aproximou dos dois.
–– Seja bem-vindo, pequeno Edward – ela disse.
–– Bem-vindo, meu amor – Chris emendou e olhou para Amie. – Ele se parece
com você.
***
Chris segurava o pequeno Edward nos braços. Ele tinha a mesma pele alva de
Amelie e os cabelos escuros de Chris, além de dois olhinhos verdes brilhantes. Amelie
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52 ♥
olhou para os dois homens da sua vida com amor e pegou a tesoura que Dalva lhe
oferecia.
Atrás dela um grande prédio rosa claro se estendia alto e imponente. Havia uma
parede de vidro que exibia as velhas sapatilhas de Amelie, as de sua mãe e as de Dalva,
como relíquias que marcavam a trajetória das três.
Em frente às portas de vidro havia uma pequena escadaria com dois pilares, um
de cada lado. Presa aos pilares estava uma grande fita vermelha que formava um laço
diante de Amelie.
Mary Jane estava ao lado de Chris segurando a pequena mãozinha do afilhado e
com a outra mão entrelaçada a de Nick. De frente para eles havia uma multidão de
jornalistas, repórteres, paparazzi, fãs e amigos. Amie chamou Dalva para mais perto e
juntas seguraram a tesoura.
–– Você é parte disso tanto quanto eu.
–– Ela estaria orgulhosa de você – Dalva disse enquanto uma lágrima escorria
pelo canto do olho.
–– De nós.
E então, sem hesitar, as duas cortaram a fita.
–– Declaro aberto o Instituto de balé Julia Wood! – Amelie disse em alto e bom
som.
O interior do local era aconchegante e convidativo. Na entrada havia um
memorial da trajetória das três bailarinas, mas o espaço maior era dedicado à saudosa
Julia.
As pessoas se dividiam em pequenos grupos enquanto caminhavam
vagarosamente pela exposição, lendo placas informativas, admirando fotos e assistindo
aos vídeos que passavam nas grandes telas suspensas na parede. Também em exposição
estavam as sapatilhas, roupas e acessórios das bailarinas que as pessoas podiam ver de
perto.
Amie fizera questão de que a inauguração fosse aberta a todo o público; seria
uma forma de jamais se distanciar de suas raízes. Ela doou-se inteiramente naquele
evento de inauguração, posando para fotos, distribuindo abraços e respondendo a
perguntas. Até ajudou a oferecer alguns quitutes e sucos para os convidados quando
pôde.
Mais ao fundo do salão principal ficava a recepção. Uma das irmãs de Amelie
que acabara de completar seu décimo oitavo aniversário atendia os interessados em
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53 ♥
matricular-se para as aulas de balé. Um grande quadro com a foto de Julia e uma placa
com o nome do Instituto pairavam logo atrás da recepcionista.
Amie não hesitara em contratar uma de suas irmãzinhas tão queridas para
trabalhar em um lugar tão especial para ela. Queria que todas as irmãs tivessem a
oportunidade de uma vida plena e digna, então além de Ellen na recepção, ainda havia
Clara guiando os transeuntes pelo memorial.
Do lado esquerdo da recepção, uma porta majestosa de vidro delimitava o
espaço entre o saguão e as salas de aula. No lado direito, uma porta igual levava ao
auditório onde seria o palco de muitas apresentações. Atrás da primeira porta, o largo
corredor iluminado era ladeado por portas de madeira. Cada uma delas era uma sala
para turmas em diferentes níveis, do iniciante ao profissional, onde Dalva e Tom – o
bailarino que Amie conhecera nas gravações de Doce Acaso – ministrariam as aulas.
As salas eram compostas por piso de linóleo, enormes espelhos que iam do chão
ao teto e barras de apoio, além da excelente iluminação e sistema de som de última
geração – insistência de Dalva que afirmava que rádios eram ultrapassados.
Amie observou o interior do local mais uma vez antes de rumar para a saída com
lágrimas nos olhos. Chris desvencilhou-se de uma multidão ao seu redor e a seguiu,
segurando o bebê no colo. Encontrou a esposa lá fora, próxima ao jardim de dálias. Não
foi necessário proferir nenhuma palavra, ele mais do que entendia o que ela estava
sentindo naquele momento: orgulho, gratidão e sensação de dever cumprido.
A jovem mãe tomou o pequeno Edward nos braços e beijou sua testa delicada.
–– Ela está orgulhosa, não está? – perguntou para Chris, mas manteve os olhos
fixos no horizonte onde o sol se punha.
–– É claro que está. Todos nós estamos. Você é uma mulher maravilhosa, meu
amor. E esse Instituto é um pedacinho da sua mãe que você manteve vivo e agora divide
com o mundo, transformando outros sonhos em realidade.
Amie acatou as palavras do esposo com carinho e olhou nos olhos dele,
incrivelmente grata pelo homem maravilhoso que ele era. Ele acariciou o rosto dela com
carinho e encostou a testa na dela, fechando os olhos.
A família estava envolta em uma esfera de amor compartilhado, sentindo a
presença um do outro como uma força que os unia. Era muito mais do ambos
imaginaram para a própria vida.
O encanto foi parcialmente quebrado por um flash que flagrou o momento. O
casal sequer se aborreceu, pois estavam plenos demais, imersos em uma felicidade
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indescritível. Sorriram para a câmera que bateu uma nova sequência de fotos,
registrando aquele momento único na vida dos dois.
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55 ♥
Capítulo 9 Quatro anos se passaram depressa. A família já estava morando na casa
projetada exclusivamente para eles. A propriedade ficava ao lado da chácara da mãe de
Chris, pois assim todos ficariam bem próximos e Louise poderia acompanhar de perto o
crescimento do neto. Além disso, Amelie havia se apaixonado pelos arredores.
Acreditava que ali seria o melhor lugar para Edward crescer e para os pais poderem
descansar e curtir a presença um do outro longe da cidade movimentada.
Amelie ainda se lembrava com alegria de todos os momentos marcantes que
havia vivido na maior de suas aventuras: a maternidade.
Ela observava, da soleira da porta, o pequeno Edward brincando com um
carrinho de madeira no chão do quarto. Sua mente viajava para o passado, nos primeiros
meses do bebê. Lembrou-se da experiência de amamentar e acalentar aquele pequeno
ser em seu colo enquanto ele tocava o rosto dela com as mãozinhas fofas e pequenas.
Chris fazia questão de participar de tudo, se empenhando tanto quanto Amie
para não a deixar tão exausta. Ele não se importava em trocar fraldas ou balançar o bebê
durante a madrugada para que sua esposa pudesse descansar. Cantava estrofes do dueto
que ele cantara com Amelie, anos antes, com a voz mais afinada que conseguia e via o
pequeno Eddie cochilar sereno em seus braços.
À medida que os meses iam passando, Edward se tornava um bebê cada vez
mais encantador, até mesmo quando espirrava a papinha de legumes nos pais. Chris
fazia caretas indescritíveis para arrancar gargalhadas do filho e o casal registrava tudo
em fotos e vídeos, pois parecia que o tempo acelerava cada vez mais.
Quando ele começou a engatinhar, foi uma grande surpresa para Amelie. Ela
estava dobrando alguns lençóis recém lavados e o deixou sentadinho no tapete de EVA,
pensando que ele demoraria a engatinhar, mas fora pega de surpresa quando o viu virar
de bruços e se apoiar com as mãozinhas e joelhos para buscar um ursinho de pelúcia que
não alcançava. Com lágrimas emocionadas nos olhos, ela parou para admirar a nova
descoberta do seu bebê que crescia um pouco mais a cada dia.
Quando ele deu seus primeiros passinhos, o pai era quem lhe segurava pelos
braços e a mamãe o chamava no canto oposto, incentivando-o.
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Não demorou muito até que o pequeno pronunciasse as primeiras palavrinhas,
então outras novas foram se acrescentando ao vocabulário que não parava de crescer.
Quando ele finalmente disse “dinha” para Mary Jane, foi um momento que a madrinha
jamais esqueceria.
Amelie gostava de ler “O Pequeno Príncipe” para Eddie dormir. Ela queria
transmitir ao filho toda a pureza que havia no livro e todas as lindas lições que ele tem a
ensinar para as pessoas. Vez ou outra também se dedicava a ler a história da sua amada
Beth, um romance simples, delicado e cheio de lições de pureza e amor.
— Mamãe? – a voz de Edward a despertou de sua viagem pelo passado. – Estou
te chamando faz tempo e você não me respondeu.
Seu bebê já era um rapazinho curioso, amável e muito talentoso com os
desenhos, embora ainda pequeno.
— Desculpe, meu amor. A mamãe estava muito distraída, não é? O que você
queria dizer?
— Eu queria saber como o Pequeno Príncipe fez amizade com alguém tão
diferente dele. É difícil fazer amizade com alguém que pega muito no seu pé.
Amie viu Edward com o livro já surrado aberto nas mãos. Ele estudava as
ilustrações e pensava na história que já sabia de cor. A mãe ficou pensativa com a
pergunta, apreensiva de que alguém o estivesse chateando.
–– Tem algum coleguinha que não é muito legal com você?
–– Sim. O papai disse que devo ser eu mesmo. E quem for meu amigo vai gostar
de mim como eu sou...
Amie sentou ao lado dele no tapete felpudo e pegou o livro nas mãos enquanto
escolhia cuidadosamente as palavras.
–– Sabe como o Pequeno Príncipe ficou amigo da raposa? – Edward não
respondeu, apenas fitou a mãe com os olhos atentos. – Ele entendeu que a amizade
acontece quando alguém nos cativa, ou seja, algo naquela pessoa nos conquistou,
chamou a nossa atenção. Da mesma forma nós também temos algo que agradou o
coração do nosso amigo.
–– Ainda não entendi muito bem, mamãe.
–– Aquele que for seu amigo encontrará algo em você da qual vai gostar muito.
Pode ser sua generosidade em emprestar seus brinquedos. Sua gentileza em ajudar um
colega que caiu no jogo de futebol, ou o seu humor que o tornará divertido e
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interessante. O mais importante é ser você mesmo. Um dia você fará um grande amigo
que se tornará seu parceiro de aventuras. Ou até mesmo seu irmão de coração.
— Sério? Assim como você e as meninas do abrigo?
— Sim, como minhas irmãzinhas e eu.
— Agora entendi! Então não preciso fingir gostar de lagartixas? O Mark gosta
de lagartixas, mas eu não.
— É sobre isso que se trata? Lagartixas? – Amie perguntou ciente do quanto
algo tão pequeno poderia parecer grande aos olhos de uma criança.
— Sim. Eu gosto do Mark. Mas ele disse que lagartixas são bonitas e eu disse
que eu não gostava. Ele ficou bravo comigo – explicou, dando de ombros e visivelmente
chateado.
— Entendi... Olha, meu bem. Você não precisa fingir gostar do que não te
agrada, certo? Tudo bem você ter sua opinião – Amie ponderou por alguns segundos e
prosseguiu. – Acho que o Mark também gosta de você e queria que você gostasse do
mesmo que ele.
— Mas e se ele não quiser mais brincar comigo?
— Eu tenho uma ideia! Que tal você convidar o Mark para vir aqui qualquer
dia? Você pode mostrar a ele quantas coisas legais vocês podem fazer juntos, mesmo
que discordem de algo. O que acha?
Os olhos do filho brilharam e ele topou a ideia com um sorriso maior do que
Amie esperava. Seu próprio rosto se iluminou de gratidão por ter conseguido ajudar o
filho com um dilema da sua idade. Sentiu-se uma heroína para seu pequeno Edward e
abraçou-o.
— Agora você terá sua primeira aula de equitação. Seu pai está te esperando no
estábulo. Vamos?
O menino vibrou com a notícia. Saiu depressa ao encontro do pai, tropeçando
nos próprios pés. Esperava ansioso por aquele dia que finalmente chegara!
Chris viu o filho se aproximar, eufórico, com Amie logo atrás. Soltou uma
gargalhada bastante sonora que Amie ouviu de longe. A energia do garoto bastava para
que ele conseguisse deixar a mãe para trás em um piscar de olhos. O pai correu na
direção do menino com os braços abertos, pronto para enlaçá-lo num abraço amoroso.
— Está pronto, homenzinho? Venha ver seu cavalo!
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Chris levou-o até o cercado onde um belo puro sangue branco, com manchas
marrons, já estava equipado com uma sela novinha. O pelo lustroso brilhava e a crina
branca balançava suavemente com a brisa amena.
— Papai, ele é lindo! Como é o nome dele?
Edward, no colo do pai, esforçou-se para alcançar o rosto do animal e acarinhá-
lo.
— Aí é com você. Que nome quer dar a ele? – Chris disse e deleitou-se com a
reação animada do menino.
— Que tal... Cookie? Ele parece um cookie. Eu amo cookie!
— Então, será Cookie!
Deu algumas instruções ao menino antes de colocá-lo no cavalo e
pacientemente foi ensinando-o a cavalgar, da mesma forma que havia aprendido, sem
muitas teorias. Amie apenas os observava, sentada na cerca, contente com o momento
dos dois e com o coração pulsando de amor por aqueles dois.
Edward adorou o passeio pela propriedade dos pais em Leesburg. O menino
apreciou a paisagem enquanto ouvia seu pai lhe contar aventuras de quando era um
garotinho como ele. Os dois passaram grande parte da manhã juntos, conversando e
rindo. As lições não eram passadas apenas de pai para filho, mas também de filho para
pai. Todos os dias o casal aprendia coisas novas com aquela criança, fruto do amor dos
dois. Lições as quais muitas vezes são esquecidas ao decorrer da vida e que só uma
criança é capaz de ensinar.
Chris estava realizado com a família que havia constituído. Agradecia aos céus
por tamanha felicidade que sentia todos os dias. Estava plenamente feliz e agora
entendia que a felicidade realmente está nas coisas mais simples da vida.
***
Depois de jantarem, todos foram até o quarto do pequeno Edward. A parede era
pintada com um azul claro como o céu e havia uma árvore desenhada, além de um
avião, um balão, nuvens e pequenas estrelas que só eram vistas no escuro. O quarto todo
era no estilo montessoriano4 e a cama tinha a forma de uma casa em tom verde claro.
Na extremidade à esquerda havia um cantinho para leitura, equipado com puff,
almofadas e vários livros, inclusive “O Pequeno príncipe” que era o favorito de Edward.
4 Quarto para crianças, com móveis e objetos na altura dos olhos, cujo objetivo é desenvolver a autonomia da criança.
♥
59 ♥
Amelie lia-o desde que seu filho ainda estava em seu ventre, pois gostava da ideia de
que ele a estava ouvindo e se acostumando ao som da sua voz.
No canto direito do quarto havia um quadro negro para desenhos com giz e uma
girafa onde Amie e Chris mediam a altura do filho. No centro do quarto havia um tapete
felpudo de cor clara onde Eddie gostava de brincar. Ao lado do tapete havia duas caixas
de madeira para os brinquedos e um armário baixo onde ele podia alcançar e escolher as
próprias roupas, além de um espelho em moldura de madeira.
Edward foi até o espaço de leitura e escolheu o livro que queria que seu pai lesse
para ele. Todos os dias os pais se revezavam entre si para contar uma história antes de
dormir, assim os sonhos do menino seriam embalados pelo universo mágico dos livros.
Amelie pegou as almofadas que estavam perto da cama de seu filho e as
acomodou sobre o puff para que todos estivessem confortáveis enquanto ouviam uma
bela história. Antes que o pai acabasse de ler o livro, Edward já estava embalado em um
sono tranquilo. Ele adormecera com a cabeça apoiada em uma das almofadas entre os
pais. Chris sorriu ao ver o filho dormindo encolhido, da mesma forma que Amelie fazia,
até as mãozinhas estavam juntas e coladas ao rosto e uma expressão de paz.
Ele então guardou o livro na prateleira, pegou seu filho com cuidado e o colocou
na cama, cobriu-o com o cobertor e lhe deu um beijo de boa noite na testa. Amelie
também beijou o rosto de seu pequeno e saiu do quarto devagar para não o acordar.
Cansados pelo dia cheio, o casal se aninhou na cama e Amelie se recostou no
peito do marido.
— Parece que o tempo voou. Ainda ontem Edward mal se segurava sozinho e
hoje está quase para cavalgar pelos campos sem ajuda. Hoje ele me contou o conselho
que você deu a ele. Nosso filho está aprendendo a resolver conflitos, Chris. Fico
orgulhosa por isso. Acho que estamos nos saindo bem.
— Ele te contou sobre o Mark e as lagartixas? – Chris sorriu ao se lembrar do
quão surpreso ficara ao ver o filho tão chateado com algo que, aos olhos dos adultos,
parecia banal. Mas pensando bem, ele mesmo não gostava tanto assim de lagartixas.
— Edward ficou mesmo incomodado com isso. Ele queria saber se precisava ser
diferente para ser amigo de alguém, mas eu lhe orientei a ser apenas quem ele é.
–– O coração dele é especial e apenas alguns enxergarão o quanto ele é precioso.
Nosso filho puxou muito a você. É muito paciente e gentil, Amelie.
— Acho que a mim foi só isso que ele herdou, pois o resto veio de você! –
brincou ela. – A semelhança de Edward com você quando pequeno chega a ser quase
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60 ♥
inacreditável. E sabe do que mais? Eu sou a mulher mais feliz do mundo por ter um
marido como você e um filho único como Edward. O que mais eu poderia querer nesta
vida?
Chris sorriu apaixonado e beijou a esposa com todo amor que pertencia apenas a
ela enquanto ele vivesse.
♥
61 ♥
Capítulo 10
Amie despertou de um sono tranquilo no dia 24 de Dezembro.
As imagens do seu sonho brilhavam à sua frente como flashes e à medida que
seu sonho se mesclava à realidade, uma mão grande segurou a sua por baixo do cobertor
pesado.
–– Bom dia, mamãe! Bom dia, papai!
Antes que pudessem vê-lo, o menino se jogou por cima dos dois, rindo e
deixando à mostra sua nova “janelinha”.
–– Bom dia, meu amor – sorriu para Edward ao mesmo tempo em que a mão de
Chris soltava a sua para afagar o cabelo escuro do filho que caía nos olhos.
–– Bom dia!
Eddie se aninhou entre os dois, protegendo-se do frio intenso.
–– Podemos fazer bonecos de neve hoje? – ele perguntou, apontando para a
janela.
Chris espiou os flocos de neve caindo lá fora, vagarosamente, formando um
tapete branco e fofo. Sorriu maroto para Amie.
–– Se a mamãe quiser...
Amie suspirou, criando suspense. Eddie a olhava com os olhos suplicantes e
cheios de expectativa. A mãe levantou, pegou as luvas grossas e anunciou:
–– O que estão esperando, seus molengas?
Edward soltou um gritinho e correu em disparada para pegar suas próprias luvas.
***
O som da risada do pequeno Edward enchia o coração de Amelie dos mais belos
sentimentos. Ela passou para ele outro botão que ele cuidadosamente colocou sobre a
barriga redonda do boneco.
–– Está bonito, mamãe? – perguntou. Ela sorriu e fez que sim. Chris apareceu ao
lado dela, roubando um beijo rápido antes de virar-se para o filho.
–– Só falta uma coisa, amigão! – Eddie inclinou a cabeça, pensativo, encarando
sua obra prima à procura do que faltava. Chris tirou o cachecol vermelho do pescoço e
enrolou-o boneco.
–– Perfeito! – o pequeno gritou com a voz aguda.
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62 ♥
O casal entreolhou-se, apaixonado. O que fizeram para merecer aquele presente,
não sabiam, mas eram extremamente gratos pelo pequeno ser feito de amor diante deles.
–– Vovó Lou precisa da mamãe um instante, está bem? – Chris disse para o filho
que concordou com um aceno de cabeça. Amie entendeu que Louise já chegara e
precisava de ajuda na cozinha. Despediu-se de ambos com um beijo na bochecha de
cada um e rumou para a ampla cozinha da casa que Chris projetara.
Encontrou Louise na varanda, admirando o filho que agora carregava um
Edward muito animado no pescoço. As risadas calorosas dos dois se fundiam em um
som melodioso e alegre.
–– Ele é um pai excelente, não é? – disse para Amie, sem tirar os olhos dos dois.
–– Ele teve um ótimo exemplo.
–– O pai dele nunca foi muito presente, mas era um bom homem – Louise
concordou.
–– Eu não me referi a ele – Amie olhou carinhosa para a sogra que agora a
encarava, sorrindo, porém com lágrimas teimosas nos olhos. Sem aviso prévio, apertou
a nora em um abraço muito bem retribuído.
As duas seguiram até a cozinha onde Felitsa tirava um bolo fumegante do forno.
O aroma de milho invadiu o ambiente, recebendo as duas.
A avó de Chris já estava com a idade bem avançada. Louise aprendera a lidar
melhor com a mãe, desde que Amie a conhecera nos dias que passou com Chris na
chácara durante a pausa na gravação de Doce Acaso, preservando, assim, a lucidez que
lhe restara. Amie apertou um abraço na avó que ofereceu a ela um meio sorriso quase
imperceptível.
–– Já fiz minha contribuição para a ceia! – disse apontando para o bolo. – Agora
vou olhar meu bisneto. Quem sabe eu lhe ensino algo... – saiu a passos lentos,
balbuciando sozinha, porém contente.
***
Após uma verdadeira maratona na cozinha, Amie sentiu um leve puxão em seu
vestido verde-claro. Espiou com o canto do olho e viu a miniatura de Chris ao seu lado.
–– As titias chegaram – disse Edward com os olhinhos brilhando ao avistar um
gingerbread5 na mão de Amelie. Ela lhe ofereceu um em formato de homenzinho e ele
5 Biscoito de gengibre tradicional nas manhãs de Natal dos Estados Unidos.
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63 ♥
aceitou, correndo para a sala em seguida. Seguiu-o dando pulinhos de alegria por
finalmente rever sua melhor amiga. Avistou-a com as duas mãos no rosto e a boca
escancarada enquanto Eddie corria na direção dela.
–– AH, MEU DEUS! Você está enorme! – disse ao pegar a criança no colo e
rodopiou com ele em um movimento ágil de bailarina. – E olhe só essas janelinhas! A
fada do dente já passou por aqui?
–– Passou! Quer ver meu cofrinho, tia?
–– Quero! Depois você me mostra, está bem?
–– Certo!
–– Dalva! – Amie comemorou ao avistar a amiga. – Que bom que você veio!
Dalva recolocou o garoto no chão e o viu correr para abraçar os demais
convidados.
As duas amigas se abraçaram eufóricas.
–– Você está tão linda, Amie – elogiou e a garota agradeceu, elogiando-a
também. E era verdade, Dalva estava incrível.
A amiga usava um belíssimo vestido amarelo que ressaltavam suas curvas, meia-
calça preta, botas de cano curto, um colar com pingente de bailarina que Amie havia
dado no aniversário dela e anéis combinando. O look todo era alegre e despojado, assim
como ela. Os cabelos estavam presos em uma trança elegante.
–– Ela meu deu uma carona – apontou para Mary Jane que segurava o afilhado
nos braços com certa dificuldade. As duas trocaram um sorriso cúmplice. Mary Jane,
como sempre, estava uma divindade. As pernas torneadas estavam parcialmente
cobertas pela bota preta de cano longo e vestido vermelho curto. Por cima dos ombros
caía um pesado casaco de grife.
Quem diria que um dia Dalva e Mary Jane se dariam bem! Pensou Amie
sorrindo ao vê-las.
–– Garota, essa casa está um arraso! – Tom disse e vasculhou os arredores da
sala com o olhar atento. – Estou chocado.
E ele tinha razão. A casa parecia ter sido tirada dos sonhos mais lindos de
Amelie e complementada por Chris. O arquiteto amigo de Chris havia feito um
belíssimo trabalho e captado todos os gostos do casal, transformando o projeto em uma
verdadeira obra de arte. A casa que já era linda, naquele dia estava ainda mais
aconchegante com a decoração natalina feita minuciosamente por Amelie.
Chris apareceu logo em seguida, conversando distraidamente com Nicholas.
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64 ♥
–– E aí, garotão! – disse o namorado de Jane, bagunçando os cabelos negros do
garoto.
O grupo aumentava à medida que novos convidados iam chegando. O casal
recebia a todos com muito carinho. Aquela seria uma ceia de Natal memorável.
Amie e Louise acabavam de enfeitar a árvore de Natal, onde Chris levantou o
filho até o topo para colocar a estrela, quando Anita chegou.
Ela estava elegante em um belo vestido justo azul-marinho de mangas longas,
com um casaco escuro e botas de salto grosso. Os cabelos soltos e curtos davam a ela
uma aparência jovial. Ela trazia nas mãos duas garrafas.
–– Este aqui é para nós – estendeu para Amelie uma garrafa de um caro
champanhe. –– E este outro para as crianças – entregou-lhe uma garrafa de suco natural
de uma marca que Amie não conhecia, mas a julgar pelos olhos arregalados de Dalva,
era igualmente caro.
Não tardou para que a diretora do abrigo chegasse com as irmãzinhas de Amie –
as quais Rosana adotara oficialmente como filhas, agora que era casada com Frederico.
As meninas se divertiam com o pequeno Edward, dando gritinhos de alegria e correndo
para todos os lados. Ao lado da diretora, Frederico sorria de orelha a orelha.
Amie espiou o relógio: oito e meia.
Onde estava Diane?
Conferiu na cozinha se Louise precisava de ajuda, mas a sogra logo tratou de
expulsá-la, alegando que ela deveria se arrumar e que ela iria logo em seguida. Acatou a
ideia ao olhar para o próprio estado e concordou que precisava de um banho.
O jato de água quente caía sobre suas costas como um presente divino para
aquele dia cansativo e frio. Passara o dia enfeitando a casa com luzinhas, meias na
lareira e cozinhando as delícias para a ceia de Natal. Estava exausta, mas tudo estava
perfeito.
Exatamente como deveria estar.
Desligou o chuveiro, enrolou-se em seu roupão favorito e adentrou a suíte do
casal, onde avistou Chris sentado na beirada da cama.
–– Oi, amor – ele disse, oferecendo a ela aquele sorriso capaz de derretê-la.
–– Oi – suspirou. – Fugindo da festa? – riu.
–– Aproveitando uns minutinhos a sós com minha esposa.
Ele se aproximou e puxou-a para um beijo. E mais outro. E outros tantos em
seguida.
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65 ♥
–– Chris... – arfou atônita. Ele apenas olhou-a com deleite antes de prendê-la
mais uma vez em seus braços.
Os dois estavam ali, perdidos em suspiros, beijos e carinhos, aproveitando o
momento a sós, quando uma batida incessante os fez recuar, deixando uma Amelie
desconcertada e um Christopher com um sorriso travesso nos lábios antes de ir tomar o
próprio banho.
Era Diane. Finalmente.
–– Desculpe a demora – pediu. – Tive alguns contratempos por causa da neve,
mas... – sorriu com expectativa e Amie acompanhou. Diane tirou da mala branca uma
peça maravilhosa e estendeu diante da amiga, arrancando dela uma expressão de puro
encanto.
Era um vestido que ia até abaixo dos joelhos, de cor clara. O busto era justo, de
tecido grosso, decote ombro a ombro e mangas longas. Logo abaixo, a saia entendia-se
mais folgada na cintura, feita com um tecido mais leve, o que lhe dava um movimento
sutil e delicado, além de um perfeito caimento. Combinou-os com um sapato baixo,
também claro, que Diane trouxera de presente de Natal para ela. Arrematou a produção
com brincos dourados e cabelos soltos, agora sem as franjas e mais curto, conferindo-
lhe um ar mais maduro. Borrifou seu perfume favorito e se julgou pronta.
Em frente ao espelho, a imagem que viu era de uma mulher realizada, feliz e
muito emocionada. Piscou algumas vezes para ter certeza de que era real e movimentou-
se para certificar que ela e a mulher do espelho eram as mesmas pessoas. Ao ver o
reflexo imitar seus movimentos, se deu por convencida.
Estava radiante.
No andar debaixo, ficaram todos estarrecidos ao vê-la descer as escadas. Diane
desceu logo em seguida, cumprimentando os presentes.
–– Garota... Você está um arraso! – Dalva foi a primeira a se pronunciar.
–– Obrigada! – agradeceu também eufórica.
–– Ai, amiga! Que babado! Parece uma deusa! Amei tudo – Tom acrescentou
batendo palminhas.
–– Uau... Foi você quem fez? – Jane perguntou para Diane, interessada.
–– Foi, sim – respondeu orgulhosa de sua criação.
–– Quer desenhar para mim? – propôs sem pestanejar. Diane olhou para Amie,
como quem espera aprovação e a garota assentiu.
–– Eu adoraria, será um prazer! – comemorou.
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66 ♥
Regada a elogios, Amie convidou todos a se sentarem na enorme sala, onde se
ajeitaram uns ao lado dos outros, prontos para colocar a conversa em dia. As irmãzinhas
de Amelie – incluindo Ellen e Clara que agora trabalhavam para ela no Instituto de balé
– sentaram no tapete felpudo, formando um semicírculo ao redor de Edward.
A sala estava aconchegante e bem decorada. Chris ajustara o aquecedor,
tornando o ambiente ainda mais convidativo. Uma mesinha de centro ficava entre um
confortável conjunto de sofás brancos que formavam um “L” e, do outro lado, uma
parede toda de vidro parecia trazer o ambiente externo para dentro da sala. Atrás de um
dos sofás, erguia-se uma pomposa escada com degraus de madeira clara, cercada por
vidro. Daquele ponto, era possível ver parte do andar superior. Na outra extremidade, a
lareira decorada com meias natalinas estava acesa e, junto a ela, um majestoso pinheiro
brilhava com luzinhas coloridas e enfeites, cercada por presentes. Mais ao fundo, uma
mesa gigante de madeira clara ocupava o espaço da sala de jantar, cercada por cadeiras
estofadas.
–– Vocês viram o novo filme deste galã? – Dalva anunciou estupefata,
cutucando Chris que estava sentado ao lado dela.
O ator acabara de concluir mais um trabalho louvável; um novo filme dirigido
pelo Yoda. Seu papel era de um veterano de guerra que contava suas memórias em
campo de batalha. O filme mostrava, em flashbacks, a vida do bravo soldado que, após
lutar bravamente pelo seu país, estava sozinho em uma casa de repouso, anos mais
tarde. A produção terminava com o velhinho fechando os olhos. Amie havia chorado
copiosamente ao ver seu Chris, com toneladas de maquiagens e efeitos para deixá-lo
com a aparência de um idoso, interpretando os últimos suspiros do velho soldado Carl.
–– De ídolo teen a sonho das vovós, hein? – Mary Jane zombou, fazendo
referência as cenas onde Chris aparecia como idoso. Dalva gargalhou, seguida pelos
demais.
–– Admitam que até velho esse homem fica bonito, gente! – riu Tom.
–– Papai está velho mesmo – Eddie gritou e arrancou mais risos.
A conversa corria naturalmente, passando um assunto para outro em questão de
minutos. Dalva e Tom comentaram sobre o Instituto de balé as irmãs de Amie se
animaram ao contar para ela o quanto estavam gostando das aulas. Rosana e Frederico
relataram o processo de adoção das meninas, agora todas oficialmente suas filhas. Anita
contou sobre sua carreira em Saint Paul, mencionando brevemente o caso de David, o
que fez os pelos dos braços de Diane se eriçarem.
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Graças a Deus escolhi o caminho certo... A ex-atriz pensou, aliviada.
Até mesmo Felitsa, sempre tão reservada e quieta, interagia com todos. Amie
observou todos aqueles sorrisos e sentiu o coração se inundar da mais pura felicidade.
Quem diria que uma orfã teria uma família tão grande e unida como aquela? Os laços
não eram de sangue, eram de algo mais forte: amor. Apertou um beijo na bochecha fofa
de Edward e o filho retribuiu o carinho em seguida, amoroso como sempre.
Com a ajuda de Amie, Louise distribuía deliciosos aperitivos para os amigos.
Ela agora usava um singelo vestido longo em tons de lilás. Seu perfume doce se
espalhava pelo ar como rosas recém-colhidas do jardim. Rosana Doladone elogiou o
quitute preparado por elas enquanto Frederico lambia os dedos, pronto para pescar mais
um.
Estava tudo absolutamente perfeito.
Dalva chamou a amiga de lado. Apontou o queixo na direção em que Diane
brincava com Edward e as meninas, rindo como uma criança.
–– Ela realmente mudou, não é? – indagou enquanto mastigava um bolinho.
–– Mudou, sim. Ela fez péssimas escolhas no passado, influenciadas por pessoas
ruins... – sentiu o estômago revirar ao se lembrar do asqueroso David. – Mas, lá no
fundo, eu sempre soube que ela era uma boa pessoa.
A amiga acatou a resposta e concordou.
–– Os sopapos que dei nela talvez a tenham feito acordar – gargalhou ao
recordar o dia em que descobriram que Diane fazia parte do esquema para tentar roubar
os direitos do filme.
–– Mamãe! – a voz atrás dela desviou a atenção para um pequeno rostinho
sorridente.
–– Oi, meu amor – ela o atendeu. Ele girou o corpo em direção a árvore de
presentes e tornou a olhá-la com aquele olhar suplicante. – Já posso abrir? Por favor...
Diante daquele pedido, Amie não viu motivos para negar.
Por que esperar até amanhã, afinal?
Chamou todos até a grande árvore, onde várias pilhas de caixas e pacotes
decorados rodeavam-na.
–– Hora de abrir os presentes!
Amie e Chris entregaram primeiro o de Edward que ganhara um traje da realeza,
pois o mesmo queria se parecer com o príncipe da história que a mãe lia para ele todas
as noites. Em seguida, distribuíram os pacotes das irmãzinhas.
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Cada kit continha itens de maquiagem e um livro. Ela imaginou que, talvez, os
livros fossem para elas um refúgio, como Doce Acaso fora para ela. E um lembrete de
que sonhos podiam se tornar realidade.
Mary Jane e Nick mimaram o afilhado com uma gigantesca pista de carrinhos de
corrida que o fizera esquecer-se da roupa de príncipe por um momento.
Marido e mulher presentearam Louise e a avó com belos vestidos feitos por
Diane, além de um gracioso retrato de família para a estante de Louise. Para a amiga
estilista, Amie deu uma pulseira com berloques de tesoura, vestido e um delicado
coração. Para Dalva ela comprou um cardigã de uma coleção exclusiva que a amiga
tanto queria. Anita ganhou um belíssimo colar com pingente de asas, simbolizando
todas as vezes que fora um anjo da guarda para Amie. Mary Jane recebeu um quadro
pintado à mão, estilo aquarela, com a releitura de sua foto favorita, onde ela e Nick
seguravam o recém-nascido Edward. Para Rosana e Frederico, o casal escolheu um
presente do qual eles mereciam usufruir: uma viagem para Miami.
Eddie distribuiu cartõezinhos que ele mesmo coloriu com giz de cera para cada
um dos convidados, arrancando sorrisos de todos ao notarem o capricho do garoto.
Dalva surpreendeu a amiga com um embrulho pesado. Amelie o abriu com a
curiosidade pulsando em seu coração, imaginando o que poderia ser. A surpresa foi
tanta que ela precisou de vários segundos para compreender as palavras escritas no
quadro de moldura branca.
–– Não acredito! – arfou, levando uma mão ao coração. Imediatamente algumas
lágrimas escorreram pela face, as quais ela nem se importou em enxugar. Chris esticou
o pescoço para ler o conteúdo e Louise afagou o ombro da nora. Dalva sorria com
orgulho.
–– Leia em voz alta, Amie! – o coro de vozes das irmãs pediu.
–– É com imensa satisfação... – começou com um fio de voz e pigarreou. – Que
declaro o Instituto de balé Julia Wood... – fez outra pausa sem acreditar. – A melhor
escola de balé da região.
Todos pararam por breves segundos, atônitos, antes de explodirem em uma
comemoração conjunta. O certificado dentro do quadro era assinado por ninguém mais,
ninguém menos, que Jack Manzanni, um influente professor e coordenador de uma das
maiores escolas de artes do país.
–– Lembra quando ele visitou a escola? Então... Ele voltou uma segunda vez e
nós conversamos muito. Retornou pela terceira vez e trouxe o certificado. Eu emoldurei
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69 ♥
e guardei em segredo para poder entregá-la em um momento especial. Apenas Tom
sabia – confessou.
–– Sim, baby. Eu achei o máximo. Imagina esse certificado na parede da
recepção, que luxo! – Tom sugeriu e Amie adorou a ideia. – Estamos muito orgulhosos!
–– Dalva... Tom... Eu nem... Não sei o que dizer! – se jogou nos braços dos
amigos e os agradeceu por todo o esforço e trabalho feito no instituto em homenagem a
sua mãe.
O certificado atestava a qualidade do ambiente e dos professores, bem como o
atendimento e o memorial que agregava um grande valor ao espaço.
Ouviu as vozes parabenizando-a, mas não conseguia distingui-las, tamanha era a
emoção.
–– Ela está muito orgulhosa de você, Amie. Eu tenho certeza – Dalva sussurrou
com a voz abafada pelo abraço.
Um leve cutucão em seu quadril chamou sua atenção e ela agachou ao lado de
seu filho.
–– A vovó te ama, mamãe – ele sussurrou e ela irrompeu em lágrimas mais uma
vez. Ela agradeceu a mãe mentalmente, imaginando se fora ela quem soprara aquelas
palavras à mente do garoto. Chris abaixou-se ao lado dos dois e os abraçou também.
Levantaram-se juntos e os demais se juntaram, um a um, em um único abraço
emocionado.
Passado o momento comovente, Amie chamou o filho com a voz quase
inaudível para não despertar a atenção dos demais. Longe dos ouvidos de todos, os pais
do garoto se ajoelharam em frente a ele e sussurraram instruções simples, para o fácil
entendimento daquela cabecinha ainda tão ingênua. O pequeno pareceu compreender e
o rosto iluminou-se ante a novidade. Amie levou o dedo indicador ao lábio sinalizando
segredo e Chris fez o mesmo, entregando um pacote nas mãos de Edward. Um
sorrisinho entusiasmado se acendeu na face dele, com as bochechas rosadas e levemente
arqueadas. Chris o ergueu nos braços e os três voltaram para a sala, onde o casal trocou
um olhar de plena cumplicidade.
–– Pessoal! – Chris chamou. – Nosso garotão tem um presente para vocês!
A expectativa brilhava nos olhos atentos das pessoas em frente a eles. O
garotinho sorria como quem acabara de ganhar o melhor presente da noite e, de quebra,
ainda vira o Papai Noel. Eddie segurou firme o embrulho que o pai lhe dera e enfiou
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uma das mãos dentro do pacote. Então, com um movimento ágil, tirou o objeto de
dentro do saquinho de papel dourado e levantou-o.
Era a pequenina manta de tricô feita por Felitsa para o neto, quando ele ainda
estava no ventre da jovem Amelie. Era branca e fofa, com um mimoso babadinho em
volta. Felitsa sorriu ao reconhecer o objeto, compreendendo imediatamente o que aquilo
significava.
–– Mamãe disse que já tô muito grande pra usar a cobertinha – estudou a manta
por um momento e continuou. – Então, eu tenho que dar ela para minha irmãzinha, que
tá ali... – apontou para a barriga de Amie.
Louise quase desmaiou. Foram necessários alguns segundos para que ela
voltasse à órbita terrestre, apoiada por Rosana e Dalva.
–– Vou ser avó novamente? – questionou cheia de emoção. Chris meneou a
cabeça em um gesto afirmativo. A mulher agarrou o braço da mãe e comemorou. – Mãe,
a senhora será bisavó! De novo!
O casal trocou um beijo rápido, fazendo Edward tampar os olhinhos com as
mãos. Eles riram e limitaram-se a um abraço afetuoso, juntando o filho a eles,
enlaçando-o naquele amor compartilhado.
–– Eu te amo – Chris sussurrou para Amie.
–– Também amo você – respondeu.
–– Também amo vocês! – Edward emendou. Amie depositou um beijo na testa
dele e Chris afagou os cabelos negros do pequeno.
–– Amamos você também – disseram.
Novamente o ambiente se encheu de exclamações, gritinhos e lágrimas. Amie
passou a mão pela barriga levemente saliente que a saia folgada do vestido escondia.
Desde que descobrira, passou a usar roupas mais largas para guardar a surpresa para
aquela ocasião, onde finalmente conseguira juntar toda a família.
–– Dalva. Temos um pedido para você.
–– Ai meu Deus, Amelie. Diga de uma vez! Estou curiosa.
–– É uma menina – confidenciou. – E queremos que você seja madrinha da
nossa pequena futura bailarina. Você aceita?
A bailarina piscou várias vezes para tentar conter a emoção, antes de responder
um estrondoso:
–– SIM, EU ACEITO!
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Regados a felicitações, o casal abraçou a todos. Não havia ali um coração sequer
que não estivesse transbordando de amor. Amelie recordou-se de um longínquo dia,
quando completara seus dezoito anos, quando desejou: Quero ser Beth Levitt. Não
imaginava que sua vida iria mudar tanto após aquele dia, tampouco que teria uma
família novamente. Estudou os rostos extasiados ao seu redor e teve certeza de que
fizera o pedido certo. Duas borboletinhas passaram voando sobre ela, brincalhonas. Ela
entendeu, no ato, que agora a seu lar estava completo.
Papai e mamãe estão aqui!
–– Caham... – Nicholas pigarreou teatralmente. – Eu gostaria de aproveitar o
clima de surpresas e comemorações para fazer um pedido.
Mary Jane encarou o namorado, confusa. O entendimento faiscou em sua
expressão quando ela o viu ajoelhar diante dela, tirando do bolso um anel dourado com
uma graciosa pedrinha cintilante. Ele segurou a mão dela e encarou seus olhos
marejados.
–– Mary Jane Lohanne, você aceita se casar comigo?
Ela meneou a cabeça e sussurrou um sim quase inaudível, mas que foi entendido
por aquele homem apaixonado. Ele passou o dedo anelar dela pela aliança e levantou-
se, selando seus lábios macios nos dela.
–– Ohhh – os suspiros de Amie e suas irmãs soaram ao fundo, arrancando um
risinho dos noivos.
Já era tarde e um vento frio atravessou a sala, obrigando Chris a alimentar a
lareira, apesar de o aquecedor estar no máximo. Presos ali dentro, o aroma dos temperos
e molhos vindos da cozinha se tornou mais tentador, fazendo todos aqueles estômagos
roncarem famintos.
Nora e sogra dispunham a mesa com a refeição preparada por elas. Rosana
insistiu em ajudar, trazendo suas fiéis ajudantes consigo. As garotas arrumavam pratos,
taças e talheres perfeitamente, enquanto as mulheres adultas traziam as mais deliciosas
receitas que saltaram aos olhos dos convidados.
Na mesa havia travessas com molhos, saladas frias e quentes, além de massas e
carnes. O mais magnífico, no entanto, era o enorme peru assado que Louise colocara no
centro da mesa.
Em uma mesa menor, ao lado, as sobremesas se exibiam, apetitosas e
convidativas; o famoso bolo de milho de Felitsa, mousse de maracujá, biscoitos
decorados e salada de frutas.
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Todos se acomodaram em seus lugares à mesa e se fartaram com vontade. Até
mesmo Mary Jane mandara sua dieta para o espaço para saborear aquelas delícias.
Edward corria pela casa com energia invejável. Nem mesmo as irmãzinhas
tinham aquela disposição, visto que já era quase meia noite; elas estavam enroscadas
umas às outras no sofá, o que lembrou Amie do tempo em que elas ficavam assim no
quarto do abrigo, esperando o relógio de Rosana soar, alto, as doze badaladas,
anunciando a chegada do Natal.
–– Pessoal!... – Nick chamou enigmático. Espiou o relógio de pulso uma última
vez e anunciou, encarando os demais. – Faltam dez minutos.
Vestindo casacos pesados, luvas e cachecóis, saíram para a varanda a fim de
verem os fogos de artifício no céu estrelado. Chris chegou logo atrás com a garrafa de
champanhe que Anita trouxera. Dirigiu um sorriso travesso aos familiares.
–– Com emoção ou sem emoção? – perguntou com a expressão de um garoto
prestes a fazer traquinagem, deixando explícita a resposta que ele queria ouvir.
–– Com emoção! – pediu o coro de vozes animadas. Atendendo aos pedidos,
Chris chacoalhou a garrafa freneticamente e empurrou a rolha que voou para longe,
derramando o líquido espumante pela neve macia.
As taças se encheram com o líquido borbulhante – e outras com suco de laranja.
Chris segurou o filho no colo e juntou a esposa a eles, em um meio abraço. Os outros os
imitaram, ficando de mãos dadas, abraçados e unidos, aguardando ansiosos pelo
espetáculo prestes a começar.
–– Amie... – Chris chamou e sussurrou no ouvido dela – Eu amo a história de
Doce Acaso... Mas amo ainda mais a nossa história que aconteceu depois daquele
acaso.
–– Depois daquele acaso... – repetiu as palavras dele e sorriu. – Gostei disso.
Ao dar meia noite, o céu explodiu em cores vibrantes e desenhos. Ergueram-se
as taças e em um coro sonoro as vozes exclamaram com sinceridade:
–– FELIZ NATAL!
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73 ♥
Fim.
♥
74 ♥
Agradecimentos O que inicialmente era para ser um singelo conto sobre possíveis finais para
personagens que ganharam nossos corações, transformou-se em um pequeno livro.
Cada capítulo foi planejado e escrito em perfeita sintonia das nossas ideias e nos
esforçamos para manter a fidelidade ao enredo original e a escrita fluida e detalhada de
Quero ser Beth Levitt.
Primeiramente quero agradecer a Deus pelo dom da escrita com o qual abençoou
a Sam e a nós, tornando possível a criação do livro no qual nos baseamos e,
consequentemente, o spin-off. Obrigada, Pai.
Quero agradecer a Gi, de coração, por organizar esse projeto e convidar a mim –
e a Dani – para fazer parte dele. Agradecer também a Dani por dividir suas ideias,
opiniões e palavras conosco para tornar este spin-off real. Meninas, devo dizer que
trabalhamos muito bem juntas! Foi uma honra escrever com vocês. Obrigada por toda a
parceria durante a idealização, desenvolvimento e conclusão desse projeto. Vocês são
incríveis!
Eu não poderia deixar de agradecer também ao Fã Clube Oficial Loucos por
Samanta Holtz, que me proporcionou conhecer essas pessoas maravilhosas e talentosas,
tornando possível o nascimento de Depois daquele acaso.
E, por fim, mas tão importante quanto, agradecer a Samanta Holtz, por plantar
suas sementes em nossos corações, que hoje dão frutos, como esse que você acabou de
ler. Obrigada, querida!
Que nossas palavras tenham tocado seu coração assim como Quero ser Beth
Levitt tocou os nossos.
“Palavras são sementes.”
Com carinho,
Carol Nascimento.
♥
75 ♥
Gostaria de agradecer primeiramente a Deus pelo dom com o qual presenteou a
Sam, tornando possível a existência de um fã clube onde conheci pessoas incríveis.
Agradecer também a Ele pela graça de poder fazer parte desse projeto.
Agradecer a Samanta Holtz por ter criado Quero ser Beth Levitt, um livro tão
lindo e emocionante. Ela, que é uma autora maravilhosa, a qual eu espero que goste da
nossa homenagem.
Quero agradecer minhas amigas, Carol e Gi, minhas gênias, pela oportunidade
dessa parceria que deu super certo! Tudo feito em perfeita harmonia de ideias se
encaixando e complementando uma a outra. Obrigada, meninas. Por tudo.
Com enorme gratidão,
Dani Costa.
♥
76 ♥
Este projeto foi iniciado em abril, o mês de aniversário da nossa amada autora
Samanta Holtz, e finalizado dias antes da Bienal do livro. Foram quase quatro meses de
intensa dedicação e empenho de todas as pessoas envolvidas.
Foi uma grande experiência e um enorme desafio também, afinal, não somos as
primeiras a fazer algo do tipo – os fãs da série de livros Guerra dos tronos também
criaram suas teorias acerca das obras e mergulharam de cabeça nisso. Até mesmo o
autor, George Martin, se surpreendeu com a perspicácia e sagacidade deles, pois muitas
das coisas que escreveram estavam relacionadas ao que ele propôs para o desfecho dos
livros.
Quero agradecer a Samanta por ter criado esse livro tão maravilhoso que é
Quero Ser Beth Levitt, pois é uma obra que nos inspira a sonhar e crescer como seres
humanos. Quem dera pudéssemos adquirir um terço da pureza e inocência de Amelie. O
mundo seria muito melhor com pessoas como ela, não é? Nunca me esquecerei de tudo
que esse livro me ensinou.
E agradeço mais uma vez às meninas por embarcarem nessa aventura. Sem
vocês isso não seria possível. Foi um prazer trabalhar com vocês. E de presente ainda
ganhei a amizade de cada uma. O fã clube me proporcionou conhecer pessoas incríveis,
isso não tem preço.
“Se fossem fáceis não seriam sonhos”.
(Quero ser Beth Levitt).
Gislaine Oliveira.
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