Diario de uma crianca que nao nasceu

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Ontem foi meu aniversário...

Eu ia completar um mês de vida. Pensei que você,

Mamãe, fosse me dar uma

festinha, como todas as mães.

Pensei que você, Mamãe, fosse dar ao Papai o beijo

que gostaria de dar em mim...

Porém, a festinha não foi alegre como eu

esperava...

De fato, você foi à farmácia e comprou o meu

presente. Pena que este presente tenha

causado a minha morte e

você não chorou nem um

pouquinho...

Por que?Porque logo no dia do meu

aniversário?

Pensei que você

fosse ficar feliz com a

minha chegada, mas você mamãe,

não me deixou

caminhar nem a metade:

você barrou o meu caminho.

Eu sabia, sim, que durante uns

meses eu iria estragar a sua elegância, eu seria um peso

para a senhora, porém, eu havia

prometido a mim mesmo que

ficaria bem apertadinho

para não prejudicar.

Eu deixaria para crescer depois que nascesse

para o mundo.

Por que me tiraste a

vida?

Eu sabia que em seu

ventre a escuridão

seria grande.

Todavia, a luz que

veria depois seria o

bastante.

Eu iria conhecer o brilho do sol

e das estrelas e, principalme

nte, conhecer Você e Papai.

E também teria que ficar muda durante nove meses. Entretanto,

iria lhe contar toda a minha felicidade de ter você como

mãe.

Eu iria conversar muito com você

quando estivesse triste, faria tudo para brotar em seus

lábios um sorriso e quando

estivesse alegre, faria tudo para

que essa alegria durasse.

Sabe, eu planejei tanta

coisa, mamãe... Queria crescer

bastante e, depois de

jovem, lutar com todas as minhas forças

para que a guerra e o ódio acabassem e reinassem a paz no mundo.

Sim, eu queria tanta coisa, mas você não

sentiu isto...

Você me Assassinou!

Queria crescer, plantar no chão

de minha existência,

muitas rosas que o perfume inebriassem os homens e os deixassem

incapazes de fabricarem

máquinas que matam outros

homens.

Engraçado... Eu pensei que

os pais amassem

seus filhos a ponto de lhes dar a própria

vida. Você não me

deixou viver nem a vida que eu

mal começara.

Olhe, este era o meu plano

quando estava em seu ventre, mamãe. Hoje

não posso planejar nada, pois faço parte

do mundo

daqueles que nunca sentirão o perfume das

rosas e nem chorarão a dor da morte.

Espero que você ao menos

tenha se arrependido

para que isto não

aconteça com meus

irmãozinhos que estão para

vir.

Tchau... Mamãe...

Eu lhe perdôo, apesar de

tudo...

Apresentação:

valmadeoliveira@oi.com.br