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GOT, n.º 4 – Revista de Geografia e Ordenamento do Território (dezembro de 2013) GOT, nr. 4 – Geography and Spatial Planning Journal (December 2013)
129
Geografia e Ordenamento do Território, Revista Electrónica
Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território
http://cegot.org
ISSN: 2182-1267
Lourenço, C.
Departamento de Ambiente e Ordenamento, Universidade
de Aveiro
csl@ua.pt
Almeida, A.
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra / CEGOT
campar@fl.uc.pt
Baptista, P.
Departamento de Geociências, Centro de Estudos do
Ambiente e do Mar (CESAM), Universidade de Aveiro
renato.baganha@ua.pt
Dinâmica da duna frontal em função das intervenções humanas:
análise de três exemplos do litoral centro de Portugal
Referência: Lourenço, C.; Almeda, H.; Baptista, P. (2013). Dinâmica da duna frontal em função das
intervenções humanas: análise de três exemplos do litoral centro de Portugal. Revista de Geografia e
Ordenamento do Território (GOT), n.º 4 (dezembro). Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do
Território, p. 129-152
Resumo
O objetivo deste trabalho é quantificar o impacte das ações antrópicas na dinâmica da duna frontal em três praias do litoral centro de Portugal – Mira, Quiaios e Palheirão. Para quantificar o impacte antrópico, a dinâmica da duna foi quantificada segundo oito perfis transversais, mediante o uso de GPS em modo Diferencial (DGPS), monitorizando zonas com e sem passadiços, com uma correção diferencial feita em pós-processamento A aquisição de dados efetuada entre novembro 2011 e julho 2012 corresponde a um período atípico de fraca pluviosidade e fraca intensidade do vento. Os resultados demonstram que apesar da elevada ação antrópica (como o pisoteio e a concentração de passadiços) em duas das praias monitorizadas, o impacte dessa ação é reduzida e similar ao verificado na praia de controlo.
Palavras-Chave: dinâmica dunar, praias arenosas, monitorização, DGPS, ação antrópica
GOT, n.º 4 – Revista de Geografia e Ordenamento do Território (dezembro de 2013) GOT, nr. 4 – Geography and Spatial Planning Journal (December 2013)
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Abstract
The goal of this study is to quantify the impact of human actions on the foredune dynamics at three beaches in central Portugal - Mira, Palheirão and Quiaios. To quantify anthropogenic impact, the foredune dynamics is assessed with eight orthogonal profiles, using the GPS in differential mode (DGPS), with correction made in post-processing. The data were acquired between November 2011 and July 2012, during an atypical period of low rainfall and wind speed. Despite the high human action (such as trampling and concentration of walkways), the results show a small in two of the monitored beaches, compared with the control beach. Keywords: dune dynamics, sandy beaches, monitoring, DGPS, human action
1. Introdução
O litoral é definido como uma complexa faixa de transição entre a terra e o oceano,
apresentando uma grande variedade geomorfológica e diferentes tipos de ocupação:
dunas, campos agrícolas, praias, vegetação. O litoral continental português é composto
por costas arenosas e rochosas ocupando, respetivamente, 591 km e 348 km de
extensão (GEOTA, 2005). Este litoral constitui uma área com grande potencial natural e
uma riqueza inestimável de recursos. Todavia, as intervenções antrópicas, no litoral, têm
sido intensas e podem ser ainda mais intensas no futuro, originando em muitos casos a
destruição das formações naturais de defesa costeira, destacando-se, entre elas, o
cordão dunar frontal e os campos de dunas nas costas arenosas. De forma sintética, a
figura 1 representa a definição do sistema de praia incluindo os processos
hidrodinâmicos dominantes e os elementos morfodinâmicos.
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Figura 1: Esquema representativo da geomorfologia de uma praia (inclui subsistemas do perfil de praia, processos hidrodinâmicos e os elementos morfodinâmicos. npmv- nível da preia-mar
viva; nbmv- nível da baixa-mar viva. (J. Trindade, 2010 in http://slif.info.ul.pt/images/pdf/PhD_JT.pdf)
As costas arenosas portuguesas são especialmente suscetíveis devido à progressiva
diminuição do transporte sedimentar em deriva litoral que origina défice sedimentar,
diminuição da largura das praias e erosão dunar (Gomes, 2007). Contudo a orla costeira
continua a ser um local atrativo para fins turísticos, de recreio, desenvolvimento
residencial e de férias, o que faz com que haja uma “pressão” exercida sobre este
ambiente, tornando-o mais suscetível. O presente trabalho considera como ponto de
partida a seguinte hipótese: num ano atípico de pluviosidade e vento é possível isolar os
fatores naturais dos fatores antrópicos, que causam erosão costeira e por consequência
erosão dunar, para se estimar qual dos fatores influencia mais essa erosão e a resultante
destruição dunar. Para isso, num ano atípico de ventos e pluviosidade reduzidos,
efetuou-se este estudo comparando o efeito antrópico em duas praias de intenso
turismo e numa com pouco uso turístico. De referir que todas pertencem ao mesmo
domínio geomorfológico e que por isso estão, à partida, sujeitas às mesmas condições
dos agentes forçadores (agitação marítima e condições meteorológicas) o que permitiu
isolar a ação antrópica. Como teste desta hipótese, estabeleceu-se um programa de
monitorização da dinâmica morfológica da duna frontal durante nove meses (novembro
de 2011 a julho de 2012), o qual pretende, a partir dos dados adquiridos, avaliar os
padrões de acreção/erosão presentes nos três locais de estudo. Foram estabelecidos
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oito perfis transversais (três nas praias de Mira e Quiaios e dois na do Palheirão) com o
uso do GPS em modo Diferencial (DGPS), monitorizando as áreas com e sem passadiços.
2. Área de Estudo
Dentro da maior extensão de costa arenosa de Portugal, a região centro norte, foram
escolhidas as três áreas-amostra para a realização do estudo – Praia de Mira, Praia do
Palheirão e Praia de Quiaios (figura 2).
Oceano Atlântico
Espanha
a
b
c
d Praia de Quiaios
Praia do Palheirão
Praia de Mira
Figura 2: Localização geográfica das três praias em estudo em Portugal Continental a): b)praia de Mira; c) praia do Palheirão e d) praia de Quiaios (Google Earth 2013)
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O sistema dunar frontal, em análise, é composto pelos cordões dunares de Mira,
Palheirão e Quiaios (figura 3).
Neste sistema dunar é visível a existência de trechos onde a quantidade de sedimentos
aumenta, cobrindo uma área considerável no passadiço, quando este está presente.
Contudo noutros trechos há falta de sedimentos. Por vezes a duna é cortada por
blowouts que podem evoluir para o interior por dunas parabólicas que passam depois,
eventualmente, a lineares (Almeida, 2003). Quanto às dunas interiores, estas
apresentam uma estrutura dunar linear dominante mas, no terreno, nota-se que as
cristas são agora ocupadas por vegetação arbustiva e pinhal (Almeida, 1995).
Atualmente, na zona norte da praia de Quiaios, nas dunas interiores, as cristas são
ocupadas por vegetação densa, em parte constituída por acácias que proliferaram
bastante na sequência do incêndio de 1993. Segundo Almeida (2003, p. 57) “A mais
recente vaga de dunação que veio cobrir boa parte dos campos dunares anteriores, é
Figura 3. Cordões dunares nas três praias em estudo. a)Praia de Quiaios; b) Praia do Palheirão e c) Praia de Mira
a b
c
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formada por dunas lineares (oblíquas e transversas) com disposição W-E, na maior parte
da área e por dunas parabólicas e em domo junto do cordão litoral”.
3. Metodologia
Pretende-se adquirir dados morfológicos georreferenciados para detetar as irregularidades
na duna frontal. A metodologia adotada inclui a aquisição de dados morfológicos, em
campanhas de monitorização, relativos aos perfis transversais e longitudinais. É ainda
utilizada informação relativa ao clima e vegetação para a realização de uma análise
completa na quantificação e alteração da dinâmica da duna frontal. Procura-se verificar se
ocorre acreção ou erosão de sedimentos através da análise das variações da componente
altimétrica dos perfis para assim se perceber qual o real impacte humano na erosão das
praias. Pretende-se adquirir dados morfológicos georreferenciados para detetar o estado
de erosão/acreção de sedimentos. A metodologia adotada consiste na realização de perfis
transversais à linha de costa por GPS e na aquisição de informação relativa às condições
meteorológicas e agitação marítima. No campo, o método de levantamento GPS adotado
consiste na utilização de um recetor GPS transportado pela operadora em mochila
(estação rover ou móvel) e cuja antena é fixa num bastão na base da qual está acoplada
uma roda (Baptista et al., 2011). A estação base ou de referência consiste no
estacionamento de um recetor GPS num ponto de coordenadas conhecidas previamente
determinadas através de uma ligação à rede geodésica. Conforme as caraterísticas das
praias, assim foram escolhidos os perfis (figura 4 e 5).
Figura 4: Localização dos perfis na praia de Mira (1) e Quiaios (2) (Google Earth 2013) – a) perfil
transversal Sul; b) perfil transversal intermédio; c) perfil transversal Norte.
a
b
c
c
b
a
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Figura 5: Localização dos perfis na Praia do Palheirão (Google Earth 2013) - a) perfil transversal Sul; b) perfil transversal Norte.
Como as Praias de Mira e Quiaios são mais semelhantes em termos de utilização
antrópica, foram escolhidos perfis transversais à linha de costa em locais de acesso à
praia. Em Mira, dois perfis localizam-se próximo de parques de estacionamento (com
passadiços de acesso direto à praia, atravessando o cordão dunar) assim como em
Quiaios (perfil Norte e Sul). O outro perfil transversal é efetuado numa zona sem
passadiço de acesso direto à praia (Mira - marginal) e em Quiaios na zona onde existe
um passadiço paralelo à linha de costa (atrás da piscina). Com estes perfis é possível ter
uma perspetiva da duna frontal e da praia na sua totalidade. Na praia do Palheirão
foram efetuados dois perfis transversais, um de acesso direto à praia e outro sem o ser.
A Praia do Palheirão foi escolhida como caso de controlo, por ser uma praia de menor
utilização, devido aos seus difíceis acessos e por ser pouco conhecida. Nesta, todos os
perfis transversais foram efetuados aproximadamente de Este para Oeste até à faixa de
ressaca da onda. No processo de aquisição dos dados morfológicos nas três praias, a
principal dificuldade no trabalho de campo foi a quantidade de obstáculos (redes e
covos; tampa de uma dorna; turistas) encontrados no trajeto ao longo dos perfis que
obrigaram, em alguns casos, a seguir direções distintas em perfis consecutivos para o
mesmo local. Os ficheiros de dados GPS adquiridos nos levantamentos de campo, são
processados recorrendo a algoritmos de fixação de ambiguidade “on-the-fly” no
programa Trimble Total Control™ (Trimble Navigation, Ltd). Após o processamento DGPS
é gerado um ficheiro de coordenadas (lat, long e altitude elipsoidal). Esses dados são
a
b
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tratados com recurso a rotinas desenvolvidas em Matlab 7.1.® (The Mathworks, Inc),
nomeadamente do GPSclean e Spacepos (Cunha, 2002 in Baptista, 2006). Estas rotinas
são utilizadas para eliminação de posições quando, por exemplo, ocorrem paragens do
operador ao longo do trajeto. Uma vez que o processamento GPS adota um Datum
geodésico global, o WGS84 (World Geodetic System, 1984), as coordenadas neste
Datum, são posteriormente convertidas para as coordenadas planimétricas associadas a
um Datum nacional (ex: Datum 73) utilizando o programa FWTools®. As coordenadas
altimétricas elipsoidais são convertidas para coordenadas ortométricas (referidas ao
nível médio das águas do mar (NMAM)). No caso das praias de Mira e Palheirão foi
efetuado um ajuste ao NMAM através do levantamento por GPS de várias marcas de
nivelamento situadas nas imediações dessas praias. No caso da praia de Quiaios devido
à ausência de marcas de nivelamento utilizou-se um valor representativo da tendência
da ondulação do geóide para o local, com base nos valores obtidos nas outras praias e
ainda com base na superfície média de ondulação do geóide para Portugal. Com vista à
avaliação da precisão do método na determinação das variações morfológicas dos perfis
apresentam-se de seguida várias fontes de erro do método de levantamento por GPS
que foi efetuado neste estudo. Consideram-se três fontes de erro: (1) precisão do DGPS
(±0,05m considerado como erro máximo na componente altimétrica (Baptista, 2006));
(2) erro relativo à variação de inclinação do bastão que transporta a antena cinemática.
O objetivo durante a campanha é que o sistema móvel se mantenha na vertical durante
a aquisição de dados. Assume-se uma incerteza de ±0,006 m em altimetria como
resultado de uma variabilidade angular de ± 5° na inclinação do bastão relativamente à
vertical em cada instante (Baptista, 2006); (3) erro associado ao enterramento da roda
de suporte ao bastão que transporta a antena GPS cinemática o qual é estimado em
±0,03 m (Baptista, 2006).
Para o cálculo do intervalo de erro, na componente altimétrica, em cada ponto do perfil
é necessário somar as três incertezas. Para tal, assume-se que: 1) as três fontes de erro
são independentes, logo não correlacionadas e a sua covariância é zero; 2) como são
indicados os valores máximos de erro, é possível interpretar esses valores como um
limite de incerteza a 99%; 3) cada incerteza tem uma distribuição normal (gaussiana).
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Estes três pressupostos permitem calcular um limite do erro a 99% de confiança, com
base nos três valores. Como estes são independentes, então o limite de incerteza a 99%
de confiança ɣ é:
ɣ= ± �0,052+ 0.006²+0,032 m
obtendo-se um valor 0,0586 m, que representa o intervalo de erro de ±0,0586.
Para o cálculo da diferença da cota de um perfil entre duas campanhas, é igualmente
assumido que os erros em cada campanha são independentes. Para a análise da
diferença de duas em duas campanhas, a incerteza associada é o resultado da
combinação dos dois erros associados, e a 99% de confiança é dado por
ϕ=± �ɣ� + ɣ� = ± 0,052+ 0.006²+0,052 + 0,052+ 0.006²+0,03
2 m
tendo-se obtido o valor de ±0,0829 m.
Complementarmente à aquisição de dados topográficos no campo foram utilizados
dados obtidos de páginas web oficiais (http://www.meteo.pt/pt/ - acedido diariamente;
http://www.windguru.cz/pt/- acedido diariamente) relativos às condições
meteorológicas (vento e pluviosidade - quando a pluviosidade é reduzida (0-1 mm/dia) a
velocidade de vento mínima estimada para que as partículas granulares se movam é de
20 km/h; para uma maior pluviosidade (≥ 1 mm/dia) a velocidade de vento mínima
aumenta até aos 35 km/h (Fryberger, 1979)) e agitação marítima (altura e direcção de
onda). Estes dados são integrados na análise das variações topográficas.
4. Resultados
4.1 Quantificação de vento, pluviosidade e agitação marítima
São analisados os resultados finais dos levantamentos de campo no que diz respeito aos
perfis realizados durante as campanhas, assim como, os dados adquiridos de
pluviosidade, vento e agitação marítima. Para a análise da pluviosidade mensal e do
vento, na área de estudo, foram utilizadas como referência as estações meteorológicas
da Figueira da Foz e de Aveiro (Barra), através de dados adquiridos online
(http://www.meteo.pt/pt/ - acedido diariamente). Estas duas estações foram escolhidas
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por serem os extremos com dados completos na área de estudo. Da observação dos
gráficos (figura 6) é fácil constatar que nas áreas em estudo os meses com maiores
quantidades de pluviosidade foram novembro, abril e maio. No entanto, na Figueira da
Foz, apesar de ter tido menos dias com chuva, a quantidade de pluviosidade diária
máxima foi muito superior (4,25 mm/dia) à de Aveiro (2,25 mm/dia). Como ocorreu
menor pluviosidade relativamente aos valores mensais de pluviosidade considerados
normais na região (Tabela 1), as praias tornaram-se mais sensíveis a fenómenos de
transporte sedimentar, tanto pelo vento como por outros fatores, como o pisoteio por
pessoas e por animais, por atuarem sobre os sedimentos secos (mais fáceis de mobilizar
do que os molhados). Verifica-se pela tabela I que o total acumulado em 2011/2012
continua a ser inferior ao valor normal, apesar de superior ao de 2004/2005,
confirmando que realmente foi um ano atípico, encontrando-se a zona de estudo
classificada entre ano de seca fraca a moderada
(http://www.gpp.pt/seca2012/Relatorio_6_GTSeca2012.pdf).
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Figura 6: Pluviosidade mensal durante o período de campanhas nas três praias em estudo [http://www.meteo.pt/pt/ - acedido diariamente] – Barra da Figueira da Foz (Quiaios) e Barra de
Aveiro (Mira e Palheirão).
Tabela 2: Pluviosidade mensal nos anos hidrológicos (entre outubro a maio) 2004/2005, 2010/2011 e 2011/2012 e valor médio 1971-2000 para Portugal Continental (Gabinete de
planeamento e políticas [http://www.gpp.pt/seca2012/Relatorio_6_GTSeca2012.pdf - acedido a 20-6-2012]).
Pluviosidade mensal no ano hidrológico (mm)
Ano Hidrológico
Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Total
2004/2005 164,4 21,0 44,2 7,2 19,7 56,4 32,1 32,1 377,1
2010/2011 151,3 111,3 194,5 102,6 96,9 71,8 74,8 67,2 870,4
2011/2012 84,8 158,3 41,2 20,4 2,2 20,8 76,6 62,9 467,2
Média 1971/2000
98,2
109,4
144,0
117,3
100,1
61,2
78,9
71,2
780,3
O vento é o elemento mais importante do clima com impacte na dinâmica dunar. Em
concreto, o rumo e velocidade do vento são os parâmetros que definem a direção e a
quantidade de partículas transportadas (Sherman & Hotta, 1990). O vento exerce uma
ação direta no transporte de sedimentos arenosos (sendo o agente da geodinâmica
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Velocidademédia
externa mais seletivo) contribuindo para a formação ou degradação dos sistemas
dunares (Tsoar, 2001). A figura 7 e a tabela 2 representam a análise dos dados de vento
recolhidos durante o período de campanhas efetuadas.
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Vento [21/5/2012 a 11/6/2012] na Figueira da Foz
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Vento [11/6/2012 a 6/7/2012] em Aveiro
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Vento [11/6/2012 a 6/7/2012] na Figueira da Foz
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Figura 7: Dados de frequência e velocidade média do vento nas duas estações de referência [http://www.meteo.pt/pt/ - acedido diariamente; http://www.windguru.cz/pt/- acedido
diariamente].
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Tabela 3: Dados analisados e representados nas componentes de rumo e frequências dos ventos em média no período entre campanhas [http://www.meteo.pt/pt/ - acedido diariamente;
http://www.windguru.cz/pt/- acedido diariamente].
Campanhas
Aveiro Figueira da Foz
Velocidade máxima
Rumos dominantes
Velocidade máxima
Rumos dominantes
18 de outubro de 2011 a 6 de
novembro de 2011
W (19,25 km/h)
SE e S SE (18,05 km/h)
NW e SE
6 de novembro de 2011 a 11 de
dezembro de 2011
SW (18,7 km/h)
SE e NW SW (16,23 km/h)
NE e N
11 de dezembro de 2011 a 9 de
janeiro de 2012
N (9,47 km/h) E
W (9,3 km/h) NE e N
9 de janeiro de 2012 a 6 de
fevereiro de 2012
E (12,69 km/h) E e NE
NW (10,95 km/h) NE
6 de fevereiro de 2012 a 6 de
março de 2012
W (14,4 km/h) NW e E
NW (16,9 km/h) E e SE
6 de março de 2012 a 9 de abril de
2012
S (25,2 km/h) NW
W (14,44 km/h) W e NW
9 de abril de 2012 a 21 de maio de
2012
SW (12,6 km/h)
NW e W SW (16,55 km/h)
W
21 de maio de 2012 a 11 de junho
de 2012
S (12,6 km/h) W e NW
NW (14,26 km/h) W e SW
11 de junho de 2012 a 6 de julho de
2012
NW (7,82 km/h)
NW N (8,36 km/h)
N
Da análise da figura 7 e da tabela 2 é visível que a conjugação do vento e da pluviosidade
não é suficiente para fazer ocorrer a mobilização de sedimentos de acordo com os
critérios previamente considerados (com base nos limiares de Fryberger, 1979).
A costa portuguesa está exposta às condições marítimas do Oceano Atlântico, sendo
particularmente influenciada pelos temporais que ocorrem no Atlântico Norte e que
originam uma ondulação predominante de Noroeste (NW) (tabela 3) (Costa et al., 2001;
Costa et al., 2001; Coelho, 2005).
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Tabela 4: Dados de altura significativa média e direção das ondas ([http://www.hidrografico.pt/previsao-mares.php - acedido diariamente]).
Dia de Campanha Altura significativa Direção mais
frequente Aveiro Figueira da Foz
6 de novembro de 2011 2,00 m 2,00 m NW, NNW
11 de dezembro de 2011 2,01 m 2,03 m NW, NNW
9 de janeiro de 2012 2,02 m 2,02 m NW, NNW
6 de fevereiro de 2012 1,98 m 2,00 m WNW, NW
6 de março de 2012 1,95 m 1,98 m WNW, NW
9 de abril de 2012 1,99 m 2,03 m NNW, NW
21 de maio de 2012 2,01 m 2,03 m NNW,WNW
11 de junho de 2012 1,98 m 2,12 m WNW, NNW
6 de julho de 2012 2,03 m 2,07 m WNW
Os dados recolhidos estão de acordo com o descrito por Coelho (2005) e Carvalho et al.
(1966), pois as alturas mais frequentes são de 1m a 2m e provêm dos quadrantes de
WNW a NNW. Outro fator importante em relação ao clima de agitação é que no período
de recolha de dados não houve ocorrência de tempestades.
4.2 Quantificação das alterações dos perfis dunares nas praias
As figuras 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15 e 16 representam os perfis efetuados durante o
período de monitorização.
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Figura 8: Perfis transversais na praia de Mira Sul da 1ª à 9ª campanha.
Da análise de todas as campanhas para a praia de Mira Sul (figura 8) é visível que as
alterações são mais acentuadas no mês de novembro na crista da duna. Nos restantes
meses as alterações são significativas na zona da praia, pois o declive das bermas é
diferente de campanha em campanha, devido à influência das condições de agitação
marítima. Contudo, ocorrem discrepâncias ligeiras na zona da crista da duna e na frente
da duna nos meses de novembro e abril. A cota máxima da crista do cordão dunar
frontal oscila dos 16,27m aos 16,58m.
Figura 9: Perfis transversais intermédios na praia de Mira da 1ª à 9ª campanha.
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No perfil transversal intermédio da praia de Mira (figura 9) é visível que as alterações
são mais acentuadas na zona da praia, depois dos 80 m de distância a partir da origem
do perfil (variabilidade das cotas e declives da berma ao longo do período em estudo
devido à agitação marítima) do que da zona da duna. Observam-se alterações no início
dos perfis, a cota da crista da duna oscila de 10,68 m a 10,89 m.
Figura 10: Perfis transversais Norte na praia de Mira 1ª à 9ª campanha.
Na praia de Mira Norte (figura 10) é visível que as alterações são mais acentuadas no
início do perfil (primeiros 14m de distância – crista da duna) e a partir dos 75m de
distância medidos da origem do perfil (praia). A cota da crista da duna oscila dos 14,28m
aos 15,01m. Neste perfil a duna encontra-se cortada, pois nesta zona foram colocados
acessos pedonais e uma marginal implementada por cima da própria duna.
Duna
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Figura 2: Perfil transversal Sul na praia do Palheirão da 1ª à 9ª campanha.
Na praia do Palheirão Sul (figura 11) são visíveis modificações frequentes, embora
pequenas, ao longo dos perfis, ocorrendo acreção e erosão de sedimentos,
principalmente na zona da crista e na frente da duna e antes da zona de praia. A cota
máxima da crista da duna oscila de 13,12m a 13,31m.
Figura 3: Perfil transversal Norte na praia do Palheirão da 1ª à 9ª campanha.
Na praia do Palheirão Norte (figura 12) são frequentes as modificações ao longo de
todos os perfis, ocorrendo acreção e erosão de sedimentos. Contudo as dunas
embrionárias mantêm-se às mesmas distâncias nas diferentes campanhas, com ligeiros
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aumentos e diminuições de cota. A cota máxima da crista da duna oscila de 12,60m a
12,95m.
Figura 13: Perfil transversal na praia de Quiaios Sul da 1ª à 9ª campanha.
Na praia de Quiaios Sul (figura 13), ao longo dos perfis foram registadas modificações
frequentes, ocorrendo acreção e erosão de sedimentos, distinguindo-se a formação de
uma berma de praia bem acentuada de maio a julho. A cota máxima da crista da duna
oscila de 7,80m a 8,01m.
Figura 44: Perfil transversal intermédio na praia de Quiaios da 1ª à 9ª campanha.
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No perfil transversal intermédio na praia de Quiaios (figura 14) é visível que as
alterações são frequentes ao longo de todo o trajeto, ocorrendo acreção e erosão de
sedimentos. Aos 30 m do ponto de origem existe um aumento de sedimentos devido ao
facto de perfil interceptar uma zona destruída do passadiço longitudinal existente na
praia. A cota máxima da crista da duna oscila de 10,51 m a 10,62 m.
Figura 15: Perfil transversal na praia de Quiaios Norte da 1ª à 9ª campanha.
Na praia de Quiaios Norte (figura 15) é visível que as alterações são frequentes ao longo
de todo o trajeto, ocorrendo acreção e erosão de sedimentos, especificamente na zona
da crista da duna, onde ocorre transposição do passadiço. A cota máxima da crista da
duna oscila de 10,94 m a 11,46m.
5. Discussão e Conclusões
Do ponto de vista metodológico, a principal dificuldade em realizar um trabalho deste
tipo relaciona-se com limitações à repetição de perfis em campanhas consecutivas. A
presença de obstáculos, nas praias, colocados pelos seus utilizadores (durante o uso
balnear ou nas atividades de arte xávega) obrigou a algumas alterações ao longo do
trajeto delineado, porém, estas não afetaram os resultados na medida em que ocorrem
já na parte do perfil correspondente à praia. Contudo, sugere-se em trabalhos futuros a
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introdução de alguns ajustes metodológicos (consistem em juntar medições com
instrumento mais preciso, um teodolito, para detetar as pequenas variações verticais)
sempre que se pretendam quantificar pequenas variações na componente altimétrica de
um perfil duna/praia (pouco superiores à incerteza inerente ao equipamento). Estas
ligeiras alterações causadas pela transposição dos obstáculos constituem um elemento
limitador da repetição de perfis em meses consecutivos, a utilização de dois pontos de
referência na zona da crista da duna poderá servir como referência azimutal para que
todos os perfis das várias campanhas, num mesmo local, sejam realizados ao longo do
mesmo transeto. Eventuais obstáculos serão, por conseguinte, contornados sem pôr em
causa o rumo adotado para o perfil.
No que diz respeito à análise e discussão de resultados, pretende-se testar a hipótese
inicial da investigação. Para tal, a avaliação dos resultados procura responder a duas
questões inicialmente formuladas:
1. Num ano atípico de reduzida pluviosidade e vento, qual a ordem de
grandeza na variação do perfil da duna (especificamente a crista e frente da duna)?
2. Qual a relação entre essa ordem de grandeza de variação da duna e a
intensidade da ação antrópica no sistema duna-praia?
Para as três praias considera-se a campanha de novembro de 2011 como campanha
exploratória pelo que a análise dos perfis efetuados nessa campanha não são por isso
determinantes relativamente à análise posterior. Para os perfis realizados em Quiaios
Sul, Quiaios Norte e Palheirão Norte, onde a transposição do passadiço é efetuado na
zona da crista da duna, a análise da cota máxima da crista da duna é pré-determinada
pela existência do passadiço. Na análise destes perfis, têm-se em conta a evolução da
frente da duna e a formação de dunas embrionárias.
A análise da evolução dos perfis dunares e cota da crista da duna frontal nas praias de
Mira, Palheirão e Quiaios foi avaliada para três grupos de perfis transversais à linha de
costa (Mira e Quiaios) e dois grupos de perfis transversais à linha de costa (Palheirão),
definidos pela sua similaridade geomorfológica e exposição à ação antrópica,
especificamente a sua localização em relação ao sistema de passadiços.
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A análise dos resultados para o primeiro grupo de perfis (perfis Sul realizados nas
laterais do passadiço de cada praia) demonstra que a cota da crista da duna: (I)
manteve-se estável ao longo do período de observação na praia de Mira (praia de
elevada pressão antrópica), (II) manteve-se estável em Quiaios (praia de moderada
pressão antrópica), (III) e manteve-se estável na praia do Palheirão (praia de reduzida
pressão antrópica). Tendo em conta que a intensidade de vento e as condições de
pluviosidade não eram propícias à mobilização de sedimentos podemos concluir que a
ação antrópica indireta (construção de passadiços e obras de defesa costeira pesada e
ligeira) não é um fator relevante na dinâmica da duna frontal e que a ação antrópica
direta, como é o caso do pisoteio, não é relevante pois admite-se que esta está centrada
na movimentação de pessoas nos passadiços e que, portanto, não ocorre pisoteio nas
dunas. Adicionalmente pode-se concluir que os passadiços implementados para evitar o
pisoteio, indiretamente, auxiliam na intersecção de areia pela vegetação dunar. O
segundo e terceiro grupos de perfis, situados a Norte do primeiro grupo de perfis em
cada uma das praias, não apresentam alterações significativas, tal como os perfis a Sul.
Da análise dos resultados conclui-se que não ocorrem variações significativas em
nenhum dos três grupos de perfis em nenhuma das três praias, exceto para ligeiras
alterações detetadas em duas campanhas no perfil na praia de Quiaios Norte. A
similaridade da evolução nula do perfil dunar entre as praias de maior ação antrópica
(Mira e Quiaios) e a praia de controlo nega a hipótese de que nas praias de Mira e
Quiaios a erosão por ação antrópica impede a evolução natural do perfil dunar. Caso
contrário seria expectável verificar uma acreção do cordão dunar da praia do Palheirão
durante o período de observação.
Por fim, pode-se afirmar que foi comprovada a hipótese formulada: na ausência de uma
ação natural significativa, foi possível isolar as variações de perfil induzidas pela ação
antrópica para a escala temporal deste estudo e nas condições meteorológicas que
presidiram ao mesmo.
A ausência de indícios de uma erosão mais acentuada nas duas praias sujeitas a uma
maior pressão antrópica em relação à praia sujeita a uma menor ação antrópica (praia
de controlo) indica que a ordem de grandeza da ação antrópica é normalmente inferior
à incerteza experimental do estudo (Tabela 4).
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Tabela 5: Variação da cota máxima para os nove meses e variação média da cota máxima mensal na crista da duna.
Transepto em estudo Variação da cota para o envelope de perfis (9 meses)
Variação média da cota mensal
Mira Norte 14,28m a 15,01m 15,01-14,28/9=0,081m/mês
Mira Intermédio 10,68m a 10,89m 10,89-10,68/9=0,023m/mês
Mira Sul 16,27m a 16,58m 16,58-16,27/9=0,034m/mês
Palheirão Norte 12,60m a 12,95m 12,95-12,60/9=0,039m/mês
Palheirão Sul 13,12m a 13,31m 13,31-13,12/9=0,021m/mês
Quiaios Norte 10,94m a 11,46m 11,46-10,94/9=0,057m/mês
Quiaios Intermédio 10,51m a 10,62m 10,62-10,51/9=0,012m/mês
Quiaios Sul 7,80m a 8,01m 8,01-7,80/9=0,023m/mês
A ausência de uma variação significativa no perfil dunar das três praias ao longo do
período de observação nega a hipótese que efeitos da ação antrópica possam estar
“escondidos” por efeitos da ação natural.
Uma possível inferência deste resultado relaciona-se com o facto de que atualmente a
dinâmica do cordão dunar por ação meteorológica direta do vento e precipitação não
está tão relacionada com a disponibilidade sedimentar, mas pela maior ou menor
capacidade de remobilização sedimentar por efeitos eólicos. Aliás, estudos feitos em
dunas frontais mantidas em estado relativamente natural, como na Holanda, em que se
concluiu ser o rumo do vento associado a velocidades próximas da velocidade potencial
crítica e não as grandes velocidades do vento, os fatores mais eficazes no transporte de
areia (Jungerius et al., 1991). De igual modo, na Praia do Areão, a norte de Mira, mais do
que a ação antrópica, é a ação de episódios de vento mareiros o que faz depositar areia
sobre passadiços colocados sobre a duna frontal (Almeida, 2011). Os efeitos da
deficiência sedimentar atualmente existente no litoral poderão fazer-se sentir mais pela
via da agitação marítima durante temporais em que ocorre ataque direto à base do
cordão dunar frontal. Os três casos em estudo não foram contudo alvo dessa ação
durante o curso deste trabalho.
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