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A CONTRIBUIÇÃO DOS JOGOS COOPERATIVOS NA DISCUSSÃO DOS PILARES DA EDUCAÇÃO
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CENTRO UNIVERSITÁRIO MONTE SERRAT
EDUCAÇÃO PARA CONVIVÊNCIA:
A CONTRIBUIÇÃO DOS JOGOS COOPERATIVOS NA DISCUSSÃO
DOS PILARES DA EDUCAÇÃO
JEFFERSON CAMPOS LOPES
SANTOS
2002
JEFFERSON CAMPOS LOPES
EDUCAÇÃO PARA CONVIVÊNCIA:
A CONTRIBUIÇÃO DOS JOGOS COOPERATIVOS NA DISCUSSÃO
DOS PILARES DA EDUCAÇÃO
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora do Programa de Pós-
Graduação da Unimonte, como
exigência parcial para obtenção
do título de Mestre em Educação.
Orientadora: Professora Doutora
Vera Lúcia Anselmi Melis Paulillo.
Santos
2002
TERMO DE APROVAÇÃO
JEFFERSON CAMPOS LOPES
EDUCAÇÃO PARA CONVIVÊNCIA:
A CONTRIBUIÇÃO DOS JOGOS COOPERATIVOS NA DISCUSSÃO
DOS PILARES DA EDUCAÇÃO
Dissertação aprovada como requisito parcial para obtenção
do grau de Mestre no Programa de Pós-Graduação em
Educação da Unimonte, pela Banca Examinadora formada
pelos seguintes professores doutores:
_________________________________________________
Orientadora: VERA LÚCIA ANSELMI MELIS PAULILLO (Presidente) Centro Universitário Monte Serrat
_________________________________________________
1.º Examinador: ROBERTO RODRIGUES PAES Universidade de Campinas
_________________________________________________
2.º Examinador: CLAUDETE MARQUES MACHADO Universidade Presbliteriana Mackenzie
Santos, 2 de março de 2002
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais, José e Neide, por me propiciarem,
sempre, a base da sustentação moral e os subsídios financeiros
para ser o que sou.
Agradeço às minhas irmãs, pelo constante amor dedicado ao irmão
caçula e único irmão da família.
Agradeço à minha esposa, que sempre esteve a meu lado, quer nos
momentos de derrotas ou de sucessos da minha vida.
Agradeço à Professora Doutora Vera Lúcia Anselmi Melis Paulillo,
minha orientadora e amiga, pela condução segura e competente da
Dissertação e, principalmente, por acreditar na realização desta
pesquisa.
Agradeço aos alunos do ensino infantil, médio, fundamental e
universitário, por vivenciarem esta proposta, contribuindo, assim,
para o meu crescimento profissional.
Agradeço ao Fábio Otuzzi Brotto, por ter sido minha fonte de
inspiração, iluminando o meu caminho para os Jogos Cooperativos.
Agradeço ao meu Anjo da Guarda e a Deus pelos momentos difíceis
que passei na vida e pelos momentos magníficos de alegria que
estou passando hoje.
Agradeço aos verdadeiros e grandes amigos por estarem sempre
por perto, pois a amizade é algo maravilhoso.
MEMORIAL
ou brasileiro, nascido em Brasília-DF, filho de pai militar e mãe
carinhosa, sendo o único filho homem desta família, que é
composta por mais duas irmãs.
Tive a oportunidade de morar em várias cidades do Brasil e por dois anos na
Europa, pois meu pai era constantemente transferido para outras bases navais.
Fixei-me na cidade de Santos, por volta dos 14 anos, junto com minha família,
onde terminei meu ensino médio e ingressei na Universidade.
Paralelamente aos estudos, sempre pratiquei esportes, principalmente o
Caratê, que proporcionou-me a oportunidade de viajar para vários lugares, obter
bolsas de estudos integrais, salários e o prestígio de chegar ao topo da carreira de
um atleta – ser da seleção brasileira.
Resolvi ingressar em Administração de Empresas, pois tinha jeito com
negócios. Infelizmente, porém, por uma reviravolta do destino, fui transferido para
outro Estado e resolvi pedir demissão.
Sendo assim, resolvi unir o útil ao prazeroso e ingressei na Educação Física.
Logo, eu estava ministrando aulas em colégios e academias.
Com a chegada do último ano, eu já tinha certeza que não poderia parar e
resolvi então fazer o Mestrado em Educação.
No final do segundo ano do Mestrado, organizei e aproveitei a chance de
realizar uma Pós-Graduação em Jogos Cooperativos, que daria grande base de
fundamentação para minha Dissertação.
Os Jogos Cooperativos entraram na minha vida com um convite de meu
professor para um festival que seria realizado em uma outra cidade.
S
Chegando lá, encontrei várias pessoas de diferentes cidades e senti-me como
se estivesse com uma grande família. Percebi que esta proposta – a dos Jogos
Cooperativos –, que não visavam realizar atividades de jogar uma contra a outra,
mas sim, com todas juntas, poderia ser um meio facilitador de ensino/aprendizagem,
pelo qual, pelas vivências, reflexões, no mínimo diferentes das pessoas, poderia
aproximar a convivência entre elas.
Atualmente, sou professor de Educação Física em escolas particulares,
coordenador, técnico e professor de Caratê na Prefeitura Municipal de Santos, além
de realizar workshops por diversas cidades do Brasil.
ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES
Lista de Tabelas
Tabela 1: Encontros com educadores e educandos em 1999................................... 7 Tabela 2: Encontros com educadores e educandos em 2000................................... 8 Tabela 3: Encontros com educadores e educandos em 2001................................... 8 Tabela 4: Jogos competitivos e jogos cooperativos .................................................. 47 Tabela 5: Padrões de percepção/ação ...................................................................... 49
Lista de Figuras
Figura 1: Jogo da transformação ............................................................................... 15
RESUMO
A vida que vivemos e com a qual convivemos tem enfatizado valores excessivamente
materialistas e de resultados permeados por regras, condutas e formas restritas que
inibem o comportamento inovador, as propostas ousadas, a coletividade e as relações
interpessoais.
Nesse sentido, esta dissertação busca mostrar a importância dos Jogos Cooperativos
no processo educacional na relação com os Pilares da Educação, como uma educação
voltada para a convivência da aprendizagem de valores humanos e de um novo estilo
de jogar, de forma a ver e viver a vida numa “jogada” que faça cada um reencontrar o
seu EU.
No âmbito desta pesquisa, foi adotada uma metodologia de estudo descritiva e
exploratória, associada a uma proposta que apresenta um relato dessas atividades
cooperativas.
Inicialmente, reflete-se sobre as formas que se pode educar, por meio dos valores
humanos, que não visem somente informações mas também contribuições para que
esta educação seja um tesouro a ser descoberto por todos.
Seguindo nesse caminho, buscou-se, nos Pilares da Educação, quatro maneiras para
que este desenvolvimento e aperfeiçoamento possam estar sendo realizados na
intenção da melhoria de qualidade de vida.
Também encontrou-se, por meio da Educação Física e do Jogo, uma visão de que a
educação física pode exercer uma influência neste contexto com a ajuda de uma
ferramenta poderosa e maravilhosa: o jogo.
Nesta jornada de informações, pode-se chegar aos Jogos Cooperativos, em que se
pretende mostrar o papel que estes exercem como fonte inesgotável de alternativas que
visam como resultado o desenvolvimento de formas de cooperação e de convivência
que são essenciais e vitais para a construção de um mundo melhor para toda a
coletividade.
Concluindo este estudo, propõe-se um relato que vem sendo utilizado há vários anos e
que, por certo, contribuirá com o processo de ensino-aprendizagem, dando
oportunidade às pessoas de terem um material para que possam continuar esta jornada
sem medo de errar ou tentar, sendo, porém, mais felizes, amorosas e prazerosas pela
convivência e, a partir de então, jogando umas com as outras e não umas contra as
outras.
ABSTRACT
Our daily life as we kwon it has worked its way out to stress extremely material
values permeated with restrictive rules, behaviors and attitudes that end up inhibiting
any possible innovating behavior, bold propositions the whole community and
interpersonal relations.
Bearing that assertion as a starting point, this paper tries to show the importance of
Cooperative Games in the educational process and in its relation to the Pillars of
Education, as a form of education oriented to the learning of human values and a
new style of playing. That aims at seeing and leading life in a “move” that makes
each one of us find back his or her real ME.
As to what this research is concerned, a descriptive and exploratory study approach
and methodology was adopted, associated to a proposal that presents a report on
these cooperative activities.
At first, there is a reflection on the way one can educate, through human values, that
do not aim only at information, but also at contributions to have such education
working as a treasure to be discovered by everyone.
Along this path, the said Pillars of Education provided four different ways to carry out
this development always targeting the improvement in quality of life.
In addition to that, one is expected to notice that Physical Education and Game
teaching may influence this context working with a powerful and wonderful tool: the
playing itself.
Sailing through this array of information, one gets to the Cooperative Games, where
the paper intends to show the role they play as inexorable source of alternatives, all
of them targeting the development of way to cooperate and live together, essential
and critical to he construction of a better world for each and every one of us.
Closing this study, a report is proposed, one that has been used for years now and
that for sure will contribute to the teaching-learning process, giving people the
opportunity to continue treading on this path not afraid of failing or even trying but
rather, finding themselves happier, more loving and pleased with their living together
experience and, from that moment on, playing with each other instead of against.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 12
1 Justificativa ........................................................................................................ 16
2 Metodologia ....................................................................................................... 16
2.1 Objetivo geral .............................................................................................. 16 2.2 Objetivos específicos........................................................................................... 16
2.3 Método ........................................................................................................ 17
2.4 Participantes do estudo ............................................................................... 18
CAPÍTULO 1: EDUCAÇÃO PARA CONVIVÊNCIA ................................................................ 20
CAPÍTULO 2: PILARES DA EDUCAÇÃO ............................................................................ 24
2.1 Valores humanos......................................................................................... 28
2.1.1 O que são e quais os valores humanos ............................................. 28
CAPÍTULO 3: EDUCAÇÃO FÍSICA E JOGO ....................................................................... 33
3.1 Histórico da Educação Física no Brasil ....................................................... 33
3.1.1 Educação física nos dias de hoje ....................................................... 36
3.2 O jogo .......................................................................................................... 38
3.2.1 O jogo: elemento educacional ............................................................ 42
CAPÍTULO 4: JOGOS COOPERATIVOS ............................................................................ 47
4.1 Origem e Evolução ...................................................................................... 48
4.2 Retrospectiva histórica ................................................................................ 50
4.3 Jogos cooperativos no mundo ocidental ..................................................... 51
4.4 Jogos cooperativos no Brasil ....................................................................... 52
4.5 Conceito e características ........................................................................... 56
4.6 Atitudes dos jogos cooperativos .................................................................. 59
4.7 Categorias dos jogos cooperativos .............................................................. 61
CAPÍTULO 5: RELATO DA EXPERIÊNCIA ......................................................................... 65
CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 82
ANEXO ........................................................................................................................ 88
Anexo 1: Comentários dos professores que participaram das Oficinas ............. 88
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................. 92
12
INTRODUÇÃO
Para voltar a abrir o coração é preciso enxergar como uma nova visão.
(Parafraseado de trecho de música de Almir Sater)
tema como assunto gerador desta dissertação foi escolhido na
possibilidade de intervenção na aprendizagem das pessoas, como uma
nova alternativa no processo, de conviver juntas, lado a lado, seja na
família, escola, profissão ou na sociedade.
Ao focalizar este estudo, podemos observar ações muito significativas pelo mundo e
no Brasil, onde, embora seja um pouco mais conhecido, ainda é muito recente na investigação
acadêmica.
Dada à natureza da experiência do pesquisador em atividades, estaremos entrelaçando
os Jogos Cooperativos na discussão dos Pilares da Educação para o século XXI.
Dessa relação, pretendemos mostrar que a vivência, por meio do jogo, pode oferecer
caminhos para um educar voltado em capacidades gerar uma verdadeira autonomia.
Para tal, a convivência é uma condição importante da vida cotidiana, relação essa que,
na medida em que buscamos a melhoria da qualidade interpessoal e intrapessoal, podemos
desenvolver e aperfeiçoar competências na perspectiva de viver juntos.
A nosso ver, existem dois grandes desafios para o sucesso dessa convivência. Um
deles é resgatar, cultivar e aperfeiçoar o prazer do jogo na sua melhor forma, que é o de
brincar, unindo corpo e mente como um só. O outro é revermos nossos processos de
ensino/aprendizagem voltados para o tecnicismo1 para transmitir conhecimentos, conteúdos e
teorias.
1 Utilização fundamentada com uso de técnicas.
O
13
Segundo Imbernón (2000, p.79), “nosso meio educativo foi sendo construído num
discurso, mais simbólico do que real, já que a realidade proporcionou um aumento do
tecnicismo”.
Nesse sentido, reconhecemos que a educação para o século XXI deva ser
fundamentada em uma pedagogia transdisciplinar (apontada no relatório para a UNESCO –
Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) e integrada com os
Pilares da Educação, que são baseados em quatro princípios (Delours, 1999, p.90):
Aprender a conhecer;
Aprender a fazer;
Aprender a ser;
Aprender a viver juntos, a viver com os outros.
Nessa educação, a aprendizagem não está baseada sobre o objeto a ser conhecido, nem
no resultado apenas, mas sim sobre a possibilidade de desenvolvimento do ser crítico e
consciente num processo de descoberta e transformação de experiências vividas.
Desta visão, inserimos no contexto o jogo, como abordagem capaz de promover
oportunidades, em que o prazer de brincar possa contribuir com o processo de
ensino/aprendizagem.
Buscaremos este envolvimento por meio de uma visão um pouco diferente da que
estamos acostumados a ver quando o jogo é realizado, de maneira que possamos expressar
autêntica e espontaneamente a importância essencial de ser o que somos e valorizarmos o que
fazemos.
Dessa forma, podemos mostrar o valor do jogo e da convivência na oportunidade de
transcender a ilusão de sermos separados uns dos outros, e para aperfeiçoarmos nossas vidas
em comunidade, promovendo o encontro ao invés do confronto.
O principal objetivo deste estudo foi propor o desenvolvimento dos Jogos
Cooperativos integrado aos Pilares da Educação, objetivando ampliar o desenvolvimento do
14
exercício da convivência e possibilitar uma aprendizagem voltada aos valores humanos, na
intenção de promover uma autonomia de cada ser.
Existem outros propósitos que também foram analisados neste trabalho, tais como:
Resgatar o jogo como instrumento educacional;
Desenvolver atitudes e comportamentos mais cooperativos;
Contribuir e incentivar práticas para melhoria da vida.
O problema que motivou a pesquisa foi a necessidade de discutir, por meio de
vivências, ações, atitudes e comportamentos, que existem novas alternativas para contribuir
com os processos educacionais no exercício da convivência, convivência esta que
habitualmente acaba gerando uma grande competitividade, pois todas acabam sendo
condicionadas pela sociedade a serem as primeiras e, se não bastasse, as melhores. A
intenção, portanto, é de que haja harmonia nesta convivência.
Portanto, o desafio que continua ainda existindo é o de, mesmo que uma pessoa tenha
vivenciado uma atividade cooperativa, é o de continuar livremente o exercício da convivência
e da cooperação no dia-a-dia junto com outras pessoas.
A metodologia empregada nesta dissertação foi baseada na pesquisa teórica, realizada
por meio do estudo descritivo e exploratório, tendo como instrumento básico, uma abordagem
qualitativa, associada a uma experiência observacional de pessoas, grupos e instituições.
Visando o desenvolvimento do trabalho, estabelecemos, segundo Paes2, um plano de
redação, prevendo cinco capítulos, precedidos da Introdução.
No Capítulo 1 – Educação para Convivência, apresentamos material para uma
análise sobre as alternativas que podem recuperar e modificar as ações educativas para
melhoria da educação, com propostas voltadas ao aprender, em que a educação acaba
tornando-se um tesouro a ser descoberto e difundido no ensino a serviço de uma qualidade
que contribua para o crescimento mundial de uma cultura de paz.
15
No Capítulo 2 – Pilares da Educação, apresentamos os dados baseados nos quatros
princípios que podemos utilizar como forma de ensino/aprendizagem, em que a educação
deixa de ser um mero instrumento de armazenamento de informações, passando a buscar no
aprender a exploração do potencial criativo dentro de cada um de nós, juntamente com os
valores humanos que ampliam a capacidade de percepção do ser com uma consciência voltada
ao pensamento e aos sentimentos da condição humana.
No Capítulo 3 – Educação Física e Jogo, trazemos para a discussão a Educação Física
do passado e dos dias de hoje e o seu desenvolvimento na aprendizagem do jogo, procurando
abordar de forma bem simples sua etimologia, demonstrando que ela é um instrumento para a
educação.
No Capítulo 4 – Jogos Cooperativos, discorremos, numa ordem cronológica, sobre a
sua origem no mundo e no Brasil, seus conceitos por diversos autores, suas fascinantes
atitudes no jeito de jogar e suas categorias e como podemos começar a utilizar o jogo de
forma cooperativa.
No Capítulo 5 – Relato de Experiência, demonstramos como utilizamos, numa
seqüência, algumas atividades desenvolvidas com diversos grupos com os quais
compartilhamos, que chamamos de capacitações ou workshops, com muitos parceiros,
pessoas e instituições, por meio do exercício dos Jogos Cooperativos na escola, na
comunidade, em empresas e nos processos de capacitações.
2 PAES, Roberto Rodrigues, Professor Doutor: Diretor da Educação Física da UNICAMP.
16
1 JUSTIFICATIVA
Neste estudo, procuraremos apresentar uma provocante e instigante contribuição dos
Jogos Cooperativos como discussão dentro das abordagens dos Pilares da Educação.
Neste contexto do aprender a conhecer, a fazer, a ser e a viver juntos, destacamos a
contribuição dos Jogos Cooperativos, na possibilidade de propor um caminho e promover o
exercício da convivência e da cooperação por meio de jogos, os quais facilitadores no
processo de construção de atitudes e comportamentos dos envolvidos.
A relação entre os Jogos Cooperativos e os Pilares da Educação tem, como intenção,
no nosso ponto de análise, desenvolver o ser humano na capacidade de ter autonomia para
expressar seus conhecimentos e unificar essas informações a serviço da prática e da teoria, em
que a aprendizagem da convivência possa expressar e construir uma identidade para que cada
um possa viver no meio em que compartilha com os outros.
2 METODOLOGIA
2.1 Objetivo Geral
Discutir a relação entre os Jogos Cooperativos e os Pilares da Educação na
perspectiva da convivência.
2.2 Objetivos Específicos
2.2.1 Comentar sobre a Educação Física e o perfil do jogo;
2.2.2 Estabelecer a relação entre os Jogos Cooperativos e os Pilares da Educação;
2.2.3 Apresentar um relato de experiência com os Jogos Cooperativos.
17
2.3 Método
Utilizou-se nesta pesquisa, para tratar o tema desta dissertação, a pesquisa teórica,
realizada por meio do estudo descritivo e exploratório. Esta abordagem qualitativa está
associada a uma experiência observacional de pessoas e instituições na vivência dos Jogos
Cooperativos.
Segundo Triviños (1987),
quando se realiza uma pesquisa teórica na área educacional o investigador apóia-se num conjunto de
conceitos, que de alguma maneira estará iluminando uma parte da realidade para arriscar-se e poder
errar para apresentar uma nova visão.
Esta pesquisa caracteriza-se como uma pesquisa de natureza qualitativa, de acordo
com a visão de Bogdan e Biklen, apresentada em dois estudos: Lüdke & André (1986) e
Triviños (1997).
Esta visão consta de cinco características básicas para a configuração de um estudo
qualitativo, não importando a ordem como elas são colocadas, que são:
1. Ter o ambiente natural como ordem direta de dados e o pesquisador como
instrumento fundamental;
2. Ser descritiva;
3. Ter como preocupação essencial o sentido que as pessoas dão às coisas e à sua vida;
4. Utilizar o enfoque indutivo na investigação de seus dados;
5. Preocupar-se com o processo e não unicamente com os efeitos e resultados.
Para sua caracterização, esta pesquisa é do tipo exploratória, pelo fato de ter como
principal finalidade desenvolver, esclarecer e alterar conceitos, idéias, regras, para formulação
de abordagens mais condizentes com o desenvolvimento de estudos posteriores.
É também descritiva no instante em que o pesquisador procura explorar a realidade
como ela é, sem se preocupar em modificá-la. Procura descobrir, com a precisão possível, a
sua relação e conexão com os aspectos do comportamento humano, tanto no indivíduo
tomado isoladamente como em grupos e comunidades.
18
Ela desenvolve-se numa abordagem das ciências humanas, em que aqueles dados e
problemas merecem ser estudados e cujo registro não consta em documentos.
2.4 Participantes do Estudo
Para o relato desta experiência, realizamos as oficinas que dinamizamos durante três
anos de encontros com educadores e educandos, totalizando 2.480 diretores, coordenadores e
professores do ensino infantil, ensino médio e ensino fundamental de escolas particulares e
públicas, identificadas no Estado de São Paulo e em outras (cidades do país) localidades
dentre eles 250 professores de Educação Física, além de 702 estudantes dos terceiros e
quartos anos dos cursos de Pedagogia, Turismo e Educação Física de universidades
particulares.
As tabelas a seguir demonstram esse estudo:
Tabela 1 ANO 1999
LOCAL
NÚMERO
DE
PESSOAS
QUEM SÃO
Universidade Mackenzie São Paulo (SP) 112 Estudantes de Pedagogia
Universidade Metropolitana de Santos (SP) 80 Estudantes de Educação Física
Universidade Monte Serrat (SP) 60 Estudantes de Pedagogia
Faculdades Santana São Paulo (SP) 100 Estudantes de Educação Física
Faculdade de Educação Física de Santo
André (SP) 150 Estudantes de Educação Física
Prefeitura Municipal de Praia Grande (SP) 100 Professores de Ensino Infantil
19
Tabela 2 ANO 2000
LOCAL
NÚMERO
DE
PESSOAS
QUEM SÃO
Universidade Monte Serrat (SP) 100 Estudantes de Turismo
Universidade de Ribeirão Preto (SP) 100 Estudantes de Pedagogia
Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes
(SP) 200 Professores do Ensino Infantil e Fundamental
Prefeitura Municipal Juquetibá (SP) 150 Professores do Ensino Médio e Fundamental
Prefeitura Municipal de Amparo (SP) 150 Professores do Ensino Infantil
Prefeitura Municipal de Araraquara (SP) 250 Professores do Ensino Médio e Fundamental
Prefeitura Municipal de Santos (SP) 100 Professores de Educação Física
Fundação Orsa / Porto Seguro (BA) 150 Professores do Ensino Infantil
Tabela 3 ANO 2001
LOCAL
NÚMERO
DE
PESSOAS
QUEM SÃO
Prefeitura Municipal de Caraguatatuba (SP) 800 Diretores, Coordenadores e Professores do
Ensino Infantil, Médio e Fundamental
Prefeitura Municipal de Leme (SP) 150 Professores de Ensino Médio
Prefeitura Municipal de Piedade (SP) 100 Professores de Ensino Médio
Prefeitura Municipal de Capão Bonito (SP) 150 Professores de Educação Física
Prefeitura Municipal de Maceió (AL) 100 Professores do Ensino Médio
Prefeitura Municipal de Quipapá (PE) 80 Professores do Ensino Médio
20
CAPÍTULO 1
EDUCAÇÃO PARA CONVIVÊNCIA
A missão da educação é transmitir não o mero saber,
mas uma cultura que permita compreender nossa condição
e nos ajude a viver juntos, e que favoreça,
ao mesmo tempo, um modo de pensar aberto e livre.
(Edgar Morin, 2001)
este momento em que iniciamos o século XXI, devemos parar e fazer
uma reflexão sobre os meios educativos, assim como sobre a educação
do futuro.
Estamos vivendo em uma constante contradição: assumimos como princípios
universais à igualdade entre as pessoas, a cooperação entre os povos, a construção de um
mundo de paz e solidariedade e a convivência pacífica de todos, mas na verdade participamos
de uma sociedade em que o ter está sendo convertido no argumento para globalizar tudo,
sobre todas as coisas.
Este efeito pode estar sendo causado pela falta de visão clara nesta globalização
acelerada, conjugada com a consciência cada vez maior das diferenças existentes no mundo e
das múltiplas tensões que resultam entre o local e o global.
Então chegamos a uma grande pergunta: como aprender a viver juntos nesta “aldeia
global” se não somos capazes de viver nas comunidades a que pertencemos – nação, região,
cidade, grupo?
Segundo o relatório da Comissão Internacional da para a UNESCO (Delours, 1999),
existem fatos que podem contribuir para um melhor desenvolvimento da compreensão mútua
entre os povos:
N
21
Tensão entre o global e o local: tornar-se pouco a pouco, cidadão do mundo sem
perder suas raízes, participando na vida de seu país e das comunidades de base;
Tensão entre o universal e o singular: com o crescimento da mundialização da
cultura, cada indivíduo tem vocação e destino para realizar todas as suas
potencialidades, mantendo sua riqueza em suas tradições.
Tensão entre a tradição e a modernidade: construir a sua autonomia com liberdade
e com a evolução das novas tecnologias da informação, adaptando, sem negar a si
mesmo.
Tensão entre as soluções a curto e longo prazo: num contexto, em que o excesso de
informações leva a resultados imediatos, as respostas e soluções geram problemas
certos quando necessitam de uma estratégia paciente.
Tensão entre a competição e a igualdade de oportunidades: a pressão da
competição faz com que muitos esqueçam a missão de dar a cada ser humano os
meios de poder realizar e atualizar o conceito de educação de modo que a
competição estimule um processo sadio, a cooperação reforce as pessoas e a
solidariedade una todos.
Para que estas modificações tradicionais da existência humana se concretizem,
ressalte-se o dever de compreender melhor o outro, de compreender melhor o mundo.
Trata-se de aprender a viver juntos, desenvolvendo conhecimento acerca dos outros,
da sua história, tradições e espiritualidade.
Sem dúvida, esta aprendizagem representa, hoje em dia, um dos maiores desafios da
educação.
Esta tarefa é árdua porque, muito naturalmente, os seres humanos têm a tendência de
supervalorizar as suas qualidades e as do grupo a que pertencem, e a alimentar preconceitos
desfavoráveis em relação aos outros. Nossa sociedade, segundo Orlick (1989, p.13), “vem
produzindo um tipo de ambiente com um senso de valores distorcidos, onde os potenciais para
a destruição humana e para a corrupção são fortalecidos e os valores humanos perdidos”.
Nesse sentido é que devemos reformular valores e comportamentos, podendo aprender
a ser mais humanos, mais justos, mais honestos.
22
Para nós, adultos, que vivemos construindo fronteiras – reforço do ego, do ter, do
poder –, necessitamos de um tempo de passagem, passagem esta de uma fase do viver
abrindo-se para um novo poder – o poder da coragem da falar em cooperação, de agir de
forma solidária e de ensinar a compartilhar e compreender nossas necessidades.
Para tal, a educação tem por missão propiciar a descoberta do outro na diversidade da
espécie humana, levando as pessoas a tomar consciência das semelhanças e da
interdependência entre todos.
Uma nova forma para identificação nasce dos projetos que valorizam aquilo que é
comum e não as diferenças, transformando, por meio da experiência e do prazer do esforço
comum, a cooperação e a solidariedade.
Segundo Alarcão (2001), para uma profunda mudança ideológica, cultural, social e
profissional, aponta-se a educação como o cerne do desenvolvimento da pessoa humana e da
sua vivência na sociedade.
Dessa afirmação, acreditamos que novos ventos soprem em nós, acordando-nos para a
necessidade de viver e sentir coletivamente, aprendendo a compartilhar experiências e
afetividades, a reformular valores, pontos de vista e a forma de abordar questões essenciais.
A experiência do compartilhar leva à consciência de que somos interligados uns aos
outros, às outras espécies e a todo universo, e é pelos laços invisíveis do afeto vivenciado na
simplicidade do cotidiano que somos capazes de reinventar o viver, abrindo uma dimensão
coletiva, verdadeira e unificada.
Nessa aprendizagem, a educação tem a função de preparar na autoformação do
cidadão; não pode ficar pensando apenas com o tempo de preparação para a vida.
Segundo Morin (2001), o objetivo da educação não é o de transmitir conhecimentos
sempre mais numerosos ao aluno, mas o de criar nele um estado interior e profundo de uma
23
espécie de polaridade de espírito por toda a vida, mostrando que ensinar é viver em
transformação consigo próprio e com os outros.
Portanto, para existir esse eu em cada indivíduo, é necessário que se conheça a si
próprio, convivendo no meio com outras pessoas, para que possa questionar a si mesmo,
sendo capaz de aprender, de recusar e de obter a autonomia.
Para termos alegria, espontaneidade, liberdade de expressão e prazer de brincar,
necessitamos reconstruir e recriar nossas atitudes e comportamentos.
Gostaríamos, pois, de propor alguns meios e modos para atingir essas condições:
Incentivar o espírito de cooperação como uma nova alternativa de ser e estar com
ou outros;
Conduzir ao caminho do autoconhecimento mediante a indagação de quem sou eu
nesse mundo de nós;
Facilitar uma aprendizagem em valores humanos para a convivência de uma
fascinante aventura unificada pela celebração de todos nós;
Vivenciar o compartilhar como pilar de sustentação da valorização da vida;
Despertar a consciência para encontrar o desconhecido no outro;
Desenvolver e resgatar o tocar do interior de cada um, construindo formas de
convivência interpessoal.
A construção dessa educação, na verdade, está presente no interior de todos nós; o que
precisamos é despertar nossas mentes para serem mais flexíveis, tornarmos nossas emoções
mais favoráveis para que não haja impedimentos na nossa prática profissional e vida pessoal.
Essas transformações iniciadas por nós e depois com outros nunca mais cessam. São
comportas de fonte da vida, onde viver passa a ser a grande busca.
Isto é religar o ser à sua essência.
Pensamos que a educação, fundamentada na convivência, seja capaz de manifestar
uma fonte interior que partilhe nossos pensamentos, nossas ações e atitudes numa força mais
poderosa do universo – aquela que mantém a estrutura do conviver em cooperação.
24
CAPÍTULO 2
PILARES DA EDUCAÇÃO
Quando tentamos fomentar o conhecimento
e a inteligência humana,
sempre sentimos a resistência da época,
como a de um peso que temos de levantar
e que fica preso no chão, opondo-se a qualquer alteração.
Então, devemos consolar-nos com a certeza
de termos a verdade conosco,
e que, assim que seu aliado, o tempo, se juntar a ela,
esta estará totalmente segura da vitória,
se não hoje, como certeza amanhã.
(Arthur Schopenhauer)
conceito de educação ao longo de toda a vida aparece como uma das
chaves de acesso ao século XXI. Ultrapassa a distinção tradicional entre
educação inicial e educação permanente.
Para tal, a educação deve, antes de tudo, fazer com que as pessoas pensem, sintam,
vivam, ajam e interajam, colaborando entre si.
Segundo Alarcão (2001, p.41), “é preciso desenvolver uma educação mais reflexiva e
humana, que realmente possibilite a aquisição e a construção de uma mentalidade baseada em
valores do espírito, do conhecimento, da informação e da vivência”.
De fato, acreditamos que o primordial é que estejamos constantemente refletindo sobre
as situações de ensino presentes na prática, para que possamos refletir e estabelecer novos
caminhos, recriando novas alternativas.
Nesse sentido, atuar em educação é, antes de tudo, uma jornada ao longo de um
conjunto de respostas com suas missões organizadas em torno dos quatro Pilares da
Educação, apontadas pelo relatório para a UNESCO (Delours, 1999), no sentido de mostrar
O
25
como o jogo pode se transformar em instrumento que facilite a implementação dos Pilares da
Educação.
Discutiremos neste trabalho a ação dos Jogos Cooperativos como contribuição para a
concretização desses pilares:
Aprender a conhecer, combinando uma cultura geral, suficientemente vasta, com a
possibilidade de trabalhar em profundidade um pequeno número de matérias. O
que também significa: aprender a aprender, para beneficiar-se das oportunidades
oferecidas pela educação ao longo de toda vida.
Aprender a fazer, a fim de adquirir, não somente uma qualificação profissional
mas, de uma maneira mais ampla, competências que tornem a pessoa apta a
enfrentar numerosas situações e a trabalhar em equipe. Mas também aprender a
fazer, no âmbito das diversas experiências sociais ou de trabalho que se oferecem
aos jovens e adolescentes, quer espontaneamente, fruto do contexto local ou
nacional, quer formalmente, graças ao desenvolvimento do ensino alternado com
o trabalho.
Aprender a viver juntos, desenvolvendo a compreensão do outro e a percepção das
interdependências, realizando projetos e preparando-se para gerir conflitos e no
respeito pelos valores humanos, da compreensão mútua e da paz.
Aprender a ser, para melhor desenvolver a sua personalidade e estar à altura de
agir com cada vez maior capacidade de autonomia, de discernimento e de
responsabilidade pessoal. Para isso, não negligenciar na educação nenhuma das
potencialidades de cada indivíduo: memória, raciocínio, sentido estético,
capacidades físicas, aptidão para comunicar-se.
(Delours, 1999, p.101-2)
Perrenoud (2001), na sua profissionalização de educador que domina as habilidades do
ofício, revela a competência prática no âmbito do ensino por um processo de racionalização
dos conhecimentos apresentados e por práticas eficazes em determinadas situações, onde sua
prática é contextualizada e esses conhecimentos passam a ser processados por todos.
A seguir, como análise, procuraremos mostrar uma visão das competências em relação
aos Pilares da Educação:
26
Aprender a conhecer: é preciso interagir para construir e confrontar elementos de
transferência sobre a prática e a vivência.
Aprender a fazer: é enfrentar progressivamente a complexidade dos gestos do
ofício, conduzindo o aprendizado para uma reflexão sobre as práticas e suas
vivências.
Aprender a viver juntos: é trabalhar em equipe, unindo competências a convicções
de que a cooperação é um valor necessário para uma ampla autonomia.
Aprender a ser: desenvolver seu eu profissional, tomando consciência de seu estilo
pessoal, dinamizando a reflexão.
Como podemos verificar, a educação, por meio de seus educadores, também precisa
mudar para acompanhar tal evolução e cumprir sua missão de forma eficaz, em que cada vez
mais saberes sejam bases das competências do futuro.
A educação deve transmitir, de fato, de forma maciça e eficaz, cada vez mais saberes,
pois, saber fazer melhor, adaptado ao momento atual do tempo, é a base da competência do
futuro.
Diferenciar o ensino é fazer com que cada aprendiz vivencie, tão freqüentemente
quanto possível, situações fecundas de aprendizagem (Perrenoud, 2001).
Gostaríamos de apresentar um esquema em que mostramos uma comparação entre os
Pilares da Educação e os caminhos essenciais do ser humano, nos quais propomos o Jogo da
Transformação:
Figura 1: Jogo da Transformação
Caminho do coração (eu sinto) aprender a ser
Caminho dos mistérios (eu busco) aprender a conhecer
Caminho dos prazeres (eu desejo) aprender a fazer
Caminho dos desafios (eu luto) aprender a viver juntos
27
Posicionaríamos os Jogos Cooperativos junto com o esquema anterior, na relação do
“Jogo da Transformação”, em que, para “VENSER” (VIR A SER), precisamos buscar no
sentimento o desenvolvimento total da pessoa em seu espírito e corpo, dando liberdade,
autonomia e criatividade para torná-la dona do seu próprio destino.
Aprender a conhecer supõe, antes de tudo, aprender a aprender, exercitando os
diferentes saberes sobre diversos aspectos, favorecendo o despertar intelectual e estimulando
o sentido crítico que gera a capacidade de discernir.
O aprender a fazer representa o desejo quanto à questão da formação profissional de
como ensinar e pôr em prática os seus conhecimentos, não pelo simples fato de transmissão,
mas sim como construção do conhecimento.
Por último, lutar contra seus demônios internos numa educação capaz de evitar os
conflitos ou de resolvê-los de maneira pacífica e compartilhando o “viver juntos” com todos
os indivíduos que se encontram no seu trabalho, na sua família e com seus amigos.
[...] O homem limitado e restrito do século XX e que gloriosamente substituímos pela ciência do nascer do
século XXI, para um novo homem, múltiplo, holístico, ilimitado na capacidade de expansão do seu cérebro,
alguém que, se quiser, tem muito pouco a perder e todo um futuro a ganhar. (Antunes, 1998, p.36-7)
A educação ao longo de toda a vida é uma construção contínua de pessoa humana, do
seu saber e das suas aptidões e também da sua capacidade de discernir e agir.
Deve levá-la a tomar consciência de si própria e do meio que a envolve e a
desempenhar o papel social que lhe cabe no mundo.
O saber, o saber-fazer, o saber conviver juntos e o saber-ser constituem quatro
aspectos, intimamente ligados, de uma realidade de experiência vivida e assinalada por
momentos de compreensão e criação pessoal.
Junta-se o conhecimento não formal ao conhecimento formal, o desenvolvimento de
aptidões inatas à aquisição de novas competências para educarmos e formamos cidadãos
capazes, autônomos e críticos, trazendo para eles o benefício de uma formação concebida para
28
satisfazer suas necessidades fundamentais para o conviver, bem como adquirindo e
assimilando os valores que proporcionarão esta condição.
Tais necessidades compreendem tanto os instrumentos de aprendizagem essenciais
(leitura, escrita, cálculo, expressão oral e resolução de problemas) como conteúdos educativos
(atitudes, conceitos e valores) dos quais o ser humano tem necessidade para viver em
sociedade, trabalhar com dignidade, participar plenamente do desenvolvimento, melhorando a
qualidade de sua existência, tomando decisões de forma esclarecida e continuar aprendendo.
2.1 Valores Humanos
Valoração é assumir uma vida e um processo de vivência imbuídos de valores
humanos que levam a refletir sobre as contradições existenciais e a buscar abordagens para
superá-las, podendo assim conscientizar e praticar uma concepção harmônica de vida.
A idéia aqui representada é viver valores universais por meio de uma atitude humana
que provém do coração.
2.1.1 O que são e quais são os Valores Humanos
Valores humanos são fundamentos morais e espirituais da consciência humana. Não é
possível encontrar o propósito da vida sem esses valores que estão em nosso ser profundo,
ainda que adormecidos na mente e latentes na consciência. Os valores são a reserva moral e
espiritual reconhecida da condição humana para conviver no dia-a-dia.
Os valores promovem a verdadeira prosperidade do homem, da nação e do mundo.
29
Sathya Sai Baba, o mais importante líder espiritual da Índia, ao criar um programa de
valores humanos com integração criteriosa de filosofia e técnicas educacionais, dividiu-os em
valores humanos absolutos e aspectos da personalidade.
Verdade – Aspecto Intelectual
A verdade é o princípio da vida. É também eterna e imutável; o que muda é a nossa
condição e capacidade de nos aproximar dela e experimentá-la.
A verdade é um valor humano porque só a espécie humana pode encontrá-la e
vivenciá-la; ela dirige a conduta do homem autêntico; é o que dá significado e dignidade à
vida. Ser verdadeiro é uma conquista da mente pela reta intenção de auto-realização.
A verdade relativa é aquela que se percebe por meio dos sentidos físicos, e é
representada pelo que se vê, se sente e sobre o qual se emite julgamento. Portanto, ela é
variável de acordo com as experiências vividas por cada indivíduo.
Ação Correta – Aspecto Físico
O aspecto físico é o veículo da ação que permite a manifestação concreta da
consciência. A nossa personalidade assume papéis, e assim enfrenta forças opostas e
conflitantes ao viver a natureza sensorial. A ação correta surge do aprimoramento do caráter
pela contínua busca em si mesmo. Na ação correta, está a conexão com a consciência, a
sintonia cósmica e a vitória. Agir corretamente é ouvir a voz interna que contribui para o
crescimento da criatividade e do talento em busca do autoconhecimento e do bem-comum. É
um valor humano, porque só o homem pode moldar e escolher o próprio comportamento.
30
Amor – Aspecto Psíquico
O amor é a energia de unidade e transformação. Vivemos num universo, o qual, entre
os pares de opostos, é a relatividade; o amor é o impulso de integração. O amor é a energia
que abastece a psique, a alma, e essa plenitude reflete-se nos nossos pensamentos, nas
palavras e ações. É privilégio e conquista da condição humana a faculdade de amar
incondicionalmente.
Podemos transpor a autopreservação e o sentido de posse, bem como vencer os limites
de aversões e preferências pelo exercício do amor. Unir as centelhas para formar uma enorme
fonte de luz, tornando-se feliz e fazendo felizes seus semelhantes e viver em sintonia com o
cosmos são tarefas inerentes ao homem. O amor revela nosso ser profundo, sagrado,
transcendental e sublime.
Paz – Aspecto Mental
A paz é a base da felicidade humana. Na experiência da paz é que se processam as
transformações profundas da nossa personalidade. A interiorização gera a alquimia que
modifica a vibração energética e aprimora a consciência. Na mente, nascem as idéias, os
pensamentos tomam forma e os desejos tornam-se emoções. O repouso mental é tão
importante quanto o repouso físico; a meditação tem por finalidade permitir que nossa mente
obedeça a nossa vontade para esvaziar o falso ego. A paz é um valor humano, porque só a
espécie humana pode domar as paixões e tendências inferiores, redirecionar sua vida e
adquirir eqüanimidade e bem-aventurança.
Não-Violência – Aspecto Espiritual
É a mais elevada conquista da personalidade humana. O ser humano que conquistou a
si mesmo é manso de coração, capaz de ferir algo ou alguém, por pensamentos, palavras ou
31
atitudes. Respeitar as leis naturais, os seres e coisas com humildade e sabedoria é vivenciar a
não-violência como valor absoluto. É a finalidade, a meta do desenvolvimento da consciência,
a perfeição humana. A vitória do espírito sem a natureza inferior é refletida na não-violência.
A seguir, as metas a serem alcançadas em valores humanos:
Conduzir ao caminho do autoconhecimento e auto-realização por meio do
desenvolvimento integral da personalidade e da espiritualidade;
Fomentar o espírito de equipe, a criatividade, a convivência e o amor pelos homens
e pela natureza;
Cultivar os valores humanos e espirituais, a compreensão do homem como ser
cósmico;
Despertar a consciência de que as lideranças corretas serão os moldes da sociedade
futura;
Vivenciar o amor como pilar da fraternidade humana e a paz como valorização da
vida.
O nosso bem-estar e a nossa prosperidade estão ligados ao bem-estar e prosperidade de
todos. Somos parte de um todo, de uma comunidade que precisa estar em harmonia e
cooperar. Assim, é importante respeitar o espaço comum, o conviver, o saber desenvolver os
valores para melhoria da qualidade de vida.
Quando nós melhorarmos tudo o que fazemos, isso adquire dimensões mais elevadas.
Devemos parar de investir apenas no comportamento técnico, pois isto afasta o homem da
alegria de viver, de criar e, por isso, emperra a percepção de poder do ser. Se quisermos um
mundo melhor, temos de nos tornar melhores; se melhorarmos nossos sentimentos e atitudes,
estaremos mais dispostos a cooperar.
Partimos do princípio que precisamos acreditar e experimentar uma nova
aprendizagem, em que nós, educadores, sejamos capazes de transmitir mais do que somente
conhecimentos de cada disciplina, aproximando o professor, aluno, família, amigo uns dos
32
outros, formando uma grande corrente de amor, para que possamos assim buscar, segundo
Brotto (1999, p.16),
Na diversidade, a unidade;
Na divergência, a convergência;
No caos, o cosmos;
A parte no todo;
No adversário, o solidário;
Ser no interser;
O impossível no possível.
É nesta relação entre o jogo, valores e pilares que propomos discutir um trabalho de
transdisciplinaridade entre preceito e prática (fazer), conhecimento e ação (conhecer), valores
e virtudes (ser) e a entrar no território de outra pessoa (conviver), por meio dos Jogos
Cooperativos.
Acreditamos que, ao aproximarmos os valores humanos ao cotidiano da
aprendizagem real, poderemos desenvolver novas habilidades, e com a prática dos Jogos
Cooperativos, adquirir vivências que fortaleçam o desenvolvimento e aperfeiçoamento do ser
humano e, com esta transição natural, poderemos discutir os verdadeiros componentes que
estão sendo sugeridos pela UNESCO por meio dos Pilares da Educação.
33
CAPÍTULO 3
EDUCAÇÃO FÍSICA E JOGO
Existem três tipos de pessoas:
as que fazem as coisas acontecerem;
as que assistem as coisas acontecerem
e as que nem querem saber o que está acontecendo.
Em qual dessas pessoas você se encaixa?
(Autor Anônimo)
ste capítulo tem por finalidade estabelecer uma relação entre a Educação
Física e o Jogo e mostrar que ambos têm íntima relação e são considerados
elementos educacionais que têm como responsabilidade a formação
cultural, social e psicológica do indivíduo.
3.1 Histórico da Educação Física no Brasil
Faremos um breve histórico da Educação Física no Brasil, na tentativa de compreender
o seu desenvolvimento. Recorreremos a alguns autores como Soares (1994), Castellani (1991)
e Barbosa3 (citado por Soares, 1994) para apoiar este relato.
Antes da chegada da corte portuguesa ao Brasil, em vários momentos a história da
Educação Física se confunde com as instituições médicas e militares que se fixavam no
estigma da mecanização e adestramento do corpo, em os modelos de corpo sadio-higienizado
e soldado-militarizado prevaleciam ao longo desta história.
3 BARBOSA, Rui. Obras completas. 1942, v.9, t.1.
E
34
Como veremos, a Educação Física tinha como dever primário contribuir para a
existência humana de um indivíduo forte, robusto, saudável e disciplinado que, por meio da
ginástica, pudesse gerar hábitos capazes de promover o exercício de músculos e do caráter do
indivíduo.
Para melhorar esta visão, Barbosa4 (citado por Soares, 1994) observa que “através da
ginástica, além de ser o regime fundamental para a reconstituição de um povo, é ao mesmo
tempo um exercício eminentemente moralizador, um gérmen de ordem e um vigoroso
alimento da liberdade”.
A história da Educação Física Brasileira tem seu início na época imperial. A partir daí,
foram realizadas as primeiras incursões no campo da metodologia. Nesse período (séc. XIX),
quando a Educação Física começou a ser implementada nas escolas, encontramos duas
práticas, na época, consideradas como métodos: a ginástica de quarto e a ginástica alemã.
A “ginástica de quarto”, muito difundida na Europa, possuía as seguintes
características: utilizava exercícios simplificados e de efeitos localizados, preocupava-se com
a saúde, não privilegiava a hipertrofia muscular; o corpo era o próprio aparelho para execução
e necessitava de pouco espaço para sua prática. Achou boa acolhida nos ambientes escolares,
pois vivíamos um tempo em que os professores de Educação Física usavam paletó e gravata e
ministravam suas aulas dentro das salas.
O império registra uma segunda influência, agora de origem especificamente alemã.
Trata-se da chamada “ginástica alemã”, com suas raízes no trabalho de Jahn. Repercutiu nas
escolas civis, por meio das Forças Armadas após a sua adoção oficial (1860) pelo Exército
Brasileiro. Essa ginástica tinha um fundamento patriótico social e havia ficado resumida a
movimentos acrobáticos. Foi largamente utilizada na região sul por causa da colonização
germânica.
4 id., ibid., p.174.
35
O início do nosso século marca a afirmação, em nosso país, da ginástica criada por
Ling. Era chamada “ginástica sueca”.
Extremamente nacional e científica, apoiava-se nos conhecimentos profundos de
anatomia. Adotava movimentos com uma estrutura analítica e com aspecto de ordem e
disciplina extremamente autoritárias. Este modelo popularizou-se bastante por todo país.
A segunda década do século XX assinala a introdução do método francês, que foi a
maior influência sofrida pela Educação Física Brasileira. Originário da escola de Joinville-le-
Pont, foi trazido por militares franceses que vieram servir em missão militar enviada em nosso
país. Adotado nas Forças Armadas, a sua obrigatoriedade foi estendida ao meio escolar civil.
As maiores características são de ordem fisiológica. A aula tinha que ser dividida em três
partes: sessão preparatória, sessão propriamente dita e volta à calma.
A calistenia, citada por Rui Barbosa em fins do século XIX, deu-se a partir de 1947.
Atendia prioritariamente a aspectos anatômicos e fisiológicos e o seu modelo dividia a aula
em determinados segmentos do corpo.
Apesar de ainda continuarmos insensíveis ao estudo de autênticas metodologias, a
década de 50 representou um magnífico avanço da Educação Física escolar nacional. Isto se
deveu, entre outras razões, à visita que recebemos de três professores estrangeiros pela ordem:
Auguste Listello, Margareth Froelich e Gerhard Schimidt.
Listello trouxe-nos a “educação física desportiva generalizada”, Froelich apresentou-
nos a “ginástica moderna” conhecida como “ginástica feminina” e Schmidt trouxe a
denominada “ginástica natural austríaca”.
Nos anos 70, ocorreu o movimento conhecido como “ESPORTE PARA TODOS”,
divulgando assim o futebol brasileiro que havia sido tri-campeão mundial .
O período da década de 80 a 90 caracterizou-se por uma crise no setor educacional e
por uma radical mudança de discursos e de referências conceituais na Educação Física.
36
3.1.1 Educação Física nos Dias de Hoje
Sabemos que existe atualmente um grande potencial educativo na atividade física,
ainda desconhecido por alguns educadores, mas supomos que, assim como nós, muitos
professores de Educação Física já ultrapassam a finalidade de executar apenas exercícios
físicos, momentos de recreação e formar treinadores de equipes de competição, passando a ter
como função as relações interpessoais e intrapessoais para integrar o indivíduo como um todo.
As dimensões educativas realizadas por meio das aulas de Educação Física vão além
da ênfase na aptidão física, para incluir também elementos culturais, sociais, políticos e
afetivos.
Dessa forma, a Educação Física passa a ter uma função pedagógico-social na realidade
de cada aluno, fazendo com que este passe a deixar de pensar somente no corpo, integrando-o,
agora, à mente. Nesse sentido, Santim5 (citado por Paes, 1996, p.34) comenta que “a
Educação Física tornou-se uma atividade polivalente em função do atual momento vivido pela
área em busca de sua própria identidade”.
Acreditamos nesta enorme variedade de caminhos, e, portanto, o profissional de
Educação Física poderá buscar novas alternativas para o seu desenvolvimento profissional e
repensar na sua maneira de contribuir nesta nova fase por que passa a Educação Física.
Nos dias de hoje, o Brasil passa por um momento especial na educação. Os Parâmetros
Curriculares criados pelo MEC (Ministério da Educação e do Desporto), com a intenção de
orientar os professores a terem em suas mãos um instrumento útil no apoio às discussões
pedagógicas em sua escola, na elaboração de projetos educativos, no planejamento de aulas,
na reflexão sobre a prática e na análise do material didático, contribui para sua atualização
profissional, posicionando um tratamento que condiz com sua real utilização no meio
educacional.
5 SANTIM, S. Educação física: ética, estética, saúde. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia, 1995.
37
A Educação Física não se resume a um processo acumulativo de informações. Tais
conhecimentos supõem vivências que instrumentalizem os cidadãos para usufruir a
corporeidade no cotidiano, corporeidade esta que procura unir corpo e mente num só sistema.
A tarefa principal do professor de Educação Física é proporcionar o instrumental
necessário para aquisição de uma cultura corporal, não somente do ponto de vista biológico e
da aptidão física, mas também pelo relacionamento com o âmbito lúdico da existência e
cooperação de uma sociabilidade positiva.
Para a consecução dessa tarefa, existe o professor de Educação Física, reconhecido e
regulamentado pelo Conselho Federal de Educação Física – Lei n.º 9.696, de 1.º de setembro
de 1998 (Brasil, 2001a), que ainda tem a prerrogativa de também ser um profissional de
Saúde – Resolução 218, do Ministério da Saúde, de 6 de março de 1997 (Brasil, 2001b).
O MEC passou a coordenar a construção e a implementação de uma nova política
educacional com a finalidade de atender diretamente aos anseios e desejos da população. Com
a ajuda dos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) e da nova LDB (Lei de Diretrizes e
Bases), a Educação Física passa a ser uma educação comprometida com a cidadania e com a
construção de uma sociedade livre, justa e solidária.
Vale lembrar que nosso mundo está em constante e veloz transformação, e que a
aprendizagem é um processo contínuo e inacabado, em que as competências e saberes devem
ser transitórios e não guardados como um segredo único que deverá ser entregue a alguém
especial.
Cabe aos profissionais de hoje identificar, planejar, orientar, executar, avaliar, criar,
transformar, divulgar características e necessidades das pessoas que estarão sendo seus alunos
no desenvolvimento de sua profissão.
Acima de tudo, deve-se buscar unir corpo e mente num só organismo, fortalecendo a
cooperação e a convivência entre todos, gerando assim pessoas com autonomia para discernir
38
e escolher qual o seu melhor caminho a seguir. Veremos no próximo item como o jogo tem
sido utilizado pelos professores de Educação Física como uma ferramenta no processo de
aprendizagem.
3.2 O Jogo
Gostaríamos de comentar sobre este tema – o jogo – tão complexo e extenso, que tem
tanta importância e relevância e que exerce função lúdica, de aprendizado e tem, ainda, a
possibilidade de ser um meio de construção do viver do indivíduo – jogando junto com
outros, onde toda vida é um jogo da alma com as possibilidades de sua natureza.
É neste contexto que hoje a maioria dos filósofos, sociólogos, etnólogos e
antropólogos concordam em compreender o jogo como uma atividade que contém em si
mesmo o objetivo de decifrar os enigmas da vida e de construir um momento de entusiasmo e
prazer na vida. Segundo Antunes (1998,pg. 36), “o jogo ajuda a construir novas descobertas,
desenvolve e enriquece a personalidade e simboliza a condição da aprendizagem”.
Dentro desta vasta jornada, apoiamo-nos em autores como Huizinga (1996), Ruiz
(1996), Brotto (1997), Friedmann (1996) e Antunes (1998) para entender melhor sobre o jogo.
As atividades lúdicas, desde muitos séculos, integraram-se ao quotidiano das pessoas
sob várias formas, sejam elas individuais, sejam coletivas, sempre obedecendo ao espírito e à
necessidade cultural da época. E assim podemos evidenciar que, dentro das atividades de lazer
vivenciadas pelo homem, o jogo toma um aspecto muito significativo no momento em que ele
se desvincula de ser meio para atingir um fim qualquer.
39
Segundo Huizinga (1996, p.3), “o jogo é fato mais antigo que a cultura, pois esta,
mesmo em suas definições menos rigorosas, pressupõe sempre a sociedade humana na
iniciação da atividade lúdica”.
Podemos ainda dizer que o jogo ultrapassa os limites das atividades físicas e
biológicas, transcendendo as necessidades imediatas da vida, conferindo sentido à ação.
Desde muito cedo, o jogo entra na vida do ser humano, pois quando ele brinca, explora
e manuseia tudo aquilo que está à sua volta, por meio de esforços físicos e mentais, começa a
ter sentimentos de liberdade e satisfação pelo que faz, dando assim real valor e atenção às
atividades vivenciadas naquele instante.
Ao jogar, apresentamos características de um ser completamente livre, motivado por
uma necessidade intrínseca de realização pessoal, mas toda a finalidade que procuramos no
momento em que brincamos está além de si mesma. Não se deve utilizar o jogo como meio de
alcançar uma determinada satisfação, e sim, como conseqüência de sua interação com o
próprio ato de jogar.
Huizinga (1996, p.33), em sua obra Homo Ludens, expressa a noção do jogo como
“uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites,
dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria e de
uma consciência de ser diferente da vida quotidiana”.
Vale comentar que a alegria é a finalidade do jogo. Quando esta finalidade é realmente
atingida, em jogo alegre, e a estrutura do tempo no universo do jogo assume uma qualidade
muito específica, ele torna-se eterno.
Os jogos mudaram muito desde o começo dos tempos até os dias de hoje nos
diferentes países e contextos sociais. Tomando como base os 24 estudos de Ruiz (1997, p.7),
que centralizam a atividade lúdica, podemos considerar e definir que
40
jogo é fonte de alegria e prazer;
jogo constitui um fim em si mesmo;
jogo é espontâneo e voluntário, livremente escolhido;
jogo propicia aprendizagem;
jogo é uma forma de expressão;
jogo implica em participação ativa;
jogo produz pontos de encontro;
jogo constitui um mundo à parte.
Concordamos com Ruiz (1996), mas gostaríamos de acrescentar, na seqüência
anteriormente descrita, que o jogo, na maioria das vezes, integra vivências de alegria, prazer e
êxtase emocional, assumindo assim as metas desejadas. Também é uma atividade que gera
uma visão utilitária para cada um que o desfruta do seu modo. Nesse sentido, cada integrante
joga sem imposições, caracterizando a possibilidade de alcançar a autonomia pessoal e social.
Sua aprendizagem está presente na sua realização desde seus primeiros anos de vida,
nos aspectos que desenvolvem o cognitivo e a motricidade, com a aquisição de atitudes e
comportamentos sociais que o ajudarão na exploração social e afetiva. Sua forma de
expressão deverá ser valorizada por meio da representação simbólica de sentimentos,
preocupações e experiências que servem para estabelecer relações de construção do eu de
cada um e os nós de todos. Sua participação transforma a pessoa que joga em um ator que, no
aspecto social, gera uma interação como forma de alternativa para sair da rotina do
sedentarismo.
Além disso, jogando podemos constituir um modo de enfrentamos a realidade na
participação dos modos que implicam na totalidade de trocas de vivências e experiências no
processo de cada um. Com esta magia que é a atividade lúdica, o jogo perde-se num espaço de
tempo que cada um desfruta em seus instantes, criando uma realidade diferente da “seriedade”
da vida cotidiana.
41
Como podemos verificar, o jogo é muito importante, não só porque ficamos alegres ou
nos dá prazer, mas quando estamos vivendo-o, direta e profundamente, estamos indo além da
sua representação simbólica de vida.
Sustentamos, por isso, a idéia da aproximação do jogo à vida. Segundo Brotto (1999,
p.16), “eu jogo do jeito que vivo e vivo do jeito que jogo”, ambos representando o reflexo um
do outro.
Acrescentamos a este complexo e extenso assunto do qual nos propusemos falar, a
possibilidade de focalizar outras projeções do jogo, em suas diferentes dimensões, que,
segundo Friedmann (1996, p.11) são:
SOCIOLÓGICO: influência do contexto social no qual os diferentes grupos de
crianças brincam.
EDUCACIONAL: contribuição do jogo para a educação: no desenvolvimento da
aprendizagem da criança.
PSICOLÓGICO: o jogo como meio para compreender melhor o funcionamento da
psique, das emoções e da personalidade dos indivíduos.
ANTROPOLÓGICO: a maneira como o jogo reflete, em cada sociedade, os
costumes e a história das diferentes culturas.
FOLCLÓRICO: analisando o jogo como expressão da cultura infantil através das
diversas gerações, bem como as tradições e costumes através dos tempos nele
refletidos.
Como podemos ver, o jogo assume vários papéis no desenvolvimento da
aprendizagem como forma de incentivo ao educar com valores humanos.
Outro enfoque, ainda, é o das inteligências múltiplas. Gardner (1994) afirma que “as
possibilidades contidas em cada tipo de inteligência não são apenas conteúdos a serem
processados como outra informação qualquer, e sim, devem ser interagidos de forma integral,
desenvolvendo cada uma delas nas situações existentes na vida”.
Ao trabalhar com todas as inteligências, poderemos gerar um universo bem mais
amplo e diversificado, principalmente se as integrarmos com outros enfoques apontados,
42
resultando disso estímulos constantes e infinitos para cada pessoa. A seguir o jogo será
enfatizado como forma de utilização no meio educacional.
3.2.1 O Jogo: Elemento Educacional
Não são poucos os que utilizam a idéia de que o jogo pode ser um excelente recurso
para a educação. Por meio do jogo, podemos adquirir um espaço para educar o indivíduo na
sua totalidade, ou seja, utilizar os quatro Pilares da Educação para o século XXI como uma
educação que possa interagir com o gosto pelo conhecimento, a competência para pôr em
prática esse conhecimento, a capacidade de desenvolver seus talentos e potencialidades e a
possibilidade de conviver em harmonia com todos.
Para pensar o jogo como meio educacional, devemos situá-lo, a nosso ver, em dois
eixos: qual o papel do jogo na educação e quem pode usá-lo da melhor forma?
Dentro da escola, o jogo é um elemento de lazer e alegria do indivíduo; sua função é
contribuir, junto com outras instâncias da vida social, para que estas interligações se efetivem.
Nesse sentido, propomos ver algumas considerações sobre a escola como um contexto
para a aprendizagem e sobre o jogo como um elemento pedagógico. Friedmann (1996, p.66)
diz o que a escola deve poder fazer:
Considerar as crianças como seres sociais e construtivos;
Reconhecer as diferenças entre os mesmos;
Propiciar às crianças um desenvolvimento integral e dinâmico;
Instrumentalizar para que as crianças possam construir sua autonomia;
Valorizar e considerar suas experiências anteriores.
Como Friedmann (1996), acreditamos que a escola deva dar realmente caminhos para
cada indivíduo que a freqüenta, de maneira a ver cada um, o seu passado, bem como
considerar o que ela é atualmente. Não basta apenas teorizar as formas; precisamos colocar
43
em prática as soluções ou quem sabe novas tentativas para podermos, por meio do jogo,
chegar à formação e plenitude mental e corporal dos novos indivíduos.
A aprendizagem, numa perspectiva de construção, mostra a intenção do jogo como
instrumento educativo na formação pessoal entendida de maneira geral e que, segundo Ruiz
(1997, p.7), tem seus aspectos voltados ao ensinar, respeitando quatro pontos sintetizados:
Cada pessoa nasce dotada de algumas capacidades que lhe permite estabelecer
uma interação com o meio;
Para evoluir, o ser humano passa por um processo adaptativo de suas
capacidades;
A partir dessa adaptação o indivíduo assimila e acomoda-se;
A aquisição dos conhecimentos será alcançada através de um processo ativo da
construção pessoal com a interação que o rodeia.
Partindo dessas considerações, podemos dizer que a aprendizagem é um processo
ativo, e que, tomando como base as capacidades e aprendizagens do indivíduo, ajudam tanto o
professor e seus amigos a construírem de forma progressiva a competência de serem
autônomos.
Para se atingir tal resultado, devemos antes de tudo avaliar constantemente a evolução
do que está sendo proposto, com um cuidado no planejamento das atividades, pois o que
interessa não é somente a quantidade de jogos mas também a qualidade feita pela execução de
um tripé que, a nosso ver são: as formas de vivências dentro do jogo, suas paradas para que
todos possam refletir e as mudanças que cada um queira fazer.
Como vimos, por meio do jogo são estabelecidas possibilidades muito variadas para
incentivar o desenvolvimento humano em suas diferentes dimensões. Vejamos como
Friedmann (1996), baseando-se nos estudos de Piaget6, apresenta algumas delas:
6 PIAJET, Jean. A formação do símbolo na criança: imitação, jogo, sonho, imagem e representação. Rio de
Janeiro: Zahar, 1971.
44
Desenvolvimento da linguagem: até adquirir a facilidade da linguagem, o jogo é o
canal através do qual os pensamentos e sentimentos são comunicados pela
criança.
Desenvolvimento moral: é um processo de construção onde as regras do exterior
são adotadas de forma voluntária, sem pressões. Construi-se a moral numa
relação de confiança e respeito onde a cooperação leva à autonomia. Para chegar
a esta forma, o fator essencial é o trabalho em grupo.
Desenvolvimento cognitivo: o jogo dá acesso a um maior número de informações,
onde ao jogar a criança consolida habilidades já adquiridas e as pode praticar,
de modo diferente, diante de novas situações.
Desenvolvimento afetivo: o jogo é uma janela da vida emocional das crianças. A
oportunidade de a criança expressar seus afetos e emoções através do jogo só é
possível num ambiente e espaço que facilitem a expressão.
Desenvolvimento físico-motor: a exploração do corpo e do espaço leva a criança
a se desenvolver. Piaget considera a ação psicomotora como a percussora do
pensamento representativo e do desenvolvimento cognitivo, e afirma que a
interação da criança em ações motoras, visuais, táteis e auditivas sobre os objetos
do seu meio é essencial para o desenvolvimento integral.
Sendo assim, ao aceitarmos o jogo como uma atividade de desenvolvimento humano,
assumimos o compromisso de recriá-lo constantemente, visando o exercício crítico e
consciente, permitindo àquele que participa do jogo conhecer e experimentar, tanto já o
existente, como o que ainda está para existir.
Pensamos que na busca do fazer pedagógico, temos o jogo como peça para
contextualizar as necessidades individuais de cada um, no qual esta aprendizagem deve ser
processada num trabalho adaptativo para que esta aquisição de conhecimento deva servir na
construção autônoma do cidadão.
Acreditamos que as pessoas que mais usam o jogo são os professores de educação
física nas diversas formas para sua utilização, utilização essa que chamamos de “ação
educativa”, que será empregada no decorrer da vida de um indivíduo e no uso do
45
conhecimento e controle de seu próprio corpo, descobrindo suas habilidades de maneiras
distintas nas situações lúdicas da vida cotidiana.
Ao se enquadrar a atividade lúdica no contexto educacional, o educador tem que ter
seus objetivos bem claros, saber o comportamento do grupo e de cada um, qual o estágio de
desenvolvimento, conhecer os valores, interesses e necessidades, bem como os conflitos e
problemas.
Friedmann (1996) considera como função do educador, levando em conta os objetivos
definidos, as seguintes propostas:
Fomentar o aspecto emocional no deslocamento da autonomia;
Criar responsabilidade no cumprimento das regras, motivando soluções;
Possibilitar a troca de informações com intuito de descentralizar e coordenar novos
pontos de vista;
Permitir julgar qual regra deverá ser aplicada;
Propor regras e leis, sem impô-las onde os alunos exercitam valores morais,
discutindo em grupos;
Desenvolver ações físicas na motivação mental ativa das crianças.
Partindo dessas propostas, a autora vê a atuação do educador em duas formas e
atitudes a serem tomadas. Num jogo que seja espontâneo, que é livre pelo simples prazer de
brincar, o educador é um mero observador atuando como mediador.
No jogo dirigido, o educador adquire a função de orientador, intervindo e propondo
desafios progressivos e promovendo o desenvolvimento da aprendizagem.
Nesta última, professor e aluno vão construindo uma estrada de mão dupla entre o
aprender e o fazer, em que, segundo Freire, João Batista (1997, p.117), “o jogo não representa
apenas o vivido, também prepara o devir”.
Contudo, acreditamos que o vivido deva ser respeitado pelo vir a ser com aspectos que
integrem um modelo de aprendizagem que respeite a individualidade, o tempo da explicação
cognitiva, motriz, afetiva e social, sendo que para esta forma o educador tenha condições e
46
conhecimentos prévios, considerando e moldando a elaboração pessoal de cada um como um
centro ativo do processo que gere oportunidades de valores em grupo, em que a atenção esteja
voltada para a convivência.
47
CAPÍTULO 4
JOGOS COOPERATIVOS
UM SÓ TIME
Há alguns anos atrás, nas Olimpíadas Especiais de Seattle, nove participantes, todos com
comprometimento mental ou físico, alinharam-se para a largada da corrida dos 100 metros rasos.
Ao sinal, todos partiram, não exatamente em disparada, mas com vontade de dar o melhor de si,
terminar a corrida e ganhar. Todos, com exceção de um garoto, que tropeçou no asfalto, caiu
rolando e começou chorar. Os outros oito ouviram o choro. Diminuíram o passo e olharam para
trás. Uma das meninas, com Síndrome de Down, ajoelhou, deu um beijo no garoto e disse: “Pronto,
agora vai sarar”. Todos os noves competidores deram os braços e andaram juntos até a linha de
chegada. O estádio inteiro levantou e os aplausos duraram muitos minutos.
(Relato de Flo Johnasen, jornalista esportivo do Wolf News, na cobertura das Olimpíadas
Especiais. In: Informativo, 1999)
tema Jogos Cooperativos será desenvolvido numa experiência de
vivência, na qual a aprendizagem do indivíduo será explorada de forma
que possamos nos aproximar do jogo interior, aquele que jogamos com a
gente mesmo, num lugar sem definições, de um ponto onde, a partir da convivência e do
lúdico, haja uma possibilidade de diferenciar a competição excessiva e condicionada como
único e melhor caminho existente.
Browmn (1994, p.27/39) cita os pensamentos de dois autores que complementam o
nosso:
“Agora me dou conta de que estamos falando de algo que é muito maior do que
simples jogos.” (Alexis Miquelena).
“Não há saber sem busca inquieta, sem aventura do risco de criar.” (Raúl Leis).
O
48
4.1 Origem e Evolução
Nos noticiários das grandes Tvs (CNN, Globo, SBT, Bandeirantes), as notícias diárias
são exposições aterradoras da desumanidade do homem com o próprio homem. Quase
diariamente vemos guerras, bombas, assassinatos, seqüestros, raptos, matanças, assaltos,
estupros e inúmeras outras crueldades.
Com esse tipo de ambiente, produz-se um senso de valores distorcidos, em que a
atrocidade cada vez mais é fortalecida junto com o aumento da corrupção nos vários
segmentos da sociedade.
Orlick (1989) estima que mais de 59 milhões de pessoas foram mortas em guerras ou
crimes generalizados. No mundo inteiro, gasta-se mais de 7.800 dólares para treinar e equipar
um soldado, mas somente 250 dólares são aplicados na Educação.
Para tentar combater a cultura da violência, a falta das relações interpessoais, a
valorização do indivíduo e a competição exageradas, que dão origem a comportamentos e
atitudes que não visam o conviver e o compartilhar, propomos vivenciar um processo antigo:
Os povos da idade da pedra, que sobreviviam em cantos remotos do mundo, geralmente eram seres
humanos que viviam juntos, colhendo frutas e caçando, caracterizando-se pelo mínimo de agressividade e
o máximo de cooperação e partilha dos seus bens. Orlick (1989, p.9)
Quando as pessoas se desenvolvem em meio a uma cooperação genuína, passam a
gostar, a apreciar e a partilhar com as outras, sabendo que cada um tem um papel importante a
desempenhar.
No decorrer de nossos ensinamentos, temos sido preparados e condicionados aos
resultados que podemos alcançar no placar da vida, resultado que coloca cada um de nós
numa constante competição para ganhar sempre.
A competição é geralmente considerada natural, hereditária, um instinto primitivo,
essencial para a sobrevivência humana. Para apoiar estas falas, as pessoas freqüentemente se
referem à sobrevivência do mais apto.
49
Este conceito de sobrevivência do mais apto tem sido usado com abuso para justificar
o princípio de que a força está no mais apto, forte ou melhor. Charles Darwin, em suas teorias
da seleção natural, as quais foram mal interpretadas e deturpadas, afirma que “para a raça
humana, o valor mais alto de sobrevivência está na inteligência, no senso moral e na
cooperação social e não na competição”.
Quando as pessoas se desenvolvem em meio a uma cooperação genuína, passam a
gostar, a apreciar e a partilhar com as outras, sabendo que cada um tem um papel importante a
desempenhar.
Segundo Brotto7 (1999, p.54), “às vezes imaginamos que ocupar o nosso lugar no
mundo implica em tirar o lugar do outro e vice-versa. Mas, como no grande jardim da vida há
espaço para todos, podemos nos divertir, trocando de lugar uns com os outros”.
Sabemos que a maioria das pessoas, por desconhecimento, receio, preconceito ou até
medo de tentar, apenas tentam conquistar seu lugar no jogo, cujo resultado esperado é apenas
ganhar, eliminando o trocar de ritmo e ações pela alegria do estar junto.
Pensando neste contexto, propomos vivenciar uma aprendizagem onde haja um
processo permanente de revisão de valores e transformação de atitudes capazes de recuperar
pessoas para viver em uma sociedade num exercício de “com-vivência”.
Orlick (1989, p.17) comenta que “a maneira como se joga pode tornar o jogo mais
importante do que imaginamos, pois significa nada menos que a maneira como estamos no
mundo”.
Este é o momento em que podemos aprender a ser e a conviver, em cuja proposta de
aprendizagem possamos dar novos subsídios aos professores para mudarem seu
comportamento e resgatar atitudes esquecidas na sua vida diária.
7 Mestre pela UNICAMP, é um dos grandes divulgadores dos Jogos Cooperativos no Brasil.
50
Dessa forma, os Jogos Cooperativos resultarão num envolvimento total, em
sentimentos e ações para que resgatem a alegria, o prazer e a vontade, além de dar novamente
ao educador a verdadeira função, que é a de ajudar seu educando a desenvolver sua autonomia
altamente competente.
4.2 Retrospectiva Histórica
Define Orlick (1989, p.4) que os Jogos Cooperativos não são novidade e tampouco
alternativa apenas para os que não conseguem ganhar ou são inaptos, mas “começaram há
milhares de anos atrás, quando membros das comunidades tribais se uniam para celebrar a
vida”.
Investigando profundamente o assunto nessa perspectiva filogenética8, podemos
observar que alguns povos ancestrais como os Inuit (Alasca), Aborígenes (Austrália), Tasaday
(África), Ampesa (Nova Guiné) e os índios norte-americanos, entre outros, ainda praticam a
vida cooperativa por meio da dança, do jogo e rituais.
Contudo, dada à delimitação deste estudo, reconheceremos a evolução dos Jogos
Cooperativos, tendo como referências básicas algumas pesquisas, publicações e experiências
realizadas a partir da década de 50 no mundo e no Brasil, a partir dos anos 80.
8 Estudo da escrita das leis de transmissão dos caracteres hereditários nos indivíduos.
51
4.3 Jogos Cooperativos no Mundo Ocidental
Destacamos, nesta perspectiva, o Dr. Terry Orlick9 pela publicação de diversos livros,
nos quais registra riqueza de informações e fontes de inspiração para a compreensão dos
Jogos Cooperativos e para produção de novas pesquisas e trabalhos.
Nesta retrospectiva, apresentamos nesta área alguns outros autores que tiveram
resultados em suas investigações:
1950 – Ted Lentz: não apenas atuou na linha de frente do movimento de pesquisa para
paz, em meados da década de 50, como foi também pioneiro na área dos Jogos Cooperativos.
Ele e Ruth Cornelius apresentaram algumas importantes estruturas de Jogos Cooperativos,
descritos num manual intitulado “All Together”.
1972 – Jim Deacove (de Perth, Ontário/Canadá): inventou Jogos Cooperativos
realmente inovadores. Para ele, os jogos não precisavam ser de conflito e podem envolver
valores positivos e atitudes de ajuda aos outros. Os jogos de salão ou de tabuleiro podem
também ser reformulados para incentivar a cooperação e o espírito da ajuda. A abordagem
básica de todos os jogos de Deacove é completamente diferente da dos outros jogos
encontrados no comércio. Estimulam o espírito de cooperação e a idéia de vencer em
conjunto.
1973 – Fundação para os Novos Jogos, sediada em São Francisco. É outro grupo
pioneiro que se dedica à conquista do prazer de jogar. O primeiro Torneio de Novos Jogos foi
realizado na Califórnia em 1973.
1974 – Davis Earl Platts, Mary Inglis, Joy Drake e Alexis Edwards: membros do
Departamento de Educação, da Findhorn Foundation, criada em 1972, na Escócia,
desenvolveram um método para promover a confiança pessoal e grupal, totalmente baseado
9 Phd em filosofia e autor de vários livros internacionalmente conhecidos.
52
em jogos. Esse método foi chamado de “Descoberta Grupal” e influenciou os estudos e
trabalhos de muitas pessoas do mundo inteiro, particularmente os de Terry Orlick, Andrew
Fluegelman e Dale LeFevre, que difundiram a idéia.
1975 – Jack Coberly: professor de percepção motora da South Bay School, Eureka,
Califórnia/EUA. Seu programa era baseado no sucesso: “onde as crianças têm a chance de ter
sucesso em cada tarefa que recebem”.
1975 – Dan Davis: diretor de recreação e desenvolvimento de coordenação motora
lenta da Benhaven School, New Haven, Connecticut. Ele usava atividades cooperativas com
crianças que tinham problemas especiais.
1976 – Marta Harrison e os membros do Comitê Amigos da Paz e também outras
pessoas que contribuíram para o livreto “for the fun of it”: todos criaram excelentes Jogos
Cooperativos.
1976 – Andrew Fluegelman: escreveu o livro de Novos Jogos, registrando uma série
de Jogos Cooperativos e Competitivos realizados durante os três primeiros Torneios de Novos
Jogos.
1987 – Guilhermo Brown: educador popular venezuelano, publicou o primeiro livro de
Jogos Cooperativos na América Latina intitulado Que tal si jugamos?.
4.4 Jogos Cooperativos no Brasil
Impulsionados pelo movimento mundial, a partir dos anos 80, algumas ações
começam a integrar os Jogos Cooperativos no Brasil.
Um dos seus precursores foi Fábio Otuzzi Brotto que, depois de graduado em
Educação Física na UNESP, começou a desenvolver inúmeros projetos, ações e programa
53
com a finalidade de divulgar os Jogos Cooperativos. Brotto teve vários contatos com Orlick e
outras profissionais internacionais que já desenvolviam trabalhos. No Estado de São Paulo,
em Atobaia, existe o Centro de Convivências em Nazaré, onde são oferecidas vivências e
estadas de até um ano para que se possa imergir nesta concepção. Brotto é um dos fundadores
e também freqüentadores ativos dos cursos, proferindo palestras e realizando anualmente seu
retiro espiritual.
A proposta dos Jogos Cooperativos encontra-se num processo em andamento por todo
país, alcançando novos segmentos da sociedade, como na formação de educadores do ensino
básico, assim como nas empresas, nas comunidades e setores organizacionais.
Um dos indicadores da presença dos Jogos Cooperativos no cenário nacional está nos
programas de graduação e pós-graduação da Universidade de Brasília (UnB), desde 1998, e
da Universidade Monte Serrat (UNIMONTE), desde 2000.
Neste contexto, tem aumentado o número de pessoas interessadas em pesquisar e
produzir algo sobre Jogos Cooperativos.
Existe uma história, uma cronologia que foi percorrida até os dias de hoje, a qual
optamos por resumi-la, baseando-nos em Brotto (1999):
1980 – A Escola das Nações é fundada em Brasília tem como filosofia “Educação para
Paz” e, como um dos seus principais pressupostos pedagógicos, os Jogos Cooperativos e a
Aprendizagem Cooperativa.
1989 – Publicada a primeira obra sobre Jogos Cooperativos em São Paulo, pela editora
Círculo do Livro, Vencendo a competição, de Terry Orlick.
1990 – Fábio Otuzzi Brotto apresenta, no III Simpósio Internacional de Psicologia do
Esporte (Belo Horizonte/MG), o tema Competir ou cooperar, qual a melhor jogada?,
iniciando um diálogo que mais tarde resultou na produção de outras publicações e realizações
de programas em Jogos Cooperativos.
54
1991 – O professor Jofre Cabral de Menezes e Fábio Otuzzi Brotto oferecem, no
Centro de Práticas Esportivas da Universidade de São Paulo (CEPEUSP), um programa
semestral de Jogos Cooperativos aberto à comunidade universitária.
1992 – Gisela Sartori Franco e Fábio Otuzzi Brotto criam o Projeto Cooperação –
Comunidade de Serviços, uma organização plenamente dedicada aos Jogos Cooperativos e à
Ética de Cooperação, por meio de oficinas, palestras, eventos, publicações e produção de
materiais didáticos.
1993 – No IV Congresso Holístico Brasileiro, realizado em Salvador/BA, acontece a
primeira realização de uma Oficina de Jogos Cooperativos em um evento nacional.
1994 – Publicação do segundo livro no Brasil, Jogos Cooperativos: teoria e prática, de
Guilhermo Brown, em São Leopoldo/RS, pela editora Sinodal.
1995 – Com o propósito de reunir estudos e experiências realizadas no Brasil, é
promovida pelo CEPEUSP a I Clínica de Jogos Cooperativos, e simultaneamente é lançada a
Rede de Jogos Cooperativos, que atualmente conta com aproximadamente 5.000 pessoas
conectadas.
1995 – O Instituto Nacional para o Desenvolvimento do Esporte (INDESP) lança o
Programa Esporte Educacional, tendo os Jogos Cooperativos como uma de suas pedagogias.
O livro de Fábio Otuzzi Brotto sobre Jogos Cooperativos é indicado como referência teórica
do Programa, entre outras.
1996 – Gisela Sartori Franco, psicóloga do Esporte, aplica os Jogos Cooperativos na
preparação psicológica da equipe de vôlei feminino da BCN/Guarujá, vice-campeã brasileira
e base da Seleção Olímpica daquele ano.
1998 – É constituída a “Cooperando: Consultoria em Dinâmicas Cooperativas”,
segunda organização dedicada ao desenvolvimento de programas e serviços para promoção da
Cooperação e Jogos Cooperativos.
55
1998 – O livro de Brotto, Jogos Cooperativos: se o importante é competir, o
fundamental é cooperar, é adotado pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, como
bibliografia básica no Concurso Público para Professores de Educação Básica II, na disciplina
de Educação Física.
1999 – É realizado o II Festival de Jogos Cooperativos realizado na cidade de
Taubaté/SP, no SESC, com a presença de 700 pessoas.
2000 – A Universidade Monte Serrat – UNIMONTE, adota o lato sensu em Jogos
Cooperativos, sendo a universidade pioneira, nesta área, no país.
2001 – Com o sucesso da 1.ª Turma em Jogos Cooperativos a se formar no país, a
UNIMONTE supera seus números para a 2.ª turma, num total de 45 pessoas.
2001 – Acontece o III Festival de Jogos Cooperativos, realizado na cidade de
Taubaté/SP, com iniciativa do SESC, sendo que todos os cursos foram realizados
gratuitamente para prestigiar o Ano Internacional do Voluntariado.
2001 – É lançado o segundo livro de Fábio Otuzzi Brotto, Jogos Cooperativos: o jogo
e o esporte como um exercício de convivência.
Como podemos verificar, os Jogos Cooperativos têm seu caminho implementado em
vários tipos de ações, projetos, programas, congresso, livros, oficinas, que apontam para o
processo de que possivelmente mais e mais pessoas terão a oportunidade de experimentar
esses jogos.
56
4.5 Conceito e Características
Os Jogos Cooperativos são jogos com uma estrutura alternativa, em que os
participantes jogam uns com os outros, ao invés de uns contra os outros. Neles, o importante
não é vencer, e sim procurar valores essenciais para vida.
A par disso, gostaríamos de falar um pouco mais sobre “jogar com” e “jogar contra”.
Na maioria das vezes, os jogos, baseados na competitividade, são realizados por pessoas ou
times nos quais seus sentimentos e resultados de sucesso são baseados na vitória, que, às
vezes, é obtida a qualquer custo. No caso dos jogos cooperativos, aprende-se a considerar o
outro como um parceiro, um solidário, em vez de tê-lo como adversário. O resultado é
conseguido com a união de todos de modo saudável e positivo, sem pensar somente no
resultado final.
A esse respeito, Orlick (1989) afirma que é possível observar os eventos atuais e
pensar o que o futuro nos reserva e em todos os grandes problemas que confrontam o homem,
incluindo a violência, a destrutividade, a guerra, a pobreza, a poluição, o crime, a corrupção, a
exploração do homem e a competição sem controle.
Em nossa sociedade, há somente a valorização da vitória, em que se almeja pelo
resultado de sempre ser o primeiro, o melhor, o máximo, o único. Para se obter esse sucesso,
o ganhar é cada vez mais incorporado como regra, conduta e fórmula para se obter o êxito.
Esta contabilização, ao longo dos anos, parece não ter mais limites, gerando assim conflitos,
escassez, frustração e competição.
Orlick (1989, p.84) argumenta que “se estivermos realmente interessados numa
qualidade melhor de vida, devemos nos afastar da competição cruel e começarmos e enfatizar
a cooperação”.
57
Não bastam apenas boas intenções; é necessário que sejam correspondidas em boas
ações, as quais devem ser desenvolvidas e aplicadas no dia-a-dia, e em cada segmento da
sociedade.
Segundo Brotto (1997), os Jogos Cooperativos vêm com a intenção de compartilhar,
unir pessoas, despertar a coragem para assumir riscos com pouca preocupação com o fracasso
e sucesso em si mesmo. Eles reforçam a confiança em si mesmo e nos outros, e todos podem
participar autenticamente e ganhar e perder são apenas referências para o contínuo
aperfeiçoamento pessoal e coletivo.
Este conceito procura nos ensinar a aprender rever nossas experiências e reciclar
pensamentos, sentimentos, intenções e emoções, reconhecer e valorizar nosso próprio jeito de
jogar e respeitar os dos outros, em seus diferentes modos de ver. E mais, descobrir que
jogando com os outros podemos buscar o crescimento do eu dentro de cada um de nós.
A comparação que Walker10
(citado por Brotto, 1999) faz sobre a prática da
competição e da cooperação, traz uma aproximação, na realidade muito pequena, entre jogar
competitivamente e jogar cooperativamente. Para visualizarmos as formas dentro de um jogo
ao qual estamos condicionados e de um novo jogo que podemos aprender, devemos observar
a tabela a seguir:
10 WALKER, Zlmarian J. Educando para a paz. Brasília: Escola para a paz, 1987.
58
Tabela 4
Jogos Competitivos e Jogos Cooperativos
JOGOS COMPETITIVOS
JOGOS COOPERATIVOS
São divertidos apenas para alguns. São divertidos para todos.
Divisão por categorias: meninos X meninas,
criando barreiras entre as pessoas e
justificando as diferenças como uma forma
de exclusão.
Há mistura de grupos que brincam juntos
criando alto nível de aceitação mútua.
Os perdedores ficam de fora do jogo e
simplesmente se tornam observadores.
Os jogadores estão envolvidos nos jogos por
um período maior, tendo mais tempo para
desenvolver suas capacidades.
Os jogadores não se solidarizam e ficam
felizes quando alguma coisa de “ruim”
acontece aos outros.
Aprende-se a se solidarizar com os
sentimentos dos outros e desejam também o
seu sucesso.
Os jogadores são desunidos. Os jogadores aprendem a ter um senso de
unidade.
Os jogadores perdem a confiança em si
mesmo quando eles são rejeitados ou quando
perdem.
Desenvolvem a autoconfiança porque todos
são bem aceitos.
Pouca tolerância à derrota desenvolve em
alguns jogadores um sentimento de
desistência, em face das dificuldades.
A habilidade de perseverar em face das
dificuldades é fortalecida.
Poucos se tornam bem-sucedidos. Todos encontram um caminho para crescer e
desenvolver.
Fonte: Brotto, 1999, p.75
A intenção dessa tabela de comparação não é demonstrar qual é a melhor forma para
se jogar; ao contrário, numa primeira visão, é mostrar algumas percepções que não vemos no
campo do jogo como ele é jogado; em segundo, é que podemos jogar de uma outra forma
além da que já vivenciamos e que consideram como a única, a melhor maneira de jogar e
viver.
Para Orlick (1989), a principal diferença entre o Jogo Cooperativo e o Competitivo é
que no primeiro todos cooperam e ganham, eliminando-se o medo do fracasso e aumentando-
se a auto-estima e a confiança em si mesmos. Ao passo que no segundo, a valorização e
reforço são deixados ao acaso ou concedidos apenas ao vencedor, o que gera frustração, medo
e insegurança.
59
Portanto, o modo como encaramos o jogo e como jogamos é o que irá determinar e
garantir o resultado final ou inicial de uma sociedade altamente competente sem ser
extremamente competitiva.
4.6 Atitudes dos Jogos Cooperativos
Cada indivíduo tem uma experiência de vida, da qual procura tirar alguma conclusão
para seu aperfeiçoamento físico, mental e espiritual.
Como podemos melhorar nossas vidas se não praticamos as ações em busca da
felicidade? O caminho para construir esta realidade é por meio de ações e percepções do
convívio diário com as pessoas.
De certo modo, tanto no jogo como na vida, estamos permanentemente sendo testados
a solucionar problemas, harmonizar conflitos e a realizar objetivos.
Sabemos que ninguém joga ou vive sozinho, bem como ninguém joga ou vive tão
bem, em oposição e competição contra os outros, como se jogasse ou vivesse em sinergia e
cooperação com todos.
Sendo assim, os Jogos Cooperativos propõem ampliar a realidade refletida do jogo
com a consciência dos diferentes estilos disponíveis em cada momento.
A seguir, uma síntese promovida pela “percepção/ação” (Brotto, 1997), que temos em
cada situação:
60
Tabela 5
PADRÕES DE PERCEPÇÃO/AÇÃO
PERCEPÇÃO/AÇÃO OMISSÃO
(INDIVIDUALISMO)
COOPERAÇÃO
(ENCONTRO)
COMPETIÇÃO
(CONFRONTO)
Visão do Jogo Insuficiência
É impossível
Separação
Suficiência
Possível para todos
Inclusão
Abundância x
escassez
Parece possível só
para um
Exclusão
Objetivo Ganhar sozinho...
“tanto faz”
Ganhar... juntos Ganhar... do outro
O outro “Quem?” Parceiro, amigo Adversário, inimigo
Relação Independência
Cada um na sua
Interdependência
Parceria e confiança
Dependência,
Rivalidade e
desconfiança
Ação Jogar sozinho
Não jogar
“Ser jogado”
Jogar com
Troca e criatividade
Habilidades de
relacionamento
Jogar contra
Ataque e defesa
Habilidades de
rendimento
Clima do jogo Monótono
Denso
Ativação, atenção e
descontração
Leve
Tensão, estresse e
contração
Pesado
Resultado Ilusão de vitória
individual
Sucesso
compartilhado
Vitória às custas dos
outros
Conseqüência Alienação,
conformismo e
indiferença
Vontade de continuar
jogando
Acabar logo com o
jogo
Motivação Isolamento Amor Medo
Sentimentos Solidão
Opressão
Alegria (p/ muitos)
Comunhão (entre
todos)
Satisfação,
cumplicidade e
harmonia
Diversão (p/ alguns)
Realização (para
poucos)
Insegurança, raiva, e
frustração
Símbolo Muralha Ponte Obstáculo
Fonte: Brotto, 1997
O propósito deste quadro é demonstrar que toda e qualquer experiência humana tem
diferentes possibilidades de optar entre várias alternativas para viver uma mesma situação.
Com esta visão, podemos despertar e aperfeiçoar o exercício da escolha pessoal, com
responsabilidade universal, por meio das atitudes adquiridas nos Jogos Cooperativos.
61
Segundo Weinstein & Goodman (1993), até o momento, a maioria das pessoas têm
sentido que nunca tiveram escolha sobre o próprio jeito de viver suas vidas. Elas têm tido
somente uma alternativa – ir e vencer, e quanto mais pessoas perderem, melhor.
Jogando de forma cooperativa, ampliamos o foco e passamos a percebê-lo não apenas
como um campo para o aperfeiçoamento das ações, mas como meio para o desenvolvimento
da qualidade de relacionamento, como:
Assumir co-responsabilidade pelo processo e resultados;
Desenvolver a autonomia;
Exercitar uma visão compartilhada;
Despertar e potencializar talentos e dons pessoais;
Distribuir lideranças;
Aumentar o grau de respeito e confiança mútua;
Focar e construir objetivos comuns;
Manter a alegria e o prazer;
Favorecer a comunicação aberta.
4.7 Categorias dos Jogos Cooperativos
Buscando uma maior diversidade nas situações a serem desenvolvidas no processo de
ensinamento dos Jogos Cooperativos, Orlick (1989) formulou várias categorias para atender a
integração de todos no contexto.
Embora apresentadas em separado, elas se relacionam na forma de integrar o
interdependente, tornando-as como um caminho de etapas nas situações vividas por quem
quer aplicá-las.
62
Jogos Cooperativos sem Perdedores
Nesta categoria, todos os participantes formam um único grande time. Poderíamos
considerar que estes são jogos plenamente cooperativos, em que todos jogam juntos para
superar um desafio comum e, principalmente, jogam pelo prazer de continuar juntos.
Jogos de Resultados Coletivos
São atividades que permitem a existência de duas ou mais equipes. Há um forte traço
de cooperação dentro de cada equipe e entre as equipes. A motivação principal está em
realizar metas comuns, que necessitam de esforço coletivo para serem alcançadas.
Jogos de Inversão
Enfatizam a noção de interdependência, por meio da aproximação e troca de jogadores
que começam em times diferentes.
Conforme os jogos se desenvolvem, os jogadores vão mudando de lado, literalmente,
colocando-se uns no lugar dos outros. Desse modo, podem perceber com nitidez que são
essencialmente todos membros de um mesmo time.
Os tipos de inversão são:
Rodízio: os jogadores mudam de lado de acordo com as situações preestabelecidas;
Inversão do goleador: o jogador que marca o ponto muda para o outro time;
Inversão de placar: o ponto conseguido é marcado para o outro time;
Inversão total: é a combinação das duas inversões anteriores – tanto o jogador que
fez ponto, como o ponto conseguido, passam para o outro time.
Jogos Semi-Cooperativos
São indicados para iniciar a aprendizagem esportiva em grupos de adolescentes. A
estrutura favorece o aumento da cooperação entre os membros do time e oferece aos
participantes a oportunidade de jogar em diferentes posições:
63
Todos jogam: todos que querem jogar recebem o mesmo tempo de jogo. Times
pequenos facilitam a participação de todos;
Todos tocam / todos passam: a bola deve ser passada por entre todos os jogadores
do time, para que o ponto seja validado;
Todos marcam ponto: para que um time vença, é preciso que todos os jogadores
tenham feito pelo menos a tentativa considerada como resultado o que mais se
aproximar do objetivo;
Todas as posições: todos os jogadores passam pelas diferentes posições do jogo;
Passe misto: a bola deve ser passada alternativamente, entre meninos e meninas;
Resultado misto: os pontos são convertidos, ora por uma menina, ora por um
menino.
Apoiados nessas categorias, podemos desenvolver várias atividades para estimular o
processo de uma alternativa de aprendizagem e convivência baseada na cooperação, em que
crianças, jovens e adultos possam estar mudando suas visões e ações, bem como atitudes de
comportamento.
Os jogos são reflexos do modo que vivemos, mas também servem para criar o que é
refletido. Muitos valores, atitudes e comportamentos são aprendidos neste processo que
podemos desenvolver nas categorias citadas por Orlick (1989). Acreditamos que a melhor
lição a ser aprendida dessas experiências é que podemos criar e modificar os jogos para
realizar objetivos em comunidade.
Segundo Robert Kennedy (citado por Orlick, 1989, p.15) “para que as forças do mal
dominem o mundo, é necessário apenas que um número suficiente de homens bons não faça
nada”.
Como ele, resolvemos acreditar que podemos mudar a orientação de nossa própria
vida assim como a de nossos jogos.
“Posso ser um sonhador, mas quando um homem sonha sozinho, é apenas um sonho,
quando muitos homens sonham juntos, é o início de uma nova realidade” (de uma carta
64
entregue por uma participante (Professora Cristiane Ziane) em uma das oficinas realizadas em
Leme, SP, em 2001).
Quem sabe precisamos de mais sonhadores, para que juntos possamos transformar não
só palavras escritas, mas ações, atitudes de compartilhar o conviver.
Dentro desta perspectiva, podemos visualizar os Jogos Cooperativos como uma forma
de integrar os valores humanos que os indivíduos desenvolvem no transcorrer da
aprendizagem da forma de jogar com os outros, gerando, sem dúvida alguma, os valores
referentes à cooperação e à convivência.
Seguindo este caminho, também podemos verificar que os Pilares da Educação para o
século XXI estão integrados com as atividades sugeridas pelos jogos na intenção do aprender
a ser, conhecer, fazer e conviver juntos, solucionando, no nosso ponto de vista, várias
questões para os problemas relacionados com a convivência humana.
65
CAPÍTULO 5
RELATO DA EXPERIÊNCIA
A obra de arte que o artista cria, e o espectador desfruta,
é necessariamente individual, um objetivo único.
Porém, só é de fato uma obra de arte
quando há em seu pano de fundo
alguma coisa que indica contextos maiores.
Desse modo, a arte nos confronta com coisas que,
em geral, não podemos avistar,
mas cujas últimas profundezas
não são acessíveis ao nosso saber.
(Friedrich Hegel)
partir deste momento, passaremos a relatar a experiência que temos
tido nestes três anos, quando desenvolvemos atividades envolvendo
vivências e dinâmicas, utilizando jogos cooperativos. Estas atividades e
por vezes oficinas foram desenvolvidas com grupos de localidades diferentes, entre eles
professores do ensino infantil, médio e fundamental; universitários dos cursos de Educação
Física, Pedagogia, Turismo; Projetos como a Universidade Solidária.
Tem-se como idéia principal nesta proposta trabalhar a convivência entre os
participantes, a ludicidade dentro de cada um, as novas alternativas de atividades realmente
voltadas para o compartilhar de experiências e sensações no decorrer do dia-a-dia.
Todas as atividades, que seguem uma ordem seqüencial, são utilizadas para buscar os
resultados esperados, que são o aperfeiçoamento do aprender a ser, a conhecer, a fazer e a
viver juntos.
A seguir, descrevemos a ordem de 17 atividades que normalmente realizamos em
uma vivência de 8 horas com um número aproximado de 250 pessoas num grupo só. Para este
trabalho, apresentaremos o jogo, a descrição e a relação que estamos fazendo com os Pilares
A
66
da Educação. Identificaremos o nome de cada atividade, o material utilizado, a descrição do
desenvolvimento da atividade, a relação com os Pilares da Educação e outras características
que podem contribuir na sua aplicação, uma observação do pesquisador e alguns comentários
que foram feitos pelos participantes.
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1 NOME: TOCOU, COLOU.
MATERIAL: Nenhum.
DESCRIÇÃO: Reunir todo o grupo ao centro e a partir da fala do focalizador cada
participante deve elevar o braço direito estendido para cima e depois tocar em alguma parte
do corpo da pessoa que estiver ao seu lado, sendo que a regra é que uma vez tocado, não pode
retirar mais. Isto deverá acontecer com o braço esquerdo, com a perna direita e termina com a
cabeça.
RELAÇÃO COM OS PILARES: Aprender a viver junto / integração do grupo e a
percepção no ser.
OBSERVAÇÃO DO PESQUISADOR: Esta atividade foi adaptada de uma outra que
se chamava “todos grudados”, em que existia um contato entre as pessoas que ficavam
coladas e com isso aproximava-se uma pessoa da outra ao seu lado. Dessa forma, aprendemos
a tocar e a conhecer esta nova pessoa. O resultado final é uma integração alegre entre todos os
participantes e também serve como um excelente quebra-gelo.
COMENTÁRIOS: “divertida, promoveu a integração e aumentou minha percepção”
(Roseli Nogueira, Leme-SP, 2001).
2 NOME: REGRAS INVISÍVEIS.
MATERIAL: Nenhum.
DESCRIÇÃO: Forma-se um círculo no centro, onde o focalizador dirá para tentarmos
encostar a ponta dos dedos das mãos na ponta dos pés. Esta tentativa deverá ser feita mais
umas 4 ou 5 vezes, só que de maneira diferente. Depois dessas tentativas, pergunta-se se
alguém pensou em tocar no pé do seu vizinho ou de outra pessoa.
RELAÇÃO COM OS PILARES: Aprender a conhecer – reflexão ao condicionamento
do que fazemos sempre do mesmo jeito, unindo novas possibilidades de enxergar.
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OBSERVAÇÃO DO PESQUISADOR: Esta atividade foi realizada numa vivência
pelo Brotto em que estávamos presentes e a utilizamos constantemente em nossas atividades
como forma de mostrar o quanto somos condicionados, às vezes por puro reflexo, a fazer
sempre do mesmo jeito. A maior jogada dessa atividade é poder ver que no final das tentativas
todas as pessoas começam a perceber que podemos tentar fazer de uma outra maneira e de
poder utilizar a pessoa que está ao seu lado.
COMENTÁRIOS: “perceber como tomamos atitudes de forma condicionada” ( Kátia
Joest Moraghi, Quipapá, 2001).
3 NOME: CONFRATERNIZAÇÃO DOS BICHOS.
MATERIAL: Nenhum.
DESCRIÇÃO: Num círculo, após ter sido feita uma eleição de alguns bichos
(cachorro, gato, galinha, boi), enumerar na ordem em que se encontra no círculo, dando uma
característica a cada pessoa. Numa outra fase, todos os participantes andarão de olhos
fechados pelo local, imitando os sons dos animais enumerados por cada grupo. A finalidade é
que todos possam reconhecer os sons e agrupem-se até que todos os participantes se reúnam .
RELAÇÃO COM OS PILARES: Aprender a ser – aumentando seus sentidos de
intuição.
OBSERVAÇÃO DO PESQUISADOR: Esta atividade foi realizada no I Festival de
Jogos Cooperativos onde estávamos presentes e percebemos que seria uma forma de
podermos desenvolver melhor o nosso ouvir e por que não o ouvir dos outros também. É uma
maneira agradável de poder realizar divisões de grupos, sem formar as famosas “panelinhas”
e de ainda brincar um pouco. O mais interessante é como as pessoas procuram caracterizar-se
com o animal proposto e de tentar achar outra pessoa de seu grupo, e em um determinado
momento todos fazem o mesmo som para poder achar as que faltam.
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COMENTÁRIOS: “sentir o acolhimento do grupo, aprendendo a ouvir melhor o
outro igual a mim” (Virginia Guadagnini Piratelli, Fefisa, 1999).
4 NOME: ATIVIDADES DE PERCEPÇÃO VISUAL.
MATERIAL: Nenhum.
DESCRIÇÃO: Esta atividade é realizada em 3 fases: a primeira em duplas, em que a
outra pessoa tenta imitá-los; depois, é feita a troca. Na segunda, formam-se trios, em que
acontecem os mesmos movimentos da fase anterior e uma das pessoas estará ao lado da dupla
mostrando com as mãos na frente da pessoa números em que a que está imitando deverá
somá-los ao final, pedindo-se para dar o total dos números colocados. Na última fase,
formam-se quartetos e seguem-se as duas fases anteriores, só que a quarta pessoa se colocará
em frente da que está colocando os números e fará diversas perguntas (ex.: o que você tomou
no café da manhã, como é seu filho?). Então, a pessoa inicial deverá imitar os gestos, contar
os números e ainda responder todas as perguntas. Para que todos vivenciem estas situações, os
participantes devem passar por todas as posições.
RELAÇÃO COM OS PILARES: Aprender a ser – aumentar a sensibilidade para uma
nova forma de ser.
OBSERVAÇÃO DO PESQUISADOR: Esta atividade foi retirada de uma vivência
feita pelo focalizador Eduardo Carmelo em sua oficina que se chama “a estratégia do
guerreiro Jedai”, que utilizamos num processo de desafios que vai aumentando o grau de
dificuldade a cada fase. No começo, a visão de cada participante é que no final não se poderá
realizar o que foi pedido, mas a idéia não é de acertar tudo e sim de acreditar que podemos
tentar e ir até o fim mesmo errando. Existem pessoas que nunca fizeram 3 ou 4 coisas ao
mesmo tempo e ficam deslumbradas com o resultado que foi alcançado.
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COMENTÁRIOS: “aprende-se a ver, ouvir de formas que talvez nunca fizemos ou
acreditaríamos que poderíamos” (Ângela Margedan Colodeete, Piedade, 2001).
5 NOME: ATIVIDADES DE PERCEPÇÃO TATUAL.
MATERIAL: Nenhum.
DESCRIÇÃO: Formam-se trios, nas quais uma pessoa faz o papel de uma estátua
numa posição que ela escolher; a outra será a massa parecendo uma forma inicial, ou seja,
sem forma nenhuma e a última, o escultor. A idéia é que a pessoa faça uma pose e fique
completamente imóvel, e o escultor deverá tocar a estátua de olhos fechados e depois irá em
direção à outra pessoa que será a massa e tentará esculpir do mesmo jeito que sentiu com as
mãos. Todos devem passar pelas três posições da atividade.
RELAÇÃO COM OS PILARES: Aprender a ser – desenvolver a busca no sentido
corporal criando mais uma forma de ser.
OBSERVAÇÃO DO PESQUISADOR: Retirada idem à anterior, que utilizamos para
que possamos aprender a tocar as pessoas e a sentir o outro em suas formas. Realmente, as
pessoas, no início, ficam meio envergonhadas de tocar a outra, mas esta ação acaba se
transformando numa reação de carinho, respeito, amor e criatividade de ambas as partes.
COMENTÁRIOS: “no começo, a gente fica meio sem graça de ficar tocando a outra
pessoa, mas depois você entra na idéia de reproduzir ou até cria uma estátua”. (Raquel Ali
Freitas, PMS, 2000).
6 NOME: ATIVIDADES DE INTUIÇÃO.
MATERIAL: Nenhum.
DESCRIÇÃO: É feito um grande círculo, onde os participantes estarão de mãos dadas,
formando uma corrente de proteção; no meio do circulo, estarão duas pessoas de olhos
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fechados, onde uma será o caçador e a outra a caça; ambas devem ficar de olhos fechados e as
pessoas ao redor devem permanecer em silêncio. Ao sinal do focalizador, o caçador tentará
pegar a caça; caso isto aconteça logo, invertem-se as posições. Se o caçador não conseguir
pegar a caça, o focalizador tentará buscar dentro do caçador a sua intuição com frases
positivas.
RELAÇÃO COM OS PILARES: Aprender a ser – desenvolver a intuição como forma
de uma aptidão que poucas pessoas utilizam, ou seja, sentir e acreditar não somente na razão
mas também na intuição.
OBSERVAÇÃO DO PESQUISADOR: Retirada idem à anterior, onde as pessoas no
círculo procuram resgatar ou desenvolver sua intuição de sentir e ouvir o outro e quem sabe
até o mundo. A atividade, em determinado momento, para quem está de fora, dá a idéia que os
participantes estão de olhos abertos, vendo tudo. Vale lembrar também que o papel das
pessoas no círculo torna-se de importância para a segurança dos que estão dentro, pois estes
protegem os de dentro para não saírem e machucar-se.
COMENTÁRIOS: “é interessante, pois, às vezes, um passa ao lado do outro e não
acontece nada e às vezes um está numa ponta oposta e ele vai direto em sua direção como se
estivesse de olhos abertos” (Eliane de Queiroz Leandro, Capão Bonito, 2001).
7 NOME: DINÂMICA DAS MÃOZINHAS NA ÁRVORE.
MATERIAL: Folhas de sulfite, tesouras, colas, canetas hidrocor e cartolinas de cor
parda e som com CD.
DESCRIÇÃO: Formam-se duplas sentadas, uma de frente para a outra, em que cada
um terá uma folha de papel sulfite e uma caneta. Cada pessoa colocará sua mão direita na
folha da outra pessoa e com a mão esquerda, ambas ao mesmo tempo, desenharão a forma da
mão na folha. Depois, deve-se escrever na parte interna dos cincos dedos atitudes para
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melhorar sua vida ou as das pessoas ao seu redor. Após isto, recorta-se com a tesoura a sua
mão desenhada da folha.
Agora será colocada uma música suave para as pessoas poderem dançar e passar as
suas mãozinhas recortadas em várias partes do corpo de outra pessoa, transmitindo assim
essas vibrações positivas. Para finalizar, cada mãozinha será colada num suposto tronco de
árvore desenhado numa cartolina parda para que formem uma copa de árvore e assim
prevaleça a idéia de que todas as mãozinhas nesta árvore possam, num futuro próximo, gerar
grandes frutos.
RELAÇÃO COM OS PILARES: Aprender a viver juntos – procura buscar a
compreensão das relações interpessoais e da paz.
OBSERVAÇÃO DO PESQUISADOR: Esta atividade foi recriada das aulas de artes
que freqüentávamos na adolescência. Trabalha-se com coordenação motora fina, dança-se e
brinca-se com as mãozinhas cortadas pelo corpo dos participantes. O mais importante é
evidenciar o que se quer de bom para nós e para os outros e assim construirmos uma árvore
com um tronco sólido que, além de gerar sombra, possa dar frutos e da qual deveremos
continuar cuidando, pois a cooperação não deve ser feita apenas agora, mas sim pelo resto de
nossas vidas. O visual da árvore é construído por todos os participantes.
COMENTÁRIOS: “é interessante desenvolver a compreensão pelo outro” (Terezinha
de Parizolto Barbosa, Amparo, 2000).
8 NOME: DANÇAS SAGRADAS CIRCULARES (ISSOS/SHETLAND).
MATERIAL: Som com CD.
DESCRIÇÃO: Forma-se um círculo de mãos dadas onde estas danças são realizadas,
cujo formato escolhido tem por finalidade que todos possam sempre estar se visualizando e
espalhar energia para todos os lados.
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ISSOS: Dança portuguesa que tem por objetivo mostrar que a vida parece uma roda,
que tudo tem um começo, meio e um fim.
SHETLAND: Dança escocesa que promove a alegria de estarmos festejando o prazer
de estarmos juntos.
RELAÇÃO COM OS PILARES: Aprender a conhecer – possibilita o aprendizado de
novos tipos de ritmo e respeito as oportunidades que aparecerão no decorrer da dança.
OBSERVAÇÃO DO PESQUISADOR: Esta atividade foi realizada em uma oficina de
danças circulares sagradas feita por uma focalizadora11
, em que tivemos enorme prazer em
poder realizar. Em primeiro lugar, dançar é maravilhoso, gostoso e prazeroso. As danças
circulares sagradas são chamadas assim porque buscam algo mais do que somente dançar; são
feitas em círculo porque existe uma energia no meio que é emanada para todos e onde todos
podem estar se vendo. É sagrada porque têm suas tradições e cada um pode acreditar em algo
que tem fé. Estas danças têm sua origem da Europa, Ásia e África.
Gostamos de utilizar essas danças (ISSOS e SHETLAND), pois podemos trabalhar
com o ritmo da roda e também com o ritmo da vida e da alegria de estarmos juntos tentando.
Por serem danças com passos predeterminados, algumas pessoas pensam que não vão
conseguir, mas o mais interessante é que todos acabam dançando sem saber, vão na onda. Em
relação ao respeito pela dificuldade de cada um, é que no final podemos ver um grupo de 250
pessoas dançando todas juntas, em que cada um respeita o ritmo do outro dentro da roda.
COMENTÁRIOS: “é fantástico, pois são músicas diferentes”; “no começo é difícil,
mas depois todos acabam dançando mesmo não sabendo”; “aprendemos que cada um tem
seu ritmo no círculo e que devemos respeitá-lo” (Renata Alves Santarosa, Unimes, 1999).
11 Renata Ramos, que desenvolve trabalhos na TRIOM.
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9 NOME: SALVE-SE COM UM ABRAÇO.
MATERIAL: Balões de gás.
DESCRIÇÃO: É um pega-pega, em que os pegadores terão de correr atrás das
pessoas e tocar com uma bola de gás no seu peito para pegá-las. Quando for pega, esta virará
pegadora. Para qualquer pessoa poder salvar-se, deverá abraçar uma outra pessoa por um
tempo de 5 segundos e neste momento ambas não poderão ser pegas.
RELAÇÃO COM OS PILARES: Aprender a fazer – para poder gerar novas
competências.
OBSERVAÇÃO DO PESQUISADOR: Esta atividade foi adaptada de vários pegas-
pegas que conhecemos, em que procuramos utilizar as pessoas como um lugar para se salvar e
poder abraçar outras pessoas. Aprende-se que não precisamos ter uma habilidade específica
que é a de correr muito e sim de vermos um jeito gostoso de brincar de uma nova maneira.
COMENTÁRIOS: “é muito difícil as vezes enfrentar sozinho o que as vezes tem mais
habilidades que nós” (Ana Tereza Lucchiari Marchi, Araraquara, 2000).
10 NOME: NUNCA TRÊS.
MATERIAL: Nenhum.
DESCRIÇÃO: É um pega-pega em que haverá duplas correndo ou andando de mãos
dadas, havendo um pegador e uma pessoa a ser pega. Quando a pessoa que estiver fugindo do
pegador entrar numa das pontas existentes da dupla, a outra saíra correndo e o pegador irá
atrás dessa nova pessoa. Caso o pegador consiga pegar a pessoa antiga ou a nova, esta passa a
ser a pegadora e o pegador vira a pessoa a ser pega.
RELAÇÃO COM OS PILARES: Aprender a fazer – reflexo nas decisões a tomar.
OBSERVAÇÃO DO PESQUISADOR: Esta atividade foi recriada pelo Brotto, em que
o pega-pega torna-se um jogo que aprimora nosso reflexo, nossa percepção, e trabalha com
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outras pessoas. O resultado é que pela primeira vez podemos fazer o pegador de bobo,
tornando a atividade sem limite para terminar.
COMENTÁRIOS: “é a única vez que podemos igualar a habilidade do pegador, se
ele for rápido e de até fazer ele de bobo” (Marta de Lucca Airt, Juquetibá, 2000).
11 NOME: COELHO SAI DA TOCA.
MATERIAL: Nenhum.
DESCRIÇÃO: Formam-se trios onde duas pessoas se darão as mãos, formando uma
toca e a outra será o coelho no meio desta.
Ao sinal, deve-se trocar os coelhos de tocas e depois as tocas também. Para tornar
mais agitado, coloca-se uma ou mais pessoas no meio do círculo, formando ou não tocas sem
coelho para, ao sinal, tentarem entrar nas tocas ou formar uma toca para um coelho.
RELAÇÃO COM OS PILARES: Aprender a fazer – com possibilidade de gerir novos
espaços.
OBSERVAÇÃO DO PESQUISADOR: Esta atividade é tradicional e é utilizada como
forma de resgatar o lúdico e ainda de incluir alguns desafios a mais para que as pessoas
tenham algumas variações. Esta atividade vai sendo construída na intenção de que em cada
fase o desafio seja maior e as pessoas procurem pensar e agir mais rápido.
COMENTÁRIOS: “é muito interessante, pois parece fácil e com o decorrer da
atividade o complicado fica envolvente ao invés de desmotivante” (Ana Lúcia de Arruda
Campos, Unimonte, 2000).
12 NOME: ESCRAVO DE JÓ.
MATERIAL: Mesmo número de bambolês que dos participantes ou giz para fazer
círculo no chão.
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DESCRIÇÃO: Forma-se um círculo onde haverá duplas de mãos dadas dentro de cada
bambolê. Ao sinal, todos devem cantar a música “Escravo de Jó” e passarão para o próximo
bambolê à sua frente junto com seu parceiro até o final da música.
RELAÇÃO COM OS PILARES: Aprender a fazer – ritmo, respeito e coordenação.
OBSERVAÇÃO DO PESQUISADOR: Esta atividade é tradicional, porém foi
adaptada por João Batista Freire em uma oficina da qual participamos. A maioria das pessoas
já participaram dessa atividade, cantado ou brincando, então pode ficar um pouco mais fácil
sua execução; mas, na maioria das vezes acontece que cada pessoa tem seu ritmo de cantar e
movimentar-se na roda. Daí surgem os problemas relacionados com coordenação motora e
ritmo. Além dessa coordenação e ritmo, a grande jogada é que as pessoas acabam ensinando
as outras de várias formas até conseguirem executar o ritmo da roda e da música.
COMENTÁRIOS: “fica claro para eu e quase todas as pessoas, que existem vários
ritmos na vida e que devemos aprender a conviver com eles junto com os outros” (Marli
Batyista Stroccini, Mogi das Cruzes, 2000).
13 NOME: NO JARDIM.
MATERIAL: Mesmo número de cadeiras sem braço, vendas. Para os olhos, cordas,
fita crepe.
DESCRIÇÃO: Forma-se um círculo, onde todos devem estar sentados em cadeiras que
não tenham os braços para apoiar. Existirá em jogo uma ou mais cadeiras vazias posicionadas
no círculo onde estas estarão em disputa. A primeira pessoa que sentar na cadeira vazia falará
“eu sentei”, a pessoa que estava ao seu lado passa para a próxima cadeira vazia que a primeira
pessoa estava e dirá “no jardim” e uma terceira também fará o mesmo processo e dirá “com
meu (minha) colega... fulano(a)”.
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Esta pessoa que foi chamada deverá levantar-se e sentar-se ao lado da pessoa que falou
o seu nome e novamente estará em disputa o lugar que ela saiu. Para gerar novos desafios,
escolhe-se aleatoriamente uma pessoa para vendá-la, outras duas para amarrar as pernas ou
braços e em outra se coloca uma fita crepe na sua boca. Estas deverão brincar do mesmo jeito
que as demais.
RELAÇÃO COM OS PILARES: Aprender a viver juntos – inclusão, interação,
liberdade, motivação, comunicação, confiança e ajuda mútua.
OBSERVAÇÃO DO PESQUISADOR: Esta atividade foi-nos apresentada no segundo
ano da graduação de Educação Física por um professor de Educação Infantil. Por mais que
pareça um jogo de disputa, está longe de se ter um vencedor único. Em primeiro lugar, existe
um sadio jogar de abundância (jogamos literalmente com os bumbuns); em segundo lugar,
não é monótono em momento algum, pois a atenção fica mais redobrada; e em terceiro, existe
a total inclusão de qualquer pessoa que queira jogar. Os desafios mostram que podemos jogar
com qualquer pessoa, bastando apenas que as pessoas do grupo tenham a intenção de ajudar
umas às outras.
COMENTÁRIOS: “é uma brincadeira onde torna-se um caos, porém ninguém fica de
fora e aprendemos a ajudar que necessita” (Aline Martinho, Capão Bonito, 2001).
14 NOME: DANÇA DAS CADEIRAS COOPERATIVAS.
MATERIAL: Mesmo número de cadeiras e som.
DESCRIÇÃO: Colocam-se as cadeiras uma de costas para as outras numa fileira. Dá-
se início ao som de uma música em que todos que estavam sentados devem levantar e dançar
ao redor das cadeiras. Quanto a música pára, todos devem sentar na cadeira vazia. Retira-se
um número de cadeiras desejado e voltam a dançar e ao parar a música todos devem sentar,
incluindo os que ficaram sem cadeira. A atividade irá terminar quando restar apenas uma
78
cadeira e todos estiverem sentados nela. Para um desafio final, deve-se propor ao grupo que se
sentem todos sem cadeira.
RELAÇÃO COM OS PILARES: Aprender a viver juntos – inclusão, solidariedade,
contato pessoal e respeito.
OBSERVAÇÃO DO PESQUISADOR: Esta é uma atividade tradicional, em que, ao
invés de irmos eliminando as pessoas, eliminamos as cadeiras. Mesmo sabendo que ninguém
ficará de fora, existem pessoas que disputam a cadeira e seguem a mesma seqüência de andar
bem perto das cadeiras vazias. Quando resta uma cadeira ou nenhuma, é que as pessoas
entendem que o que precisamos é trabalhar juntos uns com os outros ao invés de contra.
COMENTÁRIOS: “mesmo sabendo que todos irão sentar, continuamos disputando
as cadeiras” (Maria Oliveira da Silva, Maceió, 2001).
15 NOME: TRAVESSIA DE BARCOS.
MATERIAL: Cadeiras sem braço com o mesmo número de participantes e som.
DESCRIÇÃO: Divide-se o grupo em quatro equipes (navios) que formarão barcos e
ficarão dispostas em quatro fileiras em um grande quadrado. Cada pessoa deverá começar o
jogo sentada na sua cadeira. Cada navio deverá chegar ao outro lado correspondente que está
à sua frente. Porém, para isso deverá chegar com todas as outras cadeiras e seus participantes.
Nenhum tripulante poderá colocar qualquer parte do corpo no chão nem arrastar as cadeiras.
Quando todos conseguirem alcançar seus lados opostos, o desfecho será vencido por todos.
RELAÇÃO COM OS PILARES: Aprender a viver juntos – respeito, liderança
compartilhada, comunicação, confiança mútua, criatividade, senso de unidade, superação de
dificuldades.
OBSERVAÇÃO DO PESQUISADOR: Esta atividade foi realizada em uma das
oficinas de transformação realizadas pelo Brotto da qual participamos.
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A nosso ver, esta atividade envolve tantos itens que a torna mais que uma simples
atividade. Mesmo assim, existe ainda o sentimento de chegar primeiro, de ser o melhor, de ser
o único líder e de não se comunicar com os outros do seu grupo. Mas também se mostra
presente o respeito e a confiança mútua, a criatividade e a superação do grupo no chegar ao
outro lado. Na hora da reflexão, é importante ver como as pessoas apontam os pontos
positivos e negativos delas mesmas e do grupo.
COMENTÁRIOS: “foi a coisa mais incrível que eu e os outros fizemos juntos”;
“agora entendo a frase que você falou: só é possível quando é impossível para todos, foi
fantástico” (Vasti Silveira Siqueira, Ribeirão Preto, 2000).
16 NOME: TRAVESSIA DA PONTE DE CORDAS.
MATERIAL: Corda trançada de uns 20 metros.
DESCRIÇÃO: Haverá uma corda trançada em nós para a realização de uma travessia
passando por cima da corda, simbolizando uma ponte. Haverá pessoas que estarão segurando
a corda pelas alças a uma altura de um metro do chão. Uma pessoa estará andando por cima
até chegar no final.
RELAÇÃO COM OS PILARES: Aprender a viver juntos – confiança, superação,
respeito, transformação e desafio.
OBSERVAÇÃO DO PESQUISADOR: Esta atividade foi realizada num Festival de
Jogos Cooperativos pelo venezuelano Guilhermo Browmn. Consideramos como um desafio
final e uma descoberta de todos os participantes, pois a maioria já passou por diversas
atividades envolvendo a cooperação. Mesmo assim, existe o medo de andar sobre cordas
trançadas a uma altura de um metro do chão. Nesta hora, vale a pena ver se o que você está
vivenciado é realmente verdadeiro ou, mais ainda, se você acredita no que lhe foi dito.
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Haverá pessoas que passarão devagar ou rapidamente pelo fato de confiar naquelas
pessoas que ficaram o dia todo juntas. A pessoa que não acreditar, dificilmente irá deixar sua
passagem pelas cordas na mão de qualquer pessoa. É interessante as várias visões da
travessia; algumas delas é ver homens de 120 kg sendo segurados por duas mulheres que
chegam a um total de 80 kg, pessoas que têm pavor de altura ou medo de cair passarem bem
devagar mas indo até o final, pois acreditam nas pessoas que estão segurando a corda. Não é
superação individual só, é um trabalho em grupo em que todos juntos fazem a diferença.
COMENTÁRIOS: “é a hora da verdade, ou você acredita em tudo que vivenciou até
agora e vai em frente ou volta e fica parado na desconfiança, no medo e na vontade de querer
mudar algum dia” (Ana Maria Gimenez, Caraquatatuba, 2001).
17 NOME: LOVE BACK.
MATERIAL: Cartolinas brancas, microfone, lápis coloridos, canetas.
DESCRIÇÃO: Refletir num círculo tudo o que aconteceu e transcrever o relato em
forma de fala ou escrita com manifestações voluntárias pessoais ou em grupo.
RELAÇÃO COM OS PILARES: Aprender a ser, fazer, conhecer e viver juntos –
libera momentos de agradecimentos, críticas e posicionamentos.
OBSERVAÇÃO DO PESQUISADOR: Esta atividade é realizada em quase todos os
momentos que se envolve a cooperação. Foi criada por Brotto em suas descobertas mágicas.
Não tem hora certa para realizá-la, mas preferimos fazê-la no final de tudo, pois é a hora que
todos podem falar o que quiserem sobre o que foi vivenciado durante as atividades. Além
disso, é a hora de dizer ou escrever o que se está sentindo de forma construtiva e autêntica, é
uma troca de sentimentos inigualável que nunca se repete, em que o amor de cada um acaba
florindo junto com todos.
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COMENTÁRIOS: “é a hora de dizer o que aconteceu com você no dia de hoje”;
“você fala com uma energia muito positiva, dá vontade de não parar mais e de querer
abraçar todo mundo” (Roberto Jesus do Nascimento, Faculdades Santana, 1999).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Gostaríamos agora de compartilhar um pouco desta fala que vimos utilizando em todas
esta dissertação, tendo a certeza, no entanto, de que o final desta conversa estará longe de ter
um fim, pois quando pensamos que chega no final, recomeça com tanta força que não
conseguimos parar de falar em cooperação e convivência.
Sendo assim, procuraremos reunir as atividades apresentadas no relato de experiência
em quatro grupos, organizados sob uma conexão com os Pilares da Educação. Logo a seguir,
alguns comentários sobre estes grupos e depois compartilharemos com todos uma fala aberta
e de muita esperança na cooperação.
APRENDER A CONHECER
REGRAS INVISÍVEIS
DANÇAS CIRCULARES SAGRADAS
LOVE BACK
APRENDER A FAZER
SALVE-SE COM UM ABRAÇO
NUNCA TRÊS
COELHO SAI DA TOCA
ESCRAVO DE JÓ
LOVE BACK
APRENDER A VIVER JUNTOS
DANÇA DAS CADEIRAS COOPERATIVAS
TRAVESSIA DE BARCOS
NO JARDIM
TRAVESSIA DA PONTE DE CORDAS
DINÂMICA DAS ARVORES
TOCOU COLOU
LOVE BACK
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APRENDER A SER
ATIVIDADES DE PERCEPÇÃO
ATIVIDADES DE CONTATO
ATIVIDADES DE INTUIÇÃO
CONFRATERNIZAÇÃO DOS BICHOS
LOVE BACK
No aprender a conhecer, distribuímos estas atividades como formas de vermos e
começarmos a entender que fazemos as mesmas atitudes do mesmo jeito há muito tempo.
Tem como objetivo descobrir novas alternativas para fazê-las e de usarmos a música como
outra forma e de conhecer a resgatar o nosso potencial existente dentro de cada um,
fortalecendo o todo.
No aprender a fazer, partimos para o brincar lúdico por meio da ajuda mútua,
relembrando nosso passado como criança, com uma atenção especial para não ser mais
habilidoso e sim o mais solidário e cooperativo.
Aprender a viver juntos: parece fácil de falar, mas cada um tem um jeito de ser e estar
nesse mundo. Atividades voltadas para desafios pessoais e grupais, em que não basta falar;
temos que dividir, confiar, respeitar, devendo a comunicação tornar-se a tônica de superar
juntos qualquer dificuldade.
Aprender a ser: conhecer e aperfeiçoar o nosso eu para depois procurarmos o outro
que está ao nosso lado. Descobrir o que eu sou e o que eu faço de melhor neste mundo. Como
o amigo Fábio Otuzzi Brotto diz, os Jogos Cooperativos são uma busca do “VENSER”, VIR
A SER O QUE VOCÊ REALMENTE É E NÃO O QUE OS OUTROS QUEREM QUE
VOCÊ SEJA.
No decorrer deste estudo, procuramos evidenciar uma proposta de ensino e
aprendizagem focalizada nos Jogos Cooperativos como um caminho para o desenvolvimento
de pessoas e grupos em que, dentro das perspectivas de uma educação para o século XXI, já
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se propõem os seus exercícios dentro dos Pilares da Educação: aprender a conhecer, a fazer,
a ser e a viver juntos.
Observamos que nós, seres humanos, estamos diante da rara oportunidade de
recuperarmos e aperfeiçoamos a consciência da interdependência de nossas ações, atitudes e
comportamentos diante do viver em comunidade.
É preciso nutrir e sustentar permanentemente o processo da convivência,
reconhecendo em cada um de nós um estilo de vida, em que o desenvolvimento da
cooperação seja um exercício das relações humanas em todas as suas dimensões e contextos.
Acreditamos que, para a realização desse processo, a Educação seja um dos caminhos
para se obter um melhor resultado, uma educação fundamentada nos Pilares da Educação
como forma de indicar uma discussão sobre a convivência do ser humano no interesse pelo
bem do outro como fonte de motivação e compromisso com a vida existente neste planeta.
Precisamos pensar que, para “salvar o mundo”, temos que começar a mudar dentro da
gente; depois, perto da gente, para depois ir em direção do mundo todo.
Não será um caminho, jornada ou viagem fácil para quem quiser realizá-la; será um
constante aperfeiçoamento do conviver com os outros, tecendo novas redes, valorizando as
pequenas conquistas, superando os novos desafios e conquistando para junto de nós uma vida
melhor para todos.
Quando começamos a escrever, pesquisar e experimentar esta proposta, tivemos muita
dificuldade, pois tudo o que vivemos era muita emoção transformando o nosso ser, mas
tivemos a ajuda de várias pessoas para transcrever tudo isto de uma forma acadêmica para que
outras pessoas pudessem ler.
Os Jogos Cooperativos não são mais vistos como um modismo que apareceu, pois a
cada dia que passa mais e mais pessoas estão descobrindo-os e percebendo que podem utilizá-
los como ferramenta na vida em todas as suas formas de aprendizagem, convivência e
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transformação, reaprendendo a amar e a jogar cada partida da nossa vida diária como se fosse
a primeira, a única e a mais essencial de todas.
Ainda podemos dizer que somos muito melhor compreendidos quando nos permitimos
traduzir na ou pela outra parte ou no todo que somos cada um em todos nós.
O mais interessante é que nada nos Jogos Cooperativos tem um começo ou fim, não
têm seguidores mas sim participantes que colaboram para o seu sucesso.
Nossas preocupações, se podemos dizer assim, ficam voltadas para o fato de que, para
realizarmos esta contínua convivência, necessitamos reconhecer a importância de estarmos
constantemente abrindo nossas mentes e corações para as diversas formas de conviver com os
outros.
Não basta apenas invertemos as estruturas de como jogar e de aplicar o que foi
mostrado, se não aceitarmos a considerar o outro não como adversário e sim como parceiro
num jogo em que o mais importante é ver no indivíduo o ser; no conhecimento, a
manifestação do saber; na realização, o fazer de cada um na sociedade; e no espírito, a busca
do conviver.
Desse efeito, vemos o outro e nós mesmos numa busca da verdade interior como
sentido de vida, numa experiência da conexão com a teia da vida que poderá gerar uma
unidade coletiva com anúncio da igualdade e fraternidade para todos.
Dessa forma, precisamos melhorar e aperfeiçoar a nossa respiração nos constantes
movimentos da vida, pois ela vai manter-se devagar ou muita rápida em alguns momentos,
gerando um pouco de agitação, mas tudo isso será normal, pois, assim como na dança, na vida
também existe um ritmo que devemos acompanhar.
Também devemos relacionar com qualidade de vida a nossa saúde numa constante
procura pelo equilíbrio do corpo, da mente e do espírito, tendo agora como possibilidade uma
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visão de que na vida a maioria das pessoas precisam estar e ficar juntas, tornando a sabedoria
de cada um num compartilhar das idéias de todos nós.
Gostaríamos de encaminhar esta dissertação a todos os professores, educadores,
alunos, pais, amigos e a qualquer pessoa que venha a se interessar pelo assunto aqui proposto.
Sua utilização poderá ser feita nas escolas, nas empresas, nas comunidades, na família
e principalmente no aspecto pessoal de cada um, em que, para sua implementação, não
precisamos de muitos recursos, somente de vontade pessoal em primeiro lugar e depois
coletiva.
Por meio dessas informações, desenvolveremos nossa vocação para o exercício de
convivência e cooperação, em que sua prática será viabilizada num projeto em que todos nós
realizemos uma visão de tarefa das ações que venham a nutrir nossos movimentos para
despertar e acreditar que todos nós podemos desenvolver nosso potencial de compartilhar a
cooperação.
Certamente, as mudanças que virão a ocorrer só nos trarão o bem interior e depois o do
exterior junto com outros. Acreditar que nos próximos milésimos de segundos, segundos,
minutos, horas, dias e no resto de nossas vidas poderemos conviver melhor com o nosso
trabalho, com a família, com a sociedade, estaremos gerando novas motivações, novas
atitudes, novos valores e capacidades.
Quando nos recordamos da nossa própria história, consideramo-nos felizes por ter tido
a oportunidade de vivenciar a cooperação e a confiança em compartilhar a vida com outras
pessoas. Essa necessidade sincera de relação com o outro é essencial que advenha de
situações cooperativas e de vital importância para uma alta qualidade de vida.
Nos próximos anos da nossa existência aqui na terra ou quem sabe em outro planeta,
tentaremos ao máximo procurar alcançar todos os ideais humanos ou quem sabe
extraterrestres, mas continuando com um caminho a perseguir, onde, junto com outros,
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busquemos a direção do resignar-se, dizendo que existem outros formas e caminhos que
possamos seguir.
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ANEXO
1. Comentários dos professores que participaram das Oficinas.
Cristiane Ziani, Leme
Foi válida, descontraída e, à medida que foi se desenvolvendo, demonstrou a real importância
das atitudes de união, confiança, inclusão e prazer. Modificou a minha experiência, de
maneira sutil – estava apenas reforçando a competitividade por mais que eu quisesse variar as
brincadeiras. Penso que esta mudança de proposta vai reverter a agressividade presente nos
alunos, tornando-os mais felizes e amigos, além de adquirir outros conceitos.
Elídia Raha Dopp, Leme
Gostei muito, senti que há muito sentimento bom em todos, muito calor humano, e quando
surgem essas oportunidades, a gente nota que é isso que todos desejam e essa hora é para
colocar isso para fora e perceber que eu posso mudar para melhor e vou mudar.
Maísa Francisco Tavanilli, Amparo
Eu achei ótimo, pois não existe competição, mas sim cooperação entre as pessoas; traz o
resgate do companheirismo, cooperação, integração e até mesmo nas nossas vidas nem
sempre podemos viver sozinhas e precisamos de outras ou muitas pessoas para atingir nossos
objetivos e sermos muito mais felizes.
Carolina Gomes da Silva Dantas, Capão Bonito
Muito interessante, pois não são simples brincadeiras. Nós, como professores, devemos
aproveitar esta ferramenta como forma de aprendizagem.
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Ana Lúcia S. Mello, São Paulo
No início, não querIa participar. Entretanto, através das atividades propostas, integrei-me ao
grupo. Acredito que seja o objetivo desses jogos a integração.
Aparecida Maira Grezzoni Barbosa, Araraquara
Acredito que tenha feito com que o professor pudesse entender um pouco do que é capaz e do
que a ludicidade dentro de sua aula pode fazer. Não bastam apenas as brincadeiras. Você tem
que vivenciá-las para poder discutir com seus alunos. Graças a Deus que aparecem novas
propostas modernas de aprendizagem em que podemos não só ensinar as crianças como a nós
também.
Edileine Alves de Oliveira Milanezes, Juquetiba
Excelente. Através de atividades simples, nos levou a refletir sobre nossas atitudes diante das
pessoas e nos encorajou a sermos melhores professores, promovendo, assim, mudanças no
ensino.
Conceição Figatti, Mogi das Cruzes
Foi ótimo, porque resgatou o espírito do coleguismo, respeito, solidariedade e momentos de
lazer, levantando a auto-estima dos professores que atualmente sentem-se sufocados com a
grande responsabilidade de formar cidadãos críticos, competentes, responsáveis, solidários e
realizados profissionalmente.
Edir Jerra Micali, Piedade
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Interessante, motivadora. Veio acrescentar maiores oportunidades para refletir e propiciar
sugestões para mudanças.
Daniella Santos Fernandes, Guarujá
Achei muito motivante por trazer a idéia da cooperação e atitudes que, para quem educa, são
valiosas. Estar junto ao aluno e não acima dele ou contra também nos traz a forma de uma
aprendizagem gostosa, produtiva, em que, muitas vezes, não acontece nas nossas aulas. É a
segunda vez que participo de atividades como essa e acho que poderiam ocorrer com mais
freqüência nas escolas. Esses momentos geram uma criatividade fantástica e prazerosa de
fazer e estar juntos.
Adriana Dinapóli, Praia Grande
Muito dinâmica, divertida, com muito prazer, dando uma visão nova na relação
aluno/bagunça/professor/escola.
Cláudia Ferreira Prata, Quipapá
Muitas vezes, por trabalhar em várias escolas, não pude participar de muitas oficinas, mas a
de hoje, em especial, achei muito interessante, descontraída e criativa. Parabéns ao
capacitador por mostrar a força que cada um de nós tem dentro de si. E acredito que após essa
proposta, eu, junto com os outros, possamos nos comunicar mais para melhorar juntos o nosso
meio e quem está ao nosso lado.
Maria Helena Alves, Maceió
Eu gostei muito. Aprendi muitas coisas e resgatei algumas coisas que estavam mortas ou
esquecidas no meu passado.
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Maria Elisa de Almeida Silva, Capão Bonito
Muito boa. Trouxe para mim algo novo que é a cooperação, embora já saibamos o que seja,
mas não colocamos em nosso dia-a-dia e principalmente em prática.
Aline Martinho, Caraguatatuba
Nossa vida sempre foi marcada por uma luta, isto em todos os seus aspectos. Portanto, muitos
se esquecem que todos somos iguais, vamos todos para o mesmo lugar. O curso pode resgatar
a importância de cooperar uns com os outros.
Eliane de Queiroz Leandro, Porto Seguro
Para mim, a oficina foi ótima em todos os sentidos, pois estou começando na Educação e
nunca tive aulas parecidas assim na Faculdade. Essa oficina trouxe não só para mim como
para quase todos os outros novas formas e idéias de como podemos ensinar melhor e com
prazer.
92
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