ENTREVISTA ÚSICA NÃO É DE A E O ARTISTA TEM QUE DIZER … · no site ou em um aparelho celular...

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EDITORA-COORDENADORA: SIMONE RIBEIRO / DOISMAIS@GRUPOATARDE.COM.BR

TERSALVADOR14/5/2013

SEG PERSONAHOJE POPQUA VISUAISQUI CENASEX FIM DE SEMANASAB LETRASDOM TELEVISÃO

atarde.com.br/caderno2mais

MÚSICA ED MOTTA EXPLORAO ESTILO SOFISTICADO DOSPRIMÓRDIOS DAS RÁDIOSFMS NO MAIS RECENTETRABALHO, O CD AOR 3

SALVE JORGE FILHA DE THEO E MORENA ÉSEQUESTRADA E LEVADA PARA A TURQUIA 5

Daryan Dornelles / Divulgação2MARCELO ARGÔLO

Na última terça, EmmanuelZunz, CEO da ONErpm, esteveem Salvador para ministrar umapalestra sobre a atual situaçãodo mercado da música online noBrasil. Para Zunz, as possibili-dades de comercialização damúsica já é uma realidade e essemercado está em forte cresci-mento no País. Sua crença é ba-seada na pesquisa realizada pe-la IFPI (sigla em inglês para Fe-deração Internacional da Indús-tria Fonográfica), que mostraque, em 2012, pouco mais de50% da música vendida no mun-do foi em formato digital. NoBrasil, este percentual é de apro-ximadamente 27%. Nesta en-trevista, Zunz explica quais sãoas possibilidades de consumodemúsicadigitalnoBrasil,oquevai além do download, e a men-talidade que artistas e fãs de-vem ter para a estimulação domercado de música digital.

O que é a ONErpm e quais osobjetivos do encontro?

A ONErpm é uma distribui-dora de música digital. A gen-te coloca músicas de artistas eselosemtodasasplataformasdo mundo para que eles pos-sam ter um retorno financeiroe atinjam um público maior. Oponto do encontro foi, em pri-meiro lugar, mostrar quaissão as possibilidades hoje enos próximos anos com a mú-sica digital no Brasil; comoque os produtores, selos e ar-tistas podem se rentabilizar ecrescer. O outro objetivo foi ode divulgar a minha empresa,a ONErpm.

Quais são essas novas possi-bilidades da música, a partir dodigital?

Hoje, diria que há quatro for-mas de consumir música [apartirdodigital]noBrasil.Temo download pago e gratuito,os serviços de streaming, queé uma espécie de música pordemanda. Você pode chegarno site ou em um aparelhocelular com um aplicativo eouvir todas as músicas. Sãomaisde20milhõesdemúsicasnessessitesesepagapequenamensalidade para ter acesso.Isso nunca existiu, é um novomodelo. Em terceiro tem oYouTube, no qual são desco-bertas 40% das novas músicashoje. Em quarto tem o con-sumo de música nas opera-doras a partir dos ringtones.

Dessas possibilidades, o strea-ming é a principal novidade,pois as outras são mais conhe-cidas. O que muda para quemapenas ouve música com ostreaming?

O que muda é a qualidade doáudio e a facilidade de aces-so. Baixar exige o trabalho debuscar as músicas, e acho queo consumidor hoje não tem

Joá Souza / Ag. A TARDE

Depois que comeceia usar o streaming,percebi que sãosuperiores. Nãovejo como odownload vaicontinuar sendoprincipal nomercado

Há um custode criação, deprodução. Por isso,a música não podeser de graça. Faltaessa consciência

Músicos baianosacreditam nopotencial dedistribuidora

O serviço de distribuição de mú-sica digital da ONErpm, que temsede em Nova York e filial emSão Paulo, já é usado por ar-tistas baianos. Entre eles estãoBaianasystemeCHStraatmann.Ambos utilizam o serviço hápoucotempo,masacreditamnopotencial do formato.

O guitarrista Robertinho Bar-reto ainda não sabe mensuraros benefícios financeiros para abanda com o serviço por causado pouco tempo de uso – cercade dois meses de uso. Contudo,ele já se mostra satisfeito com oretorno de visibilidade.

“Tempoucotempoqueagen-te começou a usar e ainda nãosabemos de maneira clara osretornos do serviço. Agora, ofeedback de pessoas que estãoouvindo e de coisas que estãosaindo está muito legal. A seg-mentação que eles fazem na dis-tribuição é bem interessante”,afirma o guitarrista.

O músico CH Straatmann dis-ponibiliza pelo serviço seu pri-meiro álbum solo, que lançaránesta quinta. Para ele, as pos-sibilidades são os principais be-nefícios para o artista.

“É uma ferramenta que dá aoportunidade de estar em es-paços que não conseguiria so-zinho. Ao mesmo tempo se temtotal controle sobre os valoresque serão cobrados e o que serádisponibilizado de graça”, diz.

Novo modeloOs músicos acreditam que o mo-delo proposto pela empresa éeficaz.Elesafirmamserumaboasaída para a distribuição de mú-sica na internet.

“Este é o formato mais ba-cana dos que se apresentam pa-ra a internet. Eles não se res-tringirem ao iTunes. Colocaremem várias lojas é bem bacana”,afirma Robertinho.

“Euestousóháduassemanasusando essa ferramenta. Achoque é um modelo que pode fun-cionar, principalmente pelo con-trole que se tem da sua música”,afirma CH.

“MÚSICA NÃO É DEGRAÇA E O ARTISTATEM QUE DIZERISSO AOS FÃS”

ENTREVISTA Emmanuel Zunz

tempo para isso. Os serviçosde streaming oferecem algobom, rápido, barato e comuma qualidade excelente.Além disso, você sente quebaixou a música, porque épossivel ouvir offline. Repro-duz a sensação de que você édono da música, mas comuma qualidade maior.

Você acredita que o mercado destreaming será mais duradourodo que o de download?

Acho que sim, porque eu souconsumidor e já fiz um teste.Como empresário, não que-ria que fosse verdade, queriaque o download vencesse.Depois que comecei a usaresses serviços, percebi quesão superiores e mudam ocomportamento. Não sou dotipo que tenho que provar asnovidades e gosto mesmo édas minhas tradições. Mas,como usuário, não vejo comoo download continuará sen-do a maneira principal domercado. Isso é ruim no iní-cio, porque o download pagabem mais do que o strea-ming. No meu negócio, agente vai sofrer durante esseprocesso de mudança, mas éinevitável.

O streaming hoje é superior aodownload em que sentido?

Em termos de preço. Vocêtem muito mais música porum preço muito baixo. Alémdisso, tem os aplicativos coma possibilidade de usar noaparelho celular.

Você fala também de uma su-peração da cultura do gratuitopor uma cultura de suporte aosartistas. O que seriam essasduas culturas?

Eu acho que hoje tem metadedo consumidor que fica fu-rioso se a música não é degraça e outra metade quequer apoiar o artista. Achoque a música não é de graça,há um custo de criação, anos

de desenvolvimento paraaprender a tocar algum ins-trumento ou a cantar, depoistem a produção. Então, paravocê ouvir aquela música, fo-ram anos para que o artistachegasse àquele produto fi-nal. Por isso, ela não pode serde graça. Falta uma consciên-cia disso. Quando essa cons-ciência existir, as pessoas vãoapoiar o artista. Contudo, opróprio artista tem a respon-sabilidade de falar isso paraos fãs, o que ele não tem feitotanto quanto deveria.

Você acredita que o hábito doconsumidor e dos fãs de baixarmúsica gratuita, de copiar dis-cos para o computador e decompartilhar esses arquivos éprejudicial ao artista?

Nem sempre, mas às vezessim. Comprando o disco, já seestáapoiando. Irparaoshowtambém é apoiar o artista.Agora, emprestar o disco pa-ra copiarem pode prejudicar.Se você baixa em um sitegratuito como o RapidSharee compra o disco depois, vocêapoia o artista. Quandocriança e adolescente, eu em-prestava meus discos para aspessoas copiarem. Isso fazparte do compartilhamentode música. Além disso, exis-tem estudos que mostramque as pessoas que mais bai-xam música de graça tam-bém são as que mais com-pram. Porém, também achoque tem muita gente que bai-xa e nunca vai comprar. Deve

haver um equilíbrio entre es-sesdois lados.Eseéopróprioartista que está se autopi-rateando,entãová láebaixe.O meu papel como distribui-dor não é mudar o hábito doconsumidor, mas do artista.Agora, se um fã coloca umlink para baixar, eu não bai-xaria porque não sei o quetem ali. Eu só vou baixar se oartista colocar.

E você acredita que esse hábitode download gratuito é o maiorobstáculo para o desenvolvi-mento do mercado de músicadigital?

É um obstáculo grande, por-que baixar de graça num sitecomo o RapidShare não é amesma coisa de instalar umaplicativo genial, no qual setem acesso a milhões de mú-sicas. Nestes se tem uma ex-periência muito melhor dedescoberta de música. Eunão gosto de sites como oRapidShare, porque eles fa-turam em cima do artista,com a venda de anúncios, enão repassam nada para oartista. Ele construiu um ne-gócio em cima das costas doartista e não repassa nada. Émuito mais legal apoiar osserviços de streaming comoo Rdio ou o Spotify, que cria-ram uma ferramenta muitosuperior e repassam dinhei-ro para o artista. É uma ques-tão de filosofia e uma ques-tão de ética. Esses sites, alémde apoiarem os artistas,apoiam o consumidor tam-

bém, porque sugerem novasmúsicas e ajudam a desco-brir novas.

Então, o ponto para você é quese alguém fatura com o com-partilhamento de música, essedinheiro precisa ser divididocom o artista?

É um dos meus pontos. Outroponto importante é que o ar-tista deve se fortalecer, pegaros dados da pessoa que estábaixando a música para queele possa ter um relaciona-mento com esses fãs e de-senvolver uma carreira a lon-go prazo. Se ele não fizer isso,é um tiro no pé. O argumentopara colocar a música gratuitaéadequeaspessoasirãoparao show, então pegue o dadopara você convidar ele para oshow. Com isso, o artista nãoestá ganhando dinheiro, masestá ganhando informação,que também é valiosa.