View
228
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
Era uma vez um bosque verdejante, onde as plantas e os animais viviam felizes e
tranquilos.
As aves voavam, livres, no céu. Os animais da terra cresciam em harmonia. Os peixes do
lago cristalino nadavam junto da cascata e maravilhavam‐se com o canto das ninfas.
As ninfas eram muito bonitas e ternas. Vestiam túnicas esvoaçantes e enfeitavam os
seus cabelos com pétalas de flores.
Protegiam os seres vivos do lago e tinham o dom de ajudar a natureza na sua
purificação.
As ninfas cantavam como os rouxinóis e bailavam sobre a água, parecendo voar.
Alana era uma pequena ninfa e adorava viver naquele bosque encantado.
Corria e brincava com os animais, respirando o ar puro. Bebia a água fresca das
nascentes, observava o desabrochar das flores, inspirava os aromas da natureza, adormecia a
ouvir o coaxar das rãs…
Alana acreditava que não existia nada melhor do
que nadar na água límpida do lago e saltar na espuma
da cascata.
Quando mergulhava, imaginava‐se no mar,
cavalgando golfinhos e explorando cavernas
escondidas nos corais…
Mas Alana, tal como todas as ninfas, queria ser
bailarina.
Todas as manhãs, calçava as suas sapatilhas e
saltava para cima do grande nenúfar onde as ninfas
mais jovens tinham a sua aula de ballet.
A professora, uma bailarina experiente e deslumbrante, ia demonstrando e explicando:
― Pés em primeira posição! Plié! Relevé…
As pequenas ninfas repetiam, graciosamente, as posições e os movimentos.
Todas menos Alana.
Alana queria aprender depressa a ser uma bailarina e, nessa ânsia, tentava antecipar os
passos, o que resultava numa grande trapalhada.
Confundia sempre as posições e colocava aos pés
de tal forma que pareciam as patas de um pato.
Quando devia virar para a direita, virava para a
esquerda e chocava com as outras bailarinas; quando
tinha de andar nas pontas dos pés, entortava as pernas e
magoava os dedos; quando fazia uma pirueta, caía
sempre no chão…
As outras jovens ninfas achavam‐lhe muita graça,
mas a rainha das ninfas andava muito preocupada: nunca
tinha ouvido falar de uma ninfa que não fosse uma excelente bailarina e esta era totalmente
desajeitada. Como se iria portar Alana no bailado da “Noite da Grande Festa”?
Na “Noite da Grande Festa”, Alana saiu da sua casa revestida de musgo e dirigiu‐se à
margem do lago.
Os animais da floresta estavam junto da água,
que reflectia os raios de luar.
No lago, os peixes espreitavam, levantando,
ao de leve, as folhas dos nenúfares.
Ouvia‐se o ruído da água que caía da cascata.
Os pirilampos iluminavam a noite.
Alana passou junto de uma tartaruga que lhe
disse:
― Não te esqueças: um passo de cada vez!
A rainha das ninfas sentou‐se junto do lago, rodeada por todas as ninfas. Nessa noite,
todas vestiam túnicas luminosas.
E cantaram, ecoando o seu canto por toda a floresta.
Algumas ninfas iniciaram a sua actuação, bailando, livres, sobre a água do lago.
Enquanto isso, outras atiravam minúsculas
pétalas de flores que desciam suavemente por
entre as bailarinas.
Chegara a hora de Alana dançar…
Saltou para cima da folha do grande
nenúfar e tentou imitar os movimentos das suas
companheiras. Relevé… pirouette… splash!
Alana caiu no lago.
A pequena ninfa ouviu os risos e,
envergonhada, permaneceu na água, olhando as graciosas bailarinas que envolviam a noite
num sonho mágico.
Alana ouviu um ruído estranho. Olhou para trás e viu algo que a deixou alarmada: um
bidão tinha caído da queda de água e começava a derramar óleo no lago.
Alana sabia que podia ser o fim dos animais e das plantas que ali viviam. Sabia, também,
que as ninfas abandonavam as águas poluídas.
Alana gritou, tentando chamar a atenção,
mas ninguém a ouviu.
Nadou rapidamente até ao local. O que
poderia fazer?
Era ainda tão pequena…
Instintivamente, Alana mergulhou e, nesse
momento, descobriu uma força dentro de si que a
fez empurrar o bidão para fora da água.
Mas o líquido negro e viscoso espalhava‐se velozmente, teimando em destruir aquele
lugar maravilhoso.
Alana sabia que só as ninfas mais velhas, que tinham o dom de ajudar a Natureza na sua
purificação, poderiam salvar o lago. Era preciso alertá‐las!
Alana nadou até junto do grande nenúfar onde continuava o maravilhoso espectáculo
de bailado. Como poderia chamar a atenção?
Então, a pequena Alana teve uma ideia.
Bailou dentro de água, ao som dos cânticos das ninfas, iluminada pelos holofotes dos
raios de luar.
Perna de ballet, espargata, flamingo… todos olhavam fascinados para aquele ballet
aquático que nunca ninguém tinha visto. E minúsculas pétalas de flores voavam, cobrindo o
lago com perfume e cor.
A rainha das ninfas sorriu.
Afinal… Alana era, como todas as ninfas, uma brilhante bailarina. Dentro de água ela
havia encontrado a sua essência, a sua alma.
Mas o sorriso da rainha desvaneceu‐se ao ver que Alana bailava em direcção a uma
mancha escura e tenebrosa.
De imediato, as ninfas pegaram em frascos de variadas cores e mergulharam no lago,
espalhando essências vitais que transformaram o óleo em água límpida.
O lago voltou a ser puro e cristalino.
Os animais, as plantas e as ninfas, continuaram a viver felizes e em harmonia.
E Alana ficou conhecida como “Bailarina da Água”.
Alice Cardoso; Sandra Serra
ALANA, A BAILARINA DA ÁGUA Maia, Edições Nova Gaia, 2007
Recommended