Escute, é lindo, eu garanto

Preview:

DESCRIPTION

 

Citation preview

Escute, é lindo, eu garanto

Por André GravatáXilogravuras de Serena Labate

(com inspirações/apropriaçõesde Millôr e Fernando Pessoa)

Foi na cantina de uma escolaQue encontrei uma amizadeCom quem amo conversarSeu nome é criatividadeÉ a mestra do criativar

Quando gritei seu nomeEla olhou pra mimE respondeu de perto, assim:"Venha aqui, por gentilezaHoje vim com uma surpresa"

"Que surpresa está me esperando?"Perguntei alto, ansiosoEla disse, como quem lança um encanto:"Seu ouvido é espaçosoEscute, é lindo, eu garanto"

A criatividade prosseguiu deste jeito:"Você já recuperou um espaço abandonadoOu criou uma ação contra o preconceito?"

Ela abriu tantas questões Será que a surpresa Eram as inquietações?

"Minha amiga criatividade, Anseio por aprenderComo abro espaço para você aqui crescer?

Essa seria minha maravilhaUm pretexto para eu amanhecer"

"Estamos em sintonia", Respondeu a criatividade"A surpresa que aqui se anunciaVai me trazer para pertoE te levar para a casa do seu sonharJá aviso que é uma surpresa para te provocar"

"A surpresa não é uma fórmulaÉ um fôlego para seu sentirPorque você não é do tamanho da sua alturaVocê é do tamanho do que você senteE sentir é o primeiro passo, o mais urgente"

"No itinerário dessas caminhançasO primeiro passo é sentir seu entornoO segundo é imaginar mudançasEntão vem o fazer e o compartilharQuatro verbos para quatro jeitos de andar"

"Sinta o que as crianças e jovensFalam com a emoção Juntos, imaginem horizontesQue desviem para uma nova direção Para uma mudança de estação"

"Então faça na prática O que imaginou no pensamento

Faça no presenteO que sonha ver no atual momentoAcordado para os sonhos, ouvido atento"

"Não vale esquecer de compartilharPois o que você viverÉ uma experiência que pode inspirarQuem quer se mexerMas ainda não saiu do lugar"

Então vim com uma questão essencial:

"Do jeito que você disseDá vontade de alterar O ritmo do meu caminharMas e se eu tiver medo de mudar?"

Ela respondeu meio exaltada:"Você tem medo de andar?Não se prenda nas paredes!Senão não há como ousarE seu fôlego vai se dissolver no ar"

"Tenho uma história para te contarSobre a importância de você me escutar

Senão sua vida inteira

Vai passarE você nem vai sentir o gosto de criativar"

"Era uma vez dois peixesQue conversavam no marOs dois nadavam juntosDiziam blá bla bla blá bláE apareceu um outro peixe para prosear"

"O outro peixe perguntou aos dois amigos'Hoje a água está mais fria que o normal?'

E os dois peixes se olharamA pergunta foi fatalA dupla não sabia responder a pergunta banal"

"'Me digam, a água está mais fria, não?'Os dois peixes se entreolharam de novoResponderam com uma exclamação:'Não sabemos o que é água não!'E o outro peixe se surpreendeu Com aquela falta de percepção"

"Bem como os dois peixesQue moram na água e não sabem onde estão

Assim acontece com a genteCom a nossa açãoCegos que somos Dos nossos passos no chão"

"A visão precisa estar abertaSenão enferruja nossa asaPois na rotina a gente despertaSe levanta e sai de casaDesperta, se levanta e sai de casa"

"Até o dia em que a gente desperta E sai de casa Sem se levantar Deixando totalmente de lado Nossa fome de criativar"

"Por falar em fomeEstamos aqui na cantinaE um dia aqui encontrei Uma poeta meninaQue me deixou com uma rima"

"Ela me perguntouSe mais vale ter a faca ou o queijo na mãoE eu respondi que ambos Servem muito na hora da precisãoDaí ela falou que não queria nenhum dos doisSó veio com a explicação sobre isso depois"

"'Não quero nem a faca nem o queijoQuero a fome'Dizia a poeta meninaQue sabia apontar O mais importanteAli no meio da cantina"

"Então o fôlego que eu te trouxeDe quatro verbos vivosSó será realmente bem vindoSe a sua fome for tão entusiasmadaQuanto o seu sonho mais lindo"

"As janelas estão abertasE vim aqui para reforçarQue o verbo criativarNão é conjugado paradoMas sim no caloroso andar."