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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
EVANDRO SANTANA PEREIRA
ESTUDO DE CASO EM HISTÓRIA DA AVIAÇÃO MILITAR:
O CAÇA CHINÊS J-11B
VITÓRIA 2011
A Deus, Causa Primeira e Fim Último de todas as coisas. A todos que contribuíram de uma forma ou de outra para a realização deste trabalho.
RESUMO
O Su-27 é um caça supersônico projetado na URSS nos anos 1970 e 1980, e que
entrou em serviço em 1985. Foi a resposta soviética ao caça americano F-15, e sua
principal tarefa é a obtenção da superioridade aérea sobre o campo de batalha.
Após um longo e difícil desenvolvimento, o Su-27 se destacou como uma das
melhores aeronaves em sua função e conquistou admiradores mundo afora. O Su-
27 deu origem a uma família de aviões com especialidades diversas, tais como
caças multimissão e bombardeiros táticos. Foi também um grande sucesso
comercial, sendo adquirido por vários países, dentre eles a China. Na década de
1990, a China comprou algumas dúzias de Su-27 nas versões com um e dois
acentos, e na década seguinte comprou versões multimissão do caça, o Su-30MKK
e Su-30MK2. Em 1996, os chineses negociaram a produção licenciada do Su-27SK
pela Shenyang Aircraft Corporation, sob a designação local J-11 e a partir de kits de
montagem fornecidos pelos russos. A Shenyang produziu entre 1998 e 2004 em
torno de 100 J-11 com os kits, mas depois quebrou o contrato de produção
licenciada e começou a fabricar sua própria versão do caça, o J-11B. Trata-se de
uma aeronave com 100% de componentes chineses e que desagradou
profundamente à Rússia, que passou a acusar a China de plagiar o Su-27 com este
avião. O J-11B foi projetado desde o início dos anos 2000 e entrou em serviço em
2008, alcançando a completa nacionalização de seus componentes em 2010. Este
trabalho utilizou extensamente bibliografia e fontes digitais para fazer cronologias: do
Su-27 russo, com suas principais características e desenvolvimento; das compras
chinesas do Su-27 e de suas versões derivadas, bem como a introdução destes na
Força Aérea Chinesa; e de sua versão sínica, o J-11B, com os aspectos mais
importantes de seu projeto e de alguns pontos controvertidos de sua história.
Conclui reafirmando a importância do estudo do J-11B para o Brasil.
Palavras-chave: Avião de caça. Su-27. J-11B. China. História da aviação militar.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Su-27, caça russo de 4ª geração por excelência .............................. 24
Figura 2 – F-15 Eagle ........................................................................................ 27
Figura 3 – MiG-29, caça russo leve de 4ª geração ............................................ 28
Figura 4 – Su-27, caça russo pesado de 4ª geração ......................................... 28
Figura 5 – T-10-1, em voo.................................................................................. 29
Figura 6 – T-10-1, estático ................................................................................. 29
Figura 7 – T-10-1, três dimensões ..................................................................... 35
Figura 8 – T-10-17, três dimensões ................................................................... 36
Figura 9 – Treinador de combate Su-27UB ....................................................... 42
Figura 10 – P-42, pulverizador de recordes ....................................................... 44
Figura 11 – Su-27SKs sínicos em voo ............................................................... 48
Figura 12 – “Homem dos Tanques” ................................................................... 56
Figura 13 – Treinador de combate Su-27UBK ................................................... 59
Figura 14 – Míssil R-27R1.................................................................................. 61
Figura 15 – Míssil R-73E.................................................................................... 61
Figura 16 – F-16 taiwanês ................................................................................. 62
Figura 17 – Su-27SK com pesada carga ar-terra............................................... 64
Figura 18 – Su-27SK “08 Azul”/30008 ............................................................... 65
Figura 19 – Fuselagem do Su-27SK “08 Azul” sendo rebocada ........................ 65
Figura 20 – Su-30MKK e suas armas ar-terra.................................................... 67
Figura 21 – J-11, Su-27SK produzido sob licença na China.............................. 70
Figura 22 – Tomada inferior de um J-11B.......................................................... 72
Figura 23 – Maquete de uma versão de J-11 não identificada .......................... 75
Figura 24 – Protótipo de J-11B número 525 decolando..................................... 77
Figura 25 – Vista lateral do Su-27SKM.............................................................. 78
Figura 26 – Painel do Su-27SKM....................................................................... 78
Figura 27 – Protótipo estático do J-11B ............................................................. 79
Figura 28 – Uma das primeiras imagens do J-11B ............................................ 80
Figura 29 – Outra das primeiras imagens do J-11B........................................... 80
Figura 30 – Popa de um protótipo de J-11B com motores AL-31F .................... 80
Figura 31 – Cartaz promocional de uma versão de J-11 no Zhuhai Air Show ... 81
Figura 32 – Vários J-11B operacionais lado a lado............................................ 86
Figura 33 – Vários pilotos de J-11B ................................................................... 86
Figura 34 – J-11B com motores WS-10 Taihang ............................................... 87
Figura 35 – Vários J-11B e J-11BS prontos na fábrica da Shenyang ................ 89
Figura 36 – Primeiro J-11B em exposição pública ............................................. 90
Figura 37 – Dois Su-27UBK sínicos em exercício com F-4 turco....................... 96
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Desempenho do Su-27 .................................................................... 47
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 9
1.1 ASSUNTO ................................................................................................. 9
1.2 TEMA......................................................................................................... 10
1.3 JUSTIFICATIVA......................................................................................... 10
1.4 OBJETIVO................................................................................................. 13
1.5 DISCUSSÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................. 14
1.6 TEORIA E METODOLOGIA ...................................................................... 18
2 CAPÍTULO I – CRONOLOGIA DO SU-27 ................................................ 24
2.1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 24
2.2 OS REQUERIMENTOS DE UM NOVO CAÇA.......................................... 26
2.3 DESCRIÇÃO DO T-10............................................................................... 29
2.4 PROGRAMA DE TESTES E PRODUÇÃO INICIAL DO T-10.................... 32
2.5 UMA DIFÍCIL DECISÃO: REDESENHO COMPLETO, O T-10S ............... 33
2.6 PROGRAMA DE TESTES E PRODUÇÃO INICIAL DO T-10S ................. 40
2.7 SU-27UB, TREINADOR DE COMBATE BIPLACE.................................... 41
2.8 SU-27: UMA GUINADA TECNOLÓGICA PARA A URSS ......................... 42
2.9 P-42, O PULVERIZADOR DE RECORDES .............................................. 43
2.10 SUCESSO DE EXPORTAÇÃO ................................................................. 45
2.11 FICHA TÉCNICA DO SU-27...................................................................... 46
3 CAPÍTULO II – O SU-27 NA CHINA ......................................................... 48
3.1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 48
3.2 CONTEXTO HISTÓRICO.......................................................................... 51
3.2.1 A cooperação entre China e URSS na indústria aeronáutica .............. 51
3.2.2 O “Racha” Sino-Soviético ....................................................................... 52
3.2.3 A “Lua de Mel” entra a China e o Ocidente ........................................... 53
3.2.4 O Massacre de Tiananmen e o embargo contra a China .................... 55
3.2.5 Pequim se volta novamente para Moscou em busc a de armas .......... 56
3.3 A CHINA COMPRA O SU-27..................................................................... 58
3.4 OS SU-27SK/UBK E SUA INTEGRAÇÃO NA PLA-AF ............................. 60
3.5 A CHINA COMPRA OS CAÇAS MULTIMISSÃO SU-30MKK/MK2 ........... 66
3.6 SU-27 PRODUZIDO SOB LICENÇA, O J-11 ............................................ 69
3.7 SINIZAÇÃO PROGRESSIVA: J-11A ......................................................... 71
4 CAPÍTULO III – SU-27 “MADE IN CHINA”, O J-11B ............................... 72
4.1 O INTERESSE CHINÊS EM UMA VERSÃO LOCAL DO SU-27............... 74
4.2 OS CHINESES QUEBRAM O CONTRATO DE PRODUÇÃO DO J-11 .... 75
4.3 DESENVOLVIMENTO DO J-11B .............................................................. 78
4.4 A POLÊMICA COM A RÚSSIA – “O J-11B É UMA CÓPIA DO SU-27SK” 81
4.5 CHINA E RÚSSIA ACORDAM SOBRE PROPRIEDADE INTELECTUAL. 84
4.6 O J-11B ENTRA EM SERVIÇO NA PLA-AF ............................................. 85
4.7 A CONTROVÉRSIA SOBRE OS “PROBLEMAS DE VIBRAÇÃO”............ 88
4.8 O J-11B – UM SALTO PARA A CHINA..................................................... 91
4.9 O J-11B E OS ADVERSÁRIOS ................................................................. 93
4.10 MODERNIZAÇÃO DO TREINAMENTO DA PLA-AF................................. 94
4.10.1 Novo programa de treinamento para pilotos ...................................... 94
4.10.2 Treinamento dissimilar ......................................................................... 95
5 CONCLUSÃO ............................................................................................ 97
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 102
9
1 INTRODUÇÃO
1.1 ASSUNTO
O assunto desta monografia é um estudo de caso em história da aviação. Por
“história da aviação” entendemos o relato do desenvolvimento do voo mecânico,
desde os primeiros balões de ar quente, até o voo propulsado mais pesado que o ar,
chegando por fim ao voo supersônico e espacial contemporâneo.
Fontes iconográficas demonstram que desde épocas pré-históricas o vôo
fascina o homem. Mas foi somente nos séculos XVII e XVIII, com a descoberta de
gases tais como o hidrogênio, que foi possível a invenção do balão de hidrogênio.
Algumas teorias de mecânica, formuladas concomitantemente, levaram à fundação
da aerodinâmica moderna. Balões de ar quente foram usados desde o final de
século XVIII, e tiveram muita utilidade durante as guerras europeias do século XIX,
onde atuavam principalmente como postos de observação elevados.
Os experimentos com planadores no século XIX proporcionaram a base para
as posteriores máquinas mais-pesadas-que-o-ar. No início do século XX, os avanços
na tecnologia de motores e na aerodinâmica tornaram o voo propulsado e controlado
possível, pela primeira vez na história da humanidade. Até hoje a paternidade da
invenção do avião é disputada.
No decorrer do século XX, o avião foi aumentando em complexidade e
importância, tanto no uso civil quanto principalmente no militar. De uma considerável
participação na Primeira Guerra Mundial, ele se torna imprescindível na Segunda
Guerra Mundial, e por fim chega mesmo a alcançar o protagonismo nos conflitos do
final daquele século. Não é possível falar da história do século XX, principalmente de
suas guerras, sem levar em conta a relevância do avião. Hoje ele integra continentes
com rapidez e segurança, sendo o meio de transporte mais rápido para cruzar os
10
milhares de quilômetros que separam a economia global, integrando as pessoas
com uma rapidez e economia inéditas em toda a história.
1.2 TEMA
O tema deste estudo de caso é na área de história da aviação militar.
Pretendemos construir uma primeira cronologia da caça chinês J-11B, versão local
do caça soviético/russo Su-27 Grulla (Garça, em russo) / Flanker (Flanqueador, na
nomenclatura da OTAN)1, ainda em serviço ativo. Trata-se de um caça supersônico
cuja principal missão é obter superioridade aérea sobre o campo de batalha. Suas
origens remontam ao final da década de 1960, na antiga URSS. Ele entrou em
serviço nas Forças Armadas daquele país na década de 1980. Em 1989, durante o
Show Aéreo de Le Bourget, na França, ele deixou atônitos os espectadores com
suas incríveis acrobacias, conquistando uma legião de fãs internacional. Mais tarde,
na década de 1990 e após a dissolução do Estado comunista, ele foi vendido em
grande quantidade para vários países, incluindo a República Popular da China. Na
primeira década do século XXI, os chineses desenvolveram uma versão local não-
autorizada dele, o J-11B, fato que provocou mal-estar entre os dois países.
1.3 JUSTIFICATIVA
Desde a sua invenção, o avião tem revolucionado profundamente a história
da humanidade. De inúmeras aplicações civis, a aeronave alcança uma importância
tão grande quanto ou senão maior no uso militar. Sua carreira como máquina de
combate começa num ainda modesto papel na Primeira Guerra Mundial, ganha
1 A Organização do Tratado do Atlântico Norte - OTAN (NATO, sigla em inglês) utiliza codinomes públicos para referir-se aos equipamentos militares do Bloco Leste (ex-URSS/Rússia, países do Leste Europeu e China). Eles proporcionam entendimento fácil e unívoco com palavras inglesas, em lugar das denominações originais.
11
tremenda relevância na Segunda Guerra Mundial e no final do século XX é capaz de
vencer sozinho um conflito.
Falar da história do século passado, ou de geopolítica e geoestratégia no
tempo presente sem levar em conta o poder aéreo é algo intratável. Para os Estados
hoje em dia, essa invenção do início do século passado assume dimensões centrais
quando se trata de proteger a soberania nacional, projeção de poder, capacidade de
dissuasão e afirmação dos interesses pátrios. É um meio indispensável ao bem-
estar de um país, seja através de seus usos civis ou bélicos.
Dada toda a sua importância, é de impressionar o reduzido número de
trabalhos e pesquisas publicados sobre história da aviação no Brasil, levando em
conta ainda os feitos de Santos Dumont. Menor ainda a quantidade de especialistas
nacionais na área. Colocado tal cenário, faz-se urgentemente necessário expandir
esse nicho na academia brasileira.
O caso específico de nosso estudo, o Su-27 e sua versão chinesa, o J-11B, é
de especial interesse para o Brasil. Primeiro, porque uma versão russa altamente
modificada do Su-27, o Su-35, concorreu no primeiro FX, e outra versão ainda mais
sofisticada, o Su-35S, concorreu no FX-2 até ser descartada possivelmente por
razões políticas em 2009. Segundo, porque o projeto chinês J-11B pode ser
comparado com os programas de reaparelhagem de caças FX e FX-2 da FAB.2
Além disso, muitas das tecnologias empregadas no J-11B são justamente as que o
Brasil deseja obter com o Programa F-X2.3
O processo de compra de caças brasileiro se arrasta desde 1998, quando
foram abertas as negociações do Projeto FX, de reequipamento da Aeronáutica,
ainda no governo Fernando Henrique Cardoso. Ele teve início oficialmente em 2001,
e pretendia adquirir de 12 a no máximo 24 caças por menos de RS$ 800 milhões,
num processo de licitação internacional. Mas a decisão final, devido a pressões
2 George Abud, no endereço Military Power Review, fornece uma excelente cronologia que resume os principais fatos ocorridos nos programas FX e FX-2 desde 2001. ABUD, George. Projeto FX BR - Força Aérea Brasileira. In: Military Power Review. Online, 2011. Disponível em: <http://www.militarypower.com.br/projeto%20fx.htm>. Acesso em: 26 out. 2011. 3 GALANTE, Alexandre. China produz cópia do Su-27 e fornecerá peças de reposição a clientes da Rússia. In: Poder Aéreo. Online, 27 nov. 2009. Disponível em: <http://www.aereo.jor.br/2009/11/27/china-produz-copia-do-su-27-e-fornecera-pecas-de-reposicao-a-clientes-da-russia/>. Acesso em: 22 out. 2011.
12
políticas, foi passada para o governo Lula. Esta administração, por sua vez,
continuou procrastinando a escolha, pois a reaparelhagem da FAB definitivamente
não era sua prioridade. Isso obrigou a Força a implementar uma solução temporária,
comprando 12 caças usados Mirage 2000 da França em 2005.
O assunto só foi ganhar impulso novamente já no segundo mandato do
presidente Lula. A concorrência por licitação original FX foi considerada pouco
ambiciosa, e dessa forma cancelada, dando origem ao programa FX-2 em 2007.
Agora, os caças não seriam adquiridos por meio de licitação, mas sim por compra
direta do fabricante. Este novo programa era mais abrangente, pois visava um
número de maior de aeronaves (inicialmente de 24 a 36 unidades, podendo chegar a
até 120 no longo prazo) e a transferência de tecnologia total e irrestrita do candidato
escolhido. Após mais estudos técnicos da FAB, ofertas revisadas dos concorrentes e
adiamentos políticos, em 2010 pensou-se haver finalmente um escolhido, quando
nas comemorações do 7 de Setembro o presidente teria declarado informalmente
um dos caças como o vencedor. Tal notícia foi desmentida pela FAB, que tinha outro
avião como favorito. O processo continuou se arrastando, e Lula acabou passando a
decisão para o sucessor, assim como fizera Fernando Henrique. O novo governo
Dilma anunciou, devido a cortes orçamentais, o adiamento da escolha para 2012.
Comparando a trajetória do Su-27 e J-11B na China com os programas FX e
FX-2, pode-se medir o sucesso de cada um, constatando as semelhanças e,
principalmente, as diferenças entre os mesmos. Acreditamos que esta comparação
é pertinente devido às similaridades entre os dois: a) ambos se situam num recorte
temporal quase idêntico (final da década de 1990 e anos 2000); b) ambos ocorreram
em países pertencentes ao BRIC (China e Brasil, respectivamente)4; c) dizem
respeito a modernos caças supersônicos; d) estão inseridos nas e são reflexos das
políticas nacionais de defesa de cada um desses países. Não é nosso interesse aqui
fazer diretamente essa comparação por questão de escopo, mas ela pode ser feita a
partir deste trabalho. Queremos, com isso, contribuir com o debate nacional que se 4 Nos últimos anos, tem se popularizado na mídia a sigla BRIC, que se refere às economias relacionadas de Brasil, Rússia, Índia e China. O acrônimo foi cunhado pelo economista inglês Jim O’Neill, do grupo Goldman Sachs, em 2001. Na ocasião, o GS previu que, dado o progresso material desses países, por volta de 2050 o tamanho da economia combinada dos quatro ultrapassaria o dos então países mais ricos do mundo. Hoje, os BRICs buscam uma efetiva articulação política entre seus membros em assuntos de interesse comum. THE BRICs – The trillion-dollar club. In: The Economist . Online, 15 abr. 2010. Disponível em: <http://www.economist.com/node/15912964?story_id=15912964>. Acesso em: 26 out. 2011.
13
faz em torno da defesa, especificamente no que este concerne à FAB e ao governo
federal, fornecendo argumentos para essa discussão.
1.4 OBJETIVO
O nosso objetivo neste trabalho é produzir uma primeira cronologia sobre o J-
11B, o que o torna um estudo pioneiro. Existem várias obras sobre o caça Su-27
russo e, dada sua popularidade, ele e suas versões derivadas são matéria constante
nas revistas de aviação. Mas no que concerne à sua recente versão local chinesa, o
J-11B, há apenas informações básicas, fragmentadas, e de modo geral
profundamente enviesadas. São freqüentes as acusações de “plágio” chinês por
parte da imprensa russa, e em menor grau da imprensa internacional, sobre o caça
em questão. Nas palavras de agências noticiosas russas e de algumas outras
internacionais, a China teria feito uma “cópia-carbono” do caça russo da década de
1980, praticamente idêntico ao original, sem pagar os direitos autorais (royalties) à
Sukhoi (projetista e construtora russa do Su-27), detentora dos mesmos.
O desenvolvimento do J-11B, por parte da Shenyang Aircraft Corporation5,
começa no início da primeira década do século XXI, sendo uma versão atualizada
do caça russo original. O J-11B já foi breve assunto da imprensa comum e
especializada, e motivo de desentendimentos entre Rússia e China, em torno das já
citadas acusações de “plágio”. Analistas e comentadores internacionais
expressaram suas opiniões sobre o caça e suas implicações diversas, sejam elas
tecnológicas, militares ou geopolíticas. Cremos ser proveitoso e de grande valia, a
fins de conhecimento, emitir agora um parecer histórico sobre a aeronave. Temos
ciência de que nossa disciplina tem muito a contribuir no que tange ao caça e suas
dimensões diversas. Pretendemos unir informações, conhecimentos e métodos, sob
5 A Shenyang Aircraft Corporation (SAC) é um fabricante chinês de aeronaves civis e militares, localizado em Shenyang, China. Fundado em 1953, é um dos mais antigos e importantes fabricantes de aeronaves da República Popular da China. Outros fabricantes de aeronaves chineses, como o Chengdu Aircraft Industry Group ou o Guizhou Aircraft Industry Co., foram fundados com o auxílio da SAC. Esta concentra-se principalmente em projetar e construir aviões de caça. AVIC Shenyang Aircraft Corporation. Online, 2011. Disponível em: <http://www.sac.com.cn/eng/index.htm>. Acesso em: 26 out. 2011.
14
o crivo de um método histórico, para formular uma primeira cronologia do J-11B.
Mas antes disso, estabeleceremos uma breve trajetória do Su-27, bem como uma
descrição sumária deste caça de origem soviética/russa para melhor entender sua
versão chinesa.
1.5 DISCUSSÃO BIBLIOGRÁFICA
Em história da aviação, é muito comum encontrar na bibliografia do gênero
descrições factuais bem densas sobre os assuntos pesquisados, tais como uma
determinada aeronave, uma unidade de combate, pilotos famosos, operações de
campanha, etc. Outro ponto comum é a contemporaneidade de seus objetos. Se
excluirmos os balões de ar quente, teremos como início cronológico da história da
aviação as primeiras tentativas do voo mais pesado que o ar, no final do século XIX,
chegando à invenção do avião propriamente dito, no início do século XX, e daí em
diante. Ou seja, um período que abrange menos de cento e cinquenta anos, muito
recente quando comparado a outras áreas da história. Daí não ser raro um
pesquisador desse ramo estudar um objeto que, por vezes, lhe seja contemporâneo,
ou relativamente pouco afastado no tempo, em questão de décadas.
Dentre os autores estrangeiros da área, há alguns cujas especialidades em
determinados assuntos faz de seus livros referências obrigatórias. Podemos citar os
seguintes: William Green, Renee Francillon, Tony Buttler, Roy Braybrook, Doug
Slowiak, Jake Melampy, Lou Drendel, Gordon Swanborough, Bill Gunston, Bill
Sweetman e Henry Holden. Eles têm formações muito variadas: alguns, como Jake
Melampy, são fotógrafos profissionais; outros, como Roy Braybrook, são escritores
de aviação. Há os artistas que recriam imagens de aeronaves históricas, tais como
Lou Drendel, e os jornalistas, como Gordon Swanborough. Nessa área são poucos
os historiadores propriamente ditos, tais como Henry Holden. A maioria deles foca
seus trabalhos em áreas específicas: Renee Francillon, por exemplo, é uma
autoridade nas aeronaves do Front do Pacífico na 2ª Guerra Mundial, enquanto Jake
Melampy é leitura obrigatória sobre os caças F-16. Só alguns possuem obras mais
15
abrangentes, como Gordon Swanborough e Bill Gunston. É deste último nossa
indicação de bibliografia sobre história da aviação militar em geral, com o livro
History of Military Aviation.6 Ele fornece um excelente resumo de mais de um século
de aviação militar, dos mais famosos aviões de guerra, das maiores forças aéreas e
das principais estratégias militares a partir do ar.
No Brasil, os escassos trabalhos em História da Aviação giram em torno de
Santos Dumont e da EMBRAER. Na área específica de História da Aviação Militar,
há pouquíssimas pesquisas nacionais a respeito. Elas estão basicamente
concentradas na atuação dos caças da FAB no teatro de operações italiano, durante
a Segunda Guerra Mundial.7 Os destaques são M. L. de Barros, P-47 Thunderbolt no
Brasil8; L. B. Monteiro, FAB na Segunda Guerra Mundial9; e Avestruzes no Céu da
Itália10, feito pelo Ministério da Aeronáutica. Não poderíamos deixar de citar, ainda,
os relatos escritos por pilotos de caça, os veteranos da participação da FAB na 2ª
Guerra Mundial. São eles: Missão de Guerra11, de Luís Felipe Perdigão Fonseca; A
Missão 6012, de Fernando Pereyron Mocellin; e Senta a Pua13, de Rui Moreira Lima.
As obras contam as memórias dos combates travados por eles no teatro de
operações da Itália.
Neste interesse, foi muito bem vinda a realização do I Simpósio de História da
Aviação Militar, promovido pelo Centro de Instrução de Aviação do Exército na
cidade de Taubaté-SP, sede da Aviação do Exército Brasileiro, em Setembro de
2009. Foram apresentados os seguintes trabalhos: Cap. Ricardo Kirk: pioneiro da
Aviação Militar Brasileira, pelo Tem. Cel. Da FAB Cláudio Calaza, da Academia da
Força Aérea; e Evolução da Aeronáutica Militar 1916-1927, pelo SO da FAB
Gustavo de Mello, do Museu Aeroespacial.
6 GUNSTON, Bill. History of Military Aviation. Londres: Hamlyn, 2003. 7 Sobre o assunto, conferir o sítio de Rudnei Dias da Cunha, “História da Força Aérea Brasileira”. Disponível em: <http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html>. Acesso em: 12 out. 2011. 8 BARROS, M. L. P-47 Thunderbolt no Brasil – in Brazil 1945-1957. Rio de Janeiro: Adler, 2005. 9 MONTEIRO, L. B. FAB na Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Adler, [20--]. 10 BRASIL. MINISTÉRIO DA AERONÁUTICA. Avestruzes no Céu da Itália. [S.l.]: Centro de Relações Públicas, 1977. 11 FONSECA, Luís Felipe Perdigão. Missão de Guerra. [S.l.]: Civilização Brasileira, 1983. 12 MOCELLIN, Fernando Pereyron. A Missão 60. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1971. 13 LIMA, R. Moreira. Senta a pua. Rio de Janeiro: Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica, 1989.
16
Como nossa monografia versa sobre um caça russo, o Su-27, e sua versão
chinesa, o J-11B, a principal bibliografia utilizada são dois autores russos, sendo
Yefim Gordon o mais importante. Segundo o Amazon,
“Yefim Gordon is arguably the world's leading Russian aviation researcher. Born in 1950 in Vilnius, Lithuania, he graduated from the Kaunas Polytechnical Institute in 1972 as an engineer/electronics designer. He has been a resident of Moscow since 1973, when, as a hobby, he started collecting photographs and books on the history of Soviet aviation, which has developed into a major archive. Since the 1980s he has been a professional aviation journalist and writer, with over fifty books published on Soviet/Russian aviation in Russian, English, Polish, and Czech, as well as close to one hundred magazine features and photo reports. He is also an accomplished photographer, with countless photos published in the Western press; the current edition of Jane's All the World's Aircraft features more than fifty of his photographs.” 14
O outro autor russo é Andrei Fomin. Jornalista especializado em aviação
soviética e russa, Fomin tem dezenas de artigos publicados em conceituadas
revistas do gênero, e é autor de livros de referência sobre aviação russa. Trabalhou
durante muito tempo na revista russa Air Fleet, até deixá-la para fundar a sua
própria, a revista Vzlet (Take-off, em inglês). Faremos uso de algumas edições da
Take-off nesta monografia.
Além destes dois especialistas em aviação russa, recorremos também ao
auxílio de dois analistas de defesa famosos. O primeiro deles é Richard D. Junior
Fisher, analista militar de renome internacional especializado em assuntos militares
asiáticos e nas Forças Armadas Chinesas. Boa parte de suas publicações se
encontra disponível online no International Strategy and Assesment Center, um
think-tank15 americano focado em assuntos de segurança de médio a longo prazo e
no impacto destes na segurança dos EUA e de seus principais interesses e aliados.
14 “Yefim Gordon é indiscutivelmente o principal pesquisador em aviação russa. Nascido em 1950 em Vilnius, Lituânia, ele se graduou no Instituto Politécnico Kaunas em 1972, como um designer em engenharia/eletrônicos. Ele mora em Moscou desde 1973, quando, por hobby, começou a juntar fotografias e livros sobre a história da aviação soviética, o que acabou se tornando um grande arquivo. Desde os anos 1980 ele tem sido um jornalista e escritor profissional em aviação, com mais de cinqüenta livros publicados sobre a aviação soviética/russa em russo, inglês, polonês e tcheco, bem como quase cem reportagens fotográficas e artigos de revistas publicados. Ele é também um fotógrafo dedicado, com inumeráveis fotos publicadas na imprensa ocidental; a presente edição de Jane's All the World's Aircraft contém mais de cem de suas fotografias”
FAMOUS Russian Aircraft: MiG-15. In: amazon.com. Online, 2011. Disponível em: <http://www.amazon.com/Famous-Russian-Aircraft-MiG-15/dp/1857803337>. Acesso em: 30 out. 2011. 15 Um think tank (expressão inglesa que significa "depósito de idéias") é uma instituição, organização ou grupo de investigação que produz conhecimento e oferece idéias sobre assuntos relacionados à política, comércio, indústria, estratégia, ciência, tecnologia ou mesmo assuntos militares.
17
Essa organização produz trabalhos tanto públicos quanto classificados. Segundo o
International Strategy and Assesment Center,
“Rick Fisher is a Senior Fellow on Asian Military Affairs. Fisher is a recognized authority on the PRC military and the Asian military balance and their implications for Asia and the United States. Fisher has worked on Asian security matters for over 20 years in a range of critical positions -- as Asian Studies Director at the Heritage Foundation, Senior Analyst for Chairman Chris Cox’s Policy Committee in support of the report of the Select Committee for US National Security and Military/Commercial Concerns with the People’s Republic of China, and a consultant on PLA issues for the Congressionally chartered US China Security & Economic Review Commission. The author of nearly 200 studies on challenges to American security, economic and foreign policy in Asia, Fisher is a frequent commentator on Asian issues for radio and television and has testified before the Senate Foreign Relations Committee, the House International Relations Committee, the House Armed Services Committee, and the U.S. China Security Commission, on the modernization of China’s military. Fisher has been Editor of the Jamestown Foundation’s China Brief, and a regular contributor to publications such as the Wall Street Journal, Far Eastern Economic Review, Jane’s Intelligence Review, National Interest, Air Forces Monthly, and World Airpower Journal. He has served as an election observer in Cambodia, the Philippines, South Korea and Taiwan, and performed field research in China, Taiwan, Russia, India and Pakistan. Fisher studied at Georgetown University and at Eisenhower College where he received his BA with honors. He is currently President of Pacific Strategies, Inc”.16
O outro analista de defesa que utilizamos é Carlo Kopp. Trata-se de um
famoso analista de defesa autônomo australiano, além de acadêmico com mais de
300 artigos publicados em periódicos de circulação internacional, tais como Defence
16 “Rick Fisher é um grande analista de assuntos militares asiáticos. Fisher é uma autoridade reconhecida sobre os militares da República Popular da China e sobre a balança militar asiática e suas implicações para os EUA. Fisher tem trabalhado em assuntos de segurança asiáticos por mais de vinte anos em várias posições importantes – como diretor dos estudos asiáticos da Heritage Foundation, como analista sênior para o presidente da Comissão Política de Chris Cox, em apoio ao relatório da Comissão Especial de Segurança Nacional dos EUA e Preocupações Militares/Políticas com a República Popular da China, e como consultor em assuntos das Forças Armadas Chinesas para a Comissão de Revisão Econômica e de Segurança EUA–China, contratada pelo Congresso dos EUA. Como autor de quase 200 estudos sobre os desafios à segurança, economia e política externa americanas na Ásia, Fisher é um comentarista frequente em assuntos asiáticos no radio e na TV, e tem testemunhado perante o Comitê das Relações Exteriores do Senado, o Comitê da Casa de Relações Internacionais, o Comitê da Casa dos Serviços Armados, e a Comissão de Segurança EUA–China, sobre a modernização das Forças Armadas Chinesas. Fisher foi o editor do Jamestown Foundation’s China Brief, e um contribuinte frequente para publicações tais como o Wall Street Journal, Far Eastern Economic Review, Jane’s Intelligence Review, National Interest, Air Forces Monthly, e World Airpower Journal. Ele já serviu como observador de eleições no Camboja, nas Filipinas, na Coreia do Sul e em Taiwan, e fez pesquisa de campo em China, Taiwan, Rússia, Índia e Paquistão. Fisher estudou na Universidade Georgetown e no Eisenhower College, onde ele recebeu seu bacharéu com honras. Ele é atualmente presidente da Pacific Strategies, Inc”.
RICHARD Fisher, Jr. In: International Assessment and Strategy Center . Online, 2011. Disponível em: <http://www.strategycenter.net/scholars/scholarID.4/scholar_detail.asp>. Acesso em: 30 out. 2011.
18
Today, Air International, Journal of Electronic Defense, Jane’s Missiles and Rockets,
Australian Aviation e a Asia Pacific Defence Reporter, nos assuntos de tecnologia
aeroespacial, furtividade, guerra de informação e políticas de defesa australianas.
Ele é um reconhecido apologista do F-22, e tem publicado muitos artigos e papers
criticando a seleção do F-35 para Real Força Aérea Australiana, além de ser co-
fundador do think tank de estratégia e poder aéreo Air Power Australia.
1.6 TEORIA E METODOLOGIA
Consideramos importante ressaltar a principal inspiração desta monografia.
Fazemos coro a Marc Bloch em sua Apologia da história ou ofício do historiador.17 É-
nos de especial importância, em sua obra, a introdução e o capítulo I, onde se faz
uma breve discussão sobre a história-problema. Partindo do presente, a) constata-
se uma discussão (ou problemática) em torno de um objeto; depois b) regredi-se ao
passado para entender melhor esse mesmo objeto; e então c) alicerçados no
conhecimento adquirido do passado deste objeto, podemos efetivamente contribuir
para sua discussão no presente. Em outras palavras, pensamos o passado em vista
de um problema no presente, a fim de melhor discorrer sobre ele. Temos assim para
a história uma função eminentemente reflexiva, um ato de pensar e raciocinar que
pode dizer muito a respeito da vida concreta cotidiana e até mesmo auxiliá-la. É de
interesse que, após a leitura deste trabalho, isso fique claro.
Esta monografia recorrerá muito frequentemente a fontes e bibliografia
digitais. O uso destas possui particularidades interessantes, abordadas por Roger
Chartier em História ou a leitura do tempo.18 Para ele, a revolução digital e a era da
informação podem causar profundas mudanças no saber histórico, pois com elas
surgem novas modalidades de construção, publicação e recepção dos discursos
históricos.
17 BLOCH, Marc. Apologia da história ou o ofício de historiador . Rio de Janeiro: J. Zahar, 2002. 18 CHARTIER, Roger. A história ou a leitura do tempo . Belo Horizonte: Autêntica, 2007, pp. 59-64.
19
Segundo o autor, a textualidade eletrônica transforma tanto a maneira do
historiador organizar suas argumentações, quanto os critérios que o leitor pode usar
para aceitá-las ou rejeitá-las. O historiador pode desenvolver sua demonstração
para além de um texto numa página, e é capaz de uma articulação ampla,
fragmentada, relacional do raciocínio, graças à multiplicação das ligações
hipertextuais. Já o leitor pode validar ou rejeitar um argumento mediante a consulta
das fontes que são o próprio objeto de estudo, quando acessíveis digitalmente. O
leitor não é mais obrigado a acreditar no autor; se quiser, pode refazer total ou
parcialmente o percurso da pesquisa.
A textualidade eletrônica transforma os dispositivos clássicos da prova
histórica. O pacto de confiança entre o historiador e o leitor não é mais
imprescindível, pois este agora pode ler os livros que o historiador leu e consultar
diretamente os documentos analisados. Há uma mutação epistemológica
fundamental que transforma profundamente as técnicas da prova e as modalidades
de construção e validação dos discursos do saber. Assim se estabelece uma relação
nova, mais comprometida com os vestígios do passado e, possivelmente, mais
crítica com respeito à interpretação do historiador.
Sobre este assunto, a UFES19 tem mais a acrescentar (p. 14):
“É notório o crescimento da consulta a documentos publicados em formato eletrônico tanto pela sua importância quanto pela facilidade de acesso. Também é evidente a singularidade das características que tais documentos comportam. Ao mesmo tempo em que possibilitam ‘[...] a atualização das informações com rapidez, acesso sem fronteiras geográficas e de forma interativa [por outro lado, apresentam] problemas para segurança dos dados e não asseguram a permanência da informação no endereço eletrônico e nem a constância do seu conteúdo’ [...]
[...] Outros aspectos importantes na literatura sobre documentos eletrônicos são:
-possibilidade da inexistência de características físicas, presentes nos documentos convencionais;
-natureza dinâmica desses documentos que resulta em alterações e atualizações constantes;
-navegação não-linear, que permite que de um documento se passe para outro independente da área geográfica;
19 UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO. Biblioteca Central. Normalização de referências: NBR 6023:2002. Vitória: A Biblioteca, 2006, p.14.
20
-modo de identificação e acesso;
-possibilidade de existência simultânea em vários suportes e modo de disseminação e recuperação”.
Feita esta breve explanação, trabalharemos com os seguintes meios nesta
monografia:
a) Bibliografia impressa e de renome internacional na área de história da aviação,
incluindo livros, revistas e monografias;
b) Notícias em sítios de agências noticiosas... b.1- em geral; b.2- de economia; b.3-
de aviação; b.4- de defesa;
c) Enciclopédias digitais;
d) Páginas de internet fixas, atualizáveis, de sítios de defesa, de análise e
inteligência militar, de think tanks, de construtores aeronáuticos, e de entusiastas da
aviação;
e) Blogs .
Temos ciência das dificuldades anteriormente expostas ao se trabalhar com
este tipo de documentação. As fontes e bibliografia por nós utilizadas apresentam
graus de confiabilidade muito diferentes, e levamos isso em conta na produção
deste trabalho. De um modo geral, quanto maior o ineditismo do capítulo em
questão, mais fomos forçados a recorrer a material não-ortodoxo ao elaborá-lo. Por
exemplo, o Capítulo I, uma cronologia do Su-27, está baseado em obras de renome
internacional sobre o referido caça, na forma de material impresso e publicado. Já o
Capítulo III, uma cronologia sobre a versão chinesa do Su-27, o J-11B, baseia-se em
material colhido principalmente de sítios de notícias, artigos de think tanks,
informações e fotos esporádicas em blogs, etc.
Dito isto, suspeitas com relação à confiabilidade de certas modalidades de
veiculação na internet são imediatas. Concordamos que elas possuem problemas
intrínsecos em sua utilização, mas afirmamos que estes não são absolutos,
tampouco definitivos em todos os casos, a ponto de inviabilizar qualquer tipo de
referência às mesmas. De fato, pudemos constatar casos em que a bibliografia de
21
fontes de renome internacional estava equivocada, enquanto as revelações de
fontes não-convencionais sobre matérias confidenciais ou de difícil veiculação
estavam corretas. Chartier, em entrevista para a Nova Escola20, diz algo parecido:
“A leitura do texto eletrônico priva o leitor dos critérios de julgamento que existem no mundo impresso. Uma informação histórica publicada num livro de uma editora respeitada tem mais chance de estar correta do que uma que saiu numa revista ou num site. É claro que há erros nos livros e ótimos artigos em revistas e sites. Mas há um sistema de referências que hierarquiza as possibilidades de acerto no mundo impresso e que não existe no mundo digital. Isso permite que haja tantos plágios e informações falsas. Precisamos fornecer instrumentos críticos para controlar e corrigir informações na internet, evitando que a máquina seja um veículo de falsificação.”
Para tanto, todos os dados em uso devem ser sempre ponderados, exigindo o
cruzamento constante de informações entre as diferentes fontes para separar as que
não apresentam credibilidade ou consistência das que têm verossimilhança.
Tudo isso tem por causa a especificidade de nosso o objeto, o J-11B. Por
vezes, a diferença entre fontes e bibliografia será sutil, na medida em que não temos
acesso a muita informação direta e original sobre o caça chinês, em mandarim e
emitida por fontes referendadas pelo governo chinês. Tomemos como exemplo a
página do sítio da Shenyang Aircraft Corporation (SAC), fabricante do caça em
questão, sobre as aeronaves militares por ela já produzidas ou em atual produção,
intitulada Military Range. Nela constam os seguintes modelos: F-8IIM fighter aircraft,
F-8II fighter aircraft, Fighter Aircraft F-8, Fighter Aircraft F-7, Fighter Aircraft F-6,
Fighter Aircraft F-5, Fighter/Trainer Aircraft FT-6 e Fighter/Trainer Aircraft FT-6. Não
há nenhum J-11B (ou F-11B; o “J” e o “F” aqui são intercambiáveis) nessa lista; é
como se ele não existisse, não obstante a constatação desse fato por meio da
imprensa internacional e local, e sua recente exibição para o público em geral. Isso
de modo algum nos surpreenderia. O governo e as forças armadas chinesas estão
longe da transparência. São amplamente conhecidos pela forma velada com que
conduzem seus assuntos internos, sem qualquer pudor de omitir ou esconder
matérias consideradas confidenciais ou de importância nacional. Enquanto nas
democracias ocidentais programas de defesa são amplamente debatidos e expostos
ao escrutínio público, não raro com expressivas repercussões midiáticas, na China 20 ZAHAR, Cristina. Roger Chartier: "Os livros resistirão às tecnologias digitais". In: Site Nova Escola . Online, 2011. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/fundamentos/roger-chartier-livros-resistirao-tecnologias-digitais-610077.shtml>. Acesso em: 30 out. 2011.
22
isso é algo muito distante da realidade. No caso específico da aviação militar
chinesa, nós, no Ocidente, e o próprio chinês médio, geralmente só tomamos
conhecimento de [alguns] detalhes oficiais das novas aeronaves em serviço quando
estas já estão operacionais há um tempo considerável.
Somos forçados, deste modo, a recorrer a outras fontes não-convencionais. O
desenvolvimento do J-11B não é ricamente documentado em inglês, há poucas
fontes para traçar sua cronologia, e nas poucas disponíveis alguns dados variam.
Isso porque a governo chinês não permite a disseminação de informações em grau
adequado para acompanhar o progresso dele. A mídia e as notícias de internet
chinesas são muitas vezes incompletas e contraditórias. Os sítios de internet
divulgam comunicados de imprensa ou novos artigos, enquanto um grande número
de sítios de entusiastas militares chineses tem marcado interesse no
desenvolvimento da aviação sínica, provendo um fluxo constante de notícias
parciais, especulação e algumas vezes desinformação. Não há fonte pública ou
privada chinesa de referência sobre o caça em questão. Os oficiais da SAC e
militares chineses são muito relutantes em descrever o avião.
Mesmo diante de todos os problemas metodológicos expostos acima,
afirmamos nosso grande entusiasmo com o uso desse material, na medida em que
proporciona a única oportunidade possível de escrever sobre nosso objeto. Também
não estamos sós, já que parte de nossa bibliografia (em especial Fisher) usa dos
mesmos expedientes. De outra forma, realizar este estudo nos seria vetado ou
impraticável, dadas as dificuldades óbvias que este nos apresenta: temos
pouquíssimo acesso a publicações materiais diversas sobre o J-11B, tampouco
conhecemos o mandarim, idioma local, restringindo-nos apenas a traduções
limitadas deste, e ao que se escreveu em inglês sobre o caça em questão.
Deixamos claro que, sempre que possível, o material por nós utilizado estará
referenciado e disponível para conferência imediata por parte do leitor.
23
2 CAPÍTULO I – CRONOLOGIA DO SU-27
2.1 INTRODUÇÃO
Figura 1: Su-27, o caça russo de quarta geração por excelência
(http://www.aerospaceweb.org/aircraft/fighter/su27/su27_01.jpg; acessado em 23 jun. 2011).
O Su-27 (Grulla, em russo; nomenclatura da OTAN: Flanker-B) é um caça russo
supersônico de quarta geração21, projetado e construído na antiga URSS, e
21 Os governos, escritores e entusiastas da aviação militar costumam classificar os caças a jato em gerações. Estas não são oficiais ou fixas, podendo variar de autor para autor. Todavia, de um modo geral, elas agrupam aeronaves com características, desempenho e temporalidades semelhantes em uma mesma geração, cujo período pode ser determinado com alguma margem. Apresentaremos a seguir um resumo de cada uma delas, com período e descrição de principais características, bem como seus representantes mais famosos: 1ª geração : vai da Segunda Guerra Mundial até meados da década de 1950. Inclui os primeiros caças a jato operacionais. A maioria dos aviões não tinha radar, eram subsônicos, usavam bombas de queda livre e metralhadoras e canhões com mira ótica. Exemplos: Me 262, Gloster Meteor, MiG-15, MiG-17, e F-86. 2ª geração : abrange caças desenvolvidos entre 1955 e 1960. Inclui desde os primeiros caças supersônicos até os capazes de atingir Mach 2. Começaram a ser equipados com radar próprio e os primeiros mísseis ar-ar. Exemplos: F-104, F-105, F-106, MiG-19, MiG-21, Mirage III (operado pela FAB até 2005), English Electric Lightning. 3ª geração : pertencem a ela os caças desenvolvidos de 1960 até meados da década de 1970. Foram introduzidos mais avanços em aerodinâmica e eletrônica. Seus principais representantes são o F-4 Phantom, o F-5 (operado pela FAB até hoje), MiG-23, MiG-25, Mirage F1, Saab Viggen. 4ª geração : nela se incluem caças de meados da década de 1970 até 1990. Marcada pela introdução da microeletrônica nas década de 1970 e 1980, os aviões de 4ª geração foram dotados de aviônica mais sofisticada, controles fly-by-wire (sistema de controle por cabo elétrico) e cockpit (cabine) tipo HOTAS (mãos no acelerador e manche): F-14, F-15, F-16, F-18, Su-27, MiG-29, MiG-31, Mirage 2000, Tornado, Saab Gripen. 4,5ª geração : Versões melhoradas de aeronaves de 4a geração, introduzidas da década de 1990 até meados dos anos 2000. São exemplos o F/A-18E Super Hornet (um dos finalistas do FX-2), o Sukhoi Su-35 (oferecido ao
24
reconhecido no mundo todo como uma das melhores aeronaves de combate do
século XX (Fig. 1). Excelente desempenho, facilidade de pilotagem e de manutenção
tornaram o caça com razão muito popular entre seus pilotos e técnicos. As altas
capacidades de pilotagem do Su-27, demonstradas em shows aéreos pelo mundo
todo, não deixam de impressionar os espectadores, principalmente em manobras
acrobáticas como a “Cobra”. O caça bateu vários recordes da Federação
Aeronáutica Internacional, e é até hoje o detentor de muitos deles. O Su-27 foi o
primeiro de uma família de aeronaves de combate polivalente, incluindo o treinador
de combate Su-27UB, o caça naval embarcado Su-27K (Su-33), o interceptador
biposto Su-30, o caça multimissão biposto Su-30MK, o bombardeiro tático Su-34, o
sofisticado e recente caça de 4,5ª geração Su-35, dentre outros mais.
Para atingir esses resultados impressionantes, os desenvolvedores do Su-27
tiveram de trilhar um caminho longo e difícil. A criação do caça, em sua aparência
moderna e com seu atual desempenho, não teria sido possível sem os esforços
extenuantes e sacrifícios de muitos engenheiros, projetistas, cientistas,
pesquisadores, pilotos de testes e especialistas militares. As contribuições mais
importantes no desenvolvimento do Su-27 foram feitas pelos quadros do Escritório
de Projetos Sukhoi, da Fábrica Aeronáutica de Komsomolsk-on-Amur, e pelos
desenvolvedores do motor, radar, e sistemas de mísseis guiados, respectivamente a
Companhia Lyulka-Saturn, o Instituto de Pesquisa de Instrumentação Tikhomirov e o
Bureau de Projetos Vympel. Além das citadas organizações, o Su-27 foi
desenvolvido em parceria com muitas instituições científicas e de pesquisa por toda
a URSS, além de outros escritórios de projetos e institutos de pesquisa que
projetaram e fabricaram os vários sistemas do caça.
Antes de falarmos sobre sua versão chinesa, o J-11B, é importante conhecer
um mínimo sobre a aeronave original na qual esta se baseia, o Su-27. Veremos
Brasil no FX-2 e descartado), Eurofighter Typhoon (também oferecido ao Brasil no FX-2 e descartado). Eles são equipados com radares de varredura eletrônica e aviônica de ponta, dentre outras melhorias. 5ª geração : é o estado da arte, o que há de mais sofisticado atualmente em aviação de caça. Empregam formas e tecnologias que desviam e absorvem as ondas eletromagnéticas, tornando-os difíceis de serem detectados por radares (stealth, “furtividade” em inglês: são popularmente chamados de “aviões invisíveis”). Os armamentos são levados internamente. Além disso, em sua maioria são capazes de decolar em pequenas pistas, de voar a velocidades supersônicas sem usar pós-combustão (o chamado supercruise - supercruzeiro), possuem supermanobralidade e fusão de sensores. Nessa classe estão incluídos o F-22 Raptor (atualmente o melhor caça do mundo) e o F-35 americanos, o PAK-FA russo, o J-20 chinês, e futuramente o ATD-X japonês, o KF-X coreano e o AMCA indiano.
25
agora alguns aspectos da história do desenvolvimento do caça, que começou a mais
de quarenta anos atrás. Este primeiro capítulo foi elaborado a partir da revisão de
bibliografia sobre ele, e é basicamente uma cronologia do mesmo. O texto-base que
utilizamos foi a página sobre o Su-27 no site do próprio fabricante, a Sukhoi
Company.22 Como se trata de um texto com a cronologia oficial do avião, cremos ser
interessante cotejar sua propaganda com outras informações de bibliografias.
Por alguns anos, o melhor texto de referência técnica e histórica sobre o avião
russo foi o livro Su-27 Flanker Story, de Andrei Fomin e publicado pela Intervestnik.23
Entretanto, essa obra foi eclipsada pelo livro Sukhoi Su-27 de Yefim Gordon, da
série Famous Russian Aircraft, publicado em 2007 pela Midland.24 É um verdadeiro
tratado sobre o caça em questão, muito completo e extenso. Descreve
minuciosamente todos os aspectos importantes do avião, incluindo história,
principais operadores, vendas no exterior, etc. Utilizaremos largamente a obra de
Gordon.
Para além dela, faremos uso da edição de 2004-2005 do Jane's All The
World's Aircraft25, obra de referência internacional sobre aviação, em especifico da
entrada sobre o Su-27.
Por último, usamos diversas imagens retiradas de sítios da internet, a fim de
ilustrar alguns pontos de interesse no texto. Os locais de coleta foram referenciados.
2.2 OS REQUERIMENTOS DE UM NOVO CAÇA
Segundo a Sukhoi Company, o projeto de um caça de quarta geração, que
mais tarde viria a se chamar Su-27, começou no escritório de projetos de Pavel O.
Sukhoi, sob a iniciativa deste projetista e a supervisão de O. S. Samoilovich, no final
22 SU-27SK. Historical background. In: Sukhoi Company (JSC) . Airplanes. Military Aircraft. Online: Moscou, 2010. Disponível em: <http://www.sukhoi.org/eng/planes/military/su27sk/history/>. Acesso em: 04 jun. 2011. 23 FOMIN, Andrei. Su-27 Flanker Story. Moscou: Intervestnik, 1999. 24 GORDON, Yefim. Su-27 Flanker. Hinckley: Midland, 2007. 25 JACKSON, Paul. Jane's All the World's Aircraft 2004-2005. Londres: Jane’s Information Group, 2005.
26
de 1969.26 O novo avião seria a resposta soviética ao caça F-15 dos EUA (Fig. 2),
que já estava a ser desenvolvido sob o programa “FX” americano, desde 1966. O
aparelho soviético era projetado, tal qual o F-15, como uma aeronave de
superioridade aérea dedicada. Os caças soviéticos anteriores eram, de um modo
geral, inferiores aos ocidentais, e precisavam da vantagem numérica para se
equiparar aos mesmos. Em vez de repetir essas tentativas anteriores, cujos
resultados foram aeronaves fora do páreo, desta vez os projetistas aeronáuticos da
URSS tomaram um caminho diferente. Decidiram produzir um avião que estivesse
em pé de igualdade com o adversário, ou que fosse até mesmo superior a ele. Para
alcançar um objetivo tão ambicioso, o escritório de projetos se concentrou desde o
início em algumas ideias desafiadoras na configuração sob desenvolvimento, tais
como: uma fuselagem que gerasse sustentação adicional à das asas; uma junção
asa-fuselagem suave; o uso de dois inovadores motores turbofans (em
contraposição aos turbojatos de gerações de caças anteriores)27, postos largamente
espaçados em duas naceles na popa; e dois estabilizadores verticais, localizados
entre as asas e os profundores da cauda.
Figura 2: o F-15 Eagle, que já foi por muitas décadas considerado o melhor caça ocidental. Esse fora o
tremendo desafio dos projetistas do Su-27: desenvolver um avião que fosse superior ao melhor do melhor que a OTAN dispunha (http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/e/e6/F
15%2C_71st_Fighter_Squadron%2C_in_flight.JPG/800px-F-15%2C_71st_Fighter_Squadron%2C_in_flight.JPG; acessado em 23 jun. 2011).
No estágio inicial, o escritório de projetos experimentou um grande número de
maquetes com configurações diferentes. Por fim, optou-se por uma configuração de
26 SU-27SK. Historical background. In: Sukhoi Company (JSC) , 2011. 27 Muito simplificadamente, esse motor permite desenvolver maior tração e menor consumo de combustível que seu predecessor, o turbojato. Com todas essas vantagens, o turbofan acabou substituindo este último, exceto em alguns casos.
27
fuselagem integral28 baseada na do bombardeiro T-4MS, que nunca chegou a ser
construído.29 Outra característica importante do novo caça era o uso do conceito de
“instabilidade estática” (ou estabilidade eletrônica). Essa inovação permitiu uma
melhora dramática na manobralidade do avião quando em combate a curta
distância.
No período de 1971-72, o projeto conceitual do caça estava sendo
desenvolvido com base numa concorrência entre os escritórios de projetos MiG,
Sukhoi e Yakovlev. O projeto do Su-27 tinha sido completado em setembro de 1971,
e submetido à revisão da Força Aérea em fevereiro de 1972. Neste ano, após os
requerimentos do projeto conceitual do avião terem sido atualizados, optou-se por
dividir o projeto: haveria então duas versões paralelas do caça, uma “leve” (sigla em
russo: PLMI), a ser projetada pelo Escritório MiG (Fig. 3), e outra “pesada” (sigla em
russo: PFI), a cargo do Escritório Sukhoi (Fig. 4).30
Figuras 3 e 4: à esquerda: MiG-29, do Escritório de Projetos Mikoyan-Gurevich (MiG); à direita: Su-27, do
Escritório de Projetos Sukhoi. Requerimentos conflitantes para o novo caça de superioridade aérea soviético levaram à cisão do programa em dois: o de um caça leve, de linha de frente (que viria a resultar no MiG-29), e o
de um outro pesado (que viria a resultar no Su-27) (http://www.enciclopedia.com.pt/images/Su-27-2.jpg, http://airway.uol.com.br/wp-content/uploads/2010/01/mig-29_argel_960_720-605x453.jpg; acessado em 23 jun.
2011).
Baseado nas dicas dos militares, o Su-27 foi reprojetado em 1972-73 para
atingir todos os requerimentos, com a área alar, meta de empuxo do motor, e
capacidade interna de combustível do avião aumentadas. Isso resultou num alcance
excepcional apenas em combustível interno para um caça soviético.
28 Na configuração integral, as asas e a fuselagem formam uma única superfície geradora de sustentação; em outras palavras, a junção asa-fuselagem é bem suave, e não abrupta, como nos caças de gerações anteriores ou na configuração convencional. 29 JACKSON, Paul. Jane's All the World's Aircraft 2004-2005. Londres: Jane’s Information Group, 2005, p. 436. 30 GORDON, 2007, p. 06.
28
Com o alto desempenho do novo motor turbofan AL-31F (código de fábrica: Artigo
99), desenvolvido pelo Escritório de Projetos Lyulka, produzido especialmente para o
Su-27, esperava-se dotar o avião com uma alta relação potência/peso, e então
superiores características de aceleração, taxa de ascensão e manobralidade.
Os componentes eletrônicos soviéticos da época tornavam os aviônicos31 dos
caças excessivamente pesados e espaçosos. Esse problema teria de ser
contornado pelo Bureau através de melhorias no projeto e na configuração, bem
como o uso de novas e promissoras tecnologias.32 Nesse sentido, o Su-27 foi um
avanço sobre projetos soviéticos anteriores, ao utilizar semicondutores no lugar de
tubos a vácuo.33
Em 1973-74, o escritório continuou seus estudos para identificar e projetar a
célula de fuselagem ideal, além da composição dos sistemas, equipamentos e
armas. As opções de configuração foram testadas com modelos em grande escala
em túneis de vento, nos institutos de pesquisa da URSS. O trabalho de projeto
detalhado do avião começou em 1975.
2.3 DESCRIÇÃO DO T-10
Figuras 5 e 6: à esquerda, excerto de um filme mostrando o T-10-1 (código da OTAN: Flanker-A), o primeiro protótipo de Su-27, durante seu bem-sucedido voo inaugural, em 20 de Maio de 1977; à direita, o mesmo avião em solo. Os números nas imagens enumeram características aerodinâmicas que serão listadas no parágrafo a seguir (http://vayu-sena.tripod.com/pix/su27-t10-1.jpg, http://www.airwar.ru/image/idop/fighter/su27/su27-1.jpg; acessado em 15 jun. 2011).
As principais características do T-10-1 (primeiro protótipo do Su-27) eram
(Fig. 5 e 6): uma configuração de asa ogival (1), extensões na raiz do bordo de
ataque (LERX, sigla em inglês; são estes que proporcionam uma junção asa-
31 “Aviônica” é o conjunto dos eletrônicos a bordo de um avião, incluindo os sistemas de navegação e comunicação, de controle de voo, piloto automático etc. 32 Sobre os aviônicos do Su-27, tornaremos a este ponto adiante. 33 Tal como o MiG-25, interceptador soviético de terceira geração cujo radar possuía enormes válvulas.
29
fuselagem suave) – (2), profundores totalmente móveis montados em uma
continuação da raiz das asas (3), e dois estabilizadores verticais (4) montados em
cima das naceles dos motores (5), que ficavam largamente espaçados (6) na
traseira da fuselagem. As tomadas de ar variáveis (7) com freios aéreos horizontais
(8) ficavam em cada lado do eixo de rolagem do avião, e suspensas sob a seção
central da asa. A configuração das tomadas garantia fluxo de ar altamente estável
em altos ângulos de ataque, o que é de vital importância para uma aeronave
projetada para combate aéreo manobrado. As naceles do motores na cauda (9)
eram extensões das tomadas de ar (7). O trem de pouso frontal recolhia para trás
(10). Um grande problema foi achar um lugar para as baias do trem de pouso
traseiro sem aumentar a seção transversal do avião, o que causaria maior arrasto.34
Finalmente, encontrou-se um no “espaço morto” da seção central da asa (11), no
lado externo dos dutos das tomadas de ar, as pernas do trem retraindo com as
rodas viradas horizontalmente. O peso da fuselagem foi significantemente atenuado
através da configuração compacta e otimização da estrutura projetada, assim como
pelo uso de ligas de titânio no projeto.
Ao adotar a configuração aerodinâmica integral, os projetistas puderam
colocar uma grande quantidade de combustível no interior da fuselagem. Isso evitou
o expediente de recorrer a tanques externos, que causam à aeronave maior arrasto,
aumento na assinatura-radar e esterelizam pilones que poderiam estar equipados
com armas em vez deles.35 Inicialmente, estimou-se que o alcance requerido de
2.500 km podia ser atingido com apenas 5.350 kg de combustível, quando o máximo
possível era de 9.000 kg. Mas isso teve um preço: de acordo com os padrões de
resistência do avião, ele poderia puxar 8g em curvas com 80% de combustível nos
reservatórios, só que a resistência do avião foi ajustada para 5.350 kg de
combustível. Se o avião levasse a capacidade máxima, sua capacidade de manobra
ficaria severamente prejudicada, e não poderia puxar mais que 6g em curvas. Como
solução do problema, os construtores declararam que a capacidade dos tanques de
combustível era de 5.350 kg, enquanto que o resto dos 9.000 kg era tanque de
34 GORDON, 2007, p. 24. 35 GREEN, William e SWANBOROUGH, Gordon. An illustrated anatomy of the word’s fighters: the inside story of over 100 classics in the evolution of fighter aircraft. Saint Paul: MBI, 2001, p. 238.
30
combustível adicional interno.36 Dessa forma, o alcance do avião com a capacidade
máxima dos tanques de combustível era estimada em 4.000 km, em vez dos 2.500
km planejados.
A questão seguinte era escolher o motor adequado para o novo avião. De
início, pensou-se em usar o AL-21F, mas este turbojato de terceira geração estava
aquém das metas de empuxo e economia lançadas para o Su-27. Dessa forma,
encomendou-se um novo motor ao Escritório de Projetos Lyulka, que anos mais
tarde viria a culminar no turbofan de quarta geração AL-31F. De acordo com as
metas traçadas, esse motor deveria ter impulso de 122,5 kN e consumo de
combustível menor do que 0,061 kg/Nh. Como o desenvolvimento da AL-31
demoraria muitos anos, os primeiros protótipos do Su-27 (T-10-1, T-10-2, além do
primeiro lote de pré-produção) estavam equipados com os turbojatos AL-21F3, de
geração inferior.
Uma das grandes dificuldades enfrentadas no desenvolvimento do Su-27
foram os aviônicos, especialmente o sistema de radar.37 O desenvolvimento do
N001 Myech (Espada, em russo) ficou a cargo do Instituto Tikhomirov NIIP, cujo
objetivo inicial era projetar um radar melhor que o APG-63 do F-15, e que tivesse
200 km de alcance de detecção. A princípio, o plano era usar uma antena de
desenho totalmente novo, com escaneamento eIetrônico na elevação e mecânico no
azimute. Isso proporcionaria excelente capacidade de engajamento multialvos, e o
uso do míssil R-33 do MiG-31 também foi planejado.
36 Na variante do Su-27 que entrou em produção, o T-10S (ver adiante), a quantidade normal de combustível é de 5.270 kg (segundo a Sukhoi Company). O restante dos 9.400 kg é classificado como tanque de combustível interno adicional: quando o avião utiliza sua capacidade máxima de combustível (9.400 kg), ele fica bem pouco manobrável, até que o combustível do reservatório adicional seja consumido, momento em que ele retorna à sua capacidade operacional padrão. SU-27SK. Aircraft Performance. In: Sukhoi Company (JSC) . Airplanes. Military Aircraft. Online: Moscou, 2011. Disponível em: < http://www.sukhoi.org/eng/planes/military/su27sk/lth/>. Acesso em: 04 jun. 2011. 37 O radar é um dispositivo que permite detectar objetos distantes a partir da reflexão de ondas eletro-magnéticas. Ele emite, através de uma antena, ondas de rádio que se propagam pelo espaço; quando elas encontram um objeto, este reflete as mesmas. Partes das ondas refletidas pelo objeto retorna para o radar e é captada por sua antena; este pode, então, a partir do processamento dos sinais recebidos, determinar características do objeto detectado, tais como localização, tamanho, velodidade, etc.
31
2.4 PROGRAMA DE TESTES E PRODUÇÃO INICIAL DO T-10
O desenvolvimento do Su-27 foi aprovado por um decreto do governo de 19
de janeiro 1976, como “um caça de superioridade aérea para a Força Aérea e
Forças de Defesa Aérea”.38 Em fevereiro de 1976, Mikhail Simonov foi indicado
como projetista-chefe do Su-27. Naquele época, o escritório de projetos já tinha
começado a construir os primeiros três protótipos T-10 (dois para testes em voo e
um para testes estruturais em solo), a fim de testar todos os principais sistemas da
futura aeronave já em progresso. Note-se que, para validar a aerodinâmica do Su-
27, seus motores, sistema de controle, armas e equipamentos de ataque e
navegação, o Escritório Sukhoi e o Instituto de Pesquisa de Voo montaram e
testaram dúzias de laboratórios voadores, conduzindo estudos numa escala sem
precedentes na prática soviética de projetar sistemas para um novo avião. A
documentação de engenharia produzida foi passada para a fábrica de Komsomolsk-
on-Amur, que foi indicada como o principal centro de produção do Su-27. Em 1977,
a fábrica começou a equipar-se para fabricação em massa. Em outubro de 1977, o
projeto conceitual do Escritório para o Su-27 passou por revisão crítica de projeto e
foi aprovado pelo comitê da Força Aérea. Os primeiros dois protótipos voadores do
Su-27 estavam equipados com os motores turbojatos AL-21F3, pois os novos
turbofans AL-31F ainda não estavam prontos.
A construção do primeiro protótipo T-10-1, iniciada em 1974, foi completada
em abril de 1977.39 Em 20 de maio de 1977, o piloto de testes chefe do bureau V. S.
Ilyushin conduziu o primeiro voo, a partir da pista do Instituto de Testes de Voo em
Zhukovski. Pouco tempo depois, esse avião foi fotografado pela primeira vez por um
satélite espião dos EUA, e recebeu entre estes o codinome RAM-K (“RAM” referente
ao local, erroneamente tido como Ramienskoje). Mais tarde, o avião também
recebeu um codinome da OTAN, Flanker-A. Em maio de 1978, o programa de testes
foi expandido para cobrir o segundo protótipo, T-10-2, e um ano depois, em 1979,
ele recebeu os protótipos T-10-3 e T-10-4, equipados com motores operacionais AL-
31F. Esses primeiros turbofans AL-31F possuíam caixa de marchas na parte de 38 SU-27SK. History background. In: Sukhoi Company (JSC) , 2011. 39 JACKSON, 2005, p. 436.
32
baixo – por isso a “saliência” sob as naceles dos motores. Para acelerar os ensaios,
decidiu-se disponibilizar todo o primeiro lote de pré-produção do Su-27 feito pela
fábrica em 1980-81, cinco aeronaves no total (T-10-5, T-10-6, T-10-9, T-10-10 e T-
10-11) equipados ainda com motores turbojatos. Mais tarde, esses aviões foram
usados pelo escritório para testar os sistemas individuais do caça (radar, armas etc).
Em dezembro de 1979, o Su-27 foi oficialmente aceito pelos militares para início dos
testes de governo. Mas foi uma versão completamente diferente do avião a posta
em produção de série.
2.5 UMA DIFÍCIL DECISÃO: REDESENHO COMPLETO, O T-10S
A Sukhoi Company diz que, em 1977, o programa do Flanker enfrentou uma
grande dificuldade. Após análises do desempenho do Su-27 comparado aos
modelos ocidentais similares, simulações de combate semi-realistas, além de dados
reais obtidos durante os testes de voo dos protótipos, falhou-se em confirmar a
esperada superioridade aérea do Su-27.40 O protótipos demonstravam baixa
controlabilidade e estabilidade inadequada no eixos de rolagem e de guinada. Além
disso, os ângulos de ataque que eram capazes de alcançar eram insatisfatórios.41
Segundo Gordon, esse resultado teve várias causas, sendo a primeira delas o
excesso de peso do caça: os projetistas não conseguiram atingir as restrições de
peso dos sistemas e equipamentos principais.42 Em segundo lugar, veio o sub-
desempenho dos motores AL-31F, revelado nos testes de bancada: o consumo de
combustível deles ficou bem acima do planejado. Em terceiro, as asas com bordas
de ataque ogivais, além dos estabilizadores verticais posicionados logo acima dos
motores, falharam em demonstrar superioridade sobre as configurações adotadas
pelos caças ocidentais. Também as capacidades e desempenho reais do F-15 foram
40 SU-27SK. Historical background. In: Sukhoi Company (JSC) , 2011. 41 Para uma aeronave que pretenda entrar em combate aproximado contra outros caças (dogfight), no qual são necessárias manobras muito constantes e violentas, é essencial ser capaz de atingir bons ângulos de ataque. Do contrário, ela será menos manobrável que seu adversário, colocando-se em severa desvantagem. JACKSON, 2005, p. 437. 42 GORDON, 2007, pp. 50-51.
33
subestimados: o novo caça de superioridade aérea dos EUA mostrava-se um
oponente formidável.
Deste ponto em diante, os projetistas e desenvolvedores do avião tinham
duas escolhas. A primeira era continuar com a configuração atual e seguir em frente,
aceitando os vícios inerentes ao projeto e as consequências disso. Não seria a
primeira vez: alguns dos caças soviéticos anteriores, após entrarem em serviço,
demonstraram fraco desempenho quando comparados aos rivais (o caso clássico é
o MiG-23, inferior na maioria dos aspectos ao F-4 Phantom dos EUA). A segunda
escolha era tomar drásticas medidas para reprojetá-lo, a fim de alcançar sua meta
inicial: um avião equivalente ou superior ao melhor de que o Ocidente dispunha, o F-
15.
A Sukhoi Company diz que, para alcançar esse objetivo, o escritório
desenvolveu um plano de ações, sobretudo pela iniciativa do projetista-chefe Mikhail
Simonov, que pressionou muito por mudanças estruturais no avião.43 Mais tarde, ele
foi apoiado pelo projetista-geral Ye. A. Ivanov. No plano estavam inclusos:
-Introduzir um firme controle de peso;
-Diminuir o arrasto;
-Aumentar as propriedades de sustentação da asa e adaptá-las aos diferentes
modos de voo:
-Melhorar o controle de rolagem do avião.
43 SU-27SK. Historical background. In: Sukhoi Company (JSC) , 2011.
34
Figuras 7: representação em três dimensões do T-10-1 (Flanker-A), primeiro protótipo do Su-27. Os números na figura enumeram características aerodinâmicas que serão listadas nos parágrafos a seguir (http://www.mars.slupsk.pl/fort/sukhoi/big/t10-1-a.jpg, http://www.mars.slupsk.pl/fort/sukhoi/big/su27-t10-17-1982.jpg; acessado em 11 nov. 2011).
35
Figuras 8: representação em três dimensões do T-10-17, protótipo do Su-27 com configuração de produção em série (Flanker-B). Os números na figura enumeram características aerodinâmicas que serão listadas nos parágrafos a seguir (http://www.mars.slupsk.pl/fort/sukhoi/big/t10-1-a.jpg, http://www.mars.slupsk.pl/fort/sukhoi/big/su27-t10-17-1982.jpg; acessado em 11 nov. 2011).
Para conseguir isso, os aerodinamicistas e planejadores do escritório
concentraram seus esforços em desenvolver uma lista de recomendações
36
específicas sobre como reprojetar a configuração original do Su-27 (Fig. 7 e 8), cujos
principais pontos eram:
-Substituição do bordo de ataque (1) ogival da asa por um do tipo reto. Os flaps e
ailerons separados e anteriores (2) foram substituídos por superfícies de controle
integradas do tipo flaperon (3). O novo bordo de ataque reto das asas permitiria a
instalação de um pilone adicional na ponta de cada uma destas (4), elevando o total
de mísseis carregados no caça de oito para dez.
-Diminuição em 15% da área de seção transversal do caça. Esse resultado seria
conseguido através: do redesenho das tomadas de ar (5); do redesenho do canopy
(toldo) do cockpit (cabine) – (6); da realocação da caixa de marchas do motor (7), de
debaixo deste para cima do mesmo; e da realocação dos estabilizadores verticais do
avião (8), que de cima das naceles dos motores seriam movidos para os lados
externos, nas mesmas continuações das raízes das asas em que os profundores
eram montados. Embaixo desses estabilizadores verticais foram adicionadas aletas
ventrais (9), para melhorar a estabilidade direcional e a resistência contra perda de
controle. Com estas mudanças, os dispositivos antivibração (10) seriam removidos;
-Adoção de um novo mecanismo para a retração do trem de pouso traseiro (11),
baseado num eixo articulado inclinável e uma trava, que tornou possível retraí-lo
dentro da seção central da asa. Os dois freios aéreos anteriores (12), montados
embaixo das raízes das asas e que serviam como as portas principais do trem de
pouso traseiro, foram substituídos por um único no dorso do avião, muito
semelhante ao usado no F-15. O trem de pouso frontal (13) seria movido para trás,
passando a retrair para frente. Somado a uma tela protetora para as tomadas de ar
(14), isso melhoria a manobralidade do avião em solo, bem como a resistência
contra a ingestão de detritos pelo motor;
Outra mudança importante pode ainda ser citada: a adição de um ferrão na
cauda entre os motores (15), para alojar o paraquedas de frenagem, contramedidas
e combustível adicional. O Sistema de Busca e Rastreio por Infravermelhos - IRST
(16) foi mantido.
37
Tomadas juntas, todas as modificações foram incorporadas numa configuração que
se tornou conhecida como T-10S (“S” é a abreviação de “produção” em russo). De
um modo geral, essa nova configuração reduziu o arrasto em 18% e 20% nos
modos de voo subsônico e supersônico respectivamente.
Isso, combinado com o aumento tanto nas propriedades de sustentação da
fuselagem, quanto na controlabilidade e estabilidade lateral e direcional em todos os
três eixos, em qualquer modo de voo, deram ao avião uma manobralidade superior,
com ênfase especial nos altos ângulos de ataque. De fato, segundo Mikhail
Simonov, as únicas coisas que o T-10S herdou de seu antecessor foram as rodas do
trem de pouso principal e o assento ejetor. Apenas os princípios gerais do Su-27,
delineados pelo finado Pavel Sukhoi, foram mantidos: configuração de fuselagem
integral; projeto estaticamente instável com centro de gravidade deslocado para trás;
controles de voo fly-by-wire; e a montagem dos motores em naceles largamente
separadas, com tomadas de ar ventrais.
A Sukhoi Company enfatiza a situação delicada.44 Foi o projetista-geral Ye. A.
Ivanov que tomou a difícil decisão de reprojetar a aeronave. Mas para produzir a
configuração modificada, seria necessário suspender a produção em série do caça
já em andamento, e iniciar um outro grande processo, com o objetivo de pôr o nova
configuração na linha de montagem. Isso significaria admitir o fracasso em alcançar
as metas iniciais do programa, e prolongar o desenvolvimento do caça por diversos
anos. Esta era uma posição muito delicada de se tomar no setor de defesa soviético,
e tanto Ivanov quanto Simonov colocaram suas carreiras em risco ao fazê-lo.
A gestão do Ministério da Indústria de Aviação e a fábrica em Komsomolsk-
no-Amur se oporam firmemente à posição tomada pelo Bureau Sukhoi. Entretanto,
este último conseguiu o apoio necessário dentro da burocracia soviética para levar a
cabo seus planos, e venceu a disputa. Com a vitória dos reformistas, decisão
favorável ao escritório foi tomada em janeiro de 1978, e o mesmo começou os
trabalhos num projeto detalhado baseado na configuração do T-10S. Entre 1979 e
1981, o projeto do Su-27 no Escritório Sukhoi foi encabeçado por A. A. Kolchin, e
desde 1981, o projetista-chefe do avião tem sido A. I. Knyshev.
44 SU-27SK. Historical background. In: Sukhoi Company (JSC) , 2011.
38
Quanto ao problema do consumo de combustível, o AL-31F do Escritório
Lyulka se revelou um excelente motor, mas infelizmente continuou “sedento”
demais. A questão não pôde ser resolvida, pois os soviéticos não foram capazes de
dominar à época as tecnologias de materiais e componentes necessários para criar
motores econômicos.45 Como resultado, a meta inicial de consumo para o turbofan
(inferior a 0,061 kg/NH) mostrou-se irreal, com o consumo ficando em 0,068 kg/NH.
O caça compensou o consumo extra de combustível com a enorme capacidade de
combustível interno, mas mesmo assim o alcance máximo do avião ficou em 3.530
km.
Também as metas do radar N001 Myech se mostraram ambiciosas demais:
dadas as condições da indústria de eletrônicos soviética nos anos 1970 e início dos
anos 1980, era simplesmente impossível produzir em massa um radar tão
sofisticado com aquele tamanho.46 Em maio de 1982, o NIIP chegou à conclusão
que sua antena de arranjo planar e computador digitais não eram viáveis naquele
momento, nem continuariam sendo no curto prazo. Uma tentativa similar, o radar
N019 do MiG-29 (desenvolvido pelo bureau Phazotron), teve de reverter para uma
versão melhorada do radar Sapfir-23ML com antena de arranjo parabólico giratório,
a fim de substituir sua problemática antena de arranjo planar em desenvolvimento.
Baseado nessa experiência, o NIIP decidiu então usar os principais componentes do
radar N019, incluindo uma cópia com área 50% maior da antena de arranjo
parabólico giratório e o processador TS100. Em Março de 1983, o redesenho foi
completado, mas o radar resultante não era nem de longe tão bom quanto o
imaginado. Em vez dos 200 km, o alcance de detecção chegava no máximo aos 140
km contra um alvo enorme como um bombardeiro. O peso do N001 ficou acima dos
600 kg, bem superior ao do APG-63 dos F-15.
45 GORDON, 2007, p. 51. 46 Por exemplo, o interceptador soviético MiG-31, contemporâneo do Su-27, foi o primeiro caça do mundo a ser equipado com um radar com arranjo de varredura eletrônica passiva (PESA, sigla em inglês), mais moderno que os planos iniciais para o N001, e ainda na década de 1980. Entretanto, esse radar era maior, assim como o próprio MiG-31 é maior que o Su-27, o que fornecia o espaço necessário para acomodar os volumosos componentes eletrônicos soviéticos por ele requeridos. FOMIN, Andrei. Take-off. Edição especial para o LIMA Air Show 2007, dez. 2007, p. 28. Online, 2011. Disponível em: <http://en.take-off.ru/arhiv/586>. Acesso em: 11 out. 2011.
39
2.6 PROGRAMA DE TESTES E PRODUÇÃO INICIAL DO T-10S
O primeiro protótipo de Su-27 em configuração de produção, o T-10-7, foi
aceito para testes de voo na primavera de 1981, com seu primeiro voo performado
por V. S. Ilyushin em 20 de abril de 1981. Em 1982, a fábrica de Komsomolsk-no-
Amur começou a produção em massa. O primeiro Su-27 de série foi testado em voo
na fábrica em 01 de junho de 1982, o avião tendo decolado para seu primeiro voo
pelo piloto de testes do Escritório A. N. Isakov. Testes de integração governamentais
do Su-27 foram completados em dezembro de 1983.
Ocorreram vários desastres durante os voos de teste do Su-27, com três
aeronaves perdidas: o protótipo T-10-2 de configuração antiga, provavelmente por
causa de uma falha no software do fly-by-wire (o piloto Yevgenyi Soloviov morreu), e
os protótipos T-10S-1 e T-10S-2, de configuração de produção (o piloto Aleksander
Komarov também morreu). Mesmo assim, os resultados dos testes confirmaram as
altas expectativas sobre o novo avião. Quando postas juntas, as modificações
produziram um efeito sinergético no T-10S: o caça resultante demonstrou
desempenho de voo superior, se igualando aos rivais de sua classe e até mesmo
superando-os em alguns quesitos.
Os testes do Su-27 sob variados programas continuaram por muitos anos a
fio. O avião demoraria muito a entrar em serviço por causa da dificuldade em
manufaturar sua fuselagem, além do prolongado desenvolvimento dos aviônicos. O
Su-27 começou a voar nas unidades de linha de frente em 1985, mas só foi
oficialmente posto em serviço por um decreto do governo em 23 de agosto de 1990,
após todas as principais falhas identificadas durante os testes terem sido
remediadas. Nessa época, o Su-27 já estava em serviço por cinco anos.47 Os
primeiros pilotos em unidades de combate a receber os Su-27 em junho de 1985
foram os aviadores do 60º Regimento de Caças no Extremo Oriente da URSS,
baseados em Dzemghi. Em 1989, os Su-27 estavam em serviço em 16 unidades de
47 Temos então que: o Su-27 entrou em IOC (Initial Operational Capability, capacidade operacional inicial) em 1985; e só foi atingir FOC (Full Operational Capability, capacidade operacional total) em 1990.
40
combate da Força Aérea (VVS) e das Forças de Defesa Aérea (V-PVO) da URSS.48
De acordo com o pessoal de comando e pilotos das unidades de transição, apesar
de, em termos de escopo e complexidade, os sistemas e armas do avião terem sido
muito superiores aos de todas as aeronaves de geração anterior, o treinamento de
transição para o Su-27 foi bem simples e livre de problemas, com o avião se
mostrando muito fácil de dominar por pilotos veteranos.
2.7 SU-27UB, TREINADOR DE COMBATE BIPLACE
O Escritório de Projetos Sukhoi começou a desenvolver uma versão treinador
de combate com dois assentos (biposto) do Su-27 em 1976, antes mesmo da
configuração definitiva do avião (o T-10S) ser concebida. Tanto a versão monoposta
quanto a biposta deveriam ter um alto grau de comunalidade, e esta última deveria
reter total capacidade de combate.49 O projeto conceitual do Su-27UB (Fig. 9; código
de fábrica: T-10U) passou por revisão crítica de projeto em 1978. O primeiro
protótipo do biplace foi feito pela fábrica em Komsomolsk-no-Amur de acordo com as
especificações do bureau, e enviado à Moscou para engenharia posterior na
Primavera de 1984. O primeiro voo de T-10U-1 aconteceu em 07 de março, nas
mãos do piloto de testes do bureau N. F. Sadovnikov. Os testes oficiais duraram de
1985 e 1987. A produção de um lote de desenvolvimento de Su-27UB teve lugar em
Komsomolsk-no-Amur, e em 1985 o Ministério das Indústrias de Aviação moveu a
produção do biposto para a fábrica de Irkutsk. O primeiro Su-27UB produzido em
massa foi testado nesta em 10 de setembro de 1986 por uma tripulação de pilotos
de testes G. Ye. Bulanov e N. N. Ivanov. No ano seguinte, os treinadores de
combate entraram em serviço em todas as unidades da Força Aérea e da Força de
Defesa Aérea equipadas com Su-27.
48 As Forças de Defesa Aérea Soviéticas (V-PVO, sigla em russo) eram o ramo de defesa aérea da Forças Armadas Soviéticas. Elas continuaram a existir como um ramo separado das Forças Armadas da Federação Russa de 1991 a 1998. Ao contrário das forças de defesa aérea ocidentais, a V-PVO eram uma arma militar independente, separadas da Força Aérea Soviética (VVS, sigla em russo) e das Tropas de Defesa Aérea das Forças Terrestres. 49 SU-27SK. Historical background. In: Sukhoi Company (JSC) , 2011.
41
Figura 9: o treinador de combate Su-27UB. As diferenças mais notáveis entre este biposto e o Su-27 monoposto são o assento do segundo tripulante, que fica numa posição mais alta que a do primeiro, e dá ao avião uma aparência de “corcunda”. Também seus estabilizadores verticais são maiores que os da versão monoposto. (http://www.sukhoi.org/eng/img/gallery/military/su27ubk/27ub.jpg; acessado em 24 jun. 2011).
2.8 SU-27: UMA GUINADA TECNOLÓGICA PARA A URSS
A Sukhoi Company ressalta que o desenvolvimento do Su-27 como um avião
de nova geração, foi o maior programa de defesa nacional da URSS nos anos 1970
e 1980.50 Ele foi financiado em larga escala pelo Estado comunista, beneficiando
instalações de produção e introduzindo em larga escala novas tecnologias em todos
os sistemas do avião. Por exemplo:
-O motor turbofan AL-31F, desenvolvido pelo Escritório de Projetos Lyulka, em
termos de especificações e desempenho, tinha tecnologia de ponta para a época,
apesar de não ser econômico. Só foi possível alcançar isso com o uso de novas
tecnologias e materiais promissores: novas ligas de titânio, aços resistentes ao calor,
lâminas monocristais, revestimentos especiais, dentre outros. Ele deu origem a
outros com propósitos diversos, tais como turbinas civis para geração de energia;
50 SU-27SK. Historical background. In: Sukhoi Company (JSC) , 2011.
42
-Os aviônicos do Su-27 foram desenvolvidos com base na introdução em larga
escala de processamento digital e híbrido analógico-digital, com computadores de
bordo e o princípio de integração extensiva de vários sistemas por função. Por
exemplo, o sistema de controle de fogo incorporou, além do radar convencional, um
dispositivo de detecção independente, o sistema de busca e rastreio por
infravermelhos (IRST). Ainda assim, esses componentes estavam restritos às
limitações já citadas dos eletrônicos soviéticos da época;
-Como parte do programa de aperfeiçoamento, o Su-27 recebeu uma nova geração
especialmente desenvolvida de mísseis guiados de médio (R-27) e curto (R-73)
alcance, este último revolucionário e sem rival à altura quando de seu surgimento;51
Esses e outros fatores resultaram num avião excepcional, cujas caraterísticas
e desempenho permitiram às suas novas versões operar por muitas décadas ainda,
e enfrentar de igual para igual seus rivais ocidentais.
2.9 P-42, O PULVERIZADOR DE RECORDES
Figura 10: P-42, um protótipo de Su-27 de série (T-10-15) especialmente modificado para quebrar recordes mundiais. Ele teve até a pintura removida, a fim de cortar peso e poder alcançar os recordes. Sua relação potência-peso era de 1,93, algo impressionante mesmo hoje. (http://www.aviation.ru/Su/Su-P-42.jpg, acessado em 23 jun. 2011).
51 Estas armas serão descritas no capítulo seguinte.
43
No final de 1986, a imprensa internacional relatou os novos recordes em taxa
de ascensão estabelecidos por um novo jato soviético – o P-42 (Fig. 10). Em 27 de
outubro de 1986, o piloto de testes Viktor G. Pugachyov subiu a uma altitude de
3.000 m em 25,4 segundos, enquanto em 15 nov. subiu a 6.000, 9.000 e 12.000 m
em 37,1, 47,0 e 58,1 segundos respectivamente, excedendo em menos de 2
segundos os recordes de mais de uma década estabelecidos pelo americano R.
Smith abordo de um F-15 especialmente preparado, o Streak Eagle. Os recordes
foram feitos em duas categorias simultaneamente – ambos na classe de aeronaves
a jato e na de aeronaves de serviço pesando de 12 a 16 toneladas. Esta última logo
chamou a atenção de especialistas, os quais imaginaram rapidamente que a
designação P-42 foi aplicada a um novo caça – o Su-27.
A questão é que um caça de 20 toneladas dificilmente poderia entrar na
categoria de aeronaves de 16 toneladas, e, como foi revelado depois, os protocolos
da IAF tinham o peso de decolagem do P-42 como sendo de 14.100 kg, o que são
duas toneladas mais leve que um Su-27 operacional vazio. Mas isso era simples:
para bater recordes, os dirigentes da Sukhoi tomaram a decisão de usar um dos
primeiros Su-27 de produção em série – o T-10-15, que àquela época já havia
completado seu programa de testes. De acordo com o projetista-geral Mikhail
Simonov, a designação exótica da aeronave foi usada para comemorar a hora da
virada na Batalha de Stalingrado, em Novembro de 1942. Do avião foram retirados
todos os sistemas de controle de armas e o radar; o “nariz” foi substituído por um
cone de metal mais leve. Foram removidos também o freio dorsal juntamente com
seu atuador hidráulico, o canhão interno, os pilones de mísseis, as aletas ventrais, o
para-lama do trem de pouso frontal, o ferrão da cauda junto de seu paraquedas de
frenagem, dentre outras, tudo para que o caça pudesse atingir as metas de peso.
Além disso, os flaps e flaperons móveis das asas foram substituídos por bordos de
ataque e de fuga fixos, restando apenas os estabilizadores para o controle de
rolagem.
Para alcançar os recordes, o avião tinha bem pouco combustível nos tanques,
apenas o necessário para decolar, atingir os objetivos e aterrissar. Os projetistas
conseguiram modificar os motores, aumentado o empuxo em cada um deles em
mais de 1.000 kg/f (os motores AL-31F com empuxo de 13.600 kg/f foram inclusos
44
nos protocolos da IAF). Essas medidas permitiram atingir uma relação potência-peso
incrivelmente alta, beirando a 2. Dessa forma, o P-42 era capaz de acelerar e até
mesmo quebrar a barreira do som durante uma subida vertical. Entre 1986 e 1990, o
P-42 estabeleceu 41 recordes junto à FAI nas categorias de taxa de ascensão e
altitude de voo, alguns dos quais permanecem absolutos.
2.10 SUCESSO DE EXPORTAÇÃO
Em junho de 1989, um exemplar de Su-27 monoposto e outro de Su-27UB
biposto foram exibidos pela primeira vez no exterior, durante o famoso show aéreo
de Le Bourget, na França. Os pilotos Viktor Pugachyov e Ye. I. Frolov demonstraram
aos maravilhados espectadores a manobralidade superior dos aviões Flanker,
executando manobras como a Cobra, impossível de ser repetida por qualquer outro
caça ocidental em serviço na época. Desde então, os Su-27 tem participado nos
maiores eventos de aviação internacional, exibindo o melhor que a aviação russa
tem a oferecer.52
O Su-27 tem sido um sucesso no mercado estrangeiro. Desde 1991, as
fábricas de Komsomolsk-no-Amur e de Irkutsk (ambas são rivais e fabricam versões
diferentes do caça) tem produzido variantes de exportação do Su-27: o Su-27SK
monoposto (da KnAAPO) e o Su-27UBK biposto (da Irkutsk). Exemplares dessas
variantes tem sido exportados desde 1992 para China, Vietnam, Etiópia e Indonésia,
e os Su-27SKs têm sido fabricados sob licença na China desde 1998, sob a
designação local de J-11 (ou F-11) num acordo de co-produção.
O projeto modular do Su-27 garantia ao caça um alto potencial de
reconfiguração e atualização. Desde que entrou em serviço, ele deu origem a muitas
52 E inclusive com acidentes espetaculares, como o de Le Bourget em 1999. Os pilotos de um Su-30MKI (versão altamente modificada do Su-27) tiveram de ejetar após cometer um erro durante uma manobra, o que fez o avião tocar brevemente no solo. Há filmagens famosas desse fato. Outro acidente digno de nota foi o de Sknyliv, aliás, o maior da história dos shows aéreos. Um erro do piloto fez seu Su-27 se chocar contra a multidão que assistia as performances: 77 pessoas morreram, e mais de quinhentas ficaram feridas. O piloto da aeronave foi preso.
45
versões diferentes para as mais variadas funções, incluindo as multimissão (como o
Su-30MKI e o Su-30MKK).
2.11 FICHA TÉCNICA DO SU-27
A tabela a seguir fornece o desempenho, principais características e armas do
Su-27. Foi compilada com dados do fabricante. Não retrata todos os aspectos do
caça, mas apenas os que selecionamos por serem mais relevantes, dados os
propósitos deste trabalho.
Tabela 1 - Desempenho do Su-2753
Peso de decolagem: - normal (incluindo 2 mísseis R-27R1 + 2 mísseis R-73E e 5270 kg de combustível) - máximo, kg
23.430 30.45054
Peso normal de aterrissagem, kg 21.000 Peso máximo de aterrissagem, kg 23.000 Combustível interno máximo, kg 9.400 Carga bélica máxima, kg 4.43055 Teto de operação (sem carga externa), km 18,5 Velocidade máxima ao nível do mar (sem carga externa), km/h 1.400 Mach máximo (sem carga externa) 2,35 Limite-G (operacional) 9 Alcance máximo de voo (com 2 mísseis R-27R1 e 2 mísseis R-73E disparados no meio da missão): - ao nível do mar, km - em altitude, km
1.340 3.530
Tempo máximo em voo, horas 4,5 Corrida de decolagem com peso normal de decolagem, m 450 Corrida de aterrissagem com peso normal de aterrissagem (com paraquedas de frenagem), m
620
Dimensões da aeronave: - comprimento, m - envergadura, m - altura, m
21,9 14,7 5,9
Tripulação 1
Motores Quantidade e tipo dos motores 2 x AL-31F
53 SU-27SK. Aircraft performance. In: Sukhoi Company (JSC) , 2011. SU-27SK. Armaments. In: Sukhoi Company (JSC) . Airplanes. Military Aircraft. Online: Moscou, 2011. Disponível em: <http://sukhoi.org/eng/planes/military/su27sk/arms/>. Acesso em: 22 out. 2011. 54 O fabricante ressalta que o peso máximo de decolagem do Su-27SK pode ser aumentado a pedido do cliente. Veremos, no capítulo seguinte, que esse foi o caso dos chineses quando compraram a aeronave na década de 1990. 55 Nos caças vendidos aos chineses, essa tonelagem máxima de armas foi muito expandida.
46
Empuxo: - em pós-combustão, kgf - em potência militar (a seco), kgf
2 x 12.500 -2 % 2 x 7.670 ± 2 %
Armamentos 1. Canhão Embarcado, de 30mm com 150 munições
2. Mísseis ar-ar R-27R1, R-27ER1, R-27T1, R-27ET1, R-73E
3. Foguetes não-guiados S-8KOM, S-8OM, S-8BM S-13T, S-13OF S-25OFM-PU
4. Bombas De 100, 250 e 500 kg
5. Bombas agrupadas RBK-500
6. Tanques de combustível externos Não disponíveis
7. Pontos de fixação de armas (pilones) 10, sendo 3 sob cada asa (6 ao todo) mais 4 sob a fuselagem
3 CAPÍTULO II – O SU-27 NA CHINA
3.1 INTRODUÇÃO
Figura 11: quatro Su-27SKs sínicos, números de série (da esquerda para direita): “09 Preto”/30009, “10 Preto”/ 30100, “15 Preto”/30105 e “30 Azul”/30300, fotografados enquanto voavam sobre uma cidade chinesa. O “Flanker” foi o primeiro caça de quarta geração a entrar em serviço na PLA-AF: com eles, a China adquiriu uma robusta capacidade de engajamento de alvos aéreos, e um meio para a modernização tanto de sua Força Aérea quanto de sua indústria aeronáutica (http://www.aereo.jor.br/wp-content/uploads/2009/11/J11-3.jpg, acessado em 25 jun. 2011).
47
Como visto, o Sukhoi Su-27 é um caça de superioridade aérea, com dois
motores, projetado pelo Escritório de Projetos Sukhoi ao longo da década de 1970.
Ele foi a resposta soviética aos caças de quarta geração dos EUA, como o F-15 e o
F-16. A Força Aérea Chinesa (abreviada pela sigla em inglês PLA-AF) adquiriu três
lotes dele, totalizando 76 caças Su-27 (Fig. 11) comprados da Rússia desde 1992.
Duas variantes estão atualmente em serviço na força: o monoposto Su-27SK,
fabricado pela fábrica russa KnAAPO em Komsomolsk-na-Amur, e o biposto de
combate/treinador Su-27UBK, fabricado pela fábrica russa IAPO em Irkutsk. O Su-
27SK também foi construído sob licença na Shenyang Aircraft Corporation (SAC),
sob o codinome “J-11” a partir de 1998. Na década seguinte, a China também
adquiriu variantes multimissão desenvolvidas a partir dele, o Su-30MKK e o Su-
30MK2 da KnAAPO. Por fim, a SAC desenvolveu sua própria versão do caça, o J-
11B, objeto-base de estudo desta monografia.
Este capítulo foi elaborado a partir da revisão de bibliografia e de fontes sobre
o Su-27 na PLA-AF, com o objetivo de elaborar uma cronologia sobre o caça russo
em mãos chinesas. Foram utilizadas duas obras de referência básicas. A primeira
delas é o livro Chinese Aircraft – China’s Aviation Industry since 1951, de Yefim
Gordon e Dmitriy Komissarov, com 187 páginas e publicado pela Hikoki em 2008.56
Ele versa sobre a indústria de aviação chinesa desde 1951 até os dias presentes:
faz um breve histórico da aviação chinesa e descreve as principais empresas
nacionais do ramo, bem como as aeronaves militares chinesas históricas e
presentes.
A outra obra é uma matéria escrita por Andrei Fomin em sua revista Take-off,
no suplemento em inglês de Novembro/2006. Seu título é Sukhoi fighters in China –
Today and tomorrow.57 Ela descreve sucintamente a trajetória dos caças Su-27 na
China, desde as compras iniciais no início da década de 1990, até a o hiato no
contrato entre este país e a Rússia, que se seguiu após o cancelamento da
produção do J-11 por parte dos chineses.
56 GORDON, Yefim e KOMISSAROV, Dmitriy. Chinese aircraft: China’s aviation industry since 1951. Manchester: Hikoki, 2008. 57 FOMIN, Andrei. Sukhoi fighters in China – today and tomorrow. In: Take-off. Edição especial para o Air Show China 2006, nov. 2006. Online, 2011. Disponível em: <http://en.take-off.ru/arhiv/590>. Acesso em: 11 out. 2011.
48
Para além dessas bibliografias básicas, nós usamos alguns sítios da internet
de reconhecida segurança e autoridade sobre o assunto, alguns dos quais inclusive
utilizados pelos autores citados. O primeiro deles é o GlobalSecurity, que existe
desde 2000. Trata-se de uma organização política pública focada nos campos de
defesa, exploração espacial, inteligência, armas de destruição em massa e
segurança pátria. O sítio na internet disponibiliza notícias e análises de sistemas de
armas e indústrias, bem como guias para programas militares e espaciais
relacionados, entidades e instalações. Do GlobalSecurity.org, a página que nos mais
interessa é a J-11 [Su-27 FLANKER]58, que informa sobre o Su-27 na China desde
seu momento inicial em 1991.
Outro sítio utilizado foi o SinoDefence.com. Trata-se de um endereço na
internet mantido por voluntários e baseado no Reino Unido. Ele oferece uma
abrangente visão geral sobre o desenvolvimento militar chinês, focada
principalmente nos detalhes técnicos dos sistemas de armas e estrutura
organizacional das forças armadas chinesas. Este sítio adquiriu a reputação de ser a
mais abrangente e confiável fonte online de informação sobre os assuntos militares
chineses, sendo visitado frequentemente por quem busca dados confiáveis e
atualizados sobre os tópicos referidos. Seu trabalho é muito citado pela mídia em
geral e acadêmicos militares por todo o mundo. Do SinoDefence.com, são três as
páginas de nosso interesse: Su-27SK/UBK Air Superiority Fighter Aircraft,59 que
versa sobre os primeiros caças Su-27 adquiridos pela PLA-AF; Jian-11 Multirole
Fighter Aircraft,60 a respeito das versões do Su-27 de produção chinesa; e Su-
30MKK Multirole Fighter,61 sobre os caças multimissão russos baseados no Su-27
adquiridos pela PLA-AF e PLA-NAF (abreviação em inglês da Força Aérea da
Marinha Chinesa).
58 J-11 [Su-27 FLANKER] Su-27UBK / Su-30MKK/ Su-30MK2. In: GlobalSecurity.org. Online, 2011. Disponível em: <http://www.globalsecurity.org/military/world/china/j-11.htm>. Acesso em: 24 abr. 2011. 59 SU-27SK/UBK Air Superiority Fighter Aircraft. In: SinoDefence.com. Air Forces. Aircraft. Online, 2011. Última atualização: 25 dez. 2008. Disponível em: <http://www.sinodefence.com/airforce/fighter/su27.asp>. Acesso em: 11 mai. 2011. 60 JIAN-11 Multirole Fighter Aircraft. In: SinoDefence.com. Air Forces. Aircraft. Online, 2011. Última atualização: 20 fev. 2009. Disponível em: <http://www.sinodefence.com/airforce/fighter/j11.asp>. Acesso em: 11 mai. 2011. 61 SU-30MKK Multirole Fighter Aircraft. In: SinoDefence.com. Air Forces. Aircraft. Online, 2011. Última atualização: 20 fev. 2009. Disponível em: <http://www.sinodefence.com/airforce/fighter/su30.asp>. Acesso em: 11 mai. 2011.
49
O terceiro sítio de nossa lista é o Chinese Military Aviation, mantido por um
entusiasta chinês apelidado Hui Tong. É-nos de especial interesse por ser uma fonte
semanalmente atualizada sobre a PLA-AF, inclusive com correções sobre dados
anteriormente listados. O sítio é também citado por Richard Fisher em alguns de
seus trabalhos, e indexado pelos outros dois endereços listados acima. Dele, são-
nos de interesses várias páginas, sobretudo: Su-27SK/J-11/11A Flanker,62 Su-
30MKK/MK2 Flanker,63 e J-11B Flanker.64
Além destes sítios, recorremos a muitos outros de agências noticiosas das
mais variadas, especializadas ou não: RIA Novosti, Aviation Week, Aviation
International News, etc. Há sempre o cuidado de cruzar as informações com outras
fontes, e atenção àquelas que são particularmente enviesadas (principalmente as de
origem russa). Finalmente, para refazer a trajetória geopolítica da China Comunista,
baseamo-nos num manual de história de Vizentini,65 num artigo de Page publicado
no Wall Street Journal,66 e em alguns reports de Richard Fisher, que serão citados
conforme a conveniência.
3.2 CONTEXTO HISTÓRICO
Antes de falarmos das compras e dos caças em si, convém fazer uma breve
introdução sobre a situação geopolítica da China na segunda metade do século XX,
bem como os fatores que levaram a PLA-AF a adquirir o Su-27.
3.2.1 A cooperação entre China e URSS na indústria aeronáutica
62 SU-27SK/J-11/11A Flanker. In: Chinese Military Aviation . Fighters (Cont.) Online, 2011. Última atualização: 12 mar. 2010. Disponível em: <http://cnair.top81.cn/J-10_J-11_FC-1.htm>. Acesso em: 13 mai. 2011. 63 SU-30MKK/MK2 Flanker. In: Chinese Military Aviation. Attackers. Online, 2011. Última atualização: 12 mar. 2010. Disponível em: <http://cnair.top81.cn/q-5_jh-7_h-6.htm>. Acesso em: 23 jul. 2010. 64 J-11B Flanker. In: Chinese Military Aviation. Fighters (Cont.). Online, 2010. Última atualização: 30 ago. 2010. Disponível em: <http://cnair.top81.cn/J-10_J-11_FC-1.htm>. Acesso em: 01 fev. 2011. 65 VIZENTINI, Paulo Fagundes. Manual do Candidato: História Mundial Contemporânea (1776-1991). Brasília: FUNAG, 2006. Online, 2011. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/57966140/47/A-Cisao-do-Bloco-Socialista-e-a-Alianca-Sino-Americana>. Acesso em: 10 jul. 2011. 66 PAGE, Jeremy. China Clones, Sells Russian Fighter Jets. In: The Wall Street Journal. Online, 04 dez. 2010. Disponível em: <http://online.wsj.com/article/SB10001424052748704679204575646472655698844.html>. Acesso em: 02 jun. 2011.
50
A PLA-AF foi fundada com ajuda soviética em novembro de 1949, pouco após
a criação da República Popular da China (RPC). A PLA-AF lutou a Guerra da Coréia
com caças Mikoyan MiG-15 Fagot (código da OTAN) fabricados na URSS; o
treinamento também era fornecido por este país. A guerra trouxe ainda o auxílio
soviético para a nascente indústria aeronáutica chinesa. A pioneira sínica na
montagem de caças foi justamente a então “Fábrica de Aeronaves Shenyang”, que
durante a guerra montou o treinador biposto MiG-15UTI sob a designação local “JJ-
2”, além de peças para os caças soviéticos.
A indústria aeronáutica chinesa se desenvolveu no final dos anos 1950,
através de um amplo auxílio prestado pela URSS.67 A partir do apoio dos técnicos e
consultores soviéticos, a China conseguiu rapidamente dominar a produção dos
caças MiG-17 Fresco, MiG-19 Farmer (códigos da OTAN), além do bombardeiro de
médio alcance Ilyushin Il-28 e outros aviões de guerra.68 Depois os chineses
adquiriram mais aeronaves de mesma procedência, como o bombardeiro subsônico
Tu-16, o interceptador MiG-21, o transporte médio Antonov An-12, dentre outros.
Ao cooperar estreitamente com a URSS, a China conseguiu criar uma força
aérea moderna em meados da década de 1960. Entretanto, este progresso foi
desperdiçado, e a indústria aeronáutica nacional começou a estagnar após o início
da Revolução Cultural na segunda metade da década.
3.2.2 O “Racha” Sino-Soviético
Na segunda metade da década de 1950, a cooperação militar e técnica entre
a China e a URSS entrara em crise. Isso foi causado pelo episódio que entrou para
história como o “Racha” Sino-Soviético. Os problemas começaram em 1956,
basicamente por causa de divergências ideológicas entre os líderes desses países,
67 FISHER, R. D. Jr. The Air Balance on the Taiwan Strait. In: International Assessment and Strategy Center. Online, 21 fev. 2010. Disponível em: <http://www.strategycenter.net/research/pubID.224/pub_detail.asp>. Acesso em: 20 abr. 2010. 68 KRAMNIK, Ilya. China copies obsolete Russian fighter. In: RIA Novosti . Online, 25 mar. 2008. Disponível em: <http://en.rian.ru/analysis/20080425/105928822.html>. Acesso em: 20 abr. 2010.
51
Mao Zedong e Nikita Khrushchev. O primeiro discordava das idéias de seu
congênere soviético a respeito da “coexistência pacífica” entre a URSS e o bloco
ocidental: Mao acreditava que os soviéticos deveriam manter a posição beligerante
dos tempos de Stálin contra o Ocidente, enquanto Khrushchev buscava uma
aproximação de menor confrontação direta com o mundo capitalista. Além disso,
havia a disputa interna no bloco socialista sobre qual país lideraria a revolução
comunista mundial, se seria a URSS ou a China. Como resultado, os desacordos
entre os dois países só cresceram, levando os comunistas chineses a denunciarem
formalmente seus pares da URSS em 1961 como sendo “o grupo traidor revisionista
da liderança soviética”. No ano seguinte, os dois países romperam relações; por
volta desta época, todos os consultores e técnicos soviéticos abandonaram o país.
Os contatos bilaterais esfriaram completamente durante a Revolução Cultural
Chinesa, entre 1966-1976. Com o passar dos anos, as tensões aumentaram,
culminando em 1969 com escaramuças na região de fronteira entre os dois gigantes
comunistas. Cogitou-se até mesmo uma guerra nuclear entre URSS e China.
3.2.3 A “Lua de Mel” entra a China e o Ocidente
Durante as décadas de 1960 e 1970, a China falhou em desenvolver
quaisquer novas aeronaves. O “Racha” Sino-Soviético e a Revolução Cultural nos
anos 1960 isolaram o país do exterior; em conseqüência, o setor aeroespacial
chinês permaneceu relativamente estático, devido ao caos político, ao
subfinanciamento e à falta de contato com novas tecnologias estrangeiras. Tudo isso
prejudicou muito o progresso técnico do setor, e o máximo que ele pôde conseguir
foi fabricar o avião de ataque Q-5 Fantan (código da OTAN) e prosseguir o
desenvolvimento do J-8 Finback (código da OTAN) – versões altamente modificadas
dos caças de segunda geração MiG-19 e MiG-21, respectivamente. Enquanto isso,
tanto os Estados Unidos quanto a União Soviética estavam desenvolvendo os caças
de quarta geração por volta da mesma época. A China exportou a maioria de seus
aviões de guerra obsoletos para países pobres do Terceiro Mundo, tais como
52
Albânia, Uganda e Bangladesh. Ela também exportou suas aeronaves para o
Paquistão – inimigo histórico da Índia – que se tornou seu aliado contra esta última.
Nesse meio tempo, após romper com a URSS e passando pela traumática
Revolução Cultural, em 1971 Mao chegara à conclusão de que a China estava se
isolando perigosamente no cenário internacional. Ela havia cortado relações com a
União Soviética, ficando praticamente só no bloco comunista, e permanecia hostil
aos países capitalistas. Com isso, não lhe restaram muitos amigos. Para contornar
essa situação, o premiê chinês decidiu buscar uma aproximação com os EUA, a fim
de livrar o país dessa condição de isolamento. O presidente americano à época,
Richard Nixon (1969-1974), e seu Secretário de Estado, Henry Kissinger, viram no
contato com a China Maoísta a oportunidade de inserir um novo ator no cenário
bipolar da Guerra Fria, criando uma espécie de “tripolaridade estratégica” que
deixava a URSS em severa desvantagem.69 As administrações posteriores Carter
(1977-1981) e Reagan (1981-1989) continuaram esta parceria estratégica com os
chineses.
A aproximação da China com o Ocidente logrou frutos. O país adquiriu, ao
longo dos anos 1970 e 1980, armas dos EUA e de seus aliados, como Israel,
França, Grã-Bretanha, Itália. Exemplos dessa fase de cooperação militar com o
Ocidente foram as compras chinesas de mísseis ar-ar Aspide italianos, mísseis ar-ar
Python-3 e o projeto do caça Lavi israelense, a fabricação sob licença do motor
turbofan inglês Spey Mk. 202, os helicópteros Super Frelon e Daulphin além dos
mísseis superfície-ar Crotale franceses, os helicópteros Black Hawk e o motor
turbofan CFM-56II americanos. Com essas compras, o país conseguiu adquirir boa
parte da tecnologia desses produtos, seja através de produção licenciada ou de
engenharia reversa.70
Apesar destes progressos, em meados da década de 1980 a indústria
aeronáutica chinesa ainda estava atrasada em relação aos EUA e URSS de 15 a 20
69 VIZENTINI, 2006, p. 264 70 A engenharia reversa é, de um modo geral, o processo de extrair tecnologia ou conhecimento de um artefato feito pelo homem. A prática da engenharia reversa começa com um produto ou processo acabado, e retroage nele de forma lógica para descobrir a sua tecnologia subjacente usada para construí-lo. Consiste em buscar, a partir de um produto acabado, a origem da idéia, de modo a permitir o entendimento de seu funcionamento, bem como do respectivo processo de elaboração. Seu principal objetivo é absorver a tecnologia utilizada na fabricação de um objeto.
53
anos. Para minorar essa situação, o país importou muitas tecnologias ocidentais,
tais como o Desenho Assistido por Computador (CAD, sigla em inglês), que foi
largamente utilizado no projeto dos caças J-7E e J-8IIB/D. Outro exemplo digno de
nota foi a aquisição em 1988 do projeto cancelado do caça IAI Lavi israelense.
Assumido pelos chineses, décadas mais tarde ele viria a culminar no caça J-10, da
Chengdu Aircraft Corporation (CAC).
3.2.4 O Massacre de Tiananmen e o embargo contra a China
Esse período de “lua de mel” entre a China e o Ocidente chegou ao fim em
1989. Desde o final dos anos 1970, sob a influência de Deng Xiaoping, a China
vinha adotando um programa de reformas e abrindo sua economia aos
investimentos estrangeiros, criando um sistema misto que combinava a planificação
estatal e a economia de mercado com relativo sucesso. Essas reformas, porém,
ficaram restritas ao campo econômico, não sendo acompanhadas por distensões no
campo político: o Partido Comunista Chinês permaneceu centralizando rigidamente
o poder em suas mãos. Mas na metade final da década de 1980, os ecos da
Perestroika (abertura política na URSS iniciada pelo então líder do país, Mikhail
Gorbatchov) chegaram aos chineses, e muitos setores da população aderiram com
entusiasmo ao movimento reformista, notadamente os estudantes. Em 1989, estes
se concentraram na Praça da Paz Celestial (Tiananmen), ponto de convergência
desse confronto, que premeditadamente ocorria durante as comemorações do
Movimento de 4 de maio de 1919 e a visita de Gorbachov, que deveria encerrar as
três décadas de divergência sino-soviética (que começou no “Racha”). Temerosos
de perder o controle da situação, pois até mesmo dirigentes políticos e militares
chineses simpatizavam com os reformistas, a linha dura do Partido mandou tropas
[pouco informadas] vindas da Manchúria para reprimir violentamente o movimento,
causando centenas de mortes entre os estudantes. O episódio passou à história
como o “Massacre na Praça da Paz Celestial” (Fig. 12), e gerou repercussões
imediatas mundo afora: ele foi condenado com grande ênfase pela mídia e governos
ocidentais. Quase imediatamente, os EUA e a União Europeia levantaram um
embargo na venda de armas contra a China, e a imagem desta, antes vista como
54
um país reformista e valioso aliado contra a União Soviética, foi substituída pela de
um regime autoritário e repressivo. Como resultado, os chineses tiveram de buscar
outros fornecedores que não os ocidentais para proceder com a modernização de
suas forças armadas.
Figura 12: cena clássica do “Homem dos Tanques”, como ficou conhecido o misterioso homem que ganhou fama em todo o mundo como figura heróica após ser filmado e fotografado durante os protestos na Praça da Paz Celestial em Pequim, em 05 jun. 1989. Várias fotografias foram tiradas do homem, que ficou em pé em frente a uma coluna de tanques chineses Type 59, forçando-os a parar. (http://www.neverforever.net/wp-content/uploads/2009/06/imagetank.jpeg, acessado em 02 nov. 2011).
3.2.5 Pequim se volta novamente para Moscou em busc a de armas
Em 1982 os chineses haviam reatado relações diplomáticas com a URSS,
fruto de mudanças internas no Partido Comunista Chinês. Do ponto de vista político,
nos anos 1980, as políticas do premiê chinês Deng Xiaoping de “buscar a verdade
dos fatos” e enfatizar o “caminho chinês para o socialismo”, indicaram que o Partido
havia perdido o interesse em preocupações com ideologia, tais como a denúncia do
revisionismo soviético. Em 1985, com a ascensão ao poder de Gorbatchov na
URSS, as relações entre os dois países aumentaram, embora tenham permanecido
frias. Ponto digno de nota foi a já citada visita do líder soviético à China, em Maio de
1989. Neste ano, Moscou e Pequim assinaram uma série de acordos de cooperação
55
militar-tecnológica que facilitaram muito a transferência de tecnologia da primeira
para a segunda.
O Massacre da Praça da Paz Celestial e o seguinte embargo de venda de
armas ocidental contra a China, em 1989, além da dissolução da URSS, em 1991,
convergiram para intensificar as relações comerciais e militares Moscou-Pequim.
Antes de 1991, os russos não fechavam um acordo bélico de grande porte com a
China desde o “Racha” Sino-Soviético na década de 1950, que levou inclusive ao
Conflito Fronteiriço Sino-Soviético em 1969. Mas um Kremlin falido e desesperado
por recursos financeiros precisava urgentemente de compradores para os únicos
produtos de alta tecnologia de que dispunham: armas.
Ao mesmo tempo, o fim da ameaça soviética fez a China mudar o foco de
seus gastos militares: sem mais temer uma possível invasão da URSS por terra, ela
passou a buscar defender áreas que considera seu território, como Taiwan (a
“Província Rebelde”), e partes do Mar do Leste da China e do Mar do Sul da China
(como as Ilhas Spratly, disputadas por China, Taiwan, Filipinas, Vietnã e Malásia).
Os chineses também ficaram profundamente impressionados com a exibição
do poder americano em 1991, durante a Guerra do Golfo. Os EUA e seus aliados
derrotaram o Iraque em pouca mais de um mês, sofrendo pouquíssimas baixas.
Para preocupação dos chineses, eles usavam em grande parte as mesmas táticas,
equipamentos e doutrina militar utilizados pelos iraquianos, os quais sofreram uma
derrota humilhante no conflito.
A nova orientação estratégica da China, voltada para a projeção de poder
aeronaval sobre ilhas, e a esmagadora superioridade militar americana, exigiam a
modernização de suas Forças Armadas. Entretanto, o embargo ocidental
prejudicava fortemente esse intento. Pequim então se voltou para quem poderia lhe
fornecer as novas armas de que tanto necessitava: Moscou. De 1991 aos 15 anos
seguintes, a Rússia se tornou o maior fornecedor de armas para a China, vendendo
entre US$ 20 bilhões e US$ 30 bilhões em caças, destróieres, submarinos, tanques
e mísseis. E o primeiro item nessa nova era de cooperação militar entre os dois
países foi justamente o Su-27.
56
3.3 A CHINA COMPRA O SU-27
Durante a década de 1980, o Su-27 era a joia cuidadosamente guardada da
Força Aérea Soviética, sem qualquer expectativa de exportação. Ele continuaria
assim a tradição de alguns caças soviéticos anteriores, como o Tu-128 e o Su-15.
Mas os novos e difíceis tempos da década de 1990 forçaram os russos a
disponibilizar o caça para venda, no mercado estrangeiro.
Negociações de alto nível entre Pequim e Moscou sobre uma possível venda
de caças começaram em 1990.71 Os pilotos soviéticos demonstraram o Mikoyan-
Gurevich MiG-29 Fulcrum e o Sukhoi Su-27 Flanker em Pequim, em março de 1991.
Após gostarem do que viram e uma avaliação cuidadosa, a China assinou um
contrato, neste mesmo ano, para a compra de 26 caças Su-27 especialmente
desenvolvidos para o país, no valor de US$ 1 bilhão.72 Eram eles: 20 monopostos
Su-27SK (código da OTAN: Flanker-B) e seis bipostos Su-27UBK (Fig. 13; código da
OTAN: Flanker-C), além de duas fuselagens para instrução em solo.73 A entrega
dessas aeronaves foi concluída em 1992, tornando a China o primeiro país não-
membro da CEI (Comunidade dos Estados Independentes) a adquirir o Su-27. Estes
aviões foram inicialmente operados pelo 9º Regimento de Caças da 3ª Divisão de
Aviação, destacado na Base Aérea de Wuhu, Província de Anhui, que se tornou a
primeira unidade da PLA-AF a operar caças de quarta geração. Posteriormente,
esses caças foram realocados para a Base Aérea de Liancheng.74
Depois de mostrar interesse, em 1993, na aquisição de um segundo lote de
Su-27, a República Popular da China comprou mais 22 caças (16 Su-27SKs e 6 Su-
27UBKs) em 1995, num acordo avaliado em cerca de 700~710 milhões de dólares.
O contrato continha uma cláusula estipulando que a Rússia deveria treinar 200
pilotos chineses para voar no Flanker; mas os sínicos rejeitaram a cláusula,
alegando que a PLA-AF tinha seus próprios instrutores qualificados, que já haviam
71 Su-27SK/UBK Air Superiority Fighter Aircraft. In: SinoDefence.com. , 2008. 72 Ou 24 caças; o número exato varia nas fontes. 73 J-11 [Su-27 FLANKER] Su-27UBK/Su-30MKK/Su-30MK2. In: GlobalSecurity.org. , 2011. 74 GORDON, 2007, p. 560
57
feito seu curso de treinamento de Su-27 na Rússia.75 Num relatório às Nações
Unidas, tanto a China quanto a Rússia confirmaram que a transferência de 22
aeronaves teve lugar em 1996. Uma fonte russa indicou que a China solicitou
modificações especiais em suas aeronaves, incluindo trem de pouso reforçado para
permitir aos caças transportar carga completa de combustível (superior às nove
toneladas), e dessa forma utilizar seu raio de combate máximo, ao redor dos 1.500
km. Essas aeronaves são operadas por um regimento de aviação orgânica à 2ª
Divisão de Aviação da PLAAF, destacada na Base Aérea de Suixi, Província de
Guangdong. As compras de 1991 e 1995 somaram ao todo US$ 1,7 bilhão de
dólares.
Figura 13: Su-27UBK número de série 11032, visto aqui desarmado. A maciça introdução dos caças Su-27 de quarta geração na PLA-AF não se fez sem dificuldades. O esforço de transição tecnológica recaiu principalmente sobre os treinadores de combate Su-27UBKs, de dois acentos (http://cnair.top81.cn/gallery/Su-27UBK_02a.jpg, acessado em 25 jun. 2011).
No final da década de 1990, ficou claro aos chineses que o número de Su-
27UBK adquirido era desproporcionalmente baixo: faltavam aviões de treinamento
suficientes para preparar os novos pilotos de Su-27 da PLA-AF. Isso levou a compra
de um terceiro lote de 28 caças em 1999, todos da variante biposta de
combate/treinamento Su-27UBK, da fábrica russa Irkutsk. Esses aviões foram
fabricados pelos russos “de graça”, como pagamento de parte da dívida que o
Estado russo tinha com a China. Os caças foram entregues de 2000 a 2002, e
destacados no Centro de Treinamento e Testes de Voo (FTTC, sigla em inglês), em
Cangzhou, Cangxian.
75 Ibid., p. 561.
58
3.4 OS SU-27SK/UBK E SUA INTEGRAÇÃO NA PLA-AF
Apesar das numerosas customizações nas aeronaves vendidas, feitas pelos
russos a pedido dos chineses, os Su-27SK/UBK acordados eram muito semelhantes
aos Su-27/UB em uso na Força Aérea Russa. Como recebidos em 1992/1996, os
Su-27 sínicos estavam equipados com um radar NIIP Tikhomirov N001E Myech, do
tipo pulse–doppler e com arranjo parabólico giratório, com capacidade de “buscar
enquanto varre” e de “olhar e atirar para baixo”. O alcance máximo de busca é de
140 km, e o de engajamento de alvos em torno dos 80~100 km no hemisfério frontal
e 40 km no traseiro, para um objeto do tamanho de um caça. Ele pode rastrear
simultaneamente até 10 alvos; porém, quando engaja um deles, o N001 perde os
nove restantes, e tem de reiniciar um novo processo de rastreamento após o
engajamento. Usa um processador russo TS100 relativamente primitivo, vulnerável a
alarmes falsos e pontos cegos, difícil de manejar. Acredita-se que os Su-27UBKs do
terceiro lote (2000-2002) sejam equipados com o radar N001VE, capaz de engajar
até dois alvos simultaneamente com os mísseis R-27 semi-ativos e o R-77 com
guiagem por radar ativo, pois há fotos desses caças equipados com tais mísseis.76
Figuras 14 e 15: à esquerda, serventes da PLA-AF conduzindo um míssil de médio alcance guiado por radar semi-ativo R-27R1 para um Su-27; à direita, os mísseis de curto alcance guiados por infravermelhos R-73E, sobre um reboque de municiamento. Junto com os Su-27SK e Su-27UBK, a PLA-AF adquiriu os mísseis R-27, nas variantes R-27R1 (guiagem por radar semi-ativo) e R-27T1 (guiagem por infravermelho), além dos mísseis R-73E, de curto alcance e guiados por infravermelho. Estes últimos eram o estado da arte em mísseis de curto alcance, na década de 1990: quando operados junto com a mira montada no capacete (HMS) dos Su-27SK, eles formavam uma combinação letal para quaisquer oponentes, como os F-16 de Taiwan (http://www.sinodefence.com/airforce/weapon/images/r27_01.jpg; http://www.sinodefence.com/airforce/weapon/images/r73_01.jpg, acessado em 26 jun. 2011).
76 Su-27SK/J-11/11A Flanker. In: Chinese Military Aviation , 2011.
59
Além do radar, as aeronaves contavam com um sistema eletro-ótico OEPS-
27, que consistia numa unidade de busca e rastreio por infravermelho (IRST, sigla
em inglês) OLS-27, colimado com um telêmetro laser. Ambos são alojados numa
pequena redoma, centralizada imediatamente a frente do cockpit (cabine). O sistema
adquire e rastreia alvos aéreos através da assinatura térmica destes. O alcance de
detecção do OLS-27 fica entre 15 e no máximo 50 km, dependendo do ângulo do
alvo e das condições atmosféricas. Para melhor desempenho no combate a curta
distância, o piloto é auxiliado por uma mira montada no capacete (HMS, sigla em
inglês) NTSt-27. O HMS e o telêmetro laser do IRST podem ser usados para adquirir
visualmente e determinar as coordenadas de alvos aéreos.
Os Su-27 dispunham ainda de um sistema de indicação integrado SEI-31, que
provê dados de voo, navegação e combate no visor a altura dos olhos (HUD, sigla
em inglês) ILS-31 e no único visor monocromático do painel. Contavam com um
sistema de guerra eletrônica para autodefesa, empregando tanto contramedidas
ativas quanto passivas. Eram eles o indicador aviso de ameaças SPO-15LM
Beryoza e o dispersador de iscas APP-50, além dos pods de guerra eletrônica
Gardenya/Sorbtsiya, montados nas pontas das asas.
Seu armamento consistia num canhão interno fixo GSh-301 de 30mm, com
150 tiros. Externamente, os aviões possuíam dez pontos duros para fixação de
munições (dois sob a fuselagem central, dois sob as tomadas de ar, quatro sob as
asas e mais dois nas pontas das asas). A estrutura dos Su-27SK chineses foi
reforçada, tornando-os capazes de transportar até 8.000 kg de armas (enquanto o
Su-27 original russo levava no máximo 4.000 kg). Para combate a curta distância
(dogfight, em inglês), o Su-27 era equipado com o então revolucionário missíl ar-ar
Vympel R-73E (Fig. 15; codinome na OTAN: AA-11 Archer), guiado por
infravermelho (IR, sigla em inglês) e com até 15 km de alcance. Operando em
conjunto com a mira montada no capacete NTSt-27, a combinação R-73 + NTSt-27
transformava o Su-27 numa séria ameaça para qualquer outro caça de quarta
geração em combates aproximados. Para o combate além do alcance visual, o
Flanker contava com o R-27 (Fig. 14; codinome na OTAN: AA-10 Alamo), nas
variantes R-27T1, guiada por IR, e R-27R1, guiada por radar semi-ativo, com
alcances máximos respectivos de 30 e 35 km, ambas versões de exportação
60
degradadas. Em uma típica missão de interceptação, o caça era equipado com
quatro mísseis R-73 e seis mísseis R-27. Alternativamente, ele poderia ser equipado
com dois mísseis R-73, seis mísseis R-27, e dois pods (casulos) de guerra eletrônica
KNIRTI SPS-171/L005 Gardenya/Sorbtsiya, nas pontas das asas e para autodefesa.
Figura 16: um caça de quarta geração F-16, da força aérea taiwanesa, libera flares em Dezembro de 2008, durante um treinamento em Paolishan, sul de Taiwan. A aquisição dos Su-27SK/UBK por parte da PLA-AF forçou os EUA a venderem os caças F-16A para Taiwan, a fim de manter o equilíbrio aéreo militar entre as duas “Chinas”. (http://www.defensenews.com/pgf/stories56/052911_afp_taiwan_f16_315.JPG, acessado em 25 jun. 2011).
Essa combinação deu à PLA-AF uma inédita capacidade ofensiva, tanto nos
dogfights a curta distância quanto nos combates BVR (Beyond Visual Range, sigla
em inglês) de longo alcance.77 O Su-27 foi o primeiro caça de 4ª geração da PLA-
AF, ampliando consideravelmente o poder de combate da força. A PLA-AF agora
dispunha de uma aeronave de superioridade aérea pesada capaz de enfrentar seus
modernos congêneres ocidentais de quarta geração. A Força Aérea Taiwanesa foi
obrigada a acompanhar o passo, adquirindo os caças F-16 (Fig. 16) dos EUA.
Os Su-27 foram demonstrados ao público pela primeira vez durante os
exercícios conjuntos da PLA (Forças Armadas Chinesas, sigla em inglês) em março
de 1996, cujo objetivo era intimidar Taiwan. Na ocasião, a China Central Television
(CCTV) transmitiu imagens de Su-27s da PLA-AF voando em formações de quatro
caças, e atacando alvos em solo com bombas e foguetes “burros” (Fig. 17).78 Esses
exercícios demonstraram claramente a capacidade de bombardeio dos J-11,
sugerindo que talvez o radar e o software do computador de missão desses caças
tenham recebido aprimoramentos, a fim de disparar suas munições não guiadas
77 Su-27SK/J-11/11A Flanker. In: Chinese Military Aviation , 2011. 78 Isto é, sem guiagem.
61
com alta precisão.79 Mais tarde, no verão de 1999, Su-27s baseados em Suixi
também voaram missões de ida e volta sobre o Estreito de Taiwan, durante outros
exercícios conjuntos da PLA. Vários Su-27s foram severamente danificados durante
um tufão em 1998, além de mais alguns outros perdidos durante voos de treino, ao
longo dos anos. Para repor essas perdas, os russos venderam Su-27SKs adicionais
aos chineses, provavelmente aeronaves usadas.
Figura 17: Su-27SK “49 azul”, carregando trinta bombas “burras” de 250 kg cada, totalizando quase oito toneladas de armas. Os Su-27SK sínicos foram vistos em diversas ocasiões disparando armamento ar-terra não guiado, como nos exercícios da PLA em 1996. Notar a pintura do “nariz” típica dos Su-27 chineses: uma semi-elipse que se inicia no radome e se prolonga na fuselagem (http://www.ausairpower.net/000-Su-27SK-MER-S.jpg, acessado em 25 jun. 2011).
A integração do Su-27 na PLA-AF foi difícil, particularmente no tocante ao
treinamento dos pilotos e custos de manutenção, além das táticas de combate e
conceitos operacionais. Tais problemas são compreensíveis: por décadas, a
estrutura básica da Força Aérea Chinesa esteve centrada em tecnologia dos anos
1950, na forma dos caças de 2ª geração J-6 e J-7 (desenvolvidos a partir de
engenharia reversa dos MiG-19 e MiG-21 soviéticos, respectivamente). O J-6 só deu
baixa na década de 2000; as versões mais recentes do J-7 continuam em operação.
O caça mais avançado de que dispunham era o J-8B (ou J-8II), que entrara em
serviço na década de 1990; mas este ainda era de 3ª geração, no mesmo nível
79 J-11 [Su-27 FLANKER] Su-27UBK/Su-30MKK/Su-30MK2. In: GlobalSecurity.org. , 2011.
62
tecnológico básico do F-4E80 americano ou do Su-15 soviético, ambos da década de
1960. Para explicitar o atraso chinês, basta ter em mente que os caças de 4ª
geração começaram a ser desenvolvidos pelos EUA e URSS nos anos 1970,
entrando em serviço em massa na década de 1980; os F-4E deram baixa nesta
mesma década, enquanto os Su-15 na de 1990.
Para os chineses, ter em mãos um caça de 4ª geração como o Su-27 foi um
choque, e a transição para uma nova estrutura de força, centrada em aeronaves
topo de linha mundialmente, não seria feita sem problemas. Ela se deu de forma
lenta, à medida que a China integrava as novas tecnologias e capacidades
adquiridas. Na década de 1990, cada Su-27 sínico acumulou centenas de horas de
voo por ano, em especial os treinadores de combate Su-27UBK, nesse esforço de
transição tecnológica dos pilotos chineses. Esta fase de aprendizado prolongada
permitiu ao país se preparar para a introdução de grandes números de caças de 4ª
geração. Por volta de 2002, os novos Su-27 e Su-30 adquiridos foram integrados
muito mais rapidamente nas unidades operacionais. Enquanto isso, as táticas de
combate aéreo continuavam evoluindo, e o treinamento se tornou mais avançado.
Figuras 18 e 19: à esquerda, Su-27SK número de série “08 Azul”/30008, fotografado em serviço na década de 1990. Notar dois casulos de foquetes não-guiados montados na asa esquerda, para ataque ao solo. À direita, o mesmo exemplar, porém descomissionado no ano de 2009. Essa foto foi tirada por um entusiasta chinês enquanto era rebocada por um caminhão em via pública. Trata-se de um dos 24 (ou 26) Su-27 comprados no primeiro lote, em 1991, que permaneceram quase 20 anos em serviço. Na imagem, vê-se a célula do avião com a vida útil expirada; todos os acessórios e demais componentes do caça foram removidos, pois alguns ainda podem ser utilizados como peças sobressalentes nas demais aeronaves em operação. É o que costuma ser chamado de “canibalização” no meio aeronáutico (http://2.bp.blogspot.com/_3wZSwFvZzqM/SdkUJ68TmZI/AAAAAAAACEU/DYJT8EW3rus/s400/Su-27-081238479375_44401.jpg; http://3.bp.blogspot.com/_3wZSwFvZzqM/SdkUFtslGjI/AAAAAAAACEE/vqUb49owhEM/s400/Su-27-08-1238479375_68587.jpg, acessado em 26 jun. 2011).
80 Caça que já foi operado pelas Forças Armadas dos EUA, icônico da terceira geração, e discutivelmente o melhor representante desta.
63
Para descobrir o quanto os pilotos sínicos desses caças voam por ano,
atentemos para o seguinte fato. Em 2009, os 24~26 Su-27 comprados pela China no
primeiro lote, em 1991, começaram a dar baixa no inventário da PLA-AF (Fig. 18 e
19).81 Levando em conta que a vida útil da célula do Su-27SK é de 5.000 horas de
voo, e assumindo ser a prática da PLA-AF destacar dois pilotos para cada aeronave,
esse fato revela que cada piloto chinês de Su-27 tem aproximadamente: 5.000/18/2
= aproximadamente 140 horas de voo por ano. Isso é menos do que os pilotos
ocidentais costumam voar, mas sem dúvida tempo considerável para uma
proficiência adequada no manejo desses caças.
As limitações do Su-27, porém, logo ficaram patentes à PLA-AF. De um modo
geral, eles gostaram do avião, mas não da tecnologia de fins da década de 1980
presente em seus aviônicos e sistemas. Algumas partes dele tinham uma vida útil
muito curta, o que causava um alto índice de acidentes técnicos. Problemas com o
sistema IRST do caça também eram muito freqüentes, restringindo o uso dele em
treinamentos regulares da PLA.82 Mais importante do que isso, os Su-27SK/UBK
foram projetados originalmente como caças de superioridade aérea e
interceptadores dedicados, e só poderiam realizar missões de ataque secundárias,
com o uso de armas não-guiadas (ou “burras”), incluindo várias bombas de queda
livre e foguetes não-guiados, tal como nos exercícios de 1996. Usar esse tipo de
munições em combate expõe o caça a um risco excessivo, pois ele tem de atacar à
baixa altitude, ficando à mercê dos sistemas de defesa antiaérea do inimigo. Esse
fator levou, no final dos anos 1990, os chineses a adquirir o caça multimissão Su-
30MKK.
81 CHINESE Su-27s Die Of Old Age. In: Military News Humor Photos – Strategy Page. Online, 07 abr. 2009. Disponível em: <http://www.strategypage.com/htmw/htatrit/20090407.aspx>. Acesso em: 04 jun. 2010. DECOMMISSION of PLAAF’s Su-27 has started. In: China Defense Blog. Online, 05 abr. 2009. Disponível em: <http://china-defense.blogspot.com/2009/04/decommission-of-plaafs-su-27-has.html>. Acesso em: 26 jun. 2011. Esta última entrada é particularmente interessante, pois as fotos nela contidas foram tiradas por populares que puderam presenciar fuselagens dos Su-27 canibalizados, enquanto eram rebocadas pela rua. 82 CHENG, Andrei. Analysis: China imitates Su-27SK. In: Space War: Your Word at War. Online: Hong Kong, 25 fev. 2008. Disponível em: <http://www.spacewar.com/reports/Analysis_China_imitates_Su-27SK_999.html>. Acesso em: 20 abr. 2010.
64
3.5 A CHINA COMPRA OS CAÇAS MULTIMISSÃO SU-30MKK/MK2
As negociações entre a China e a Rússia sobre a compra dos então Su-30MK
(Fig. 20) começaram ainda em 1996. O Escritório de Projetos da Sukhoi começou a
projetar, em 1997, um avião de ataque biposto especialmente para a PLA-AF. Este
avião seria baseado no Su-30MK, variante multimissão de exportação do
interceptador Su-30 (Su-27PU), e seu nome foi definido como Su-30MKK
(Modernizirovannyi Kommercheskiy Kitayski = Modernizado, Comercial, China). Pelo
acordo, a unidade de produção de Komsomolsk-on-Amur (KnAAPO) foi escolhida
como o contratante principal para construir o avião. O contrato de compra de 38
aviões Su-30MKK foi avaliado em US$ 1,85~2 bilhões, e assinado oficialmente em
agosto de 1999.83 Todas as aeronaves foram entregues entre 20 de dezembro de
2000 e o final de 2001.
Figura 20: Su-30MKK chinês expondo algumas de suas armas guiadas de precisão ar-superfície. Da esquerda para a direita: dois mísseis anti-radiação Kh-31P (código da OTAN: Krypton); um míssil de cruzeiro guiado por TV Kh-59ME Ovod; e uma bomba guiada por TV KAB-1500Kr. Além dessas armas, os Su-30MKK retêm toda a capacidade ar-ar do Su-27, com a adição de um radar melhorado N001VEP e mísseis guiados por radar ativo R-77 (http://www.ausairpower.net/KnAAPO-Su-30MKK-5.jpg, acessado em 26 jun. 2011).
83 Su-30MKK Multirole Fighter Aircraft. In: SinoDefence.com , 2009. Su-30MKK/MK2 Flanker. In: Chinese Military Aviation , 2010.
65
A PLA-AF ficou tão satisfeita com as aeronaves que adquiriu mais 38 Su-
30MKK adicionais em julho de 2001, por US$1,5 bilhões, totalizando 76 aviões do
modelo ao todo.84 Todos foram entregues à 18ª Divisão da PLA-AF, estacionada na
Base Aérea de Changsha. Seu desempenho na Força Aérea interessou a Aviação
da Marinha Chinesa (PLA-NAF), tanto que, em janeiro de 2003, ela adquiriu por no
mínimo 1 bilhão de dólares 24 caças Su-30MK2, uma versão mais avançada do
MKK original. Ele dispõe de um radar N001VEP melhorado, capaz de disparar os
mísseis anti-navio Kh-31A e Kh-59MK atacando dois alvos simultaneamente. Todos
foram entregues à China em agosto de 2004.
Mais avançados e poderosos do que os JH-7 de fabricação nacional operados
pela Marinha Chinesa, os Su-30MKK foram os primeiros caças-bombardeiros
operados pela PLA-AF capazes de transportar uma ampla gama de munições
guiadas de precisão ar-superfície russas, incluindo mísseis guiados por TV (Kh-29D
e Kh-59ME), mísseis anti-radiação (Kh-31P) e bombas guiadas por TV (KAB-500KR
e KAB-1500KR). Além disso, ele também podia transportar pods de guerra
eletrônica Gardenya/Sorbtsiya nas pontas das asas, bem como o pod eletro-ótico
Sapsan-E EO (que combina câmara de televisão e designador laser) e o pod de
datalink (troca de dados) APK-9, para uso conjunto com até dois mísseis Kh-59ME.
Sua carga bélica máxima é de 8.000 kg, e o alcance pode chegar a até 5.200 km
com reabastecimento em voo, embora a China ainda não disponha de um avião-
tanque apropriado (como p. ex. o Il-78 russo). A aeronave possui cockpit com
monitores de TRC (tubo de raios catódicos), um radar de controle de fogo N001VE
(100 km de alcance contra caças, capaz de engajar dois destes simultaneamente,
além de vários modos ar-superfície) que pode utilizar o míssil ar-ar guiado por radar
ativo R-77E. O Su-30MKK pode ser usado como um mini-posto de comando aéreo,
capaz de direcionar até 16 outras aeronaves do mesmo tipo via datalink (troca de
dados), a fim de engajar aviões inimigos. Ao contrário dos Su-30MKI indianos, os
“MKK” chineses não possuem canards (superfícies de controle) frontais, nem
motores com vetoração de empuxo ou radares com varredura eletrônica, mas
justamente por serem mais simples puderam ser entregues dois anos e meio mais
cedo, e completos. Essa aeronave deu à PLA-AF um poderoso caça-bombardeiro,
84 GORDON, 2007, p. 564.
66
na mesma classe do F-15E dos EUA, e capaz de afetar o equilíbrio militar local.
Atualmente, os primeiros 19 Su-30MKKs estão baseados na Base Aérea de Wuhu,
no Sudeste da China e ao alcance de Taiwan e do Mar do Sul da China, enquanto
os outros 19 estão destacados no Centro de Treinamento e Testes de Voo da PLA-
AF.
Em maio de 2002, os pilotos de Su-30MKK da PLA-AF começaram a praticar
o lançamento de mísseis ar-superfície de médio alcance Kh-59ME Ovod. Em pouco
tempo eles dominaram o uso do míssil ar-superfície Kh-29TE, do míssil anti-radiação
Kh-31P, da bomba guiada de precisão KAB-500Kr, e do míssil ar-ar de médio
alcance guiado por radar ativo R-77E.
3.6 SU-27 PRODUZIDO SOB LICENÇA, O J-11
Em 1995, após receber 48 caças Su-27SK, a China expressou interesse em
adquirir a licença para co-produção desse monoposto. Em 06 de dezembro de 1996,
a então organização de vendas militares russa Rosvo'oruzheniye (hoje
Rosoboronexport) e a Shenyang Aircraft Corporation (SAC) assinaram um contrato
no valor de US$ 2,2~2,7 bilhões para a co-produção de 200 caças Su-27SK, sob a
designação local J-11 (Fig. 21).85 Sob os termos do acordo, a Rússia supriria
inicialmente 95 (ou 105 – as fontes variam sobre o número exato de kits do primeiro
e segundo lotes), e depois 105 kits de peças para a montagem local dos caças Su-
27, sendo 200 ao todo. Os chineses ficavam proibidos de reexportá-los para outros
países. A produção doméstica dos Su-27SKs deveria prosseguir com assistência do
lado russo, através de transferência tecnológica. O acordo especificava
85 RUSSIA may sue China over pirated fighter. In: Business Standard . Online, 22 abr. 2008. Disponível em: <http://www.business-standard.com/india/storypage.php?tp=on&autono=36059>. Acesso em: 24 abr. 2011. AFTER counterfeit Levi's, counterfeit fighter jets. In: The Observers – France 24. International News. Online, 18 mai. 2008. Disponível em: <http://observers.france24.com/en/content/20080519-counterfeit-fighter-planes-russia-china>. Acesso em: 21 jul. 2010. BARRIE, Douglas. Chinese J-11B Presages Quiet Military Revolution. In: Aviation Week . Online, 5 nov. 2006. Disponível em: <http://www.aviationweek.com/aw/generic/story_generic.jsp?channel=awst&id=news/aw110606p2.xml>. Acesso em: 20 abr. 2010. GORDON e KOMISSAROV, 2008, p. 84.
67
explicitamente as áreas específicas de transferência tecnológica, e o cronograma
correspondente.86 No decorrer da montagem dos 200 Su-27SKs planejados, todos
os componentes principais, incluindo motores, sistemas de radar, aviônicos e armas
seriam supridos por companhias russas, sem qualquer transferência tecnológica,
enquanto as demais partes do avião (como a fuselagem, sistema de força etc.)
seriam de responsabilidade chinesa e com repasse de tecnologia. Os kits para as
primeiras 60 aeronaves eram fechados, compostos unicamente por peças russas;
entretanto, o conteúdo sínico nos caças montados seria crescente durante toda a
produção, podendo chegar até aos 70% nas últimas aeronaves.87 A Rússia licenciou
a co-produção dos Su-27 para a SAC, que poderia produzir de quinze a vinte deles
por ano. Em junho de 1997 os chineses receberam o conjunto total dos esquemas
de fabricação e outros documentos associados à licença de produção.
Figura 21: um exemplar de J-11, Su-27SK fabricado sob licença na China (http://cnair.top81.cn/fighter/J-11-50.jpg, acessado em 28 jun. 2011).
Os dois primeiros caças construídos na fábrica da Shenyang ficaram prontos
no final de 1998, e o voo inaugural teve lugar em 16 de dezembro de 1998.88
Entretanto, a manufatura local se revelou sofrível, e os dois exemplares
apresentaram vários problemas de controle de qualidade, ao ponto de técnicos
86 CHENG, Andrei. Russia upset by China’s imitation fighter. In: UPI Asia . Online, 25 abr. 2008. Disponível em: <http://www.upiasia.com/Security/2008/04/25/russia_upset_by_chinas_imitation_fighter/5808/ >. Acesso em: 09 mar. 2011. 87 DONALD, David. Pair of Chinese fighter planes form PLAAF’s high-low mix. In: Aviation International News . Online: Cingapura, fev. 2008. Disponível em: <http://www.ainonline.com/airshow-convention-news/singapore-air-show/single-publication-story/article/pair-of-chinese-fighter-planes-form-plaafs-high-low-mix/?no_cache=1>. Acesso em: 09 mar. 2011. Su-27SK/J-11/11A Flanker. In: Chinese Military Aviation , 2010. 88 Su-27SK. Historical background. In: Sukhoi Company (JSC) , 2011.
68
russos terem de reconstruir estes dois aviões.89 Tais problemas de manufatura
atrasaram a produção em massa dos J-11 até o ano de 2000. De 1998 a 2004, os
chineses gastaram seis anos aperfeiçoando seus procedimentos na construção dos
caças.90 De 2000 em diante, a produção anual dos J-11 na fábrica da Shenyang
ficou em torno de 15 a 20 aeronaves. Ao final de 2004, a China já tinha recebido
todos os kits de componentes para as 95 aeronaves da primeira parte do acordo,
tendo montado e entregue à PLA-AF de 60 a 95 caças.91 A importância deste acordo
é que, através da produção licenciada do Su-27SK, a China adquiriu o conhecimento
da fabricação de caças de quarta geração.92 Entretanto, o contrato cobrindo a
entrega de mais 105 kits adicionais ainda estava pendente.
3.7 SINIZAÇÃO PROGRESSIVA: J-11A
Os J-11 produzidos em lotes subseqüentes receberam maior conteúdo
chinês, e foram melhorados com assistência russa. A nova variante foi designada J-
11A, e voou pela primeira vez em dezembro de 1999.93 O J-11A possui dois
mostradores multifunção coloridos no cockpit, substituindo o único mostrador
monocromático do J-11 original, que apresentava apenas informações de radar. Um
destes serve como visor de mapa móvel digital, combinado com GPS, enquanto o
outro é dedicado às informações de combate. Essas aeronaves também adquiriram
a capacidade de disparar novas armas, o míssil ar-ar guiado por radar semi-ativo R-
27RE1, com um alcance estendido de até 66 km, e o míssil guiado por radar ativo R-
77E. Isso sugere que ele seja equipado com um radar N001VE, o mesmo dos Su-
27UBK de terceiro lote.94
89 GORDON e KOMISSAROV, 2008, p. 105. 90 JANUARY 28, 2005. In: Military News Humor Photos – Strategy Page. Online, 28 jan. 2005. Disponível em: <http://www.strategypage.com/htmw/htairfo/articles/20050128.aspx>. Acesso em: 02 jun. 2010. 91 DONALD, 2008. 92 BARRIE, 2006. 93 Su-27SK/J-11/11A Flanker. In: Chinese Military Aviation, 2010. 94 Pois há fotos de R-77Es no arsenal do J-11A. Su-27SK/J-11/11A Flanker. In: Chinese Military Aviation , 2011.
69
4 CAPÍTULO III – SU-27 “MADE IN CHINA”, O J-11B
Figura 22: tomada inferior de um J-11B de série. No pilone da asa esquerda há um míssil ar-ar de curto alcance guiado por IR, o PL-8. Os J-11B operacionais podem ser diferenciados dos demais Su-27SK/J-11 em serviço na PLA-AF por seu esquema de camuflagem particular: azul-acinzentado escuro na parte superior, cinza claro na parte inferior, e em especial o radome completamente negro (http://www.ausairpower.net/J-11B-Flanker-B-PLAAF-2S.jpg, acessado em 31 jul. 2011).
Neste capítulo, falaremos sobre o J-11B (Fig. 22), versão chinesa do caça de
superioridade aérea Su-27, comprado da Rússia e fabricado sob licença com a
designação local J-11, conforme visto no capítulo passado. Aqui, faremos uma das
primeiras cronologias sobre o J-11B. Como dito na introdução, não é raro encontrar
trabalhos em história da aviação cujos objetos são temporalmente muito próximos,
dadas as particularidades deste ramo da história. Tal é o nosso caso. O J-11B é
inédito na historiografia nacional e estrangeira, dada sua contemporaneidade (data
do início desta década, e a primeira compra chinesa de Su-27 foi a vinte anos atrás).
Estaremos, dessa forma, escrevendo uma das primeiras cronologias dessa moderna
máquina de combate e, como tal, expostos aos riscos próprios do pioneirismo na
historiografia.
70
Além disso, o J-11B exigirá uma aproximação diferente no que tange à
discussão bibliográfica. Da parte de historiadores, ela inexiste; somos forçados,
assim, a procurar trabalhos de jornalistas, além dos de pesquisadores e de
especialistas em outras áreas nos quais nos basearemos. As referências de que
dispomos sobre o J-11B são de autoria de jornalistas e de analistas de defesa. O
principal sítio que usamos foi o Strategypage. Trata-se de um dos cinco melhores
sítios de informação militar da internet, que publica mais de 100.000 palavras de
comentários e análises a cada mês, assim como revisões, imagens e vídeos. É
famoso por deixar claro seu posicionamento em certos temas delicados, como a
Guerra ao Terror. Possui fontes referendadas, e versa sobre uma ampla gama de
assuntos, desde problemas em logística militar até os últimos movimentos da Al
Qaeda.
Utilizamos notícias de vários sítios de agências de informação internacionais,
tais como as já citadas RIA Novosti e Pravda (muito enviesadas), além de The
Observer, RT News, Business Standard, Bernama.com, Global Times, Chinadaily.
Utilizamos ainda os sítios especializados em notícias de defesa e aviação, tais como
Jane’s, Defence News e Aviation Week, de reconhecida credibilidade. Para estimar
o número de J-11B operacionais, foi essencial recorrer ao sítio Scramble on the
Web. É a página online de uma revista de aviação holandesa, referência
internacional que contém, dentre outras coisas, o inventário das diversas forças
aéreas mundo afora. Ela nos foi sobremaneira útil para determinar quais unidades
da PLA-AF e PLA-NAF utilizam o J-11B e suas variantes, e para estimar o número
de aeronaves já entregues para estas armas.
Foram importantes também alguns trabalhos de Kopp. O principal está em
seu sítio Air Power Australia. Ele possui uma página inteiramente dedicada ao avião
chinês, intitulada Shenyang J-11B Flanker B+.95 Trata-se de uma descrição bem
sumária do caça. Dele, outro material de interesse foi uma matéria originalmente
publicada na revista australiana Defence Today. Seu título é Chinese stealth and
95 KOPP, Carlo. Shenyang J-11B Flanker B+. In: Air Power Australia. Online, set. 2009. Disponível em: <http://www.ausairpower.net/APA-SinoFlanker.html>. Acesso em: 20 abr. 2010.
71
other fighters; nela constam três parágrafos descrevendo trajetória e sistemas do J-
11B.96
Foram utilizados vários papers de Fisher, todos disponíveis no sítio
International Strategy and Assessment Center, nos quais aparecem informações
sobre o desenvolvimento do J-11B. Eles são convenientemente citados conforme a
ocasião
Por último, foi sobremaneira interessante ter acesso, em blogs, a materiais
publicados por entusiastas da PLA, alguns dos quais de circulação restrita à China,
como reportagens do canal de TV militar chinês CCTV.
4.1 O INTERESSE CHINÊS EM UMA VERSÃO LOCAL DO SU-27
Desde 2002 a SAC demonstrara publicamente seu interesse em construir
uma variante multimissão do J-11, ao revelar uma maquete (Fig. 23) do caça
equipada com mísseis ar-ar e anti-navio nacionais.97 Enquanto a produção do J-11
corria, a Shenyang começou os trabalhos nessa versão mais avançada, que viria
mais tarde a culminar no J-11B.98 No MAKS-200399, uma fonte russa confirmou a
Fisher que a SAC desejava uma variante multimissão do J-11 com grande
quantidade de componentes chineses, como radar, aviônicos e motor nacionais,
mas ela pensava que, apesar dos chineses serem capazes disso, estes levariam
dez anos para fabricar uma tal versão.100 Segundo a fonte, o principal objetivo do
programa era criar um caça polivalente, capaz de cumprir múltiplas tarefas, tais
como defesa aérea ou bombardeio de precisão – algo de que o Su-27SK não é
96 KOPP, Carlo. Chinese stealth and other fighters. In: Air Power Australia. Online, 2011. Disponível em: <http://www.ausairpower.net/DT-PLA-Fighters-March-2011.pdf>. Acesso em: 24 out. 2011. 97 SUDAKOV, Dmitry. Russia infuriated with Chinese export copies of Su-27 jet fighters. In: Pravda RU . Online, 22 abr. 2008. Disponível em: <http://english.pravda.ru/russia/economics/22-04-2008/104975-russia_china-0>. Acesso em: 21 jul. 2010. 98 DONALD, 2008. 99 Salão aeronáutico internacional, realizado bienalmente na cidade de Moscou, em anos ímpares. 100 FISHER, Richard D. Jr. New developments in Russia-China military relations: a report on the August 19-23 2003 Moscow Aerospace Salon (MAKS). United States-China Economic and Security Review Comi ssion. Research and Reports. Online, 7 out. 2003. Disponível em: <http://www.uscc.gov/researchpapers/2000_2003/reports/mair1.htm>. Acesso em: 24 abr. 2010.
72
capaz. A fonte também estimava que, findo esse prazo, os chineses começariam a
vender sua versão nacional do Su-27 no mercado externo. Entretanto, já no MAKS-
2005 ela teve de reduzir a estimativa para apenas cinco anos, dada a rapidez
chinesa em absorver a tecnologia do caça.101
Figura 23: acima, a maquete de uma então indeterminada e futura versão do J-11, exposto na sede da Shenyang Aircraft Corporation em 2002. Nela podem ser vistos mísseis ar-ar, anti-radiação e anti-navio chineses, indícios de que a SAC pretendia desenvolver uma variante multimissão nacional do J-11, que mais tarde culminaria no J-11B (http://www.strategycenter.net/imgLib/20060503_04.jpg, acessado em 28 jul. 2011).
4.2 OS CHINESES QUEBRAM O CONTRATO DE PRODUÇÃO DO J-11
De acordo com Fisher, desde o ano 2000 alguns oficiais da SAC disseram
que nem todos os 200 J-11s seriam construídos.102 Em 2004, essas intenções
finalmente se cumpriram. Em Novembro desse ano, a mídia russa noticiou que a
linha de produção chinesa dos J-11 havia cessado, após a construção de apenas
95~105 exemplares, cerca de metade dos 200 J-11 originalmente acordados
segundo o contrato firmado por ambas as partes em dezembro de 1996. De acordo
com a notícia, a companhia chinesa havia pedido para que a Sukhoi parasse de 101 FISHER, Richard D. Jr. Chinese Dimensions of the 2005 Moscow Aerospace Show. In: International Assessment and Strategy Center. Online, 12 set. 2005. Disponível em: <http://www.strategycenter.net/research/pubID.78/pub_detail.asp>. Acesso em: 21 jul. 2010. 102 FISHER, 2010.
73
entregar os kits de construção, sem muitas explicações. Cheng afirma que, mais ou
menos ao mesmo tempo, ocorreram uma série de incidentes envolvendo cidadãos
chineses tentando adquirir peças e diagramas de produção do Su-27SK
ilegalmente.103 Eles foram pegos no extremo leste da Rússia pelo serviço de contra-
espionagem, de acordo com uma fonte russa. Segundo uma fonte dentro da PLA-
AF, a variante básica do Su-27SK/J-11 não atendia mais os interesses da Força,
pois as capacidades de combate do caça eram muito limitadas; os chineses listaram
uma série de falhas no projeto.104 Nas palavras deles, o J-11 era tecnologia russa
“obsoleta”. Disseram também que ações futuras só seriam tomadas após a análise
da experiência de produção desses caças.105
Para Chang, desde o início do contrato de produção licenciada, os russos
notaram que as práticas chinesas eram muito diferentes daquelas da Índia, com a
qual eles também estavam conduzindo transferências de tecnologia militar (em
particular a do caça multimissão Su-30MKI, montado na Índia pela empresa
Hindustan Aeronautics Limited - HAL). Em primeiro lugar, os chineses eram muito
sensíveis no trato, e nutriam uma profunda desconfiança por seus parceiros russos.
Eles não permitiam que estes visitassem as linhas de montagem do J-11.106
103 CHANG, 2008a. 104 AFTER counterfeit Levi's, counterfeit fighter jets. In: The Observers – France 24. International News. Online, 18 mai. 2008. Disponível em: <http://observers.france24.com/en/content/20080519-counterfeit-fighter-planes-russia-china>. Acesso em: 21 jul. 2010. CHINESE version of Russian jet endangers bilateral relations. In: RT – Latest News. Online, 20 abr. 2010. Disponível em: <http://rt.com/Top_News/2010-04-20/russian-arms-copycat-china.html>. Acesso em: 24 abr. 2010. 105 RUSSIA may sue China over pirated fighter. In: Business Standard , 2008. 106 CHANG, ibid.
74
Figura 24: acima, uma bela tomada inferior de um protótipo do J-11B decolando, provavelmente o número 525. Notar como o trem de pouso traseiro retrai para uma posição semi-alojada nas raízes das asas. Ele exibe dois mísseis ar-ar PL-12, com guiagem por radar ativo e fabricados pela companhia chinesa Luoyang, montados nos dois cabides do túnel central da fuselagem. O J-11B forneceu à PLA-AF uma plataforma indígena que ela poderia equipar com armamentos nacionais (como os referidos mísseis), livres de dependência russa (http://www.ausairpower.net/J-11B-Flanker-B-PLAAF-1S.jpg, acessado em 30 jul. 2011).
O SinoDefense afirma que várias razões podem ter contribuído para
interromper a produção do J-11.107 Primeiro, o acordo de co-produção não incluía a
transferência da tecnologia do motor e aviônicos, e os J-11 construídos na China
continuariam dependentes das peças fabricadas na Rússia para esses sistemas.
Segundo, o sistema de controle de fogo russo no J-11 não é compatível com os
mísseis chineses. Resultado: a PLA-AF teria de continuar importando da Rússia os
R-27 (AA-10) e R-73 (AA-11) para equipar seus J-11, em vez de usar armas
nacionais (como o míssil ar-ar PL-12 – Fig. 24). Terceiro, como um caça de
superioridade aérea dedicado, o Su-27SK/J-11 só poderia efetuar missões de
ataque secundárias usando bombas “burras”, incluindo bombas de queda livre e
foguetes não-guiados.
Mesmo antes da quebra de contrato, os russos já tinham conhecimento das
reclamações chinesas. Já se noticiou que a Sukhoi havia concordado com um
programa de atualização dos J-11 na frota chinesa, alegadamente em 2001, com
melhores radares e aviônicos; mas isso é difícil de confirmar.108 A Sukhoi Company
107 JIAN-11 Multirole Fighter Aircraft. In: SinoDefence.com. , 2011. 108 SUDAKOV, 2008.
75
promoveu ativamente seu Su-27SKM (Fig. 25 e 26) para a China em 2003. O Su-
27SKM é uma variante multimissão modernizada do Su-27SK, com um radar de
controle de tiro Zhuk-27 melhorado (ou o N001VEP em sua última versão), e um
cockpit com visores multifuncionais semelhante ao do Su-30MK, e sairiam novos de
fábrica. Porém, a oferta foi rejeitada pela PLA-AF em favor de uma variante local do
J-11, o J-11B.
Figuras 25 e 26: à esquerda, um exemplar de Su-27SKM exibindo seu armamento multimissão, incluindo mísseis ar-terra e anti-radiação. À direita: o cockpit digital do SKM, com disposição simétrica, dominando por dois grandes visores multifunção nas laterais, e um terceiro menor no centro. Essa variante multitarefa do Su-27SK foi ativamente oferecida pela Sukhoi à China, como solução às reclamações deste país contra as deficiências do Su-27SK, principalmente a falta de munições guiadas de precisão (PGMs, sigla em inglês) para atacar alvos em solo. Essa proposta russa foi descartada pelos chineses em prol de uma solução nacional, justamente o J-11B (http://ndyteen.com/wp-content/uploads/2010/09/su27skm_1.jpg; http://www.knaapo.ru/media/rus/gallery/aircrafts/combat/su-27skm/su-27skm_08_small.jpg, acessado em 28 jul. 2011).
4.3 DESENVOLVIMENTO DO J-11B
Há duas datas disponíveis para marcar o início do desenvolvimento do caça:
a primeira é 1998, ano do primeiro J-11 entregue à PLA-AF; e a segunda é o ano de
2000, no qual a SAC dissera que não construiria todas as 200 aeronaves acordadas.
Inclinamo-nos por esta última. O projeto do J-11B contou com quatro protótipos de
ensaios: três deles (de números #523, #524 e #525) voavam, enquanto o restante
(de número desconhecido) foi usado para testes estáticos em solo (Fig. 27). Eles
ficaram prontos em 2003, e o primeiro vôo de um deles ocorreu no mesmo ano,
Su-27SK/J-11/11A Flanker. In: Chinese Military Aviation , 2010.
76
usando motores importados AL-31F.109 Na época, fontes russas tomaram
conhecimento disso.110
Figura 27: acima, o protótipo estático do J-11B, usado para testes estruturais em solo (http://cdn-www.airliners.net/aviation-photos/photos/6/5/9/1500956.jpg, acessado em 28 jul. 2011).
Em 2005, começaram a surgir no Ocidente as primeiras notícias de que uma
versão local do J-11 estaria sendo desenvolvida.111 Em 2006, os três protótipos
voadores já haviam sido entregues ao CFTE (China Flight Test Establishment) para
testes e avaliações, cada um com configurações diferentes para testar subsistemas
individuais (radar, aviônicos, etc.) a fim de acelerar o desenvolvimento. Este ano foi
um período crítico de testes para o caça, com os sistemas de propulsão, radar e
armas sob integração; também começaram a circular as primeiras fotos (não muito
nítidas) dele na internet (Fig. 28 e 29).112
109 CHANG, 2008. 110 AFTER counterfeit Levi's, counterfeit fighter jets. In: The Observers – France 24, 2008. 111 JANUARY 28, 2005. In: Military News Humor Photos – Strategy Page. Online, 28 jan. 2005. Disponível em: <http://www.strategypage.com/htmw/htairfo/articles/20050128.aspx>. Acesso em: 02 jun. 2010. 112 BARRIE, 2006.
77
Figuras 28 e 29: acima, duas das primeiras imagens de protótipos do J-11B, que começaram a circular na internet chinesa em 2006. Apesar de pouco nítidas, nelas são claramente discrimináveis algumas características dos protótipos desse caça, como a cor amarelada do metal sem pintura, e o radome negro (http://www.china-defense.com/smf/index.php?action=dlattach;topic=18.0;attach=6992;image; http://img476.imageshack.us/img476/9067/6182kk4.jpg, acessado em 28 jul. 2011).
Até aquele momento, todos os protótipos usavam motores russos AL-31F
(Fig. 30), pois o motor nacional, o WS-10 Taihang, ainda não estava pronto. Só a
partir de 2006 ele começou a ser integrado no caça, mas não entraria em operação
antes de 2010.
Figura 30: popa do protótipo número 524 sob testes de voo. Uma característica exclusiva dos J-11B chineses, dentre todas as variantes do Su-27, são os painéis dielétricos montados no ferrão da cauda entre os motores (discrimináveis por sua cor mais clara). Os turbofans russos AL-31F também podem ser discrimináveis na imagem, graças aos seus bocais escurecidos. Repetidos problemas técnicos na produção do motor chinês WS-10 Taihang atrasaram em três anos a entrada em operação deste na frota de J-11B. Até o início de 2010, essas caças ficaram dependentes dos motores estrangeiros (http://i988.photobucket.com/albums/af8/My-Military-Photos/PRC/Air/J-11B/J11B_Prototype_4.jpg, acessado em 28 jul. 2011).
Na mesma época, durante o Zhuhai Air Show113 2006, um cartaz de uma
versão não-identificada do J-11 (Fig. 31) fora exposto no evento: nele constava que
o caça apresentava 80% de peças fabricadas nacionalmente. Em maio de 2007 o
governo chinês por fim reconheceu publicamente a existência do J-11B; imagens
promocionais de seus protótipos e pilotos circularam na internet.114
113 Salão aeronáutico internacional, realizado bienalmente na cidade chinesa de Zhuhai, em anos pares. 114 CHINA Creates Pirate Copy of Russia’s Su-33 Deck-Based Fighter Jet. In: Pravda.Ru: Russia news and analysis. Disponível em: <http://english.pravda.ru/world/asia/04-06-2010/113664-china_pirate-0>. Acesso em: 27 jul. 2010.
78
Figura 31: cartaz promocional exposto no Zhuhai Air Show de 2006. Nele eram mostrados vários sistemas de uma variante do J-11 indeterminada que já haviam sido nacionalizados pelos chineses até então, como o sistema de radar e o cockpit (cabine) digital. Também podiam ser vistos os que ainda precisavam ser importados da Rússia, como as armas (os mísseis R-27 e R-73 suspensos nas asas e na fuselagem) e os motores (os turbofans AL-31F). Quatro anos depois, no início de 2010, todos os sistemas embarcados e armas deste avião, um ano mais tarde oficialmente reconhecido como “J-11B”, foram completamente nacionalizados, com destaque para o motor. Dessa forma, a China adquiriu completa independência na fabricação de sua versão local do Su-27 (http://www.ausairpower.net/J-11B-Flanker-B-Systems-1.jpg, acessado em 22 out. 2011).
4.4 A POLÊMICA COM A RÚSSIA – “O J-11B É UMA CÓPIA DO SU-27SK”
Segundo a Strategypage, da década de 1990 em diante os chineses
compraram bilhões em armas do complexo industrial-militar da Rússia.115 Mas estes
também começaram a replicar muita tecnologia russa, enquanto desenvolviam a sua
própria. Na época, as capacidades de produção chinesa eram tão atrasadas que a
Rússia pensava que sua liderança não seria ameaçada a curto ou médio prazo. Mas
com os investimentos militares russos escassos nas últimas duas décadas, e o
“milagre” econômico chinês a pleno vapor (com taxas de crescimento de mais de
10% ao ano), os russos infelizmente tiveram de admitir que seus “parceiros”
estavam-nos alcançando.
115 CHINA Masters Modern Weapons Technology. In: Military News Humor Photos – Strategy Page. Online, 28 set. 2010. Disponível em: <http://www.strategypage.com/htmw/htproc/articles/20100928.aspx>. Acesso em: 03 jan. 2011.
79
Na década de 2000, a China se tornou rapidamente um grande fabricante e
desenvolvedor de armas modernas. A Rússia involuntariamente supriu grande parte
da tecnologia que os chineses precisavam para isso. Grande parte desta foi
apropriada por meios ilícitos, e agora a Rússia não vende muita coisa para a China.
Em resposta, a mídia russa controlada pelo Estado começou a liberar uma série de
matérias depreciando o baixo desempenho da indústria bélica chinesa, e o quão mal
eles haviam copiado a tecnologia militar russa.
No início de 2008, o barulho da imprensa russa sobre o J-11B foi grande.116
Em abril de 2008, a Rússia ameaçou processar a China por copiar seus caças Su-
27SK e fazer produção pirata para o Paquistão e outros países do Terceiro Mundo a
preços muitos mais baixos.117 Esse foi o item seguinte numa série de problemas
comerciais entre os dois países, logo após dificuldades sobre um acordo de compra
dos Il-76.118 Os russos disseram que a produção do J-11B viola os termos do
contrato original de co-produção, firmado por ambos os países em 1996. Era
discurso geral russo afirmar que o J-11B é basicamente um desenho deles com
eletrônicos chineses.119 Eles temiam que estes vendessem as “cópias” Made in
China mais baratas no mercado internacional, prejudicando os originais russos.
Há uma acirrada contenda internacional a respeito: o J-11B é uma
cópia do Su-27SK ou não? Existem três posicionamentos básicos sobre isso. O
primeiro é o dos russos, que consiste em detratar o caça chinês como sendo uma
réplica exata de seu original, simples “cópia carbono” do mesmo, ou no mínimo algo
bem próximo. Basta conferir o que o pessoal e as publicações de agências
noticiosas (notadamente as do RIA Novosti e do Pravda.ru) russas dizem sobre o J-
11B, constantes em nossa bibliografia. Alguns dos títulos são auto-explicativos:
“China copia caça russo obsoleto”120; “J-11B chinês é cópia do Su-27SK, dizem
116 KRAMNIK, 2008. 117 RUSSIA may sue China over pirated fighter. In: Business Standard , 2008. CHENG, 2008a. SUDAKOV, 2008. 118 CHENG, idem. 119 CHINESE version of Russian jet endangers bilateral relations. In: RT – Latest News, 2010. 120 KRAMNIK, 2010.
80
oficiais russos”;121 “China rouba descaradamente tecnologia de caças a jato da
Rússia”.122
A segunda posição é mais moderada e defendida por alguns analistas de
defesa. Segundo Kopp, o J-11B tem sido constantemente descrito pela mídia russa
como uma “cópia carbono” do Su-27SK produzido sob licença pela China.123 Ele
concorda apenas em parte com essa afirmação, ao dizer que a fuselagem e o motor
do J-11B são virtualmente idênticos aos do Su-27SK; já os aviônicos e outros
sistemas do caça sínico seriam de autoria local chinesa, tornando a aeronave
superior em vários aspectos ao Su-27SK e bem próxima dos Su-27SKM russos
atualizados.124 Fisher diz algo parecido, ao afirmar que o J-11B usa vários
componentes do Su-27SK/J-11 junto com outras partes novas de fabricação
chinesa.125
A terceira posição é majoritariamente chinesa. Page assevera que, embora o
J-11B pareça ser quase idêntico ao Su-27SK, a China diz que 90% dele é feito com
conteúdo nacional, incluindo radar e aviônicos chineses mais avançados que os
originais.126 Apenas o motor (o turbofan AL-31F) continuava a ser importado da
Rússia. Entretanto, a partir do segundo lote de produção (janeiro de 2010), os J-11B
passaram a ser equipados com o motor chinês WS-10 Taihang, de acordo com
Zhang Xinguo, vice-presidente da AVIC, que inclui a Shenyang Aircraft Corporation.
Isso elevaria o grau de nacionalidade do avião para 100%. Segundo Zhang, não se
pode afirmar que o caça chinês é simplesmente uma cópia. Ele exemplifica a
situação comparando-a com a dos telefones celulares: apesar de serem todos
parecidos, o conteúdo de cada um deles não pode ser exatamente o mesmo.
Para avaliar qual destas três posições é a mais verossímil, seria necessário
descrever minuciosamente alguns dos sistemas do J-11B, a partir das fontes e
bibliografias disponíveis. Por questão de escopo, não poderemos esmiuçar todos
121 AEROINDIA 2009: Chinese J-11B a copy of the Su-27SK, say russian officials. In: domain-b.com. Online, 14 fev. 2009. Disponível em: <http://www.domain-b.com/defence/general/20090214_chinese_j_11b.html>. Acesso em: 24 out. 2011. 122 BALMASOV, 2010. 123 KOPP, 2011a. 124 Idem. Shenyang J-11B Flanker B+. In: Air Power Australia. Online, set. 2009. Disponível em: <http://www.ausairpower.net/APA-SinoFlanker.html>. Acesso em: 20 abr. 2010. 125 AFTER counterfeit Levi's, counterfeit fighter jets. In: The Observers – France 24, 2010. 126 PAGE, 2010.
81
esses detalhes neste trabalho, embora o assunto certamente merecesse essa
apreciação. Concentrar-nos-emos apenas na cronologia de seu desenvolvimento e
sua entrada inicial em operação.
4.5 CHINA E RÚSSIA ACORDAM SOBRE PROPRIEDADE INTELECTUAL
O ponto máximo da querela entre os dois países veio em 2009. Após muitos
anos adiando uma declaração oficial, devido às diversas negociações de
armamentos em jogo entre os dois países, a Rússia finalmente se pronunciou. O
diretor-geral da Sukhoi, Mikhail Pogosyan, admitiu publicamente, durante o
AeroIndia 2009, que a China estava a produzir uma versão “pirata” do Su-27SK, o J-
11B, violando acordos de propriedade intelectual.127 Na ocasião, ele revelou que o
assunto foi objeto de discussões de alto nível no final do ano anterior. Em dezembro
de 2008, Pogosyan e o Ministro de Defesa russo, Anatoly Serdyukov, pressionaram
as autoridades chinesas em Pequim, na décima terceira reunião da Comissão Sino-
Russa de Cooperação Técnica e Militar, e teriam conseguido que os chineses
concordassem em frear a cópia ilegal de equipamentos militares russos, de modo a
assegurar a proteção aos direitos autorais. O ponto principal, segundo Pogosyan, é
que esse assunto poderia ser tratado de forma mais precisa e transparente nas
próximas discussões.128 Para Konstantin Makiyenko, dificilmente esse acordo
impedirá que a China continue a copiar armas russas, mas com ele a Rússia terá
mais respaldo ao exigir que a China não exporte suas “cópias” para outros países.129
Naquele momento, esse acordo teria sido necessário para ambas as partes.
O maior receio da Rússia era que a China produzisse versões baratas de
exportação do J-11, desbancando os russos do mercado. Além disso, se o
127 AEROINDIA 2009: Chinese J-11B a copy of the Su-27SK, say russian officials. In: domain-b.com. , 2009. 128 MARTINI, Fernando de. Rússia declara: J-11B é cópia ilegal do Su-27SK. In: Poder Aéreo. Online, 13 fev. 2009. Disponível em: <http://www.aereo.jor.br/2009/02/13/russia-declara-j-11b-chines-e-copia-ilegal-do-su-27sk/>. Acesso em: 21 jul. 2010. MINNICK, Wendell. Russia Admits China Illegally Copied Its Fighter. In: DefenseNews . Online, 13 fev. 2009. Disponível em: <http://www.defensenews.com/story.php?i=3947599>. Acesso em: 21 jul. 2010. 129 ABDULLAEV, Nabi. Russia, China Sign Intellectual Property Agreement. In: DefenseNews . Online, 15 dec. 2009. Disponível em: <http://www.defensenews.com/story.php?i=3864641&c=EUR&s=POL>. Acesso em: 20 abr. 2010.
82
Paquistão comprasse os J-11B de exportação, isso desagradaria a Índia, um
parceiro de longa data da Rússia e que produz localmente outra versão da família
Sukhoi, o Su-30MKI. Já a China, por seu lado, temia que a Rússia cancelasse a
venda de produtos importantes, como os motores AL-31FN que equipam seus caças
J-10.
Segundo Chang, os chineses nunca concordariam com os russos em dizer
que o J-11B é uma cópia.130 Eles dizem que é um produto doméstico independente,
desenvolvido apenas por eles.
Para aumentar sua independência da Rússia na fabricação dos J-11B, a
China reforçara sua cooperação com as indústrias de aviação de Bielorússia e
Ucrânia, a fim de prover a manutenção adequada para seus caças. Uma melhora
nos aviônicos do Su-27SK foi auxiliada por tecnologia vinda da Fábrica No. 558 de
Minsk, enquanto a Fábrica Migremont ucraniana ajudou a China no conserto e
manutenção das fuselagens.
Também segundo Cheng, uma fonte da indústria de aviação chinesa disse
que a SAC sofria de baixa eficiência de produção, ao contrário da Chengdu Aircraft
Company, que recebeu uma série de prêmios nacionais. Essa informação sugere
que os primeiros J-11Bs de produção atenderão exclusivamente a alta demanda da
PLA-AF. A possibilidade de a China exportar essas aeronaves é baixíssima. É isso
que preocupa a Rússia.
4.6 O J-11B ENTRA EM SERVIÇO NA PLA-AF
Em 2007, começou a produção seriada do J-11B, na fábrica da Shenyang. A
partir de Dezembro deste mesmo ano, os primeiros J-11B de série (com turbofans
AL-31F) começaram a ser entregues à 1ª Divisão da PLA-AF, baseada na Prefeitura
de Anshan, na Província de Liaoning, e em entraram oficialmente em serviço em
janeiro de 2008. No Zhuhai Air Show de 2008, o índice de nacionalização dele havia
130 CHENG, 2008.
83
subido para 90%; apenas os motores continuavam a ser importados da Rússia. Em
janeiro de 2009, uma reportagem de TV exibida no canal CCTV (Fig. 32 e 33)
mostraram caças J-11B operando em serviço ativo.131
Figuras 32 e 33: acima, excertos de uma reportagem exibida no canal chinês CCTV, sobre os J-11B em serviço na PLA-AF. A matéria em questão data de Janeiro de 2009 (http://sitelife.aviationweek.com/ver1.0/Content/images/store/3/12/a31c4bdf-95d8-4537-ac10-9c4c87bc0cdc.Large.jpg; http://sitelife.aviationweek.com/ver1.0/Content/images/store/14/2/1e116386-2661-4874-b2dc-17c69f8b67cd.Large.jpg, acessado em 28 jul. 2011).
A nacionalização do caça finalmente atingiu os 100% quando, no final de
dezembro de 2009 e janeiro de 2010, começaram a surgir na internet chinesa várias
fotos de J-11B em serviço ativo equipados com os turbofans nacionais WS-10
Taihang (Fig. 34). Estes motores haviam passado por um longo processo de
desenvolvimento (que durou mais de duas décadas), e uma vez prontos sofreram
ainda com problemas de qualidade e confiabilidade na produção. Mas naquela
ocasião, esses empecilhos foram finalmente sanados, e os J-11B do segundo lote
em diante, além de suas variantes, passaram a ser equipados com este motor.
Temos então que, desde os primeiros J-11 montados pela SAC em 1998, até a
completa nacionalização do J-11B em 2010, foram necessários 12 anos para os
chineses absorverem a tecnologia e desenvolverem sua versão doméstica do Su-27.
131 BARRIE, Douglas. Home-Grown Produce. In: Aviation Week . Online, 28 jan. 2009. Disponível em: <http://www.aviationweek.com/aw/blogs/defense/index.jsp?plckController=Blog&plckScript=blogScript&plckElementId=blogDest&plckBlogPage=BlogViewPost&plckPostId=Blog%3A27ec4a53-dcc8-42d0-bd3a-01329aef79a7Post%3Abd599c83-a275-4032-963d-b0a863bef37f>. Acesso em: 20 abr. 2010.
84
Figura 34: Uma foto de J-11B, jan. 2010. A aeronave em questão está equipada com os motores nacionais WS-10 Taihang. Notar o acabamento dela, testemunha da qualidade na linha de produção da SAC (http://www.ausairpower.net/PLA-AF/Shenyang-J-11B+PL-12+PL-8-2010-1S.jpg, acessado em 31 jul. 2011).
Em julho de 2011, de acordo com dados fornecidos pelo sítio Scramble sobre
a ordem de batalha da PLA-AF132, há vários regimentos da força equipados com os
J-11B e J-11BS (variante biposta do J-11B). Dentre eles, está o já citado 1º
Regimento da 1ª Divisão, que recebeu o primeiro lote de produção de J-11B (ainda
equipados com os AL-31F). Depois dela, o 86º Regimento da 29ª Divisão da PLA-AF
também recebeu o J-11B. Na PLA-NAF, o 22º Regimento da 8ª Divisão recebeu
suas próprias versões do caça ligeiramente modificadas: o J-11BH monoposto e o J-
11BSH biposto. Até o momento, não é possível confirmar se as divisões foram
totalmente convertidas aos novos caças. A partir das últimas fotos de que dispomos,
também temos visto os J-11BS (bipostos) se juntando ao 111º Regimento da 37ª
Divisão e ao 56º Regimento da 19ª Divisão da PLA-AF. No caso da 37ª Divisão,
parece que o 111º Regimento terá seus J-7G substituídos por J-11B. No caso da 19ª
Divisão, os J-11BS parecem estar substituindo os J-11 em serviço por lá. Dessa
forma, nós temos quatro regimentos da PLA-AF e um da PLA-NAF que já foram
convertidos ou estão no meio do processo de conversão para os novos J-11B/BS.
Também temos os J-11BS se juntando a diferentes regimentos da PLA-AF na tarefa
132 ORBAT. Air Force. In: Scramble onf the Web . Online, 2011. Disponível em: <www.scramble.nl/mil/7/china/plaaf-orbat.htm>. Acesso em: 14 out. 2011. ORBAT. Naval Aviation. In: Scramble onf the Web . Online, 2011. Disponível em: <http://www.scramble.nl/mil/7/china/planaf-orbat.htm>. Acesso em: 02 nov. 2011.
85
de treinador (em vez de apenas se adicionar a regimentos de J-11B). Levando em
conta que os regimentos de Su-27/J-11 da PLA-AF são tipicamente equipados com
24 aeronaves, dessa forma já temos algo entre 70 e 100 J-11B/BS em serviço após
quatro anos de produção seriada. Esta é uma grande conquista para a SAC, e
também indica que a PLA está muito satisfeita com o desempenho dos novos caças.
4.7 A CONTROVÉRSIA SOBRE OS “PROBLEMAS DE VIBRAÇÃO”
Em 17 de maio de 2010, o sítio Manufacturing.Net noticiou que a PLA-AF
havia recusado 16 caças J-11B devido a problemas técnicos, citando a revista
Kanwa Defense Review, que se baseou numa fonte de inteligência ocidental em
Pequim.133 A revista reproduziu uma afirmação de sua fonte, dizendo que os caças
apresentaram “vibração” excessiva após a decolagem, e por isso foram rejeitados
pela PLA-AF. Assim, ela sugeriu que a SAC havia falhado em empregar a tecnologia
russa (absorvida através de engenharia reversa) adequadamente. A notícia também
afirmou que o J-11B não havia sido escolhido para exibição nas comemorações de
outubro de 2009 por causa de problemas técnicos no caça.
Informações obtidas Global Military contrastam com isso.134 Este afirmou que,
naquele mesmo mês, um número semelhante de J-11BH e J-11BSH foram
entregues à PLA-NAF, que os aceitou e ficou muito satisfeita com os mesmos; isso
pode ser facilmente constatado por imagens disponíveis na internet (Fig. 35).
Além disso, segundo esta última fonte, a revista Aviation Word, pertencente
ao China Aviation industry Group, e o Liberation Army Daily, da China National
Defense News, disseram que os J-11B estavam presentes na comemoração de
Outubro, em número de quatro a nove, ao lado de duas aeronaves de guerra
eletrônica Y-8GX. A presença dos mesmos não teria sido confirmada pelos órgãos
133 CHINESE Military Won't Accept 'Made In China' Fighters. In: Manufacturing.Net . Online, 17 mai. 2010. Disponível em: <http://www.manufacturing.net/article.aspx?id=257074>. Acesso em: 02 jun. 2010. 134 FOREIGN media have concerns that the J-11B stronger overall performance than the F-10. In: Global Military – Global Military News and Reports. Online, 2010. Disponível em: <http://www.global-military.com/foreign-media-have-concerns-that-the-j-11b-stronger-overall-performance-than-the-f-10.html>. Acesso em: 22 jul. 2010.
86
oficiais para não enfurecer ainda mais os russos, mas pode ser constatada pelos
observadores do evento.
O Global Military questiona a parcialidade da Kanwa Defense News. Segundo
ele, esta última já teria passado informações com erros grosseiros no passado, a fim
de difamar os chineses e seus produtos, como sendo meramente “cópias” de outros
russos. Conclui afirmando que a credibilidade desta fonte não é comparável à de
outras agências mais sérias, como a Jane’s Defence Weekly, e por isso suas
notícias devem ser encaradas com cautela.
Curiosamente, não pudemos encontrar a notícia original no Kanwa Defence
News; fica-se a imaginar de qual lugar o Manufacturing.net adquiriu esse informe.
Acrescentemos que o sítio em questão nem especializado em notícias militares ou
aeronáuticas é. Essa suposta rejeição da PLA-AF a 16 J-11Bs por causa de
“problemas de vibração” não foi repetida por quaisquer outras agências de
informação mais autorizadas, como a já citada Jane’s. Ela faz pensar que o
fabricante não testa seus produtos antes de entregá-los para seus clientes, algo
absurdo. Não há outras evidências que possam corroborar esse fato. E ainda que os
J-11B não tenham sido exibidos na parada de 2009, há outros motivos plausíveis
para explicar a ausência destes que não “problemas técnicos”: por exemplo, os
chineses talvez não quisessem irritar ainda mais os russos, expondo seu caça
“nacional” numa aparição tão pública.
Figura 35: vários J-11B da PLA-AF, além dos J-11BH e J-11BSH da PLA-NAF, aguardando no pátio da fábrica da SAC, antes de serem entregues para suas respectivas forças. As variantes da PLA-NAF podem ser facilmente distinguíveis por sua tonalidade mais clara (cinza claro na parte superior), ao contrário das da PLA-AF, mais escuras. Essa foto de Maio de 2010 não prova outra coisa senão a satisfação da PLA com suas novas aeronaves. (http://www.china-defense.com/smf/index.php?action=dlattach;topic=18.0;attach=45339;image, acessado em 28 jul. 2011).
87
Demonstrando justamente o contrário, no início de maio de 2010, o mês da
“notícia”, a PLA-NAF começou a receber seus primeiros J-11BH e J-11BSH (Fig.
35), prova de que longe de rejeitá-los, as forças armadas chinesas estavam muito
satisfeitas com os mesmos.135 As fotos de Su-27SK sendo retirados de serviço
depois de apenas 18 anos na ativa (Fig. 18 e 19) também sugerem a satisfação
chinesa com seu produto doméstico: em vez de reformar os exemplares de Su-27
importados, eles querem é substituí-los por exemplares da versão nacional.
Fatos recentes apenas corroboram isso. Em agosto de 2011, pela primeira
vez a PLA-AF colocou oficialmente um J-11B em exposição pública (Fig. 36). Trata-
se de um dos exemplares do primeiro lote de produção a entrar em serviço, com o 1º
Regimento de Caças da 1ª Divisão Aérea.136
Figura 36: o primeiro exemplar de J-11B da PLA-AF colocado em exposição pública. Novamente, notar o padrão de camuflagem dos J-11B em serviço na Força: azul-acinzentado escuro na parte superior, cinza claro na parte inferior, e o “nariz” completamente negro. Nos pilones das pontas das asas podem ser vistos os mísseis chineses PL-8, de curto alcance e guiados por infravermelho (http://cnair.top81.cn/gallery/J-11B_30.jpg, acessado em 02 nov. 2011).
135 CHINESE Navy Obtains Illegal Aircraft. In: Military News Humor Photos – Strategy Page. Online, 16 mai. 2010. Disponível em: <http://www.strategypage.com/htmw/htnavai/articles/20100516.aspx>. Acesso em: 10 mar. 2011. PARSONS, Ted. Chinese naval J-11s spotted in the open. In: Jane's Defence Weekly . Online, 10 mai. 2010. Disponível em: <http://www.janes.com/news/defence/jdw/jdw100510_2_n.shtml>. Acesso em: 02 jun. 2010. OVERSEAS media: Chinese naval J-11s spotted in the open. In: Global Times . Online, 12 mai. 2010. Disponível em: <http://military.globaltimes.cn/china/2010-05/531084.html>. Acesso em: 02 jun. 2010. 136 J-11B on public display. In: China Defense Blog. Online, 28 ago. 2011. Disponível em: <http://china-defense.blogspot.com/2011/08/ws-10a-taihang-turbofan-powered-j-11b.html>. Acesso em: 26 out. 2011.
88
4.8 O J-11B – UM SALTO PARA A CHINA
Segundo Barrie, o J-11B é um símbolo do esforço da China em remodelar
suas capacidades para o século XXI, promovendo uma verdadeira revolução em
seus setores de defesa e aeroespacial.137 Ele afirma que o desenvolvimento do caça
marca uma notável mudança em capacidade – não apenas para elementos-chave
na base da indústria de defesa do país, mas também para a PLA-AF. Os militares
chineses estão mudando o foco da quantidade para a qualidade de seus meios, a
fim de garantir o domínio militar decisivo e a habilidade de projetar poder
regionalmente. Enquanto isso, a natureza da relação entre Pequim e Moscou mudou
subitamente, refletindo a crescente confiança chinesa em suas próprias
capacidades: eles deixaram de ser meros importadores de produtos russos; agora
desenvolvem suas próprias versões locais baseados nos mesmos e vão além.
Para Donald, a PLA-AF está emulando o modelo das Forças Aéreas Russa e
Americana, ao adotar uma combinação de aeronaves de alto e baixo desempenho.
O J-11B e o J-10, respectivamente, dão à PLA-AF essa mistura high-low (caças de
alto e baixo desempenho), semelhante a dos EUA com seus F-15/F-16 e Rússia
com seus Su-27/MiG-29. Isso indica o desejo chinês de transformar sua Força Aérea
de uma Arma baseada em números brutos para uma outra na qual um número muito
menor de aviões pode manter a eficiência através da tecnologia.138
Isso ocorre porque a defesa nacional da China e a modernização de suas
forças armadas são confrontadas por novas situações e tarefas. Dado o novo
cenário geopolítico, que requer operações tanto defensivas quanto ofensivas, a PLA-
AF é incentivada a fortalecer o desenvolvimento de sistemas militares. Na própria
SAC, o J-11B faz parte desse esforço mais amplo, continuando uma tradição do J-8
no projeto de caças nacionais a partir de tecnologia estrangeira. Construindo o J-
11B, os chineses ganharam a capacidade de produzir uma avançada plataforma de
4,5ª geração, superior ao Su-27SK em vários aspectos.
137 BARRIE, 2006. 138 DONALD, 2008.
89
Hoje, o domínio chinês da tecnologia de seus Flankers é tão grande, que até
o governo da Malásia, outro operador de Su-30, solicitou o apoio logístico sínico
para realizar a manutenção de seus caças.139 A Indonésia, que também possui Su-
30s em seu inventário, juntou-se ao coro, e solicitou ajuda da China para treinar
seus pilotos desse caça, a fim de economizar dinheiro.140
O investimento total chinês no programa do Su-27 e seus derivados (incluindo
compras de Su-27SK, Su-30MKK/MK2, produção licenciada do J-11, e a
nacionalização do caça com o projeto e aquisição do J-11B e suas variantes) soma
vários bilhões de dólares, gastos desde 1991 até Julho de 2011.
O J-11B serviu ainda para testar alguns dos sistemas (como o HUD) que vão
a bordo do J-20, o caça de 5ª geração chinês.141
4.9 O J-11B E OS ADVERSÁRIOS
Como um caça de superioridade aérea, o J-11B está presentemente
configurado para levar seis PL-12 (míssil ar-ar de médio alcance guiado por radar
ativo) mais quatro PL-8 (míssil ar-ar de curto alcance guiado por infravermelho). A
combinação J-11B + PL-12/PL-8 dá à PLA-AF um plataforma altamente capaz no
combate ar-ar, oferecendo alcance, persistência, e uma substancial carga bélica.
Como presentemente configurado, ele é um adversário considerável para seus rivais
locais, e quando receber as atualizações programadas no curto/médio prazo (tais
como radar no estado da arte, mísseis de 5ª geração, motores com maior empuxo
139 LOW, Vincent. RMAF Seeks China's Logistic Support For Sukhoi Fighters. In: Bernama.com . Online, 06 nov. 2009. Disponível em: <http://www.bernama.com/bernama/v5/newsindex.php?id=452966>. Acesso em: 20 abr. 2010. 140 CHASING Cheap Chinese Imitations. In: Military News Humor Photos – Strategy Page. Online, 29 mai. 2010. Disponível em: <http://www.strategypage.com/htmw/htairfo/articles/20100529.aspx>. Acesso em: 02 jun. 2010. INDONESIA Replaces Its Cold War Antiques. In: Military News Humor Photos – Strategy Page. Online, 02 nov. 2010. Disponível em: <http://www.strategypage.com/htmw/htlead/articles/20101102.aspx>. Acesso em: 03 jan. 2011. CHINA to train Indonesian pilots for Su-family fighters. In: RIA Novosti. Online, 21 mai. 2010. Disponível em: <http://en.rian.ru/mlitary_news/20100521/159101860.html>. Acesso em: 30 jul. 2011. 141 CHINA Promises New, Advanced Fighter. In: Aviation Week . Online, 24 nov. 2009. Disponível em: <http://www.aviationweek.com/aw/generic/story.jsp?id=news/CHFIGHT112409.xml&headline=China%20Promises%20New,%20Advanced%20Fighter&channel=defense>. Acesso em: 22 jul. 2010.
90
etc.), ele poderá enfrentar de igual para igual (chegando até mesmo a superar, em
alguns casos) quase todos os contendentes. Atualmente, ele é páreo para os F-16 e
AIDC Ching Kuo de Taiwan; os F-15J e F-2 do Japão; os F-15K da Coreia do Sul; os
Su-30MK do Vietnã; os Su-27 e MiG-29 da Rússia; e a maioria dos F-15C e F-16C
da USAF. Quando receber boa parte de suas atualizações (ao redor de 2014), ele
será páreo também para os Su-30MKI da Índia; os F-15SG de Singapura; e os F/A-
18E/F da US Navy.142 Todas os caças citados são de 4ª e 4,5ª geração, e estão
mais ou menos no mesmo nível do J-11B. Este só fica em severa desvantagem se
enfrentar os caças stealth (furtivos) de 5ª geração, principalmente o F-22 dos EUA e
o PAK-FA da Rússia. Mesmo assim, há quem diga que muitos caça chineses de 4,5ª
geração podem superar poucos caças de 5ª geração americanos, num hipotético
conflito sobre Taiwan.143
4.10 MODERNIZAÇÃO DO TREINAMENTO DA PLA-AF
Os progressos que a PLA-AF tem feito nas duas últimas décadas não se
restringiram à aquisição de novos vetores e tecnologias, como o J-11B. A Força
também tem desenvolvido novas doutrinas ofensivas e de forças aéreas
combinadas, além de acréscimos no tempo de treinamento e na sofisticação deste,
tudo isso para utilizar com plena capacidade o novo equipamento. A liderança
chinesa também está disposta a usar suas forças aéreas para intimidar o Japão e
Taiwan.144 Veremos a seguir duas inovações no que concerne ao treinamento dos
cadetes: elas apenas exemplificam as mudanças muito profundas que ocorrem na
142 PARSONS, 2010. J-11B. In: China Air and Naval Power. Online, 28 jul. 2008. Disponível em: <http://china-pla.blogspot.com/2008/07/j-11b.html>. Acesso em: 20 abr. 2010. 143 STILLION, John e PERDUE, Scott. Air Combat Past, Present and Future. In: Defence Industry Daily. Online, ago. 2008. Disponível em: <http://www.defenseindustrydaily.com/files/2008_RAND_Pacific_View_Air_Combat_Briefing.pdf>. Acesso em: 02 nov. 2011. 144 FISHER, Richard D. Jr. China’s Emerging 5th Generation Air-to-Air Missiles. In: International Assessment and Strategy Center. Online, 2 fev. 2008. Disponível em: <http://www.strategycenter.net/research/pubID.181/pub_detail.asp>. Acessado em: 20 abr. 2010. THE AIR War Over Pacific Islands. In: Military News Humor Photos – Strategy Page. Online, 10 mai. 2011. Disponível em: <http://www.strategypage.com/htmw/htairfo/articles/20110510.aspx>. Acesso em: 27 jul. 2011.
91
PLA-AF, havendo outras ainda (Fig. 37), e todas no sentido de torná-la mais
competitiva como força de combate do século XXI.
4.10.1 Novo programa de treinamento para pilotos
A China está revendo seu programa para treinamento de pilotos de combate.
O atual sistema se arrasta por dez anos de preparo acadêmico e de voo, enquanto o
novo programa corta esse período para algo entre cinco e sete anos, com um
acréscimo nas horas de voo da ordem de 40%, segundo Wang Yingzhong.145 Isso é
mais parecido com as práticas ocidentais, enquanto o sistema atual é mais próximo
daquele que os russos desenvolveram durante a Guerra Fria.146 Esse novo sistema
põe mais ênfase nos aspirantes a piloto demonstrarem suas habilidades de combate
em voo antes deles se graduarem.
O novo programa surge da necessidade de atualizar os métodos de
treinamento, a fim de preparar os pilotos para dominar aeronaves mais modernas. O
treinamento para estes novos caças tem sido mais intenso do que para os aviões de
gerações anteriores. Além disso, a China também está mantendo exercícios de
treinamento direcionados para combater outros caças modernos, como os operados
por Taiwan, Japão e os EUA. O Strategypage diz que os chineses não fazem disso
segredo, e parecem estar enviando um recado para seus possíveis adversários.
4.10.2 Treinamento dissimilar
Há mais novidades. Desde o início de 2011 se tem notícia de que a PLA-AF
estabeleceu uma unidade de treinamento para simular, com a maior precisão
possível, aeronaves e táticas de combate inimigas, especialmente as americanas e
145 AIR Force trains 3rd-generation pilots. In: Chinadaily. Online, 13 jul. 2011. Disponível em: <http://www.chinadaily.com.cn/china/2011-07/13/content_12897211.htm>. Acesso em: 27 jul. 2011. 146 CHINA Combat Pilot Training Upgraded. In: Military News Humor Photos – Strategy Page. Online, 24 jul. 2011. Disponível em: <http://www.strategypage.com/htmw/htairfo/articles/20110724.aspx>. Acesso em: 27 jul. 2011.
92
indianas.147 Esse tipo de treinamento se diferencia por enfatizar o modo como os
pilotos e aeronaves inimigos operam, e por isso se chama “dissimilar”. Os chineses
estão seguindo o exemplo americano, que o utiliza há décadas. A Marinha dos EUA
(US Navy) tem o programa Top Gun desde 1969, enquanto a Força Aérea deste
mesmo país possui a Red Flag desde a década seguinte. Os russos seguiram a
tendência e criaram seu treinamento dissimilar na década de 1980, e os chineses
fizeram o mesmo em 1987.
A novidade agora é que a China estabeleceu unidades de caças
especificamente para essa tarefa. Com este fim, há três esquadrões agressores de
bandeira azul (na China, a cor azul representa as forças inimigas, enquanto a
vermelha são as forças amigas). O primeiro está equipado com Su-30s, para simular
os F-15 americanos ou os Su-30 indianos. O segundo está equipado com o J-10,
semelhante ao F-16. E o terceiro esquadrão possui J-7s, que simulam ameaças
menores, como os vários MiG-21 que a Índia possui.
Essa ação chinesa é muito importante, porque ela demonstra que eles estão
realmente preparando seus pilotos para lutar e derrotar os pilotos Taiwaneses e
possivelmente os americanos também. É com o treinamento dissimilar que isso
pode ser feito, é através dele que se vence a guerra aérea contemporânea.
147 CHINESE Blue-Army Aggressor Squadrons. In: Military News Humor Photos – Strategy Page. Online, 03 fev. 2011. Disponível em: <http://www.strategypage.com/htmw/htcbtsp/articles/20110203.aspx>. Acesso em: 14 fev. 2011.
93
Figura 37: dois Su-27UBK chineses voam em formação com um F-4 turco (plano posterior), durante exercícios conjuntos realizados na Turquia. Este é apenas um fato que demonstra o desejo chinês de melhorar o treinamento de seus pilotos de caça (http://www.scramble.nl/mil/7/china/gfx/photos/main-su-27ubk.jpg, acessado em 26 out. 2011).
5 CONCLUSÃO
Esperamos ter conseguido, neste trabalho, traçar uma cronologia do caça
chinês J-11B. Para tanto, no Capítulo I começamos por uma sumária descrição do
avião no qual ele se baseia, o caça russo Su-27, apresentando os principais
aspectos de seu desenvolvimento e características. Adiante, no Capítulo II,
detivemo-nos nas compras sínicas deste caça russo e de suas versões derivadas,
bem como a introdução destes na Força Aérea Chinesa. E por último, alicerçados
nas informações anteriores, fomos capazes de elencar os principais fatos e
acontecimentos que marcaram o projeto, o desenvolvimento e a entrada em
operação do J-11B.
Entretanto, este trabalho definivamente está longe de esgotar o tema. Há
muitos pontos e assuntos sobre o objeto de estudo que podem ser discutidos, os
quais renderiam pesquisas futuras muito relevantes e de interesse nacional. O
primeiro aspecto que não pudemos abordar foi uma resposta às acusações de
94
plágio dos russos contra os chineses e seu J-11B. Para tanto, seria necessário
primeiro fazer considerações de cunho jurídico sobre direitos autorais, propriedade
intelectual, plágio e algumas jurisprudências internacionais aplicadas aos
respectivos casos. Teríamos de analisar o histórico das partes envolvidas e discorrer
sobre transferência de tecnologia e produção licenciada. Depois, haveríamos de
descrever em pormenores os sistemas mais importantes de ambos os caças, tais
como fuselagem, motor, radar etc. e então compará-los, para medir o grau de
originalidade ou não do caça sínico. E temos certeza que isso é plenamente
possível, a partir do material levantado em nossa pesquisa. Com este, somos
capazes de descrever, com um grau de detalhes variável, diversos sistema do avião
chinês, incluindo os já citados e outros como controles de voo, equipamentos de
contramedidas, aviônicos, cabine, gerador de oxigênio embarcado, etc.
Alguns sistemas do J-11B mereciam uma atenção muitíssimo maior do que
fomos capazes de dar. O primeiro exemplo é o motor do avião, o WS-10 Taihang.
Conhecendo melhor este turbofan militar de alta potência, o leitor entenderia com
maior profundidade os desafios envolvidos na pesquisa e fabricação dessa
tecnologia de ponta, incluindo os gigantescos esforços e persistência necessários
para alcançar o sucesso – após muitos fracassos – em tal área. Para os chineses,
desenvolver caças de 4ª geração como o J-11B foi, sem sombra de dúvida, tarefa
muito complexa. Mas o desenvolvimento do motor para impulsioná-lo, o WS-10, foi
um desafio tão árduo quanto, ou até mesmo maior que o caça em si.148 A
importância do WS-10 vai muito além de um simples mecanismo. De fato, há mais
países capazes de produzir armas nucleares do que modernos turbofans militares,
tamanha a tecnologia e grau de esforço que demandam seu projeto e fabricação. O
nascimento do WS-10 é um marco chinês, ocupando um espaço em branco latente
na tecnologia de caças nacional, tão importante quanto a explosão de sua primeira
bomba atômica em 1966. A partir dele, os chineses podem, por exemplo, produzir
turbinas modificadas para uso civil.
Outros sistemas do J-11B dignos de maior atenção são suas armas. Segundo
Barrie, o desenvolvimento desse caça marca uma notável mudança em capacidade
– não apenas para a PLA-AF, mas também para elementos-chave da indústria 148 AFTER counterfeit Levi's, counterfeit fighter jets. In: The Observers – France 24, 2008.
95
bélica do país.149 Como já dito, os chineses querem levar adiante um amplo
programa de modernização, que envolve aeronaves, pessoal, doutrinas e armas.
Eles querem alterar sua ênfase histórica de “quantidade” e “guerra prolongada”, para
“qualidade” e “guerra-relâmpago”. Os objetivos incluem o poder de efetuar ataques
de precisão em quaisquer condições atmosféricas, e alcançar superioridade aérea.
Ao mesmo tempo, a China quer diminuir sua dependência de sistemas russos
fabricando armas locais com capacidades similares.
Nos últimos anos, os chineses tem imitado as tendências internacionais na
fabricação de armas de precisão. Eles observaram detidamente o sucesso dos EUA
na Guerra do Golfo de 1991, e os conflitos posteriores em Kosovo, no Iraque e no
Afeganistão, e absorveram muito da doutrina e tecnologia empregada nesse tipo de
arma. Os Zhuhai Air Show são particularmente prolíficos em revelar os novos
desenvolvimentos chineses nessa área. A cada edição do evento, aumenta o
número de classes e modelos de armas ofertados, alguns dos quais concorrentes
entre si, como as séries FT e LS de bombas guiadas de precisão, e mísseis ar-ar
como o PL-12 usado pelo J-11B. O Brasil começou recentemente a exportar armas
destes dois gêneros, como o míssil anti-radiação MAR-1 para o Paquistão.150 É de
interesse nacional comparar esses desenvolvimentos locais com os da China, pelas
razões já expostas.
O J-11B é a primeira plataforma chinesa completamente nacional dessa
família de caças de origem soviética e, tal como o Su-27 dá década de 1980, está
dando origem a outras versões derivadas. Como o J-11B foi o nosso foco de estudo,
a única variante dele citada em nosso trabalho foi o treinador de combate J-11BS,
versão biposta do J-11B monoposto, pois tem poucas diferenças em relação ao
primeiro; os modelos J-11BH e J-11BSH da PLA-NAF não possuem discrepâncias
suficientes para serem considerados variantes distintas. Mas há outras versões.
Uma delas é o J-16, caça multimissão biposto com as mesmas capacidades do Su- 149 BARRIE, 2006. 150 MAR-1 da Mectron para o Paquistão. In: Áreamilitar . Online, 13 dez. 2008. Disponível em: <http://www.areamilitar.net/noticias/noticias.aspx?nrnot=708>. Acesso em: 05 nov. 2011. MARTINI, Fernando de. Segundo a Folha, Paquistão quer comprar mísseis MAA-1B da Mectron. In: Poder Aéreo. Online, 09 nov. 2009. Disponível em: <http://www.aereo.jor.br/2009/11/09/segundo-a-folha-paquistao-comprara-maa-1b-da-mectron/>. Acesso em: 05 nov. 2011. MAR-1 Anti-Radiation Missile (Brazil), Air-to-surface missiles - Direct attack. In: Jane’s Air Launched Weapons. Online, 19 jan. 2009. Disponível em: <http://articles.janes.com/articles/Janes-Air-Launched-Weapons/MAR-1-Anti-Radiation-Missile-Brazil.html>. Acesso em: 05 nov. 2011.
96
30MKK comprado da Rússia e atualmente sendo desenvolvido a partir do J-11BS.
Espera-se que entre em serviço até 2014. Há rumores de que uma futura variante do
J-16 multimissão também esteja sendo desenvolvida. Ela possuiria inclusive
características stealth (furtividade ao radar) e não entraria em serviço antes de 2016;
mas é difícil confirmar sua existência. Para além destas três versões, o primeiro
caça embarcado chinês, o J-15, possui radar, aviônicos e motores derivados dos em
uso no J-11B.151 Até out. 2011 ele estava em estado de teste, já tendo efetuado
dezenas de pousos e decolagens; sua entrada em serviço é esperada para até
2015, a bordo do primeiro porta-aviões chinês.
Seria muito válido estudar como os chineses foram capazes de, tal como os
desenvolvedores originais, criar toda uma família de aeronaves, com funções e
caraterísticas diferenciadas, a partir de um caça, o J-11B. Certamente devemos
lembrar dos grandes méritos do Escritório de Projetos Sukhoi que, ao projetar o
protótipo T-10S, dotou-o com uma fuselagem espaçosa e altamente modular, capaz
de suportar atualizações e modificações muito profundas, inclusive para dar origem
a aeronaves especializadas, que vão desde caças embarcados, como o Su-27K (Su-
33), até ao bombardeiro tático Su-34, passando pelos caças multimissão Su-30MK.
Isso proporciona à família do Sukhoi Su-27 e seus derivados uma longevidade que é
testemunha de suas excelentes capacidades aeronáuticas. É bem provável que
haverá versões do caça em serviço ativo até 2040 ou mais, dando uma vida
operacional de no mínimo 55 anos, feito invejável na história da aviação.
Outro ponto pendente foi uma comparação mais detida do J-11B com outros
caças rivais pertecentes aos vizinhos da China, tais como os de Taiwan, da Coreia
do Sul e dos EUA. A que fizemos no Capítulo III foi muito genérica, pois não aborda
os detalhes de cada um dos contendentes. Com o material disponível, podem ser
confeccionadas, por exemplo, tabelas comparativas com as principais características
dos aviões em questão, tal como a que fizemos sobre o Su-27 no Capítulo I. Os
primeiros candidatos seriam os F-16 e Mirage 2000, operados por Taiwan, frente
aos J-11B chineses. As comparações seriam fortuitas porque permitem cotejar o
151 J-15 Flying Shark. In: Chinese Military Aviation. Fighters (Cont.). Online, 2011. Última atualização: 14 out. 2011. Disponível em: <http://cnair.top81.cn/J-10_J-11_FC-1.htm>. Acesso em: 05 nov. 2011.
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desempenho de cada um deles frente aos rivais. E poderiam ser extrapoladas
também para comparar o avião sínico com os contendentes do FX-2.
Agora, retornemos à justificativa no início de nosso trabalho. Colocando o
programa FX-2 brasileiro em perspectiva, tiremos lições da experiência chinesa.
Muito resumidamente, se o Brasil souber aproveitar a necessária transferência
tecnológica embutida nele, o país seria capaz, quem sabe, de auferir lucros similares
aos que os chineses puderam alcançar com o programa do Su-27/J-11. É claro que
isso demandaria uma aproximação muito mais séria do governo com os assuntos da
FAB. Bem mais do que isso: para se chegar aos mesmos resultados da China, seria
imprescindível uma política de defesa de Estado, construída em torno de um
consenso nacional, com investimentos a longo prazo e compromentendo vários
mandatos consecutivos. Não se trata de uma simples aquisição de caças: a
quantidade de tecnologia que pode ser absorvida num programa como esses teria
impacto profundo em várias outras áreas de pesquisa e desenvolvimentos nacionais,
inclusive as civis. Para ficarmos apenas em breves exemplos: a tecnologia do
sistema de radar da aeronave vencedora poderia ser absorvida e aplicada em
futuros radares do SIVAM; se desenvolvéssemos em conjunto a fuselagem do avião
(ou ajudássemos a modificá-la), poderíamos aplicar o know-how adquirido em
futuros aviões comerciais da EMBRAER, como de fato aconteceu no programa
AMX.152 Trata-se de um assunto muito vasto e de uma relevância tremenda, a qual
mal pincelamos.
Dessa forma, encerramos este trabalho. Estamos convictos de que, a partir
das cronologias traçadas sobre os caças Su-27 russo e sua versão chinesa, o J-
11B, contribuímos para expandir a história da aviação no Brasil. Cremos ter
auxiliado também, em algum grau, as discussões a respeito de defesa, pesquisa e
desenvolvimento tecnológicos nacionais.
152 O AMX é um avião de ataque leve que foi desenvolvido em conjunto pelo Brasil e pela Itália. Resumidamente, sua principal importância foi permitir à EMBRAER alcançar um novo patamar tecnológico e industrial. Militarmente, teve um sucesso bem modesto.
98
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