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POEMA DE SETE FACESPOEMA DE SETE FACES

Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens que correm atrás de mulheres. A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas amarelas. Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração. Porém meus olhos não perguntam nada.

O homem atrás do bigode é sério, simples e forte. Quase não conversa. Tem poucos, raros amigos o homem atrás dos óculos e do bigode,

Meu Deus, por que me abandonaste se sabias que eu não era Deus se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução. Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer mas essa lua mas esse conhaque botam a gente comovido como o diabo. 

TEORIZANDOTEORIZANDO

A palavra gauche, de origem francesa, significa “lado esquerdo”. Aplicada ao ser humano, significa aquele que se sente às avessas, torto, estranho, que não consegue estabelecer uma comunicação com a realidade. Embora seja uma novidade no contexto da poesia moderna brasileira, o gauchismo, como postura de negação crítica do mundo, já existia desde Baudelaire, poeta pós-romântico francês.

Ao gauche não já saídas: nem o amor, nem a morte, nem mesmo o isolamento. Desesperado, ele busca comunicar-se com o mundo por meio do canto, mesmo que seja um canto torto e gauche.

Embora o gauche afirme que “a poesia é incomunicável”, é ela que estabelece a mediação entre o eu e o mundo, e talvez a saída, a única esperança, para ele, seja cantar o próprio canto ou cantar o silêncio, isto é, cantar o canto que não existe.

EXERCÍCIOSEXERCÍCIOSDE DE

SALASALA

POEMA DE SETE FACESPOEMA DE SETE FACES

Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens que correm atrás de mulheres. A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos.

1. Releia a 2ª estrofe. Nela, o mundo exterior é descrito pela ótica do eu lírico. ANALISE:

a)O eu lírico participa diretamente do mundo que descreve? Por quê?b)O que parece interessar mais às pessoas que fazem parte do mundo exterior?

POEMA DE SETE FACESPOEMA DE SETE FACES

Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens que correm atrás de mulheres. A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos.

2. O gauchismo do eu lírico é anunciado por um “anjo torto”. Os anjos são comuns nas histórias religiosas, como na do anjo Gabriel que aparece a José e ordena que ele fuja de Jerusalém com o menino Jesus. Diante disso, redija um parágrafo dissertativo COMPARANDO os anjos das histórias religiosas com o anjo do poema.

O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas amarelas. Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração. Porém meus olhos não perguntam nada.

3. A 3ª estrofe surpreende com uma imagem insólita, incomum — “O bonde passa cheio de pernas” —, e estabelece ainda uma oposição entre de ideias quanto à forma como o eu lírico vê as pernas. Levando em conta que coração se relaciona com emoção e olhos com razão, dê uma interpretação coerente a essa contradição vivida pelo eu lírico.

O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas amarelas. Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração. Porém meus olhos não perguntam nada.

4. Apesar de publicado em 1930, o poema apresenta características que o associam à produção dos primeiros modernistas, com a construção fragmentada, os flashes e a falta de pontuação no 2º verso da 3ª estrofe. Que correntes de vanguarda se associam a essas características?

O homem atrás do bigode é sério, simples e forte. Quase não conversa. Tem poucos, raros amigos o homem atrás dos óculos e do bigode,

5. Na 4ª estrofe, é descrito o “homem atrás dos óculos do bigode”. Interprete:a)Que diferença há em dizer que o homem “usa óculos e bigode” e está “atrás dos óculos e do bigode”?

b)É possível afirmar que ele é gauche? Por quê?

Meu Deus, por que me abandonaste se sabias que eu não era Deus se sabias que eu era fraco.

6. A 5ª estrofe lembra uma passagem bíblica: quando Cristo, em um momento de fraqueza, dirige-se ao Pai e se queixa de seu abandono e desamparo. Compare as duas situações, em que o Cristo e o gauche se dirigem a Deus e responda:a)Que semelhança há, nessas situações, entre o Cristo e o gauche quanto ao seu relacionamento com o mundo?

b)Considerando o verso “se sabias que eu não era Deus”, por que se pode afirmar que a queixa do gauche é ainda mais dramática que a do próprio Cristo?

Mundo mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução. Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração.

a) O fato de mundo estar contido no nome Raimundo permitiria que o eu lírico estivesse devidamente enquadrado no mundo exterior? Que verso justifica sua resposta?b) Nos versos “Mundo mundo vasto mundo / Mais vasto é meu coração”, pode-se supor um sentimento de superioridade por parte do eu lírico? Justifique.

A 6ª estrofe apresenta um jogo de palavras. O gauche supõe a possibilidade de chamar-se Raimundo (um nome que contém a palavra mundo); no entanto, afirma, tal fato levaria apenas a uma rima, não a uma solução. Interprete:

Eu não devia te dizer mas essa lua mas esse conhaque botam a gente comovido como o diabo. 

Na última estrofe, é introduzido um interlocutor, até então ausente, identificado pelo pronome te: “Eu não devia te dizer”

a)Levante hipóteses: quem poderia ser este interlocutor.

b) De acordo com a estrofe, o conhaque e a atmosfera noturna deixaram o eu lírico comovido. É como se todo o poema fosse fruto da bebedeira, não fosse uma coisa séria. Em sua opinião, o eu lírico estaria falando sério ou blefando? Por quê?

9. O poema está organizado em sete estrofes. Observe a relação existente entre elas.

a)Por que o poema se intitula “Poema de sete faces”?

b) Apesar de não estar explícito, existe um fio condutor que liga, no plano do conteúdo, todas as estrofes do poema. Qual é o fio?

10. A introdução do nome Carlos na 1ª estrofe parece situar o poema e o gauchismo no plano autobiográfico. Contudo, o assunto abordado — o “estar-no-mundo”, o eu perante is valores sociais, a comunicação, o outro, etc. — é particular ou universal? Por quê?

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