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DESGRAÇAS DE UM PAI NATAL
(Senta-se e descalça as botas com dificuldade.)
– Ai os meus pobres, pobres pezinhos, todos gretados do frio!
(Irritado, dirige-se à assistência)
– Ao menos digam que têm pena de mim! Anda uma pessoa para aqui a carregar prendas deum lado para o outro, com um saco às costas a pesar toneladas, e quando lhe acontece umadesgraça ninguém tem pena dele! Olhem bem para a minha cara cheia de adesivos! E para asminhas pernas cheias de nódoas negras! E, ainda por cima, palavra que não tive culpanenhuma! Eu até estava sossegado ao pé das renas… A culpa foi toda do homem do talho! E daminha prima Sancha, claro!
(Pára, coça a cabeça, acalma-se.)
– Mas agora reparo: eu ainda nem vos disse quem sou! Se a minha prima Sancha estivesseaqui já me tinha chamado malcriado!
(Ri.)
– Bom, mas, se vocês olharem aqui para a minha farda, percebem logo… O quê?… Sou o PaiNatal?
Isso é o que vocês pensam! Ah! Ah! Ah! Isso é que era bom! Por acaso não me calhava muitomal, não senhor! Rica vidinha, de papo para o ar, trabalhar só uma noite durante todo o ano, ese calhar receber ainda horas extraordinárias por isso! Pois é. As pessoas fiam-se nasaparências e pronto: já não podem ver um barrete encarnado, umas botas e umas barbas a umfulano sem lhe chamarem Pai Natal! Todos os anos, por esta altura, é sempre a mesma coisa.
(Pausa.)
Pois fiquem sabendo que o meu nome é Nicolau. E aí é que começou toda a minha tragédia.Se a minha mãe me tivesse chamado João, Artur ou Epaminondas, nada disto acontecia. E tudoporque a minha prima Sancha descobriu, um dia, num livro, que o Pai Natal – o verdadeiro, oque nunca se estampa, o que nunca se suja na fuligem, o que nunca apanha tareias e não temnódoas negras nem adesivos na cara, o que é gooooordo, gooooordo e aparece em todos oscartõezinhos de boas-festas, pois, esse mesmo – se chamava Nicolau. Nem mais. Ni-co-lau.Então, uma noite, estava eu muito sossegadinho a dormir, quando, de repente…
Alice VIEIRA, Desgraças de um Pai Natal azarado, “Montepio juvenil”
assistência – conjunto dos espectadoresestampar-se – ter um acidentefulano – uma pessoa qualquerfuligem – poeira, carvãotragédia – grande desgraça
1. “Ao menos digam que têm pena de mim!” Que razões temos para ter pena dele?
2. Nos parágrafos indicados, escolhe um:
a. NOME COMUM b. NOME COLECTIVO c. NOME PRÓPRIO (2.° parágrafo) (3.° parágrafo) (4.° parágrafo)
3. Por que razão a assistência se engana quando olha para a farda?
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4. Que vantagem tem o verdadeiro Pai Natal no trabalho que faz?
5. “(…) o meu nome é Nicolau. E aí é que começou toda a minha tragédia.”Justifica esta afirmação.
6. O Pai Natal, o verdadeiro, é gooooordo, gooooordo.Inventa uma COMPARAÇÃO igualmente exagerada.
7. Coloca a PONTUAÇÃO nos sítios indicados:
Está lá Olá prima Sancha SimSou eu o Nicolau (…)
Ó prima não me mande trabalharEstou doente Se a prima me visse (…)Como Ainda me viu ontem
8. Escreve uma frase (TIPO IMPERATIVO, FORMA AFIRMATIVA) que a prima Sancha possa terdito ao telefone.
9. A quem gostavas de dar prendas este Natal? E que prendas gostavas de dar?
(Não te esqueças que aquilo que é feito por nós – um desenho, uma colagem, uma dobragem, umpoema... – tem um valor especial para aqueles que gostam de nós...)
Conta, o melhor que conseguires, uma experiência que tenhas vivido relacionada com estaépoca festiva.
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