HERMENÊUTICA CONTITUCIONAL. O Autor: Konrad Hesse

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HERMENÊUTICA HERMENÊUTICA CONTITUCIONALCONTITUCIONAL

O Autor:O Autor:

Konrad HesseKonrad Hesse

Konrad Hesse KONRAD HESSE nasceu em 29

de janeiro de 1919. Em 1995 realizou, na Universidade de Göttingen, o procedimento de admissão no corpo docente universitário como catedrático. Sua atividade docente teve início no semestre de inverno 1956/57 na Faculdade de Direito da Universidade de Freiburg i. Br. Com a conferência inaugural: “A força normativa da constituição”. De 1975 a 1987 exerceu a atividade de juiz constitucional no Tribunal Constitucional Federal alemão, sito em Karlsruhe. Em 1987 também se aposentou como professor univesitário. Faleceu em 28 de março de 2005.

A obra:A obra:

Elementos de Direito Elementos de Direito Constitucional da República Constitucional da República

Federal da AlemanhaFederal da Alemanha

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Roteiro

Conceito de Constituição; O método no estudo da constituição; Interpretação constitucional; Conclusão: “A força normativa da constituição”*.

CONCEITO DE CONCEITO DE CONSTITUIÇÃOCONSTITUIÇÃO

Uma constituição “tipo”Uma constituição “tipo”

CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO

Para Hesse, a Constituição é uma ordem Histórico/concreta, fincada nas linhas de força de culturais que dão vida ao presente e pretendem dirigir, por meio de planejamento e programas, o futuro, sem desligar-se completamente, entretanto, das influências do passado e da tradição.

Hesse, assim, rejeita a possibilidade de se estabelecer, em abstrato, um conceito de Constituição.

I - Características e funções:

a) A Constituição é a ordem fundamental jurídica da Coletividade.

Há, aqui, uma relação de implicação e bipolaridade entre Estado-Administração e Sociedade. A Sociedade legitima as ações do Estado e o Estado exerce, de fato, a unidade do Poder, garantindo os Direitos Fundamentais por meio de intervenções na realidade concreta. Contudo o Estado possui um função apenas residual, cabendo à sociedade a maior tarefa de se auto-organizar visando a realização dos princípios estabelecidos na Constituição ( pág. 32/33)

b) A Constituição determina princípios diretivos formadores da unidade política e para a planificação de metas e consecução de tarefas estatais, dando norte e vida à tarefa de assistência mútua vital ( pág 32).

Trata-se de verdadeira Constituição Dirigente ( normas programáticas)

c) Cria procedimentos funcionais de legitimação democrática e pacificação de conflitos.

d) Proporciona contornos administrativos à organização estatal.

e) Funda e estabelece competências.

f) Funda e estabelece a ordem jurídica.

g) Estabelece uma ordem de valores ao mesmo tempo dinâmica ( pág. 28 e 400, mutável e aberta, que não nega a possibilidade de lacunas ( pág. 39) e a existência de normas implícitas dentro do texto constitucional ( pág. 44) mas que é, também estática (pág. 28 e 40) quanto a um núcleo mínimo de estabilidade e consciência de si que permite à Coletividade reconhecer-se a si mesma e identificar-se enquanto pluralidade que perfaz uma unidade político-social interdependente. Em sua mobilidade e incompletude ( pág. 39), a Constituição limita-se a estabelecer apenas traços fundamentais ( pág. 46)

h) Trata-se de uma Constituição escrita, que reforça o efeito estabilizador e racionalizador do ordenamento jurídico, limitando as possibilidades de compreensão diferentes e proporciona pontos de referência firmes à concretização da Constituição ( pág. 43)

Nas palavra de Hesse:

“ A Constituição é a ordem fundamental jurídica da coletividade. Ela determina os princípios diretivos, segundo os quais deve formar-se unidade política e tarefas estatais ser exercidas. Ela regula procedimentos de vencimento de conflitos no interior da coletividade. Ela ordena a organização e o procedimento da formação da unidade política e da atividade estatal. Ela cria bases e normaliza traços fundamentais da ordem total jurídica. Em tudo, ela é o plano estrutural fundamental, orientado por determinados princípios de sentido, para a configuração jurídica de uma coletividade”. ( pág. 37) .

Em conclusão: “ A Constituição cria regras de atuação e decisão política; ela dá à política pontos de referências dirigentes, mas ela não pode substituí-los”. Ela, portanto, abre-se para as atividades políticas em sentido amplo, numa implicação de influências mútuas ( pág. 42)

O MÉTODO NO ESTUDO O MÉTODO NO ESTUDO DA CONSTITUIÇÃO.DA CONSTITUIÇÃO.

A concretização da norma A concretização da norma constitucionalconstitucional

Hesse vai trabalhar com a noção de:

CONCRETIZAÇÃO DA NORMA CONSTITUCIONAL. Para tanto ele lança mão das idéias de:

1) Decidibilidade: O Direito é uma disciplina da decisão, donde sua interpretação deve ser finalizada criando soluções para os problemas em pauta.

2) Tópica: A decidibilidade é tomada via inventio de argumentos e topoi argumentativos fornecidos pela tradição, pelos precedentes ( pág. 64, pelos limites do texto e influenciados pela lógica do razoável e da proporcionalidade (pág. 67), e pela comparação de direitos ( pág. 66)

3) O caráter criador da interpretação ( pág. 61)

4) A Interpretação voltada para a solução de problemas concretos ( não há, portanto, a priori , interpretações verdadeiras, só diante do caso concreto é que se pode chegar a uma interpretação razoável, prudente. pág. 62).

5) A Interpretação constitucional aceita certa influência dos métodos tradicionais de interpretação ( mens legis, mens legislatoris, teleológico, sistemático, silogístico, dentre outros, pág. 60), mas sobretudo é importante ater-se à objetividade proporcionada pelo texto normativo.

6) ”ÂMBITO DA NORMA”: é a referência histórico-concreta que perpassa o contexto em que a norma está em vigência.

7) “PROGRAMA DA NORMA”: é a extensão de significância expressa no texto da norma.

“O âmbito da norma” e o “programa da norma” são obtidos numa relação de mútua interdependência entre a pré-compreensão do interprete, o texto normativo e o caso concreto.

Conclusão

A concretização e a realização da Constituição ocorrem, por conseguinte, quando o problema e os horizontes de significância do contexto histórico-concreto densificam semanticamente o âmbito norma, e a decisão encontrada, via inventio, para solucionar o problema não entra em contradição com o programa da norma constitucional, antes o acompanha.

PRINCÍPIOS DA PRINCÍPIOS DA INTERPRETAÇÃO INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONALCONSTITUCIONAL

O fecho da concretização da O fecho da concretização da norma constitucionalnorma constitucional

PONTO IV - PRINCÍPIOS DA INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL

1) Unidade da Constituição: “ todas as normas constitucionais devem ser interpretadas de tal modo que contradições com outras normas constitucionais sejam evitadas. ( pág. 65). Há uma conexão total, interna e externa ( faz se referencia às normas de Direito Comunitário e Direito Internacional protetivas dos Direitos Humanos, pág. 66).

2) Princípio da Concordância Prática : havendo conflito na proteção de bens jurídicos há que se realizar a “ponderação de bens” e a “otimização”, traçando limite a ambos os bens para que “ possam chegar a eficácia ótima” (pág. 66), instituindo uma “proporcionalidade” a cada qual(pág. 67)

3) Princípio da exatidão funcional: Na interpretação da Constituição, Hesse defende que cada Poder deve manter-se estritamente no exercício de sua função típica. Não deve o Tribunal Constitucional passar a ter pretensões normativo-ativas. Não pode o Executivo passar a ter pretensões legiferantes (ex: abuso de medidas provisória), nem o Legislativo ter pretensões judicantes ( ex: perdão das multas eleitorais). Pág. 67

4) Princípio do Efeito Integrador: A interpretação constitucional de visar constituir em efeito integrador para conservação da unidade política ( ex: proibição, por inconstitucionalidade, da expressão das idéias de separação dos Estados do Sul do Brasil, com o objetivo de criar o País dos Pampas. Pág. 68).

5) Princípio da Interpretação Conforme à Constituição:“Uma Lei não deve ser declarada nula quando ela pode ser interpretada em consonância com a Constituição” ( pág. 71) . Parte-se da idéia de que a Constituição proporciona contornos precisos aos conteúdos de significância da Lei. Faz-se, assim, um controle de constitucionalidade não apenas negativo, mas, também, positivo, explicitando interpretação que torna a norma adequada a ter vigência dentro do sistema jurídico coordenado pela Constituição.

Pressupostos:

a) A vontade do Legislador democrático possui presunção de constitucionalidade.

b) O Tribunal deve ater-se a um minus de interpretação a fim de respeitar o princípio da exatidão funcional.

c) A inconstitucionalidade só deve ser declarada se for evidente

d) Deve-se buscar um equilíbrio entre o controle abstrato e o controle difuso, sob pena de transformar o Tribunal Constitucional em Tribunal Superior que decide sobre questões atinentes às normas comuns de Direito civil, penal, etc. pág. 74.

e) A Interpretação conforme deve respeitar a idéia de unidade da ordem jurídica, de maneira que as Leis promulgadas sob a vigência da Constituição devem ser interpretadas em consonância com esta, e as Leis antigas devem ser interpretadas adaptando-as à nova ordem inaugurada pela Constituição. Pág. 66.

6) Princípio da Força Normativa da Constituição:

A interpretação constitucional deve esforçar-se para dar estabilidade a vigor à Constituição. Há que ter, para tanto, “VONTADE DE CONSTITUIÇÃO”, isto é, a prática das ações dos governantes, dos indivíduos e dos grupos sociais deve ser no sentido de preservar o texto constitucional de mutações constantes e de rupturas com o objetivo de se efetivar, concretamente, as metas sociais buscadas pela Constituição, para tanto a Força Normativa da Constituição pressupõe-se que:

a) Estabeleça uma ordem normativa estável b) Efetive um constante processo de

legitimação democrática do texto constitucional

c) Implemente atos de vontade dos governantes, dos indivíduos e dos grupos sociais no sentido de se fazer cumprir e preservar o texto constitucional

d) Adapte o conteúdo da Constituição ao tempo presente

e) Renuncie a fazer priorizar interesses momentâneos em detrimento ao texto constitucional

f) Tenha consciência dos limites da própria constituição e, em conseqüência, da interpretação constitucional. (pág. 23 e 26 FN).

Exemplo de Exemplo de concretização da norma:concretização da norma:

O voto do “Juiz Joseph O voto do “Juiz Joseph Kirkland” sobre o conflito Kirkland” sobre o conflito

entre pró-vida e pró-escolha entre pró-vida e pró-escolha na questão do aborto nos na questão do aborto nos

Estados Unidos. (ver o filme Estados Unidos. (ver o filme O Desafio da Lei (Swing Vote)O Desafio da Lei (Swing Vote)

pesquisar na internet)pesquisar na internet)

CONCLUSÃO

Em conclusão, para Konrad Hesse, a Constituição, frente as forças políticas e materiais da Sociedade, possui, ainda que de maneira limitada, uma força própria, isto é, uma FORÇA NORMATIVA.

Tal Força normativa traz para os agentes sociais e os indivíduos uma pré-compreensão de mundo e de valores que lhes permitem coordenar suas ações políticas e as maneiras pelas quais vivem. A constituição exerce uma função dirigente, planejando e determinando metas a serem cumpridas para a consecução da unidade política e social em que se vive nos quadrantes dos Estados Sócias e Democráticos de Direito que seguem a tradição do Direito ocidental. Assim, a Constituição legitima-se e se impõe por si mesma enquanto valor ( (pág. 12 FN) necessário ao jogo democrático.

É em tempos difíceis que a Força Normativa da Constituição deve prevalecer, impedindo rupturas e violências ( pág. FN 25), cabendo, segundo Hesse, ao Direito Constitucional efetivar esforços para evitar que questões de Direito tornem-se questões de Poder, para tanto, compete ao Direito Constitucional despertar, incentivar e preservar a VONTADE DE CONSTITUIÇÃO, sem, contudo, cair em ilusões, tudo de maneira a, ao cumprir as metas de unidade, paz e bem estar social, CONCRETIZAR o texto constitucional, (pág. 27 FN).

CRÉDITOSCRÉDITOS

Prof. Dr. Rosângelo Rodrigues de Prof. Dr. Rosângelo Rodrigues de MirandaMiranda

Professor da Faculdade de Direito do Vale do Rio Doce – Professor da Faculdade de Direito do Vale do Rio Doce – FADIVALEFADIVALE

BIBLIOGRAFIABIBLIOGRAFIA

• HESSE, Konrad. Elementos de Direito HESSE, Konrad. Elementos de Direito Constitucional da República Federal Constitucional da República Federal da Alemanha. Trad. Luis Afonso Heck. da Alemanha. Trad. Luis Afonso Heck. Porto Alegre: Fabris, 1998.Porto Alegre: Fabris, 1998.

• _____A força normativa da _____A força normativa da Constituição. Porto Alegre: Fabris, Constituição. Porto Alegre: Fabris, 1991.1991.

FIMFIM

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