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Resenha
Tanta gente tão diferente no mundo – como pode ser que se-
jamos todos ao mesmo tempo tão diversos e tão parecidos? Tem
gente de cor de pele preta, branca ou amarela, tem gente alta e
gente baixa, gente corpulenta e gente magra. Gente de cabelo ca-
cheado ou liso, gente de cabeça raspada. Mas quase todo mundo
atravessa a vida com um misto de tristeza e alegria, nos diz a au-
tora. Muita coisa é muito diferente se alguém cresce morando na
favela ou num apartamento, no campo ou na cidade.
As famílias mundo afora podem ser das mais variadas: há as
numerosas e as pequenas, há quem tenha pai e mãe e quem te-
nha dois pais ou duas mães; há quem more com os tios ou com a
avó. Seja como for, todo mundo precisa de afeto e proteção. Todo
mundo precisa comer quando tem fome, beber quando tem sede,
ter onde dormir quando tem sono. Todo mundo de vez em quando
sente raiva, de vez em quando sente medo – e todo mundo preci-
sa ser tratado com justiça. Tão parecidos em muita coisa, precisa-
mos ser respeitados em nossas diferenças.
Em Igualzinho a mim, Ana Maria Machado apresenta a seus
pequenos leitores o princípio básico dos direitos humanos: a ideia
de que temos direitos e necessidades iguais, mesmo sendo muito
diferentes. A dança entre igualdade e diferença proposta pelo li-
vro se desenha de maneira ao mesmo tempo simples e complexa.
Afinal, não dá para falar de igualdade sem lembrar que a gente
vive num mundo espantosamente heterogêneo, no qual povos
com diferentes línguas, tradições e hábitos precisam conviver.
Ao mesmo tempo em que as diferenças culturais precisam ser
IGUALZINHO A MIMAna Maria Machado
Coordenação: Maria José Nóbrega
© M
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é A
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respeitadas, é necessário também combater os abismos seve-
ros de desigualdade social, que fazem com que algumas pessoas
cresçam de maneira protegida, enquanto outras atravessam uma
infância dura e brutal. Lembrar que somos todos fundamental-
mente iguais, apesar das diferenças de cor de pele e de modo de
vida, é lembrar que não é justo que alguns tenham mais direito à
vida do que outros.
As belas ilustrações de Maria José Arce contribuem muito para
enriquecer a discussão do livro, trazendo uma enorme diversidade
de personagens com diferentes tons de pele, cortes de cabelo e
maneiras de se vestir – e que no decorrer do livro vão se tornando
capazes de olhar uns para os outros, se aproximar, dividir o mes-
mo espaço – e até mesmo de se desentender e se reaproximar. A
autora e a ilustradora parecem apostar que a empatia, a capaci-
dade de se reconhecer no outro, é um elemento-chave para que
a gente possa construir um mundo mais acolhedor para todos os
seus habitantes.
Depoimento
De Pedro Felicio, ator, músico e pai
Ana Maria Machado escreve livros há muito
tempo. Eu, quando criança, li um bom bocado de
livros dela. Então, me digam, como é que ela conse-
gue até hoje contar histórias tão novas, tão atuais,
tão leves e ainda tão bonitas?
Me surpreende muito o grau de frescor e de ex-
perimentação que Ana Maria Machado e Maria José
Arce alcançam nessa obra, Igualzinho a mim.
Para meus filhos, o processo de leitura foi bas-
tante surpreendente também. Começamos a leitu-
ra juntos, no sofá, eu no meio, minha filha de um
lado, meu filho de outro. Eu lia e eles observavam.
Na décima terceira página, o mais velho, num
rompante quase gritado: “Não! Espera! Volta! São
os mesmos! Pai, são os mesmos da outra página!”.
Voltamos. A pequena resolveu participar: “Vol-
ta mais, pai! Olha!” e apontou para as páginas 8 e
9. “Espera!”, retornou o menino, virando mais uma
página para trás, “São eles! É a história deles!”.
Antes que pudéssemos retomar a leitura, o guri
me tomou o livro das mãos e avançou todas as pá-
ginas, para ter certeza de que estava entendendo
o processo. Página por página, sem que eu ou eles
lêssemos a história, foram avançando e observan-
do as ilustrações. Contaram a história da menina e
do menino que moram em lugares diferentes, ficam
amigos, brigam, mas seguem amigos. Terminado
esse pequeno surto, meu filho me devolveu o livro,
aberto nas páginas 12 e 13: “pode ler, pai.”.
Eu, voltando a ser incluído no universo das
crianças, li com calma e tranquilidade o livro até o
fim. Quando acabei, meu filho estava com o cenho
franzido. Pela terceira vez, ordenou: “Espera!”.
Esperei. Ele pegou mais uma vez o livro das mi-
nhas mãos, abriu-o nas páginas 20 e 21 e pediu que
eu lesse de novo. (Vejam, ele sabe ler, sabe o que
está escrito em cada uma das páginas, mas há um
tipo de código que ele e a irmã criaram sobre ler
livros comigo, em que o livro deve estar nas minhas
mãos ou colo e cada um deles de um lado.)
Apenas obedeci. Li aquele pequeno trecho
“Adora brincar com amigo, / Precisa de proteção /
Na ameaça ou no perigo.”. O garoto, do alto de seus
8 anos e meio de idade, ainda de cenho franzido,
olhando fixamente para a linda ilustração da pisci-
na na qual (como ao longo de toda a obra, diga-se)
Maria José faz uso de texturas orgânicas e geomé-
tricas, cores vibrantes, manchas de tinta e traços
delicadíssimos, meu filho declarou: “os desenhos
são a história deles e as palavras são uma poesia
sobre a história deles”.
Depois disso, não havia mais nada que eu pu-
desse acrescentar sobre este livro tão vivo e tão
importante para os tempos em que vivemos.
Fechei o livro e fomos viver mais um dia em
nossa luta incessante por mais igualdade, mais
respeito e mais poesia.
Um pouco sobre a autora
Ana Maria Machado é carioca, tem três filhos
e mora no Rio de Janeiro. São quase quarenta anos
de carreira, mais de cem livros publicados no Brasil e
em mais de dezessete países, somando mais de de-
zoito milhões de exemplares vendidos. Os prêmios
conquistados ao longo da carreira de escritora tam-
bém são muitos, tantos que ela já perdeu a conta.
A escritora vive viajando por todo o Brasil e pelo
mundo inteiro para dar palestras e ajudar a esti-
mular a leitura. Depois de se formar em Letras, co-
meçou sua vida profissional como professora em
colégios e faculdades. Também já foi jornalista e
livreira. Desde muito antes disso, é pintora e já fez
exposições no Brasil e no exterior.
Mas Ana Maria Machado ficou conhecida mes-
mo foi como escritora, tanto pelos livros voltados
para adultos como por aqueles voltados para crian-
ças e jovens. O sucesso é tanto que em 1993 ela
se tornou hors-concours dos prêmios da Fundação
Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ). Final-
mente, a coroação. Em 2000, Ana Maria ganhou o
prêmio Hans Christian Andersen, considerado o
prêmio Nobel da literatura infantil mundial. E em
2001, a Academia Brasileira de Letras lhe deu o
maior prêmio literário nacional, o Machado de As-
sis, pelo conjunto da obra. Em 2003, Ana Maria teve
a imensa honra de ser eleita para ocupar a cadeira
número 1 da Academia Brasileira de Letras.
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