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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Manaus, AM – 4 a 7/9/2013
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“Ah! É Pernambuco!”: o Futebol como Espaço de Autoafirmação da
Pernambucanidade entre os Torcedores Recifenses1
José Guibson DANTAS
2
Universidade Federal de Alagoas, Maceió, AL
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo levantar a hipótese de que o futebol, ao longo do tempo, se
converteu num espaço de demarcação geográfica e autoafirmação cultural para os
pernambucanos, mais precisamente para os habitantes da região metropolitana de Recife e
Zona da Mata do Estado – microrregião que foi palco dos grandes eventos políticos na
trajetória desse povo. Para chegar a esta conclusão, o autor faz uma breve revisão
bibliográfica da história do Estado, desde a época colonial até as significativas perdas de
território pós-1817 para, assim, situar a importância do futebol para a manutenção e defesa
do sentimento de “pernambucanidade”. Para efeito de ilustração, três episódios
futebolísticos recentes são descritos em detalhe a partir da análise de matérias veiculadas
pela imprensa online e percepções construídas in loco.
PALAVRAS-CHAVE: futebol; Pernambuco; resistência; demarcação geográfica;
identidade cultural.
1. Introdução
“Eu vi o mundo... ele começava no Recife”.
Cícero Dias (1907-2003)
A história de Pernambuco pode ser confundida com um romance, pois ambas são
constituídas por um formato cronológico dividido em três partes: início, meio e fim. “Fim”
porque o que se conhece por Estado de Pernambuco atualmente é apenas um resquício do
que foi esse pedaço de terra (de pouco mais de 98.000 km²) antes da independência do
Brasil, quando abrigava a cidade mais cosmopolita das Américas (MELLO, 2010) e sediou
eventos determinantes para a construção de uma identidade nacional face à dominação
portuguesa.
1 Trabalho apresentado no GP Comunicação e Esporte do XIII Encontro dos Grupos de Pesquisa em Comunicação, evento
componente do XXXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.
2 Doutor em Ciências da Comunicação pela Universidad de Málaga e professor do Curso de Comunicação Social da
Universidade Federal de Alagoas, email: josgdantas@gmail.com
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Muitos anos se passaram, mas ainda persiste entre a população de Recife um orgulho
subconsciente de descender diretamente de uma sociedade avançada que nem a quarta
geração de seus ancestrais conheceram, alimentando uma crença de superioridade cultural
aos demais povos da região, sobretudo em relação aos seus vizinhos geográficos que
outrora foram subordinados a Pernambuco: Paraíba, que fez parte da capitania de
Itamaracá, com sede em Igarassu; Alagoas, que foi comarca pernambucana até o início do
século XIX.
Esse bairrismo3 - fenômeno característico da última fase da monarquia (MELLO, 1999) –
não surgiu por acaso e pode ser traduzido como um produto da história que revela a
coexistência de complexos de inferioridade (ALMEIDA, 2007) e superioridade
(LAPLANCHE; PONTALIS, 2001) de uma população híbrida, formada por várias matrizes
culturais e étnicas (RIBEIRO, 1995).
No caso específico do povo recifense, supomos que o complexo de inferioridade se
manifeste no momento que se compara com o poderio econômico, a estética caucasiana
dominante e a visibilidade midiática do sulista. Já o complexo de superioridade surge como
um mecanismo de compensação, talvez, pelas perdas de território, da hegemonia regional
no campo da política e da cultura para a Bahia4 e representatividade no cenário nacional,
encontrando na frágil identidade cultural dos Estados vizinhos um ingrediente para a
construção de um discurso bairrista e muitas vezes carregado de preconceitos.
Essas tensões coletivas se tornam mais visíveis nas atividades lúdicas5, pois elas criam ao
redor de si uma atmosfera propícia e original para que os instintos mais primitivos do ser
humano se manifestem de forma espontânea, sem censuras.
Um exemplo disso é o carnaval, com seus corpos à mostra, as crises de gênero e algumas
libertinagens sem escrúpulos, que não são censurados pela sociedade, pois a própria
festividade carrega uma aura própria, um espaço de negociação entre signos, uma
linguagem, uma comunicação.
3 Ato de defender os interesses do seu bairro ou de sua terra, de maneira obsessiva e em detrimento dos demais
(HOLANDA. 2010).
4 Hegemonia que começa a sucumbir quando Pernambuco perde um território com o tamanho de quase duas vezes o
território do atual Estado pernambucano. SOBRINHO (1951), estudioso do tema, considerou inconstitucional o decreto de
14 de julho de 1824, assinado por Dom Pedro I.
5 Podemos citar o Projeto Armorial de Ariano Suassuna como um movimento cultural que visa “pernambucanizar” todas
as atividades lúdicas no Estado, criando uma Indústria Cultural tipicamente pernambucana. O seu pensamento está
sintetizado na obra “Almanaque Armorial” (SUASSUNA, 2008).
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O futebol, a exemplo do carnaval, também possui sua própria linguagem, sua fronteira de
atuação. Ao lado da festa de Momo é a manifestação popular que envolve e movimenta o
maior número de pessoas no Estado, pois como bem disse CASCUDO (2004, p. 620): “a
bola, feita de todos os materiais, madeira, borracha, couro, ervas, capim, palha, é o mais
universal dos esportes”.
É nos estádios que o pernambucano encontra o ambiente ideal para expressar seus
complexos, sua “pernambucanidade” imaginada, sua necessidade de pertencer a algo, pois,
como argumenta SCRUTON (apud HALL, 2011, p. 48):
“A condição de homem (sic) exige que o indivíduo, embora
exista e aja como um ser autônomo, faça isso somente porque
ele pode primeiramente identificar a si mesmo de uma
sociedade, grupo, classe, estado ou nação, de algum arranjo,
ao qual ele pode até não dar nome, mas que ele reconhece
institivamente como seu lar”.
Apesar de ser uma prática esportiva relativamente recente, com pouco mais de um século de
existência, o futebol em Pernambuco é um atração cultural que fornece informações
preciosas sobre o imaginário social da população, seus preconceitos, a forma com que
enxerga a si mesmo, sua relação com o Divino, com o passado e suas perspectivas para o
futuro. Dessa forma, justifica-se a escolha do futebol6 como pano de fundo para a análise e
reflexão sobre a identidade cultural pernambucana, pois esse esporte ultrapassa a categoria
de atividade lúdica para se converter numa ferramenta de comunicação:
“Dentro dessa estrutura, os programas artísticos públicos
extraíram grande parte de seu significado da história e dos
problemas sociais de um lugar determinado. O racismo, as
diferenças de classe e outras questões sociais são alguns dos
legados históricos disponíveis para se exercer o poder de
“saneamento” e de “solução de problemas” que as práticas
artísticas centradas na comunidade possuem” (YÚDICE,
2004, p. 410).
6 Apesar de ser o esporte mais profissionalizado no país e ter uma receita advinda, sobretudo, da iniciativa privada,
consideramos o futebol como um programa artístico público no Brasil, no sentido de YÚDICE (2004), devido à sua
importância para a construção de uma identidade nacional.
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2. Pernambuco imortal: do esplendor cultural à humilhação política.
Desde 1501, quando Gaspar de Lemos fundou feitorias no litoral da então colônia
portuguesa, Pernambuco passou a ser uma das regiões de maior atividade comercial da
região, alcançando, três décadas depois o status de capitania mais próspera na
administração de Duarte Coelho. Segundo GUERRA (1992), vários fatores foram
determinantes para o êxito inicial de Pernambuco: a eficiente administração de Duarte
Coelho – que investiu maciçamente na fundação de vilas e “pacificação” dos índios -, a
adaptação do cultivo da cana-de-açúcar ao clima quente e ao solo massapê, a maior
proximidade geográfica de Portugal e abundância de matérias-primas muito valorizadas na
época, como o algodão e o pau-brasil.
O êxito da capitania e a importância da mesma para Portugal, entretanto, despertou a cobiça
dos europeus, entre eles os holandeses, que decidem invadir Pernambuco em fevereiro de
1630 numa tentativa de retaliação à Espanha – que na ocasião fazia parte da União Ibérica7
com Portugal.
Os 24 anos de dominação holandesa deixaram marcas profundas na sociedade
pernambucana8, sobretudo culturais, já que a cidade se tornou uma metrópole vanguardista
(MELLO, 2007) que contrastava com a maioria das cidades e vilas da América portuguesa:
atrasada, isolada e que servia apenas de terreno para exploração comercial.
Após a Insurreição Pernambucana (1645-1654) e consequente expulsão dos holandeses,
várias revoltas e movimentos separatistas foram registrados em Pernambuco: Conjuração de
Nosso Pai (1966), Guerra dos Mascates (1710-1712), Revolução dos Suassuna (1801-
1802), Revolução Pernambucana (1817), Revolução de Goiana (1821) e Confederação do
Equador (1824), entre outras. Todas as agitações citadas surgiram por insubordinação da
população contra o poder central por razões econômicas e pelo desejo de autonomia política
por parte da burguesia local.
7 Segundo BOXER (1961), a invasão holandesa a Pernambuco teve motivação política. Como Portugal fazia parte da
União Ibérica com a Espanha, esta passou a ser considerada inimiga também pelos holandeses, que haviam conseguido a
independência dos castelhanos pela força. Dessa forma, os holandeses viram a invasão de Pernambuco – até então o
principal centro produtivo da colônia - como uma forma de impor um duro golpe ao inimigo ibérico.
8 Os 24 anos de permanência dos holandeses em Recife é um dos principais elementos históricos que molda o imaginário
popular de grande parte dos pernambucanos letrados, que enxergam esse período histórico como justificativa de uma
suposta diferenciação cultural em relação aos demais Estados do Nordeste.
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Figura 1 – Mapa do Brasil em 1789, antes da Revolução Pernambucana de 1817.
Diante das inquietações políticas e difusão de ideias iluministas entre a intelectualidade
pernambucana, o governo português passou a punir Pernambuco com perdas territoriais,
reduzindo-o a menos da metade do território que possuía antes de 1817, numa tentativa de
enfraquecer sua influência política e econômica na região.
A primeira punição a Pernambuco surgiu contraditoriamente após a chegada da família real
portuguesa ao Brasil, em 1808, fato que historiadores de várias vertentes - GOMES (2010),
BUENO (2010) e LOPEZ e MOTA (2008) - citam como benéfica para a independência do
Brasil, mas que para Pernambuco “logo se transformou em enormes encargos” (AQUINO;
MENDES; BOUCINHAS, 2009). A Revolução Pernambucana de 1817 eclodiu em Recife
em março daquele ano por conta da crise econômica regional, a repressão da monarquia aos
comerciantes e a influência das ideias iluministas propagadas pela maçonaria local. Como
punição, Dom João VI baixou o decreto de 16 de setembro de 1817, desmembrando a
Comarca de Alagoas, o que totalizou 27.767 km² de perdas territoriais.
Entretanto, a ação política que teve as piores consequências para Pernambuco foi a punição
imposta por Dom Pedro I em 7 de setembro de 1825, quando determinou o
desmembramento da extensa Comarca de São Francisco, atual oeste baiano, como resposta
aos desfecho da Confederação do Equador, um movimento revolucionário de caráter
republicano que, de acordo com AQUINO, MENDES e BOUCINHA (2009) resgatou
questões não resolvidas na Revolução de 1817, além de revisitar os episódios de violência
praticados pela repressão real naquela ocasião.
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Figura 2 - Mapa do Brasil em 1823, antes da punição imposta por Dom Pedro I
As punições impostas pela família real, além de humilhar a população daquele território, fez
com que Pernambuco afundasse numa crise econômica sem precedentes na história do
Brasil9. Com isso, o Estado acabou perdendo sua importância geopolítica no país,
concentrando as atividades intelectuais e econômicas num pequeno bolsão urbano, entre
Recife e Olinda – cidades que guardam ainda hoje a memória do Pernambuco pré-1817.
Figura 3 - Mapa atual da Região Nordeste
3. “Ah! É Pernambuco!”: o futebol como espaço de manifestação do sentimento de
pernambucanidade.
A breve leitura da história de Pernambuco registra uma série de eventos que podem dar
pistas para a compreensão do comportamento do torcedor pernambucano residente na
região metropolitana da capital, sobretudo em relação aos clubes do Sudeste do país. Pouco
restou da grandiosidade do passado e as artes (incluído o futebol) se tornou o espaço ideal
9 Os efeitos econômicos foram tão dramáticos que só nas últimas décadas o Estado conseguiu reconstruir sua economia.
Durante mais de um século, Pernambuco apresentou um crescimento menor que a metade da média de crescimento do
resto do país (AQUINO, MENDES e BOUCINHA, 2009).
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para a manifestação de uma pernambucanidade reprimida há quase dois séculos, como
também uma fronteira imaginária que demarcasse a geografia humana do lugar.
Para defender a hipótese de que o futebol, ao longo do tempo, se converteu num espaço de
autoafirmação cultural para os pernambucanos que residem em Recife e arredores,
descreveremos três casos futebolísticos como proposta de compreensão do assunto.
3.1. A celeuma entre Sport Recife e Flamengo em 1987.
O campeonato brasileiro de futebol de 1987 foi um dos torneios esportivos mais
conturbados da história esportiva do país devido ao seu confuso regulamento, que previa o
cruzamento dos campeões e vices dos módulos verde e amarelo numa competição com 24
clubes divididos em dois grupos com forças desiguais10
. Durante a competição, os finalistas
do módulo verde, Flamengo e Internacional, decidiram contrariar o regulamento – que, vale
lembrar, foi aceito por todos os clubes antes do início do torneio – e não disputaram as
semifinais com o Sport Recife e Guarani-SP, campeão e vice do módulo amarelo,
respectivamente. Então, coube aos dois clubes disputar as finais do campeonato nacional,
que acabou sendo conquistado pelo rubro-negro pernambucano.
Durante todos esses anos, a agremiação Clube de Regatas Flamengo, por diversas vezes,
entrou na justiça para reaver o título de campeão brasileiro, mas teve seu pleito negado em
todas as instâncias – apesar da campanha midiática orquestrada pela Rede Globo de
Televisão e a pressão exercida pelos fortes patrocinadores do clube.
Esse episódio, apesar de envolver apenas um clube de Recife, despertou a indignação dos
demais torcedores recifenses contra os clubes do eixo Rio-São Paulo. Apesar da rivalidade
entre os clubes de Recife ser uma das maiores e mais antigas do país11
, surgiu
(silenciosamente) um sentimento de comunidade (BAUMAN, 2003) entre os torcedores
pernambucanos, como se os torcedores do Santa Cruz, Sport e Náutico buscassem na
“pernambucanidade futebolística” um lugar seguro para manter as tradições de suas cores e
manter viva sua própria rivalidade. Isto é: o fato de um clube da cidade desafiar as conexões
políticas de alto escalão e o poder econômico do clube de futebol mais popular do Brasil
acabou por acirrar o bairrismo local, com consequências que extrapolam muitas vezes as
10 Essa divisão desigual pode ser entendida como a primeira tentativa da CBF em enxugar o número de participantes do
campeonato brasileiro da 1ª divisão – uma antiga reinvindicação das emissoras de televisão que transmitem os jogos.
11 Essa rivalidade envolve lutas de classe, de raça e ideologias. Diante de sua complexidade é necessário um estudo
exclusivo e aprofundado sobre esse tema.
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questões esportivas. Um exemplo disso é a forma com que o torcedor pernambucano passou
a encarar os torcedores dos Estados vizinhos que apoiam os clubes do Sudeste.
Numa matéria publicada pela página do Flamengo no portal do Globo Esporte, em outubro
de 2008, a capital pernambucana é noticiada como um ambiente hostil, inclusive perigoso
para o indivíduo que expressa publicamente sua simpatia por um time que não seja oriundo
de sua cidade natal. “Aqui é difícil ser torcedor do Flamengo. Sofremos muito porque os
torcedores do Sport têm uma rivalidade muito grande conosco e não toleram que torçamos
por uma equipe de fora do estado” disse na época o presidente da Fla Recife, Marcos
Quintanilha, uma torcida que vive praticamente de forma clandestina em Recife
(PEIXOTO, 2008).
A matéria ainda afirma que há predomínio quase total dos três clubes locais, Sport, Santa
Cruz e Náutico e que a forte rivalidade criada entre o Flamengo e o Sport por causa
do Brasileiro de 1987 dificulta ainda mais a tarefa de torcer para um clube do Sudeste em
terras pernambucanas.
Figura 4 - Mídia do Sudeste noticia o comportamento do torcedor pernambucano
Numa outra matéria, datada em 15 de novembro de 2009, quando o Flamengo visitava o
Recife para disputar uma partida com o Sport Recife, o GloboEsporte.com ressaltou o clima
hostil que envolvia o jogo, assim como viviam os torcedores flamenguistas que moram em
Recife:
“Na mídia local há ataques constantes. Na última semana, o jornal de maior circulação do
estado publicou uma coluna que chamava os torcedores do Flamengo na região de "cariocas
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de segunda categoria". O repúdio à escolha da paixão pelo clube carioca também é notório
nas ruas. Basta conversar com torcedores de Sport, Santa Cruz e Náutico para notar que a
opção de idolatrar o Flamengo não é bem quista” (PEIXOTO, 2009).
Em outro trecho da matéria, a agressividade dos torcedores locais é descrita em detalhes:
“As represálias vêm, sobretudo, em forma de palavras. A Fla-
Recife recebe ameaças constantes de depredação. Mas em
2008, por exemplo, todos os outdoors com propaganda da
FlaTV foram alvos de atos de vandalismo. Para assistir aos
jogos tranquilamente e celebrar a "paixão rubro-negra", a
sede localizada em um clube militar serviu perfeitamente”
(PEIXOTO, 2009)
Figura 5 - GloboEsporte.com ressalta a hostilidade do torcedor recifense às cores do Flamengo
Foi a partir da celeuma entre Sport Recife e Flamengo que surgiu entre os desportistas
pernambucanos o termo pejorativo “paraibaca”, que faz alusão aos torcedores dos Estados
vizinhos que torcem para clubes do Sudeste12
e que costumam ir aos estádios em
Pernambuco para dar seu apoio aos clubes sulistas em torneios nacionais.
Numa entrevista dada ao GloboEsporte.com, um taxista afirma que é inadmissível que um
nordestino torça por um clube do “sul” e argumenta que é por essa razão que os clubes
12 Curiosamente, o torcedor pernambucano nutre profunda simpatia por torcedores forasteiros que torcem para clubes de
seus Estados. É comum, nas ruas de Recife, um futebolista identificar uma camisa de outro clube, perguntar se o
proprietário da mesma é oriundo do Estado que o clube é sediado. Com a resposta positiva, o clima se torna amigável.
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nordestinos se encontram numa situação de fragilidade no cenário futebolístico nacional
(PEIXOTO, 2009)
A hostilidade aos nordestinos que torcem por clubes de outras regiões – representados
principalmente pelos flamenguistas – ganhou proporções tão sérias que acabou
influenciando outros Estados, inclusive a Paraíba, que empresta o nome para o termo
pejorativo “paraibaca”.
Figura 6 - Torcedores paraibanos e potiguares engrossam a hostilidade aos "paraibacas".
Fazendo um paralelo com o passado, a forma como o Sport Club do Recife enfrentou o
conglomerado hegemônico Flamengo-Rede Globo-Petrobrás/Coca-Cola e a revolta que
esse embate produziu nos torcedores pernambucanos parece reproduzir o comportamento
revolucionário que foi revisto anteriormente, o mesmo que fez Recife ser apelidada de
“noiva da revolução” (AQUINO; MENDES; BOUCINHAS, 2009) e ser punido pela
família real portuguesa.
3.2. As “invasões” aos estádios dos Estados limítrofes.
O Santa Cruz Futebol Clube, time mais popular do Estado de Pernambuco, sofreu três
rebaixamentos de divisão em sequência, entre os anos de 2006 e 2009, fato inédito no
futebol nacional até hoje. Sem receber receita do Clube dos 1313
, com dívidas trabalhistas
que ameaçavam leiloar o patrimônio do clube, além de uma crise política sem precedentes,
muitos especialistas do centro-sul do país temiam o futuro do clube, apelidando-o muitas
vezes de novo “América do Rio14
”.
13 Famigerada entidade criada com o objetivo de defender os interesses políticos e comerciais de vinte clubes do futebol
brasileiro.
14 O América Football Club é uma agremiação tradicional do Rio de Janeiro que hoje se encontra no ostracismo.
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Entretanto, o que se viu foi um movimento popular de grandes proporções a partir do
campeonato brasileiro da Série D de 2011, quando mais de quinze mil torcedores se
deslocaram de Recife para João Pessoa para assistir o jogo Santa Cruz x Alecrim-RN no dia
17 de julho de 2011. Vale ressaltar as seguintes condições que envolviam a partida: 1-Nessa
mesma tarde jogavam Brasil x Paraguai pela Copa América; 2-O próprio jogo do Santa
Cruz era televisionado pela TV Nova Nordeste para o Estado de Pernambuco; 3-O clube
vinha de uma eliminação precoce na mesma competição do ano anterior; 4- O tempo
naquela região do Nordeste apresentava instabilidade, com fortes pancadas de chuva que
destruíram, inclusive, uma ponte que ligava os dois Estados, obrigando os torcedores a
optar por um caminho alternativo mais longo para poder retornar à sua cidade.
Figura 7 - Invasão coral a João Pessoa: um ato simbólico que ultrapassa as questões futebolísticas.
O episódio conhecido como “a invasão coral de João Pessoa” possui um poder simbólico15
entre os torcedores, sobretudo daqueles quinze mil que participaram do ato. In loco era
visível o êxtase dos torcedores quando se aproximavam do Estádio Almeidão, parecendo
muitas vezes uma invasão de um exército que objetivava reconquistar uma terra que antes
fora dele.
O êxito da invasão à capital paraibana fez com que se criasse uma agenda de “invasões” aos
Estados vizinhos, atitude parecida ao que aconteceu na Copa dos Campeões de 2000,
quando a torcida do Sport Recife “invadiu” as cidades de João Pessoa e Maceió.
Durante o período que disputou a última divisão do certame nacional, nos anos de 2010 e
2011, o clube foi o campeão de público em todas as divisões, realçando ainda mais o
sentimento de “pernambucanidade” que o futebol local carrega por meio de seus clubes.
15 “O poder simbólico é entendido como o poder que se exerce na cumplicidade daqueles que desconhecem a sua prática
na sociedade, organizada em campos sociais” (INDA, 1997, apud MARCHIONI, 2004, p. 55).
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Figura - Matéria do GloboEsporte.com aponta o Santa Cruz, até então na Série D, como a maior média
de público do país.
Além das questões históricas, culturais e logísticas que envolveram as “invasões” dos
torcedores dos clubes pernambucanos aos Estados vizinhos, a questão ideológica foi
central, para não dizer a principal norteadora das questões já referidas. Um exemplo disso
foi os cantos de torcida que surgiram nos estádios limítrofes, independentemente se a
torcida pernambucana era em maior ou menor número que a local.
Num jogo entre Treze e Sport no Estádio Amigão em Campina Grande, no dia 12 de
fevereiro de 2000 pela Copa do Nordeste daquele ano, a torcida visitante em menor número
entoava um grito com conteúdo político: “Ah, eu tô maluco, a Paraíba é o quintal de
Pernambuco”. Já num amistoso entre Santa Cruz e Botafogo da Paraíba no Estádio
Almeidão de João Pessoa em junho desse ano, escutava-se a rima “ê ê ê ê, na Paraíba não
tem time pra torcer ê ê ê ê”, numa clara alusão ao fato do Botafogo da Paraíba possuir um
escudo e cores muito semelhantes aos do homônimo. Outro grito muito entoado pelos
torcedores pernambucanos, independentemente do local e da ocasião, é “Ah! É
Pernambuco!”. Esse, aliás, foi o grito mais ouvido nos três jogos realizados na nova Arena
Pernambuco na Copa das Confederações e se transformou num grito de guerra em todos os
eventos (esportivos ou não) que envolvam representantes do Estado .
Outra manifestação comum nas “invasões” é a ostentação da bandeira16
de Pernambuco em
jogos fora de casa. Já estampada na camisa dos três grandes clubes da capital, a bandeira
está sempre presente nas comemorações das vitórias e dos títulos, como também nas
16 A Bandeira de Pernambuco foi idealizada pelos revolucionários de 1817 e oficializada, anos depois, pelo governador
Manuel Antônio Pereira Borba (TEIXEIRA, 2012).
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derrotas, quando costumam ser erguidas em jogos contra equipes de Estados considerados
“sem identidade cultural”, “vendidos”. Ou seja: nos Estados do Nordeste onde há grande
número de torcedores mistos - que torcem para um clube local e do eixo Rio-São Paulo ao
mesmo tempo – ou adeptos dos clubes de outra região.
Figura 8 - Torcedor pernambucano ergue a bandeira do Estado em jogo fora de Pernambuco.
3.3. O desprezo pernambucano ao clássico carioca na Arena Pernambuco.
A escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo de Futebol em 2014 motivou a
construção e reforma de praças esportivas localizadas em doze capitais nas cinco regiões do
país, incluindo Recife. Desde o início da escolha do projeto Arena Pernambuco, houve uma
reação contrária dos futebolistas recifenses à construção do estádio, pois argumentavam que
os três clubes da capital possuem seus próprios estádios e que neles estavam guardados as
suas histórias, possuindo, assim, um grande valor simbólico.
É o caso do Estádio Eládio de Barros Carvalho, conhecido como Aflitos, de propriedade do
Clube Náutico Capibaribe. Construído em 1939, o estádio foi desativado para jogos oficiais
no início de junho, pois a diretoria do clube resolveu arrendar a Arena Pernambuco por 30
anos, contrariando uma parte de seus torcedores que não queriam a transferência dos jogos
de seu clube para outra praça esportiva.
No início de julho desse ano, logo após a entrega do estádio à diretoria do clube alvirrubro,
uma notícia causou espanto e indignação dos torcedores pernambucanos, sobretudo do
Náutico, algo que curiosamente seria comemorado caso acontecesse em qualquer outro
Estado nordestino: o clássico carioca entre Fluminense e Botafogo seria disputado em
Pernambuco. Várias manifestações de repúdio ao jogo foram observadas nas redes sociais
e até dirigentes dos clubes locais se manifestaram. O presidente do Santa Cruz, por
exemplo, que possui estádio próprio e não tem nenhuma participação na Arena, criticou a
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organização do clássico vovô do Rio em Pernambuco e fez um desafio à sua torcida:
colocar mais público no jogo Santa Cruz x Cuiabá-MT que o clássico carioca.
Figura 9 - Campanha nas redes sociais contra o jogo “estrangeiro” em solo pernambucano.
As palavras do presidente surtiram efeito e torcedores do clube coral fizeram um
movimento chamado “Movimento Popular Coral”, cuja meta foi colocar mais público no
Estádio do Arruda que na Arena Pernambuco. O movimento, inclusive, contou com o apoio
dos times rivais, segundo um dos líderes do projeto, Leonardo Mendes:
"Os pernambucanos sempre foram resistentes a times de
outros estados e agora a revolta foi grande e rápida. A própria
administração da Arena ficou surpresa pela reação.
Conseguiram provocar uma rejeição das três torcidas. Vamos
por mais público no Arruda para desmoralizar esse clássico
carioca”(ESPORTE INTERATIVO, 2013).
O resultado foi esclarecedor: enquanto no jogo Fluminense x Botafogo teve o público de
9.669 torcedores, no jogo Santa Cruz x Cuiabá-MT pela série C teve mais de 18 mil
espectadores – quase que o dobro dos cariocas. Vale ressaltar que um dia antes, o Náutico
jogou contra a Ponte Preta na mesma Arena Pernambuco e atraiu 9.414 espectadores
(ESPORTE INTERATIVO, 2013).
Esse fato foi amplamente divulgado na imprensa do Sudeste, que passou a buscar razões
para um fracasso de público num jogo que contava com jogadores consagrados como Fred e
Seedorf.
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Figura 10 - Arena Pernambuco vazia: clássico carioca foi visto como uma ofensa pelos torcedores
pernambucanos.
O vexame do clássico carioca em terras pernambucanas foi exaustivamente comemorado
pelos futebolistas locais, que viram o fato como uma vitória frente à Rede Globo de
Televisão, emissora que é acusada de prejudicar os clubes pernambucanos em vários setores
da esfera futebolística.
4. Considerações momentâneas
A identidade cultural de um povo é construída a partir das experiências vividas por um
determinado grupo social e por isso mesmo não é estática (MARTINO, 2010), está em
constante movimento, se recria a cada evento ou trauma vivido em sua existência. Dessa
forma, as experiências vividas pela população que habitou as capitanias de Pernambuco e
Itamaracá no século XVI, os habitantes da cidade maurícia do século XVII e a geração de
humilhados pós-1817 se fundiram em um só e deram origem ao que chamamos hoje de
“povo recifense”, dotado de um sentimento de pernambucanidade que norteia a forma como
enxerga o mundo, sua comunidade e o “outro”.
Esse povo encontrou no futebol um lugar propício para demarcar sua posição geográfica
perante os demais e exercitar uma autoafirmação histórica que poucos membros têm
consciência disso: só conseguem manifestar no campo sensorial.
Talvez, por isso, se cometam excessos, sobretudo no tocante à forma como se relacionam
com os intitulados “paraibacas” e com os clubes do eixo Rio-São Paulo, que significam, de
acordo com o imaginário futebolístico dos torcedores de Santa Cruz, Náutico e Sport, o
traidor e o vilão - ou uma representação moderna do que foi um dia a família real
portuguesa para o Estado.
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Manaus, AM – 4 a 7/9/2013
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