Internacional · O eletricista Hugo Herrera Morales, de 42 anos, ... brigam pelo direito de...

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A16 DOMINGO, 10 DE ABRIL DE 2016 O ESTADO DE S. PAULO

Internacional Boko HaramNigéria ignora destinode sequestradas porgrupo radical. Pág. A20

Meses antes daeleição, Justiçaexclui duas candi-daturas: do milio-nário CésarAcuña, que entre-gou dinheiro aeleitores durantecampanha, e a deJulio Guzmán,que descumpriunormas adminis-trativas nas pri-márias do partido

Fujimori é extraditado em setembro para o Peru para serjulgado pelas acusações de corrupção e violação dedireitos humanos. Dois meses depois, é levado ajulgamento pela morte de 25 pessoas em ação deesquadrão da morte. Em caso separado, é condenado a 6anos por ordenar,ilegalmente, buscas emum apartamento. Doisanos mais tarde, tambémé condenado a 25 anos deprisão por ordenar quesuas forças de segurançacometessem sequestrose assassinatos

Ollanta Humaladerrota Keiko

Fujimori,advogada e

filha doex-presidente, e

assume apresidência;

dois anosdepois, ele

rejeitaria pedidode perdão para

AlbertoFujimori

Rodrigo CavalheiroENVIADO ESPECIAL / LIMA

Keiko Fujimori vencerá hojeo primeiro turno da eleiçãoperuana graças ao sobreno-me. Seu pai, “El Chino” Alber-to Fujimori, governou entre1990 e 2000 e foi condenadopor crimes contra humanida-de. Na prisão há 11 anos, con-serva a fama de corrupto queacabou com o terrorismo, umtema ao qual nenhum eleitoré indiferente. O rival deKeiko na disputa definitiva,em 5 de junho, é a maior incóg-nita da votação.

O tamanho do triunfo deKeiko indicará se o elo familiardesta vez não será um teto. Em2011, ela foi derrotada por Ollan-ta Humala porque o antifujimo-rismo se uniu. A rejeição a elacontinua alta (28%, segundo oVox Populi), ao contrário deseus mais prováveis adversá-rios.O economista de centro-di-reita Pedro Pablo Kuczynski, co-nhecido como PKK, tem 1,8%de objeção. O nome ascendenteda esquerda, Verónika Mendo-za, tem 3,5% de rechaço. Ambosestão tecnicamente empatadoscom aproximadamente 15%, se-gundos as últimas projeções.

Keiko tem mais que o dobro,um fenômeno que se explica,em parte, pela guerra contra oSendero Luminoso encabeçadapor seu pai. No imaginário fuji-morista, seu líder levou obrasaos mais pobres, acelerou a eco-nomia e, principalmente, ani-quilou a guerrilha.

Fernandina Taype, de 63anos, escapou em 1984 do mas-sacre de Soras, a 800 quilôme-tros de Lima, quando o Senderoexecutou mais de cem campo-neses. O marido dela liderava adefesa da cidade e foi executa-

do. No ano seguinte, abando-nou sua chácara para viver comos cinco filhos em Lima.

“Até hoje tenho medo de vol-tar. A morte dele acabou comminha vida, que era plantar”,diz Fernandina, chorando no ca-sebre de compensado de madei-ra e teto de zinco furado na fave-la de San Fernando. “Nenhumcandidato me convenceu a vo-tar nele, nem Keiko.” A regiãonatal de Fernandina foi onde oconflito cobrou muito mais víti-mas e o fujimorismo ganhoutons de religião.

O eletricista Hugo HerreraMorales, de 42 anos, deixou a

localidade de Salcabamba, ou-tro miserável foco do conflitonos Andes, aos 12 anos. Lembrada guerrilha nas montanhas, oque o fez emigrar para Santa Cla-ra, bairro de classe média baixaa 11 quilômetros de Lima. Eleaponta três grandes méritos emFujimori. “Ele derrotou o Sen-dero, fechou um Congresso im-produtivo (refere-se ao golpede 1992) e acertou a economia.O que não quer dizer que eu vávotar na filha”, explica.

Herrera é um sinal de que atransferênciade votos tem exce-ções e a eleição pode ter surpre-sas.O antigo fã de Fujimori vota-

rá em Verónika, mas não podeespalhar. “Mesmo os professo-res, que a apoiam em massa, nãocontam para os vizinhos. Hámuita pressão dos fujimoristascontra ela, até um vídeo dizen-doque ela é terroristae comunis-ta”, reclama.

O radicalismo atribuído à psi-cóloga de 35 anos leva outra par-cela do antifujimorismo a esco-l h e r a m o d e r a ç ã o d eKuczynski, associada a seus 77anos. “Ele já foi ministro de Eco-nomia de Alejandro Toledo,tem experiência. E tem maischance de derrotar Keiko”, diza costureira Ana Toledo. Ela te-

ria razões para votar em Keikose levasse em consideração oatentado no qual o Sendero ma-tou 25 pessoas, em 1992, na RuaTarata, no bairro de Miraflores.Ana ainda mora a uma quadradali. “Lembro direitinho da ex-plosão. A onda expansiva des-truiu janelas e portas, foi um ter-ror.”

Sua prima, Susana Márquez,de 57 anos, não do nome da pes-soa que terá seu voto, só sabeque “é a filha de Fujimori”. “OSendero matou minha irmã pordar comida aos militares. Achoque Fujimori fez o que tinha defazer. Voto nela por isso.”

CRONOLOGIA

Dois anos depoisde eleito, Fujimorisuspende aConstituição eaplica um"autogolpe" comapoio do Exército;Abimael Guzmán,líder do Sendero,é preso econdenado àprisão perpétua;novo Parlamentounicameral éeleito

Fujimori seapresenta comocandidato àpresidência semrenunciar aomandato queexercia e, apesardas acusações defraude, é reeleito no2º turno apósAlejandro Toledodesistir da disputa;em novembro, viajapara Brunei e de lápara o Japão, deonde renuncia porfax; ValentínPaniagua, líder doLegislativo, assumeinterinamente

Cerca de um ano e meio após suacriação, a Comissão da Verdadee Reconciliação conclui que,durante os 20 anos de combateao Sendero Luminoso, pelomenos 69.280 pessoas forammortas nos confrontos armadosou em atrocidades cometidaspela guerrilha

O ex-presidente Alberto Fujimorié preso no Chile depois dedesembarcar de voo vindo doJapão, onde estava exilado;processo de extradição é iniciadopor Lima em novembro

2007

l Ataques atribuídos pelo gover-no peruano ao grupo SenderoLuminoso deixaram pelo menostrês mortos ontem em Santo Do-mingo de Acobamba, povoado a450 quilômetros ao leste de Li-ma, na região andina do Peru.

Conforme o jornal “La Repúbli-ca”, um veículo militar custodia-va a chegada de urnas e cédulasà localidade de Junín quando foiatacado na madrugada de on-tem. Dois militares e um civil mor-reram. Após o choque inicial, re-forços militares entraram emconfronto com os guerrilheirosde tarde. Havia relatos de gene-rais da reserva de outras vítimasno combate.

O lugar do confronto é umaregião montanhosa a 400 quilô-metros ao norte de Ayacucho,base histórica do grupo terroris-ta. O Sendero travou um combatecontra o Estado que deixou 70mil mortos entre 1980 e 2000.Embora tenha perdido força mili-tar, uma facção Sendero chama-da Proseguir continua ativa. Ogrupo tem um braço político que,impedido de disputar a eleiçãode hoje, pregou a adesão ao votonulo e em branco. / R.C.

Peru define hoje quem disputa 2º turnocontra Keiko Fujimori, dizem pesquisas

2016

Peru elege um civil,Fernando Belaúnde,após 12 anos de ditadu-ra; Sendero Luminosointensifica luta armada

1980 1990

Mais de 3 mil assassinatos políticos são relatados; em abril,Alberto Fujimori (à esq.) usa plataforma anticorrupção paravencer Mario Vargas Llosa na disputa presidencial; sãolançados programas severos de austeridade e privatizaçãoapós inflação passar dos 400%

1992 2000 2001 2003 2005 2011

US$ 800 misão destinados pelo governo pa-ra reparar vítimas das guerrilhas

Sendero mata pelomenos 3 no interior

Os principais casos de viola-ção de direitos humanoscontra o ex-presidente Al-berto Fujimori foram a cha-cina de Barrios Altos, quedeixou 16 mortos, em 1991, eo massacre de La Cantuta,no qual 9 estudantes e 1 pro-fessor morreram em 1992.Os crimes foram cometidospor um esquadrão da mortepatrocinado pelo Estado pa-ra exterminar guerrilheiros.

PARA LEMBRAR

l O ESTADO NO PERU

RODRIGO CAVALHEIRO/ESTADÃO

Segundo sondagens, filha do ex-presidente Alberto Fujimori deve terminar à frente, mas não evitará nova votação; Pedro PabloKuczynski, economista de centro, e Verónika Mendoza, deputada esquerdista, brigam pelo direito de enfrentá-la no dia 5 de junho

ELEIÇÕES PERUANAS. Decisão

Sobrevivente. Na favela onde vive, Fernandina se diz indecisa na votação de hoje: marido foi morto pelo Sendero, em 1984

Em junho, oeconomista deorigem indígenaAlejandro Toledoderrota oex-presidenteAlan Garcia emnova votação; trêsmeses depois,Suprema Corteexpede mandadointernacional decaptura contraFujimori

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O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 10 DE ABRIL DE 2016 Internacional A17

Economistaquer retomarcrescimento

A novaalternativada esquerda

Economista educado no exte-rior, com passagens pelo Ban-co Mundial, Pedro PabloKuczynski, conhecido no Perupelo acrônimo PPK, tenta pelasegunda vez chegar à presidên-cia do país. Participou das elei-ções de 2011, mas ficou longedo segundo turno. Kuczynski,de 77 anos, é apoiado pelo Prê-mio Nobel de Literatura Ma-rio Vargas Llosa e por grandeparte do establishment do Pe-ru, acostumado com o manejo

heterodoxo da economia ecom o crescimento com basena exploração de minérios co-mo o cobre e o ouro. O gran-de desafio do candidato, quecrê no livre mercado, é man-ter as conquistas econômicasdos últimos anos no Peru dian-te de um cenário de queda nasreceitas das exportações. Abriga de Kuczynski é chegarao segundo turno, onde prova-velmente deve contar commais apoio para derrotar a fa-vorita Keiko Fujimori que suarival direta, a deputada Veró-nika Mendoza. O economistatem mais apelo junto à classemédia liberal e partes dos seto-res mais elitizados da socieda-de peruana, no entanto temmais dificuldades de conse-guir votos entre os peruanosmais humildes.

Deputada Verónika Mendozaganhou a atenção da esquerdadepois que o Partido Naciona-lista, do presidente OllantaHumala, retirou sua candidatu-ra. Na campanha, ela prome-teu endurecer regras ambien-tais e taxar as empresas queexploram jazidas de cobre nopaís. Outra proposta polêmicade Mendoza é a realização deuma Constituinte para refazera Carta, nos moldes de proje-tos que tiveram sucesso na

década passada na Venezuela,no Equador e na Bolívia. Dife-rentemente do que ocorreucom Hugo Chávez, Evo Mora-les e Rafael Correa, no entan-to, Verónika tem contra si omau momento da economiaperuana e a tradição históricado país de pouco respaldo aprojetos ortodoxos. Mesmocandidatos que chegaram àpresidência com propostasalternativas ao livre mercado,como Alejandro Toledo e Ol-lanta Humala, governaram pe-lo centro e mantiveram umapolítica econômica de contro-le da inflação e de ajuste fis-cal. A deputada ganhou espa-ço depois que o Partido Nacio-nalista, de Humala, desistiude apresentar um candidatona disputa em razão da impo-pularidade do presidente.

Herdeira de ‘ElChino’ adotaverniz moderno

Rodrigo CavalheiroENVIADO ESPECIAL / LIMA

O peruano que consome umsofisticado ceviche, fã de pa-tas de porco à vinagrete e mes-mo o que encara a carne de ga-to, apreciada em algumas cida-des, têm algo em comum. To-dos choram de barriga cheiaquando o tema é economia.

Empresáriossequeixamdare-dução do crescimento nos doisúltimos anos de governo de Ol-lanta Humala da queda dos in-vestimentos externos. Operá-rios criticam terceirizações quebaixaram a qualidade do empre-go e nenhum presidente poste-rior a Alberto Fujimori conse-guiu reverter – Humala era umaesperança nessa área ao assumir

como esquerda moderada.Há uma sensação de desacele-

ração que os número compro-vam. Enquanto o crescimentonos três primeiros anos de man-dato ficou, em média, em 6,1%por ano, em 2014 e 2015 a médiacaiu para 2,5%. Uma situação dedar inveja à maioria dos paísesda América Latina. O BancoMundial prevê crescimento de

3,3%, para 2016, e de 4,5%, para2017, mas analistas creem quedependerá do nome que come-ça a ser escolhido hoje.

“Keiko Fujimori e Pedro Pa-blo Kuczynski devem ser bemrecebidos pelo mercado. Veró-nika Mendoza teria de moderarseu discurso radical, até porqueprecisaria de apoio rival no Con-gresso, que deve ter fujimoris-

tas em maioria”, avalia o econo-mista e consultor José CarlosRaquena. Ele menciona os trêsprimeiros colocados na maioriadas pesquisas.

A redução do crescimentonos dois últimos anos é credita-da, em parte, à baixa no preçodas commodities, mas tambémà perda de liderança de Humala,que trocou várias vezes de gabi-

nete e viu sua aprovação ficarabaixo dos 15%.

Parte do empresariado quebanca a campanha de Keiko vêno controvertido mandato deseu pai, Alberto Fujimori, o iní-cio da abertura econômica queteria levado ao crescimento re-gular a partir dos anos 2000.

“Ele realmente teve um pri-meiro período com medidas decontenção elogiadas, mas seusegundo ciclo foi de populismoirresponsável, que ainda encon-trou, em 1998, uma grande cri-se”, diz Raquena.

Naavaliaçãodocientistapolíti-co Francisco Belaúnde Matos-sian, da Universidade Científicado Sul, o mandato de Fujimorideixou um legado “monstruoso”em termos de direitos humanos,que coincidiu com um períodode desenvolvimento econômi-co.Em1994e1995,quandoseree-legeu, o país cresceu 12,3% e7,4%, respectivamente. Em 1992,ele havia fechado o Congresso edado um golpe referendado pelapopulação com a provação deumanova Constituição, em1993.

Keiko Fujimori,favorita nas pesquisas de opinião

Economia tende ase recuperar apósbaixa com Humala

PERFIS

Pedro Pablo Kuczynski,uma alternativa de centro

ELEIÇÕES PERUANAS. Expectativa do mercado

Verónika Mendoza,surpresa na disputa eleitoral

Filha do ex-presidente Alber-to Fujimori, Keiko tem 40anos e foi primeira-dama du-rante o governo do pai, após odivórcio dele e de sua mãe,Susana Higuchi. Em sua segun-da candidatura à presidência,ela se apresenta como modera-da e tenta se distanciar do le-gado do fujimorismo, prome-tendo não indultar o ex-presi-dente. Ao longo da campanha,viu-se obrigada a amenizar odiscurso, buscando posições

mais próximas ao centro po-lítico. Em virtude dos temoresenvolvendo uma possível liber-tação do ex-presidente, Keikochegou a assinar um documen-to no qual se comprometecom o “respeito irrestrito àordem democrática e aos direi-tos humanos”. Além disso,afirmou que lutará de maneiradrástica contra a corrupção,respeitará a independênciaentre os poderes e não usará ocargo para beneficiar nenhumparente. Nas eleições de 2011,Keiko chegou ao segundo tur-no, mas foi derrotada pelo na-cionalista Ollanta Humala, nu-ma coalizão que abrigou o cen-tro e a esquerda do Peru, emuma tentativa de evitar o re-torno do fujimorismo ao po-der depois de 11 anos da que-da de seu expoente máximo.

MARIANA BAZO/REUTERS

Crescimento do PIB peruano se manteve na faixa dos 2,5% anuais noúltimo biênio do mandato; média foi de 6,1% no primeiro triênio dele

Popularidade baixa. Protesto contra Humala em Lima

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A10 SEGUNDA-FEIRA, 11 DE ABRIL DE 2016 O ESTADO DE S. PAULO

Internacional

Rodrigo CavalheiroENVIADO ESPECIAL / LIMA

A candidata Keiko Fujimoridisputará um segundo turnopara chegar à presidência doPeru. Um levantamento ofi-cial divulgado às 21h30(23h30 emBrasília) combaseem20%dos votosmostrava afilha do ex-ditador AlbertoFujimori com38,4%.Seupro-vável rival em 5 de junho seráoeconomistadecentro-direi-ta Pedro Pablo Kuczynski,que tinha 25,4%.A líderde es-querda Verónica Mendozaobtinha 16,2%.Segundo uma contagem pa-

ralelamaisampla, feitapeloins-tituto Ipsos sobre todas as atasde votação, Keiko obtinha39,6% dos votos válidos.Kuczynski, de 77 anos, apareciacom21,5%, conseguidos princi-palmente nas maiores cidades.Ele foi ministro da Economiade Alejandro Toledo (2001-2006). Verónika, psicóloga de35 anos, tinha 18,7% – sua baseeleitoral éCuzcoeosuldopaís.Se a proporção se mantiver, ofujimorismo conseguiria pertode 60 das 130 cadeiras no Con-gresso, que é unicameral.

“Esperamos que seja um se-gundoturnocompropostas.As-sumimos a responsabilidadequeapopulação jánoshaviada-docomooposiçãoem2011”,dis-se Keiko em seu primeiro pro-nunciamento.Gritos de “Keikopresidente” foram ouvidos nafrentedohotelqueserviudeba-separaacandidataconservado-ra, do partido Força Popular.

Asmesmasmensagens de in-centivo apareceram na tumul-tuada votação da favorita, nobairro de La Molina, mas nãoeramuníssonas.Aodecidirespe-rar na fila sua vez de votar,Keikoouviuclamorescomo“de-volvamagranaroubada”e“cor-rupta”. Imprensada contra ummuro por dezenas de repórte-resquetentavamgravarumade-claração, foiprotegidapor inte-grantesdatropadechoqueese-gurançasprivadosemumsemi-círculo. Um cinegrafista foiagredido com uma cotoveladana boca por umpolicial, que foiretirado emumcamburão.A decisão de esperar como

qualquereleitor,mesmoqueti-vesse 50 metros de fila a suafrente, é compatível com a táti-ca de campanha de Keiko. Nosúltimos cinco anos, desde quefoi derrotada por Ollanta Hu-mala, ela percorreu o país emvoos comerciais, nos quais sedispunha a tirar selfies. As filasna votação foramtão frequentequeaRádioProgramasdelPerúregistrou não só a tradicionalvenda do lugar para quem nãoestavadispostoaesperar.Crian-çaseram“alugadas”aquemqui-sesse entrar na fila de atendi-mento prioritário.Atensãocausadapelaexposi-

çãodeKeiko levouapoiadoresedetratores a se empurrarem etrocarem acusações. “Fujimorifoi o melhor presidente que játivemos”, dizia uma mulher aumcanalestrangeiro.Ela foi in-terrompida por um estudante

que se identificou como Jari.“Ela não pode sair dizendo queum governo ditatorial fez coi-sas boas. Eles têm de devolvertodo o dinheiro que roubaram

do país”, afirmou.Alberto Fujimori, de 77 anos,

foi preso há 11 anos e condena-doporcrimescontraosdireitoshumanos. Ele responde a pro-

cessos por corrupção. Keiko,aos16anos,atuoucomoprimei-ra-damanogoverno,queduroude1990a2000.Eleenfrentaumcâncer e sua libertação, caso

Keiko chegue a presidência, foium tema reiterado de campa-nha. Ela prometeu que não be-neficiaráparentescasosejaelei-ta.

Tragédia indianaIncêndiomatamais de100 pessoas em templona Índia. Pág. A12

NAWEB

LIMA

Mascarados fecham com umveículo um motorista que aca-bou de tirar dinheiro no banco,roubam uma maleta e depoisdisparamcontraele.Ohomem,que dirigia de dia em uma dasmodernas avenidas abertas emLimaduranteoboomeconômi-co vivido até 2013, sobrevive,mas tem a perna amputada.“Isso é novo e tornou-se co-

mum. Não tínhamos esse tipode roubo”, comenta um perua-

no que assiste à cena em umaTVno restaurante de frango nabrasa, a comida do dia a dia emLima.Embora apareça emposições

intermediárias em rankings dehomicídios por habitante, lide-rados pela Venezuela, o Perutemomaiorporcentualdecida-dãos que relatam ter sido víti-mas de delitos: 30,6%, contrauma média de 17,3% na região,segundopesquisadoProjetodeOpiniãoPúblicadaAméricaLa-tina apresentada no ano passa-do.O tema tornou-se central na

campanha. Keiko Fujimori tema resposta mais controvertidaparaoproblema,colocaraMari-nha para defender a região por-tuáriadeLimaeoExércitoparagarantirasegurançade institui-

ções públicas. Ela tambémpro-meteaumentarosaláriodapolí-cia e “encurralar os delinquen-tes em 12meses”.O economista Pedro Pablo

Kuczynski defende penas mais

duraseofimdosbenefícios“pa-ra que ninguémmate alguém esaia em 8 anos”. A líder de es-querdaVerónikaMendozapre-tende ampliar a oferta de em-prego,“poissórecorreàativida-

de ilícita quem não tem traba-lho”.A professora Mirtha Sauce-

do, de 37 anos, eleitora deKuczynski, viajava ontem notremmetropolitanoquecortaacapital peruana. Ela votariacom os filhos Diego, de 1 ano, eMaria Fernanda, de 9. “Tenhacuidado com a câmera ao des-cer. A criminalidade está forade controle, o sistema de segu-rança colapsou”, advertia a ex-engenheira.Sua outra preocupação é a

educação. Ela gasta 210 soles(R$ 223) por semana nas ses-sões de terapia da filha, porqueosistemapúblicodeensinonãodácontadademanda.“Keikoes-tudounosEUAcomonossodi-nheiro,nãosabeoqueéaeduca-ção aqui.Mas é verdade que elanão pode pagar pelos pecadosdos pais”, ponderou.O motorista de táxi Manuel

Rubén, de 40 anos, ficou tão

frustrado da última vez que oassaltaramquepensouematro-pelar os dois jovens. “Sorte quenão fiz isso, teria estragadomi-nha vida.”Eleitor da esquerdis-ta Verónika, ele reclamava de“políticos que só veem direitoshumanos dos criminosos”.Umlevantamentodoinstitu-

to Ipsos feito entre dezembro ejaneiroemseispaísesdaAméri-ca Latina confirmou a tendên-cia. O Peru foi o país com omaiornúmerodeentrevistadosque se sentiam inseguros narua: 90%. / R. C.

MARIANABAZO/REUTERS

l PecadosCriminalidade é preocupação principal

KeikoFujimori vence,mas não evita2º turnonoPeru, diz contagemparcial

lO ESTADO NO PERU

RODRIGOCAVALHEIRO/ESTADÃO

“Keiko estudou nos EUAcom nosso dinheiro, nãosabe o que é a educaçãoaqui. Mas não pode pagarpelos pecados do pai”Mirtha Saucedo

PROFESSORA, ELEITORA DE KUCZYNSKI

Preocupação.Mirtha com a família: eleitora de Kuczynski

Peruanos têm a maiorsensação de insegurançaentre países da AméricaLatina, embora naçãonão seja a mais perigosa

Eleição peruana. Apuração oficial de 20% dos votos e levantamento sobre as atas eleitorais indicam que filha do ex-ditador AlbertoFujimori enfrentará no dia 5 de junho o economista de centro-direita Pedro Pablo Kuczynski, que abriu vantagem sobre esquerdista

Favorita.Keiko, após votar em Lima: líder nas pesquisas

TV Estadão. Filha

de Fujimori vai

para o 2º turno

estadao.com.br/e/Fujimori

6

O ESTADO DE S. PAULO SEGUNDA-FEIRA, 11 DE ABRIL DE 2016 Internacional A11

A premiada gastrono-mia permeia toda a vi-da social, mas particu-

larmente a política. Testemu-nha disso é o candidato Alfre-do Barnechea, que sentiu a re-jeição popular imediata de-pois de dispensar um torres-mo de porco em uma visitade campanha. O fato coinci-diu com seu declínio em pes-quisas, nas quais chegou a fi-gurar em segundo lugar. Seudesprezo pelo “chicharrón”foi questionado em entrevis-tas. “Já tinha comido vários,não aguentava mais”, justifi-cou-se.

Ontem, todos os candida-tos cumpriram uma tradiçãopolítico-gastronômica: to-mar o café da manhã ao vivoem rede nacional, em horá-rios alternados para que to-dos possam aparecer. O ofe-recido por Barnechea estavarepleto de torresmos.

Keiko Fujimori começou oseu às 8 horas, cozinhandouma salsicha de porco, quedepois ofereceria a jornalis-tas. A iguaria, preparada emuma frigideira até se tornaruma pasta alaranjada, a serservida em um pão redondo,tinha gosto de gordura pura.

“Meu vice-presidente não

está comendo porque é vege-tariano, não é porque não gos-ta da minha comida”, brin-cou Keiko, ao lado do maridoamericano, das duas filhas ede sua mãe.

Desde quinta-feira, a divul-gação de pesquisas de inten-ção no país esteve proibida.Para burlar o veto, nas redessociais passou a circular umcardápio em que os princi-pais candidatos ganharam no-mes de pratos locais e os pre-ços equivaliam a seus porcen-tuais nas pesquisas, segundodiferentes institutos, identifi-cados por suas iniciais e asso-ciados a tipos de cozinha.

A origem oriental garantiua Keiko o nome de Maki Acevi-chado no menu, divulgado nasexta-feira. O economista Pe-dro Pablo Kuczynski recebeuo nome de seu mascote decampanha, o cuy, espécie deporquinho da índia que os in-cas consideravam um pratosagrado. A esquerdista Veró-nika Mendoza foi batizada deRocoto Relleno, prato à basede pimenta vermelha. Emquarto lugar, veio Bernechea.Foi chamado afrancesada-mente de Espumita Barnaise.Uma alusão a sua resistênciaao popular torresmo. / R.C.

SANTO DOMINGO

A Sociedade Interamericana deImprensa (SIP, na sigla em espa-nhol) realizou ontem, em Pun-ta Cana, na República Domini-cana, uma defesa veemente daliberdade de imprensa e de ex-pressão na América Latina. En-tre as pautas da reunião tam-bém estão a indústria jornalísti-ca, a concentração de meios decomunicação na região e a trans-formação digital. A organizaçãoaproveitou ainda o evento para

criticar a liberdade de imprensana Venezuela.

“Quero enfatizar o forte com-promisso do governo dominica-no com a liberdade de imprensa

e de expressão. E, quando falode compromisso, não é uma ex-pressão retórica”, disse DanielMedina, presidente da Repúbli-ca Dominicana.

Medina e o secretário-geralda Organização dos EstadosAmericanos (OEA), Luis Alma-gro, assinaram a Declaração deChapultepec, que confirma ocompromisso com a liberdadede imprensa no país.

Críticas. No sábado, o presi-dente da Comissão de Liberda-de de Imprensa e Informaçãoda SIP, Claudio Paolillo, afir-mou que o governo do presiden-te venezuelano, Nicolás Madu-ro, utiliza o aparato judicial pa-ra “acuar, perseguir e silenciarjornalistas críticos e indepen-dentes”.

Segundo Paolillo, o acesso àinformação em alguns países daAmérica Latina e no Caribe ain-da é uma verdadeira “odisseia”.Ele lamentou a morte de jorna-

listas na região e defendeu queesses assassinatos sejam consi-derados crimes contra a huma-nidade.

Ele apresentou o relatório dacomissão, segundo o qual nosúltimos seis meses, 12 jornalis-tas foram mortos na região. “Outra vez, México e Brasil lide-ram a lista macabra com quatrojornalistas assassinados em ca-da um deles. Além disso, Colôm-bia, Guatemala, El Salvador e

Venezuela têm um morto cadaum e, como sempre, a impunida-de reina”, disse Paolillo.

O diretor executivo da SIP, Ri-cardo Trotti, elogiou a investi-gação jornalística que resultouno caso Panama Papers, quemostrou como chefes de Esta-do, empresários, criminosos ecelebridades ocultam recursosem paraísos fiscais em váriaspartes do mundo. “A SIP sem-pre defendeu que haja mais in-formações, porque o mais im-portante é a transparência”,afirmou Trotti.

Equador. Sobre o Equador, ojornalista reiterou as críticasque a SIP vem fazendo com rela-çãoàLei Orgânicade Comunica-ção. Na sua opinião, ela repre-senta uma “censura implacá-vel” por parte do governo equa-toriano aos veículos de impren-sa independentes do país. / EFE e

REUTERS

Rodrigo CavalheiroENVIADO ESPECIAL / LIMA

Cinco anos depois de o antifu-jimorismo garantir a vitóriade Ollanta Humala sobreKeiko Fujimori, a tarefa de im-pedir o regresso do sobreno-me japonês ao poder no Peruserá mais difícil. Analistas

veem um cenário mais favorá-vel à filha do ex-ditador Alber-to Fujimori, por mérito dela epelo perfil de seus oponentes.

Desta vez, há uma distânciamaior entre os que se revelaramseus principais rivais. Pedro Pa-blo Kuczynski, por exemplo,pretende estimular os investi-mentos em mineração, bloquea-

dos pela mobilização popularde Humala. A líder de esquerdaVerónika Mendoza prometiaaceitar o regresso das minerado-ras, mas revisar todos os contra-tos do setor. O programa do eco-nomista está mais próximo aode Keiko que do da esquerdista.

Três analistas ouvidos peloEstadodizem que Kuczynski te-

ria maior chance de vencerKeiko. “Em 2011, Humala tinhamais afinidade com os demaisopositores de Keiko. Não há ne-nhuma coincidência entreKuczynski e Verónika, e ne-nhum pediria votos para o ou-tro contra Keiko”, diz o cientis-ta político Fernando Tuesta Sol-devilla, da Pontifícia Universi-

dade Católica do Peru.A evidência mais clara de que

Keiko está mais forte é que ven-ceu o primeiro turno, depois deviajar durante cinco anos pelopaís. Em 2011, ela perdeu paraHumala na primeira votação,aproximou-se, mas foi derrota-da por 51,5% a 48,5%.

“Keiko tem hoje um terço de

eleitores muito sólido. Em2011, Humala tinha uma base so-cial muito mais ampla que osrivais de Keiko hoje”, afirma oanalista Hugo Guerra, profes-sor da Universidade San Martínde Porres. Projeções feitas an-tes do primeiro turno para a vo-tação de 5 de junho apontavamuma disputa acirrada de Keikocom o economista e uma vitóriaapertada contra Verónika.

A filha de Fujimori adotou co-mo estratégia atacar o mandatode Humala e deixar os rivais bri-garem entre si. Pelo menos empúblico, afastou nomes ligadosao governo do pai (1990-2000)para se aproximar do centro.

“Ela dispensou nomes mais li-gados ao fujimorismo tradicio-nal e fortaleceu um partido(Força Popular), algo que seupai nunca fez. Keiko liderouuma oposição dura a Humala,mas dentro dos limites. Criouuma bagagem democrática efez um esforço, embora mante-nha propostas conservadoras”,avalia o analista político JoséCarlos Requena.

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