View
215
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
POLITIZANDOPOLITIZANDOPOLITIZANDOPOLITIZANDO Boletim do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Política Social (NEPPOS/CEAM/UnB) Ano 2 - Nº. 6 Dez. de 2010
ISSN 1984-6223
PesquisasPesquisasPesquisasPesquisas EventosEventosEventosEventos Filmes e LivrosFilmes e LivrosFilmes e LivrosFilmes e Livros
Artigo: Profª. Joaquina Barata Teixeira
TCC A Efetividade da Ecopedagogia Proposta nas Medidas Alternati-
vas (Vivian de Oliveira)
Dissertação “Plano Amazônia Sustentável”: uma concepção de desenvolvi-
mento para a Amazônia (Selecina Locatelli)
Tese Bancos e a Responsabilidade
Socioambiental no Financiamento de Projetos de Hidrelétricas(Maria
Zilda da Conceição)
LIVROS: Cidades Mortas
Mike Davis
Os economistas e as rela-ções entre o sistema eco-nômico e o meio ambiente
Charles Mueller
FILME: Narradores de Javé
OPINIÃO: Prof. Edmilson Brito Rodrigues
I Seminário Internacional “Ruralidades, Trabalho e
Meio Ambiente”
2ª Seminário Internacional “O mundo dos trabalhado-
res e seus arquivos”
V Congresso Brasileiro em Ciências Sociais e Humanas
em Saúde.
EXPEDIENTE:EXPEDIENTE:EXPEDIENTE:EXPEDIENTE: Editora responsável: Camila Potyara Pereira Comissão Editorial: Carlos Lima, Potyara A. P. Pereira, Maria Auxiliadora César, Vitória Góis de Araújo e Marcos César Alves Siqueira Bolsista: Tázya Coelho Sousa Revisão: Marcos César Alves Siqueira Criação e Diagramação: Camila Potyara Pereira Imagem da Capa: Domínio Público POLITIZANDO (ISSN 1984-6223) é uma publicação quadrimestral do NEPPOS/CEAM/UnB. Todos os direitos reservados.
Núcleo de Estudos e Pesquisas em Política Social (NEPPOS / CEAM / UnB) Universidade de Brasília - Campus Universitário Darcy Ribeiro – Pavilhão Multiuso I, Gleba A, Blo-co A. Asa Norte. CEP: 70910 –900. Brasília/ DF. Tel: +55 (61) 3307-2932. Website: www.neppos.unb.br E-mail: neppos.ceam.unb@gmail.com
P Á G I N A 2
P O L I T I Z A N D O
TOME NOTA!
30/março e 01/abril 2ª Seminário Internacional “O mundo dos trabalhadores e seus arquivos” Local: Museu Nacional/RJ
12/dez/10 a 12/abril/11 Concurso Nacional de Anima-ção para Internet Tema: Água em Movimento Informações: entry@animamundi.com.br ou (21) 2541-7499 / (21) 2543-8860
17 a 20/abril V Congresso Brasileiro em Ciên-cias Sociais e Humanas em Saú-de. Local: USP/São Paulo Informações: http://www.cienciassociaisesaude2011.com.br/
11 e 12/maio I Seminário Internacional “Ruralidades, Trabalho e Meio Ambiente” Local: Deptº. de Sociologia da UFSCar/São Carlos-SP Informações: http://www.ppgs.ufscar.br/eventos.html
EDITORIAL É com satisfação que os editores do POLITIZANDO - Boletim
Acadêmico/Informativo do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Políti-ca Social (NEPPOS) do Centro de Estudos Avançados Multidisciplina-res (CEAM) da Universidade de Brasília (UnB) - brindam, mais uma vez, seus leitores com idéias, conhecimentos e informações politica-mente posicionados sobre temas de relevância inconteste. Neste número o tema selecionado foi meio ambiente, o qual assume pa-pel central nas discussões contemporâneas sobre o destino da hu-manidade face ao avanço tecnológico impulsionado pela expan-são das forças destrutivas do capital em escala planetária. Assim, embora as preocupações com a problemática da sustentabilidade ambiental não sejam novas e se apóiem em vertentes analíticas que, ora responsabilizam o crescimento populacional - especialmen-te entre os pobres -, ora recomendam, abstratamente, a educação ecológica e mudanças nos estilos de vida para o enfrentamento dessa problemática, este Boletim privilegia outro enfoque: analisa a questão ambiental a partir de seus determinantes estruturais e rela-ciona a referida questão com a política social pública. Isso quer di-zer, respectivamente, que as graves e periódicas alterações na na-tureza, corporificadas em catástrofes e extermínios de milhares de vidas (humanas, da fauna e da flora), não constituem um fato natu-ral movido por mãos invisíveis, para usar uma expressão dileta dos neoliberais; e nem tampouco significam azares governamentais. Pe-lo contrário, tais alterações resultam, como diz Joaquina Teixeira na Seção Artigo deste Informativo, de uma lógica capitalista na qual a relação entre homens e natureza assume concretamente a seguinte configuração: de um lado situam-se representantes do capital, ou burgueses egoístas nas palavras de Marx, que têm como objetivo constante e insaciável a acumulação de riquezas, que passarão a concentrar-se em poucas mãos; e, de outro lado, a natureza trans-formada em propriedade do capital. E, como conseqüência dessa lógica perversa, proliferam os atuais e bem conhecidos dramas soci-ais que não somente aprofundam os dilemas do desenvolvimento sustentável da maior parte das nações, mas afastam os trabalhado-res das suas chances de produção, submetendo-os a uma vida de desemprego massivo, incertezas e falência de direitos. Não é casual, portanto, a associação que aqui se faz entre meio ambiente e políti-ca social, submetendo esta ao crivo da crítica que interpela, como procede Edmilson, os seus verdadeiros compromissos com a satisfa-ção das necessidades sociais. Por ser um processo contraditório que tanto pode estar a serviço do capital como do trabalho, infere-se da entrevista com Edmilson Rodrigues, que se esta política se espaci-alizar obedecendo a lógica do capital ela reconfigurará o meio am-biente de forma desigual. Este é um pensamento instigante que o Politizando lança à reflexão.
P O L I T I Z A N D O
P Á G I N A 3
A EFETIVIDADE DA ECOPEDAGOGIA PROPOSTA NAS MEDIDAS ALTERNATI-VAS
Este trabalho de Conclusão de Curso, buscou analisar a efetividade das Medidas Alternativas, propostas pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios – MPDFT às pessoas envolvidas em delitos ambientais. O pres-suposto que deu origem a esta pesquisa foi o reconhecimento da dico-tomia entre a categoria Trabalho e a determinação constitucional de preservação ambiental como obrigação do Estado. Foram trabalhados os conceitos de educação ambiental como política pública garatindora dos recursos naturais, Trabalho como o meio de transformação da natu-reza, e Ecopedagogia como metodologia parceira na execução judicial do processo. Ao final, confirmou-se parcialmente a hipótese, qual seja, as medidas alternativas são muito eficientes para a formação de um su-jeito coletivo mais consciente de seu impacto no ambiente.
GRADUAÇÃO Autora:
Vivian Lopes de Oliveira
Orientadora:
Profª. Sílvia Cristina Yannoulas
Data de Defesa:
junho/2008
Instituição: Departamento de Serviço Social (SER)/Instituto de Ciências Huma-nas (IH)/Universidade de Brasília (UnB)
ESPAÇO DO ALUNO
MESTRADO Autora: Selecina Henrique Locatelli
Orientador: Prof. Marcelo Carvalho Rosa Data de Defesa: Agosto/2009
Instituição: Programa de Pós-Graduação em Sociologia / Departamento de Sociologia (SOL)/Instituto de Ciências Sociais (ICS)/ Universida-de de Brasília (UnB)
“PLANO AMAZÔNIA SUSTENTÁVEL”: uma concepção de desenvolvimento para a Amazônia
A sociologia nos mostra que as várias concepções de Amazônia estão ancoradas na concepção sociológica e política de desenvolvimento, ou seja, cada denominação atribuída à Amazônia corresponde a um determinado tipo de intervenção do Estado. Embora o Plano Amazônia Sustentável-PAS tenha propagado a adoção da concepção de desen-volvimento sustentável, os Planos Plurianuais 2004-2007 e 2008-2009 não apresentaram os meios de financiá-lo. Assim, formalmente, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) se tornou o programa no qual se priorizou os investimentos públicos nas áreas de infra-estrutura física e um grupo de medidas de incentivo ao investimento privado por meio da divisão do país em duas frações. Tais constatações reforçam a hipótese de que o atual governo não fez rupturas com o modo de pensar o de-senvolvimento da Amazônia iniciado formalmente há pouco mais de meio século: o modelo desenvolvimentista industrial.
DOUTORADO Autora: Maria Zilda da Conceição
Orientador: Prof. Fernando Paiva Scardua Data de Defesa: Agosto/2010 Instituição: Programa de Pós-Graduação em Política e Gestão Ambiental/ Centro de Desenvolvimento Sus-tentável (CDS) / Universidade de Brasília (UnB)
BANCOS E A RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL NO FINANCIAMENTO DE PROJETOS DE HIDRELÉTRICAS - Um estudo de caso de 1981 a 2009
Neste estudo exploratório descritivo o público pesquisado foi composto de auditores ambientais, pesquisadores com experiência no tema e téc-nicos dos maiores bancos financiadores de usinas hidrelétricas. Estes forneceram informações e visões sobre a sistemática de financiamento das usinas, bem como o entendimento da responsabilidade socioambi-ental e sustentabilidade nesse tipo de projetos. Além disso, foi feito um levantamento dos principais fatos ocorridos num período de quase vinte anos, que sinalizaram responsabilidade socioambiental e sustentabilida-de nos bancos pesquisados, por meio do qual procurou-se identificar e analisar possíveis similaridades, inovações e compartilhamento de proce-dimentos pelos bancos nas sistemáticas de avaliação, no financiamento e no monitoramento de Project finance de usinas hidrelétricas. A tese mostrou que os bancos pesquisados alinham-se às orientações legais, compartilham e aperfeiçoam continuamente suas estratégias, mas o monitoramento dos impactos socioambientais das hidrelétricas se encer-ra no final do empréstimo.
P Á G I N A 4
O presente texto é destinado ao leitor interessado na necessária crítica à forma atual da relação dos homens entre si (plena de alienação e violência) e destes com a nature-za (onde há ameaças globais de destruição e devastação). A relação do homem com a natureza aqui enfocada, não significa a rela-ção da natureza abstrata subordinada ao homem genérico, mas da natureza adjetivada como “propriedade”, subordinada ao capital - onde está subjacente a lógica da acumula-ção.
Vale reconhecer na relação meio ambiente e políticas sociais, grandes desafios para o século XXI, os quais cobram pressa e urgência nos compromissos políticos e na coragem inter-ventiva para a promoção da sustentabilidade da complexa teia de interações necessárias à vida das gerações presentes e futuras e da erradicação da desigualdade social – que exige transformar a igualdade formal da democracia em justiça substantiva.
Avanços na devastação da natureza e da força de trabalho
Quando o corpo de Chico Mendes baixava
à sepultura, em dezembro de 1988, milhões de quilômetros de selva ardiam, lançando na atmosfera grossos rolos de fumaça, às vezes tão negros e densos que transtorna-vam por horas e horas os vôos dos aviões comerciais sobre a região amazônica. E a
grita internacional começou [...] (SOUZA, M., 1990, p.15).
Teve repercussão mundial essa tragédia que estampou as faces destrutivas do avanço do capital em sua dimensão “globalizada”. A luta de Chico Mendes e dos seringalistas do Acre foi emblemática, por indicar a resistência dos trabalhadores na defesa de seu trabalho e na do meio ambiente.
Muitos já se manifestaram sobre a forma co-mo o capitalismo completou, neste início de século, seu processo antes embrionário de mundialização, alavancando as suas contradi-ções, entre as quais a devastação da natureza e da força de trabalho. Entretanto, não obs-tante desde o século XIX terem surgido formu-lações que ressaltaram a importância da UNI-DADE viva e ativa da humanidade com as condições naturais de sua reprodução – troca metabólica do trabalho com a natureza – uni-
dade que foi QUEBRADA por uma das tendên-cias da ordem do capital (e teria que ser expli-cada) , ainda se encontra, na literatura acadê-mica, o entendimento de que um “novo limi-te”, relacionado ao meio ambiente, só surgiu com a “globalização”, como se não fora um componente mesmo da lógica de existência do capitalismo.
Ora, trata-se de mais uma indicação de que ainda são poucos os que reconhecem na lite-ratura marxiana, uma indicação clara quanto ao conteúdo destrutivo do capital, no que diz respeito ao meio ambiente e ao homem.
Entre os que reconhecem, destaco FOSTER (2005), além dos que desenvolvem uma atuali-zação das determinações e conseqüências desse processo de mundialização, entre os quais: FRANÇOIS CHESNAIS (1994, 1996, 1998 e 1999) e V. FORRESTER (1996).
São conhecidas as expressões sociais do ad-vento desse movimento, as quais marcaram a década de 90 do século XX, e que trouxeram muitas incertezas e ameaças às populações assalariadas e desempregadas: estagnação, desemprego em massa, crescimento das desi-gualdades sociais, migrações.
No que toca ao meio ambiente, é sabido que a mundialização trouxe com ela associada a desregulamentação, daí que “[...] o merca-do desregulamentado segue sua racionalida-de sem compromissos [...], por causa da sua destrutividade ecológica” (POLANYI, 1978 apud ALTVATER, 1999, p. 118). Eis porque, não obstan-te os hoje chamados direitos de terceira gera-ção (onde se situam os ambientais), a reprodu-ção do capital, em sua forma de “modernização destrutiva”, corre à revelia desses direitos.
Quanto às políticas sociais, é sabido que as mudanças regressivas do consagrado padrão de proteção social que teve seu apo-geu entre 1945 – 1975, comparece na literatura contemporânea com um velado tom de sur-presa. Ora, debates (proféticos) do passado já apontavam sua derrocada futura e o seu incerto destino na ordem do capital.
O “pluralismo de Bem-Estar”, como proposta sucedânea, criticado com muita competência por PEREIRA-PEREIRA (2004) e BEHRING (2004), integra o quadro de defesa das “privatizações” no campo da seguridade social. O que tem a ver com a tendência à queda da taxa de lucro a velocidade atual da devasta-
P O L I T I Z A N D O
Joaquina Barata Teixeira*
Meio Ambiente e Políticas Sociais
P Á G I N A 5
P O L I T I Z A N D O
ção?
Tornaram-se velozes, tanto a devastação ambiental, quanto a separação de milhares de trabalhadores de seus meios de produção. O trato da questão, entretanto, empobreceu-se nos últimos anos, tendo prevalecido, nas análi-ses de suas determinações, mais a crítica às es-colhas morais (causalidade importante, mas não determinante) do que a crítica à economi-a política.
É preciso retomar, portan-to, alguns aspectos da teoria marxiana, que ajudam a compreender a insaciedade do lucro. Foi nessa teoria que aprendi que o salário, que aparece como preço do tra-balho, corresponde apenas ao valor socialmente neces-sário à sua reprodução. Esse trabalho vivo, mobilizado na produção, recebe a designa-ção de capital variável, dife-rente do capital constante (meios de produção).
Ao analisar, no movimento do capital, o aumento pro-gressivo do capital constante (máquinas, prédios, equipa-mentos, terra, instrumentos tecnológicos, etc..), em rela-ção ao capital variável (trabalho vivo), Marx aponta uma importante conseqüência: a ten-dência à queda da taxa de lucro, ou seja, a massa global de trabalho vivo adicionada aos meios de produção, decresce em relação ao valor desses meios de produção. O valor do tra-balho “não pago” (expropriado pelo capital), também diminui em relação ao capital adian-tado. Em outras palavras: o capitalista SUGA quantidade cada vez menor de trabalho exce-dente, em termos relativos ao capital constan-te, com o aumento da produtividade social do trabalho.
Tudo isto força o capital a expandir-se, inicial-mente para áreas de economias não capitalis-tas (no próprio seio de uma nação) e posterior-mente para todas as nações do globo. Tal ten-dência expansionista tem como corolário a ex-propriação de terras, a invasão de territórios indígenas e quilombolas, a devastação da flo-resta, a poluição dos rios, a destruição da biodi-versidade animal e vegetal, comprometendo irremediavelmente os ecossistemas e aumen-tando a superpopulação artificial, que gera pobreza e miséria na sociedade.
Não foi à toa que as expressões da “questão social” no Brasil e no mundo agigantaram-se e diversificaram-se, desafiando políticas púbicas sociais e ambientais, não obstante os avanços no campo dos direitos humanos de segunda, terceira e quarta gerações.
REFERÊNCIAS
ALTVATER, Elmar. Os desafios da globalização e da crise ecológica para o discurso da democracia e dos direitos humanos. In: A crise dos paradigmas em Ciências Sociais e os desafi-os para o século XXI. Rio de Janeiro: Contraponto, 1999;
CHESNAIS, François. Um programa de ruptura com o neoliberaismo. In: A crise dos paradigmas em Ciên-cias Sociais e os desafios para o século XXI. Rio de Janeiro: Contraponto, 1999;
FOSTER, John Bellamy. A e-cologia de Marx. Materialis-mo e natureza. Rio de Janei-ro: Civilização Brasileira, 2005;
FORRESTER, Viviane. O Hor-ror Econômico. São Paulo, Editora da UNESP, 1997;
MARX, Karl - O Capital (Critica da Economia Política). Livro 3, Vol. 4, Rio de Janeiro, Civiliza-ção Brasileira, s/d;
___________ O Capital (Critica da Economia Política). Livro 1, Vol. 2, Rio de Janeiro, Civiliza-ção Brasileira, s/d;
MESZÁROS, I. O Século XXI. socialismo ou bar-bárie. São Paulo: Boitempo, 2003;
PEREIRA-PEREIRA, Potyara A. Pluralismo de bem-estar ou configuração plural da política social sob o Neoliberalismo. In: Boschetti et al (org.) Política Social: Alternativas ao neolibera-lismo. Revista de Política Social 2. Brasília-DF: UNB, 2004;
SOUZA, Márcio. O empate contra Chico Men-des. São Paulo: Marco Zero, 1990. * Assistente Social, mestre em Planejamento do Desenvolvimento (NAEA/UFPA).
“Poucos os que
reconhecem na
literatura marxiana,
uma indicação clara
quanto ao conteúdo
destrutivo do capital, no
que diz respeito ao
meio ambiente e ao
homem”.
P Á G I N A 6
A Questão Ambiental no Capitalismo
Entrevista com o Professor Edmil-
son Brito Rodrigues, arquiteto,
professor adjunto da Universida-
de Federal Rural da Amazônia
(UFRA), Mestre em Planejamento
do Desenvolvimento (NAEA/
UFPa) e Doutor em Geografia
Humana (USP), autor do livro
Aventura Urbana: urbanização,
trabalho e meio ambiente em
Belém, entre outros.
POLITIZANDO: Partindo-se da
premissa de que tudo se rela-
ciona, qual a relação entre polí-
tica social - como um tipo parti-
cular de política pública que
coloca o Estado em ação - com
o meio ambiente?
Prof. Edmilson Rodrigues: Con-
cordamos com Milton Santos de
que o espaço geográfico é um
conjunto indissociável de siste-
mas de objetos e sistemas de
ações. Portanto, o espaço co-
mo totalidade é resultado de
uma sistemática integração di-
neoliberal tem promovido. Por
exemplo, é real o não acesso dos
pobres aos serviços sociais
(políticas). Isso é explicável pelo
fato de a divisão internacional do
trabalho privilegiar, especialmen-
te nos territórios dos países pobres,
determinados lugares que devem
ter as densidades técnicas, que
garantam a fluidez necessária à
realização do lucro, o que implica
dispêndios de investimentos pesa-
dos na implantação de infraestru-
turas para servir às empresas, e
redunda no abandono de investi-
mentos nas áreas sociais das
quais os pobres dependem. Essa
modernização territorialmente
seletiva é, também, socialmente
seletiva, o que explica a alta con-
centração de poucas empresas
transnacionais em pouquíssimos
lugares. Se a escassez é intencio-
nal pode-se falar em discurso da
escassez que nem é neutro nem
ingênuo e constitui a produção
nâmica de ações e objetos. Esses
sistemas são portadores de inten-
cionalidades e só podem se ex-
primir e ganhar existência con-
creta nos objetos e estes adqui-
rem existência autônoma e signi-
ficação que se expressam no po-
der de agir sobre e significar as
próprias ações, como inércia di-
nâmica. Ou seja, o espaço sem-
pre é social. Se nessa gama de
instâncias sociais nem todas são
estritamente espaciais, sempre
são espacializáveis. Daí poder-se
afirmar que qualquer política so-
cial expressa uma intencionalida-
de que, ao se espacializar, re-
configura o meio geográfico
(meio ambiente) como uma for-
ma-conteúdo mais desigual, se a
razão imperante for a do capital,
ou mais justa se a razão for uma
que se sobreponha à lógica do
lucro.
POLITIZANDO: No mundo con-
temporâneo, o discurso da es-
cassez de recursos públicos é
recorrente e tem servido de justi-
ficativa para manter a desigual-
dade no acesso a bens, serviços
e direitos, não só entre pessoas e
classes sociais dentro de um
mesmo país, mas também entre
países. Como o senhor avalia
esse fato?
Prof. Edmilson Rodrigues: A escas-
sez é uma intencionalidade nor-
mativa da modernização frag-
mentadora que a globalização
Q ualquer política
social expressa
uma intencionali-
dade que, ao se
espacializar, reconfigura o
meio geográfico (meio ambi-
ente) como uma forma mais
desigual, se a razão imperante
for do capital, ou mais justa,
se a razão for uma que se so-
breponha à lógica do lucro.
OPINIÃO: Prof. EDMILSON RODRIGUESOPINIÃO: Prof. EDMILSON RODRIGUESOPINIÃO: Prof. EDMILSON RODRIGUESOPINIÃO: Prof. EDMILSON RODRIGUES
P Á G I N A 7
P O L I T I Z A N D O
de uma psicoesfera que busca
dar existência ao objetivo de
mercantilizar tudo, a natureza e
os seres humanos. A economia
liberal tem como conceito chave
o de escassez que, rigorosamen-
te, é o contrário de riqueza. Afi-
nal, riqueza é o que é abundante
e não o que é escasso. Nos mar-
cos do pensamento liberal um
bem, para ser mercantil, deve ser
escasso. Se algo é pensado co-
mo escasso, então pode ser obje-
to de compra e venda. Ninguém
compraria algo que fosse acessí-
vel a todos por sua abundância.
O discurso da escassez hídrica,
pode-se dizer, é uma ideologia
liberal. A produção intencional
da escassez em um território co-
mo o brasileiro, a negação do
direito à água em lugares da A-
mazônia, região que detém signi-
ficativo percentual da água do-
ce existente no mundo é funcio-
nal à modernização a serviço
das grandes corporações.
POLITIZANDO: Então é incorreto
afirmar, como o fazem os adep-
tos da velha ideologia malthusia-
na, de que está havendo cresci-
mento irresponsável da popula-
ção pobre em todo mundo e
que isso dificulta a realização de
políticas sociais universais, além
de implicar intensificação da cri-
se ambiental, já que as ações
antrópicas assumem grande sig-
nificação?
Prof. Edmilson Rodrigues: Esta é
uma afirmação errônea. Eduardo
Galeano já chamou atenção ao
fato de que, para os técnicos do
sistema, os pobres são numerosos
“ninguéns”; são coisas fora de
lugar, porque são economica-
mente inviáveis e, por isso, expul-
sos pela própria lei do mercado
devido à superabundância da
força de trabalho barata. En-
quanto os países ricos geram lixo
em quantidade assombrosa, os
países pobres geram os marginali-
zados que, por serem humanos
sobrantes devem ter como desti-
no o desaparecimento. O sistema
convida-os a desaparecer por-
que não existem os que não po-
dem consumir. Os 24 países de-
senvolvidos que formam a Orga-
nização para a Cooperação do
Desenvolvimento Econômico do
(OCDE) produzem 98% dos deje-
tos venenosos de todo o planeta.
Presenteiam o terceiro mundo
com seu lixo radioativo e outros
lixos tóxicos que não sabem onde
meter. Proíbem a importação de
substâncias contaminantes, mas
derramam-nas generosamente
sobre os países pobres. Fazem
com o lixo o mesmo que com os
pesticidas e adubos químicos
proibidos em casa: exportam-
nos ao hemisfério Sul sob outros
nomes. É Galeano que afirma
não ser correto falar em exce-
dente de população no Brasil,
onde há 17 habitantes por quilô-
metro quadrado, ou na Colôm-
bia, onde há 29. A Holanda tem
400 habitantes por quilômetro
quadrado e nenhum holandês
morre de fome. O sistema está
em guerra com os pobres que
ele próprio fabrica, e trata-os
como se fossem lixo tóxico.
POLITIZANDO: Por fim, o que o
que o senhor tem a dizer sobre a
recente e propalada preocupa-
ção das empresas privadas com
a questão ambiental e com a
chamada responsabilidade soci-
al das mesmas?
Prof. Edmilson Rodrigues: Milton
Friedman insuspeito liberal foi
honesto ao afirmar que a res-
ponsabilidade social das empre-
sas é, única e exclusivamente, a
busca por aumento dos lucros.
Ora, a apropriação privada da
riqueza é o objetivo social sufici-
ente e máximo mandamento do
capitalismo. Contudo, essas
questões entraram nas agendas
das empresas oligopolistas e dos
governos conservadores (e os
progressistas ingênuos) como
estratégia de marketing que, é
verdade, tem funcionado para
confundir e controlar os espíritos
dos explorados e oprimidos.
O s 24 países de-
senvolvidos que
formam a OCDE
presenteiam o
terceiro mundo com seu lixo
radioativo e outros lixos tóxicos
que não sabem onde meter.
Fazem com o lixo o mesmo
que com os pesticidas e adu-
bos químicos proibidos em ca-
sa: exportam-nos ao hemisfé-
rio Sul sob outros nomes.
POLITIZANDOPOLITIZANDOPOLITIZANDOPOLITIZANDO Recomenda
Este livro apresenta as teorias econômicas que analisam as rela-ções entre os proces-sos econômicos e o meio ambiente, apon-tando suas premissas, as correntes econômi-cas com as quais se identificam e seus as-pectos positivos e ne-gativos. Além disso, descreve como surgiu, a partir dos anos 60, a disciplina economia do meio ambiente, superando a idéia de sistemas econômicos
isolados. Essa disciplina apresenta, hoje, as vertentes da economia ambiental neoclássica e da economia ecológica. A primeira, considera que os processos econômicos retiram matéria e recursos do meio am-biente, causando poluição e considera que estímulos de mercado seriam suficientes para assegurar o de-senvolvimento sustentável. A segunda, por sua vez, nas palavras do próprio autor, possui “visão biológica da relação entre a economia e o meio ambiente: trata o sistema econômico como um organismo alta-mente complexo que, como todo ser vivo, intercam-bia energia e matéria com seu meio externo; e se preocupa com os efeitos da atual escala do sistema econômico” (p. 21). A linguagem do livro é acessível àqueles que não têm intimidade com a economia e sua leitura é de grande valia para todos que buscam construir uma visão interdisciplinar de desenvolvimen-to sustentável.
Referência: MUELLER, Charles C. Os economistas e as relações entre o sistema econômico e o meio ambi-ente. Brasília: Editora Universidade de Brasília: FINA-TEC, 2007.
Por Micheline Mendonça Neiva, mestre em Direito Público pela Faculdade de Direito da Universidade
de Brasília
P Á G I N A 8
Nesta obra, o autor busca desvendar que fatores levam cidades norte-americanas a se tornarem ameaça à sua própria re-produção social. Após ter produzido três estudos abran-gentes por regiões da América pós-moderna na déca-da de 90, neste livro, Davis dá con-tinuidade a uma longa discussão sobre ciência urba-na e ecologia, es-
ta, no seu sentido mais atraente, que contempla toda a complexidade dos aparelhos urbanos. As-sim, o autor adota a perspectiva das ciências am-bientais para examinar temas da vida urbana atu-al como discriminação, habitação, aquecimento global, desindustrialização, segregação urbana e desastres naturais. Em Cidades Mortas, sua jornada inicia pela Nova York pós-11 de Setembro, passan-do por espaços de terras desoladas em Utah (que no passado serviram de campo de testes para o desenvolvimento de armas químicas, biológicas e nucleares), para então chegar ao chamado mila-gre de Las Vegas, onde em nome de um suposto desenvolvimento urbano, o terrorismo ambiental é praticado desenfreadamente. Acerca de Los An-geles, Mike Davis aponta o centro do que seria uma nova guerra civil, estimulada pelo apartheid ainda a estourar em outras cidades do país.
Referência: DAVIS, Mike. Cidades Mortas. Rio de Janeiro: Ed. Record, 2007.
Por Micheli Reguss Doege
Aluna do curso de Serviço Social da UnB
Este filme apresenta a história do Vale de Javé que seria inundado para a constru-ção de uma barragem. A saída encontrada pelos moradores para evitar a inunda-ção é provar o seu valor histórico, a fim do conseguir o tombamento do Vale como Patrimônio Histórico da Humanidade. Acreditando que o grande valor de Javé são as histórias dos heróis que ajudaram a fundá-lo, os moradores procuram Antonio Biá uma das poucas pessoas alfabetizadas da cidade e com habilidade de escrever. A ele foi entregue a missão de salvar o povoado escrevendo um livro contendo as his-tórias narradas pelos moradores da cidade. No decorrer deste premiado filme o pa-no de fundo é a disputa entre o valor histórico e cultural de um povo e o “progresso” ou o desenvolvimento econômico da região, evidenciando, para além das conse-qüênciais ambientais, os impactos sociais da construção de uma Usina Hidrelétrica. Referência: CAFFÉ, Eliane. Narradores de Javé. Brasil: Lumière; RioFilme. Cor/100min.
Por Tázya Coelho Sousa Aluna do 7º semestre de Serviço Social da UnB
Recommended