João Calvino - Judas

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  • 7/27/2019 Joo Calvino - Judas

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    COMENTRIO SOBRE JUDAS

    POR

    JOO CALVINO1

    OARGUMENTO

    Embora houvesse uma disputa entre os antigos a respeito desta Epstola,como sua leitura til, e como no contm nada de inconsistente com a purezada doutrina apostlica, tendo sido recebida anteriormente como autntica poralguns dos mais capazes, eu de boa vontade a acrescento s demais. Almdisso, sua brevidade no requer uma explicao prolongada do seu contedo;e quase na sua totalidade praticamente idntica ao captulo dois da ltimaEpstola.

    Uma vez que homens inescrupulosos haviam se introduzido, sob o nome decristos, tendo por objetivo principal levar os fracos e inconstantes a umprofano menosprezo a Deus, Judas explica primeiro que os fiis no deveriamter sido movidos por agentes desta natureza, pelos quais a Igreja sempre foiassaltada. E, por outro lado, ele os exorta a terem muito cuidado com taispestes. E para torn-los ainda mais odiosos e detestveis, denuncia sobreestes a ira iminente de Deus, tal como merecia a sua impiedade. Ora, se

    considerarmos o que Satans tem empreendido em nossa poca, desde oincio do evangelho restaurado, e que artifcios ele ainda emprega ativamentepara subverter a f, e o temor a Deus, o que foi um alerta til no tempo deJudas mais do que necessrio em nossa poca. Mas isto se mostrar maiscompletamente na medida em que prosseguirmos na leitura da Epstola.

    JUDAS 1-2

    1. Judas, servo de Jesus Cristo, e

    irmo de Tiago, aos chamados,santificados em Deus Pai, econservados por Jesus Cristo:

    1. Judas Jesu Christi servus, frater

    autem Jacobi, vocatis qui in Deo Patresanctificati sunt, et in Jesu Christocustoditi,

    2. Misericrdia, e paz, e amor vossejam multiplicados.

    2. Misericordia vobis et pax et dilectioaugeatur.

    1. Judas, servo de Jesus Cristo. Ele se denomina servo de Cristo, no do modocomo o nome se aplica a todos os fiis, mas com respeito ao seu apostolado.Eram considerados peculiarmente servos de Cristo aqueles a quem fora

    1 Traduo para o portugus: Rodrigo Reis de Faria (rodrigoreisdefaria@gmail.com). Fonte:Calvins Commentaries (traduzido para o ingls por John King, disponvel no site: sacred-texts.org).

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    Comentrios de Calvino2

    confiado algum ofcio pblico. E sabemos por que os apstolos costumavamatribuir a si mesmos este nome honorficotodo aquele que no chamadoarroga-se presunosamente o direito e a autoridade de ensinar. Nesse caso, ochamado dos apstolos era uma evidncia para eles de que no seimpulsionaram ao seu ofcio por vontade prpria. Por outro lado, em si no era

    suficiente que fossem designados para o seu ofcio, se no odesempenhassem fielmente. E, sem dvida, aquele que se declara servo deDeus inclui estas duas coisas, ou seja, que Cristo o conferidor do ofcio queexerce, e que ele realiza fielmente o que lhe foi confiado. Muitos agemfalsamente, e falsamente se orgulham do que esto muito distantes de serdevemos sempre examinar se a realidade corresponde profisso.

    E irmo de Tiago. Ele menciona um nome mais celebrado do que o seu, e maisconhecido das igrejas. Embora a fidelidade da doutrina e a autoridade nodependam dos nomes de homens mortais, uma confirmao para a fquando a integridade do homem que assume o ofcio de mestre nos

    assegurada. Alm disso, a autoridade de Tiago no apresentada aqui como ade uma pessoa particular, e sim porque ele era considerado por toda a Igrejacomo um dos principais apstolos de Cristo. Ele era filho de Alfeu, conforme eudisse em outro lugar. No somente isto, mas esta passagem para mim provasuficiente contra Eusbio e outros que dizem que este era um discpulochamado Oblias [Tiago], mencionado por Lucas em At 15:13; 21:18, o qual eramais eminente do que os apstolos na Igreja.2 Mas no h dvida de queJudas menciona aqui seu prprio irmo porque este era eminente entre osapstolos. Nesse caso, provvel que ele fosse aquele a quem fora concedidaa honra principal pelo restante, de acordo com o que relata Lucas.

    Aos santificados por Deus Pai, ou, aos chamados, santificados, etc.3Por estaexpresso, chamados, ele denota todos os fiis, porque o Senhor os temseparado para si. Mas, como o chamado no nada mais do que o efeito daeleio eterna, s vezes empregado em lugar desta. Nesta passagem fazpouca diferena em que sentido o entendes, pois no h dvida de que elerecomenda a graa de Deus, pela qual lhe aprouve escolh-los como seutesouro peculiar. E ele sugere que os homens no se atencipam a Deus, e queeles nunca vm at ele enquanto ele no os atrai.

    Do mesmo modo, ele diz que eles eram: santificados em Deus Pai, o que pode

    ser traduzido como: por Deus Pai. No entanto, retive a forma exata daexpresso, para que os leitores exercitem o seu prprio julgamento. Pois talvezo sentido seja estede que, sendo em si mesmos profanos, eles tinham a suasantidade em Deus. Mas a maneira em que Deus santifica regenerando-nospelo seu Esprito.

    2Alguns tm afirmado que Tiago, mencionado nas passagens h pouco citadas de Atos, noera o apstolo Tiago, mas outro Tiagoum discpulo, e um dos setenta, que tambm erachamado Oblias. Mas isto no certo. Ed.3Bezatraduz as palavras assim: Aos chamados, santificados por Deus Pai, e preservados porJesus Cristoou seja, aos efetivamente chamados (tal como a palavra geralmente significa),reservados e separados por Deus do mundo mpio, e guardados por Cristo, tendo sidoconfiados ao seu cuidado e proteo. Ed.

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    Epstola de Judas 3

    Outra leitura, que a Vulgata adotou, um tanto spera: Aos amados() em Deus Pai. Por isso a considero corrupta e, de fato,encontra-se apenas em algumas cpias.

    Ele ainda acrescenta que eles eram conservados em Jesus Cristo. Pois

    estaramos sempre em perigo de morte por causa de Satans, que poderia nosapanhar como presa fcil a qualquer momento se no estivssemos a salvosob a proteo de Cristo, a quem o Pai concedeu para ser o nosso guardio,para que no perea nenhum daqueles que ele recebeu sob o seu cuidado eabrigo.

    Judas ento menciona aqui uma tripla beno, ou favor de Deus, com respeitoa todos os fiisque pelo seu chamado ele fez deles participantes doevangelho; que ele os regenerou, pelo seu Esprito, para a novidade de vida; eque ele os tem preservado por meio de Cristo, para que no decaiam dasalvao.

    2. Misericrdia. Misericrdia claramente significa o mesmo que graa nassaudaes de Paulo. Se alguem desejar uma distino refinada, pode-se dizerque graa propriamente o efeito da misericrdia; pois no h outra razo pelaqual Deus nos tenha abraado em amor, seno porque ele se apiedou dasnossas misrias. Amor pode-se entender como o de Deus para com oshomens, bem como o dos homens uns para com os outros.4Se for referido aDeus, o sentido de que aumentasse para com eles, e que a certeza do amordivino fosse diariamente mais e mais confirmada em seus coraes. O outrosentido, porm, de que Deus despertasse e confirmasse neles o amor mtuo,no apropriado.

    JUDAS 3-4

    3. Amados, procurando eu escrever-vos com toda a diligncia acerca dasalvao comum, tive por necessidadeescrever-vos, e exortar-vos a batalharpela f que uma vez foi dada aos

    santos.

    3. Dilecti, quum omne studiumadhiberem ad scribendum vobis decommuni salute, necesse habuiscribere vobis ad vos hortandos utcertando adjuvetis eam, quae semel

    tradita est sanctis, fidem.4. Porque se introduziram alguns, quej antes estavam escritos para estemesmo juzo, homens mpios, queconvertem em dissoluo a graa deDeus, e negam a Deus, nicodominador e Senhor nosso, JesusCristo.

    4. Subingressi enim sunt quidamhomines, olim praescripti judicium,impii, Dei nostri gratiam transferentesin lasciviam, et Deum, qui solus estHerus, et Dominum Jesum Christumnegantes.

    4 Assim como a misericrdia a de Deus, tambm mais consistente considerar paz eamor como sendo os de Deus: que a misericrdia de Deus, e a paz de Deus, e o amor deDeus, sejam aumentados (ou multiplicados) a vs. Ed.

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    Comentrios de Calvino4

    3. Procurando com toda a diligncia. Traduzi as palavras por tomando cuidado; literalmente, so: fazendo diligncia. Mas muitosintrpretes explicam a sentena neste sentidode que um forte desejoconstrangeu Judas a escrever, tal como dizemos acerca daqueles que estosob a influncia de um forte sentimentoque no podem governar ou conter a

    si mesmos. Nesse caso, de acordo com esses expositores, Judas estava sobuma espcie de necessidade, porque um desejo de escrever no o permitiadescansar. Mas prefiro pensar que as duas clusulas so separadasque,embora estivesse inclinado e solcito a escrever, uma necessidade o compeliu.Ele sugere ento que, de fato, estava contente e ansioso por lhes escrever,mas a necessidade o urgiu a fazer istoa saber, porque eram assaltados(segundo o que se segue) pelos infiis, e precisavam estar preparados paracombat-los.5

    Ento, em primeiro lugar, Judas testifica que sentiu tanta preocupao com asalvao deles, que ele mesmo quis, e de fato estava ansioso, por escrever-

    lhes; e, em segundo lugar, para despertar a sua ateno, diz que o estado dascoisas exigia que ele fizesse isso. Pois a necessidade acrescenta fortesestmulos. Se no tivessem sido avisados com antecedncia de quonecessrio era a sua exortao, eles poderiam se tornar preguiosos enegligentes. Mas quando faz este prefcio, de que escreveu por conta danecessidade da situao deles, era o mesmo que se ele tivesse tocado umatrombeta para despert-los do seu torpor.

    Acerca da salvao comum. Algumas cpias acrescentam vossa, mas semrazo, penso eu, pois ele torna a salvao comum a eles e a si mesmo. Eacrescenta no pouco peso doutrina que anunciada, quando algum fala deacordo com os seus prprios sentimentos e experincia. vo o que dizemos,se falamos da salvao para outros, quando ns mesmos no temos nenhumconhecimento real dela. Nesse caso, Judas confessava ser ele mesmo ummestre experimental (por assim dizer) quando se associava aos fiis naparticipao da mesma salvao.

    E exortar-vos. Literalmente: exortando-vos. Mas como ele aponta o objetivodo seu conselho, a sentena deveria ser expressa assim. O que traduzi como:ajudar a f, batalhando, significa o mesmo que lutar para reter a f, e resistircorajosamente aos assaltos contrrios de Satans.6 Ele os faz lembrar que,

    para perseverarem na f, diversas pelejas devem ser enfrentadas, e mantida

    5Nesse caso a traduo seria: Amados, tomando todo o cuidado para escrever-vos acerca dasalvao comum, considerei (ou achei) necessrio escrever-vos para exortar-vos a batalharpela f uma vez entregue aos santos. Macknight e alguns outros do outro sentido para aprimeira clusulaum sentido mais literal: Amados, apressando-me em escrever-vos,concernente salvao comum, julguei necessrio, etc. A essa pressa o apstolo d umarazo no verso seguinte: Pois se introduziram alguns homens, etc. Este o sentido maisbvio da passagem. Ed.6O sentido do verbo combater, lutar, brigar ou contender. uma palavra derivada dos jogos,e expressa um esforo intenso. Nossa verso transmite bem o seu significado: batalhar pelaf. Ou, as palavras podem ser traduzidas como: combatei vigorosamente pela fno com aespada, diz Beza,mas com a s doutrina e o exemplo de uma vida santa. Ed.

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    Epstola de Judas 5

    uma guerra constante. Ele diz que a f foi uma vez dada, para que soubessemque a obtiveram para este fim, para que nunca fracassem ou caiam.

    4. Porque se introduziram alguns. Embora Satans seja sempre um inimigo dosfiis, e nunca deixe de acoss-los, Judas lembra aqueles a quem estava

    escrevendo do estado de coisas naquele tempo. Agora Satans, diz ele, atacae vos incomoda de uma maneira peculiar. Por isso necessrio pegar emarmas para resisti-lo. Por aqui aprendemos que um pastor bom e fiel deveriaconsiderar sabiamente o que o estado atual da Igreja exige, assimacomodando a sua doutrina s necessidades dela.

    A palavra , que ele usa, denota uma insinuao furtiva e indireta,pela qual os ministros de Satans enganam os incautos. Satans semeia seujoio de noite, e enquanto os lavradores esto dormindo, a fim de corromper asemente de Deus. Ao mesmo tempo, ele nos ensina que esta uma guerrainterna, pois neste aspecto Satans tambm astuto, na medida em que

    suscita para causar dano aqueles que so do rebanho, a fim de que possam seintroduzir mais facilmente.

    J antes estavam escritos. Ele invoca aquele julgamento, ou condenao, oumente rproba, pela qual estes foram levados a perverter a doutrina dapiedade; pois ningum pode fazer tal coisa seno para a sua prpria ruina. Masa metfora aduzida desta circunstncia porque o conselho eterno de Deus,pelo qual os fiis so ordenados para a salvao, designado como um livro. Equando os fiis ouviram que estes estavam entregues morte eterna, convinhaque cuidassem para que no se envolvessem na mesma destruio. Aomesmo tempo, o objetivo de Judas era elucidar o perigo, para que a novidadeda coisa no perturbasse nem angustiasse nenhum deles. Pois se aqueles jestavam desde h muito ordenados, segue-se que a Igreja s tentada outestada de acordo com o conselho infalvel de Deus.7

    A graa de Deus. Ele expressa agora mais claramente qual era o mal, pois dizque eles abusavam da graa de Deus, assim levando a si mesmos e a outros atomarem uma liberdade impura e profana no pecado. Mas a graa de Deus semanifestou com um propsito muito diferenteou seja, que, negando aimpiedade e os prazeres mundanos, vivamos sobria, justa e piamente nestemundo. Saibamos, ento, que nada mais pestilento do que homens desta

    sorte, que da graa de Cristo tomam uma capa para se indultarem na lascvia.8

    Porque ensinamos que a salvao obtida pela misericrdia de Deus somente,os papistas nos acusam desse crime. Mas por que deveramos usar palavras

    7 As palavras literalmente so: Que foram h muito (ou, em algum momento no passado)prescritos para (ou, quanto) a este julgamento. A referncia profeciatais intrusos com opropsito de corromper a verdade haviam sido preditos, e esta intruso com tal propsito eraum julgamento para entreg-los aos enganos de Satans. A palavra

    refere-seindefinidamente ao que passado, ou de h muito tempo, ou a algum momento no passado.Vede Mt 11:21 e Mc 15:44. A referncia pode ser a profecias antigas ou s de nosso Salvadore seus Apstolos. Ed.

    8 A graa de Deus aqui evidentemente o evangelho. Eles transformavam, diz Grotius , oevangelho numa doutrina libidinosa. Ed.

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    Comentrios de Calvino6

    para refutar a afronta deles, visto que em toda parte urgimos o arrependimento,o temor a Deus e a novidade de vida, e visto que eles mesmos no apenascorrompem todo o mundo com os piores exemplos, mas tambm pelo seuensinamento inquo retiram do mundo a verdadeira santidade e a adoraopura a Deus? Entretanto, prefiro pensar que aqueles de quem Judas fala eram

    como os libertinos de nosso tempo, conforme se tornar mais evidente a partirdo que se segue.

    Deus, nico Senhor, ou, Deus, que o nico Senhor. Algumas cpias antigastrazem: Cristo, que o nico Deus e Senhor. E, de fato, na Segunda Epstolade Pedro, somente Cristo mencionado, e ali ele chamado de Senhor.9Masele quer dizer que Cristo negado quando aqueles que foram redimidos porseu sangue tornam-se novamente vassalos do Diabo, e assim invalidam atonde podem esse preo incomparvel. Ento, para que Cristo nos retenhacomo seu tesouro peculiar, devemos nos lembrar de que ele morreu eressuscitou por ns para que pudesse ter domnino sobre a nossa vida e morte.

    JUDAS 5-7

    5. Mas quero lembrar-vos, como aquem j uma vez soube isto, que,havendo o Senhor salvo um povo,tirando-o da terra do Egito, destruiudepois os que no creram;

    5. Commonefacere autem vos volo,quum istud semel noveritis, quodDominus postquam ex terra Egyptipopulum servaverat, postea noncredentes perdidit.

    6.E aos anjos que no guardaram oseu principado, mas deixaram a sua

    prpria habitao, reservou naescurido e em prises eternas at aojuzo daquele grande dia;

    6.Angelos vero qui principatum (vel,initium) suum non servaverant, sed

    reliquerant suum domicilium, judiciummagnae diei vinculis aeternis subcaligine servavit.

    7. Assim como Sodoma e Gomorra, eas cidades circunvizinhas, que,havendo-se entregue fornicaocomo aqueles, e ido aps outra carne,foram postas por exemplo, sofrendo apena do fogo eterno.

    7. Quemadmodum Sodoma etGomorrha, et qae circum erant urbes,quum simili modo scortatae essent, etabiissent post carnem alienam,propositae sunt ignis aeterni judiciumsustinentes.

    5. Mas quero lembrar-vos, ou, record-los. Ele ou modestamente se desculpa,para que no parecesse ensinar, como que a ignorantes, coisas desconhecidasa eles; ou, de fato (com o que estou mais de acordo), declara abertamente, deum modo enftico, que no aduzia nada novo ou inaudito antes, a fim de que

    9Griesbachexclui

    , Deus, do texto. Nesse caso, a passagem corresponderia em sentidoa 2 Pe 2:1literalmente: negando o nico soberano e Senhor nosso, Jesus Cristo. A palavra

    , soberano, ou mestre, usada por Judas assim como por Pedro. No era a graa,mas o poder governante de Cristo que era negado. Eles se gloriavam da sua graa, mas nose submetiam a ele como rei. Por isso usada a palavra

    algum que exerce poderabsoluto. Podemos traduzir as palavras como: negando nosso nico soberano e Senhor,Jesus Cristo. Ed.

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    Epstola de Judas 7

    aquilo que ia dizer pudesse ter mais crdito e autoridade. Apenas torno achamar vossa mente, diz ele, aquilo que j aprendestes. Uma vez que lhesatribui conhecimento, ele diz que precisavam de advertncias, para que nopensassem que o trabalho que teve com eles fosse suprfluo. Ele usa apalavra de Deus no apenas para ensinar o que no poderamos ter conhecido

    de outro modo, mas tambm para nos despertar para uma sria meditao dascoisas que j entendemos, e para no permitirmos que nos tornemos apticosnum conhecimento frio.

    Ora, o sentido que, aps termos sido chamados por Deus, no devemos nosgloriar negligentemente na sua graa, e sim, pelo contrrio, andar atentamenteno seu temor. Pois, se algum brinca com Deus assim, o menosprezo pela suagraa no ficar impune. E isto ele prova por trs exemplos. Primeiro, ele serefere vingana que Deus executou sobre aqueles incrdulos que ele haviaescolhido como seu povo e libertado pelo seu poder. Praticamente a mesmareferncia feita por Paulo em 1 Co 10:1-13. O significado do que ele diz que

    aqueles que Deus havia honrado com as maiores benos, que ele haviaexaltado ao mesmo grau de honra de que desfrutamos hoje, puniu depoisseveramente. Ento futilmente se orgulhavam da graa de Deus todos aquelesque no viviam de uma maneira conveniente com o seu chamado.

    A palavra povo empregada por honra em lugar de nao santa e eleita, comose ele tivesse dito que de nada lhes servira que, por um favor singular,tivessem entrado no concerto. Chamando-os de incrdulos, ele denota a fontede todos os males. Pois todos os pecados deles, mencionados por Moiss,deviam-se a istoque eles se recusaram a ser governados pela palavra deDeus. Onde existe a sujeio da f, a a obedincia para com Deusnecessariamente se mostra em todos os deveres da vida.

    6. E aos anjos. Este um argumento do maior para o menor. Pois o estado dosanjos mais elevado que o nosso, e contudo Deus puniu a desero deles deum modo terrvel. Assim sendo, ele no perdoar a nossa perfdia, se nosafastarmos da graa para a qual nos chamou. Este castigo, inflingido sobre oshabitantes do cu, e sobre ministros de Deus tanto superiores, certamentedeveria estar constantemente diante de nossos olhos, para que em momentoalgum sejamos levados a desprezar a graa de Deus, e assim nosprecipitarmos abruptamente destruio.

    A palavra nesta passagem pode ser entendida propriamente comoprincpio, bem como principado ou domnio. Judas sugere que eles sofreramcastigo porque haviam desprezado a bondade de Deus e desertado da suaprimeira vocao. E a segue-se imediatamente uma explicao, pois ele dizque eles haviam deixado a sua prpria habitao. Como desertores militares,eles deixaram o posto em que haviam sido colocados.

    Devemos tambm notar a atrocidade do castigo que o Apstolo menciona. Elesno so apenas espritos livres, mas poderes celestiais. Agora esto presospor cadeias perptuas. Eles no apenas desfrutavam da luz gloriosa de Deus,

    mas seu resplendor brilhava neles, de modo que a partir deles, como que emraios, ela se espalhava por todas as partes do universo. Agora esto imersos

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    Comentrios de Calvino8

    em trevas. Mas no devemos imaginar um certo lugar em que os demniosestejam encerrados, pois o Apstolo simplesmente pretendia nos ensinar quomiservel a condio deles, visto que, no momento em que apostataram, elesperderam a sua dignidade. Para onde quer que sigam, eles arrastam consigoas suas cadeias, e permanecem envoltos em trevas. Entrementes, o castigo

    extremo deles deferido at que chegue o grande dia.

    7. Assim como Sodoma e Gomorra. Este exemplo mais geral, pois eletestifica que Deus, no excetuando a nenhum homem, castiga sem nenhumadiferena todos os infiis. Judas tambm menciona no que segue que o fogopelo qual as cinco cidades pereceram era um tipo do fogo eterno. Nesse caso,Deus mostrou naquele tempo um exemplo notvel, a fim de manter os homensem temor at o fim do mundo. Por isso tantas vezes mencionado naEscritura. Mais ainda, sempre que os profetas queriam designar algum juzomemorvel e terrvel de Deus, eles o retratavam sob a imagem do fogosulfuroso, e aludiam destruio de Sodoma e Gomorra. Portanto, no sem

    razo que Judas atinge todas as geraes com terror, mostrando a mesmaviso.

    Quando ele diz: as cidades circunvizinhas, que, havendo-se entregue fornicao como aqueles, no aplico estas palavras aos israelitas e aos anjos,mas a Sodoma e Gomorra. No constitui objeo o fato de o pronome ser masculino, pois Judas se refere aos habitantes e no aos lugares. Ir apsoutra carne o mesmo que entregar-se a desejos monstruosos. Sabemos queos sodomitas, no contentes com a maneira comum de cometer fornicao,contaminavam-se do modo mais imundo e detestvel. Devemos observar queele os entrega ao fogo eterno, pois aqui aprendemos que o espetculo terrvelque Moiss descreve foi apenas uma imagem de um castigo bem mais severo.

    JUDAS 8-10

    8. E, contudo, tambm estes,semelhantemente adormecidos,contaminam a sua carne, e rejeitam adominao, e vituperam as

    dignidades.

    8.Similiter isti quoque somniis delusi,carnem quidem contaminant,dominationem vero, rejiciunt, et inglorias maledicta congerunt.

    9. Mas o arcanjo Miguel, quandocontendia com o diabo, e disputava arespeito do corpo de Moiss, noousou pronunciar juzo de maldiocontra ele; mas disse: O Senhor terepreenda.

    9.Atqui Michael archangelus, quandojudicio disceptans cum diabolo,disputabat de corpore Mosis, nonausus fuit judicium inferrecontumeliae; sed dixit, Increpet teDominus.

    10. Estes, porm, dizem mal do queno sabem; e, naquilo quenaturalmente conhecem, comoanimais irracionais se corrompem.

    10.Isti vero quae cumque nonnoverunt, convitiis incessunt;quaecunque vero naturaliter tanquambruta animalia sciunt, in iis

    corrumpuntur.

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    Epstola de Judas 9

    8. E, contudo, tambm estes. Esta comparao no deve ser forada muitorigorosamente, como se ele comparasse em todas as coisas estes quemenciona com os sodomitas, ou com os anjos cados, ou com o povoincrdulo. Ele apenas explica que eles eram vasos da ira designados para adestruio, e que no poderiam escapar da mo de Deus, mas que num

    momento ou em outro ele faria deles exemplos da sua vingana. O seupropsito era atemorizar os fiis para os quais estava escrevendo, para queno se associassem com eles.

    Mas aqui ele comea a descrever mais claramente esses impostores. Eprimeiro diz que eles contaminavam sua carne como que em sonhosporcujas palavras denota o seu estpido descaramento, como se tivesse dito queeles se entregavam a todos os tipos de imundcie, que os mais perversosabominariam, a menos que o sono retirasse a vergonha, e tambm aconscincia. Nesse caso, este um modo metafrico de falar, pelo qual elesugere que eles eram to grosseiros e estpidos que se entregavam sem

    nenhuma vergonha a todo o tipo de infmia.10

    Existe um contraste a ser notado, quando ele diz que eles contaminavam, oupoluam a carneou seja, degradavam o que era menos excelentee que, noentanto, desprezavam como infame o que considerado particularmenteexcelente entre os homens.

    Pela segunda clusula parece que eles eram homens sediciosos, quebuscavam a anarquia, a fim de que, estando livres do temor das leis, pudessempecar mais livremente. Mas estas duas coisas esto quase sempreconectadasque aqueles que se entregam iniquidade tambm querem abolirtoda a ordem. Embora, de fato, o objetivo principal deles seja livrar-se de todoo jugo, pelas palavras de Judas parece que eles costumavam falar insolente einjuriosamente dos magistrados, assim como os fanticos de hoje, que noapenas murmuram porque so impedidos pela autoridade dos magistrados,mas clamam furiosamente contra todo o governo, e dizem que o poder daespada profano e contrrio piedade. Em suma, eles expulsam

    10 Os sonhos esto conectados s trs coisas que seguem: a contaminao da carne, odesprezo pelo governo e a difamao das dignidades. Por isso no de modo nenhum corretaa idia transmitida pela nossa verso, na qual introduzida imundcie.Parece ser feita alusos pretenses de falsos profetas em tempos passados (vede Jr 23:25-27). Os falsos profetasensinavam o que pretendiam receber em sonhos, uma vez que sonhos, bem como vises,eram concedidas a profetas verdadeiros (vede Jl 2:28). No improvvel que os que soreferidos aqui pretendessem ter recebido o que ensinavam atravs de sonhos sobrenaturais,pois, de outro modo, como poderiam enganar os outros, especialmente concernente a erros togrosseiros e palpveis tais como os mencionados aqui? O verso oito est, quanto suaconstruo, conectado ao sete.

    e

    so termos correspondentes. Como Sodoma eGomorra, etc., so postas por exemplo, do mesmo modo como tambm estes seriam. Este osentido da passagem: 8. Do mesmo modo, de fato, sero estes sonhadoresou seja, umexemplo de vingana divinaos quais poluem a carne, desprezam a dominao, e injuriam asdignidades. Pedro os ameaou com repentina destruio (2 Pe 2:1). Aqui so mencionadastrs coisas que se aplicam aos trs casos anteriormente aduzidos: como os sodomitas, elescontaminavam a carne; como os anjos cados, eles desprezavam a dominao; e como osisraelitas no deserto, eles insultavam as dignidadespois foi especialmente por se oporem aopoder dado a Moiss que os israelitas manifestaram a sua incredulidade. Ed.

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    Comentrios de Calvino10

    arrogantemente da Igreja de Deus todos os reis e todos os magistrados.Dignidades, ou glrias, so ordens ou postos eminentes em poder ou honra.

    9. Mas o arcanjo Miguel. Pedro apresenta este argumento de forma maisbreve, e declara genericamente que os anjos, muito mais excelentes que os

    homens, no se atrevem a pronunciar juzo de maldio (2 Pe 2:11).

    Mas como se acredita que esta histria fosse tirada de um livro apcrifo, porisso tem sido dada menos importncia a esta Epstola. Mas, visto que osjudeus daquele tempo derivavam muitas coisas das tradies dos pais, novejo nada de desarrazoado em dizer que Judas se referiu ao que j havia sidotransmitido por muitas geraes. Sei que, de fato, muitas puerilidades haviamalcanado o nome de tradio, assim como nos tempos de hoje os papistasrelatam como tradies muitas dos desvarios estpidos dos monges. Mas istono motivo para que eles no tivessem alguns fatos histricos noconsignados escrita.

    Est fora de controvrsia que Moiss foi sepultado pelo Senhorou seja, que oseu sepulcro foi escondido segundo o propsito oculto de Deus. E a razo paraesconder o seu sepulcro evidente a todosisto , para que os judeus noapresentassem seu corpo para promover superstio. Ento qual o motivo desurpresa quando, tendo o corpo do profeta sido escondido por Deus, Satanstentasse manifest-lo; e que os anjos, que sempre esto prontos para servir aDeus, por outro lado o resistissem? E sem dvida sabemos que Satans quaseem todas as pocas tem se esforado para transformar os corpos dos santosde Deus em dolos para os homens insensatos. Portanto, esta Epstola nodeveria ser suspeita por conta deste testemunho, ainda que no encontrado naEscritura.

    Que Miguel seja apresentado sozinho como disputando contra Satans no novidade. Sabemos que mirades de anjos esto sempre prontos a prestarservio a Deus. Mas ele escolhe este ou aquele para fazer seu negcioconforme lhe agrada. O que Judas relata como tendo sido dito por Miguel,encontra-se tambm no livro de Zacarias: O Senhor te repreenda (ou, impea),Satans (Zc 3:2). E uma comparao, como dizem, entre o maior e o menor.Miguel no se atreveu a falar mais severamente contra Satans (ainda que umrprobo e condenado) do que entreg-lo a Deus para que fosse refreado. Mas

    aqueles homens no hesitavam em carregar de censuras extremas os poderesque Deus havia adornado com honras peculiares.

    10. Estes, porm, dizem mal do que no sabem. Ele quer dizer que eles notinham nenhuma inclinao por qualquer coisa que no fosse grosseira, ecomo que bestial, e por isso no percebiam o que era digno de honra. E,contudo, loucura acrescentavam audcia, de modo que no temiam condenarcoisas acima da sua compreenso. E eles tambm laboravam sob outro mal,pois, quando eram levados como animais s coisas que gratificavam ossentidos do corpo, no observavam nenhuma moderao, mas se fartavamexcessivamente, como porcos que rolam na lama ftida. O advrbio

    naturalmente est em oposio razo e ao juzo, pois somente o instinto da

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    Epstola de Judas 11

    natureza controla os animais irracionais, mas a razo deveria governar oshomens e refrear os seus apetites.

    JUDAS 11-13

    11. Ai deles! porque entraram pelocaminho de Caim, e foram levadospelo engano do prmio de Balao, epereceram na contradio de Cor.

    11. Vae illis, quoniam viam Cainingressi sunt (Gn 4:12); et deceptionemercedis Balaam effusi sunt (Nm22:21); et contradictione Coreperierunt (Nm 26:2).

    12. Estes so manchas em vossasfestas de amor, banqueteando-seconvosco, e apascentando-se a simesmos sem temor; so nuvens semgua, levadas pelos ventos de umapara outra parte; so como rvoresmurchas, infrutferas, duas vezesmortas, desarraigadas;

    12. Hi sunt in fraternis vestris conviviismaculae, inter se (vel vobiscum)convivantes, secure pascentesseipsos; nubes aqua carentes, quae aventis circum aguntur; arboresautummi emarcidae, et eradicatainfrugiferae, bis emortuae, eteradicatae;

    13. Ondas impetuosas do mar, queescumam as suas mesmasabominaes; estrelas errantes, paraos quais est eternamente reservadaa negrura das trevas.

    13. Undae efferatae maris,despumantes sua ipserum dedecora;stelie erraticae, quibus caligotenebrarum in aeternum servata est.

    11. Ai deles. de se questionar por que ele os censura to severamente,quando acabara de dizer que no fora permitido a um anjo pronunciaracusao injuriosa contra Satans. Mas no era o seu propsito estabeleceruma regra geral. Ele apenas explicou brevemente, pelo exemplo de Miguel,quo intolervel era a loucura deles quando censuravam insolentemente o queDeus honrou. Sem dvida era lcito a Miguel fulminar Satans com a suamaldio final. E sabemos quo veementemente os profetas ameaavam osmpios. Mas, quando Miguel absteve-se da severidade extrema (de outro modolegtima), que loucura seria no observar moderao para com aqueles que sesobressaem em glria? Mas quando pronunciou maldio sobre eles, ele noimprecou tanto o mal sobre eles, mas antes lembrou-os o tipo de final que os

    aguardava. E fez isto para que no levassem outros consigo perdio.

    Ele diz que aqueles eram imitadoresdeCaim, o qual, sendo ingrato a Deus epervertendo a sua adorao por um corao mpio e mau, perdeu o seu direitode primogenitura. Ele diz que estavam enganados pela recompensa comoBalao, porque adulteravam a doutrina da verdadeira religio por lucro imundo.Mas a metfora que ele usa expressa algo mais, pois diz que elestransbordavam, ou seja, porque o seu excesso era como gua transbordante.Ele diz, em terceiro lugar, que eles imitavam a contradio de Cor, porqueperturbavam a ordem e tranquilidade da igreja.

    12. Estes so manchas em vossas festas de caridade. Aqueles que lem:entre vossas caridades, conforme penso, no explicam suficientemente o

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    Comentrios de Calvino12

    verdadeiro significado. Pois ele chama de caridades () aquelas festasque os fiis tinham entre si para testemunhar sua unidade fraternal. Tais festas,diz ele, eram desonradas por homens impuros, que depois se alimentavam emexcessopois nelas havia a maior frugalidade e moderao. Ento no eracorreto que fossem admitidos esses devoradores, que depois se indultavam em

    excesso em outro lugar.

    Algumas cpias trazem: Banqueteando-se convoscoleitura que, seaprovada, tem este significado, de que eles no apenas eram uma desgraa,mas tambm eram incmodos e dispendiosos, uma vez que se empanturravamsem temor, s custas pblicas da igreja. Pedro fala de modo um poucodiferente (2 Pe 2:13), dizendo que eles se deleitavam em erros, ebanqueteavam-se com os fiiscomo se tivesse dito que agiaminconsideradamente aqueles que alimentavam to perniciosas serpentes, e queeram extremamente insensatos aqueles que encorajavam o luxo excessivodeles. Hoje em dia eu gostaria que houvesse mais juzo em alguns homens

    bons que, procurando ser extremamente gentis com homens maus, causamgrande dano a toda a igreja.

    So nuvens sem gua. As duas comparaes presentes em Pedro sofornecidas aqui numa s, mas com o mesmo propsito, pois ambas condenama v ostentao. Estes homens inescrupulosos, embora prometessem muito,interiormente eram estreis e vazios, tal como nuvens levadas por ventostempestuosos, as quais do esperana de chuva, mas logo se desfazem emnada. Pedro acrescenta a comparao de uma fonte seca e vazia, mas Judasemprega outras metforas com o mesmo fimque eles eram rvores murchas,assim como o vigor das rvores desaparece no outono. Ele os chama depoisde rvores infrutferas, desarraigadas, e duas vezes mortas,como se tivessedito que no havia seiva no interior,11mesmo que aparecessem folhas.

    13. Ondas impetuosas do mar. Por que isto foi acrescentado, podemos sabermais perfeitamente a partir das palavras de Pedro (2 Pe 2:17, 18)era paramostrar que, estando inchados de orgulho, eles exalavam, ou antes expeliam aescuma de superfluidade de palavras em estilo grandiloquente. Ao mesmotempo no traziam nada de espiritual, seu objetivo sendo, pelo contrrio, tornaros homens to estpidos como animais irracionais. Tais so, conforme se disseantes, os fanticos de nosso tempo, que se chamam a si mesmos de libertinos.

    Podes dizer justamente que eles fazem apenas sons retumbantes, pois,desprezando a linguagem comum, formam para si um no sei que idiomaextico. Eles parecem a um momento levar seus discpulos acima do cu,ento repentinamente caem em erros bestiais, pois concebem um estado deinocncia no qual no h diferena entre a vileza e a honestidade. Elesconcebem uma vida espiritual, quando o temor extinto, e quando todos seindultam negligentemente. Eles imaginam que nos tornamos deuses, porqueDeus absorve os espritos quando deixam seus corpos. Com o mximo cuidado

    11Duas vezes mortas considerada por alguns uma expresso proverbial significando aquiloque est completamente morto. Ou, de acordo com Macknight, significa que eles estavammortos quando professavam o Judasmo, e mortos aps terem feito profisso do evangelho.Ed.

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    Epstola de Judas 13

    e reverncia a simplicidade da Escritura deveria ser estudada, para que,raciocinando mais refinadamente do que justo, ao invs de levarmos oshomens para o cu, no sejamos, pelo contrrio, envolvidos em mltiploslabirintos. Por isso ele os chama de estrelas errantes, porque deslumbravam osolhos com um tipo de luz evanescente.

    JUDAS 14-16

    14. E destes profetizou tambmEnoque, o stimo depois de Ado,dizendo: Eis que vindo o Senhorcom milhares de seus santos;

    14. Prius autem etiam de iisvaticinatus est septimus ab AdamEnoch, dicens, Ecce venit Dominus insanctis millibus suis,

    15. Para fazer juzo contra todos econdenar dentre eles todos os mpios,por todas as suas obras de impiedade,que impiamente cometeram, e portodas as duras palavras que mpiospecadores disseram contra ele.

    15. Ut faciat judicium adversus omnes,et redarguat ex eis omnes impios defactis omnibus impietatis quae impiepatrarunt deque omnibus duris quaeloquuti sunt adversus Deumpeccatores impii.

    16. Estes so murmuradores,queixosos da sua sorte, andandosegundo as suas concupiscncias, ecuja boca diz coisas mui arrogantes,admirando as pessoas por causa dointeresse.

    16. Hi sunt murmuratores, queruli,juxta concupiscentias suasambulantes, et os illorum loquiturtumida, admirantes personas, utilitatisgratia.

    14. E tambm Enoque. Prefiro pensar que esta profecia no estava escrita, aoinvs de ter sido tirada de um livro apcrifo. Ela pode ter sido transmitida dememria pelos antigos posteridade.12 Se algum questionar: Visto quesentenas semelhantes ocorrem em muitas passagens da Escritura, por queele no citou um testemunho escrito por um dos profetas? A resposta bvia:Ele queria repetir desde a mais remota antiguidade o que o Esprito haviapronunciado a respeito deles. E isto o que as palavras sugerem, pois dizexpressamente que este era o stimo depois de Ado, a fim de recomendar aantiguidade da profecia, porque ela existia no mundo antes do dilvio.

    Mas eu disse que esta profecia era conhecida dos judeus por relato. Mas sealgum pensa de outro modo, no contenderei com ele, e, na verdade, nem arespeito da prpria epstolase de Judas ou de algum outro. Em coisasduvidosas, apenas sigo o que parece provvel.

    12Esta a opinio mais comum. No h evidncia de que tal livro fosse conhecido em algummomento aps esta epstola ser escrita. E o livro assim chamado provavelmente era umafalsificao, ocasionada por esta referncia profecia de Enoque. Vede o Prefcio deMacknight a esta Epstola. At recentemente, considerava-se perdido; mas, em 1821, ofalecido arcebispo Laurence, tendo encontrado uma verso etope, publicou-a com umatraduo. Ed.

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    Comentrios de Calvino14

    Eis que vem, ou vindo, o Senhor. O tempo passado, segundo o modo dosprofetas, usado em lugar do futuro. Ele diz que o Senhor viria com milharesde seus santos.13E por santos ele se refere aos fiis, bem como aos anjospois ambos adornaro o tribunal de Cristo, quando ele descer para julgar omundo. Ele diz milhares, como tambm Daniel menciona mirades de anjos (Dn

    7:10), a fim de que a multido dos mpios no sobrepuje, como um mar bravio,os filhos de Deus, mas para que pensem nistoque o Senhor um dia reunir oseu povo, parte do qual est habitando no cu, invisvel a ns, e parte estoculta sob uma grande quantidade de moinha.

    Mas a vingana suspensa sobre os mpios deveria manter os eleitos em temore vigilncia. Ele fala de obras e palavras, porque seus corruptores cometerammuito mal, no somente pela sua vida mpia, mas tambm pela sua linguagemfalsa e impura. E as suas palavras foram duras, por conta da audciaobstinada, pela qual, sendo orgulhosos, agiram insolentemente.14

    16. Estes so murmuradores. Aqueles que favorecem seus prazeresdepravados so difceis de agradar, e morosos, de modo que nunca estosatisfeitos. Donde sempre murmurarem e se queixarem, por mais gentilmenteque os homens bons os tratem.15 Ele condena a sua linguagem orgulhosa,porque se gabavam altivamente. Mas ao mesmo tempo mostra que eles eramdesprezveis em sua disposio, pois eram servilmente submissos por causado ganho. E, geralmente, este tipo de inconsistncia visto em homensinescrupulosos desta natureza. Quando no h ningum para conter ainsolncia deles, ou quando no h nada que permanea em seu caminho, oorgulho deles intolervel, de modo que eles arrogam imperiosamente tudopara si. Mas lisonjeiam abjetamente aqueles a quem temem, e de quemesperam alguma vantagem. Ele emprega pessoas como significando eternagrandeza e poder.

    JUDAS 17-19

    17. Mas vs, amados, lembrai-vos daspalavras que vos foram preditas pelosapstolos de nosso Senhor JesusCristo;

    17. Vos autem dilecti, memores estis(vel, estote) verborum quae praedictasunt ab apostolis Domini Christ: nostriJesu nempe,

    18. Os quais vos diziam que nos

    ltimos tempos haveriaescarnecedores que andariamsegundo as suas mpias

    18. Quod vobis dixerunt, ultimo

    tempore futuros (vel, venturos)derisores, qui secundumconcupiscentias tias suarum

    13Literalmente: com suas santas mirades. Ed.14Parece haver uma falta de ordem no verso 15. A execuo do juzo mencionada primeiro, edepois a condenao dos mpios. Mas uma ordem que corresponde exatamente a inmeraspassagens da Escritura: a ao final primeiro, e depois o que tende em direo a ela. Ed.15Podemos traduzir as palavras como: murmuradores e crticos, ou seja, conforme significa apalavra, na sua prpria sorte: eles rosnavam e murmuravam contra os outros, e estavamdescontentes com a sua prpria condio. E no entanto andavam de tal modo (ou seja,indultando seus prazeres) que tornava pior a sua sorte e ocasionava ainda mais murmurao.Ed.

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    Epstola de Judas 15

    concupiscncias. impietatum ambularent.19. Estes so os que causam divises,sensuais, que no tm o Esprito.

    19. Hi sunt qui seipsos segregant,animales, Spiritum non habentes.

    17. Mas vs, amados. A uma profecia mui antiga ele acrescenta agora as

    admoestaes dos apstolos, cuja memria era recente. Quanto ao verbo, no faz grande diferena se o ls como declarativo ou como umaexortao, pois o sentido permanece o mesmode que, sendo fortalecidospela predio que ele cita, eles devem se atemorizar.

    Por ltimos tempos ele se refere queles em que a condio renovada daIgreja recebeu uma forma fixa at o fim do mundo. E isto teve incio na primeiravinda de Cristo.

    De acordo com o modo usual da Escritura, ele chama de escarnecedoresaqueles que, estando inebriados por um perverso e profano desprezo porDeus, precipitam-se impetuosamente num desprezo brutal pelo Ser Divino, demodo que nenhum temor ou reverncia os mantm mais dentro dos limites dodever. Assim como em seus coraes no h nenhum temor de um juzofuturo, assim tambm no h nenhuma esperana de vida eterna. Do mesmomodo o mundo hoje est cheio de epicuristas desprezadores de Deus, osquais, tendo lanado fora todo o temor, escarnecem loucamente de toda adoutrina da verdadeira religio, considerando-a como fabulosa.

    19. Estes so os que causam divises. Algumas cpias gregas trazem oparticpio sozinho, outras cpias acrescentam , a si mesmos. Mas o

    sentido praticamente o mesmo. Ele quer dizer que eles se separavam daIgreja porque no queriam suportar o jugo da disciplina, uma vez que aquelesque gratificam a carne tm averso vida espiritual.16A palavra sensual, ouanimal, ope-se a espiritual, ou renovao da graa; e aqui ela se refere aviciosos ou corruptos, tais como so os homens quando no regenerados.Nessa natureza degenerada que derivamos de Ado, no h nada alm do que grosseiro e terreno, de modo que nenhuma parte de ns aspira a Deus,enquanto no somos renovados pelo seu Esprito.

    JUDAS 20-25

    20. Mas vs, amados, edificando-vosa vs mesmos sobre a vossa

    20.Vos autem dilecti, sanctissimvestr fidei vosmet superstruentes, in

    16Esta a interpretao comum, e no entanto parece inconsistente com o que se diz antesacerca destes homensque eles se insinuavam furtivamente, e se banqueteavam com osmembros da Igreja. , embora mantido por Griesbach, excludo por Wetstein e outros,estando ausente da maioria dos outros manuscritos. O verbo

    significa separar duaspores por meio de uma divisa, e, por conseguinte, metaforicamente separar ou causardivises: Estes so os que causam divises. Eles estavam fazendo a mesma coisa queaqueles mencionados por Paulo em Rm 16:17. Eles estavam produzindo discrdias na Igreja, eno separaes dela. E, continuando nela, eles se tornavam manchas e mculas para osseus membros. Ed.

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    Comentrios de Calvino16

    santssima f, orando no EspritoSanto,

    Spiritu Sancti precantes,

    21. Conservai-vos a vs mesmos noamor de Deus, esperando amisericrdia de nosso Senhor Jesus

    Cristo para a vida eterna.

    21. Vosmet in charitate servate,expectantes misericordiam Domininostri Jesu Christi in vitam eternam.

    22. E apiedai-vos de alguns, usandode discernimento;

    22.Et hos quidem miseramini,dijudicantes;

    23. E salvai alguns com temor,arrebatando-os do fogo, odiando at atnica manchada da carne.

    23. Illos ver per timorem servate, exincendio rapientes, odio prosquentesetiam maculatam a carne tunicam.

    24.Ora, quele que poderoso paravos guardar de tropear, e apresentar-vos irrepreensveis, com alegria,perante a sua glria,

    24.Ei autem qui servare potest vos(vel, eos) peccato immunes, etstatuere in conspectu gloriae suaereprehensibiles cum exultatione,

    25.Ao nico Deus sbio, Salvadornosso, seja glria e majestade,domnio e poder, agora, e para todo osempre. Amm.

    25. Soli sapienti Deo, Servatori nostro,gloria et magnificentia et perium etpotestas, nunc, et in omnia secula.Amen.

    20. Mas vs, amados. Ele explica o modo como poderiam vencer todos osartifcios de Satansa saber, tendo o amor unido f, e ficando de guardacomo que em sua torre de vigia, at a vinda de Cristo. Mas como usa muitasvezes e densamente as suas metforas, ele apresenta aqui um modo de falarpeculiar a si, que deve ser brevemente comentado.

    Ele os manda primeiro se edificarem a si mesmos sobre a f, significando poristo que o fundamento da f deveria ser mantido, mas que a primeira instruono suficiente, a no ser que aqueles que j foram estabelecidos naverdadeira f prossigam continuamente em direo perfeio. Ele chama a fdeles de santssima, a fim de que repousassem totalmente nela, e para que,apoiando-se da sua firmeza, nunca vacilassem.

    Mas, visto que toda a perfeio do homem consiste na f, pode parecerestranho que ele os mande construir outro edifciocomo se a f fosse apenasum comeo para o homem. Esta dificuldade removida pelo Apstolo naspalavras que seguem, quando ele acrescenta que os homens edificam sobre a

    f quando acrescentado o amor. Exceto, talvez, que algum prefiraconsiderar este sentidode que os homens edificam sobre a f enquantofazem proficincia nela. E, sem dvida, o progresso dirio da f tal que elamesma se ergue como um edifcio.17Assim o Apstolo nos ensina que, para

    17 melhor entender f aqui metonimicamente, no sentido da palavra ou doutrina da foevangelho; e o sentido seria mais evidente se traduzssemos

    por uns aos outros, talcomo significa em 1 Ts 5:13: 20. Mas vs, amados, edificando-vos uns aos outros sobre avossa santssima f (sobre a santssima doutrina em que credes), orando pelo 21. EspritoSanto, conservai-vos a vs mesmos no amor a Deus, esperando a misericrdia de nossoSenhor Jesus Cristo para a vida eterna. E, de fato, tende compaixo de alguns, discernindo;mas a outros salvai com temor, etc. Toda a passagem soaria melhor assim, quando o deverde uns para com os outros especificamente assinalado. Ed.

  • 7/27/2019 Joo Calvino - Judas

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    Epstola de Judas 17

    crescermos na f, precisamos ser instantes em orao e manter o nossochamado pelo amor.

    Orando no Esprito Santo. O modo de perseverar quando somos investidosdo poder de Deus. Por isso, sempre que a questo for a respeito da constncia

    da f, devemos fugir para a orao. E, como geralmente oramos de umamaneira formal, ele acrescenta: no Espritocomo se tivesse dito que tal anossa indolncia, e que tal a frieza da nossa carne, que ningum pode orarcorretamente a no ser que seja despertado pelo Esprito de Deus; e quetambm somos to inclinados desconfiana e ao estremecimento queningum se atreve a chamar Deus de Pai, exceto atravs do ensino do mesmoEsprito. Pois dele a solicitude, dele o fervor e a veemncia, dele avivacidade, dele a confiana em obter o que pedimosem suma, dele soaqueles gemidos inexprimveis mencionados por Paulo (Rm 8:26). Sendoassim, no sem razo que Judas nos ensina que ningum possa orar comodeveria sem ter o Esprito como seu guia.

    21. Conservai-vos a vs mesmos no amor de Deus. Ele fez do amor como queo guardio e o governante da nossa vida. No que pudesse coloc-lo emoposio graa de Deus, mas que o caminho correto do nosso chamadoquando fazemos progresso no amor. Mas, como muitas coisas nos instigam apostasia, de modo que difcil nos mantermos fiis a Deus at o fim, elechama a ateno dos fiis para o ltimo dia. Pois somente esta esperanadeve nos suster, para que no nos desanimenos em momento algum. De outromodo, necessariamente cairamos a todo instante.

    Mas deve-se notar que ele no quer que esperemos a vida eterna, excetoatravs da misericrdia de Cristo, pois ele ser de tal modo o nosso juz, queno ter nenhuma outra regra para nos julgar alm daquele benefcio gratuitoda redeno obtida por ele mesmo.

    22. E apiedai-vos de alguns. Ele acrescenta outra exortao, explicando comoos fiis deveriam agir ao reprovar os irmos a fim de restaur-los ao Senhor.Ele os lembra de que os tais deveriam ser tratados de diferentes maneiras,cada um de acordo com a sua disposio. Com os mansos e ensinveisdevemos usar de bondade; mas outros, que so duros e perversos, devem sersubjugados pelo terror.18Este o discernimento que ele menciona.

    O particpio , no sei por qu, traduzido num sentido passivopor Erasmo. De fato, pode ser traduzido de ambos os modos, mas o seusentido ativo mais adequado para o contexto. O sentido ento de que, sedesejamos ter em considerao o bem-estar daqueles que se desviam,

    18 Embora a maioria concorde que por temor seja indicado aqui o terror, ou seja, que aspessoas referidas devem ser aterrorizadas pelo juzo que as aguarda; o que segue parecefavorvel a outra visode que temor significa a preocupao e o cuidado com o qual elasdeveriam ser tratadas. Pois o ato de salv-las comparado ao de um homem arrebatandoalguma coisa do fogoo que, ao fazer, deve ser cuidadoso para que ele mesmo no sequeime. E, a seguir, a outra comparao, de um homem evitando uma veste infectada parano se contaminar, favorece a mesma viso. Por isso nossa verso parece estar correta comtemor. Ed.

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    Comentrios de Calvino18

    devemos considerar o carter e a disposio de cada um, de modo queaqueles que so mansos e tratveis sejam restaurados ao caminho reto de ummodo gentil, como sendo objetos de piedade. Mas, se algum for perverso, deveser corrigido com mais severidade. E, como a aspereza por pouco detestvel,ele a desculpa com base na necessidade, pois, de outro modo, aqueles que

    no seguem bons conselhos prontamente no podem ser salvos.

    Alm disso, ele emprega uma metfora surpreendente. Quando h perigo defogo, no hesitamos em arrebatar violentamente aqueles que desejamossalvar, pois no seria suficiente apontar com o dedo, ou estender gentilmente amo. Assim tambm deveria ser tratada a salvao de alguns, porque eles sviro a Deus se puxados rudemente. Muito diferente a traduo antiga, cujaleitura, no entanto, encontrada em muitas cpias gregas. A Vulgata traz:Repreendei os julgados (Arguite dijudicatos). Mas o primeiro sentido maisadequado, e penso que est de acordo com a leitura antiga e genuna. Apalavra salvar transferida para os homens, no porque sejam os autores,

    mas os ministros da salvao.

    23. Odiando at a tnica. Esta passagem, que de outro modo pareceriaobscura, no ter nenhuma dificuldade quando a metfora for corretamenteexplicada. Ele queria que os fiis no apenas se guardassem do contato comos vcios, mas, para que nenhum contgio os alcanasse, ele os lembra de quetudo o que faz limite com os vcios e est prximo deles deve ser evitado.Assim como, quando falamos da lascvia, dizemos que todos os incitamentosaos prazeres deveriam ser removidos. A passagem tambm se tornar maisclara quando toda a sentena estiver completaisto , que devemos odiar noapenas a carne, mas tambm a tnica, que, pelo contato com aquela, infectada. A partcula at serve para dar maior nfase. Assim sendo, eleno admite que o mal seja nutrido atravs da indulgncia, de modo que mandaque todos os preparativos e todos os acessrios, como dizem, sejam cortados.

    24. Ora, quele que poderoso para vos guardar. Ele encerra a Epstola comorao a Deus, com o que mostra que nossas exortaes e esforos nadapodem fazer exceto atravs do poder de Deus acompanhando-os.19

    Algumas cpias trazem os ao invs de vos. Se recebermos esta leitura, osentido ser: De fato, o vosso dever esforardes por salv-los; mas somente

    Deus quem pode fazer isto. Contudo, a outra leitura a que eu prefiro, naqual h uma aluso ao verso precedente. Pois, aps ter exortado os fiis asalvarem o que estava perecendo, para que entendessem que todos os seus

    19 A doxologia como segue: Ao nico Deus sbio (ou, somente ao Deus sbio) nossoSalvador, seja glria e grandeza, poder e domnio, agora e por todos os sculos. Domnio(

    ) o direito de governar, autoridade ou poder imperial; poder (

    ) fora paraefetuar o seu propsito, onipotncia; grandeza ( ) compreende conhecimento,sabedoria, santidade e tudo o que constitui o que realmente grande e magnificente; e glria(

    ) o resultado de todas estas coisas que pertencem a Deustudo termina na sua glria.O resultado final mencionado primeiro, depois as coisas que levam a ele. reconhecendo oseu poder soberano, a sua capacidade de exercer esse podersua onipotncia, e suagrandeza em tudo o que constitui a grandezaque lhe damos a glria, a honra e o louvordevidos ao seu nome. Ed.

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    Epstola de Judas 19

    esforos seriam vos a no ser que Deus operasse por meio deles, ele testificaque aqueles no poderiam ser salvos de outro modo seno atravs do poderde Deus. Nesta ltima clusula na verdade existe um verbo diferente, ,que significa guardar. Assim a aluso a uma clusula mais remota, quandoele disse: Guardai-vos.

    FIM DA EPSTOLA DE JUDAS