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Jornalismo especializado da disciplina da Professora Rose Bars
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Moradia consome 25% do orçamento de universitários em Campinas
Valor pago com aluguéis de apartamentos e repúblicas é o maior gasto da renda de universitários
Por Thamires Silva
Morar em Campinas para estudar não é barato. Segundo dados da Associação
Comercial e Industrial de Campinas (ACIC), universitários que vem de outras cidades, têm
de desembolsar quase seis salários mínimos por mês, que representa R$3.663,00. Desse
total o valor para moradia é a despesa mais alta para os estudantes, consumindo
aproximadamente 25% do orçamento. Isso sem contar outras despesas, como alimentação
que consome 23%, transporte 21%, educação e lazer 16% e por último serviços pessoais,
que chega a 15%. Para uma família de quatro pessoas, o custo de vida médio em Campinas
é de três salários mínimos e meio, cerca de R$2.180,00 por mês. “Realmente, para os
estudantes esse valor é muito alto se compararmos com gasto de uma família,
principalmente o valor da moradia”, afirma o economista da ACIC Laerte Martins.
O economista e professor Antônio Carlos Lobão explica que o valor pago para
moradia em Campinas é mais alto do que em outras cidades do Estado, pelo fato da cidade
estar em um centro econômico em expansão. “Campinas fica em um centro econômico
muito importante, tanto na área de desenvolvimento econômico, de serviços, de educação e
lazer, além de ser um centro de distribuição para o resto do país”, afirma Lobão. Segundo o
economista, Campinas sendo a principal cidade da região em que está inserida, cresce mais
a cada ano, e isso permite a donos de imóveis e imobiliárias, aumentar o valor dos aluguéis.
A quantidade de universidades que há na cidade, a qualidade do ensino, o boom que a
construção civil teve nos últimos anos, programas do governo federal como o Minha casa
Minha Vida e a oferta de empregos na cidade, são outros fatores que determinam os valores
dos aluguéis. “O que determina o valor da moradia é a lei da oferta e da procura. Quanto
maior a demanda, mais os valores aumentam. O número de estudantes na cidade é grande,
ou seja, há muita demanda”, destaca o professor.
O número de universitários em Campinas é comprovado por um estudo feito pela
assessoria econômica do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de
Ensino Superior de São Paulo (Semesp), por meio do Sistema de Informações do Ensino
Superior Particular (Sindata). O estudo mostra que a Região Administrativa de Campinas
registrou entre 2009 e 2010 um aumento de 8,5% de matrículas efetuadas em instituições
de ensino superior da rede pública e 9,2% na rede privada em cursos presenciais da região,
que é composta por 90 municípios. Nas instituições privadas o número de matrículas em
2010 chega a 182.495, enquanto em instituições públicas são 32.060, ou seja, 85% dos
universitários estudam em universidades privadas. Em 2009 esses números foram de
196.423 no total, sendo 166.872 na rede privada e 29.551 na rede pública.
Deste total, só Campinas registrou 74 mil matrículas entre todas as instituições. O
número apontado pela Semesp revela que, mesmo tendo que desembolsar cerca de seis
salários mínimos para morar em Campinas, principalmente para pagar aluguéis de
apartamentos, casas ou repúblicas, os estudantes procuram mais as instituições particulares,
que por serem em maior número, oferecem mais vagas.
Lobão destaca que apesar do custo de vida de Campinas há vantagens em morar na
cidade. Por ser uma pólo de desenvolvimento constante, o município oferece aos estudantes
mais oportunidades de estágios, empregos, contatos pessoais e profissionais e qualidade de
ensino, possuir universidades reconhecidas nacional e internacionalmente, como Unicamp e
PUC. “Às vezes, em cidades pequenas, você tem custos menores mas também menos
oportunidades”, declara.
O economista explica ainda que, por todo esse desenvolvimento de Campinas, a
porcentagem gasta com moradia está dentro dos padrões esperados. Mas para que tanto os
universitários, quanto suas famílias, não tenham prejuízos e nem falte dinheiro no final do
mês, é preciso controle e disciplina. “Uma dica é sempre tentar acompanhar o orçamento de
que se dispõe. Não cair nas tentações de parcelas numerosas, fazer as contas de quanto se
tem e quanto se pode gastar, não exceder o limite”.
Uma solução praticada por estudantes para aliviar as contas é morar em repúblicas
ou dividir apartamentos e casas. Segundo Lobão, essa é uma alternativa inteligente, já que
no Brasil não há a cultura de estadia em casas de famílias e nem moradias estudantis.
Dividir aluguel, contas de água e luz e compras de supermercado ajudam a economizar.
É o que Fernanda Siqueira, que está no último ano do curso de jornalismo da PUC
Campinas, faz. Ela divide um apartamento no bairro Chácara Primavera, próximo ao
Campus I da universidade, com mais duas amigas. A residência tem três dormitórios, sala,
cozinha, lavanderia, dois banheiros e garagem para um carro. O aluguel do imóvel é de R$
1.400,00 e mais R$360,00 de condomínio, valores divididos igualmente entre as três
colegas. Fernanda não gosta do valor que precisa pagar, mas o fato de dividir com outras
pessoas já alivia seu bolso. Mas seu desejo, na verdade, é morar sozinha, o que não é tão
simples assim, já que encontrar um novo apartamento que caiba no seu orçamento não está
fácil. Quando encontra algo bom, sempre custa mais do que pode pagar. “Gasto por volta de
R$700,00 só com a moradia, fora transporte e alimento. É difícil”, afirma. Além desses
custos que a família de Fernanda disponibiliza para sua estadia na cidade, há ainda a
mensalidade do curso de jornalismo da universidade, que é de R$1.114,00.
Juliana Andrade Rangel está na mesma situação da colega de turma. Divide uma
kitnet, no centro da cidade, com quarto, sala e cozinha com outra amiga. Cada uma paga
por mês R$350,00 entre o aluguel e condomínio, totalizando R$700,00. Mas Juliana afirma,
que pelo pequeno espaço que o local tem e para seu orçamento o valor do aluguel é alto e
ela preferia morar sozinha. “Por enquanto não dá. Quero morar sozinha, mas meu
orçamento não é suficiente para bancar um apartamento sem ajuda”.
No caso de Gustavo Borges Góis, que cursa publicidade e propaganda também na
PUC, morar em uma república com mais cinco pessoas não é problema algum. Pela casa,
no Jardim Santa Genebra que tem quatro quartos, cozinha, duas salas e garagem para quatro
carros, o valor do aluguel é de R$2.200,00 mais o valor da internet, R$100,00 e as contas
de água e luz, que totalizam R$120,00. Tudo dividido igualmente entre os seis integrantes
da casa. Góis não reclama e diz que além da despesa menor, vivem com muito conforto.
“Tudo o que precisamos para viver bem e com conforto, temos. Acho muito bom dividir a
casa com mais gente, assim temos mordomias sem gastar muito”, salienta Góis.
Para o presidente do Semesp Hermes Ferreira Figueiredo, essa procura por
instituições de ensino superior na cidade e a permanência de estudantes de fora evidenciam
as perspectivas de crescimento do ensino superior de Campinas e o desenvolvimento
urbano da região. “Identificamos, em nossa pesquisa, que entre a população
economicamente ativa, o maior contingente de trabalhadores da região é formado por
pessoas com o ensino médio completo (854.380), ou seja, com potencial para ingressar no
ensino superior da cidade”. Segundo o Semesp, eram esperadas a realização de 240 mil
matrículas para 2012 e, em 2013, esse número poderá chegar a 250 mil.
Passar por apertos financeiros e ter o dinheiro contado pode ser uma lição de vida
para os estudantes. É o que afirma o economista Lobão. Segundo ele, morar longe da
família e ter que economizar o dinheiro para não faltar faz com que eles saibam qual custo
de vida e, assim, aprendam como administrar a renda. “Somente na vivência é que as
pessoas aprendem a usar com sabedoria o dinheiro. Trabalhar e contribuir com a família
também é um exercício de cidadania, bom para o bolso e para a formação”, finaliza.
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