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Sistema Tributário Nacional
Parte 1
[Ano]
Universidade Cruzeiro do Sul | www.cruzeirodosul.edu.br
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Sistema Tributário Nacional — Parte 1
Sistema Tributário Nacional — Parte 1
MATERIAL TEÓRICO
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Ms. Reinaldo Zynchan Moraes
Revisão Textual:
Profa. Esp. Márcia Ota
Campus Virtual Universidade Cruzeiro do Sul | www.cruzeirodovirtual.com.br
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Sistema Tributário Nacional — Parte 1
DIREITO TRIBUTÁRIO
Ramo do direito público que rege as relações jurídicas entre o Estado e
os particulares, decorrentes da atividade financeira do Estado no que se refere
à obtenção de receitas que correspondam ao conceito de tributo (cuja definição
se encontra no art. 3º do Código Tributário Nacional – CTN).
CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL
É a Lei N° 5.172, de 25 de outubro de 1966, que “dispõe sobre o
Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário
aplicáveis à União, Estados e Municípios”.
Foi editado sob a égide da Constituição Federal de 1946, sendo
recepcionado pelas Constituições de 1967 e 1988, permanecendo em vigor até
hoje. Essa norma se harmoniza com o que dispõe do art. 146 da Constituição
Federal, que se refere à necessidade de uma lei complementar que tenha por
objeto trazer um detalhado regramento do Sistema Tributário Nacional.
CF
Art. 146 - Cabe à lei complementar:
I - dispor sobre conflitos de competência, em matéria tributária, entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
II - regular as limitações constitucionais ao poder de tributar;
III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre:
a) definição de tributos e de suas espécies, bem como, em relação aos impostos discriminados nesta Constituição, a dos respectivos fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes;
b) obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários;
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Sistema Tributário Nacional — Parte 1
c) adequado tratamento tributário ao ato cooperativo praticado pelas sociedades cooperativas.
d) definição de tratamento diferenciado e favorecido para as microempresas e para as empresas de pequeno porte, inclusive regimes especiais ou simplificados no caso do imposto previsto no art. 155, II, das contribuições previstas no art. 195, I e §§ 12 e 13, e da contribuição a que se refere o art. 239.
Parágrafo único – A lei complementar de que trata o inciso III, d, também poderá instituir um regime único de arrrecadação dos impostos e contribuições da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, observado que:
I – será opcional para o contribuinte;
II – poderão ser estabelecidas condições de enquadramento diferenciadas por Estado;
III – o recolhimento será unficado e centralizado e a distribuição da parcela de recursos pertencentes aos respectivos entes federados será imediata, vedada qualquer retenção ou condicionamento;
IV – a arrecadação, a fiscalização e a cobrança poderão ser compartilhadas pelos entes federados, adotado o cadastro nacional único de contribuintes.
CARACTERÍSTICAS DA ATIVIDADE TRIBUTÁRIA
visa arrecadar receitas para atender às despesas públicas;
é a principal fonte de receitas públicas;
tributar: vem de tributare – dividir por tribos.
De forma esquemática, podemos resumir a atividade tributária da
seguinte forma:
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Sistema Tributário Nacional — Parte 1
O ESTADO BUSCA
ATINGIR SEUS
OBJETIVOS
TAL ATIVIDADE EXIGE
DINHEIRO
A ECONOMIA NÃO É
ESTATIZADA
OS RECURSO SÃO
BUSCADOS NA
SOCIEDADE
DESPESAS
EM $
RECEITAS
EM $
OBRIGAÇÃO
EX LEGE
DECORRE DA
SOBERANIA DO
ESTADO
ÔNUS DISTRIBUÍDO
ENTRE OS SÚDITOS
NATUREZA NÃO
SANCIONATÓRIA
INSTRUMENTALIDADE
FUNÇÃO DOS TRIBUTOS
Fiscal: arrecadação de recursos financeiros para o Estado.
Extra fiscal: interferência no domínio econômico – fins diversos da
simples arrecadação de recursos financeiros. Assim os tributos
podem ser utilizados para estimular atividades, setores
econômicos ou regiões, desestimular o consumo de certos bens
etc.
Parafiscal: arrecadação de recursos para custeio de atividades
que, em princípio, não integram as funções próprias do Estado
(tais como a organização de sindicatos, recolhimento de
recursos para a criação e funcionamento de um sistema
previdenciário), mas que são de inegável interesse público e
social.
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Sistema Tributário Nacional — Parte 1
Observe a notícia abaixo:
GM prepara 3.º aumento de preços do ano
A General Motors vai promover novo reajuste de preços dos veículos da marca, de 1,5% em média. Será o terceiro aumento do ano e deve ser seguido pelas demais montadoras. Em janeiro e fevereiro, a GM e outras empresas do setor já reajustarem preços nessa mesma faixa. Todas alegaram repasse de custos, principalmente com os aumentos do aço.
Na semana passada, o governo federal zerou a alíquota de importação do aço, possibilitando às empresas buscar preços mais competitivos no exterior. "Ainda estamos avaliando oportunidades para importar pois, mesmo sem o imposto de importação, a logística de transporte da matéria-prima do exterior encarece o produto", disse o presidente da empresa no Brasil, Ray Young.
O executivo espera que as siderúrgicas brasileiras sintam-se pressionadas pela decisão do governo e pelo menos apliquem reajustes inferiores aos que vinham sendo praticados nos últimos meses, de 12% a 15%. "Ainda não recebemos nenhum pedido de aumento neste mês, mas é certo que as siderúrgicas vão querer repassar o aumento do preço do minério de ferro", disse o presidente da GM. Fornecedoras dessa matéria-prima, como a Vale do Rio Doce, já conseguiram negociar contratos externos com aumentos de 71,5%.
Ela foi veiculado, em 11 de março de 2005, pelo site da Gazeta de Alagoas <http://gazetaweb.globo.com/v2/supermaquinas/texto_completo.php?c=3972>.
Observem que, nesse caso, quando o governo “zerou” a alíquota do
imposto de importação seu objetivo não é fiscal, visto que com essa medida
não há qualquer arrecadação desse tributo. O objetivo, na verdade, é extra
fiscal, ou seja, no caso essa medida tinha por objetivo a regulação do mercado,
pois a escassez desse produto no mercado interno iria interferir na cadeia
produtiva de diversos outros produtos.
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Sistema Tributário Nacional — Parte 1
CONCEITO DE TRIBUTO
Como mencionamos acima, o conceito de tributo está no art. 3º do
CTN, cuja redação é a seguinte:
Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.
... é toda prestação pecuniária ...
O tributo é uma prestação em dinheiro, não existindo em nosso sistema
as prestações em natureza as quais são pagas:
o em serviço – in labore
o em bens diversos do dinheiro – in natura
... compulsória ...
Toda obrigação gera uma prestação obrigatória que, em caso de
descumprimento, pode ser exigida judicialmente.
Ocorre que em matéria tributária a sujeição não se dá pela vontade,
mas em virtude de lei, razão pela qual ela é não somente voluntária, mas
compulsória.
OBRIGAÇÃO
DIREITO
PRIVADO
DIREITO
PÚBLICO
SUJEIÇÃO PELA VONTADE
EX VOLUNTATE
SUJEIÇÃO EM VIRTUDE DA LEI
EX LEGE
... em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir ...
O pagamento do tributo deverá ser feito em dinheiro, somente
excepcionalmente se admite que ocorra o pagamento de outra forma, tais
como por cheque, vale postal e estampilha.
Ainda de forma excepcional pode ocorrer o pagamento por dação em
pagamento de bens imóveis – art. 156, XI, do CTN. Nesse caso, a
Administração Tributária, atendidas as condições estabelecidas em lei, pode
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Sistema Tributário Nacional — Parte 1
aceitar um bem imóvel para o pagamento de um tributo. Isso ocorre,
especialmente, quando um tributo não é pago e na ação de execução fiscal o
contribuinte inadimplente oferece esse tipo de bem para saldar a dívida.
... que não constitua sanção de ato ilícito ...
TRIBUTO FATO GERADOR É UM ATO LÍCITO
MULTA FATO GERADOR É UM ATO ILÍCITO
A hipótese de incidência tributária sempre deve ser uma situação lícita,
agora o fato gerador pode ocorrer no contexto de um ato ilícito.
Exemplo: um banqueiro do “Jogo do Bicho” – pratica atos ilícitos –
contudo em sua atividade ocorre a aquisição de disponibilidade econômica ou
jurídica (art, 43 do CTN), tal aquisição é a hipótese de incidência tributária do
imposto de renda, logo ele irá pagar tal tributo.
... instituída em lei ...
Decorre do Princípio da Legalidade insculpido no artigo 150, inciso I, da
Constituição Federal.
CF
Art. 150 - Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça;
... cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.
No nosso sistema tributário não há campo para a atuação da vontade
pessoal do administrador público ou para a aplicação de conceitos de
conveniência ou oportunidade. A atuação da administração tributária, portanto,
é plenamente regrada pela lei (vinculada).
Assim, não pode o administrador deixar de cobrar um tributo, ainda que
esteja movido por sentimentos nobres como a piedade e a consternação com a
situação econômica do contribuinte.
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Sistema Tributário Nacional — Parte 1
SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL
Para entendermos o que é o Sistema Tributário Nacional, precisamos
de alguns conceitos iniciais.
Sistema: conjunto organizado de partes relacionadas entre si e
interdependentes (Hugo de Brito Machado).
Sistema Jurídico é o conjunto de regras e princípios jurídicos,
que são instituídos e adotados para regular todo o corpo de leis
de um País (De Plácido e Silva).
Princípio é, por definição, mandamento nuclear de um sistema,
verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia
sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de
critério para sua exata compreensão e inteligência, exatamente
por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no
que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico. É o
conhecimento dos princípios que preside a intelecção das
diferentes partes componentes do todo unitário que há por nome
sistema jurídico positivo. (Celso Antonio Bandeira de Mello).
Princípio Jurídico é um enunciado lógico, implícito ou explícito,
que, por sua grande generalidade, ocupa posição de
preeminência nos vastos quadrantes do Direito e, por isso
mesmo, vinculada, de modo inexorável, o entendimento e
aplicação das normas jurídicas que com ele se conectam.
(Roque Antonio Carrazza).
PRINCÍPIOS
REGRAS
NA CONFECÇÃO
DAS REGRASNA INTERPRETAÇÃO
DAS REGRAS
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Sistema Tributário Nacional — Parte 1
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Os princípios influenciam a confecção das regras, sendo que estas
devem ser interpretadas considerando o conteúdo daquelas.
Regra e princípio compõem as duas espécies do gênero norma.
Seguindo as lições de José Joaquim Gomes Canotilho1, podemos identificar
diversos critérios que podem ser utilizados para diferenciá-los.
O mais importante critério é aquele que considera o grau de abstração
ou generalidade, podemos firmar que os princípios possuem um elevado grau
de generalidade, o que se contrapõe às regras, visto que nelas essa
característica é bem mais reduzida2.
Dessa forma, por exemplo, ao nos deparamos com o artigo 153, inciso
IV, da Constituição Federal, que estabelece a competência da União para
instituir o imposto sobre produtos industrializados (IPI). Essa redação, pela
precisão de seu conteúdo, produz uma interpretação bastante restrita,
acarretando menores possibilidades de abstração sobre o exato conteúdo da
norma veiculada pelo dispositivo.
Situação diferente encontramos no inciso II do artigo 150, também da
Constituição Federal, que indica a impossibilidade da União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios “instituir tratamento desigual entre contribuintes
que se encontrem em situação equivalente”. Percebe-se, neste caso, que a
formulação do dispositivo permite uma exata compreensão de seu sentido,
contudo, as possibilidades de interpretação e aplicação são consideravelmente
maiores, particularmente em razão de permitir a integração de diversas
situações que não estão expressamente delimitadas na norma constitucional.
SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO
Consiste no conjunto de regras e princípios normativos interligados, que
se encontram na Constituição Federal, que regem o Direito Tributário no Brasil.
Conteúdo
o dos Princípios Gerais – art. 145-149;
o das Limitações ao Poder de Tributar – art.
150-152;
o dos Impostos da União – art. 153-154;
1 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 7. ed. Coimbra:
Almedina, 2003. 2 Ibidem, p. 87.
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Sistema Tributário Nacional — Parte 1
o dos Impostos dos Estados e do Distrito
Federal – art. 155;
o dos Impostos Municipais – art. 156;
o da Repartição das Receitas Tributárias – art.
157 – 162.
CLASSIFICAÇÃO DOS TRIBUTOS
- IMPOSTOS
- TAXAS
- CONTRIBUIÇÕES DE MELHORIA
- EMPRÉSTIMOS COMPULSÓRIOS
- CONTRIBUIÇÕES PARAFISCAIS
DIVISÃO
TRIPARTIDA
DIVISÃO
PENTAPARTIDA
Em uma visão mais tradicional do Direito Tributário temos uma divisão
tripartida do conceito de tributos, sendo admitidas três espécies tributárias:
Impostos;
Taxas; e
Contribuições de Melhoria.
Essa era a visão estabelecida pelo próprio Código Tributário Nacional,
como se pode observar na redação de seu art. 5º, cuja redação é a seguinte:
Art. 5º Os tributos são impostos, taxas e contribuições de melhoria.
Mais modernamente, particularmente após a Constituição Federal de
1988, passou-se a entender que o conceito de tributo também abrange outras
duas espécies:
empréstimos compulsórios;
contribuições parafiscais.
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Sistema Tributário Nacional — Parte 1
COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA
É estabelecida pelos art. 153 a 155 da Constituição Federal
Seguindo a lição de Claudio Borba3, podemos condensar as regras de competência tributária desenhados na Constituição Federal, por meio do esquema abaixo:
Observação: Os Estados, Distrito Federal e Municípios podem instituir
contribuições sociais para custeio de seus regimes próprios de previdência,
sendo esse tributo cobrado dos servidores beneficiados (art. 149, § 1º CF).
Não fazem parte do esquema acima: a Contribuição sobre a Iluminação
Pública - CIP: art. 149A.
3 Direito tributário, 12. ed., Niterói: Impetus, 2003.
TIPOS ESPÉCIES ENTIDADE TRIBUTANTE BASE
CONSTITUC
IONAL UNIÃO ESTADOS MUNICÍPI
OS
PRIVATIVA IMPOSTOS II, IE, IR,
IPI, ITR,
IOF, IGF
ITCM,
ICMS,
IPVA
IPTU, ITBI,
ISS
Art. 153, 155
e 156
COMUM TAXAS E
CONTRIBUIÇÕES DE
MELHORIA
Art. 145, II e
III
ESPECIAL EMPRÉSTIMOS
COMPULSÓRIOS E
CONTRIBUIÇÕES
PARAFISCAIS
Observação Observação Art. 148 e 149
RESIDUAL NOVOS IMPOSTOS Art. 154, I
EXTRAORDI
NÁRIA
IMPOSTOS
EXTRAORDINÁRIOS
DE GUERRA
Art. 154, II
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Sistema Tributário Nacional — Parte 1
COMPETÊNCIA PRIVATIVA é aquela que somente pode ser exercida por quem a recebeu da Constituição Federal, dessa forma:
o somente a União pode instituir os seguintes impostos abrangidos por esse tipo de competência:
II – imposto sobre importação de produtos estrangeiros;
IE – imposto sobre exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados;
IR – imposto sobre renda e proventos de qualquer natureza;
IPI – imposto sobre produtos industrializados;
ITR – imposto sobre operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários;
IOF – imposto sobre propriedade territorial rural;
IGF – imposto sobre grandes fortunas.
o os Estados têm competência privativa para instituir os seguintes impostos:
ITCM – imposto sobre transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos;
ICMS – imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior;
IPVA – imposto sobre propriedade de veículos automotores.
o já os Municípios podem, instituir dentro de suas competências privativas os seguintes impostos:
IPTU – imposto sobre propriedade predial e territorial urbana;
ITBI – imposto sobre transmissão "inter
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Sistema Tributário Nacional — Parte 1
vivos", a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição;
ISS – imposto sobre serviços de qualquer natureza.
COMPETÊNCIA COMUM se refere à possibilidade da União, Estados, Distrito Federal e Municípios instituírem taxas e contribuições de melhoria.
COMPETÊNCIA ESPECIAL é a possibilidade da União (e somente ela) instituir empréstimos compulsórios e contribuições parafiscais. Conforme foi observado acima, os Estados, Distrito Federal e Municípios podem instituir contribuições sociais para custeio de seus regimes próprios de previdência, sendo esse tributo cobrado dos servidores públicos beneficiados por esse sistema (art. 149, § 1º CF).
A COMPETÊNCIA RESIDUAL se refere à possibilidade da União instituir impostos sobre fatos geradores diversos daqueles que possibilitam a criação dos impostos de competência privativa.
Por fim, a COMPETÊNCIA EXTRAORDINÁRIA se refere à possibilidade da União instituir Impostos Extraordinários de Guerra.
PRINCÍPIOS TRIBUTÁRIOS
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
CF
Art. 150 - Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça;
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Sistema Tributário Nacional — Parte 1
É necessária a autorização do Poder Legislativo para que o
Estado institua, majore, reduza ou extinga tributos.
A lei deve definir todos os aspectos relevantes para que se
possa cobrar o tributo. Deve o legislador, ao formular a lei, definir de
modo taxativo (numerus clausus) e completo, as situações tributáveis,
cuja ocorrência será necessária e suficiente ao nascimento da
obrigação tributária, bem como os critérios de sua quantificação.
ALÍQUOTA
BASE DA CÁLCULO
FATO GERADOR
SUJEITO PASSIVO
MULTA
ASPECTO QUANTITATIVO
ASPECTO MATERIAL
ASPECTO PESSOAL PASSIVO
Reserva absoluta da lei: somente a lei pode criar
tributos.
Impossibilidade de a autoridade administrativa
decidir se o tributo é devido ou quanto é devido, ou seja, ela
estará sempre vinculada ao texto da lei.
A lei que cria os tributos é uma lei ordinária, contudo,
em alguns casos, a Constituição Federal exige que
determinados tributos somente podem ser criados por lei
complementar. São eles:
o Imposto sobre Grandes Fortunas – IGF;
CF
Art. 153 - Compete à União instituir impostos sobre:
VII - grandes fortunas, nos termos de lei complementar.
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Sistema Tributário Nacional — Parte 1
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o Empréstimos Compulsórios;
CF
Art. 148 - A União, mediante lei complementar, poderá instituir empréstimos compulsórios:
I - para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência;
II - no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional, observado o disposto no art. 150, III, b.
Parágrafo único - A aplicação dos recursos provenientes de empréstimo compulsório será vinculada à despesa que fundamentou sua instituição.
o Impostos Residuais da União;
CF
Art. 154 - A União poderá instituir:
I - mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo anterior, desde que sejam não-cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados nesta Constituição;
o Contribuições Previdenciárias Residuais.
CF
Art. 195
§ 4º - A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenção ou expansão da seguridade social, obedecido o disposto no art. 154, I.
PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE
Esse princípio estabelece a vedação de cobrança de tributo criado ou majorado no mesmo exercício financeiro.
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Sistema Tributário Nacional — Parte 1
CF
Art. 150 - Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
III - cobrar tributos:
b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou;
Como vimos anteriormente, o exercício financeiro corresponde ao ano civil.
Lei nº 4.320/64
Art. 34. O exercício financeiro coincidirá com o ano civil.
PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE ESPECIAL (Nonagesimal, Nonagintídio, da Eficácia Mitigada ou Carência Trimestral) - Art. 195, § 6º, CF.
Ele é aplicado somente para as contribuições para a Seguridade Social. Para elas basta que haja um intervalo de noventa dias entre a edição da lei que criou ou aumentou e o início da cobrança.
CF
Art. 195
§ 6º - As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas após decorridos noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o disposto no art. 150, III, b.
AMPLIAÇÃO DO PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE TRIBUTÁRIA PELA EC 42/03
A Emenda Constitucional nº 42/03, dentre outras mudanças, acrescentou mais uma alínea no inciso III do artigo 150 do Texto Constitucional, estabelecendo uma ampliação ao Princípio da Anterioridade.
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Sistema Tributário Nacional — Parte 1
CF
Art. 150 - Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
III - cobrar tributos:
c) antes que decorridos de noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b
Além da impossibilidade de cobrança de um novo tributo ou da
majoração de um tributo já existente no mesmo ano da lei que estabeleceu
essa mudança (Princípio da Anterioridade), deve existir um lapso temporal
mínimo de noventa dias, entre a entrada em vigor da lei e o início da cobrança.
Isso é bastante relevante naqueles tributos criados ou majorados nos
últimos meses do ano. Por exemplo, a União resolveu criar o Imposto sobre
Grandes Fortunas (ainda hoje não criado), para tanto, a lei que o criou (uma lei
complementar, como vimos) entrou em vigor em 20 de dezembro. Se
aplicarmos o Princípio da Legalidade (em sua versão original), esse tributo
poderia ser cobrado poucos dias depois, ou seja, em 1º de janeiro do ano
seguinte (início do próximo exercício financeiro). Com a ampliação desse
princípio, esse novo tributo somente poderá ser cobrado noventa dias após a
edição da lei (aproximadamente meados de março).
PRINCÍPIO DA
ANTERIORIDADE
PARA A
COBRANÇA DE
UM NOVO
TRIBUTO OU
PARA O
AUMENTO DE UM
TRIBUTO JÁ
EXISTENTE
LEI QUE ESTABELECE A
MUDANÇA DEVE TER VIGÊNCIA
NO EXERCÍCIO FINANCEIRO
ANTERIOR
ENTRE A PUBLICAÇÃO DA LEI E
O INÍCIO DA COBRANÇA DO
NOVO TRIBUTO OU DO
AUMENTO DO TRIBUTO JÁ
EXISTENTE DEVE HAVER UM
LAPSO TEMPORAL MÍNIMO DE
90 DIAS
COM A
AMPLIAÇÃO
DETERMINADA
PELA EC Nº 42/03
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Sistema Tributário Nacional — Parte 1
PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE
Nas palavras de Hugo de Brito Machado, irretroatividade quer dizer que
a lei há de ser anterior ao fato gerador do tributo por ela criado, ou majorado4.
Portanto, a lei deve ter eficácia prospectiva, ou seja, seus efeitos são
projetados para o futuro. Por essa razão, na apuração do crédito tributário
sempre deve ser utilizada a lei em vigor no momento da ocorrência do fato
gerador.
Utilizando o exemplo acima sobre o Imposto sobre Grandes Fortunas,
somente fatos geradores ocorridos após o encerramento do prazo estabelecido
pelo Princípio da Anterioridade (meados de março no exemplo) é que podem
ser tributados por esse novo imposto.
Art. 150 - Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
III - cobrar tributos:
a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado;
PRINCÍPIO DA ISONOMIA
No regime constitucional anterior era possível que algumas categorias
profissionais tivessem tratamento tributário diferenciado, assim, v.g., algumas
categorias não pagavam imposto de renda sobre o total de rendimentos
recebidos, sendo que o imposto somente incidia sobre algumas parcelas que
compunham a remuneração dessa categoria.
A atual Constituição proíbe que essa situação volte a ocorrer, portanto,
a legislação tributária não pode estabelecer critérios de diferenciação no
tratamento do contribuinte somente baseado em sua categoria profissional.
4 Curso de direito tributário, 13ª ed, São Paulo, Malheiros, 1998, p.29.
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Sistema Tributário Nacional — Parte 1
Art. 150 - Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos;
PRINCÍPIO DA CAPACIDADE CONTRIBUTIVA
Esse princípio apregoa a graduação de incidência quanto aos impostos
pessoais, no tocante à fixação de alíquotas diferenciadas, com o fito de
promover a justiça fiscal.
Podemos resumir a intenção do constituinte ao elaborar este Princípio
com a seguinte frase: quanto mais se ganha, mais se paga.
Sua aplicação se dá com um sistema de progressividade de alíquotas,
que na CF encontra expressa previsão para os seguintes impostos:
o Imposto de Renda (IR): artigo 153, § 2º, inciso I;
o Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU):
em especial o artigo 156, § 1º, inciso I;
o Imposto Territorial Rural (ITR): artigo 153, § 4º, inciso I.
Deve ser notado que o final do § 1º do artigo 145 CF estabelece a
possibilidade da Administração Tributária ter acessos aos mais diversos
registros para identificar “o patrimônio, os rendimentos e as atividades
econômicas do contribuinte”.
No que se refere ao acesso do Fisco aos dados do contribuinte em
instituições financeiras o assunto é tratado pela Lei Complementar Nº 105/01, a
qual permite que a Administração Tributária da União tenha acesso a dados
cobertos pelo sigilo bancário, mesmo sem autorização judicial.
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Sistema Tributário Nacional — Parte 1
CF
Art. 145 - A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos:
§ 1º - Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte.
PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DE CONFISCO
O confisco se traduziria em uma tributação excessiva, exacerbada.
Não existe limitação objetiva fixada no texto constitucional, devendo ser
aferida, caso a caso, pelo Poder Judiciário.
A jurisprudência admite que aos tributos com nítido caráter extra fiscal
não se aplique este princípio.
CF
Art. 150 - Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
IV - utilizar tributo com efeito de confisco;
PRINCÍPIO FEDERATIVO
É um reflexo da autonomia dos entes federativos estipulada pelo art. 18 da CF.
CF
Art. 18 - A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição.
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Sistema Tributário Nacional — Parte 1
Na área tributária o Princípio Federativo é um princípio constitucional implícito.
A autonomia dos entes federativos se traduz na instituição de um regime de competências firmado na Constituição Federal.
Como reflexo do sistema federativo, convivem harmonicamente as:
o leis nacionais: leis do Estado brasileiro;
o leis federais: da União;
o leis estaduais;
o leis municipais.
Assim, um ente federativo não poderá interferir na atividade tributária do outro, bem como não pode invadir a competência do outro – por exemplo, cobrando um tributo da competência do outro.
PRINCÍPIO REPUBLICANO
República é o tipo de governo, fundado na igualdade formal das
pessoas, em que os detentores do poder político exercem-no em caráter
eletivo, representativo (de regra), transitório e com responsabilidade (Roque
Antonio Carrazza).
Na área tributária, o Princípio Republicano é um princípio constitucional
implícito.
Consequências na área tributária:
o Proibição de vantagens tributárias fundadas em privilégios (tal
como ocorria com a nobreza e os integrantes da Igreja em nosso
período colonial);
o Detentor do poder é o povo – art. 1º, parágrafo único da CF –
assim, a tributação não pode ser operada exclusivamente em
benefício do Poder Público ou de uma determinada categoria de
pessoas;
o Proibição de que as isenções tributárias sejam concedidas,
arbitrariamente, com base na profissão, sexo, credo religioso,
convicção política etc. dos contribuintes;
o Os tributos só podem ser criados e exigidos por razões públicas,
em conseqüência, o dinheiro obtido com a tributação deve ter
destinação pública.
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Sistema Tributário Nacional — Parte 1
Anotações
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Sistema Tributário Nacional — Parte 1
Referências
CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário. 20. ed. São Paulo: Malheiros, 2004.
BORBA, Claudio. Direito tributário. 12. ed. Niterói: Impetus, 2003.
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. 13. ed. São Paulo: Malheiros, 1998.
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